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Renata Amado
Psicóloga Clínica e Hospitalar
CRP 01/17628
Situações de sofrimento intolerável podem levar
ao impulso para esse processo (de sofrimento)
resultando no ato suicida.
Há sinais que indicam riscos e, sendo
acompanhados, podem favorecer fatores de
proteção. O problema é que esses sinais podem
não estar claros, ou são camuflados porque a
pessoas não quer que ninguém saiba da sua
decisão. Por outro lado, há pessoas que querem e
precisam ser resgatadas.
O ato suicida é um pedido de socorro e demanda
ajuda. Entretanto, há aqueles que querem, de
fato, morrer. Os suicídios estão permeados de
AMBIGUIDADE
Para cada ato suicida, há várias
TENTATIVAS que podem indicar a
ambiguidade entre terminar uma vida sofrida
e buscar um recomeço.
Por isso é muito importante levar a sério cada
tentativa, cada menção a querer se matar,
ouvindo o que a pessoa precisa falar.
Tentativas de suicídio, principalmente se
recorrentes, são fatores de grande risco para
a consumação do suicídio.
Suicídios desafiam a sua compreensão, na busca
de explicações e de motivações.
Neste evento COMPLEXO, qualquer
resposta simplista, única, certamente leva a
equívocos; não há uma causa única que explique
por que as pessoas se matam. Suicídios são
eventos MULTIFATORIAIS de alta
complexidade.
Quem sabe da verdade sobre a razão suicida é a
pessoas, mesmo para ela as razões nem sempre
estão claras, podendo oscilar entre o desejo de
morrer e o de viver, de não mais viver a vida
atual com sofrimento.
Há suicídios impulsivos, em que a tentativa resulta
em morte. Há aqueles pensados por muito tempo, com
um planejamento meticuloso e silencioso.
O importante é que cada indivíduo tem a sua história,
que precisa ser conhecida – não adivinhada. Na base
há um elemento comum: o sofrimento que não
consegue ser expresso de outra forma. É a
comunicação importante de que algo não vai bem na
vida da pessoa.
Todos necessitam de respeito, atenção e cuidados, e
quem se sente vulnerável, humilhado, desamparado.
Há formas de diminuir os riscos, e elas devem ser
buscadas, mas sem a onipotência de que suicídios
serão zerados. É muito importante diminuir seu
número, mas o essencial é cuidar, da melhor forma
possível, do sofrimento presente na vida das pessoas.
Nós não somos
salvadores,
somos cuidadores!
TABUS
DESCONSTRUIR CRENÇAS!
UBERLÂNDIA - MG:
2011 a 2017 → HC/UFU
33 suicídios
577 tentativas de suicídio
(FACAS,2022 – trabalho de conclusão de curso enfermagem)
Fatores sociodemográficos:
- Sexo masculino;
- Adultos jovens (15 a 29 anos) e idosos;
- Estados civis viúvo, divorciado e solteiro;
- População LGBT;
- População indígena;
- População negra jovem.
Transtornos mentais:
- Depressão;
- Transtorno bipolar;
- Dependência de álcool e outras drogas;
- Esquizofrenia;
- Transtorno personalidade borderline.
DEPRESSÃO
DEPRESSÃO
EQUÍVOCOS:
Chamar de tristeza um quadro depressivo intenso, estável e
duradouro;
Crença de que o esforço pessoal consegue vencer a depressão;
Descumprimento de regras básicas do tratamento farmacológico.
Qual a probabilidade/risco da
pessoa vir a se matar?
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS GERAIS:
Dificuldades e perdas (reais ou imaginárias) nos
relacionamentos afetivos;
Mudança de situação socioeconômica
(principalmente dificuldades financeiras);
Discórdia e violência no ambiente familiar;
Impulsividade e agressividade.
Vergonha e vingança.
REGRA DOS D’S:
Estados afetivos que se associam a um maior risco de
suicídio:
Dor psíquica
Depressão
Desespero
Desesperança
Desamparo
Dependência química
Delírio
Delirium
Nos casos anteriores o suicídio pode ser visto
como solução para situações:
Intolerável
Inescapável
Interminável
IDEAÇÃO E INTENCIONALIDADE SUICIDA
“Diante das dificuldades que você me contou, algumas
pessoas poderiam pensar que a vida ficou difícil
demais. Você chegou a pensar que não vale mais a
pena viver?”
“Você pensa muito sobre morte, sobre pessoas que já
morreram, ou sobre a sua própria morte?”
“Quando você diz que preferiria estar morto, isso é, por
exemplo, um desejo de morrer devido a uma doença, ou
chega a pensar em suicídio?”
“Você pensou em suicídio durante essa última
semana?”
“Você se arrepende do que você fez?”
“Você planeja fazer novamente?”
“Você acha que os problemas atuais têm solução?”
“A vida vale à pena ser vivida?”
“Você tem planos para o futuro?”
Perguntar abre um espaço
para o acolhimento!
SEQUÊNCIA DE PERGUNTAS QUE
INVESTIGAM O GRAU DE INTENÇÃO:
Há meios acessíveis para cometer suicídio? (Armas,
andar onde mora, remédios ou inseticidas).
Qual a letalidade do plano e a concepção da
letalidade pelo paciente?
Alguma preparação foi feita? (Carta, testamento ou
acúmulo de comprimidos).
Quão próximo o paciente esteve de completar o
suicídio? O paciente praticou anteriormente o ato
suicida ou já tentou?
O paciente tem habilidade de controlar seus
impulsos?
Há fatores estressantes recentes que tenham
piorado as habilidades de lidar com as dificuldades
ou de participar no plano de tratamento?
Há fatores protetores? Quais os motivos para o
paciente se manter vivo?
COMPORTAMENTOS DE
AUTOMUTILAÇÃO
Exemplos: cortar-se, queimar-se, arranhar-se, bater-se.
Principalmente adolescentes e jovens adultos.
Causas:
Crença de que provocar ferimentos em si mesmo é uma forma de
tentar diminuir ou resolver um sofrimento ou uma dor emocional (A
dor física é mais específica e, as vezes, mais fácil de se lidar do que
uma tristeza profunda, uma raiva intensa ou uma sensação de vazio
no peito, de não pertencimento).
Entranhamento do próprio corpo, não aceitação do próprio corpo.
Sentimento de culpa, crença de que deve ser punido por algo errado
que fez.
(Dados: Ministério da saúde)
Frases de alerta:
“A vida não vale a pena ser vivida”
“Eu preferiria estar morto”
“Não tem solução”
“Eu queria poder dormir e nunca mais acordar”
Atenção:
Ética profissional.
Risco médio
Manejar:
Total cuidado com possíveis meios de cometer suicídio que possam estar no
próprio espaço de atendimento;
Escuta terapêutica que o possibilite falar e clarificar para si sua situação de
crise e sofrimento;
Investimento nos possíveis fatores protetivos do suicídio;
Faça da família e amigos do paciente os verdadeiros parceiros no
acompanhamento.
Risco alto
Manejar:
Estar junto da pessoa o máximo de tempo que for possível;
Total cuidado com possíveis meios de cometer suicídio que possam estar no
próprio espaço de atendimento;
Informar a família da forma já sugerida.
Internação?
Internação domiciliar.
A questão do contrato de não agressão
A questão do contrato de não agressão é questionável, pois gera uma
falsa sensação de segurança. É melhor confiar em reavaliações
frequentes do risco de suicídio, acompanhadas de ações que de fato
proporcionam segurança. Exemplos: Você me dirá como está se
sentindo, se sente que ainda há o perigo de um suicídio,
continuaremos com os nossos encontros, eu farei ligações
esporádicas, você fará ligações quando se sentir mal.
Unidade de urgência/emergência
O manejo terá três objetivos: reduzir o risco imediato; manejo
dos fatores predisponentes; e acompanhamento.
Vigilância 24 horas deve ser estruturada por alguém da equipe
de saúde ou cuidador, se for avaliado como capacitado, até a
reavaliação médica.
Utensílios que podem ser usados para machucar (facas,
instrumentos pontiagudos, remédios, cintos e cordas) devem
ser retirados do acesso do paciente , assim como a bolsa do
mesmo deve ser revistada para avaliar a presença destes.
Portas, inclusive do banheiro, não devem ser trancadas.
A transferência de pacientes entre instituições deve ser feita
de ambulância, e não pelos familiares;
Os pacientes com alto risco de suicídio e frágil suporte social
devem ser internados em instituição especializada.
Se salvar (desorganização, dor, analogia leão), honra (oriental), desistir dele
(dor insuportável – psycache), desistir do mundo (o que te faria ficar?), punir o
outro (com a sua falta, ausência).
Espaço e ações para que a pessoa se fortaleça, para que ela possa falar sem
vergonha, sem julgamento.
Escuta: é só isso? Não, é tudo isso! Por isso que o CVV faz tanto sucesso e
acolhe.
Respeitar a vida realmente pode ser dura mesmo, sem sentido. Ao mesmo
tempo a gente não deve sancionar. Ela precisa falar, naquele momento ela
precisa dividir.
Limites
Ao lidar com comportamento suicida deve ficar claro para o terapeuta o limite da sua
responsabilidade, de forma a tomar todas a iniciativas e a procurar todos os recursos que
resultem em ações de proteção à vida.
Ficar paralisado
Sentir uma grande angústia diante dos tormentos avassaladores de uma pessoa em crise
e, em alguns momentos não saber o que pensar é normal. Precisamos dessa angústia e
tensão para depois transformá-la em pensamentos calmos e aceitáveis, para conseguir ir
buscando a teoria e a experiência na mente. Reflita até que ponto é esse “ficar paralisado”.
É literalmente paralisado e te atrapalha a atender, a trabalhar? Repensar: eu dou conta
desse tipo de demanda?
Sentir-se manipulado
Muitos pacientes aprenderam a usar ameaças suicidas de maneira coerciva e
manipuladora, como um meio de controlar as pessoas ao seu redor. Pode ser uma forma
do paciente se sentir seguro e receber atenção. Se o terapeuta reagir com distanciamento
ou indiferença, provocará sentimentos de desvalorização na pessoa, às vezes alimentando
uma necessidade de vingança. Cuidado com a responsabilização que o paciente impõe
sobre o terapeuta, e cuidado com a responsabilização que você, como terapeuta coloca.
PRINCÍPIOS
Atenção, carinho, respeito e técnica.
Habilidade para se dispor com atenção, carinho, respeito e
técnica.
Não somos salvadores! Somos cuidadores!
Entenda as suas limitações!
Não consigo ajudar quem não quer se ajudar.
A gente precisa lidar com a situação de impotência e de
fracasso.
Aprender a tolerar a falta de sentido do outro. A falta de
sentido é uma questão subjetiva, única. Cuidado para não
impedir alguém de fazer algo que no fundo vai me agredir.
Não necessariamente é um fracasso, é um ato humano, que
mostra o que nós temos de trágico, de desespero, de vida sem
sentido.
Aceitar esse lugar de não saber. A questão morre com o outro.
Errado a gente achar que sabe mais da pessoa do que ela
mesma.
O CUIDAR
“Atender, cuidar de um paciente com intenções
suicidas é uma tarefa desafiadora e estressante.
É preciso suportar a angústia e circular pelo
inferno pessoal do paciente. Ainda que o caráter
letal da crise suicida exija ação (providências
para manter o paciente salvo), em muitos
momentos deve-se simplesmente ouvir, mantendo
o silêncio atento e digno de um companheiro de
jornada. Ao mesmo tempo, em uma atitude de
introspecção, vamos examinando os sentimentos
que aquela situação desperta em nós”.
(Botega, 2015)
MORTE DE PACIENTE
Há diferença entre ser responsável pelo
tratamento de um paciente e ser responsável pela
vida dele. Quando o profissional se permite
aceitar que o paciente, apesar de todos os seus
esforços, poderá sim se matar, paradoxalmente o
profissional consegue se sentir mais seguro,
tranquilo e capaz. Temos uma limitada
capacidade para prever, tratar e prevenir o
suicídio: esta é a mensagem que o terapeuta deve
sempre repetir a si mesmo. Essa mensagem deve
ser passada aos pacientes e familiares.
Se ame e seja amor. Se permita errar.
Bráulio Bessa
https://www.youtube.com/watch?v=cBU
MVBbG3E8&t=28s
Recomece
(Bráulio Bessa / Thathi) – Thathi feat. Ana Vilela
https://www.youtube.com/watch?v=esUYcvzFfVA
BOTEGA, N. J. Crise Suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre:
Artmed; 2015.
Brasil. Conselho Federal de Psicologia. Exposição na mídia de casos
de suicídio pode ter efeitos prejudiciais à saúde mental da população.
Brasília, 2021.
FACAS, Maria Eduarda Sulino. Casos de suicídios e tentativas de
suicídio atendidos em um Hospital Universitário em Uberlândia,
Minas Gerais. 2021. 33 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em Enfermagem) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia,
2022.
Brasil. Ministério da Saúde. Lei Federal nº 13.819, 2019. Institui a
política nacional de prevenção da automutilação e do suicídio.
Scavacini, K. Suicídio: um problema de todos. Como aumentar a
consciência pública na prevenção e na posvenção. Novo Hamburgo:
Sinopsys Editora, 2022.
Uberlândia. Prefeitura da cidade de Uberlândia. Relatório de gestão,
2018.
https://www.gov.br/saude/pt-br
Associação Brasileira de Psiquiatria
https://www.abp.org.br/
Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio
https://abeps.org.br/
Conselho Federal de Psicologia
https://site.cfp.org.br/
Instituto Vita Alere
https://vitaalere.com.br/
Setembro Amarelo
https://www.setembroamarelo.com/
CVV
https://www.cvv.org.br/
Google acadêmico
https://scholar.google.com.br/?hl=pt