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Alfabetização e Letramento

Unidade 2
Aquisição da Língua Escrita
na Alfabetização
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
IRIA HELENA DUARTE
MAURO JOSÉ KUMMER
AUTORIA
Iria Helena Duarte
Sou formada em Pedagogia, Especialista em Metodologia do
Ensino da Língua Portuguesa e Estrangeira com uma experiência técnico-
profissional na área de ensino híbrido há mais de 10 anos. Concluinte em
Psicopedagogia e especialização em Língua Espanhola. Iniciei minha
carreira como docente em diversas escolas do Estado de São Paulo,
Estado do Paraná e de Santa Catarina na área da Educação Infantil e Ensino
Fundamental I. Em 2008 fui convidada por uma empresa em expansão
em EAD a participar do departamento Pedagógico como Coordenadora
Pedagógica em EAD e depois como professora conteudista na área
da Pedagogia e ensino de Línguas. Também trabalhei para algumas
faculdades, para a elaboração de trabalhos e materiais didáticos e
preparatórios como ENADE. Atualmente sou sócia de uma escola EAD de
ensino de cursos técnicos, profissionalizantes e idiomas e também atuo
como mediadora do curso de Pedagogia e tutora virtual da Universidade
Virtual do Estado de São Paulo. Amo a minha profissão e sou apaixonada
pelo meu trabalho. Estou sempre em busca de novos conhecimentos
porque acredito no poder da educação e da reciclagem. Adoro poder
transmitir minha experiência para todos que estão iniciando em suas
profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu
elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte sempre comigo!

Mauro José Kummer


Mestre em educação pela PUCPR, Especialista em gestão da
qualidade aplicada a educação pela Organização dos Estados Americanos.
Trabalha na Educação a distância como professor conteudista e professor
palestrante, além de tutor. Sua formação de base é em Engenharia de
Produção. Além de professor também é revisor de textos, atuou em
diversas instituições como UFPR, PUCPR, UniBrasil e Estácio. Professor
para pós-graduação em gestão da qualidade aplicada a educação.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
A aquisição da língua escrita.................................................................. 10
Língua, fala e cultura.....................................................................................................................10

A influência cultural para a língua escrita................................................... 13

Processos de apropriação da língua escrita.................................... 17


As diferentes perspectivas..................................................................................... 17

A Psicogenética de Ferreiro e Teberosky.................................................... 19

Métodos de Alfabetização - Global e fonético................................ 21


Os métodos de alfabetização.................................................................................................24

O método Fonético ou método sintético....................................................25

Método Global ou método analítico...............................................................26

Os métodos e os desafios......................................................................................27

Estratégias da Leitura - Parte II.............................................................29


Antes da leitura..................................................................................................................................29

Durante a leitura........................................................................................................... 30

Depois da Leitura..........................................................................................................33

Considerações finais......................................................................................................................33

O tradicional X O construtivista..............................................................................................35
Alfabetização e Letramento 7

02
UNIDADE
8 Alfabetização e Letramento

INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a),

Nossa jornada ainda nem começou! Temos muito pela frente


para que você possa compreender todos os meios que permeiam essa
disciplina tão importante na sua formação. Na verdade, nossa intenção
é que você não somente se aproprie de toda estrutura teórica, mas
que possa fazer experimentação de todo conteúdo quando estiver
vivenciando na sua prática pedagógica.

Nesta unidade, serão abordados temas pertinentes à linguagem


escrita e suas implicações, faremos uma análise sobre a aquisição da
língua escrita, a importância que essa prática tem em nosso meio social
e para a criança, assim como todos os processos que são envolvidos
nesta etapa. Falaremos também como a criança faz a apropriação
dessa linguagem e quais os meios que ela percorre para chegar no que
desejamos ser satisfatório.

Precisamos ter também, o conhecimento sobre os métodos de


alfabetização no seu sentido global e também fonético não somente
baseados em teorias, mas em vivencias dentro de sala de aula. E por
fim, falaremos um pouco mais sobre as estratégias de leitura agora mais
focadas em ambientes específicos.

Esperamos que você faça um bom uso desse material e que


seus conhecimentos possam ser expandidos. Sugerimos que faça as
atividades propostas, participe dos fóruns, realize leituras extraclasse,
enfim, seja parte integrante nesse processo!

Bons estudos!
Alfabetização e Letramento 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2, e o nosso objetivo
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Entender o conceito sobre a aquisição da linguagem escrita por


meios filosóficos e teóricos.

2. Adquirir conhecimentos específicos através dos processos que


permeiam a apropriação da língua escrita.

3. Compreender como são utilizados os métodos de alfabetização e


quais suas principais características.

4. Reconhecer as estratégias da leitura como parte integrante no


processo de formação do indivíduo.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
10 Alfabetização e Letramento

A aquisição da língua escrita


OBJETIVO:

Antes de iniciarmos, gostaria que você fizesse uma reflexão


sobre esse conceito baseado em suas vivências pessoais.
Tente recordar qual foi o processo que sua professora
utilizou com você para que chegasse a escrever? Houve
alguma dificuldade ou algo que tenha te marcado?
Você verá que a aquisição da língua escrita não é tão
simples como podemos imaginar e temos que ter em conta
muitos fatores que envolvem a realidade da criança. Um
dos fatores culminantes é no que se diz respeito ao meio
cultural em que a criança está inserida. Infelizmente, ainda
nos dias de hoje muitos profissionais não estão preocupados
sobre esse tema porque simplesmente acreditam que os
métodos de alfabetização a auxiliarão nessa aquisição.
Muito pelo contrário, quanto mais informações tivermos
sobre a criança, melhor será o processo de aquisição.

Língua, fala e cultura


Na unidade anterior você já estudou as diferenças entre língua
falada e língua escrita. Enquanto a língua falada é dinâmica e sofre
sempre modificações, a língua escrita é mais regrada e não tem tantos
dinamismos quanto a outra. Mas qual seria a relevância disso no processo
da aquisição da escrita?

Vamos imaginar duas situações:

1. Uma criança de classe média alta, sendo alfabetizada em


uma escola particular aonde ela está inserida em um projeto
pedagógico fundamentado na visão construtivista;

2. Uma outra criança de classe média baixa, num processo de


alfabetização em uma escola pública em que seu método
pedagógico é calcado em meios tradicionais. A escola ainda utiliza
a Cartilha para alfabetizar a criança.
Alfabetização e Letramento 11

Imaginou essas duas situações? Ótimo! Então procure responder


baseado em todo o material que estudou até agora:

Você acredita que ambas as crianças, inseridas em um meio social


e cultural completamente diferentes terão as mesmas condições no que
diz respeito aos métodos de alfabetização e aquisição da língua?

Em 1970, Frank Smith propôs que a criança tem capacidade de


aprender de forma tão natural quanto ao ato de falar. Esse processo
depende também do meio social em que ela vive, pois isso seria muito
significativo e determinante. Ele define um ambiente significativo”,
destinado ao seu meio social em que a criança está inserida e até
mesmo esse ambiente pode ser motivador para que ocorra o processo
naturalmente. É o que ele mesmo diz em (SMITH,1989, p 237):
“Tudo que as crianças precisam para dominar a linguagem
falada, tanto para produzi-la por si mesmas quanto, mais
fundamentalmente, para compreenderem sua utilização
pelos outros, é ter a experiencia de usar a linguagem
em um ambiente significativo. As crianças aprendem
facilmente sobre a língua falada, quando estão envolvidas
em sua utilização, quanto esta lhe faz sentido. E, da
mesma forma, tentarão compreender a linguagem escrita
se estiverem envolvidas em sua utilização, em situações
onde esta lhes faz sentido e onde podem gerar e testar
hipóteses”
Figura 1

Fonte: Freepik
12 Alfabetização e Letramento

Nesse pressuposto, é correto afirmar que o ambiente em que


a criança vive é facilitador desse processo. Voltamos novamente nas
crianças 1 e 2 do nosso exemplo.

Perceba que não depende muitas vezes das capacidades cognitivas


das crianças na construção do conhecimento, mas sim, diversos fatores
que influenciam a aquisição. E quando falamos em classe social isso pode
ter um impacto muito grande, ou seja, uma criança menos favorecida
financeiramente não tem acesso as mesmas informações quanto uma
criança mais favorecida financeiramente. Isso não significa que a criança
menos favorecida financeiramente não irá aprender, porém ambas estão
inseridas em realidades muito diferentes. Na mesma década, Kenneth
Goodman propôs uma teoria bem parecida da de Frank Smith. Ele ainda
enfatiza os “porquês” da finalidade da linguagem escrita e afirma que
o individuo faz a apropriação porque precisa dela em seu meio social.
Segue o questionamento de (GOODMAN, 1986, p.24):
Por que as pessoas criam e aprendem a língua escrita?
Porque precisam dela! Como aprendem a língua escrita?
Da mesma forma que aprendem a língua oral, usando-a
em eventos de letramento autênticos que respondem a
suas necessidades. Frequentemente as crianças enfrentam
dificuldades na aprendizagem da língua escrita na escola.
Isso acontece não é porque é mais difícil aprender a escrita
que aprender a língua oral, ou porque são aprendizagens
diferentes. Acontece porque nós tornamos a aprendizagem
da língua escrita difícil, tentando torna-la fácil.

Concluem então, que o ato de ler e escrever é um processo natural


pois a criança aprende assim como na aquisição da fala. Entende-se por
dois processos diferentes, mas que ocorrem naturalmente. O que deve
ser feito é proporcionar um ambiente que seja favorável para a criança.

Outra proposta pedagógica muito significativa foi a do Whole


language, especificamente em países que falam a língua inglesa, uma
visão muito parecida a isso no Brasil, seria o método construtivista. Embora
existam distinções entre as duas visões, ambas também acreditam que a
aprendizagem se dá por um processo natural. Segundo SOARES, (2014,
p.41): “...em um contexto em inserção da criança em situações em que haja
razão e objetivo para compreender e ser compreendido por meio da escrita”.
Alfabetização e Letramento 13

Para Emilia Ferreiro, fundamentado em sua obra, nos diz que língua
oral e língua escrita são “atividades sociais frente às duas aprendizagens”
(1992, p.29). Emília Ferreiro (1992, p.31).ainda reitera que “não se aprende
um fonema nem uma silaba e nem uma palavra por vez, também a
aprendizagem da língua escrita não é um processo cumulativo simples,
unidade por unidade, mas organização, desestruturação e reestruturação
contínua” O processo ocorre naturalmente dentro de um contexto cultural
em que o indivíduo está envolvido, porém é certo lembrar que cada um
tem a sua especificidade porque “nasceu” em um ambiente diferente.
Então, duas crianças de classes sociais e culturas diferentes podem sim,
aprender também de maneiras diferentes.

A influência cultural para a língua escrita


Vimos que nossa cultura faz parte de quem somos e vice e versa.
É por meio dela que nos espelhamos como cidadãos pois cada povo
tem a sua maneira de expressar seus sentimentos. Quando falamos de
“povo” não estamos falando apenas de diferenças entre países, mas de
comunidades, de famílias. Cada um tem a sua cultura, o seu modo de
expressão e de interpretação. Devemos à cultura todo conhecimento
com o social, é o meio pelo qual você está inserido. Seus gostos, suas
crenças, tudo vem do que você aprendeu, do que seus pais te ensinaram
e assim por diante. Pense no Brasil e em todo o seu povo. Perceba que
cada região tem a sua característica diferente.

REFLITA:

Pense sobre nossa língua materna. Todos os mais de


200 milhões habitantes da nossa nação falam a língua
portuguesa porque fomos colonizados pelos portugueses
e acabamos por herdar essa língua tão rica. Porém, todos
falam da mesma maneira?

É claro que existem diferenças na nossa língua. O Paulista não


fala como o Carioca, O Gaucho não fala como o Mineiro, assim como o
Nordestino não fala como o Paranaense. Cada povo fala de uma maneira
diferente e não é só de estado para estado, de cidade para cidade pode
14 Alfabetização e Letramento

ocorrer muitas modificações na língua. Essas mudanças chamamos de


regionalismo. Além disso, existem os dialetos e sotaques brasileiros, pois
em cada região também se fala de maneira diferente, tanto os sons das
palavras quanto a entonação mudam. Outra característica da língua oral
são as expressões. Pense na seguinte situação:

Uma criança Paulista, recém-chegada à Bahia, diz que está


muito “bolado” com a professora. Para os Paulistas, “bolado” quer dizer
preocupado. É claro que a criança baiana não irá entender porque essa é
uma expressão tipicamente paulistana.

Podemos citar inúmeros exemplos de expressões e regionalismos


de nossa língua, porém a intenção é que você se atente à importância
desses processos no desenvolvimento do indivíduo.

No processo de alfabetização o caso não é diferente. Muitos


pesquisadores acreditam que um dos fatores do fracasso da alfabetização
é justamente não conhecer essas facetas, pois alfabetização não se
restringe apenas ao nível cognitivo, mas também psicológico e sociológico.

Outro fator importante também é o nível socioeconômico. Como


dito anteriormente, crianças de diferentes níveis socioeconômicos não
aprendem da mesma maneira porque também não vivenciam da mesma
experiência de vida. Podemos refletir melhor com a posição de (SOARES,
2017, p92):
Assim, tanto no Brasil quanto em outros países, os estudos
linguísticos sobre a alfabetização, partindo do pressuposto
de que há relação entre língua e estratificação social, vêm
tentando descrever os dialetos de comunidade de fala,
correlacionando-os com varáveis sociais, particularmente
com a variável nível socioeconômico, e contrastando-
os com a língua escrita, para encontrar, nesse contraste,
explicações das dificuldades que falantes pertencentes a
determinados grupos sociais enfrentam, no processo de
aquisição de língua escrita.
Alfabetização e Letramento 15

A mesma pesquisadora ainda afirma que há uma grande importância


entre os aspectos funcionais tem a mesma relevância que os aspectos
estruturais e fala que a designação da “função social da língua escrita”
em sua estrutura social e o desempenho que essa função tem em sua
sociedade. Portanto, não podemos apenas olhar a aquisição da escrita
por meios mecânicos e estruturais, mas também através do seu processo
social. Magda Soares reitera que deva existir uma certa urgência para essa
perspectiva social da língua escrita: (SOARES, 2017, p.4) “[...] é necessário
conhecer o valor e a função atribuídos à língua escrita pelas camadas
populares, para que se possa compreender o significado que tem, para
as crianças pertencentes as essas camadas, a aquisição da língua escrita-
esse significado interfere, certamente, em sua alfabetização”

Infelizmente, ainda nos dias de hoje, são muito poucas as pesquisas


sobre as funções da língua escrita em sua diferenciação social por todo
o país. A atribuição do uso da língua é diferente entre as classes sociais
diferentes. É o que diz (SOARES, 2017, p.96):
Comecemos pela hipótese de que essas classes sociais
diferentes atribuem funções diferentes ao uso da língua. (...)
Ou seja, há uma diferença de classe na relação entre uso
da língua e as expectativas prévias do falante, a respeito
do interlocutor e do contexto.

A pesquisadora Magda Soares, em sua obra “Alfabetização e


Letramento”, apontou alguns exemplos de produção de textos de crianças
de classes econômicas diferentes. São textos de uma mesma de alunos
destinados a mesma turma, tendo a mesma professora, porém suas
produções são diferentes. Seguem dois exemplos em (SOARES, 2017,
p.99):

• Exemplo 1: referente a uma menina de nível socioeconômico


médio-alto do 3º ano do ensino fundamental I:
“Se eu fosse professora iria dar aula de matemática,
comunicação, integração, ciências, treino e muitos outras
coisas. Se precisar de chamar atenção do aluno é só
chamar. Eu iria contar estórias para os alunos e fazer jogos
de matemática e também dar matérias novas para eles.
Eu gostaria muito de ser professora, ensinar os meninos as
matérias e isto é para o próprio bem deles”.
16 Alfabetização e Letramento

• Exemplo 2: referente a uma menina de nível socioeconômico baixo


do 3º ano do ensino fundamental I:
“Se eu fosse professora: eu mandaria os alunos calarem
a boca, fazerem os exercícios completos, não olhar um
do outro porque se não eles não aprenderiam nada. Eu
não quer (sic) ser uma professora brava, eu quer ser uma
professora que não gritasse com os alunos, mas queria
que os alunos coperasem (sic) comigo, porque se os
alunos não coperasem (sic) comigo eu também não podia
coperar (sic) com eles. Vocês entenderam que professora
eu queria ser?”

Percebam a distinção entre os dois textos. Ambas as meninas


falam de um mesmo assunto só que com perspectivas diferentes. Não
estamos nos atendo somente aos erros de concordância, gramaticais e
de ortografia, mas uma representatividade de um contexto cultural em
que cada uma está inserida.
Alfabetização e Letramento 17

Processos de apropriação da língua escrita


OBJETIVO:

Vimos que a aquisição da língua escrita, para acontecer,


dependerá de muitos fatores, tanto internos como externos.
Neste capítulo estudaremos os processos de apropriação a
língua e como se desencadeia esse método.

Pensamos então no desenvolvimento e aprendizagem como parte


intrínseca, pois pode ser originado em fases tanto por causas internas como
externas. Por exemplo: quando citamos as causas externas, podemos
relatar os processos linguísticos do indivíduo); já as causas internas,
podemos citar o contexto sociocultural. Toda fundamentação teórica tem
os seus pós e contras, mais uma vez reiteramos que a intenção não é
propor as melhores perspectivas, e sim relacionar as fundamentações que
mais evidenciam nesse processo. Varias são as teorias que identificam a
fase de desenvolvimento da criança. Citaremos então, as teorias mais
vivenciadas nesse desencadeamento:

As diferentes perspectivas
Curiosamente, Vygotksky considerou como pré-história da
linguagem escrita os desenhos, os rabiscos, os jogos de faz de conta,
no qual seriam momentos iniciais da aquisição da escrita. Para ele, a
criança constrói sistemas de representação. É o que podemos notar em
(VYGOTSY,1984, p .131):
O brinquedo de faz de conta, o desenho e a escrita
devem ser vistos como momentos diferentes de um
processo essencialmente unificado de desenvolvimento
da linguagem escrita.

A perspectiva para Vygotsky fundamentalmente semiótica e


continuou presente após 6 décadas. Para essa perspectiva, é proposto que
estágios de desenvolvimento que antecedem formas de representação
da fala e da forma gráfica também. Segundo a reflexão de (SOARES,2014,
p. 58):
18 Alfabetização e Letramento

(...) Essa analise busca a pré-história da aprendizagem da


escrita, para usar a expressão de Vygotsky, identificando
os princípios que regem a construção de significados
pelas crianças, quando lançam mão de uma multiplicidade
de formas de representação, por meio de diferentes tipos
de interação com o mundo – não só por meio da visão,
como na fala, mas também por meio do tato, do olfato, do
paladar, dos sentimentos.
Figura 2

Fonte: Freepik

Uma segunda perspectiva acontece com Alexander Luria, psicólogo


e especialista em psicologia do desenvolvimento. Luria fundamentou sua
teoria bem próxima a de Vygotsky, segundo Luria, quando uma criança
entra na escola, ela já tem bagagens suficientes para possuir habilidades
que a auxiliará a escrever em um tempo particularmente curso.

Iniciou uma experimentação com crianças de 3 a 5 anos que não


haviam aprendido a escrever. As crianças deveriam relembrar alguns
números de palavras ou frases que lhes eram passadas. Dentro dessas
observações pôde notar (LURIA, 1998, p.147-48):
(...) em que extensão o pedaço de papel, o lápis e os
rabiscos que (a criança) fazia no papel deixavam de ser
simples objetos que a interessavam, brinquedos, por
assim dizer, e tornavam-se um instrumento, um meio para
atingir algum fim: recordar um certo numero de ideias que
lhe foram apresentadas.

Luria apresentou nessa pesquisa, três estágios:

1. No primeiro estágio, identificou que as crianças “anotavam” as frases


por meio de rabiscos. Denominou esse estágio de pré-escrita.
Alfabetização e Letramento 19

2. No segundo estágio inscreveu marcos não direcionados nas


páginas, nesse caso, as crianças lembravam uma ou outra frase,
pois esse era exatamente o propósito.

3. No terceiro estágio se referia á diferenciação dos signos primários.


As crianças utilizavam dos rabiscos curtos para o registro de
palavras, e longos, para o registro de frases. O desenho era utilizado
somente para que elas recordassem e não como reprodução.

A Psicogenética de Ferreiro e Teberosky


Vamos relembrar um pouquinho mais sobre essas teóricas fantásticas
e que nos trouxeram fundamentos riquíssimos para nosso desenvolvimento
como docentes? Como já vimos, a obra de Emília Ferreiro e Ana Teberosky
teve um impacto muito grande em nossa história. Elas não somente
contribuíram como revolucionaram os processos de alfabetização que até
então, estavam esquecidos no sistema tradicional da Cartilha. Houve uma
diferenciação entre as pesquisas de Luria e de Ferreiro. O primeiro teve
o foco na pesquisa entre crianças de 3 a 5 anos, já Ferreiro e Teberosky
fizeram experimentação com crianças de 4 a 6 anos. Eles diferenciam entre
si do objeto do conhecimento como declara SOARES, 2014, p. 62):
(...) diferenciam-se em relação ao objeto do conhecimento
privilegiado: na pesquisa de Luria o foco é posto nos
grafismos utilizados pela criança para apoio à memória,
ou seja, o objeto de conhecimento é uso da escrita pela
criança como instrumento; na pesquisa de Ferreiro e
Teberosky, o foco é posto nos processos cognitivos da
criança em sua progressiva aproximação ao princípio
alfabético da escrita, ou seja, o objeto de conhecimento
é a escrita como um sistema de representação, que as
pesquisadoras analisam sob a perspectiva da psicogênese
no quadro da teoria piagetiana.

As fases iniciais da psicogênese da língua escrita dão-se: Pelo


desenvolvimento da leitura pela evolução da escrita. Nessa perspectiva
construtivista, a evolução da escrita é considerada um ato complexo e
rico em oportunidades. Os níveis de evolução da leitura são reconhecidos
mais facilmente do que os níveis da leitura. Para Ferreiro e Teberosky
destacam-se alguns níveis:
20 Alfabetização e Letramento

1. Nível pré-silábico: Nessa fase, a criança produz alguns desenhos.

2. Nível pré-silábico II: A criança já reconhece algumas letras do


alfabeto e já tem capacidade de diferenciar gravuras de letras e
números.

3. Nível silábico: Pode ser dividido entre silábico sonoro, silábico sem
valor sonoro e alfabético.

4. Nível silábico sem valor sonoro: nesse estágio, a criança não leva
em conta aos sons das letras e faz a assimilação do alfabeto para
escrever, mas não a forma padrão da grafia tradicional.

5. Nível silábico com valor sonoro: é utilizado alguns símbolos


gráficos de maneira aleatória, utilizando muitas vezes consoantes
ou somente vogais.

6. Nível silábico alfabético: tem uma oscilação tanto silabicamente


como alfabeticamente.

7. Nível alfabético: A criança agora compreende que a escrita implica


a necessidade da analise fonética das palavras.

Vale lembrar que essas ideias são de cunho construtivistas, outros


teóricos fundamentaram suas teorias baseado em outras experiencias.
Muitas são as perspectivas e com certeza teríamos um e-book totalmente
dedicado para a analise dessas perspectivas, por isso sugerimos que você
faça algumas pesquisas sobre as perspectivas de Gentry, Frith e Erhi. Este
último, tem uma semelhança muito grande com a de Emília Ferreiro.

REFLITA:

Baseado em toda argumentação teórica, você acredita


que a fundamentação da escrita pode ser iniciada com
desenhos e gravuras? Como você, professor, trabalharia
com o seu aluno essa perspectiva de Vygotsky?
Alfabetização e Letramento 21

Métodos de Alfabetização - Global e


fonético
OBJETIVO:

Entende-se por métodos de alfabetização um conjunto


de valores, procedimentos que são baseados em teorias e
princípios com a intenção de orientar a aprendizagem que
é iniciada pela leitura e escrita. Procuramos entender que
não existe um único método no processo de alfabetização,
pois se tratando de um assunto tão complexo, seria
enganoso dizer que exista apenas um único método
realmente eficaz.

É o que sugere (SOARES,2014, p.331):


(...) à questão dos métodos mencionada neste livro não
é qual método ou quais são os melhores ou os mais
adequados; a resposta que se pode inferir reverte os termos
da expressão métodos de alfabetização para alfabetizar
com método: orientar a criança por meio de procedimento
que, fundamentados em teorias e princípios, estimulem
e orientem as operações cognitivas e linguísticas que
progressivamente a conduzam a uma aprendizagem bem
sucedida da leitura e uma ortografia alfabética.

Sabemos que a aprendizagem da língua possui muitas etapas,


Magda Soares chama essas etapas de “facetas”. Segundo (SOARES,2014,
p.333), a reunião dessas “facetas” dificilmente pode constituir um método:

Em outras palavras, o que propõe é que uma alfabetização bem-


sucedida não depende de um método, ou, genericamente, de métodos
ou processos cognitivos e linguísticos do processo de alfabetização, e
com base neles desenvolvem atividades que estimulem e orientem a
aprendizagem da criança, identificam e interpretam dificuldades em que
terão condições de intervir de forma adequada- aqueles/aquelas que
alfabetizam com um método.

Em meados do século XX, pode-se notar que a linguagem


escrita tornou objeto de pesquisa no campo das ciências linguísticas
22 Alfabetização e Letramento

e muito tem se observado novos debates sobres os métodos no


processo de alfabetização vindo da necessidade sob o fracasso do
sistema de alfabetização no Brasil. Muitos estudiosos acreditam que os
métodos tradicionais não são mais eficientes porque acabam minando o
desenvolvimento da criança muito embora ainda nos dias de hoje essa
prática tradicional acaba por predominar.

REFLITA:

Você pode imaginar por quê os métodos tradicionais ainda


prevalecem no ambiente escolar? E qual foi o método de
alfabetização que a sua professora usou como você?

É muito provável que para os que tenham nascido a partir dos


anos de 1980 até os dias atuais, o método era o mesmo, o da Cartilha
de Comenius. Um conceito bastante relevante é o pressuposto que os
métodos tradicionais acabam por não priorizar uma reflexão de leitura e
escrita, dando ênfase à memorização. No método tradicional é utilizado um
sistema de codificação e decodificação, sem mencionar em suas atividades
em fragmentos e de modo artificial, além da aplicação de ditados. É o que
propõe (BRITO; ALBUQUERQUE; CABRAL, TAVARES,2007, p.1):
(as) praticas de alfabetização e os livros didáticos a elas
vinculados, passaram a ser amplamente criticados, uma
vez que continham textos forjados (os pseudotextos)
e atividades que, de certa forma, destruíam a língua,
reduzindo, equivocadamente, a iniciação da criança no
mundo da escrita às tarefas de codificar e decodificar
palavras tolas ou estranhas, sem qualquer proposito
comunicativo.

Perceba que os autores citam que esse método tradicional acaba


por destruir a língua, porque não inserem a criança no processo real
educativo e como anteriormente já vimos, o processo é complexo e exige
do educador muito mais do que simplesmente ser o transmissor desse
conhecimento.
Alfabetização e Letramento 23

Figura 3

Fonte: pinterest.com

Na tentativa de trazer novos horizontes para nossa realidade, Emilia


Ferreiro entra em cena com a sua obra Psicogênese da língua escrita, e
coloca em dúvida todo o trabalho realizado até o momento. Calcada em
ideais construtivistas vem propor uma codificação para representação da
linguagem, assim como mostra que existe uma grande complexidade na
linguagem escrita. Ferreiro vai contra o método tradicional, especialmente
a prática de cópias, ditados e leitura de textos, pois para ela, esses
artefatos não permitem o professor identificar os níveis de alfabetização
em que as crianças de encontram.

Mediante ao desencadeamento dessas vertentes, surge a ideia


de Letramento. A alfabetização divide-se na ideologia que o indivíduo
deve não somente saber ler e escrever, mas fazer uso real dessa pratica,
através de interpretação e domínio de sua linguagem. A pesquisadora
Magda Soares acentuou ainda mais essa visão em suas obras e nos deu
um direcionamento sobre os inúmeros questionamentos da definição de
Letramento.
24 Alfabetização e Letramento

Outro teórico bastante significativo foi Arthur Gomes Morais, que


fundamentou o papel da consciência fonológica de alfabetização e
enfatiza que os métodos tradicionais não seriam totalmente eficientes
pois promovem o aprendizado da língua de uma maneira bastante artificial
e muitas vezes, sem nenhum sentido para as crianças. Segundo Arthur,
muitos educadores ainda recorrem aos métodos tradicionais porque tem
dificuldade em transpor os métodos atuais em sala de aula.

Os métodos de alfabetização
Até o final do Império o sistema de alfabetização não era
sistematizado, somente com a proclamação da República o ensino
passou, de fato, a ser institucionalizado. É o que diz (MORTATTI, 2006, p.2):
A leitura e a escrita – que até então eram práticas culturais
cuja aprendizagem se encontrava restrita a poucos e
ocorria por meio de transmissão assistemática de seus
rudimentos no âmbito privado do lar, ou de maneira
menos informal, mas ainda precária, nas poucas ‘escolas’
do Império (‘aulas régias’) – tornaram-se fundamentos da
escola obrigatória, leiga e gratuita e objeto de ensino e
aprendizagem escolarizados.

Através então, de contextos históricos, pode-se notar a grande


mudanças e avanços nos conceitos econômicos, social e cultura da nossa
nação. Ao longo desse tempo, os métodos foram divididos em dois grupos:

1. Método sintético ou método Fonético

2. Método analítico ou método Global

Os métodos sintéticos subdividem em:

a. Método alfabético ou método de soletração

b. Método fônico

c. Método silábico

Os métodos analíticos subdividem em:

a. Método da palavração

b. Método da sentenciação
Alfabetização e Letramento 25

O método Fonético ou método sintético


Esse método foi proposto pelo linguista americano Bloomfielfd, no
qual reforça que a criança é estimulada a repetir os sons que absorve do
seu meio, como se fosse um processo mecânico. Vale dizer que todas as
funções da linguagem são totalmente descartadas nesse método.

Para a linguagem escrita, a criança deve internalizar padrões


regulares de correspondência no que se diz respeito de som e soletração
por meio de leitura das palavras, ou seja, a escrita serviria apenas para
representar em formas de gráficos a fala. Outro fator muito importante
neste método, é a postura do professor, pois nesse caso, eles podem
decidir como e quando as crianças devem aprender através de padrões
regulares (mais fáceis) e padrões irregulares (mais difíceis).

Por essa razão o método fonético é subdividido em três partes:


método alfabético ou de soletração que tem como função principal a
letra; o método fônico, que conduz aos fonemas e o método silábico que
tem como unidade principal as sílabas. Você lembra da Cartilha? Pois é
exatamente isso o que acontece.
Figura 4

Fonte: pinterest.com
26 Alfabetização e Letramento

Que tal nos aprofundar um pouco mais? Faça a leitura de duas


reportagens que separamos para você para que você tenha um pouquinho
mais de compreensão sobre esse método. Um deles, é referente a uma
entrevista com Magda Soares e sua percepção sobre o assunto.

ACESSE:

Para aprofundar os conhecimentos, Clique aqui e aqui.

Método Global ou método analítico


Esse método tem por seu percursor Nicolas Adam no qual incita uma
metáfora sobre a aprendizagem da criança. Ele afirma que o aprendizado
da linguagem escrita é a mesma coisa quando se apresenta um casaco
para a criança, ou seja, o casaco é apresentado como um todo e não
é subdividido em gola, bolsos, botões e etc., assim deve ser a mesma
maneira com o desenvolvimento da aquisição da língua escrita. Segundo
ele, é exatamente isso que se faz com o método sintético, a aprendizagem
é desmembrada. Outro fator bastante importante que Nicolas enfatiza é a
importância da leitura e afirma que quando a criança faz a leitura, muitas
vezes não faz a compreensão exata, pois para que exista essa decifragem,
a criança deve ter contato com o significado afetivo das palavras.

O método Global é composto por:

1. Método de palavração: referente aos estudos das palavras sem


que exista nenhuma decomposição das mesmas, por esse motivo
que é proposto para as crianças pequenos textos para que elas
possam fazer o conhecimento das palavras.

2. Método de Sentenciação: Nesse método a proposta é formar


orações de acordo com os interesses comuns. Depois que essa
oração for exposta, ela será desmembrada em palavras e depois
em silabas. Outra proposta é o conto, pois a ideia é fazer que a
criança que realizando a leitura, ela pode descobrir o que está
escrito.
Alfabetização e Letramento 27

Portanto, para o método global, o educador apresenta a forma


global das palavras e depois fazer a decomposição das palavras e em
seguida as sílabas.

Os métodos e os desafios

REFLITA:

Por quê o uso da Cartilha ainda se faz presente em nossas


escolas, mesmo sabendo que hoje existem outros métodos
muito mais completos e eficazes?

Já vimos que a cartilha ainda é usada por muitos professores e


em muitas instituições. Ainda há uma grande necessidade de fazer uma
autoavaliação sobre os questionamentos das necessidades de nossas
crianças de hoje. Sabemos que não existe nenhum método perfeito,
milagroso e que tenha a sua perfeita função para todas as pessoas, porém
existe sim métodos que propõem um melhor desenvolvimento cognitivo,
sem esquecer que o processo de educação é complexo e demanda
também a necessidade do desenvolvimento por completo, respeitando
sempre o meio em que a criança está inserida.

A principal questão é o descobrimento de novas estratégias e


metodologias do ensino que possa possibilitar um avanço significativo
nas práticas docentes sempre em consideração no conhecimento prévio
do indivíduo.

Apesar da evolução dos métodos e também da descoberta da


Psicogênese da língua escrita de Ferreiro e Teberosky, ainda há uma
grande preocupação porque os professores ainda enfrentam desafios
dentro de sala de aula, sem mencionar que muitos ainda deparam com
dificuldades em alcançar os objetivos na difícil tarefa de ensinar a criança
a ler e escrever.

Para alguns o ponto de partida é compreender que não é somente


ler e escrever, e sim fazer uma leitura do mundo e infelizmente as cartilhas
não proporcionam esse viés, pois limitam o aluno na sua aquisição por um
todo. O que as crianças necessitam na verdade, é que elas possam fazer
28 Alfabetização e Letramento

a interação com textos de seus cotidianos e ser inseridas dentro do seu


ambiente educacional. O ensino não pode ser desmembrado, o professor
deve ter autonomia suficiente na construção das atividades em sala de
aula pois só ele tem o conhecimento das necessidades de seus alunos,
da particularidade de cada um.

É notório que muitos professores têm muita dificuldade em


colocar em pratica a abordagem construtivista por falta de formação e
informação, por esse motivo ainda muitos utilizam os métodos tradicionais
e por consequência o uso da cartilha. Esses métodos, infelizmente não
consideram o processo de aquisição da língua escrita na perspectiva da
criança, pois ela não é o sujeito ativo nesse processo, muito pelo contrário.
Alfabetização e Letramento 29

Estratégias da Leitura- Parte II


OBJETIVO:

No capítulo anterior, estudamos as estratégias que são mais


utilizadas na sala de aula. Neste momento abordaremos
algumas estratégias que você pode utilizar como docente
com seus alunos e até mesmo com você. O habito da
leitura pode se fazer muitas vezes monótono, porém essa
percepção somente desaparece com a prática da leitura
por si só e também da utilização de algumas estratégias
na hora da leitura. Faça uma experimentação consigo
mesma(a)!

Antes da leitura
Figura 5

Fonte: Freepik

Primeiramente deve ser definido um objetivo sobre a leitura para


que possamos antecipar alguns pontos. Faça alguns questionamentos
como:

Por que ler?

O que vai ler?


30 Alfabetização e Letramento

• Pense, discute e compartilhe ideias que estão relacionadas com


o texto que vai ler.

• Faça uma previsão sobre o conteúdo que irá ler baseados em seus
próprios conhecimentos

• Por exemplo: Suponha que seu texto seja sobre “Abordagem


sociointeracionista”. Pergunte para si mesmo: “O que é essa
abordagem?” “Quais suas principais características?”

Durante a leitura
Novamente iniciaremos a sua análise prévia sobre o texto. Visualize
as imagens, fotos, mapas, legendas, ou títulos e procure formar uma ideia
central do tópico e intenção de um texto escrito.

Faça uma leitura do texto rapidamente para que possa captar sua
ideia geral. Uma maneira ótima para se fazer isso, é ler a primeira e a
última frase do parágrafo. Devemos sempre ter em mente:

1. Qual a ideia principal do texto?

2. Após a leitura rápida do artigo, decida qual título se adequa.

Vamos praticar? Faça a leitura rápida do texto abaixo, leia a primeira


e a última frase:
“Shannon Grimm é uma professora de uma escola primária
do Texas, nos Estados Unidos, que adora o seus alunos.
Recentemente, ela até fez uma mudança no visual para
ajudar uma de suas alunas que estava sendo importunada
pelos colegas de classe por causa do cabelo. A boa
ação da professora rendeu até um prêmio da Meador
Elementary School, em Willis, cidade do Texas.

A americana já havia notado que Priscilla Perez, de 5 anos,


estava um pouco mais fechada depois de ter cortado o
cabelo, e depois das férias de dezembro, Shannon fez uma
surpresa a seus alunos: apareceu com um visual igual ao
de Priscilla.

Os alunos ficaram encantados com o cabelo da professora


e ela aproveitou o momento para dar uma lição de vida nas
crianças. “Eu tinha que mostrar que garotos têm cabelo
Alfabetização e Letramento 31

comprido como garotas e garotas têm cabelo curto como


garotos”, comentou Shannon em conversa ao TODAY Style.

Ela ainda revelou que a decisão de cortar o cabelo não foi


fácil, mas que ela viu na ocasião a oportunidade perfeita
para fazer uma afirmação. “Eu sabia em meu coração que
era o que eu tinha que fazer”, contou.”

Fonte: https://bit.ly/3wPbkDn

Responda:

1. Após fazer a leitura rápida do texto, qual a principal ideia do texto


que vem em mente?

2. Depois de fazer a leitura por completo, você acredita que baseado


em seus conhecimentos prévios ajudou na compreensão? Por quê?

Outra estratégia bastante significativa é encontrar palavras, sons e


exemplos, ou seja, tudo que possa ajudar o leitor na compreensão do
texto. Perceba que no texto acima mencionado, não conseguimos ter uma
visão ampla fazendo a leitura da primeira e ultima frase, porém já podemos
deduzir que se trata da história de uma professora que é apaixonada pelo
seu trabalho. Não fizemos a compreensão de todo o texto, mas a pratica
dessa técnica nos ajuda a ter noções sobre o que se trata o texto e se de
fato, queremos prosseguir com a leitura.

Para fazer uma compreensão no que se refere à organização e


coerência do texto, você deve identificar o número de seções ou das
partes do texto e verificar como as ideias se relacionam com a ideia
principal.

Exemplo:

1. Dividir o texto em três partes lógicas

2. Ler alguns excertos e sublinhas

Para a compreensão da coesão do texto, devemos compreender


as relações entre as diferentes partes, através de referência e seus
conectores.

Para que possamos fazer a identificação de palavras chaves ou


pistas contextuais, podemos propor:
32 Alfabetização e Letramento

1. Destaque as palavras chaves desconhecidas para determinar o


significado através de algumas pistas no texto

A leitura das entrelinhas é um fator também muito importante na


leitura de um texto. São palavras que subentendem um outro significado,
ou seja, o significado de palavras que não estão explícitas no texto. Muitas
piadas ou até mesmo fábulas podem conter muito esse tipo de recurso
textual. Veja alguns exemplos de entrelinhas:

Exemplo 1:
[...] Frequentemente surgiam brigas, e seus
estremecimentos repercutiam longe, derrubavam paredes
distantes e causavam novas brigas, até que os empurrões,
chifradas, ancadas forçassem uma arrumação temporária.
O boi que perdesse o equilíbrio e ajoelhasse nesses
embates não conseguia mais se levantar, os outros o
pisavam até matar, um de menos que fosse já folgava um
pouco o aperto – mas só enquanto os empurrões vindos
de longe não restabelecessem a angústia. [...]

(Trecho extraído do livro “A hora dos ruminantes”, de José


J. Veiga)

A obra de de J.J.Veiga é um marco em nossa literatura, pois nesse


livro ele implica que os animais são os seres humanos, época em que
as pessoas sofriam de uma pressão da ditadura. Perceba que ele não se
refere aos animais e sim, às pessoas. A censura punia todas as pessoas
que fossem contra a toda a ideologia política daquela época e alguns
foram exiladosa, punidos e até mesmo mortos por conta disso.

Exemplo 2:
O bicho

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Alfabetização e Letramento 33

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

( MANUEL BANDEIRA)

Mais uma vez uma oposição à politica vigente em que


o poeta fez a seu desabafo. Somente no final do texto é
que percebemos que se trata da raça humana e não de
animais.

Depois da Leitura
A primeira etapa é fazer uma avaliação geral do texto. Podemos:

1. Fazer juízos após a leitura e avaliar de forma crítica ou imparcial.

2. Procurar distinguir se existe compatibilidade entre as suas ideias e


a do autor do texto. Por exemplo:
“As pessoas que possuem mais de uma língua não estão
somente aptas à uma nova demanda de profissões no
mercado como também estão preparadas para novas
conquistas. Pessoas bilingues ganham mais de 50%
comparado as que possuem somente uma língua”

Você concorda com esse texto?

Um outro exemplo é o uso do resumo. por meio dele, você pode


organizar as ideais principais e ignorar as partes que não requerem tanta
atenção assim. Por exemplo:

Leia o texto e faça um resumo de exatamente 50 palavras.

Considerações finais
Entendemos que a aquisição da língua envolve uma gama de
possibilidades, questionamentos e também habilidades tanto do corpo
docente como do discente. A língua é por si só um emaranhado de
saberes dentro de uma determinada cultura e desmembrar todo um
conteúdo demanda muito esforço e tempo.
34 Alfabetização e Letramento

Dá-se então, a importância entre a distinção entre língua oral e língua


escrita. Enquanto que a língua falada é dinâmica e vive em constante
modificações, a língua escrita é mais regrada, porém ela tem sim influencias
da língua oral. Somos o que falamos, com quem nos relacionamos e
somente conseguimos fazer um registro da nossa identidade quando
nossa sociedade compreender que ambas são completamente diferentes
uma da outra, mas que se “comunicam” entre si.

Nesse pressuposto, quando falamos na aquisição da língua escrita,


temos que nos ater a muitos fatores internos e externos. Nunca se esqueça
que o seu aluno é um ser em formação, porém ele já vem com a sua
própria bagagem cultural. Não estamos mencionando aqui que devemos
incentivar alguns problemas relacionados entre língua oral e escrita,
como por exemplo: vícios de linguagem, uso do pleonasmo etc. Nosso
intuito é que você, futuro professor, possa compreender a dimensão
desse processo e também o seu aluno, pois ele é um ser único e cada
um aprende da sua forma, de acordo com as experiencias que possuem.

Como anteriormente vimos, uma criança que vive em um ambiente


menos favorecido não conseguirá ter a mesma aquisição da língua
escrita do que àquela que se encontra em um lar mais favorecido. Não
estamos citando apenas a condição financeira da criança, mas também
a sua experiência cultural. Muitas vezes, uma criança da periferia fala de
modo diferente do que uma criança de uma área não periférica . Ambas
possuem expressões distintas uma das outras e isso interfere no processo
de desenvolvimento da aquisição da língua escrita.

Cabe então, o professor conhecer seus alunos, para que baseado


em suas experiências culturais, possa encontrar alguns caminhos
alternativos para alfabetizar essas crianças.

Muitos pesquisadores verificaram que a aquisição da língua escrita


se dá por um processo tão natural quanto ao ato de falar, por exemplo. O
professor, deve estimular esse conhecimento e proporcionar um ambiente
educacional motivador.
Alfabetização e Letramento 35

O tradicional X O construtivista
Você já deve ter percebido que muitos falamos sobre essas
abordagens e que na visão de alguns estão em conflito. Depois da
Psicogênese da língua escrita de Ferreiro e Teberosky, o país praticamente
se dividiu. Enquanto uns ainda continuam nos métodos tradicionais, outros
são categóricos em dizer que o método construtivista é o mais adequado
para nossas crianças.

E você? O que pensa sobre isso?

Há muito para se discutir e ser planejado, porém não podemos


ignorar alguns fatos que acontecem em nossas escolas. Apesar de muitas
crianças serem alfabetizadas pela cartilha (talvez eu e você), ainda sim é
um método muito aquém para o desenvolvimento cognitivo da criança.

A Cartilha possui, é claro, de algumas características interessantes,


mas infelizmente não permite que a criança seja o sujeito ativo no
processo do seu conhecimento. Já a abordagem construtivista, apenas
de ser bastante utilizada em muitas instituições, ainda é o “bicho papão”
de muitos professores, coordenadores e escola. Existe uma grande
necessidade de formação para os docentes sobre esse assunto, pois
muitos profissionais não tendo o domínio total da abordagem, acabam por
optando a utilizar os métodos tradicionais por acreditarem ser mais fáceis.

E nessa reconstrução de valores, nossas crianças ainda sofrem as


consequências. O fracasso da alfabetização no Brasil aumenta a cada
ano, para que vocês tenham uma ideia, há mais de um século o país
vem sofrendo com a persistência em evitar a diminuição de crianças não
alfabetizadas. Perceba que não estamos falando de crianças letradas, e
sim alfabetizadas. Até os anos 1980 a 1ª serie do ensino fundamental I
era utilizada para o processo de alfabetização e somente conquistaria
a 2ª serie se fosse aprovada. Hoje em dia com a formação continuada,
não existe a obrigatoriedade de reprovação e por isso, muitas crianças
seguem para o 2º ano sem saber ler e escrever. Magda Soares afirma que
nós somos um país que reincide no fracasso de alfabetização.
36 Alfabetização e Letramento

REFLITA:

Você acredita que exista um método revolucionário, capaz


de ser assertivo com todas as crianças, sejam elas da
mesma classe social ou diferente? Qual o melhor método
para você?

RESUMINDO:

Vimos, que não existem métodos perfeitos e que possam


ter o pleno funcionamento com todas as pessoas. Cada
método de alfabetização tem a sua particularidade.
Embora as técnicas sejam muito importantes, não
podemos deixar de levar em conta outros fatores
que também fazem parte integrante no processo de
alfabetização. Podemos sim, trabalhar com um método
especifico, mas fazer pequenas adequações quando se
achar necessário, pois no processo de alfabetização, nada
é estático. Esperamos que você tenha usufruído desse
material e que ele te sirva para que novos horizontes de
conhecimentos possam expandir. Como você pode notar,
o caminho a percorrer é longo, mas muito prazeroso.
Como educador, fique atento em seus alunos, faça parte
do mundo deles. Eles te darão muitas vezes, a resposta
como lidar com eles. Olhe nos olhos, saiba o nome de
cada aluno seu, perceba quando ele está bem ou não está.
Tenha a percepção de encarar seus alunos como pessoas
como você e que são diferentes. Estude! Faça reciclagem
dos seus conhecimentos! O mundo da leitura pode ser tão
importante na vida de uma criança quanto na sua! Viva a
sua profissão e procure entender que você é essencial em
todo esse processo! E que a jornada continue!
Alfabetização e Letramento 37

REFERENCIAS
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione,
1994om.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/1004

COMENIUS, J. A. Didática Magna: tratado da arte universal de


ensinar tudo a todos. 3.ed. Lisboa:Fundação Calouste Gulbekian, 1985

FERREIRO, E. Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez,


1984.

SOARES, M. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto,2003

VIGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes,


2001.

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