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ESCOLADEGOVERNO
EMSAÚDEPÚBLICADEPERNAMBUCO
ViGiLâNcIa dA ViOlÊnCiA
Olá, cursista!

No Módulo I conhecemos a trajetória


histórica de inclusão da violência como um
problema de saúde pública. Neste módulo,
iremos explorar a vigilância das
violências, trazendo subsídios para
fortalecer e articular as discussões que
faremos nos módulos seguintes.

Objetivo:

Conhecer as principais formas de violência


na sociedade contemporânea, a partir da
conceituação de violência.

Conteúdos:

1. Definição de violência e tipos;


2. Causas da violência - Modelo ecológico;
3. Perspectiva da Interseccionalidade;
4. Conceituando a Violência Obstétrica;
5. Histórico da vigilância de violências e
prin-cipais marcos legais.

Esperamos que, ao final dos seus


estudos, você amplie seus conhecimentos
com vistas a aprimorar suas habilidades e
contribuir para sua prática profissional. Boa
leitura!
O que é violência?

A violência é o resultado da complexa


interação de questões individuais,
relacionais, sociais, culturais e ambientais.

Clique na imagem acima para acessar o vídeo

Compreender como os diversos


fatores estão relacionados com a violência é
um dos passos importantes na abordagem
em saúde pública para a sua prevenção
(DAHLBERG; KRUG, 2006). Assim, con-
vidamos você, a refletir sobre as raízes da
violência na perspectiva do modelo
ecológico.

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Clique na imagem acima para acessar o vídeo

A proposta ecológica enfatiza as


múltiplas causas da violência e a interação
dos fatores de risco que operam no interior
da família e dos contextos mais amplos da
comunidade, como o contexto social,
cultural e econômico. Colocado em um
contexto de desenvolvimento, o modelo
ecológico mostra como a violência pode ser
causada por diferentes fatores em etapas
diversas da vida (DAHLBERG; KRUG, 2006)

Para conhecer mais, leia aqui o artigo


"Violências: um problema global de saúde
pública", de Dahlberg e Krug (2007).

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Você sabe o que é
interseccionalidade e como este
conceito se relaciona com a
violência? A violência afeta as
populações de forma
homogênea?

Ao abordar a temática da violência no


contexto do trabalho em saúde, é impor-
tante que se tenha em mente que, além da
multicausalidade, os diversos tipos de
violência não afetam de forma homogênea a
população, o que torna fundamental a
leitura do tema da interseccionalidade,
considerando os recortes de gênero,
sexualidade, etnia/raça, classe social, faixa
etária, intolerância baseada em crenças,
entre outras categorizações sociais.

A interseccionalidade pode ajudar a


entender as interrelações que determinam
as condições sociais de saúde das
populações, incluindo a produção da
violência (SILVA; RESENDE, 2019).

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Assim, na condução de um caso de


violência, faz-se necessário observar como
as questões de gênero, etnia, sexualidade e
etc., impactam nos indivíduos e na forma
como essas violências foram perpetradas.

Ainda na perspectiva do cuidado,


destaca-se a importância da identificação
dessas interseccionalidades na notificação
compulsória, para que o registro seja capaz
de detalhar esses aspectos do fenômeno da
violência. Tais observações permitirão
intervenções, ações e políticas eficazes no
enfrentamento às violências, assegurando o
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compromisso ético e social das políticas
públicas de saúde.

Como exemplo, podemos citar a


abordagem da Violência entre Parceiros
Íntimos (VPI) que, segundo Dantas (2018),
sofre invisibilização com a pouca aderência
entre as trabalhadoras e trabalhadores às
notificações programadas, o que aprofunda
a naturalização da violência de gênero como
prática social.

# Fica a Dica
Para entender mais sobre o
conceito de interseccionalidade
e sua relação com as vivências
de violência em diferentes
grupos, assista a live de Djamila
Ribeiro e Carla Akotirene.

Clique na imagem ao lado para acessar o vídeo

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E a violência obstétrica, você
conhece? Como ela se relaciona
com as questões acima
abordadas e com o que ainda virá
nesse curso?

A violência obstétrica é caracterizada


pela intervenção no corpo da mulher por
meio de mecanismos pautados na
medicalização e patologização de pro-
cessos naturais, na desumanização e no não
respeito à liberdade de decisão sobre o
próprio corpo, impactando diretamente
sobre a saúde das mulheres. É expressa em
intervenções não consentidas, informações
distorcidas e/ou parciais, cuidado não
digno, abuso verbal, discriminação baseada
em marcadores sociais (gênero, raça, etnia,
faixa etária, classe social, escolaridade,
etc.), abandono, recusa à assistência e
detenção nos serviços durante a assistência
à gravidez, ao parto, ao pós-parto e ao
abortamento (DINIZ et al., 2015).

Para Diniz et al. (2015), o sofrimento


das mulheres durante a assistência ao parto
é registrado em diferentes momentos
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históricos, com diversas conceituações. Ao
apresentar uma perspectiva histórica do
conceito de violência obstétrica, os autores
abordam como marco a publicação da
matéria “Crueldade nas Maternidades”,
publicada na revista norte-americana Ladies
Home Journal, que chamou a atenção para
as diversas violências sofridas por mulheres
em instituições de saúde dos Estados
Unidos, na década de 1950.

No contexto brasileiro, em 1980 foi


criado o Programa de Atenção Integral à
Saúde da Mulher (PAISM). À época, em sua
apresentação, o programa pontuava a
urgência do enfrentamento à violência
sofrida por mulheres em instituições de
saúde. Em 1993 constituiu-se a Rede pela
Humanização do Parto e do Nascimento
(REHUNA), que objetiva dar visibilidade à
violência e ao constrangimento na
assistência ao parto (DINIZ et al., 2015).

Dados de estudos nacionais retratam


que a violência contra gestantes varia entre
1,2% e 66%, a depender do tipo de violência
perpetrada (OKADA et al., 2015). No tocante

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à violência obstétrica, essa prevalência
esteve representada em 12,6% das
gestantes e associou-se a procedimentos
desnecessários e institucionais durante o
período do parto, a exemplo da posição
litotômica, a realização da manobra de
Kristeller e a separação precoce do bebê
após o parto (LANSKY et al., 2019).

Ao refletir sobre esta temática,


trabalhadoras e trabalhadores dos serviços
de saúde, devem ser capazes de proble-
matizar a assistência ao parto. Exercitando a
habilidade de empreender ações capazes de
promover informação, com vistas à difusão
da autonomia das usuárias, pretende-se
conferir visibilidade ao problema da
violência obstétrica e à prevenção de
situações de objetificação de mulheres,
como por exemplo, sob a justificativa de
treinamentos de internos e abordagem de
seus corpos como mero material didático.

Sendo assim, é preciso ter em vista


um movimento de sensibilização insti-
tucional na abordagem da violência
obstétrica como uma iniquidade em saúde

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pública de caráter complexo e multifatorial.
Uma vez que os direitos das mulheres são
sistematicamente violados e invisibilizados,
quanto mais vulnerável for a mulher,
maiores as chances de acesso a uma
assistência desumanizada. No módulo III,
traremos como podemos classificar a
violência obstétrica no contexto da Ficha de
Notificação de Violência Interpessoal e/ou
Autoprovocada.

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O que é a vigilância de violências?

Reconhecendo que as violências e os


acidentes exercem, para além das
condições de adoecimento e morte da
população, grande impacto social e
econômico, sobretudo no setor saúde, o
Ministério da Saúde (MS) instituiu, por meio
da Portaria MS/GM nº 1.356, de 23 de
junho de 2006, o Sistema de Vigilância de
Violências e Acidentes (VIVA), o qual é
constituído por dois componentes:

VIVA Sinan
Componente contínuo - Por meio da produção
e difusão de informações epidemiológicas,
visa conhecer a magnitude e subsidiar
políticas públicas de enfrentamento à
violência (estratégias e ações de intervenção,
prevenção, atenção e proteção às pessoas em
situação de violência). O instrumento utilizado
é a ficha de notificação de violência
interpessoal ou autoprovocada.

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VIVA Inquérito
Objetiva analisar a tendência das violências e
acidentes, e descrever o perfil das vítimas
desses agravos atendidas em unidades de
urgência e emergência selecionadas. Suas
edições já foram realizadas anualmente
(2006-2007), a cada dois anos (2009 e 2011),
a cada três anos (2014 e 2017) e, mais
recentemente, foi definida sua realização
quinquenal.

No período de 2006 a 2008, a


estratégia de vigilância foi implantada em
serviços de referência para atendimento às
vítimas de violência. A partir de 2009, a
violência, enquanto agravo de notificação
em unidade sentinela, passou a integrar o
Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan).

A partir de 2011, a vigilância e a


prevenção de violências ganharam mais um
reforço com a publicação da Portaria MS/GM
nº 104, de 25 de janeiro de 2011, que
universalizou a notificação compulsória da
violência para todos os serviços de saúde,
incluindo-a na relação de doenças e agravos
14
de notificação compulsória semanal.

Em 2014, foi publicada a Portaria


MS/GM nº 1.271, de 06 de junho de 2014,
com a atualização da lista de doenças e
agravos de notificação compulsória. Nessa
Portaria, os casos de violência sexual e
tentativa de suicídio passaram a ser de
notificação imediata (realizada em até 24
horas, pelo meio de comunicação mais
rápido) para as Secretarias Municipais de
Saúde. Além disso, também foram incluídos
outros grupos prioritários no escopo da
notificação: população LGBT, indígena e
pessoas com deficiência.

No ano de 2015, um acordo entre


diferentes Ministérios permitiu a realização
da notificação intersetorial dos casos de
violência, conforme pactuação local. Esta
deve ser realizada na Ficha de Notificação
do Sinan, que até então era de uso exclusivo
dos serviços de saúde.

Em 2016, a Secretaria Estadual de


Saúde de Pernambuco ampliou a notificação
imediata dos casos de violência sexual e
tentativa de suicídio para o âmbito estadual,
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através da plataforma do CIEVS-PE. Essa
pactuação foi fruto das prioridades locais,
discutidas pelas equipes de Vigilância em
Saúde e Políticas Estratégias de atenção à
saúde, a fim de fortalecer as estratégias de
monitoramento e subsidiar a articulação da
rede no cuidado em saúde (Portaria SES-PE
nº 390/2016).

A última versão da Lista Nacional de


Notificação Compulsória foi publicada na
Portaria Ministerial nº 204 de 17 de
fevereiro de 2016, incorporada à Portaria
de Consolidação nº 4 de 28 de setembro de
2017, cujo anexo foi atualizado pela
Portaria GM/MS nº 420, de 02 de março de
2022.

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Neste módulo, foi possível compreender o
conceito da violência e o histórico da
vigilância desse agravo. A seguir, vamos
dialogar sobre a importância da
notificação compulsória no contexto da
saúde pública.

Agora que você concluiu a leitura do


módulo, clique no ícone abaixo para
realizar a atividade avaliativa no AVA.
Somente após realizar essa atividade, você
poderá continuar o estudo dos próximos
módulos

FiXaNdO
cOnTeÚdO

Além disso, não esqueça de registrar no


Tirando Dúvidas suas reflexões,
questionamentos ou observações sobre
este módulo!
Referências

BERGER, S. M. D. Violência entre parceiros


íntimos, gênero e saúde: a integralidade, a
interseccionalidade e a pedagogia feminista
no acolhimento às mulheres e na educação
em/na saúde. Revista Debates
Insubmissos, Caruaru, v. 1, n. 3, p. 9-31,
set./dez. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº


1.356 de 23 de junho de 2006. Institui
incentivo aos estados, ao Distrito Federal e
aos municípios para a Vigilância de
Acidentes e Violências em Serviços
Sentinela, com recursos da Secretaria de
Vigilância em Saúde (SVS).

______. Ministério da Saúde. Portaria nº


104, de 25 de janeiro de 2011. Define as
terminologias adotadas em legislação
nacional, conforme o disposto no
Regulamento Sanitário Internacional 2005
(RSI 2005), a relação de doenças, agravos e
eventos em saúde pública de notificação

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compulsória em todo o território nacional e
estabelece fluxo, critérios,
responsabilidades e atribuições aos
profissionais e serviços de saúde.

______. Ministério da Saúde. Portaria nº


1.271, de 6 de junho de 2014. Define a Lista
Nacional de Notificação Compulsória de
doenças, agravos e eventos de saúde
pública nos serviços de saúde públicos e
privados em todo o território nacional, nos
termos do anexo, e dá outras providências.

______. Ministério da Saúde. Portaria nº 204,


de 17 de fevereiro de 2016. Define a Lista
Nacional de Notificação Compulsória de
doenças, agravos e eventos de saúde
pública nos serviços de saúde públicos e
privados em todo o território nacional, nos
termos do anexo, e dá outras providências.

DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um


problema global de saúde pública. Ciência &
Saúde Coletiva, [s.l.], v. 11 , p.1163-1178,
2006.

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DINIZ, S. G. et al. Violência obstétrica como
questão para a saúde pública no Brasil:
origens, definições, tipologia, impactos
sobre a saúde materna e propostas para sua
prevenção. Journal of human growth and
development, v. 25, n. 3, p. 377-384, 2015.

LANSKY, S. et al. Violência obstétrica:


influência da Exposição Sentidos do Nascer
na vivência das gestantes. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v.24, n. 8, p. 2811-
2824, ago. 2019.

OKADA, M. M. et al. Violência doméstica na


gravidez. Acta Paulista de Enfermagem., v.
28, n. 3, pp. 270-274, 2015.

Portaria SES nº 390, de 14 de setembro de


2016. Acrescenta doenças, agravos e
eventos estaduais à Lista Nacional de
Doenças de Notificação Compulsória e dá
outras providências.

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SILVA, R. B. da; RESENDE, V. de M. Gestão e
Avaliação de Programas e Projetos para
População em Situação de Rua, com foco na
População Negra - Eixo 1. in Curso
Especialização para Profissionais da Saúde
Envolvidos com a População em Situação de
Rua, com Foco na População Negra. Brasília:
Universidade de Brasília - Centro de Estudo
Multidisciplinares, 2019.

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