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UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ

CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM

ROMÁRIO PEREIRA LIMA

CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO MANEJO DA VIOLÊNCIA


OBSTÉTRICA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Marabá - PA
2022
UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ
CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM

ROMÁRIO PEREIRA LIMA

CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO MANEJO DA VIOLÊNCIA


OBSTÉTRICA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À
SAÚDE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Pesquisa referente ao Trabalho de Conclusão de


Curso (TCC) apresentado ao curso de
enfermagem UNOPAR, sob orientação da Profa.
Msc. Danieli Juliani Garbuio Tomedi.

Marabá - PA
2022
SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................... 4
ABSTRACT ................................................................................................................. 4
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5
4 OBJETIVOS ............................................................................................................. 7
4.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 7
4.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 7
5 METODOLOGIA....................................................................................................... 8
6 RESULTADOS ....................................................................................................... 11
6.1 Seleção dos estudos ........................................................................................... 11
6.2 caracterização dos estudos incluídos .................................................................. 12
7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 15
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 20
9 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 21
4

RESUMO
Introdução: A violência obstétrica é um conceito novo que se apresenta como um grave
problema de saúde pública, afetando as mulheres ao longo de todo processo de gestação.
Objetivo: Buscar nas principais bases de dados sobre o papel do enfermeiro no manejo de
violência obstétrica no âmbito da Atenção Básica. Metodologia: Trata-se de uma Revisão
Integrativa de Literatura, no qual foi utilizado os descritores e seus correlatos: “Cuidados de
Enfermagem”, “Violência Obstétrica” e “Atenção Primária à Saúde”, na Biblioteca Virtual em
Saúde e no PUBMED. Resultados: Foram identificados 167 artigos, no qual sete foram
elegíveis para a RIL. Discussão: o enfermeiro deve atuar na atenção primária garantindo o
direito das pacientes e promovendo educação em saúde. Conclusão: é um tema complexo de
grande relevância, assim como o papel do enfermeiro em seu manejo.

Palavras-Chave: Cuidados de Enfermagem; Violência Obstétrica; Atenção Primária à Saúde.

ABSTRACT
Introduction: Obstetric violence is a new concept that presents itself as a serious public health
problem, affecting women throughout the entire pregnancy process. Objective: Search the
main databases on the role of nurses in the management of obstetric violence in the scope of
Primary Care. Methodology: This is an Integrative Literature Review, in which the descriptors
and their correlates were used: “Nursing Care”, “Obstetric Violence” and “Primary Health
Care”, in the Virtual Health Library and PUBMED. Results: Identified articles were identified,
in which seven16 were selected for the RIL. Discussion: nurses will work to promote the health
of patients and patients. Conclusion: it is a complex issue of great importance in its
management, as well as the nurse's role.

Keywords: Nursing Care; Obstetric Violence; Primary Health Care.


5

1 INTRODUÇÃO

O termo Violência Obstétrica ainda não é bem definido, o conceito disrespect


and abuse during childbirth tem sido internacionalmente utilizado para designá-la. No
Brasil, pode-se chamar também violência no parto ou violência institucional na
atenção ao parto. Nesse sentido, essa terminologia refere-se a qualquer ato de
violência direcionado à mulher grávida, parturiente ou puérpera ou ao seu bebê,
praticada durante assistência à saúde (LANSKY et al., 2019).

Para Lansky et al. (2019) é considerado violência obstétrica desde demora na


assistência, seja no pré-natal ou no serviço da maternidade, como recusa de
assistência de qualquer natureza, bem como maus tratos físicos, verbais,
psicológicos, negligência à liberdade, autonomia e privacidade, entre diversos outros.
Não sendo apenas violência física na assistência ao parto.

Esse problema é considerado como violência de gênero, por se dirigir


especificamente para as mulheres. E reconhecer a existência desse problema grave
é o primeiro passo para buscar estratégias de enfrentamento.

Nesse contexto, os profissionais de saúde devem promover um atendimento


digno, com qualidade e respeitando os direitos conquistados pelas mulheres no
campo obstétricos. Inclusive o enfermeiro que tem atuação direta na assistência ao
pré-natal na Atenção Primária à Saúde. Pois, a atenção básica se mostra como porta
de entrada, visto que será o nível de atenção que terá o primeiro contato com as
gestantes, seja pelo planejamento familiar ou pelo pré-natal (CARVALHO; BRITO,
2017).

Nesse sentido, para Gomes, Oliveira e Lucena (2020) o enfermeiro possui


papel importante nesse processo, por apresentar entre outras competências, o papel
de resguardar e garantir que as boas práticas sejam usadas, além de orientar a
gestante em todo o processo, garantindo autonomia e privacidade para tal.

O processo de humanização do parto e acolhida na atenção básica, possibilita


a inserção do enfermeiro a fim de promover um ambiente mais acolhedor, garantindo
o empoderamento da gestante em todas as etapas, a fim de contribuir para uma
6

melhor assistência ao trinômio mãe-bebê-família (GOMES; OLIVEIRA; LUCENA,


2020).

Essa pesquisa buscou entender como os serviços da enfermagem na atenção


básica podem minimizar as consequências da violência obstétrica. Nesse sentido, é
imprescindível conhecer os tipos de violência que ocorrem e o papel do enfermeiro
diante desse impasse.

Diante do exposto, o problema de pesquisa é: Como os cuidados de


enfermagem na Atenção Primária à Saúde podem contribuir na abordagem da
violência obstétrica no Brasil e no Mundo?

A Violência Obstétrica é um assunto que tem se tornado importante nos últimos


anos, sendo um novo conceito em que as discussões aumentaram significativamente.
Além disso, houve um crescimento exponencial desse tipo de violência, de acordo
com o portal de noticias Globo Radio o número de denuncias de violência Obstétrica
em 2019 aumentou dez vez comparado com o ano anterior (CERDEIRA, 2019).

Soma-se esse fator com o interesse do pesquisado sobre a temática, uma vez
que as experiências vivenciadas ao longo da formação despertaram o interesse de
aprofundar o conhecimento e de alguma forma poder contribuir e consolidar o
conhecimento dessa nova temática.

Além disso, essa consolidação de conhecimento pode ser extremamente


importante para a Atenção Primária à Saúde, uma vez que o dialogo e pesquisa sobre
essa temática é fundamental para que sejam descobertos ou construídos formas e
condutas cada vez mais eficazes para prevenir esse problema.

Por fim, a pesquisa é fundamental, através dela o conhecimento é construído e


difundido pela sociedade. Desse modo, a pesquisa sobre essa temática se faz
necessário, visto que é um conceito novo que precisa ser de fato consolidado, e o
desenvolvimento de pesquisas sobre ela pode trazer diversos benefícios para o meio
acadêmico e científico, assim como para a sociedade como um todo.
7

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Buscar nas principais bases de dados sobre o papel do enfermeiro no manejo


de violência obstétrica no âmbito da Atenção Básica.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Descrever as principais condutas em enfermagem nos casos de violência


obstétrica;

 Identificar as principais formas de violência obstétrica;

 Analisar a importância do enfermeiro da atenção básica na identificação,


orientação e manejo de pacientes vítimas de violência obstétricas;
8

5 METODOLOGIA

Foi realizada uma Revisão Integrativa de Literatura (RIL), que proporcionará a


síntese de conhecimento através de estudos significativos. Desse modo, seguindo as
fases no estudo de Souza, Silva & Carvalho (2010), sendo realizado o seguinte
percurso metodológico: elaboração da pesquisa norteadora, busca ou amostragem na
literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos
resultados e, por fim, apresentação da revisão integrativa.

5.1 Elaboração da pergunta norteadora

Para determinar os objetivos desse estudo foi considerada a seguinte pergunta


norteadora: “Quais as principais condutas dos pacientes com Depressão Maior
atendidas na Atenção Primária à Saúde?”. Dessa forma, será possível descrever qual
o papel do enfermeiro na abordagem da violência obstétrica no contexto da Atenção
Primária à Saúde.

5.2 Busca ou Amostragem na Literatura

Foi realizada uma busca sensível e específica de acordo com o Descritores em


Ciências da Saúde (DeCS) na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo usado os
termos e seus correlatos. Assim como também na PubMed com os termos e os
correlatos baseados no Medical Subject Headings (MeSH), sendo utilizado os termos
“Cuidados de Enfermagem”, “Violência Obstétrica” e “Atenção Primária à Saúde”.

5.2.1 Estratégia de busca BVS

((Cuidados de Enfermagem) OR (Assistência de Enfermagem) OR


(Atendimento de Enfermagem) OR (Cuidado de Enfermagem) OR (Gestão da
Assistência de Enfermagem) OR (Sistematização da Assistência de Enfermagem))
AND (Violência Obstétrica) AND ((Atenção Primária à Saúde) OR (Atendimento
Básico) OR (Atendimento Primário) OR (Atendimento Primário de Saúde) OR
(Atenção Básica) OR (Atenção Básica à Saúde) OR (Atenção Básica de Saúde) OR
(Atenção Primária) OR (Atenção Primária de Saúde) OR (Atenção Primária em Saúde)
OR (Cuidado de Saúde Primário) OR (Cuidado Primário de Saúde) OR (Cuidados de
Saúde Primários) OR (Cuidados Primários) OR (Cuidados Primários à Saúde) OR
9

Cuidados Primários de Saúde) OR (Primeiro Nível de Assistência) OR (Primeiro Nível


de Atendimento) OR (Primeiro Nível de Atenção) OR (Primeiro Nível de Atenção à
Saúde) OR (Primeiro Nível de Cuidado) OR (Primeiro Nível de Cuidados))

5.2.2 Estratégia de Busca PubMed e Cochrane Library

((Nursing Care) OR (Care, Nursing) OR (Management, Nursing Care) OR


(Nursing Care Management)) AND (Obstetric Violence) AND ((Primary Health Care)
OR (Care, Primary Health) OR (Health Care, Primary) OR (Primary Healthcare) OR
(Healthcare, Primary) OR (Primary Care) OR (Care, Primary))

5.3 Coleta dos Dados

Após essa busca, todos os artigos foram adicionados no software Rayyan QCRI
(http://rayyan.qcri.org), onde será realizada a detecção das duplicatas e a seleção da
triagem de títulos e resumos. Esse software é bastante utilizado em revisões de
literatura, pois agiliza a triagem de resumos e títulos por meio de um processo de semi
automação de maneira eficiente (OUZZANI et al., 2016).

Após essa triagem inicial, os estudos com potenciais para RIL foram analisados
na íntegra e tiveram os dados adicionados em uma planilha do software Microsoft
Excel, incluindo informações sobre os estudos (título, nome do periódico, nome dos
autores, ano de publicação, país de publicação, principais resultados e desfechos) e
sobre a população (número, sexo e idade).

5.4 Análise Crítica dos Estudos Incluídos

Esses estudos foram analisados na íntegra de forma rigorosa, respeitando os


seguintes critérios de inclusão e exclusão: serão incluídos os estudos completos na
íntegra publicados em periódicos, sendo excluídos todos os artigos que não se
adequem aos objetivos, pesquisas de natureza não humana e artigos duplicados.

5.5 Discussão dos Resultados

Após a leitura integral foi realizado um resumo na planilha com os principais


dados evidenciados dos estudos incluídos, dessa forma foi possível identificar
10

possíveis lacunas do conhecimento, além de facilitar a discussão dos resultados de


estudos que abordem a mesma temática.

5.6 Apresentação da Revisão Integrativa

Por fim, após finalização dessa pesquisa, o trabalho será submetido para
avaliação em revista cientifica, de modo a garantir que os resultados desses estudos
sejam disponíveis para a comunidade científica e possa contribuir com pesquisas
futuras.
11

6 RESULTADOS

6.1 SELEÇÃO DOS ESTUDOS


Após a busca nas bases de dados foram identificados 167 artigos, sendo 25 da
Pubmed, 102 da Biblioteca Virtual em saúde e 40 da Cochrane Library. Desses, 167
foram excluídos pelos filtros. No qual 31 foram analisados títulos e resumos, sendo
selecionado 16 para leitura integral, restando sete artigos elegíveis para a revisão.
Figura 01: Fluxograma de seleção

Fonte: Autor.
12

6.2 CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS INCLUÍDOS

Os estudos incluídos foram publicados entre 1998 e 2021, sendo cinco nos
últimos quatro anos, sendo publicados na Espanha, Austrália, Estados Unidos,
Noruega e Brasil. As características desses estudos podem ser vistas na tabela 1.

Tabela 1: características dos estudos

Titulo Autor/ano País Desfecho

Conhecimento de SILVA, 2020 Brasil Torna-se necessário incorporar


enfermeiros da o tema no curso de graduação
atenção primária em enfermagem, ademais de
acerca da violência uma maior capacitação de
obstétrica profissionais para um enfoque
satisfatório do tema no contexto
da atenção primária de saúde

Obstetric Violence MENA- Espanha Identificados os profissionais,


in Spain (Part III): TUDELA, 2021 tempos e áreas de maior
Healthcare violência obstétrica na Espanha,
Professionals, parece necessário refletir não
Times, and Areas apenas sobre a estrutura e
gestão do Sistema Nacional de
Saúde espanhol, mas também
sobre a formação dos
profissionais de saúde.

The magnitude of GALIANO, Austrália Duas em cada três mulheres


the problem of 2021 percebem ter sofrido violência
obstetric violence obstétrica durante o parto.
13

and its associated Práticas como o contato pele a


factors: A cross- pele e o uso de planos de parto
sectional study respeitados foram fatores de
proteção contra a violência
obstétrica.

Prevalence and RISHAL, 2018 Noruega Uma proporção substancial de


associated factors mulheres relatou ter sofrido
of domestic violência doméstica na
violence among gestação. As vítimas raramente
pregnant women revelaram aos profissionais de
attending routine saúde
antenatal care in
Nepal

Interpersonal ROBRECHT, EUA As intervenções são


violence and the 1998 direcionadas aos esforços para
pregnant homeless preservar a autonomia e a
woman confidencialidade da mulher,
reduzir as áreas de conflito
cliente-provedor e, geralmente,
melhorar os encontros entre o
cliente e o sistema de saúde

Screening for CALVENTE, Espanha De acordo com o padrão de


intimate partner 2022 referência, 9,5% e 19,4%
violence during mulheres sofreram violência por
pregnancy: a test parceiro intimo durante e antes
accuracy study da gravidez, respectivamente.
14

Seizing the 9- HERZIG, 2006 EUA Os provedores geralmente


month moment: concordam que abordar os
addressing riscos comportamentais em
behavioral risks in pacientes grávidas é um desafio.
prenatal patients

Fonte: Autor
15

7 DISCUSSÃO

O profissional de enfermagem tem extrema importância no manejo e prevenção


da violência obstétrica, visto que sua atuação ocorre através do vínculo com a
gestante para proporcionar um parto saudável. Dessa forma, os sete estudos dessa
revisão abordarem sobre a temática.

Desse modo, é de extrema importância que o enfermeiro conheça a temática


para que possa manejar, identificar e prevenir a violência obstétrica. O estudo de Silva
et al. (2020) avaliou essa questão:

A qualificação dos profissionais responsáveis pelo atendimento às gestantes


e as ações desenvolvidas por eles no pré-natal é uma forma de compreender
a prática institucional, bem como de evidenciar a necessidade de estratégias
que favoreçam a participação efetiva do profissional enfermeiro na assistência
obstétrica. Com isso, tendo em mente que a abordagem a gestante ofertada
na atenção primária à saúde é capaz de oferecer um maior contato profissional,
o início de uma nova fase de aprendizados e a formação do vínculo, é
imprescindível que o enfermeiro recepcione essa paciente da melhor forma
e tranquilize-a, sanando suas dúvidas, apresentando seus direitos como
mulher e gestante com o objetivo de fazer dessas consultas de pré-natal um
ambiente acolhedor e agradável para a paciente (SILVA, 2020).

Dessa maneira, é notório compreensão dos enfermeiros da atenção primária à


saúde sobre a violência obstétrica é inconsistente, falta um maior preparo dos
profissionais sobre o assunto para que haja uma boa fonte de informações para as
gestantes durante o acompanhamento pré-natal.

No estudo de Galiano (2021), duas em cada três mulheres percebem ter sofrido
violência obstétrica durante o parto. Práticas como o contato pele a pele e o uso de
planos de parto respeitados foram fatores de proteção contra a violência obstétrica.

Dessa forma, é importante que o enfermeiro da atenção primária conheça a


temática e saiba manejar e informar a paciente durante o pré-natal, para que assim a
gestante consiga compreender e identificar seus direitos, consequentemente
diminuindo os casos desse tipo de violência (GALIANO, 2021).
16

Outro ponto importante, foi abordado no estudo de Mena-Tudela (2021) foi o


machismo, sendo um fator determinante no desenvolvimento desse tipo de violência,
conforme afirma que “dar à luz em um contexto patriarcal significa que as mulheres
são mais frequentemente constrangidas”, portanto, questões sociais também estão
envolvidas nesse processo.

E o enfermeiro da atenção básica, pode abordar a temática com o companheiro


e a equipe multiprofissional, orientando e prevenindo a violência obstétrica (MENDA-
TUDELA, 2021).

Dessa forma é evidente que o trabalho de parto e a experiência de parir são


complexos, pois inclui processos psicológicos e fisiológicos subjetivos. Esses
processos estão inter-relacionados e podem, por sua vez, ser influenciados por
contextos sociais, ambientais, organizacionais e políticos (RISHAL, 2018).

Portanto, a pouca compreensão sobre parir pode desencadear diversos tipos


de violência obstétrica, conforme destaca o estudo de Rishal (2018) mostrando que
esses fatores relacionados ao parto, podem também relacionarem-se à violência
obstétrica, principalmente as questões socioeconômicas da parturiente:

Vinte e um por cento das mulheres experimentaram a violência; 12,5%


experimentaram apenas medo, 3,6% apenas violência e 4,9% experimentaram
tanto violência quanto medo. Menos de 2% por cento relataram violência física
durante a gravidez. Este estudo constatou que apenas 17,7% já haviam sido
questionadas por profissionais de saúde e, das mulheres que relataram
violência, apenas 9,5% relataram sua experiência aos profissionais de
saúde. Mulheres jovens e de baixo nível socioeconômico eram mais propensas
a sofrer. As mulheres que relataram ter renda própria e autonomia para usá-la
apresentaram risco significativamente menor risco em relação às mulheres
sem renda (RISHAL, 2021).

O estudo de Robrecht (1998) já destacava essas questões socioeconômicas,


ao abordar a questão da violência obstétrica em pacientes em situação de rua. Pois
mostram que as “mulheres grávidas sem-teto estão expostas a mais violência
cumulativa do que as mulheres de baixa renda comparáveis”.
17

Sendo necessário estratégias de intervenção que podem melhorar os cuidados


de saúde prestados às mulheres grávidas em situação de rua, com objetivo de
preservar a autonomia e a confidencialidade da mulher, reduzir as áreas de conflito
cliente-provedor e, geralmente, melhorar o acesso dessas pacientes aos serviços de
pré-natal na atenção primária (ROBRECHT, 1998).

O profissional de enfermagem precisa trabalhar a ambiência proporcionando


um ambiente limpo e alegre que traga conforto tanto para os profissionais quanto para
os pacientes (ROBRECHET, 1998).

Outras formas de violência, também consideradas obstétricas é a violência


doméstica, que pode interferir no processo natural de parir. Pois a violência por
parceiro íntimo (VPI) contra a mulher é um grave problema de saúde que afeta a
gravidez com mais frequência do que outras complicações obstétricas geralmente
avaliadas nas consultas pré-natais.

O estudo de Calvente (2022) avaliou dois instrumentos para detecção de


violência domestica durante a gravidez e mostrou que há uma necessidade urgente
de detectar e prevenir a VPI durante as consultas de pré-natal. Até recentemente, não
havia consenso sobre o rastreamento rotineiro da VPI em todas as gestantes, mas
essa tendência está mudando conforme a literatura atual recomenda. Portanto,
existem ferramentas que o enfermeiro pode aplicar nas consultas para identificar esse
tipo de violência.

Em relação aos fatores de risco para a ocorrência da violência obstétrica, é de


valia que o enfermeiro saiba conhecer e detectar mulheres que possam estar mais
vulneráveis a sofrer violência obstétrica. Assim, o enfermeiro como profissional
atuante na atenção primária à saúde e pré-natal, deve também estar atento na
investigação sistemática da violência doméstica (CALVENTE, 2022).

Pois o enfermeiro pode orientar, identificar e aplicar medidas preventivas para


a violência física, psicológica e social não apenas de gestantes, como de todas as
mulheres. Sendo fundamental a compreensão e detecção desses tipos de violências
e o seu manejo adequado.
18

Sendo isso um dos principais fatores que contribuem para essa violência, como
a falta de informação e comunicação, evidenciada por meio da negligência de
informações; realização de procedimentos sem consentimento e não informados
anteriormente; e ausência de informação sobre o processo de trabalho de parto e
parto.

Por sua vez, o estudo de Herzig (2006) avaliou todos os fatores de riscos
associados à gestação, dentre elas a violência obstétrica, apesar do termo não ser
consolidado na época, com o viés do tempo é possível perceber que a falta de
atendimento médico adequado, a recusa no atendimento, a demora no acesso aos
serviços obstétricos fora bem delimitada. Sendo fatores de risco importantes, que
podem interferir na saúde física e mental da gestante.

Nesse sentido, o enfermeiro pode ter papel importante, podendo agir como
agente educador que para empoderar precisa conhecer a sua população e contexto.
Assim, identificar essas características da assistência ao parto e ao nascimento nas
parturientes.

Sendo isso uma forma de indicar ações necessárias para que o parto e o
nascimento sejam ancorados nos direitos humanos das mulheres que são atendidas
no sistema público de saúde. Além disso, a equipe de enfermagem deve questionar
se a parturiente tem alguma dúvida ou preocupações/medo sobre o trabalho de parto
(SILVA, 2020).

Então, embora a temática seja pouco abordada, a violência obstétrica vem se


destacando no Brasil e no mundo, pela necessidade de modifica-la, conforme explica
Silva (2020):

Dessa forma, a utilização de evidências científicas, na área obstétrica e perinatal


(...) pela necessidade de modificar o paradigma da assistência ao parto, o qual
ainda se utiliza principalmente da experiência prévia dos profissionais e de livros
não atualizados (SILVA, 2020).

Portanto, o enfermeiro deve sempre buscar atualizações e capacitar-se para o


mercado de trabalho, e que possa entender que a violência contra os corpos
femininos fere os Direitos Humanos, “infringindo uma série de prerrogativas
19

asseguradas pelo Estado brasileiro, tais como: a dignidade da pessoa humana, a


igualdade, a saúde, o princípio da legalidade e ainda a proteção à maternidade e à
infância” (SILVA, 2021).

Para Silva (2021) a educação em saúde se torna instrumento que permite às


gestantes exposição das suas dúvidas, visando a diminuição dessas incertezas por
meio das orientações em saúde, possibilitando ainda a melhora da autonomia na
gravidez e contribuindo para a promoção do seu autoconhecimento.

O fato de a violência obstétrica estar enraizada na saúde sexual e reprodutiva


das mulheres parece derivar do modo como as mulheres de qualquer cultura e
sociedade mundial têm sido tradicionalmente tratadas, o que é especialmente
verdadeiro, portanto, é necessário que as mulheres tenham esse autoconhecimento.
20

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse contexto, é evidente que a violência obstétrica é um problema no Brasil,


e para preveni-la é necessária uma assistência de enfermagem e um ambiente que
proporcionem a autonomia da mulher gestante.

O enfermeiro tem papel fundamental nesse processo. Assim, o enfermeiro


trabalha valorizando a essência humana e respeitando as emoções da parturiente de
forma a não a desvalorizar durante o parto. Além de tudo isso o enfermeiro deve
assegurar o acesso ao atendimento digno, o acesso para a gestante conhecer a
unidade em que terá seu parto realizado e a garantia de um atendimento humanizado
em todos os estágios da gravidez.

Por fim, os objetivos desse estudo foram contemplados, sendo importante que
estudos futuros possam aprofundar e atualizar os temas aqui abordados.
21

9 REFERÊNCIAS

CARVALHO, Isaiane da Silva; BRITO, Rosineide Santana. Formas de violência


obstétrica vivenciadas por puérperas que tiveram parto normal. Enferm. glob.,
Murcia , v. 16, n. 47, p. 71-97, 2017 . Disponível em
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maior esse ano. CBN - Globo Rádio, 2019. Disponível em
<https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/260878/numero-de-denuncias-de-
violencia-obstetrica-ja-e-d.htm> Acesso em outubro de 2021.

GOMES C; M; OLIVEIRA M. P. S; LUCENA G. P. O papel do enfermeiro na


promoção do parto humanizado. São Paulo: Revista Cientifica de Enfermagem.
2020; 10(29):180-188. Disponível em <
https://www.recien.com.br/index.php/Recien/article/view/352/pdf_1> Acesso em
outubro de 2021.

LANSKY, Sônia et al. Violência obstétrica: influência da Exposição Sentidos do


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n. 8, pp. 2811-2824. Epub 05 Ago 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-
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Integrative review: what is it? How to do it?. Einstein (São Paulo) [online]. 2010, v.
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2020.

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