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FONÉTICA E FONOLOGIA

DO PORTUGUÊS
Unidade 1
Fundamentos da
fonética e fonologia
do português
Diretor Executivo

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

Gerente Editorial

ALESSANDRA FERREIRA

Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA

Autoria

ANGELA FRANCISCA MENDEZ


Angela Francisca Mendez
AUTORIA

Sou graduada em Letras, com mestrado na área de


Linguagem, Interação e Processos de Aprendizagem. Tenho larga
experiência profissional na educação e passei por empresas
como a Laureate International Universities – Uniritter e a
Unissociesc. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas
profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a
integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz
em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho.
Conte comigo!
Unidade 1

4 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

ÍCONES
Para o início do
Houver necessidade
desenvolvimento
de apresentar um
de uma nova
novo conceito.
OBJETIVO competência. DEFINIÇÃO

Quando necessárias
As observações
observações ou
escritas tiveram que
complementações
ser priorizadas para
para o seu
NOTA IMPORTANTE você.
conhecimento.

Curiosidades e
Algo precisa ser indagações lúdicas

Unidade 1
melhor explicado ou sobre o tema em
EXPLICANDO detalhado. estudo, se forem
MELHOR VOCÊ SABIA?
necessárias.

Textos, referências Se for preciso acessar


bibliográficas um ou mais sites
e links para para fazer download,
aprofundamento do assistir vídeos, ler
SAIBA MAIS ACESSE
seu conhecimento. textos, ouvir podcast.

Se houver a
necessidade de Quando for preciso
chamar a atenção fazer um resumo
sobre algo a acumulativo das
REFLITA ser refletido ou RESUMINDO últimas abordagens.
discutido.

Quando alguma Quando uma


atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
ATIVIDADES for aplicada. TESTANDO forem explicadas.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 5


Conceitos importantes acerca da linguagem.......................... 9
SUMÁRIO

A linguagem........................................................................................................... 9

Os estudos de língua e de linguagem............................................................. 12

Os tipos de gramática........................................................................................ 14

Conceitos básicos de fonologia, morfologia, sintaxe e semântica............ 15

As variações linguísticas.................................................................................... 16

A língua portuguesa – nosso idioma materno.............................................. 21

Noções de fonética e fonologia do português....................... 25


A natureza da fonética e da fonologia ........................................................... 25

Sotaque e dialeto ............................................................................................... 26

A fonética............................................................................................................. 28
Unidade 1

A fonologia........................................................................................................... 31

Distinção entre Letra e fonema: ..................................................................... 33

Representação de fonemas e de sons........................................................... 35

Aparelho Fonador..................................................................... 37
A fonética articulatória....................................................................................... 37

Sons vocálicos e consonantais......................................................................... 41

Entendendo o Aparelho Fonador.................................................................... 45

O Funcionamento do Aparelho Fonador........................................................ 46

Tipos de sons da fala........................................................................ 50

Os sons do português nos estudos da fonética e fonologia...................... 52

O desenvolvimento da fala............................................................................... 56

Distúrbios de fala e alfabetização.................................................................... 61

6 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Você sabia que fonética e fonologia são tão importantes
para os estudos de uma língua, seja materna ou estrangeira,

APRESENTAÇÃO
que nas gramáticas normativas de todas as línguas naturais há
páginas e páginas dedicadas a essas áreas. Como você verá, é
difícil falar em fonologia sem falar em fonética. E isso é natural,
uma vez que ambas estudam o som, ainda que sob perspectivas
diferentes, visto que fonologia tem como unidade de estudo o
fonema – que é a realização mental do fone –, e a fonética, a
sua realização fisiológica e psicoacústica. Veremos as distinções
e nos aprofundaremos nas contribuições dessas áreas para
os estudos a que nos propomos. Nesta unidade, trataremos
ainda de conceitos relevantes ao entendimento dos estudos da
linguagem. Primeiramente, passaremos em revista conceitos
como os de língua, linguagem e discurso, e discorreremos sobre

Unidade 1
as origens de nossa língua materna, conversando sobre variações
e preconceito linguístico. Também conheceremos o aparelho
fonador, sua funcionalidade e os tipos de sons da nossa fala.
Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar
neste universo!

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 7


Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de
OBJETIVOS

aprendizagem até o término desta etapa de estudos:

1. Interpretar algumas especificidades acerca dos debates


sobre linguagem.

2. Apreender noções sobre fonética e fonologia no estudo


e ensino de Língua Portuguesa.

3. Interpretar o aparelho fonador e suas especificidades.

4. Explicar os tipos de sons produzidos na Língua


Portuguesa.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
Unidade 1

8 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Conceitos importantes acerca
da linguagem
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender alguns conceitos importantes acerca da
linguagem. Isto será fundamental para o exercício
OBJETIVO de sua profissão. As mais diversas áreas de trabalho
requerem profissionais com o entendimento de
que a linguagem está para além da produção de
sons, estabelecendo o meio pelo qual o sujeito
passa a existir como sujeito social que é.

A linguagem

Unidade 1
Sabemos que falantes de qualquer língua fazem reflexões
sobre a sua linguagem. Sejam acerca de origens, sotaques, gírias,
estrangeirismos, desvios (os chamados erros), variações, entre
tantos outros, todo falante já discutiu aspectos da linguagem, sem
necessariamente possuir conhecimentos da área da linguística.
Isso faz parte do “conhecimento comum” das pessoas, e qualquer
indivíduo tem o direito de falar sobre linguagem. Contudo, um
profissional que trabalhe com comunicação e educação tem, ou
deve ter, conhecimento aprofundado dos aspectos vários que
envolvem os debates sobre linguagem, língua e discurso.

Toda a história do homem sobre a terra constituiu


permanente esforço de comunicação, e nossa sociedade hoje
só pode ser concebida como resultante do aperfeiçoamento
progressivo dos processos de comunicação entre os seres, do
grunhido à palavra, da expressão à significação (PENTEADO,
2012).

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 9


Figura 1 – O livro também permite a comunicação
Unidade 1

Fonte: Freepik

Entre os vários estudos sobre a origem da linguagem,


passando por teorias que vão da linguagem natural
à teoria onomatopaica, os estudos de Shirley,
SAIBA MAIS citados por Penteado (2012, p. 70), nos servem de
trampolim para o debate. Para estudar as origens
da linguagem, Shirley fez da criança seu objeto de
estudo, buscando demonstrar que o processo de
desenvolvimento da linguagem na raça humana se
deu de modo semelhante ao desenvolvimento da
linguagem na criança. Assim, assinala os seguintes
estágios na evolução da linguagem do ancestral
simiesco ao homo sapiens:

1. Grunhidos vocais reflexos.

2. Vocalização silábica – onomatopaica.

3. Vocalização socializada – simbólica.

4. Sons matizados expressivos.

5. Palavras compreensíveis e domínio da


linguagem.

10 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Mesmo sem perceber, desde o início da nossa existência,
participamos do processo de aquisição das regras da língua
e da linguagem praticadas nos discursos e nos processos
comunicacionais dos nossos relacionamentos interpessoais.
De acordo com a teoria da comunicação humana, do psicólogo
austríaco Paul Watzlawick (2007), a comunicação desempenha
um papel fundamental nas nossas vidas e na ordem social,
embora não estejamos muito conscientes disso – “Você não pode
não se comunicar”, diz o autor.

Fato é que na sociedade contemporânea, apesar de toda a


tecnologia de comunicação, a fala ainda é o canal mais comum
na comunicação humana, em qualquer cultura e em qualquer
espaço geográfico. É por meio da materialização dos sons

Unidade 1
compreensíveis que ocorre a expressão oral e a transmissão de
significados e de sentidos compartilhados por comunidades que
utilizam um mesmo sistema linguístico. “Quando duas pessoas
falantes de uma mesma língua se encontram e passam a interagir
linguisticamente, certamente se dá uma interação ampla em que
cada uma das pessoas envolvidas passa a criar uma imagem da
outra pessoa” (SILVA, 2005, p. 11).
Figura 2 – Criação da imagem do interlocutor

Fonte: Freepik

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 11


Quando falamos, produzimos uma série de sequências
sonoras que nosso interlocutor interpreta como palavra
dotada de sentido e de ideologia – nos conceitos do filósofo
da linguagem Mikhail Bakhtin –, projetando-nos assim, a partir
dessas sequências, para o mundo. Embora para alguns teóricos
da linguagem a fala se dê de modo irreflexivo, podemos afirmar
sem erro que ela é muito mais que um conjunto de sons audíveis,
pois existe uma série de particularidades intrínsecas a esses
sons que nos permitem analisá-los, classificá-los, descrevê-los e
estudá-los de acordo com suas funções nas línguas. As vertentes
da linguística que se voltam ao estudo das propriedades e do
valor dos sons nas línguas são a fonética e a fonologia, conceitos
nos quais nos debruçaremos nesta disciplina.
Unidade 1

Os estudos de língua e de
linguagem
Para se estudar fonética e fonologia da língua portuguesa,
definir alguns conceitos é primordial, tais como os de linguagem,
língua e discurso.
Linguagem é um conjunto complexo de processos
– resultado de uma certa atividade psíquica
profundamente determinada pela vida social – que
torna possível a aquisição e o emprego concreto de
uma língua qualquer” Usa-se também o termo para
designar todo o sistema de sinais que serve de meio de
comunicação entre os indivíduos. Desde que se atribua
valor convencional a determinado sinal, existe uma
linguagem. À linguística interessa particularmente uma
espécie de linguagem, ou seja, a linguagem falada
ou articulada. [...] “língua é um sistema gramatical
pertencente a um grupo de indivíduos. Expressão da

12 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


consciência de uma coletividade, a língua é o meio por
que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age.
Utilização social da faculdade da linguagem, criação da
sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de
viver em perpétua evolução, paralela à o do organismo
social que a criou. [...] discurso é a língua no ato, na
execução individual [...] como cada indivíduo tem
em si um ideal linguístico, procura extrair do sistema
idiomático de que se serve as formas de enunciado
que melhor lhe exprimam o gosto e pensamento. Essa
escolha entre os diversos meios de expressão que lhe
oferece o rico repertório de possibilidades, que é a
língua, denomina-se estilo. (SLAMA-CASACU, 1961
apud CUNHA; CINTRA, 2001, p.1).

Unidade 1
A língua, pode-se compreender, é o fundamento da
linguagem, sem a qual essa não poderia funcionar.
Salienta Tatiana Slama-Casacu que língua e
EXPLICANDO
MELHOR linguagem são “simultaneamente o instrumento e
o resultado da atividade de comunicação. Por um
lado, a linguagem não pode existir, manifestar-se e
desenvolver-se a não ser pelo aprendizado e pela
utilização de uma língua qualquer” (apud CUNHA;
CINTRA, 2001 p. 2). Já o discurso é um dos aspectos
da linguagem e ao mesmo tempo a forma concreta
de utilização da língua.

A distinção entre linguagem, língua e discurso serve mais a


fins metodológicos de estudo, visto que as três denominações são
distintas em seus aspectos, mas não opostas, quando tratamos
do fenômeno extremamente complexo que é a comunicação
humana.

Nos estudos de língua, as gramáticas trazem as regras e


os padrões das línguas. Por ser um sistema complexo e passível
de diversas concepções, a gramática apresenta abordagens
diversas, sendo dividida em tipos distintos. Vejamos.

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Figura 3 – Tipos de gramática

Normativa

Tipos de
Descritiva Histórica
gramática
Unidade 1

Comparativa

Fonte: Elaborada pela autora (2023).

Os tipos de gramática
A gramática se divide em quatro tipos:

• Gramática Normativa: bastante utilizada em sala de


aula e para diversos fins didáticos, busca a padronização
da língua em uma abordagem que privilegia a prescrição
de regras a serem seguidas, desconsiderando os fatores
sociais, culturais e históricos aos quais estão sujeitos os
falantes da língua.

• Gramática Descritiva: analisa um conjunto de regras


que são seguidas, considerando as variações linguísticas
da língua ao investigar seus fatos, extrapolando os

14 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


conceitos que definem o que é certo e errado em nosso
sistema linguístico.

• Gramática Histórica: investiga a origem e a evolução


de uma língua, representando os estudos diacrônicos.

• Gramática Comparativa: estabelece comparação da


língua com outras línguas de uma mesma família. No
caso da língua portuguesa, as análises comparativas
são feitas com as línguas românicas.

Ainda para fins metodológicos, cabe ressaltar também


que os estudos da linguagem de uma língua, no caso a língua
portuguesa, estão gramaticalmente (gramática normativa)
divididos em níveis, conforme figura a seguir.

Unidade 1
Figura 4 – Divisão dos estudos da linguagem

Fonologia Morfologia Sintaxe Semântica

Que trata das


Que trata das Que trata dos
Que trata dos funções e das
classes de significados das
fonemas palavras nas
palavras palavras
sentenças

Fonte: Elaborada pela autora (2023).

Conceitos básicos de fonologia,


morfologia, sintaxe e semântica
Fonologia: estuda os fonemas ou sons da língua e as
sílabas formadas por tais fonemas. Nesse ínterim, estão
presentes aspectos relacionados à ortografia, à ortoepia (estudo
da articulação e pronúncia dos vocábulos) e à prosódia (estudo
da acentuação tônica dos vocábulos).

Morfologia: compreende o estudo das palavras e os


elementos que as constituem. São atribuídos a esse conjunto de

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 15


informações a análise da estrutura, a formação e os mecanismos
de flexão referentes às palavras. Assim sendo, fica a cargo
da morfologia todos os aspectos relativos aos substantivos,
adjetivos, advérbios, pronomes, conjunções, enfim, todas as dez
classes de palavras da língua portuguesa.

Sintaxe: tem como foco principal a análise estrutural dos


termos que compõem as orações e os períodos, tendo em vista as
relações que se estabelecem entre estes. Compreende, portanto,
o estudo dos termos essenciais da oração (sujeito e predicado),
dos termos integrantes (complementos verbais, complemento
nominal e agente da passiva) e dos termos acessórios (adjunto
adnominal, adjunto adverbial, aposto e vocativo).

Semântica: estuda o significado da palavra. Nela, podemos


Unidade 1

encontrar muita riqueza vocabular e a prova da dinâmica da


língua. Quando você diz: O RAPAZ COMPRA UMA JOIA PARA A
NOIVA, está se referindo à joia como se encontra no dicionário.
No entanto, quando percebe que algo está na medida certa,
por exemplo, pode se expressar da seguinte forma: FICOU JOIA.
Assim, modifica-se o significado, o sentido e a classe gramatical
de uma palavra em diferentes contextos de uso.

As variações linguísticas
Também merece destaque o fato de que uma língua sempre
apresenta algumas diferenças na forma como é executada pelos
falantes, as chamadas variações linguísticas. Essas variantes
podem se dar por diversos aspectos e são inerentes ao sistema
da língua, ocorrendo em todos os níveis linguísticos: fonético,
fonológico, morfológico e sintático.

16 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


A língua, de todo e qualquer país, não é homogênea nem
imutável. No Brasil, por exemplo, percebemos variantes de um
mesmo idioma nos diversos dialetos existentes, como o mineiro,
carioca, gaucho, baiano, pernambucano, sulista, paulistano etc.

É possível perceber que as variações linguísticas estão


presentes nas comunicações verbais das pessoas, em diferentes
partes do mundo. Elas ocorrem sob influências dos contextos
social, regional e histórico, em que tais processos de construção
da fala ajudam a caracterizar a forma como o sujeito vai se
comunicar com o seu grupo. Classificam-se as variações
linguísticas em quatro tipos:

• Diatópica (geográfica): a palavra “diatópica” é formada


pelos elementos grego dia- (prefixo grego que significa

Unidade 1
através de, por meio de, por causa de) e topos- (radical
grego que significa lugar). Designa as diferenças que
ocorrem no espaço geográfico, variações relacionadas
com o local em que são desenvolvidas, tais como as
variações entre o português do Sul e do Nordeste do
Brasil, chamadas de regionalismo.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 17


Figura 5 – Dialetos do português brasileiro
Unidade 1

Nortistas, Serra Amazônica

Costa Norte, Nordestinos, Recifenses, Baianos

Mineiros, Fluminenses, Cariocas

Sulistas, Florianopolitano, Gaúchos

Sertanejos

Fonte: Pixabay

• Diacrônica (histórica): a palavra “diacrônica” é formada


pelos elementos grego dia- (prefixo grego que significa
através de, por meio de, por causa de) e chronus-
(radical grego que significa tempo). É a variação que
ocorre com o desenvolvimento da história, ao longo
do tempo, tal como o português colonial e o atual.
Variação diacrônica é a variação da linguagem ao longo
do tempo, através das sucessivas gerações de falantes.
Observe em Português:

18 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Figura 6 – Variação em português

PORTUGUÊS COLONIAL PORTUGUÊS ATUAL


Fonte: Elaborada pela autora (2023).

• Diastrática (social): a palavra “diastrática” é formada


pelos elementos grego dia- (prefixo grego que significa

Unidade 1
através de, por meio de, por causa de) e estrato- (radical
grego que significa camada). Volta-se às diferenças
linguísticas entre as camadas socioculturais. É percebida
segundo os grupos (ou classes) sociais envolvidos, tal
como uma conversa entre um orador jurídico e um
vendedor ambulante. Exemplo desse tipo de variação
são os sociodialetos. Nível culto, língua padrão, nível
popular etc.

• Diafásica (situacional): a palavra “diafásica” é formada


pelos elementos grego dia- (prefixo grego que significa
através de, por meio de, por causa de) e phasys- (radical
grego que significa expressão). São as diferenças entre
os tipos de modalidade expressiva. Ocorre de acordo
com o contexto, por exemplo, situações formais e
informais. As gírias são expressões populares utilizadas
por determinado grupo social. Dá conta das diferenças
da língua falada, língua escrita, linguagem literária etc.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 19


Preconceito Linguístico
O preconceito linguístico está intimamente
relacionado com as variações linguísticas, uma vez
SAIBA MAIS que surge para julgar as manifestações linguísticas
ditas “superiores”, colocando uma linguagem como
superior a outra, marginalizada.
Para entendermos do que trata o preconceito
linguístico, basta olharmos atentamente para o
nosso país. Embora o mesmo idioma seja falado
em todas as regiões, cada uma possui suas
peculiaridades que envolvem aspectos sociais,
históricos e culturais, geográficos etc.
A maneira de falar do Norte é muito diferente da
falada no Sul do país, para citar um exemplo. Isso
ocorre porque, nos atos comunicativos, os falantes
Unidade 1

da língua vão determinando expressões, sotaques


e entonações de acordo com as necessidades
linguísticas.
O preconceito linguístico, geralmente, surge no
tom de deboche dessas variantes, sendo a variação
apontada de maneira pejorativa e estigmatizada.
Quem comete esse tipo de preconceito geralmente
tem a ideia de que sua maneira de falar é correta
e, ainda, superior a outra. Mas qual a forma
correta de falar, a do Norte ou da Sul? Não existe
correto ou errado em se tratando de linguagem,
existe variação, sobretudo quando tratamos da
linguagem falada.
Para saber mais, assista à entrevista com o professor
Marcos Bagno, autoridade máxima no assunto
preconceito linguístico. Acesse clicando aqui .

20 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


A língua portuguesa – nosso
idioma materno
Língua materna, também conhecida como idioma
materno, língua nativa ou primeira língua, trata-se do
primeiro idioma que aprende um sujeito. A língua materna
é, sem dúvida, aquela que se domina melhor, no sentido
de uma valorização subjetiva que o indivíduo realiza
relativamente às línguas que conhece. Também se trata da
língua adquirida de forma natural, por meio da interação
com o meio envolvente, sem intervenção pedagógica e
sem uma reflexão primeira. Nossa língua materna, para os
nativos brasileiros, é a língua portuguesa.

Unidade 1
Para auxiliar em seus estudos, assista ao vídeo que
aborda sobre nosso idioma materno, disponível aqui.
ACESSE

A língua portuguesa, nossa língua materna, é classificada


como pertencendo à família de línguas latinas do tronco indo-
europeu. Estima-se que há aproximadamente 160 milhões de
falantes do Português (SILVA, 2005), sendo ela a língua oficial do
Brasil, de Portugal e de alguns países da África colonizados pelos
portugueses, como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo
Verde e São Tomé e Príncipe. Ainda é falada em Macau (Ásia) e no
Timor Leste (Oceania). Nesta disciplina, trataremos do sistema
sonoro do português do Brasil, do ponto de vista articulatório,
objetivando entendermos os sons que utilizamos na nossa fala.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 21


Para conhecer as diferentes falas do português,
acesse o mapa interativo das línguas do mundo e
divirta-se. Disponível aqui .
ACESSE

Como ex-colônia de Portugal, as grandes navegações nos


deram a língua e os costumes portugueses. Contudo, sabemos
que a língua portuguesa falada no Brasil apresenta algumas
diferenças em relação à língua falada em Portugal, apesar das
tratativas do Novo Acordo Ortográfico, que prevê a unificação
ortográfica da língua, mas não a fonética.

Para exemplificar, podemos citar três aspectos em que


essas diferenças são mais comuns de ocorrer: vocabulário,
Unidade 1

fonético e sintático.

• Vocabulário

Ao compararmos as duas línguas, percebemos que muitas


palavras utilizadas no português do Brasil não são as mesmas
encontradas no português de Portugal, o que representa uma
variação diatópica. Veja exemplos a seguir.
Quadro 1 – Diferenças de vocabulário

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

22 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


• Fonética

A diferença na pronúncia é a que mais se evidencia quando


comparamos as duas variantes em questão. Os brasileiros
possuem um ritmo de fala mais lento, no qual tanto as vogais
átonas quanto as vogais tônicas são claramente pronunciadas.
Em Portugal, por outro lado, os falantes costumam “eliminar”
as vogais átonas, pronunciando claramente apenas as vogais
tônicas.
Quadro 2 – Lista de vocábulos exemplificando a diferença do português do Brasil e de
Portugal

Unidade 1
Fonte: Elaborado pela autora (2023).

• Sintaxe

Algumas construções sintáticas comuns no Brasil não são


utilizadas, ou não são tão comuns, em Portugal. Vejamos.
Quadro 3 – Colocação do pronome oblíquo em início de frase

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

Quadro 4 – Uso frequente de gerúndio em vez de infinitivo precedido de preposição

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 23


E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos.
Você deve ter compreendido o que vem a ser língua
e linguagem, as variações, os tipos de gramática
e como ela se divide, além de alguns conceitos
adicionais sobre a linguagem
Unidade 1

24 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Noções de fonética e fonologia
do português
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender alguns conceitos-chave dos estudos
da fonética e fonologia do português. Isto será
OBJETIVO importante para o exercício de seu ofício e para
o entendimento da sua própria linguagem. As
mais diversas áreas requerem profissionais que
conheçam esses conceitos primários relevantes ao
entendimento efetivo da comunicação humana.

Acredita-se que os animais utilizam sons – como latidos,


no caso de um cachorro – para se comunicar. Apesar de a

Unidade 1
comunicação parecer comum aos animais de várias espécies,
nós, seres humanos, somos os únicos a utilizar a fala para a
comunicação, e por isso o estudo da fala é tão importante.

A natureza da fonética e da
fonologia
Em qualquer língua podemos identificar um pequeno
número de sons regularmente utilizados (vogais e consoantes)
a que chamamos de fonemas. Assim, não basta aprendermos
somente as letras do alfabeto, temos que conhecer também
os sons que são representados por símbolos especiais. Ao uso
desses símbolos chamamos de transcrição fonética. Os fonemas
comumente utilizados nos idiomas existentes estão compilados
na tabela da Associação Fonética Internacional (IPA – International
Phonetic Association).

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 25


Está gostando de estudar fonologia e fonética do
português? Se gostou do assunto, visite a página
disponível aqui .
SAIBA MAIS

Sotaque e dialeto
As línguas apresentam sotaques diferentes. Isso significa
que os sons são pronunciados de formas diferentes pelas
pessoas dependendo da área geográfica onde se encontram, de
sua classe social, diferenças de idade e escolaridade.

Mas, normalmente, há certa confusão entre sotaque e


dialeto. Chamamos de dialeto a variedade da língua que difere das
Unidade 1

outras não somente na pronúncia, mas também em vocabulário,


gramática e ordem de construção das sentenças. Diferenças de
sotaque, por outro lado, dizem respeito somente às variações de
pronúncia.
Figura 7 – Comunicação

Fonte: Freepik

26 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Quem trabalha com o ensino de língua não raramente se
depara com textos que fazem uso de algumas palavras da forma
como falamos. Escrevem “muinto” no lugar de “muito”, “mais” em
vez de “mas”, “mendingo” em vez de “mendigo”, para citar alguns
exemplos.

Teorias das origens da fala humana à parte, a aquisição da


fala tal como a temos hoje se dá, primeiramente, pela escuta.
Assim, é natural que no processo de alfabetização concebamos
que tudo tal como se fala, se escreve. No decorrer do processo
de desenvolvimento e aprimoramento da nossa linguagem,
entendemos que algumas palavras apresentam formas diferentes
na pronúncia em relação à escrita. Daí surgem as questões da
infância: “Professora, se eu falo ‘bolu’, porque tenho que escrever

Unidade 1
‘bolo’?”. Dizer que “nós é que falamos errado” nem de longe é a
melhor resposta. É preciso recorrer aos estudos da fonética e da
fonologia para que o alfabetizante compreenda que a posição
da letra na palavra vai interferir no som. O som do /o/ quando
tônico se escreve como se pronuncia, como é o caso de “jiló”,
por outro lado, quando átono a letra /o/ assume o som de [u]
como em “globo”. Esses são apenas alguns dos casos que podem
ser explicados a partir da fonética e da fonologia, pois as duas
ciências estudam justamente os sons.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 27


Figura 8 – Consciência fonológica

Consciência fonológica

Abrange todos os tipos de consciência dos sons que compõem o


sistema de uma certa língua

Níveis de consciência Intrassilábica


Fonêmica
Divisão das palavras
Divisão das palavras Silábica em unidades
em fonema indvidual. maiores que um
Divisão das palavras em fonema individual,
Por exemplo: mas menores que
Identificar quantos unidades silábicas
uma sílaba (RIMA e
fonemas/sons tem a Por exemplo:
ALITERAÇÃO)
figura “pato” Identificar quantas
sílabas (pedaços) tem a Por exemplo:
Por exemplo: Identificar o que
Identificar quais figura “dado”
rima com “bola”
palavras começam
com /v/ Por exemplo:
Identificar a palavra
Unidade 1

que forma se tirar o


LI de “LIMÃO”

Fonte: Hennemann (2017, on-line ).

Tanto a fonética quanto a fonologia tratam de aspectos


concernentes à linguagem humana, especificamente à língua e à
fala. Difícil falar de uma ciência sem se referir a outra, mas vamos
especificar as áreas, ainda que praticamente indissociáveis.

A fonética
A fonética é uma ciência de grande relevância para o estudo
de uma língua, quer seja materna ou estrangeira, considerando-
se que tem uma unidade de estudo, o som, a que chamamos de
fone – “menor segmento discreto perceptível de som em uma
corrente da fala” (CRYSTAL, 2008, p. 112), concretizado por meio
do fonema, menor unidade de estudo da fonologia, em outras
palavras, a “unidade mínima do sistema de sons de uma língua”.

28 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Desse modo, o fone é tudo aquilo que realizamos ao falar,
ao sussurrar ou até mesmo ao gemer. Já fonema é a unidade
sonora mínima registrada e estudada pela fonética e fonologia, e
é nosso interesse de estudo nesta matéria.
É fundamental não confundir letra com fonema.
Fonema é som, letra é o sinal gráfico que representa
o som, a ortografia da língua. Estudaremos com
IMPORTANTE profundidade tais representações, alfabética
e fonética, na Unidade 2 desta disciplina, ao
conhecermos o alfabeto fonético e a transcrição
fonética da nossa língua.

Quadro 5 – Exemplo de que nem sempre falamos da forma como escrevemos

Unidade 1
Fonte: Elaborado pela autora (2023).

Pode-se constatar do exposto que a fonética é uma disciplina


presente e viva em nosso cotidiano. A fonética tem como tarefa
investigar os sons da fala, de um ponto de vista puramente
fisiológico, físico e psicoacústico. Nesse aspecto, a fonética se
preocupa com a produção e com o processo de realização dos
sons. Além disso, cuida da propagação e percepção dos sons da
fala humana. Na concepção de Silva (2001, p. 23), “é a ciência
que apresenta os métodos para a descrição, classificação e
transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons
utilizados na linguagem humana”.

Como já entendemos, a língua é um organismo vivo e


mutável, pois pertence aos seus falantes, que a tornam tão ativa
e viva quanto o é a existência humana. Diante disso, segundo

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 29


Bezerra (2013), a fonética pode ainda ser classificada como:
descritiva, que trata da formação e descrição dos fonemas;
histórica, que estuda as modificações que sofrem os fonemas em
suas fases sucessivas; e sintática, que se dedica às modificações
que sofrem os fonemas de certas palavras.

A fonética, segundo Silva (2001), apresenta algumas áreas


específicas de estudo:

• Fonética articulatória: compreende o estudo da


produção da fala do ponto de vista fisiológico e
articulatório.

• Fonética auditiva: compreende o estudo da percepção


da fala.
Unidade 1

• Fonética acústica: compreende o estudo das


propriedades físicas dos sons da fala, a partir de sua
transmissão do falante ao ouvinte.

• Fonética instrumental: compreende o estudo das


propriedades físicas da fala, levando em consideração
o apoio de instrumentos laboratoriais.

Podemos, então, estudar a fala a partir da sua fisiologia, ou


seja, a partir dos órgãos que a produzem, tais como a língua –
responsável pela articulação da maior parte dos sons da fala – e a
laringe – responsável principalmente pela produção de “voz” que
leva à distinção entre sons vozeados (sonoros) e não vozeados
(surdos). Podemos também estudá-la a partir dos sons gerados
por esses órgãos, ou seja, com base nas propriedades sonoras
(acústicas) transmitidas por esses sons. Podemos ainda examinar
a fala sob a ótica do ouvinte, ou seja, da análise e processamento
da onda sonora quando realiza a tarefa de percepção dos sons,
dando sentido àquilo que foi ouvido. Todos esses aspectos
podem ser considerados e analisados pela fonética.

30 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Exemplos de análises fonéticas:

• [a]: vogal baixa anterior

• [o]: vogal média alta arredondada

• [p]: consoante oclusiva bilabial surda

• [d]: consoante oclusiva dental-alveolar sonora

A fonologia
A palavra fonologia é formada pelos elementos gregos
fono (som, voz) e logia (estudo, conhecimento). É difícil falar em
fonologia sem falar em fonética. E isso é natural, uma vez que
ambas estudam o som, no entanto sob perspectivas diferentes,

Unidade 1
pois a fonologia tem como unidade de estudo o fonema, que é a
realização mental do fone, e a fonética, a sua realização fisiológica
e psicoacústica. Dessa maneira, uma ciência complementa a outra.

Os autores definem fonologia como a disciplina que se


ocupa do estudo da função dos elementos fônicos das línguas.
Em outras palavras, isso quer dizer que ela se ocupa do estudo
dos sons do ponto de vista da sua utilização e organização para
formar signos linguísticos.

Ao transmitirmos nossas ideias, utilizamos combinações de


palavras, chamadas de signos linguísticos. Signo é um conceito
frequentemente revisto nas teorias linguísticas. O termo, que
designa a face fonológica da linguagem, pertence a uma antiga
tradição metafísica que vigorou nos séculos XVII e XVIII. Mas, após
a apresentação feita por Ferdinand de Saussure das dicotomias
do signo, é que as discussões se tornaram mais frequentes.

O signo, resumidamente, apresenta dois elementos


indissociáveis: os sons que os compõem e a ideia que transportam.
Observemos um exemplo usando a palavra – GATO –. A sucessão

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 31


de sons (/g/a/t/o/) produz uma imagem sonora em nosso cérebro,
representando o significante. Já a ideia associada a esse signo
(animal doméstico, pertencente à família dos felídeos) constitui o
significado (ALMEIDA, 2013).

Almeida, alicerçado nas concepções saussurianas, ao expor as


articulações fonológicas da língua, apresenta dois níveis. Para falar
uma língua, seja materna ou estrangeira, não nos basta conhecer
e memorizar um repertório de palavras, pois é necessário saber
combiná-las entre si, formulando um pensamento complexo.
Observe o exemplo apresentado por Almeida (2013, p.3): “Cidade
nesta moro”. Os signos são conhecidos, porém, não se combinam
porque não há uma relação lógica entre eles. O relacionamento
lógico dar-se-á em: “Moro nesta cidade”.
Unidade 1

Quando os signos linguísticos se relacionam coerentemente,


temos a primeira articulação da língua. A combinação de
fonemas dentro de cada signo representa, por sua vez, a segunda
articulação da língua.

A mensagem transmitida pela oralidade implica a emissão


de sons expostos pelo aparelho fonador, e a mudança de fonemas
pode configurar mudanças no significado e no significante.
Compare:

PATO FATO

Ao pronunciarmos essas duas palavras, percebemos que


existe diferença entre elas. Do ponto de vista dos significantes, a
distinção está no /p/ e no /f/ – unidades de sons (fonemas) capazes
de operar mudança de significado pela simples comutação de
uma pela outra (ALMEIDA, 2013).

A língua é um sistema que possui duas articulações: na primeira,


os signos se combinam, formando sequências lógicas e coerentes.
Na segunda, os fonemas se associam, formando os signos.

32 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


O número de signos de uma língua é ilimitado, pois a língua
está em constante movimento criativo. Já o número de fonemas
tem um limite. Na língua portuguesa, um conjunto de 120
símbolos é suficiente para categorizar as consoantes e as vogais
que ocorrem na nossa língua (SILVA, 2005).

Como se verifica, a diferença entre fonética e fonologia está no


fato de que a fonética se preocupa em como os sons são produzidos,
transmitidos e ouvidos pelo ser humano, enquanto a fonologia se
ocupa em explicar como os sons se relacionam entre si em uma
língua. A fonética lida com os sons em si. A parte correspondente às
regras e ao sistema fonético é estudada pela fonologia.

Diferenças entre objeto e método à parte, ao estudarmos

Unidade 1
fonética e fonologia do português, algumas considerações sobre
noções dessas ciências que, embora distintas, tratem da mesma
matéria são imprescindíveis. Para finalizarmos este capítulo,
vamos apontar algumas informações primárias indispensáveis
para o trajeto deste estudo.

Distinção entre Letra e fonema:


Já citamos aqui que letra e fonema são realidades linguísticas
distintas, mas cabe reforçar. Enquanto a letra é definida como a
representação gráfica dos sons de uma língua, o fonema refere-
se à realidade acústica registrada pelo nosso ouvido. Observe
a diferença entre essas duas realidades no seguinte exemplo e
perceba que nem sempre a escrita (letra) representará o som
percebido (fonema):
Quadro 6 – Letra versus fonema

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 33


É possível notar pelo quadro que a escrita do verbo
“amavam” não registra a presença do ditongo em -am, composto
por uma semivogal final, porém, a pronúncia da palavra e sua
transcrição fonética permite-nos identificá-lo. Ressaltando, na
língua escrita, representamos os fonemas por meio de sinais
chamados letras. Portanto, letra é a representação gráfica do
fonema. Veja no exemplo que se segue.
Quadro 7 – Letra

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais


Unidade 1

de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que pode ser


representado pelas letras z, s, x.

ZEBRA

CASAMENTO

EXÍLIO

Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de


um fonema. A letra X, por exemplo, pode representar:

• o som sê: texto

• o som zê: exibir

• o som chê: enxame

• o som ks: táxi

O número de letras nem sempre coincide com o número


de fonemas:

34 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Palavra Letras Fonemas
Manhã 5 4
Táxi 4 5
Corre 5 4
Hora 4 3

Representação de fonemas e de sons


Nos estudos de fonética e fonologia, usam-se as seguintes
representações:

• Os fonemas são representados entre barras oblíquas (//)

Gato /g/a/t/o

Unidade 1
• Os sons da fala, por sua vez, são representados entre
colchetes ([])

Mel [mεl] ou [mεw]

Nesta disciplina, você vai precisar utilizar algumas


representações do IPA – International Phonetic Alphabet
(Alfabeto Fonético Internacional) que existe no editor de texto
de seu computador. No Microsoft Word, isso é possível usando
caracteres Unicode. Seguem as instruções:

• Abra o Word e localize o documento no qual você deseja


inserir a representação fonética.

• Clique em “inserir” na aba superior do Word, à esquerda.

• Selecione “símbolo”, encontrado na aba superior no


canto direito da tela do Word.

• Selecione “mais símbolos”.

• Localize o caractere fonético correspondente,


selecione-o e clique em “inserir”.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 35


E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos.
RESUMINDO
Você deve ter compreendido que a fonética é
uma ciência de grande relevância para o estudo
de uma língua, quer seja materna ou estrangeira,
considerando-se que tem uma unidade de estudo,
o som, a que chamamos de fone, concretizado
através do fonema, menor unidade de estudo da
fonologia. Você aprendeu que o fone é tudo aquilo
que realizamos ao falar, ao sussurrar ou até mesmo
ao gemer. Já fonema é a unidade sonora mínima
registrada e estudada pela fonética e fonologia, e
é nosso interesse de estudo nesta matéria. Vimos
que a fonética se divide em segmentos, como:
Unidade 1

• Fonética articulatória: compreende o


estudo da produção da fala do ponto de
vista fisiológico e articulatório.
• Fonética auditiva: compreende o estudo
da percepção da fala.
• Fonética acústica: compreende o estudo das
propriedades físicas dos sons da fala, a partir
de sua transmissão do falante ao ouvinte.
• Fonética instrumental: compreende o
estudo das propriedades físicas da fala,
levando em consideração o apoio de
instrumentos laboratoriais.

Estudamos também que a fonologia é formada pelos


elementos gregos fono (som, voz) e logia (estudo,
conhecimento) e é muito difícil falar de fonologia
sem falar em fonética, já que ambas estudam o
som, embora sob perspectivas diferentes, pois a
fonologia tem como unidade de estudo o fonema,
que é a realização mental do fone, e a fonética, a sua
realização fisiológica e psicoacústica

36 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Aparelho Fonador
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender o papel do aparelho fonador na produção
da fala humana e conhecer o funcionamento de
OBJETIVO cada órgão que o compõe. Isto será fundamental
não só para o exercício de sua profissão, mas para
aprimorar o entendimento do complexo sistema
que é a linguagem humana e sua representação.

O homem se diferencia de outros animais pelo fato


de ter um mecanismo que faz com que ele emita sons e os
transformem em palavras que, por sua vez, formarão a língua
materna com a qual se expressa. Adquirimos a fala, é fato, sem
necessariamente saber da existência deste “aparelho da fala” ou

Unidade 1
de seu funcionamento e, por vezes, só nos damos conta de sua
existência quando somos acometidos por alguma enfermidade
que afeta nosso desempenho na fala. Tal aparelho é formado
por órgãos vitais ao ser humano, mas que não se limitam ou se
destinam somente à produção da fala.

A fonética articulatória
Fonética é o estudo dos sons da fala, sua produção
fisiológica e qualidades acústicas. Ela trata das configurações do
aparelho fonador usado para produzir os sons da fala, que é a
fonética articulatória, as propriedades acústicas dos sons da fala,
que compõem a fonética acústica, e da maneira de combinar os
sons de modo que as sílabas possam ser formadas, compondo
palavras e, posteriormente, sentenças (fonética linguística).

O método tradicional de descrever os sons da fala em termos


de movimentos dos órgãos vocálicos é a fonética articulatória. As
principais estruturas na produção do som da fala são os pulmões
e o sistema respiratório, além dos órgãos vocálicos demonstrados

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 37


na figura do aparelho fonador a seguir, compostos por pequenas
dobras musculares localizadas na laringe, no topo da traqueia.
Figura 9 – Aparelho fonador humano

Cavidade nasal

Região supraglótica
Cavidade oral
Pregas vocais Língua

Laringe

Traqueia

Região subglótica

Pulmão esquerdo
Pulmão direito

Diafragma
Unidade 1

Fonte: Freepik (adaptado).

O espaço entre as cordas vocais é chamado de glote. As


cordas vocais são separadas como ficam normalmente ao
respirarmos, pois o ar vem dos pulmões e terá passagem livre
dentro da laringe e da boca. Mas se as cordas vocais estiverem
ajustadas de modo que fique uma passagem pequena entre
elas, o fluxo de ar fará com que se contraiam. Assim que elas se
juntam, não há fluxo de ar, então surge uma pressão sobre elas
até que sejam separadas novamente. O fluxo de ar entre elas
causará uma nova contração, e o ciclo vibratório continuará. Os
sons produzidos pela vibração das cordas vocais são vocalizados,
ao contrário do caso em que elas estão separadas, em que o som
não é vocalizado.

As passagens de ar acima das cordas vocais são


coletivamente chamadas de aparelho fonador. Para a fonética,
esse aparelho é dividido em faringe, trato nasal (dentro do nariz)
e oral (dentro da boca). Muitos sons da fala são caracterizados

38 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


por movimento dos articuladores mais baixos, como a língua ou
os lábios inferiores, e os superiores dentro da boca. A superfície
superior inclui várias estruturas importantes do ponto de vista
da produção da fala, como os dentes e os lábios superiores. O
rebordo alveolar é uma pequena protuberância que fica logo
após os dentes frontais superiores que pode facilmente ser
sentido com a língua.

A parte mais importante do céu da boca é formada pelo


palato duro na parte da frente e pelo palato mole na parte
posterior. O palato mole é uma aba muscular que pode ser
levantada para fechar o trato nasal e prevenir que o ar saia pelo
nariz. Quando ele está levantado, de forma que o palato mole
seja pressionado contra a parede posterior da faringe, diz-se que

Unidade 1
temos um fechamento vélico. Na parte de baixo do palato mole
está a úvula. Também existem diferentes nomes para as partes
da língua. A ponta ou ápice e a lâmina da língua são as partes
mais móveis. Atrás da lâmina da língua está a parte frontal da
língua, que, na verdade, é a parte mais avançada dianteira do
corpo da língua e repousa sobre o palato duro quando a língua
está em repouso.
Figura 10 – Partes da língua

Alvéolos
Úvula

Lâmina

Ápice

Fonte: Acervo da autora (2023).

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 39


As demais partes do corpo da língua podem ser divididas
em: parte central, que fica parcialmente abaixo do palato duro
e parcialmente abaixo do palato mole; parte posterior, que fica
embaixo do palato mole; e a raiz da língua, que fica em posição
oposta à parede posterior da faringe.
Figura 11 – Língua
Unidade 1

Fonte: Varella (2021, on-line).

Figura 12 – Laringe normal

Fonte: Ferreira e Monteiro (2011).

40 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Para conferir mais imagens do aparelho fonador,
bem como obter mais informações sobre o estudo
do som, visite a página disponível aqui .
ACESSE

Sons vocálicos e consonantais


A principal divisão nos sons da fala são as vogais e as
consoantes. Os estudiosos da fonética não costumam oferecer
uma definição precisa da distinção articulatória entre as duas
classes de sons, mas a maioria deles concorda que uma vogal é
um som produzido sem constrições relevantes no trato vocálico,
de forma que existe uma passagem de ar relativamente livre,

Unidade 1
além de ser silábica. As vogais podem ser articuladas na zona
média, anterior e posterior.

Quanto ao timbre, a articulação pode ser aberta, fechada


ou reduzida; quanto à intensidade, podem ser tônicas e átonas.
Em relação à cavidade bucal e nasal, as vogais podem ser orais se
o ar passar somente pela boca. Se o ar passar pela boca e nariz
ao mesmo tempo, são consideradas nasais.

Na formação das 19 consoantes do português, o fluxo de ar


através do trato vocálico é obstruído de alguma forma. Os sons
consonantais podem ser classificados de acordo com o lugar
e o modo de obstrução. Os termos para os vários pontos de
articulação denotam tanto a porção dos articuladores inferiores,
como os lábios inferiores e a língua, e a porção das estruturas
articulatórias envolvidas. Por exemplo, o termo velar denota
um som em que a parte de trás da língua e o palato mole estão
envolvidos, e o retroflexo implica um som envolvendo o ápice da
língua e a parte de trás do anel alveolar.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 41


É preciso distinguir os sons realizados com o ápice da
língua (apicais) e os realizados com a lâmina. Quanto ao modo
de articulação, as consoantes podem ser oclusivas, quando
existe um bloqueio total do ar e podem ser constritivas, quando
o bloqueio de ar é parcial. Um bloqueio envolve o fechamento
dos pontos articuladores para obstruir o fluxo de ar. Quanto ao
ponto de articulação, elas podem ser:

• Bilabiais - lábios + lábios.

• Labiodentais - lábios + dentes superiores.

• Linguodentais - língua + dentes superiores.

• Alveolares - língua + alvéolos dos dentes.

• Palatais - dorso da língua + céu da boca.


Unidade 1

• Velares - parte superior da língua + palato mole.

Quanto à função, a consoante será sonora se as cordas


vocais vibrarem, e será surda se as cordas vocais não vibrarem.
Em relação às cavidades bucal e nasal, se o ar sair somente pela
boca, as consoantes são consideradas orais, e se sair também
pelas fossas nasais, elas serão nasais.

42 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Quadro 8 – Quadro das consoantes

Unidade 1
Fonte: Aulete ([s.d.], on-line ).

“Os órgãos que utilizamos na produção da fala não têm


como função primária a articulação de sons. Na verdade, não
existe nenhuma parte do corpo humano cuja única função
esteja apenas relacionada à fala” (SILVA, 2005, p. 24). Em outras
palavras, em nosso corpo as partes que utilizamos na produção
da fala têm como função primária outras atividades diferentes,
como engolir, mastigar, respirar etc. Para produzirmos os sons
da língua, usamos uma parte específica do corpo humano a que
chamamos de aparelho fonador.

Os linguistas estudam em detalhes como o corpo humano


produz os sons das palavras, e nós também o faremos. Será
que percebemos as maneiras como utilizamos os pulmões para
respirar, como produzimos sons com vibrações na laringe e como
usamos a boca, dentes e lábios para modificar os sons?

Todos os sons que produzimos na produção da fala são resultado


da contração de alguns músculos do nosso corpo. Os músculos do

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 43


peito que usamos para respirar produzem o fluxo de ar necessário
para quase todos os sons de fala. Os músculos da laringe produzem
muitas modificações diferentes no fluxo de ar do peito para a boca.
Depois de passar pela laringe, o ar passa pelo que chamamos de trato
vocal, que termina na boca e nas narinas. Chamamos de cavidade oral
a parte que compreende a boca, e de cavidade nasal a parte que leva
ao nariz. Aqui o ar dos pulmões escapa para a atmosfera.
Figura 13 – Aparelho fonador
Unidade 1

Fonte: Freepik (adaptado).

44 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Na imagem anterior, temos a representação do nosso
aparelho fonador e de todos os sistemas e órgãos envolvidos na
produção da fala descrita no parágrafo anterior.

Os sons de nossa fala resultam, então, da ação desses


órgãos que formam o aparelho fonador sobre a corrente de ar
vinda dos pulmões. Para a produção da fala, três condições se
fazem necessárias:

• A corrente de ar.

• Um obstáculo encontrado por essa corrente de ar.

• Uma caixa de ressonância.

Essas condições são criadas pelo conjunto de órgãos de

Unidade 1
que falamos, o aparelho fonador.

Entendendo o Aparelho Fonador


O aparelho fonador é formado por três grupos de órgãos
do corpo humano que desempenham um papel basilar na
produção da fala. O sistema respiratório, o sistema fonatório
e o sistema articulatório.
Figura 14 – Sistema respiratório, fonador e articulatório

Sistema Articulatório
(faringe, língua, palato, dentes, lábio)

Sistema Fonatório (laringe, onde está a glote)

Sistema Respiratório
(pulmões, músculos pulmonares,
brônquios, traqueia)

Fonte: Silva (2005, p. 24) | Freepik (adaptado).

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 45


Sistema respiratório: consiste nos pulmões, músculos
pulmonares, brônquios e traqueia. Encontra-se na parte
inferior à glote que é denominada infraglotal e tem como
função primária a respiração. Fornece a corrente de ar que é a
matéria-prima da fonação.

Sistema fonatório: é constituído pela laringe, onde se


localizam as cordas vocais. A função primária da laringe é atuar
como válvula que obstrui a entrada de comida nos pulmões por
meio do abaixamento da epiglote. Para a fonética, este sistema,
com suas cordas vocais, é o responsável pela energia sonora
utilizada na fala.
O ato de engasgar-se se dá por a epiglote não
obstruir a entrada de alimento no sistema
Unidade 1

respiratório. O ar dos pulmões sai, então, para


VOCÊ SABIA? impedir a entrada do alimento (corpo estranho) no
sistema respiratório.

Sistema articulatório: consiste da faringe, da língua, do


nariz, dos dentes e dos lábios. São várias as funções primárias
desempenhadas pelo sistema articulatório, como morder,
mastigar, cheirar, engolir etc. Para a fonética e fonologia, essas
cavidades supralaríngeas (faringe, boca, fossas nasais) funcionam
como caixas de ressonância. A língua, de tão importante para a
fonação, tornou-se sinônimo de idioma.

O Funcionamento do Aparelho
Fonador
Para entendermos a nossa capacidade de fala, imagine
e tente colocar em prática cada um dos movimentos a seguir,
de forma consciente: o ar expelido pelos pulmões, por via dos
brônquios, penetra na traqueia e chega à laringe, onde, ao
atravessar a glote, costuma encontrar o primeiro obstáculo à sua

46 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


passagem. Algum som? Sim, não é? Este é o movimento primário
para a produção dos sons.

A glote, que fica na altura do conhecido “gogó”, é a abertura


entre duas pregas musculares das paredes superiores da laringe,
conhecidas como cordas vocais. O fluxo de ar pode encontrá-las
fechadas ou abertas, por estarem próximos ou afastados dos
bordos das cordas vocais. No primeiro caso, o ar força a passagem
através das cordas vocais retesadas, fazendo-as vibrar e produzir
o som musical característico das articulações sonoras. No segundo
caso, relaxadas as cordas vocais, o ar escapa sem vibrações
laríngeas produzindo articulações denominadas surdas.
Figura 15 – Funcionamento do aparelho fonador

Unidade 1
Fonte: Acervo da autora (2023).

Quando você está calado, o ar que sai dos pulmões


passa livremente pela laringe, pois as cordas vocais estão
completamente afastadas. Não há som. Para falar, você faz com
que elas se juntem. O ar força a passagem e surgem as vibrações.

As vibrações dessas cordas são comunicadas ao ar


existente nas diversas cavidades da boca, da garganta e do
nariz. A combinação de todas essas vibrações determina

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 47


o timbre da voz, que é característico de cada pessoa.
As notas mais agudas são produzidas quando as cordas estão
mais estendidas, e as mais graves quando elas se afrouxam. A
pressão do ar vindo dos pulmões controla a intensidade do som.

Vamos detalhar o que alguns dos órgãos mais importantes


do aparelho fonador fazem na produção da fala:

• A faringe é um tubo que começa logo acima da laringe.


Tem cerca de 7 cm de comprimento nas mulheres
e cerca de 8 cm nos homens, e na sua extremidade
superior é dividido em dois, sendo um a parte de trás
da cavidade oral e o outro sendo o início do caminho
até a cavidade nasal.

• O palato mole ou úvula permite que o ar passe através


Unidade 1

do nariz e através da boca. Durante a fala, a úvula é


levantada de modo que o ar não possa escapar através
do nariz. Outro fato importante sobre o palato mole
é que é um dos articuladores que podem ser tocados
pela língua. Quando fazemos os sons /k/ e /g/, a língua
entra em contato com o lado inferior do palato mole.

• O palato duro ou véu palatino é popularmente


chamado de “céu da boca”. Você conseguirá sentir que ele
é uma superfície suavemente curvada movimentando
sua língua nessa extremidade. A consoante feita com a
língua próximo ao palato duro é chamada de palatal.

• O alvéolo pode ser encontrado entre os dentes frontais


superiores e o palato duro. Você pode sentir sua forma
com a sua língua. Sua superfície é realmente muito
mais áspera do que sente e é coberta com elevações.
Você só pode ver o alvéolo se tiver um espelho
pequeno o suficiente para entrar em sua boca, como
os usados pelos dentistas. Os sons feitos com a língua

48 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


tocando no alvéolo são /t, /d/ e /n/ e eles são chamados
“alveolares”.

• A língua é o articulador mais importante e pode ser


movida em diferentes lugares e de formas diversas,
produzindo sons variados.

• Os dentes (superiores e inferiores) também fazem


parte da articulação dos sons. A língua está em contato
com os dentes superiores na maioria dos fones.

• Os lábios são importantes na fala. Eles podem ser


juntados quando produzimos os sons de /p/ e /b/,
nas explosivas, podem ser colocados entre os dentes
quando produzimos os sons de /f/ e /v/ ou podem

Unidade 1
ser arredondados para produzir o som de /u/. O som
produzido quando os lábios estão em contato é chamado
de bilabial, enquanto o som produzido quando os
lábios tocam os dentes chama-se de labiodental.
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos.
Você deve ter compreendido que a fonética é o
estudo dos sons da fala, sua produção fisiológica e
qualidades acústicas. Ela trata das configurações do
aparelho fonador usado para produzir os sons da
fala, que é a fonética articulatória, as propriedades
acústicas dos sons da fala, que compõem a
fonética acústica, e da maneira de combinar os
sons de modo que as sílabas possam ser formadas,
compondo palavras e, posteriormente, sentenças
(fonética linguística). Você também estudou a
formação das vogais e das consoantes e iniciou
seus estudos quanto aos modos de articulação.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 49


Tipos de sons da fala
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender os tipos de sons que produzimos e
ter contato com alguns conceitos que serão
OBJETIVO aprofundados sobre a produção da fala e
comunicação pelo ser humano. Isto será
fundamental não só para o exercício de sua
profissão, mas para aprimorar o entendimento do
complexo sistema que é a linguagem humana.

Como citado, quase todos os sons da fala são produzidos


na expiração. A inspiração funciona para nós como uma pausa
na elocução, um momento de silêncio. Existem outras línguas,
sobretudo idiomas africanos que apresentam uma série de
Unidade 1

consoantes articuladas na inspiração, são os ruídos chamados


de cliques. Em português, temos alguns cliques, mas sem valor
fonético, como o beijo, que é uma bilabial inspiratória.

Vejamos os sons que produzem os órgãos humanos. Na


laringe, as cordas vocais produzem vibrações no ar de transição. O ar
vibratório passa por outras cavidades que podem modificar o som,
que é finalmente articulado pelos articuladores passivos e ativos.

• Articuladores passivos (imobilizados): são compostos


pelo palato duro (que é o céu da boca), o rebordo
alveolar e os dentes superiores.

• Articuladores ativos (móveis): são a faringe, o velo (ou


palato mole), a mandíbula e dentes inferiores, os lábios
e, acima de tudo, a língua.
A língua é um órgão tão importante e tão flexível,
que os linguistas identificam diferentes regiões
da língua por nome, uma vez que estas estão
VOCÊ SABIA? associadas a sons particulares, mas não é o caso
do nosso estudo.

50 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Dizemos que o som é vozeado (ou sonoro) quando a
corrente de ar que vem dos pulmões encontra as pregas vocais
retesadas (fechadas), fazendo-as vibrar, produzindo o som
vozeado como o percebido na palavra “bato”. Um som é surdo
quando a corrente de ar que vem dos pulmões encontra as pregas
vocais relaxadas (abertas), não correndo vibração e produzindo o
som surdo percebido na palavra “prato”.
Figura 16 – Os sons da fala

Unidade 1
Fonte: Elaborada pela autora (2023).

Um som é bucal quando a corrente de ar passa unicamente


pela cavidade bucal. Esse tipo de som pode ser percebido
na palavra “bAto”. Um som é nasal quando a corrente de ar
passa, além de na cavidade bucal, também na cavidade nasal,
produzindo sons como os das palavras “pÃo”, “leÃo”, “capitÃo”,
“bANto”, “prANto” etc.

Esses e outros termos próprios da fonética e da fonologia


estarão presentes em nossos estudos doravante. Aos poucos,
no decorrer da matéria, vamos nos familiarizando com eles e
entendendo o que de fato são.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 51


Os sons do português nos
estudos da fonética e fonologia
Quando abordam os sons da fala, as gramáticas costumam
tratar da classificação dos fonemas estabelecendo os seguintes
pontos: o que são vogais, consoantes e semivogais; os principais
conceitos sobre a sílaba e sua estrutura; como devem ser entendidos
os encontros vocálicos; o que são os encontros consonantais.
Também tratam de tonicidade e atonicidade; os acentos de
intensidade; os vocábulos sem acento; os monossílabos tônicos etc.

Vale ressaltar aqui que todas as línguas naturais possuem


consoantes e vogais. Silva (2005) apresenta-nos a descrição
dos seguintes segmentos das línguas naturais: consonantal,
Unidade 1

vocálico e glide (pronuncia-se “gl[ai]de”).

Segmento consonantal: um som que seja produzido com


algum tipo de obstrução nas cavidades supraglotais, de maneira
que haja obstrução total ou parcial da passagem da corrente de
ar, podendo ou não haver ficção.

Segmento vocálico: a passagem da corrente de ar não é


interrompida na linha central e, portanto, não há obstrução ou fricção.

Segmentos semivocálicos (glides): segmentos com


características fonéticas não tão precisas, seja de consoante ou
de vogal.

Em toda língua natural existe um mecanismo complexo para


produção dos sons, e para estudarmos a produção dos segmentos
consonantais e vocálicos alguns parâmetros são relevantes,
como “o mecanismo e a direção da corrente de ar; se há ou não
vibração das cordas vocais; se o som é nasal ou oral; quais são os
articuladores envolvidos na produção dos sons e qual é a maneira
utilizada na obstrução da corrente de ar” (SILVA, 2005, p. 26) nos

52 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


sons consonantais. Já nos sons vocálicos, observam-se a “posição
da língua em termos de altura; posição da língua em termos
anterior/posterior; arredondamento ou não dos lábios”.
Sintetizando os parâmetros aprendidos:
Consoantes
As consoantes, ou segmentos consonantais, são
IMPORTANTE sons produzidos com algum tipo de obstrução no
trato vocal, de forma que há impedimento total
ou parcial da passagem de ar. Esses sons são
classificados de acordo com os seguintes critérios:
• Quanto ao lugar de articulação: bilabial,
labiodental, dental, alveolar, alveopalatal,
palatal, velar, glotal.
• Quanto ao modo: oclusiva, construtivas

Unidade 1
(fricativa, lateral e vibrante).
• Quanto ao papel das cordas vocais:
surdas ou sonoras.
• Quanto ao papel das cavidades bucal
ou nasal: orais, nasais.

Vogais
As vogais, ou segmentos vocálicos, são sons
produzidos sem obstrução no trato vocal, de forma
que a passagem de ar não é interrompida. Esses sons
são classificados de acordo com os seguintes critérios:
• Quanto à zona de articulação: anteriores,
médias e posteriores.
• Quanto ao timbre: abertas, fechadas e
reduzidas.
• Quanto à cavidade bucal ou nasal: orais
ou nasais.
• Quanto à intensidade: átonas e tônicas.
• Quanto à elevação da língua: altas,
mediais e baixas.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 53


A nossa língua apresenta algumas peculiaridades, vejamos:

• Na língua portuguesa, todas as letras têm pronúncias


específicas que dependem, por exemplo, do seu
posicionamento em uma palavra. No português, é comum
que nas palavras terminadas com a vogal E o som seja de
I. Pense em termos como: alface, doce, alegre.

• Da mesma forma que acontece com o E, ao final das


palavras a letra O não tem o som aberto de um ó ou
ô. Sempre que ela aparecer não acentuada, o natural é
que seja pronunciada como “u”: conto (contu); Monteiro
(Monteiru); século (séculu); fato (fatu); seguro (seguru);
e famoso (famosu).

• No português brasileiro, há uma forte tendência a sílabas


Unidade 1

abertas, terminadas por vogal; só há tolerância em fim


de sílaba às consoantes representadas por S e R.

• A letra R final frequentemente não é articulada na fala.


Não por pouco, na escrita de muitos jovens, sobretudo
na internet, é comum verificarmos os verbos no
infinitivo sem a grafia do R.

• Nas sílabas terminadas por M e N, essas letras não


são pronunciadas e só indicam a nasalização da vogal
anterior.

• O L em fim de sílaba é pronunciado como [u̯] ou


[ʊ̯ ], exceto no extremo Sul (onde há velarização
conservadora) e em regiões de fala caipira (onde a
pronúncia é /ɹ/). L tem som de U em “calma” e também
na palavra “salmo”.

• Os encontros consonantais sempre tolerados no


português brasileiro são formados por /b/, /k/, /d/, /f/,
/g/, /p/, /t/, /s/ ou /z/ e /v/ seguidos de /l/ ou /ɾ/: flagrante.

54 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


/ks/ também pode ser incluído nessa categoria: fixo [ˈfi.
ksu] (mas não ficção [fikˈsɐ̃w]), látex [‘lateks].

• É chamada de nasalização a vocalização que sai


do nosso nariz e não da nossa boca. Ela pode ser
encontrada em diversas situações, mas o caso mais
comum é que esteja presente nas palavras que têm
vogais precedidas de consoantes de nasalização. As
consoantes de nasalização, na língua portuguesa, são
o M e o N.

• Outro caso em que a nasalização é uma parte importante


da pronúncia das palavras é quando elas levam o acento
til (~). Veja alguns exemplos dela: amanhã; manhã;
sã; espanta; canta; ponto; andei. Em alguns sotaques

Unidade 1
específicos praticados no Brasil, a nasalização é mais
ou menos forte do que o demonstrado aqui. Esse é o
caso, por exemplo, do sotaque paraibano.

• Chamamos de sons guturais aqueles que vêm rasgados,


do fundo da garganta. O R é uma letra que tipicamente
assume esse som em alguns sotaques, como os falados
no estado do Rio de Janeiro, em partes de Minas Gerais
e na maioria do Nordeste e Norte do país.

• Os sons guturais da letra R são facilmente detectados,


principalmente, ao final das palavras. Mar, lar, comprar,
fazer, comer, beber, sorrir, berrar, abrir, Artur e ruir,
todos têm som de R gutural.

• Todavia, no meio e no começo da maioria das palavras


o R sempre tem o som gutural. Isso acontece também
em estados nos quais ele é “enrolado com a língua”,
como São Paulo e Paraná. Rosana, rato e ruim são
alguns exemplos, além do clássico “O rato roeu a roupa
do Rei de Roma”.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 55


• Todos nós sabemos que a cedilha é um sinal gráfico,
que acompanha a letra C em algumas palavras em
idiomas latinos, como o português e o francês. Não
existe cedilha em nenhuma outra letra, o que nos leva
a pensar sobre qual é o papel exato desse sinal na
pronúncia do fonema que a contém.

• Sabemos que o Ç se comporta mais ou menos como o


S utilizado em espanhol, ou seja, tem som de SS para a
maioria dos brasileiros. Então, toda vez que você vir um
Ç antes de A, O ou U, lembre-se de fazer com que sua
pronúncia seja bastante clara. Alguns exemplos do seu
uso são: canção; ação; açougue; Iguaçu.

• De todas as letras do nosso alfabeto, X é a que tem mais


Unidade 1

variações de pronúncia. No início das palavras e depois


de N, tem som de CH (enxaqueca). Ao fim das palavras,
som de KS (xerox, látex).

• Ao final de sílabas, som de S (excursão). E, quando


assume papel intervocálico, pronúncias que variam
entre Z (exagero), CH (ameixa) e KS (táxi).

O desenvolvimento da fala
Inicialmente, vamos falar da distinção entre voz, fala, língua
e linguagem. A voz, a fala e a linguagem são as ferramentas
necessárias para a comunicação entre as pessoas. Voz são sons
que fazemos à medida que o ar sai dos nossos pulmões, sendo
empurrado através das pregas vocais da laringe, fazendo com
que vibrem.

A fala é a conversa, uma das formas de linguagem. Ela


envolve ações precisamente coordenadas dos músculos da
língua, dos lábios, mandíbula e trato vocal para produzir sons
reconhecíveis que compõem a língua. Retomando o conceito

56 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


de língua, temos que é um sistema de sons e gestos organizado
que representa um grupo social, possibilitando a comunicação,
envolve aspectos geográficos e culturais.

Como visto, a linguagem é um conjunto de regras que


permitem que as pessoas expressem suas ideias de forma que
possam ser compreendidas. A linguagem pode ser verbal ou não
verbal, como a escrita, os sinais e os gestos.

O interesse no desenvolvimento da fala como fato


sociodialetal e nas dificuldades de aprendizagem diz respeito
à função primordial da escola no ensino da língua materna,
garantido o domínio dos diferentes registros e de como usá-los
socialmente de forma adequada, visto que a variação fonética

Unidade 1
repercute no ensino da língua materna.

A fala é adquirida espontaneamente, mas é na escola que os


professores devem estar mais preparados para a explicação dos
fenômenos da linguística, podendo diagnosticar as dificuldades
de seus alunos, ajudando-os a superá-las.

Nos primeiros anos de vida, as crianças já começam a


distinguir os sons das línguas que escutam e já demonstram
preferências em relação a elas devido a um sistema cerebral
complexo, mesmo que escutem várias línguas. Nesse processo,
as crianças aprendem como os sistemas de sons das línguas
funcionam, sua fonologia. As crianças começam a produzir
seus próprios sons da fala em diferentes idades. Crianças com
desenvolvimento normal seguem sequências similares ao
desenvolver os sons consonantais.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 57


Figura 17 – O desenvolvimento da fala

Fonte: Freepik
Unidade 1

Durante o desenvolvimento da fala, elas tendem a cometer


erros comuns ao produzir alguns sons. Por isso, é importante
estimular as crianças a corrigirem seus erros repetindo a forma
correta com bastante clareza.

O desenvolvimento dos sons da fala é uma parte fundamental


da aprendizagem da forma da linguagem oral. A comunicação
inicial começa com combinações de gestos, expressões faciais
e vocalização. Assim que a criança atinge suas habilidades de
fala, os sons e as palavras são usados de forma cada vez mais
estratégica para comunicar seus desejos e necessidades.

Ambientes de aprendizagem acolhedores e responsivos são


importantes para o desenvolvimento das habilidades na língua e
da fala, incluindo oportunidades frequentes nas quais a criança
possa interagir e compartilhar da atenção de adultos, além de
ouvir a linguagem para diferentes finalidades.

De acordo com a teoria sociocultural de Vygotsky (1978) e o


conceito espiral de Bruner (1986), as crianças aprendem mediante

58 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


a interação com aqueles que detêm mais conhecimento. Portanto,
os educadores devem trabalhar em parceria com os familiares
para oferecer interações estimulantes e muitas oportunidades
para que as crianças possam ouvir e utilizar a língua para várias
finalidades, desenvolvendo a habilidade da fala de forma eficaz.

As crianças podem interagir com outras pessoas de modo


verbal e não verbal, com vários propósitos. Os três primeiros
anos de vida, quando o cérebro está se desenvolvendo e
amadurecendo, consistem no período mais intenso de aquisição
da fala e das habilidades da linguagem. Essas habilidades
desenvolvem-se melhor em um mundo rico em sons, sinais e
exposição constantes à fala e à linguagem das outras pessoas,
como comentamos. Desse modo, esse período é crítico para o

Unidade 1
desenvolvimento da fala e da linguagem na criança, quando seu
cérebro é mais capaz de absorver a linguagem. Se nessa fase
fundamental não for assegurada a exposição à linguagem, a
aprendizagem será muito mais difícil.
Figura 18 – Comunicação nos primeiros anos de vida

Fonte: Freepik

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 59


Em relação às etapas que marcam o desenvolvimento da
fala e linguagem, os primeiros sinais de comunicação ocorrem
quando os bebês aprendem que o choro traz alimento, conforto
e companhia. Recém-nascidos também reconhecem os sons mais
relevantes do ambiente, como a voz da mãe. Conforme crescem,
os bebês começam a distinguir os sons da fala que compõem as
palavras na língua. Por volta dos seis meses, a maioria dos bebês
reconhece os sons básicos de sua língua nativa.

Entretanto, o desenvolvimento da fala e da linguagem nas


crianças pode variar de uma para outra. Certamente, existe
uma progressão natural observável para atingir o domínio das
habilidades da linguagem, considerada pelos especialistas na
determinação do desenvolvimento dela, para que se possa
Unidade 1

saber se será necessária alguma ajuda adicional ou cuidado. Por


vezes, atrasos podem ser causados por dificuldades auditivas, ou
mesmo por distúrbios da fala.

Todavia, existe uma diferença entre distúrbios da fala e da


linguagem. Quando a criança tem problemas para compreender
o que outras pessoas dizem (linguagem receptiva) ou dificuldade
de compartilhar os seus próprios pensamentos (linguagem
expressiva), pode ser que existam distúrbios de linguagem.
Algumas crianças com distúrbio de desenvolvimento da fala
podem começar a falar somente ao seu terceiro ou quarto ano
de idade.

As crianças que apresentam dificuldade na produção


correta dos sons da fala, hesitam ou gaguejam ao falar podem
ter um distúrbio da fala. Por exemplo, a apraxia da fala é um tipo
de distúrbio neurológico que dificulta a colocação dos sons e das
sílabas na ordem correta para formar palavras, resultando em
dificuldades na pronúncia.

60 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Distúrbios de fala e alfabetização
Embora não sejam objeto específico de estudo da gramática
normativa, nem dos cursos de formação de educadores, as
contribuições do campo da fonética e da fonologia ajudam
profissionais da comunicação e da educação a compreender
os aspectos sonoros da língua, bem como suas implicações no
processo da fala e da escrita.

As alterações de fala e linguagem são relacionadas, direta


ou indiretamente, aos problemas de alfabetização, às habilidades
de leitura e escrita, à capacidade de soletração, entre outros
aspectos. Além dos efeitos negativos sobre a alfabetização, tais
alterações podem trazer prejuízos nos aspectos educacionais e

Unidade 1
ocupacionais. As crianças que apresentam alterações de fala têm
maior dificuldade para se comunicar e serem compreendidas,
permanecendo isoladas.

Quase sempre sua autoestima e autoimagem ficam


afetadas. Elas sofrem constrangimentos com “gozações”
constantes, ficando mais inibidas e retraídas. Esse conjunto
de fatores acaba por prejudicar a aprendizagem, uma vez que
a criança se vê como detentora de um “problema”, o qual não
consegue resolver ou mesmo compreender.

Muitos desses distúrbios se dão por alguma anomalia ou


problema do aparelho fonador. Vamos listar brevemente alguns
distúrbios possíveis que podem auxiliar no desempenho de
nossa profissão.

Alalia: distúrbios da fala nos quais, devido à derrota das


partes corticais do analisador de fala, a capacidade de usar
palavras para expressar pensamentos e se comunicar com
outras pessoas é parcial ou completamente perdida.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 61


Afasia: a afasia é de origem cortical central, mas de
funcional natureza (origem histérica, ou no contexto de forte
estresse emocional), é chamada ogoneurose e se manifesta
na forma anartria (perda de fala) ou disartria (distúrbios da
fala devido a distúrbio articular, dificuldades na pronúncia dos
sons da fala devido a paresia, espasmo e outras desordens
dos músculos da fala). A disartria também pode ser observada
com a localização da lesão cerebral na área das estruturas que
fornecem o mecanismo motor da fala.

Dislalia: as violações da pronúncia do som na dislalia


estão associadas a uma anomalia na estrutura do aparelho
articulatório, ou com características da educação da fala. A esse
respeito, existem a dislalia mecânica e a funcional. A dislalia
Unidade 1

mecânica (orgânica) é associada a uma violação da estrutura do


aparelho articulatório: a mordida errada, a estrutura errada dos
dentes etc. A dislalia funcional é associada à comunicação verbal
errada na família.

Dislexia: a pessoa disléxica apresenta sérias dificuldades


com a identificação dos símbolos gráficos no início da sua
alfabetização, o que acarreta fracasso em outras áreas que
dependam da leitura e da escrita. As principais dificuldades são:

• Rinolalia: violação da pronúncia sonora e do timbre


da voz associada a um defeito congênito específico na
estrutura do aparelho articular (fenda palatina etc.).

• Gagueira (logoneurose): violação da fluência da fala,


devido a espasmos musculares do aparelho de fala.

• Distúrbios da voz: é a ausência ou desordem da


formação da voz (fonação) devido a alterações
patológicas no aparelho vocal.

62 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos.
Você deve ter compreendido um pouco mais
sobre os sons da língua portuguesa, além de ter
estudado o desenvolvimento da fala e alguns
distúrbios relacionados a ela

Unidade 1

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 63


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FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 65

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