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PRIMEIRO ATENDIMENTO DO RECÉM-NASCIDO NA SALA DE PARTO

Letícia Machado Acosta


Ana Luiza Tainski de Azevedo
Mateus Lusa Bordin
Manuel Antonio Ruttkay Pereira

UNITERMOS
PEDIATRIA; RECÉM-NASCIDO; EXAME FÍSICO.

KEYWORDS
PEDIATRICS; INFANT, NEWBORN; PHYSICAL EXAMINATION.

SUMÁRIO
Esse artigo é uma revisão bibliográfica sobre o primeiro atendimento do
recém-nascido e o primeiro exame físico realizado na sala de parto. Aborda
também a importância do primeiro contato do bebê e de sua mãe e da presença
do pai na hora do parto. Tem o objetivo de revisar o primeiro atendimento ao
recém-nascido que é fundamental na redução de óbitos e sequelas
neurológicas.

SUMMARY
This article is a literature review on the first care of the newborn and the
first physical examination in the delivery room. It also discusses the importance
of the first contact of the baby and his mother and father's presence during
childbirth. It aims to review the first care of the newborn that is critical in
reducing deaths and neurological sequel.

INTRODUÇÃO
O período neonatal é de extrema vulnerabilidade para a criança que está
completando os muitos ajustes fisiológicos necessários para a existência extra-
útero. As elevadas taxas de morbidade e mortalidade atestam a fragilidade da
vida neste período.1 Os recém-nascidos que não fizeram essa transição
adequadamente irão necessitar de assistência em sala de parto para o início da
sua respiração. Aproximadamente 10% das crianças necessitam de atendimento
para iniciar a respiração, e 1% irá necessitar de manobras agressivas para
sobreviver.2 O atendimento inadequado leva ao quadro de asfixia neonatal com
sequelas neurológicas. Consequentemente, o atendimento adequando do
recém-nascido pelo pediatra em sala de parto reduz a mortalidade neonatal e o
número de sequelas neurológicas.

HISTÓRIA DO RECÉM-NASCIDO
A obtenção dos primeiros dados importantes relativos ao recém-nascido é
feita pouco tempo antes do seu nascimento. Sempre que possível, a obtenção
das informações deve ocorrer logo após a entrada da gestante, no início do
trabalho de parto. Muitos dos dados necessários podem também ser obtidos a
partir do cartão de acompanhamento pré-natal da gestante e do prontuário
médico da paciente, quando houver.3
A história clínica do recém-nascido deverá conter dados sobre
antecedentes dos pais, de outras gestações, incluindo história de anomalias
congênitas, partos e evoluções das crianças. Ainda deverá constar a evolução da
gestação atual, exames pré-natais e fatores de risco para sepse.4

PREPARO PARA ASSISTÊNCIA


Em qualquer nascimento o pediatra deverá estar preparado para a
reanimação neonatal. É necessário que em cada atendimento em sala de parto
esteja presente um profissional habilitado em reanimação. Nos casos em que
houver condições de risco, duas pessoas deverão estar presentes no momento
da reanimação.2 Os equipamentos deverão ser conferidos e testados antes do
parto, mantendo-se o berço aquecido ligado e os campos e as compressas
aquecidas. Deverá sempre ser testada a rede de oxigênio e vácuo, assim como o
funcionamento do balão auto-inflável e o laringoscópio.5 Esse material é
destinado à manutenção da temperatura, aspiração de vias aéreas, ventilação e
administração de medicações.3

PROTEÇÃO
Em todo parto o pediatra deverá usar material de proteção contra agentes
infecto-contagiosos, tais como luvas, óculos, máscara e avental. Esses
equipamentos além de servirem como proteção ao pediatra também reduzem o
risco de infecção para o recém-nascido, pois as luvas devem ser estéreis e a
escovação das mãos até os cotovelos é obrigatória. O campo em que o recém-
nascido será envolto e aquecido deve ser estéril.2

SALA DE PARTO
Após o nascimento, o cuidado neonatal imediato inclui secar a criança,
aspirar as secreções das vias aéreas e aquecê-lo. Durante o cuidado inicial na
sala de parto se realiza a avaliação rápida do estado clínico do neonato,
respondendo as seguintes perguntas:6
1) Ausência de mecônio?
2) Respirando ou chorando?
3) Bom tônus muscular?
4) Rosado?
5) Gestação a termo?
Se todas as perguntas foram respondidas afirmativamente, o neonato não
necessita de maiores intervenções, sendo realizado apenas a aspiração da boca
e do nariz (vácuo ou bulbo), secagem e desprezo dos campos úmidos. Após
esses procedimentos, o bebê deve ser posicionado no tórax e/ou no abdome
materno.2
Se alguma das perguntas anteriores apresentou resposta negativa, o bebê
necessita de maior avaliação e intervenção.
A determinação da necessidade de reanimação e a avaliação de sua
eficácia dependem da avaliação simultânea de dois sinais:
1) Respiração
2) Frequência cardíaca (FC)
A FC é o principal determinante da decisão de indicar as diversas
manobras de reanimação. Logo após o nascimento, o bebê deve respirar de
maneira regular e suficiente para manter a FC acima de 100 batimentos por
minuto (bpm). A FC é avaliada por meio da ausculta do precórdio com
estetoscópio ou pela palpação do pulso do cordão umbilical. A avaliação da
coloração da pele e das mucosas do bebê não é mais utilizada para decidir
procedimentos na sala de parto.3

ESCORE DE APGAR
O Escore de Apgar (Tabela 1) quantifica e sumariza a resposta do recém-
nascido à vida extra-uterina e às medidas de reanimação. Um valor de 0 a 2 é
dado a cada um dos cinco itens. Os cinco valores são adicionados, sendo a soma
dos itens o Escore de Apgar. Essa avaliação é feita com 1 e 5 minutos após o
nascimento.2,6 Se o escore é inferior a sete no 5º minuto, recomenda-se sua
aplicação a cada cinco minutos até 20 minutos de vida.3 O Escore de Apgar não
deve ser utilizado para determinar o início da reanimação nem as manobras a
serem instituídas no decorrer do procedimento. No entanto, sua aferição
permite avaliar a resposta do bebê às manobras realizadas e a eficácia dessas
manobras.1,3

Tabela 1 - Escore de Apgar


ESCORE
SINAL 0 1 2
Freqüência Cardíaca Ausente Baixa (100 bpm) > 100 bpm
Respiração Ausente Lenta, irregular Choro forte
Tônus Muscular Flácido Alguma flexão Movimentos ativos
Irritabilidade Reflexa Sem resposta Careta Tosse, espirro e choro
Cor Azul ou pálido Corpo rosado, Completamente rosado
extremidades azuis

HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO
Logo após o nascimento, em situações de ausência de complicações
materna e neonatal, a interação precoce entre a mãe e o seu filho deve ser
estimulada. O neonato vigoroso pode ser secado e deixado nu sobre a pele de
sua mãe. Campos aquecidos são colocados sobre os dois no intuito de minimizar
a perda de calor.7 O contato pele a pele reduz o risco de hipotermia em recém-
nascido a termo e maximiza interação mãe-bebê.3 Nesse momento, pode-se
iniciar a amamentação.
A presença do pai deve ser estimulada durante todo o trabalho de parto e
ao nascimento de seu filho.2

PRIMEIRO EXAME FÍSICO


O exame físico do recém-nascido deve ser feito na primeira hora de vida.
Tem como finalidade principal detectar a presença de alguma anomalia
congênita, se houve possíveis danos ao recém-nascido causados pela gestação,
pelo trabalho de parto, uso de drogas usadas pela mãe, ou se há algum sinal de
infecção ou distúrbios metabólicos.
Verifica-se a presença de duas artérias e de uma veia umbilical, pois a
existência de artéria umbilical única pode associar-se a anomalias congênitas.
A passagem de uma sonda gástrica em cada narina durante o atendimento
inicial permite analisar a permeabilidade das coanas nasais. A dificuldade ou a
impossibilidade de realizar tal procedimento levanta a suspeita de atresia de
coanas.
O grau de esforço respiratório é um importante sinal do bem-estar do
recém-nascido. A frequência respiratória varia de 40 a 60 mpm, eles
apresentam respiração torácica sincronizada com a respiração abdominal, sem
retrações visíveis.
Na boca verifica-se se há presença de lábio leporino ou fenda palatina.
A postura do recém-nascido reflete suas condições físicas, com ele
adotando uma posição semelhante à intra-uterina. Um recém-nascido a termo
fica numa postura predominantemente flexora.
Verifica-se a permeabilidade anal, posição e tamanho do ânus. Descartar
ânus imperfurado e presença de fístulas.
Na genitália masculina verifica-se o tamanho do pênis (3,5 a 5 cm),
testículos na bolsa escrotal, hérnias inguinais, hipospádias ou epispádia e
ambiguidade sexual. Na genitália feminina verifica-se abertura vaginal, clitóris e
lábios.
Medidas antropométricas incluindo peso, comprimento, perímetro
cefálico, torácico e abdominal são realizados.

PREVENÇÃO DA CONJUNTIVITE GONOCÓCICA


A profilaxia da conjuntivite gonocócica é feita com a instilação de nitrato
de prata a 1% na bolsa conjuntival inferior. Outras alternativas para a prevenção
da conjuntivite gonocócica são: pomada de eritromicina a 0,5% ou de
tetraciclina a 1%.2,3

PREVENÇÃO DA DOENÇA HEMORRÁGICA


Os recém-nascidos têm baixos níveis de fatores de coagulação
dependentes de vitamina K. Além de o transporte dessa vitamina ser deficiente
através da placenta, os recém-nascidos não a produzem. A prevenção é feita
com a administração de vitamina K na primeira hora após o nascimento.2,3
Doses:
RN > 1500g Vitamina K 1 mg IM
RN < 1500g Vitamina K 0,5 mg IM

REFERÊNCIAS
1. Jenson HB, Kliegman R, Behrman RE. Nelson: tratado de pediatria. 18ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier;
2009.
2. Nader, SS, Pereira, DN. Atenção integral ao recém-nascido – guia de supervisão de saúde. Porto
Alegre: Artmed; 2004.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção a saúde do recém-nascido – guia para profissionais de saúde.
2ª ed. Vol. 1, Cuidados gerais. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.
4. McKee-Garrett, TM. Assessment of the newborn infant. In: UpToDate. [Database on Internet].
19.0;2013 [updated Mar 21, 2013]. Disponível em:
http://www.uptodate.com/contents/assessment-of-the-newborn-
infant?detectedLanguage=en&source=search_result&translation=assessment+of+the+newborn+inf
ant&search=Assessment+of+the+newborn+infant&selectedTitle=1%7E150&provider=google
5. Margotto PR, Resende JG. Assistência ao recém-nascido na sala de parto [Site na Internet]. In:
Margotto PR, editor. Assistência ao Recém-Nascido de Risco. 2ª ed. [Brasília]; 2004. Disponível em:
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgAgcAE/assistencia-ao-recem-nascido-risco-10-1-assis-
sala-parto.
6. McKee-Garrett, TM. Overview of the routine management of the healthy newborn infant.
UpToDate. [Database on Internet]. 21.6 - C21.98;2013 [updated Nov 27, 2012]. Disponível em:
http://www.uptodate.com/contents/overview-of-the-routine-management-of-the-healthy-
newborn-infant?topicKey=PEDS%2F5068&elapsedTimeMs=0&source=search_
result&searchTerm=Overview+of+the+routine+management+of+the+healthy+newborn+infant&sel
ectedTitle=1%7E150&view=print&displayedView=full
7. Berens P. Overview of postpartum care. UpToDate. [Database on Internet]. 21.6 - C21.98; 2013.
[updated: Abr 25, 2013]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/overview-of-
postpartum-
care?detectedLanguage=en&source=search_result&translation=overview+of+postpartum+care&se
arch=Overview+of+postpartum+care&selectedTitle=1%7E150&provider=google.

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