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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURICIO DE NASSAU

CURSO DE ENFERMAGEM
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

OS IMPACTOS DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E A ATUAÇÃO DO


ENFERMEIRO NA PREVENÇÃO*

THAILA CRISTINE SOUZA DO PRADO**


ALBERT RAMON OLIVEIRA SANTOS***

RESUMO

INTRODUÇÃO: a violência obstétrica (VO) é um problema global que afeta a dignidade,


autonomia e saúde das mulheres durante o parto e o pós-parto. Ela se manifesta de várias
formas, desde a falta de informação e consentimento até abusos físicos e emocionais. O
enfermeiro desempenha um papel fundamental na prevenção e combate a essa violência, pois
está em contato direto com as gestantes e parturientes. Este resumo explora a importância da
atuação do enfermeiro na prevenção da violência obstétrica. OBJETIVO: o objetivo deste
estudo é analisar o papel do enfermeiro na prevenção da violência obstétrica.
METODOLOGIA: para atingir o objetivo proposto, foi realizada uma revisão bibliográfica
abrangente com as bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS,
IBECS e BDENF que incluiu artigos científicos, e livros relacionados à violência obstétrica e
ao papel do enfermeiro na prevenção, listados e publicados no período de 2017 a 2022. A
análise dos dados incluiu a identificação de estratégias e melhores práticas recomendadas na
literatura. RESULTADOS E DISCUSSÕES: os resultados desta revisão indicam que o
enfermeiro desempenha um papel fundamental na prevenção da violência obstétrica, com
algumas estratégias para identificar e combater a violência obstétrica. CONSIDERAÇÕES
FINAIS: este estudo relata a importância e relevância da atuação do enfermeiro na prevenção
e intervenção de situações de violência obstétrica.

DESCRITORES: Violência Obstétrica; Saúde da Mulher; Enfermagem.

*Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção de grau
do curso de Enfermagem do Centro Universitário MaurIcio de Nassau em 13 de Dezembro de
2023.
**Graduanda do Curso de Enfermagem do Centro Universitário MaurIcio de Nassau.
E-mail:thai_cristine@hotmail.com
***Professor. Dr. Albert Oliveira, Orientador no Centro Universitário Maurício de Nassau.
E-mail: prof.albertoliveira@gmail.com
ABSTRACT

INTRODUCTION: obstetric violence (OV) is a global problem that affects the dignity,
autonomy and health of women during childbirth and the postpartum period. It manifests
itself in many ways, from lack of information and consent to physical and emotional abuse.
Nurses play a fundamental role in preventing and combating this violence, as they are in
direct contact with pregnant women and women in labor. This summary explores the
importance of nurses' actions in preventing obstetric violence. OBJECTIVE: the objective of
this study is to analyze the role of nurses in preventing obstetric violence.
METHODOLOGY: to achieve the proposed objective, a comprehensive bibliographic
review was carried out using the SciELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS,
IBECS and BDENF databases, which included scientific articles and books related to
obstetric violence and the role of nurses in prevention, listed and published in the period from
2017 to 2022. Data analysis included the identification of strategies and best practices
recommended in the literature. RESULTS AND DISCUSSIONS: the results of this review
indicate that nurses play a fundamental role in preventing obstetric violence, with some
strategies to identify and combat obstetric violence. FINAL CONSIDERATIONS: this
study reports the importance and relevance of nurses' actions in preventing and intervening in
situations of obstetric violence.

DESCRIPTORS: Obstetric Violence; Women's Health; Nurse.


INTRODUÇÃO

A violência obstétrica é caracterizada como um conjunto de práticas que causam


danos à saúde da mulher em qualquer fase do seu ciclo gravídico, abrangendo desde o
pré-natal até o período pós-parto (Brito et al., 2020). Essas práticas resultam das ações
realizadas por profissionais da saúde, quer estejam em instituições públicas ou privadas
(Brasil, 2019). Essa forma de violência engloba qualquer tipo de negligência no atendimento,
discriminação social, violência verbal (comportamento rude, ameaças, repreensões, gritos,
humilhação intencional), violência física, psicológica, sexual, e o uso não justificado de
tecnologias, intervenções e procedimentos que vão contra as evidências científicas, quando
aplicados a gestantes, parturientes e puérperas durante o acompanhamento obstétrico (Paiva
A de MG et al., 2022).
Tal violência resulta em danos psicossociais significativos, decorrentes de ações
consideravelmente desumanas. Além de desqualificar o processo fisiológico da gestação, ela
relega a mulher a uma posição secundária, privando de autonomia para exercer livremente
seus direitos sobre o próprio corpo e sexualidade. Isso compromete o direito constitucional às
práticas humanizadas e tem um impacto negativo na qualidade de vida da mulher (Carvalho,
2021).
A violência obstétrica pode manifestar-se em diversos ambientes, como maternidades,
postos de saúde e consultórios médicos, bem como em qualquer local onde os direitos das
gestantes, parturientes e puérperas sejam desrespeitados. Essa forma de violência pode ser
perpetrada por profissionais que prestam assistência durante o parto ou em qualquer fase do
acompanhamento à gestante ou puérpera, incluindo situações de abortamento (Leite et al.,
2022).
O Dossiê: Violência Obstétrica “Parirás com dor”, da Rede Parto do Princípio
Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa, elaborado para a Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) da Violência Contra as Mulheres revela que são comuns relatos de
mulheres terem ouvido no momento do parto frases do tipo: “Na hora que você estava
fazendo, você não tava gritando desse jeito, né?”; “Não chora não, porque ano que vem você
tá aqui de novo”; “Se você continuar com essa frescura, eu não vou te atender”; “Cala a boca!
Fica quieta, senão vou te furar todinha”; “Na hora de fazer, você gostou, né?” (Rede Parto do
Princípio, 2012, p. 2, grifo nosso).
A prevalência de Violência Obstétrica tem variado entre 18,3% e 44,3%, segundo
estudos de base populacional realizados no Brasil entre 2011 e 2015. Apesar disso, há poucos
estudos epidemiológicos nacionais abrangendo essa temática (Leite et al., 2022).
A educação em saúde é uma estratégia importante para a prevenção da violência
obstétrica, pois pode ajudar as mulheres a conhecer seus direitos e a exigirem um
atendimento digno e respeitoso (Lemos et al., 2022).
A gestação é um processo especial na vida da mulher, caracterizado por uma série de
mudanças físicas e emocionais que são vivenciadas de maneiras diversas pelas gestantes. Em
sua maioria, a gestação progride sem complicações significativas. No entanto, existe uma
parcela de mulheres que, devido a enfermidades preexistentes ou a fatores de risco para a
saúde, apresenta maior probabilidade de enfrentar uma evolução desfavorável tanto para elas
quanto para seus bebês. Nesses casos, é fundamental fornecer cuidados especiais por meio do
acompanhamento pré-natal (Landerdahl et al., 2007).
Entre os procedimentos classificados como violência obstétrica física estão a
realização da episiotomia sem consentimento, o parto cesáreo sem recomendação clínica, o
uso de ocitocina para acelerar o trabalho de parto e a manobra de Kristeller para reduzir o
período expulsivo, práticas que não são mais recomendadas por organizações como a
Organização Mundial de Saúde (OMS) (Who, 2018).
Nesse contexto ético, é crucial reconhecer o direito da mulher a uma assistência de
acordo com suas preferências durante o parto, uma diretriz apoiada pela OMS e
implementada em muitos países. No Brasil, a Lei n.º 11.108, de 7 de abril de 2005, garante o
direito da parturiente a ter um acompanhante de sua escolha durante todo o trabalho de parto,
parto e pós-parto imediato nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). (Brasil,
2005).
A situação das mulheres negras merece maior atenção, pois as mulheres pretas e
pardas têm suas humanidades colocadas em xeque quando são desconsideradas suas histórias,
opiniões, sentimentos e direitos ao serem alvos da violência obstétrica (2021, p. 156).
"Os enfermeiros obstétricos têm um papel fundamental na prevenção da violência
obstétrica. Através de sua atuação, eles podem promover um cuidado humanizado e
respeitoso às mulheres, contribuindo para a redução dos casos de violência." (Brandão, A.,
Pereira, Meirelles, Jesus, & Carvalho, 2022).
Neste cenário, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na prevenção da
violência obstétrica. É responsabilidade desse profissional informar a paciente sobre cada
procedimento, utilizando uma linguagem acessível, orientá-la sobre seu estado clínico e as
intervenções necessárias, além de esclarecer seus direitos, visando a redução de
procedimentos invasivos e a prestação de um atendimento humanizado e acolhedor ao longo
do ciclo, proporcionando assistência de qualidade (Lemos et al., 2022). Este estudo se
justifica devido à grande incidência de casos de violência obstétrica em todo o mundo e à
importância de discutir a humanização do parto e o respeito à autonomia da mulher, evitando
procedimentos desnecessários e, assim, reduzindo as ocorrências de violência obstétrica.
Portanto, qual é o papel do enfermeiro na prevenção da violência obstétrica? Para
responder a essa questão, nosso objetivo geral é descrever, com base na literatura existente, o
papel do enfermeiro na prevenção da violência obstétrica.

METODOLOGIA

Este é um estudo que envolve uma abordagem qualitativa e caráter descritivo. A


revisão integrativa é um método que visa resumir o conhecimento disponível e aplicar os
resultados de estudos relevantes na prática, tornando-os aplicáveis (Souza et al., 2010).
A análise da pesquisa foi realizada em várias etapas: a identificação do tema, a
formulação da questão de pesquisa, a definição dos critérios de inclusão e exclusão dos
artigos, a coleta de dados, a avaliação dos artigos selecionados que estivessem relacionados
com o objetivo da pesquisa, a organização do estudo em categorias e, por fim, a síntese das
informações extraídas dos artigos analisados, que serviria de base para a subsequente
discussão dos dados.
Foi coletado dados durante o período 2017 a 2022 de várias fontes, incluindo a
Literatura Latino-Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic
Library Online (SCIELO), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS) e
Base de Dados de Enfermagem (BDENF).
Foi utilizado 4 Descritores em Ciências da Saúde (Decs): "Violência Obstétrica",
"Saúde da Mulher", "Enfermagem" e "Obstetrícia", na seleção dos artigos foi incluído o
processo de inclusão de artigos publicados entre os anos 2017 a 2022. E como critério de
exclusão, foram excluídos artigos com mais de 5 anos de publicação, artigos de língua
estrangeira e artigos repetidos e que fugiam do tema referido. Foi iniciado a seleção de
artigos relacionados ao tema. Em seguida, uma leitura exploratória dos artigos elegíveis no
contexto do tema, considerando a possibilidade de exclusão de artigos.
Foram encontrados um total de 151 artigos e desses 14 artigos atenderam aos critérios
de inclusão e aos objetivos do artigo e foram selecionados.
Após a leitura e análise minuciosa desses artigos, emergiram as seguintes categorias
temáticas: "Medidas de Prevenção da Violência Obstétrica", "Experiências na Prevenção da
Violência Obstétrica" e "Compreendendo os Fatores de Risco da Violência Obstétrica".

Figura 1- Fluxograma da seleção dos artigos nas bases de dados da LILACS, SCIELO,
BDENF e IBECS.

Fonte: elaborado pelo autor.


RESULTADOS

Após a leitura dos artigos, foi elaborado um quadro que apresenta informações sobre a
autoria, o ano de publicação, o local de publicação, o tipo de estudo, o objetivo, os resultados
e a categoria temática de cada artigo. O presente estudo foi realizado com base em 14 estudos
acadêmicos que apresentaram uma descrição detalhada da violência obstétrica na vida da
mulher, com os tipos de violência, suas classificações e os danos significativos decorrentes,
bem como o papel dos Enfermeiros na atuação e prevenção.

Quadro 1. Apresentação da síntese dos artigos incluídos na amostra total da revisão,


mediante título, ano de publicação, periódico, base de dados, objetivos, principais resultados.
Salvador-Bahia-Brasil, 2023.

Título Ano/Base de Objetivos Resultados


dados
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parto e o nascimento

Repercussões 2021, Brasil Descrever as O parto vivido pelas pa


físicas e psicológ IBECS repercussões da violênci rticipantes foi repleto d
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ram violência ob pariram em uma materni gorias temáticas: reper
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o de Rio das Ostras/RJ. psicológicas.
Boas Práticas na 2022, Brasil Analisar as boas práticas As mulheres do estudo
atenção SciELO adotadas na predominaram entre 20
obstétrica atenção à mulher e ao a 35 anos, a maioria ne
e sua interface co recém nascido, em uma gra e parda, com ensin
m maternidade pública baia o médio e primípara.
humanização da na, apoiada
assistência. pela Rede Cegonha.

Atuação da 2018 Brasil, Realizar revisão integrati Evidenciando


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Obstétrica. ante da violência obstétri ação profissional, e atu
ca. ação dos enfermeiros
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Boas Práticas na 2022, Brasil Analisar as boas práticas As mulheres do estudo
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e sua interface recém nascido, em uma gra e parda, com ensin
com maternidade pública o médio e primípara.
humanização da baiana, apoiada
assistência. pela Rede Cegonha.

Fonte: Dados da pesquisa.

DISCUSSÕES

Após uma análise criteriosa dos artigos incluídos neste estudo, destacaram-se duas
categorias temáticas: Impactos da violência obstétrica na vida da mulher e Intervenções
realizadas pelo enfermeiro para prevenir a violência obstétrica.
IMPACTOS DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NA VIDA DA MULHER:

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014), gestantes em todo o


mundo enfrentam abusos, desrespeito, negligência e maus-tratos durante o parto nas
instituições de saúde. Essas práticas podem acarretar consequências adversas para a mãe e o
bebê, especialmente considerando ser um período de significativa vulnerabilidade para a
mulher.
De acordo com o estudo, a vivência negativa do parto acarreta diversas repercussões
nos âmbitos psicológico, físico e social. A cada procedimento de parto, existe a possibilidade
de ocasionar danos que ultrapassam a integridade física da mãe e do recém-nascido. As
vítimas de violência obstétrica enfrentam não apenas danos físicos, mas também
consequências psicológicas, muitas vezes decorrentes de comentários constrangedores e
ofensivos, resultando em sentimentos de medo, abandono e tristeza (Pontes et al., 2021).
A depressão pós-parto pode estar diretamente relacionada à violência institucional
vivenciada pela mulher, decorrente de procedimentos obstétricos, ausência de acompanhante
e à falta de humanização por parte dos profissionais envolvidos no parto (Assis et al., 2021).
No período pós-parto, o estado psíquico da mãe torna-se vulnerável, não suportando
excessiva pressão, o que pode resultar na interferência de um vínculo afetivo saudável entre
ela e o bebê (Pacheco; Dias, 2020).

INTERVENÇÕES REALIZADAS PELO ENFERMEIRO PARA PREVENIR A


VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA:

Conforme estabelecido pela Resolução do Conselho Federal de Enfermagem


(COFEN) Nº 516/2016, é atribuição do enfermeiro realizar o acolhimento da mulher e seus
familiares ou acompanhantes, avaliar a saúde materna e fetal, e assegurar que a assistência
seja prestada desde o pré-natal até o puerpério. Além disso, é responsabilidade desse
profissional empregar práticas fundamentadas em evidências científicas, oferecendo um
atendimento humanizado e respeitando a autonomia e os desejos da mulher.
Diante disso, torna-se essencial adaptar os protocolos relacionados aos cuidados obstétricos,
com a urgência de promover a humanização nos serviços oferecidos pelos profissionais de
saúde. Isso implica em uma sensibilização e adoção de atitudes que garantam à mulher um
atendimento respeitoso (Souza, Rattner, Gubert, 2017).
Assim, de acordo com os estudos é possível destacar algumas práticas humanizadas
de enfermagem agrupadas em categorias tais como:
1- Acolhimento da Paciente: realizar uma escuta ativa, compreender medos e anseios,
oferecer suporte físico e psicológico, explicar os procedimentos de maneira compreensível,
permitindo que a mulher questione e tome decisões, incluindo a família nesse processo.
2- Direito de Escolha no Acompanhamento Pré-natal e Parto: conceder à gestante o
direito de escolher o acompanhamento pré-natal e no momento do parto.
3- Redução e Evitação de Procedimentos Invasivos: minimizar procedimentos
invasivos sem indicação clara que possam causar desconforto, explicando sua necessidade
quando relacionados a riscos materno-fetais.
4- Incentivo a Métodos Não Farmacológicos: estimular o uso de métodos não
farmacológicos para promover o processo fisiológico e reduzir a dor, como hidroterapia,
musicoterapia, aromaterapia, acupuntura, exercícios respiratórios e físicos.
5- Padrão Assistencial Respeitoso: estabelecer um padrão assistencial que respeite as
decisões da mãe, evitando constrangimentos por parte da equipe de saúde.
6- Orientações: fornecer orientações sobre cuidados pré-natais e durante o parto,
ensinando técnicas como amamentação e cuidados com o coto umbilical.
7- Promoção de Momentos Educativos: contextualizar a violência obstétrica e seus
tipos, capacitando a mulher a reconhecer situações desse tipo e recusar procedimentos
invasivos desnecessários.
8- Busca por Capacitação Profissional: investir na formação profissional para garantir
atualização e habilidade para agir conforme as evidências científicas e diretrizes de
humanização (Medeiros et al., 2018; Castro & Rocha, 2020; Oliveira & Oliveira, 2020; Sousa
et al., 2021).
A Lei nº 7.498, de junho de 1986, estabelece que o enfermeiro está legalmente
autorizado a oferecer assistência à gestante, parturiente e puérpera. Além disso, a lei concede
ao enfermeiro a responsabilidade de acompanhar a evolução e o trabalho de parto, realizar o
parto sem complicações, identificar distúrbios obstétricos e tomar as devidas providências até
a chegada do médico (Brasil, 1986).
O enfermeiro obstetra pode estabelecer um vínculo com a puérpera por meio do
cuidado de enfermagem, promovendo um parto no qual respeita a autonomia e a fisiologia da
mulher, prevenindo assim a ocorrência de violência obstétrica (Santana, 2021).
O estudo mostra que a adoção de boas práticas por parte do enfermeiro na assistência
à parturiente contribui para a humanização do parto, capacitando a parturiente, esclarecendo
seus direitos e diminuindo intervenções consideradas como violência obstétrica, prática que,
apesar de reconhecida, ainda permanece entre alguns profissionais de saúde (Sousa 2021),
Segundo Prata et al. (2022), as participantes de sua pesquisa adotam as Tecnologias Não
Invasivas de Cuidado Utilizadas por Enfermeiras Obstétricas (TNICE) com o objetivo de
alcançar conforto e relaxamento. Exemplos dessas TNICE incluem incentivo à presença,
participação e envolvimento do acompanhante; estímulo à respiração consciente; promoção
de um ambiente acolhedor; e a aplicação de conhecimentos sobre óleos essenciais, associados
ou não à técnica da massagem. Duarte et al. (2019) corrobora essas práticas, afirmando que as
boas condutas empregadas por enfermeiras obstétricas têm uma base em evidências
científicas e estão alinhadas com as recomendações da Organização Mundial da Saúde
(OMS).
O estudo permite concluir que é compreendido que o enfermeiro deve possuir
qualificações e sensibilidade para guiar o processo do parto, quando necessário,
possibilitando que a parturiente faça escolhas mais conscientes, respeitosas e livres em
relação às condutas a serem adotadas antes, durante e após o parto (Sousa, 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão sistemática da literatura permitiu concluir que, a questão da


violência obstétrica está recebendo bastante atenção, e sua ocorrência é uma realidade com
muitas mulheres. Este estudo destaca a importância da atuação do enfermeiro na prevenção
da violência obstétrica, bem como nas intervenções necessárias diante de situações que
evidenciem atos de violência, e é fundamental que os enfermeiros sejam devidamente
capacitados sobre a temática, a fim de proporcionar uma assistência ao parto de forma
humanizada e harmoniosa, reconhecendo a delicadeza desse momento para a mulher e suas
diferentes fases. Além disso, a educação continuada para toda a equipe multiprofissional,
com especial ênfase nos enfermeiros, é essencial para promover uma abordagem centrada na
humanização do parto.
Diante disso, torna-se evidente a urgência de promover mudanças para prevenir essas
situações, conforme diretrizes já estabelecidas.
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