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BELÉM-PARÁ
2017
ÍRIS ARAÚJO GONZAGA
JOSINETE DA CONCEIÇÃO BARROS DO CARMO
BELÉM-PARÁ
2017
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A INCIDÊNCIA DO SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA NO BRASIL
A adolescência é o período situado entre a infância e a idade adulta, sendo um estágio
de início e duração variáveis. Cronologicamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
delimita a adolescência entre os 10 e 19 anos, está também foi adotado pelo Ministério da
Saúde. Todavia, o Estatuto da Criança e do Adolescente, considera adolescente o indivíduo de
12 a 18 anos (SOUZA; BARBOSA; MORENO, 2014).
O suicídio é considerado o desfecho de um fenômeno complexo e multidimensional,
decorrente da interação de diversos fatores, um fenômeno multideterminado e não pode ficar
restrito ao conceito médico e, tampouco, jurídico. Existem implicações sociais importantes,
aspectos éticos, culturais, psicológicos, antropológicos e filosóficos, que balizam esse evento.
Pessoas que enfrentam situações de impasse, e não vislumbram saídas, podem apelar e atentar
contra a própria vida (BONFIM, et al,2015).
O suicídio tornou-se um problema de saúde pública em âmbito mundial, sendo
fundamental conhecer as variáveis implicadas em tal fenômeno para, assim, compreender
melhor essa realidade (ROSA; et al, 2015).
Em adolescentes, comportamentos suicidas ocorrem devido aos conflitos,
característicos da adolescência, mediante transformações físicas e socioculturais, favorecendo
o aumento dos níveis de ansiedade e aparecimento de depressão, principal fator de risco para
suicídio. Assim, o período da adolescência é considerado de maior vulnerabilidade aos
comportamentos suicidas (JUNIOR, et al, 2016).
A taxa mundial de tentativas de suicídio é de 16 casos para cada 100 mil habitantes,
variando de acordo com sexo e idade. No Brasil, essa taxa é em torno de nove casos para 100
mil habitantes.5 As tentativas de suicídio geralmente estão associadas à depressão, que é
responsável por 30% dos casos, ao alcoolismo, com 18%, à esquizofrenia, com 14%, e aos
transtornos de personalidade, com 13% (BURIOLA, et al, 2011).
Considerando as ocorrências de suicídios por 100.000 habitantes, o Brasil encontra-se
na 113ª posição, de acordo com o ranking elaborado pela OMS, e as taxas vêm crescendo de
tal forma que o País se encontra como o quarto em crescimento na América Latina. Em
relação aos suicídios de jovens, o Brasil registrou um aumento de 15,3%. Entre os anos de
2002 a 2012, a Região Norte registrou um aumento de 77,7% de suicídios. Alguns Estados da
Região Norte destacaram-se por duplicarem o número de casos de suicídios, como os Estados
do Acre, Amazonas e Tocantins (BATISTA, ARAÚJO, FIGUEIREDO, 2016)
2.1.2 Complicações do Suicídio na adolescência
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a vulnerabilidade associada à
doença mental, à depressão, a desordens relacionadas ao álcool (alcoolismo), ao abuso, à
violência, a perdas, à história de tentativa de suicídio, bem como à “bagagem” cultural e
social representam os maiores fatores de risco ao suicídio. É importante considerar que esses
aspectos, isoladamente, não são preditores do suicídio, mas as consequências deles derivadas
podem aumentar a vulnerabilidade dos indivíduos ao comportamento suicida.
Especificamente com relação ao suicídio adolescente, alguns estudos destacam os seguintes
fatores que podem constituir-se como risco: isolamento social, abandono, exposição à
violência intrafamiliar, história de abuso físico ou sexual, transtornos de humor e
personalidade, doença mental, impulsividade, estresse, uso de álcool e outras drogas, presença
de eventos estressores ao longo da vida, suporte social deficitário, sentimentos de solidão,
desespero e incapacidade, suicídio de um membro da família, pobreza, decepção amorosa,
homossexualismo, bullying, locus de controle externo, oposição familiar a relacionamentos
sexuais, condições de saúde desfavoráveis, baixa autoestima, rendimento escolar deficiente,
dificuldade de aprendizagem, dentre outros ( BRAGA; DELL'AGLIO, 2013).
O sexo masculino teve maior prevalência de suicídio, com uma razão que variou entre
3:1 e 7, 5:1. No sexo feminino, ocorreu maior taxa de tentativas, correspondendo a 66,65% do
total. Porém, a morte como resultado foi mais frequente no sexo masculino (76,5%) do que no
feminino (23,5%). Os homens tiveram um risco 6,98 vezes maior de morte durante uma
tentativa do que as mulheres. Além disso, a maioria das mulheres que o fizeram eram mais
jovens que os homens. A taxa de suicídio para homens e mulheres no Brasil foi de 5,8 e 2,3
por 100.000 habitantes, respectivamente (BURIOLA, et al, 2011).
O preconceito e o tabu envolvido nesse tema fazem com que haja omissão das famílias
e do próprio adolescente em relação ao tema resultando em subestimativa das estatísticas e
negligencia do atendimento do jovem (Souza et al,2015).
Em estudo de Revisão de Literatura sobre fatores de risco e prevenção na internet a
partir de casos de tentativa ou morte por suicídio nos quais a pessoas tiveram informações na
Web sobre como cometer o suicídio afirma que a cada dia torna-se mais comum à
participação de pessoas em grupos de suporte, autoajuda e discussão na internet facilitando à
ajuda principalmente em função do anonimato para pessoas com problemas de autoconfiança,
ideações paranoides ou desilusões ( PERREIRA; BOTTI, 2017).
2.1.3 Relação com a Enfermagem
O profissional enfermeiro atuante no serviço de saúde deve estar qualificado e
preparado para identificar as características que o paciente com potencial suicida apresenta,
como pensamentos e atitudes que evidenciam desesperança, desespero e desamparo. Deve-se
abordar o paciente de forma clara e cautelosa, mantendo a calma, empatia e abstendo-se das
atitudes julgadoras (REISDORFER, et al, 2015).
Durante o atendimento à pessoa que tentou suicídio foi relatado que uma das
primeiras e principais ações do enfermeiro junto à família desse indivíduo é a abordagem em
busca de informações referentes à ocorrência (BURIOLA, et al, 2011).
Embora a identificação dos fatores de risco ao suicídio seja importante para a
prevenção, os profissionais da saúde devem estar atentos para saber interpretá-los e manejá-
los de forma adequada. O simples reconhecimento dos fatores de risco não é suficiente para
evitar o suicídio, principalmente ao se considerar que muitos adolescentes expostos a
diferentes tipos de fatores de risco não desenvolvem pensamentos de morte. Além disso, a
ausência dos reconhecidos fatores de risco ao suicídio não impede que um adolescente possa
vir a tentar ou a cometer o suicídio (BRAGA; DELL'AGLIO, 2013).
Ao considerar que, a tentativa de suicídio e suicídio são uma forma de fuga de
problemas familiares e afetivos vivenciados por crianças e adolescentes, torna-se importante
investir em redes de apoio social na atenção primária e nas escolas, para prevenir a ocorrência
desse evento. Ademais, é preciso ampliar a orientação de adultos, responsáveis por essas
crianças e adolescentes, quanto cuidados sobre a guarda de agentes tóxicos e busca de
estratégias de manejo de problemas intrafamiliares e relacionais (ROSA, et al, 2015).
O apoio ao familiar é demonstrado de diversas formas pelos enfermeiros, e se
manifesta à medida que eles se dispõem a esclarecer dúvidas, prestar apoio psicológico,
oferecer um ambiente que possibilite privacidade e conforto, e principalmente dando atenção
à família que se encontra fragilizada. Todas estas manifestações constituem formas
diversificadas de oferta de cuidado verdadeiramente humanizado. Destaca-se a importância do
tema e a realização de novos estudos, pois são necessários para apoiarem, cada vez mais, as
ações dos enfermeiros na abordagem às famílias de pacientes que tentaram suicídio, para
aprimorar e gerar novas fontes de intervenções junto aos pacientes e aos serviços envolvidos,
buscando medidas preventivas que melhorem a qualidade da assistência prestada ao paciente
e sua família (BURIOLA, et al, 2011).
Referências:
BATISTA, Nathalia Oliveira; ARAÚJO, Jamille Rodrigues do Carmo de; FIGUEIREDO, Paulo
Humberto Mendes. Incidência e perfil epidemiológico de suicídios em crianças e adolescentes
ocorridos no Estado do Pará, Brasil, no período de 2010 a 2013. Revista Pan-Amazônica de Saúde,
v. 7, n. 4, p. 61-66, 2016.
BRAGA, Luiza de Lima; DELL'AGLIO, Débora Dalbosco. Suicídio na adolescência: fatores de
risco, depressão e gênero. Contextos Clínicos, v. 6, n. 1, p. 2-14, 2013.
BURIOLA, Aline Aparecida; DE OLIVEIRA, Magda Lúcia Félix; ARNAUTS, Ivonete; MARCON,
Sonia Silva; DECESARO, Maria das Nezes. Assistência de enfermagem às famílias de indivíduos
que tentaram suicídio. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v. 15, n. 4, p. 710-716, 2011.
DA ROSA, Natalina Maria; CAMPOS, Ana Paula dos Santos; GUEDES, Maria Regina Jupi; SALES,
Camila Cristiane Formaggi; MATHIAS, Thaís Aidar de Freitas; OLIVEIRA, Magda Lúcia Félix.
Intoxicações associadas às tentativas de suicídio e suicídio em crianças e adolescentes. Revista de
enfermagem UFPE on line-ISSN: 1981-8963, v. 9, n. 2, p. 661-668, 2015.
DE OLIVEIRA CABRAL, Symara Abrantes Albuquerque; BONFIM, Célio da Rocha; BEZERRA,
André Luiz Dantas; DE GÓES, Arcanjo Bandeira; FARIAS, Jordany Ramalho Silveira; GUEDES,
Karla Suylla Travassos; MELQUIADES, Mary Luce; DE SOUSA, Milena Nunes Alves. Fatores de
risco para o suicídio: um estudo de revisão. Informativo Técnico do Semiárido, v. 8, n. 1, p. 76-81,
2015.
JUNIOR, Carlos Alencar Souza Alves; NUNES, Heloyse Elaine Gimenes; GONÇAVELVES, Elaine
Cristina de Andrade; SILVA, Diego Augusto Santos. Comportamentos suicidas em adolescentes do
sul do Brasil: Prevalência e características correlatas. J Hum Growth Dev. 2016.
PEREIRA, Camila Corrêa Matias; BOTTI, Nadja Cristianne Lappann. O suicídio na comunicação
das redes sociais virtuais: Revisão integrativa da literatura. Revista Portuguesa de Enfermagem de
Saúde Mental, n. 17, p. 17-24, 2017.
REISDORFER, Nara; ARAUJO, Graciela Machado; GEWEHR, Taciana Raquel; NARDINO,
Janaine; LEITE, Marinês Tambara. Suicídio na voz de profissionais de enfermagem e estratégias
de intervenção diante do comportamento suicida. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 5, n. 2, p.
295-304, 2015.
SOUZA, Ana Claudia Gondin; BARBOSA, Guilherme Correa; MORENO, Vânia. Suicídio na
adolescência: revisão de literatura. Revista Uningá, p. 95-98, 2015.
VIEIRA, Rayssa Gabriele; DE ALMEIDA, Cristiane Ferreira Rallo; RODRIGUES, Gabriela;
GONÇALVES, Samara dos Santos; FRANÇA, Adrieli dos Santos; OLIVEIRA, Matheus Berthoud.
Prevalência e risco de suicídio no brasil e na cidade de barra do garças (mt): revisão de
literatura. Revista debates em psiquiatria, Mar/Abr 2017.