Você está na página 1de 6

SUICÍDIO E VIOLÊNCIA AUTOPROVOCADA: UMA ANÁLISE DE 2016 A 2019 EM

AVARÉ
Ana Paula Alves da Silva – Eduvale – anapaula.silva@ead.eduvaleavare.com.br
Prof. Caio Vinicius Zévola Orru – Eduvale – caio.orru@ead.eduvaleavare.com.br

ÁREA: Ciências Humanas.

RESUMO
O presente artigo foi baseado em relatórios emitidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada no período de 2016 a 2019 sobre suicídios consumados e notificações de violência
interpessoal/autoprovocada do DATASUS. Foram utilizadas plataformas como PePSIC e
Google Acadêmico para a pesquisa, empregando termos-chave específicos relacionados ao
tema. O objetivo do artigo é abordar o suicídio, sua história, possíveis causas sociais e
patológicas, diferentes métodos empregados e como o papel social afeta diretamente a
realização do ato. É abordado diferenças de gênero significativas nos suicídios, com uma
predominância de homens em casos consumados, muitas vezes associados a métodos
mais agressivos e impulsivos, enquanto as mulheres tendem a fazer tentativas de suicídio
com métodos menos brutais e com algum grau de premeditação. Além disso, elenca
iniciativas de prevenção desde níveis mundiais à municipais, com análise específica na
cidade de Avaré-SP. Oferece reflexões sobre o tema e a prevenção, com o propósito de
aumentar a conscientização e contribuir para um debate mais aprofundado, levando em
consideração a perspectiva de gênero e a subjetividade do sujeito. Por fim, enfatiza a
complexidade do suicídio, a importância da saúde mental, a necessidade de abordagens
preventivas abrangentes e a continuidade dos esforços para combater o estigma em torno
desse problema de saúde pública.

PALAVRAS-CHAVE: Suicídio; Saúde Mental; Prevenção; Violência Autoprovocada.

INTRODUÇÃO
O termo suicídio surgiu em meados de 1643 no livro do médico Thomas Browne,
inicialmente em grego, autófonos, sendo traduzido para o inglês como suicide em 1645, ele
classificou a palavra de duas formas: “heróica” e “patológica”.
Suicídio é documentado desde a antiguidade, na Bíblia tem-se a história de Sansão
(Juízes 16:28-30), o qual num ato de vingança decide se sacrificar e levar consigo os
filisteus, sendo posteriormente descrito como herói (Hebreus 11:32).
No século XIII tinha-se cunho pecaminoso, resultado de investidas demoníacas, São
Tomás de Aquino em Summa Theologica compreendia que o ato era o pior pecado pois não
deixava chance para o arrependimento, configurando-se como dúvida perante a
misericórdia divina (BOTEGA, 2015, p.24).
Na obra O suicídio de Émile Durkheim (2000), discute-se como unidade de análise a
sociedade e não apenas o indivíduo, entendendo-o como força imposta ao sujeito e que
existe para além deste, Durkheim cita quatro tipologias como suicídio egoísta, altruísta,
anômico e fatalista, tendo motivações distintas como o sujeito solitário, indivíduo
filantrópico, ausente de normas e o incapaz de modificar regras, respectivamente.
Segundo a OMS consiste em ato deliberado, intencional e consciente de causar
morte a si usando meio letal e em 1999, lançou o SUPRE (Suicide Prevention Program)
como iniciativa mundial com o objetivo de disseminar recursos para profissionais, famílias,
comunicadores, conscientizando e considerando-o como fenômeno social complexo e
gravíssimo de saúde pública mundial (OMS, 2000, p 3).
Em 2003, foi criada uma campanha em parceria com IASP (International Association
for Suicide Prevention), estipulando o 10 de setembro como Dia Mundial de Prevenção ao
Suicídio com o objetivo de transmitir a mensagem de que os suicídios são evitáveis.
Seguindo essa iniciativa, em Avaré-SP no ano de 2015 foi aprovado o Projeto de Lei
Nº67/2015 que visa realizar entre os dias 10 e 17 de setembro a Semana Municipal da
Prevenção ao Suicídio.
Por meio dos dados obtidos através do IPEA e DATASUS, o objetivo do presente
artigo é apresentar possíveis causas, reflexão e conscientização a sociedade sobre suicídio
e violência autoprovocada entre homens e mulheres.

MATERIAL E MÉTODOS
Os dados aqui apresentados foram coletados a partir de revisão bibliográfica,
análise de projeto de lei municipal, manual para profissionais, livros e artigos científicos
relacionados ao tema e a sua prevenção. Ademais, consultou-se documentos públicos que
reúnem informações sobre o suicídio no Brasil de 2016 a 2019 especificamente do
município de Avaré fornecidos pelo IPEA e DATASUS sobre violência autoprovocada.
Utilizou-se a plataforma PePSIC, SciELO e Google Acadêmico empregando termos-
chave como “Suicídio”, “Violência Autoprovocada”, “Saúde Mental” e “Prevenção ao
Suicídio”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As justificativas apresentadas enfatizam a necessidade de trabalhos conjuntos entre
políticas públicas e redes de apoio que cerceiam o sujeito vulnerável e, devida a
importância deve-se debruçar e debater conscientemente para promover a propagação de
informações.
Os filtros utilizados para a obtenção dos dados sobre suicídio consumados foram:
município de Avaré, sexo feminino, masculino e quantidade por ano, vide tabela:
Tabela 1 - Dados de Suicídios Consumados em Avaré (2016-2019) por Gênero.
ANO HOMEM MULHER TOTAL
2016 7 1 8
2017 8 0 8
2018 10 0 10
2019 9 2 11
Fonte: Dados obtidos do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), Atlas da Violência,2016-
2019.
Em 2016, 87,5% dos suicídios foram cometidos por homens, enquanto 12,5% por
mulheres. Em 2017 e 2018 os atos foram cometidos apenas por homens e por fim, em
2019, homens representam 81,8% dos suicídios e as mulheres 18,2%.
Os fatores de risco que podem influenciar na tomada de decisão são: consumo
excessivo de álcool e drogas, dependência financeira, abuso sexual, desemprego,
transtornos de personalidade e humor, comorbidades psiquiátricas, ausência de rede de
apoio, isolamento, depressão e etc.
Algumas formas de tentativas de suicídio são mais recorrentes, sendo queimadura,
envenenamento e autointoxicação medicamentosa para mulheres e, geralmente
enforcamento, estrangulamento e sufocação para homens (VIEIRA, 2021 p.6482).
Saúde mental está atrelado ao suicídio, visto que, o adoecimento mental pode levar
ao ato consumado, por definição saúde mental é um estado de bem-estar onde o sujeito é
autônomo e há ausência de doença, em contrapartida, segundo Gaino (2018), os
profissionais da saúde entendem o termo como conjunto subjetivo de características e
fatores extrínsecos e intrínsecos inerentes ao sujeito.
Caracteriza-se como lesão autoprovocada a violência contra si, podendo se dividir
em comportamento suicida e autoagressão. O CID-10 (Classificação Internacional de
Doenças) considera lesões, auto envenenamentos e tentativas de suicídio.
Estima-se que apenas 25% que tentam se suicidar entram em contato com
hospitais, sendo atendido apenas casos emergenciais. Estes locais são de extrema
importância pois através deles é possível realizar a prevenção, orientação sobre o ato e é o
ponta pé para buscar por políticas públicas.
Através do DATASUS foi possível ter acesso a relação de notificações realizadas no
período de 2016 a 2019, delimitada por município, quantidade, sexo feminino e masculino,
vide tabela:
Tabela 2 - Dados de Notificações de Violência Autoprovocada (2016-2019) por
Gênero.
ANO HOMEM MULHER TOTAL
2016 19 31 50
2017 30 58 88
2018 51 88 139
2019 51 151 202
Fonte: Dados obtidos do DATASUS, Violência interpessoal/autoprovocada,2016-2019.
Em 2016 homens representavam 38% das notificações enquanto as mulheres 62%,
em 2017 sendo 34,04% homens e 65,96% mulheres, já em 2018 homens representavam
36,72% enquanto mulheres 63,28% e por fim, em 2019 apresentam 25,23% para homens e
74,77% para mulheres.

CONCLUSÃO
O suicídio possui multifatores e é multideterminado, podendo ser predispostos ou
precipitantes, de fato, cada sujeito vivência diversos fenômenos em aparência, mas que
essencialmente podem causar sofrimento devido a sua subjetividade. Esta que, é a forma
singular que contribui para a compreensão da totalidade da vida, onde se constrói o
desenvolvimento, vivências sociais, culturais e o modo de ser que vai se apropriando e
transformando o meio e a si (BOCK et.al,1999).
Compreende-se que o ato é objeto de estudo e reflexão desde sua primeira menção,
seja no livro de Browne, nas tipologias de Durkheim, nos dias atuais ou até em textos
sacros com significado distante da compreensão moderna.
Em suma, pode-se concluir que os atos consumados são realizados
majoritariamente por homens, provavelmente devido aos métodos empregados que, podem
vir de natureza agressiva e impulsiva em conjunto ao uso de substâncias (MACHADO,
2015).
Enquanto da perspectiva feminina, a maior reincidência é sobre as notificações de
violências autoprovocadas, provavelmente devido a vulnerabilidade e comportamento
suicida, logo, mulheres tentam mais vezes por métodos menos brutais e partem para uma
espécie de premeditação. Tem-se limites sutis visto que uma tentativa pode ser
interrompida ou galgar até o ato consumado.
Mesmo após o Dia Mundial do Prevenção ao Suicídio e a aprovação do da Lei
Municipal Nº67/2015, ainda há estigmatização e demonização do tema, falta de
acolhimento, de profissionais preparados, rastreamento de risco, equívoco na cobertura da
mídia, omissão de informações, sendo estes, dificuldades iminentes a conscientização.
Durante a execução deste artigo foi identificado lacunas essenciais que poderiam
ampliar os parâmetros discutidos com o intuito de melhorar a estruturação do tema,
propondo uma crítica mais assertiva, dentre elas, a ausência de filtros específicos como
dados geográficos, socioeconômicos e etários.
Este artigo busca desmitificar o senso comum, apresentar dados recentes junto de
fundamentação teórica, trazendo à tona a relevância sobre o tema, almejando enriquecer o
debate sobre prevenção ao suicídio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAHIA, Camila Alves et al. Lesão autoprovocada em todos os ciclos da vida: perfil das
vítimas em serviços de urgência e emergência de capitais do Brasil. Ciência e Saúde
Coletiva, 2017. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/csc/a/63k5xJZTD5DZ4JKvLcgXbbD/>. Acesso em: 19 de set. 2023.

BERTOLOTE, José Manoel. O Suicídio e Sua Prevenção. São Paulo: Fundação Editora da
Unesp, 2012. 21-33 p.

BRASIL. Câmara Municipal da Estância Turística de Avaré. Projeto de Lei Nº 67/2015, de


18 de maio de 2015. Disponível em: <https://avare.siscam.com.br/ProjetosLei/67-2015>.
Acesso em: 19 de set. 2023.

BVSMS - Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde. "Criar esperança através da


ação: Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio." Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/criar-esperanca-atraves-da-acao-10-9-dia-mundial-de-
prevencao-ao-suicidio/>. Acesso em: 19 de set. 2023.

DANTAS, Eder Samuel Oliveira. "Prevenção do suicídio no Brasil: como estamos?" Physis:
Revista de Saúde Coletiva, [S. l.], 2019. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/physis/a/TkRBSMjGrKFQ6xYpktb9J4P/?lang=pt&format=html>.
Acesso em: 19 set. 2023.

DATASUS – Violência interpessoal/autoprovocada no Brasil. Disponível em:


<http://tabnet.datasus.gov.br>. Acesso em: 19 de set. 2023.

DURKHEIM, Émile. O Suicídio. São Paulo, SP: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 2000.
19-26 p.

GAINO, Loraine Vivian et al. "O conceito de saúde mental para profissionais de saúde: um
estudo transversal e qualitativo." Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool Drogas, Ribeirão
Preto, v. 14, n. 2, p. 108-116, 2018. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1806-69762018000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 de
set. 2023.

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da Violência. Disponível em:


<https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/filtros-series>. Acesso em: 19 de set. 2023

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do Suicídio: Um Manual para


Profissionais da Mídia. Genebra, 2000. 1-3 p.

VIEIRA, Mirela Tonato et al. Fatores de risco de suicídio em homens e mulheres: uma
revisão de literatura. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 4, n. 2, p. 6475–6484,
2021. Disponível em: <https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/
27000>. Acesso em: 19 set. 2023.

Você também pode gostar