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Érica Kawane, Giovanna Barbosa, Sarah Manaia Munhoz, Thainá Aquino

SUICÍDIO E SETEMBRO AMARELO:


uma perspectiva psicossocial.

Avaliação apresentado à disciplina


de Psicologia Social Prática II, 2º
ano do curso de Psicologia da
UNIFIL, como requisito de
avaliação do 1º bimestre. Prof.
Alba

Londrina
2020
1.INTRODUÇÃO

No presente trabalho iremos abordar o fenômeno do suicídio por um viés


psicossocial assim como os fatores que envolvem e a sua prevenção. Com isso,
devemos ter em mente que quando falamos de prevenção ao suicídio é
necessário entender tudo que circunda tal tema, desde a sociedade, estado e
sua política, relações pessoais, questão biologia e psíquica. Desta forma as
políticas públicas possuem um papel essencial na prevenção do suicídio.
Levando em conta o contexto social de forma mais aprofundada, existem
diversas situações que podem auxiliar na prevenção do suicídio, assim como
outras podem agravar a situação. No decorrer do trabalho será apresentada a
discussão sobre essas com base e dados estatísticos e revisão bibliográfica.
2. DESENVOLVIMENTO

Quando falamos de prevenção ao suicídio devemos entender tudo que


circunda tal tema, desde a sociedade, estado e sua política, relações pessoais,
questão biologia e psíquica. Desta forma as políticas públicas possuem um papel
essencial na prevenção do suicídio.
Levando em conta o contexto social de forma mais aprofundada, existem
diversas situações que podem auxiliar na prevenção do suicídio como por
exemplo, uma vida estável financeiramente, uma boa relação com os familiares
e uma criação de uma outra família (filhos e esposo (a), a crença em algo
soberano (normalmente a religião) e várias outras que podem agravar tais casos,
como, transtornos afetivos como depressão, ansiedade, bipolaridade e outros
transtornos psíquicos, o isolamento e relações caóticas, história de vida negativa
como por exemplo casos de abusos psicológicos, físicos e sexuais, cultura.
Quando falamos em cultura é normal que em países ditos como mais
“egoístas” como descrito no artigo “Políticas Públicas de Prevenção do Suicídio
no Brasil: uma revisão sistemática”, isto é, a população não possui tanta
interação social no meio público e até mesmo em meio privado quando ocorre
um suicídio as pessoas conseguem lidar melhor com o acontecimento no que
em uma cultura mais interativa e acolhedora.

2.1 Políticas Públicas

As políticas públicas de prevenção em relação ao suicídio no Brasil, ainda


possuem muitas falhas, porém o Brasil foi o primeiro país da América Latina a
ter conduzido uma proposta nacional para a prevenção do suicídio desde 2005,
criando um plano nacional de prevenção do suicídio no quais os principais pontos
seriam a estruturação da rede de atendimento, incentivos à pesquisa e
capacitação de profissionais. Por conta ainda do tabu ser presente por grande
parte da sociedade houve a criação do setembro amarelo para conscientizar a
população sobre o assunto que é tão importante já que os índices de morte por
suicídio estão cada vez maiores, além disso cogitaram a introdução desse
assunto nas escolas porém existe diversos estudos que contestam essa medida.
Desta forma existe bastante atuação pública para cuidado e prevenção
porém não chega muito há mídias todas essas medidas, todavia existem muitos
caminhos na área da saúde como no sistema único de saúde (SUS) e programa
de promoção à vida e prevenção ao suicídio (PPS), que ajudou muito já que
sessenta porcento das pessoas que cometiam suicido iam a unidade básica de
saúde (UBS) e não eram identificados os sintomas corretamente, com isso, a
criação do PPS auxiliou a sistema de saúde e por fim as pessoas que de fato já
tentarem cometer suicídio são encaminhadas para o CAPS.
A conscientização pública se faz necessária por canais de ajuda e
atendimento humanizado para que as pessoas saibam onde procurar; a
descentralização das unidades básicas de saúde, abrangendo no plano nacional
um ponto específico para tais atendimentos em todos os municípios; a formação
e treinamentos adequados dos profissionais; a necessidade da quebra de tabu
em relação ao suicídio.

2.2 Dados estatísticos

Os dados estáticos feitos nos últimos anos o aumento de tentativa e


mortes por suicídio vem aumentando, de acordo com os dados do sistema de
informação de mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, em 2013 ocorreram
cerca de 10533 mortes por suicídio no Brasil, mais de 29 mortes por dia,
correspondente a uma taxa de 5,2 suicídios por 100 mil habitantes (Datasus,
2015).
No Brasil as taxas de morte por suicídio são consideradas baixas entre
1980 e 2000, se comparado com outros países, entretanto os números de
tentativa de suicídio eram significativos, porém em muito pouco tempo os
números de morte por suicídio cresceram, tento em vista que entre 1980 e 2006
a taxa no Brasil cresceu de 4,4 para 5,7 mortes por 100.000 habitantes, ou seja,
29,5%.
Embora exista uma grande diferença na taxa de morte por suicídio
levando em consideração a região, como por exemplo, no sul do Brasil é onde
se concentra a maior taxa, tal ocorrência não deixa de ser um problema de ordem
pública.
Quando se analisa a epidemiologia no Brasil entres os anos de 1980 e
2006 é notório as principais condicionantes que levam alguém a cometer suicídio
como o baixo nível educacional e estado civil solteiro e os principais métodos
utilizados são: o enforcamento, armas de fogo e envenenamento. Além da
população estudada, Oliveira e Neto (2003) ainda mostram um grupo mais
específico de nossa população com aumentos significativos nas taxas de
suicídio: os índios.
A Campanha Setembro Amarelo foi criada com o objetivo de levar ao
conhecimento à população as formas de prevenção ao suicídio e alertá-la a
respeito dessa problemática, já que tal tema é carregado de preconceito e
tabu, todavia, os resultados mostram que, no Brasil, as taxas de incidência
relacionadas ao suicídio apresentaram dados ascendentes após a
implantação do programa, apontando uma variação de mortalidade de 45
para 75 em 2013 e 2016, respectivamente, correspondendo a um aumento
de 66,6% na taxa de incidência entre os anos supracitados, conforme
notificações realizadas no DATASUS.
Desta forma, se faz necessário mais estudos sobre a eficácia da
campanha “setembro amarelo”, levando em consideração os números
crescentes de morte após o início da medida.

2.3 Perfil comportamental, fatores psicossociais e sociológicos

Cada indivíduo é único e apresenta seus valores e sua própria história e jeito
de ser, incluindo temperamentos, personalidades e vivências diferentes, esse fato
torna difícil a exposição de um perfil, um padrão de comportamento que nos
permita identificar as causas exatas do sofrimento de uma pessoa.
Apesar desta dificuldade, existem características existentes em boa parte
das pessoas com ideações suicidas, comportamentos verbais e não verbais aos
quais devemos nos atentar. Insinuações de cansaço da vida, desejo de morte ou
sofrimento; queixas relacionadas a uma angústia ou desconforto; humor apático;
perda de interesse em atividades que antes seriam consideradas prazerosas para
o indivíduo; falta de expectativas, sonhos e metas para o futuro; descuido consigo
mesmo em diversos sentidos como higiene, aparência física, ou com a saúde
como medicações contínuas, por exemplo; diminuição da interação com as
pessoas próximas; e até mesmo a resolução de pendências.
Existem diversos fatores que podem levar uma pessoa ao suicídio dizem,
porém, as principais causas identificadas dizem respeito às doenças psicológicas
preestabelecidas, tendo a depressão como principal e outras que podem
desencadear a depressão como o transtorno de bipolaridade, transtorno de
ansiedade e esquizofrenia, sendo essa última capaz de gerar delírios e
alucinações tão intensas que podem levar o indivíduo a cometer suicídio.
Há também os aspectos psicossociais que contribuem para a ocorrência do
suicídio em pessoas depressivas como problemas de relacionamentos
(desentendimentos familiares e términos amorosos, por exemplo), bullying, a
perda de um ente querido e situações de muito estresse como problemas com a
lei e encarceramento.
Existem também outras doenças que podem aumentar a probabilidade de o
indivíduo se tornar depressivo e consequentemente, cometer suicídio, como
AIDS, esclerose múltipla, epilepsia do lobo temporal e traumatismos cranianos
que são doenças que afetam o sistema nervoso e o cérebro. Há também certos
tipos de medicamentos utilizados em alguns tratamentos que podem causar a
depressão.
O suicídio também pode ser causado por experiências traumáticas na
infância como abuso físico e sexual, situações de abandono ou a perda de um
ente querido, devido ao fato de que alguns traumas experienciados em uma idade
precoce aumentam as chances de o indivíduo desenvolver depressão. No caso
de idosos, o suicídio pode ser uma consequência de doenças crônicas, muito
sérias ou dolorosas, que correspondem a um grande sofrimento ao indivíduo. O
consumo excessivo de álcool também é um fator que pode intensificar a
depressão e auxiliar na ocorrência de um suicídio visto que se refere a uma
substância que reduz o autocontrole e aumenta a impulsividade das pessoas.
É importante salientar que o que o indivíduo suicida busca não é a morte em
si, mas sim, o fim do seu sofrimento que se mostra insuportável e interminável.
Muitos suicídios são realizados em um ímpeto de forma impulsiva, quando o
indivíduo se encontra em uma situação de intenso desespero que compromete a
racionalização do indivíduo.
A Campanha do Setembro Amarelo (CSA) é uma ação social brasileira de
prevenção ao suicídio, com o objetivo de conscientizar a população a respeito das
doenças mentais e situações que podem causar o suicídio. Um mês inteiro falando
sobre o suicídio e sobre a importância de apoiar as pessoas ao nosso redor que
possam estar passando por um momento difícil.
A campanha foi implantada no Brasil em 2015, quando foi definido que
ignorar o assunto não estava fazendo nenhum bem para prevenir que o suicídio
ocorresse. Nos últimos anos, várias pesquisas foram feitas a respeito da
veracidade e efetividade do Setembro Amarelo.
Os resultados das pesquisas apontaram que houve um aumento significativo
nas taxas de suicídio desde a implantação da Campanha do Setembro Amarelo.
Segundo Oliveira, et al (2020, pg. 4) “O presente estudo objetivou analisar a
prevalência de notificação de suicídio no Brasil antes e após a CSA. Os resultados
apresentados demonstraram um aumento nas taxas de incidência nas
notificações de suicídio após a implementação da CSA, levantando
questionamentos acerca da eficácia do programa.”

“Os resultados da pesquisa mostram que, no Brasil, as


taxas de incidência relacionadas ao suicídio
apresentaram dados ascendentes após a implantação do
programa, apontando uma variação de mortalidade de 45
para 75 em 2013 e 2016, respectivamente,
correspondendo a um aumento de 66,6% na taxa de
incidência entre os anos supracitados, conforme
notificações realizadas no DATASUS.” (OLIVEIRA, ET AL,
2020, pg. 4)

Esses resultados geraram uma série de questionamentos a respeito dos


motivos que levaram às taxas de suicídio a aumentar após a introdução do
Setembro Amarelo. Algumas hipóteses relacionam essa situação a um efeito
negativo causado pela própria campanha ou devido a um aumento das
notificações dos casos de suicídio. A possível causa principal diz respeito ao efeito
contágio, que se refere ao reforçamento de ideações suicidas ocasionados pela
divulgação acerca do suicídio somadas à disseminação de valores e ideias
mostradas pela mídia.
Se faz necessário um cuidado maior a respeito do assunto e como ele é
abordado e exposto para o público. É preciso promover a demonstração de apoio
e empatia para com as pessoas com ideações suicidas em todos os meses do
ano e não só no Setembro Amarelo.
Além disso, o suicídio, por estar muitas vezes recorrente ser recorrente
da depressão, é visto apenas como caso clínico e individual, porém os fatores
sociais que o englobam devem ser ressaltados, tanto para uma possível
prevenção como também para conscientização.
Normalmente, em fazer de mudanças da vida, como na velhice e
adolescência, as exigências e normas sociais vão se alterando, dessa forma,
gerando eventos estressores para o ser.
Na adolescência, o índice de suicídio é frequente e isso ocorre a devido
as mudanças sociais. Alguns exemplos de fatores sociais e psicológicos são:
solidão e tristeza; desesperança; alterações de humor; divórcio dos pais;
alterações corporais; perda do interesse; abuso de substâncias e exposição à
violência; dentre outras demandas psíquicas e sociais que podem levar o jovem
a suicidar-se. A informação de centros como CAPS, CREAS e outros órgãos de
políticas públicas, são de extrema importância para que o indivíduo saiba que
tem onde possa recorrer.

2.4 O luto e estigmas sociais.

Atualmente o luto relacionado ao suicídio carrega ainda diversos estigmas


e preconceitos. Os familiares e pessoas próximas passam por um processo de
luto extremamente doloroso e cheio de questionamentos. Figueiredo et al.
(2012) e Fukumitsu e Kovács (2016) pontuam que é comum as pessoas se
sentirem perdidas e desoladas, após a morte devido a falta que sentem. Também
é possível afirmar, que o falecimento repentino e inesperado, gere oscilações de
humores no período enlutado, a raiva e culpabilização podem levar a pessoa a
um estado depressivo, ou ao abuso de substâncias e outras ações que possam
ser consideradas um refúgio.
Os estigmas sociais presentes na morte causada por suicídio também
podem gerar constrangimento ao enlutado, fazendo-o sentir necessidades de
isolamento e repensar seu modo de vida (Figueiredo et al. 2012). O enlutado se
vê sozinho ao passar por esses momentos por falta de reconhecimento e tabu
ainda presente na questão do suicídio. Contudo, um trabalho de prevenção e
pósvenção é de grande importância para o amparo e amenização dos
sentimentos destrutivos e desorganização, assim como os impactos causados
por esse tipo de morte.
3. CONCLUSÃO

Concluímos que o fenômeno do suicídio, apesar de ser algo que sempre


esteve presente em nossa sociedade, ainda é um assunto muito estigmatizado
e até mesmo visto como tabu. Contudo, como apresentado ao decorrer da
discussão do trabalho, se faz necessário o debate e disponibilização de
informações sobre o assunto para que a as pessoas possam derrubar seus
preconceitos e criar uma concepção mais realista e empática, até mesmo
pensando em formas de ajudar. Com isso podemos pensar em outras saídas
para as pessoas que sofrem com isso, tanto a família quanto o suicida, e fazer
com que a sociedade lide de forma mais saudável com um aspecto tão presente
e tão ignorado muitas vezes.
4. REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Larissa Mendes de; FARIA, Hila Martins Campos. O impacto


psicossocial do suicídio nos familiares sobreviventes. Cadernos de
Psicologia, Juiz de Fora, v. 1 , n. 2, p. 536-555, ago./dez. 2019

BRAGA, Luiza de Lima; DELL'AGLIO, Débora Dalbosco. Depressão na


adolescência: fatores de risco, depressão e gênero. Contextos Clínicos, vol.
6, n. 1, janeiro-junho 2013.

Links e periódicos:

Série temporal do suicídio no Brasil: o que mudou após o Setembro


Amarelo? https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/3191/1944

Suicídio, setembro amarelo e efeito contágio: um estudo ecológico em


Santa Catarina. https://www.riuni.unisul.br/handle/12345/7015

https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-
mental/comportamento-suicida-e-
automutila%C3%A7%C3%A3o/comportamento-suicida

https://pebmed.com.br/setembro-amarelo-quais-sao-as-caracteristicas-do-
comportamento-suicida/

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