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INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE
AULA 5
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13/03/2024, 19:38 UNINTER
CONVERSA INICIAL
Nas aulas anteriores foram apresentados o contexto e alguns pressupostos da teoria psicanalítica
conforme foram elaborados por Sigmund Freud a partir de sua experiência clínica. É possível perceber
que a clínica é soberana à teoria, pois a teoria vem depois da experiência clínica e não ao contrário.
A psicanálise se caracteriza por ser especulativa, o que levou Freud a chamá-la de "feiticeira". A
psicanálise se interessa, investiga e posteriormente teoriza sobre o aparelho psíquico, se
Freud acreditava que a falta de evidências sobre os processos mentais ainda seria esclarecida no
futuro.
Na aula de hoje, vamos acompanhar como se deu a ampliação do ponto de vista, distanciando a
psicanálise da neurologia e fortalecendo como uma nova área de conhecimento. O objetivo com essa
aula é conhecer como a psicanálise fez parte da clínica de diferentes psicanalistas para avançar na
nossa intenção de introduzir os temas que o curso irá apresentar ao longo deste processo de
formação.
Freud deixou um legado! Ele percebeu uma lacuna de conhecimento no meio médico, não
encontrou em sua época fundamentos para orientar a análise do inconsciente cientificamente e, a
partir de sua experiência clínica, formulou a teoria psicanalíticas para sustentar a clínica.
Inicialmente, influenciado pelo papel de médico neurologista, Freud acreditou que a ciência
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psíquicos como algo da linguagem, que fala da subjetividade do ser humano. Não se trata de uma
verdade factual, mas, sim, a um modelo explicativo sobre os processos mentais.
Depois de Freud e ainda hoje, nós temos a teoria antes da clínica e justamente por isso corremos
o risco de sermos tecnicistas, ao subordinar a clínica à teoria.
Um cuidado que se deve ter constantemente é para não "enquadrar" ou "ajustar" a pessoa à
teoria, "fazer caber", pois essa atitude distancia completamente o terapeuta do método psicanalítico.
Um exemplo seria subentender qual é o conflito da criança pela idade que ela tem. Isso por
significado aos elementos do sonho. Dentre o inestimável legado de Sigmund Freud destacamos aqui
que:
atenção flutuante
“esvaziamento da chaminé” para se referir à sensação de alívio produzida por falar de si ao médico. Já
comunicavam seus desejos inconscientes através de fenômenos tais como atos falhos, sonhos e
esquecimentos e outros sintomas compreendidos como manifestações do inconsciente. O que se
apresentava era uma verdade diferente daquela do discurso racional, em que o paciente conta ou
relata algo sobre si. Na associação livre, o paciente ao falar inicia uma série de encadeamentos que se
Exemplo: uma paciente chega ao consultório médico queixando-se de uma dor intensa e
constante que a impede de manter suas atividades cotidianas desde as mais simples como arrumar a
casa e trabalhar. Ao narrar ao médico como é essa dor, a paciente relata que ela é intensa, e muda de
lugar no seu corpo, cada hora dói uma parte do corpo. Ela explica que nenhum remédio é eficaz para
apaziguar a sua dor: já utilizou “todos” os analgésicos, fez terapias alternativas e visitou muitos
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profissionais que nunca encontraram as causas da sua dor, não se tratava de nenhum problema
neurológico ou muscular. Não se identificou nada nos exames de imagem e nem clínico e disse ao
médico que ele era a última tentativa em seu desespero. O médico de fato constatou em seu exame
clínico e estudando os exames trazidos pela paciente que “ela não tinha nada” e sugeriu que ela
procurasse um psicanalista. Um pouco surpresa, e talvez decepcionada por não obter mais uma vez
uma resposta objetiva sobre o mal que a acometia, ela pensou que o médico a estava acusando de
“ser louca”. Contrariada, mas sem mais esperança, marcou uma hora com a psicanalista só para
“desencargo de consciência”: afinal, mal não poderia fazer, tinha certeza que de nada adiantaria esse
expediente de consultar alguém sobre uma dor que sentia no corpo: ora, ela pensava “– Eu não sou
Eis que, no dia e hora marcados, ela vai ao encontro da psicanalista, e, chegando lá ela é
convidada a falar sobre o que está se passando com ela, relatando tudo o que lhe vier a cabeça e aos
poucos ela começa a perceber quando surgiram as dores: em uma época difícil da sua vida, após a
separação de seu marido. Falou sobre a vergonha social que sentiu, a dor de ter sido traída e quando
percebeu chorava enquanto falava sobre o que ela sabia, mas que evitava pensar. A sessão, era assim
que a psicanalista chamava a consulta, passou rapidamente, e ela se sentiu mais leve, as situações
mais claras. A psicanalista a convidou para ir novamente à uma sessão, na semana seguinte, no
mesmo dia e no mesmo horário, se a paciente quisesse. Ela pensou que não custava ir mais uma vez
(apesar de considerar o preço correspondente ao valor da sessão), mas só mais uma vez não iria fazer
Durante a semana, percebeu que suas dores tinham diminuído em frequência e em intensidade,
mas pensou que poderia ter sido porque deixou de comer doces, ou um certo queijo, ou ainda
porque tinha trocado o colchão para aliviar as dores.
Foi à sessão seguinte. Percebeu que falava coisas que já sabia, mas que não lembrava que sabia.
E, assim, na semana seguinte, e na outra e na outra ainda. Era preciso reconhecer que suas dores
estavam diminuindo significativamente e que talvez a dor da separação conjugal, que tinha sido
colocada em palavras naqueles encontros diferentes com uma pessoa que ela mal conhecia, a
estavam curando: ela estava conseguindo aproveitas os dias com seus filhos, estava voltando a
trabalhar e até indo comprar algumas roupas que combinavam com o seu novo jeito. E ela pensou:
como pode ela ter me tratado sem remédios? Só conversando? Pois é. Isto se chama psicanálise.
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É necessário coragem para encarar a dor no lugar de negá-la. Difícil, mas necessário.
E para onde leva a psicanálise? Para a autonomia, para o reconhecimento de si. Essa é a ética da
psicanálise: "Cada interpretação reconduz o sujeito à escolha de seu desejo e de seus modos de gozo,
levando em conta que a ética da psicanálise é manter a estrutura de falta do inconsciente" (Santoro,
V. 2006, p. 61).
A psicanálise leva àquele lugar que sobra depois de ser retirado o excesso (per via de levare –
pela via de retirar). Durante a vida as pessoas são levadas, por ação da cultura, a se adaptar, se ajustar,
fazer o que é esperado socialmente das pessoas na sua geração: estudar, trabalhar, casar, ter filhos,
adquirir bens etc. É uma série de "ter que" como bem exemplificado no filme Happiness, de Steve
Cutts, 2017[1].
Uma conduta massificada, em uma sociedade capitalista, heteronormativa que segue seu rumo
sem se dar conta da subjetividade aniquilada em cada um. A psicanálise leva ao resgate da
subjetividade, mesmo que doa, mesmo que contrarie, mesmo que incomode, para que então o sujeito
Chegar a este lugar onde nos leva a análise é de muita responsabilidade, pois as pessoas sofrem
com o problema. Por outro lado, o problema lhe traz compensações (ganhos secundários) às quais
nem sempre é fácil renunciar. Se dar conta disso e assumir seu papel de protagonista, de quem atua
para se manter no lugar que ocupa e do qual se queixa, é, geralmente, muito pesado.
Para Freud, as pessoas deveriam chegar na autonomia, ou seja, aprender a lidar com as situações,
com as tendências, com os desejos, especialmente os mais infantis. Sobre isso é preciso entender um
pouco mais sobre "A Ética da Autonomia".
Em "O Mal-Estar na Civilização" (Freud, 1929/1986), Freud fala sobre o mal-estar que a
consciência da autonomia e a liberdade provocam. Enquanto a pessoa se perceber vítima de uma
história de vida que a determinou assim, ela de certa forma apazigua seu sofrimento, pois encontra
um sentido para seu estado/sofrimento. Entende que algo ou alguém superior quis assim, o que a
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Em sendo vítima, a pessoa segue o fluxo: estuda, trabalha, casa, tem filhos, consome bens e
serviços e a vida se repete de geração em geração. Essa postura acrítica em relação a si anula
qualquer subjetividade e internaliza um padrão social que pode ser a fonte de suas queixas, mas que
A analogia pode ser feita com uma gaiola aberta, mas onde a pessoa permanece dentro, se
sentindo prisioneira. Essa situação, muito frequentemente relatada pelos pacientes nas entrevistas
preliminares, é um exemplo do que Freud teorizou posteriormente sobre a relação entre o princípio
Para Freud, cada indivíduo deveria superar o que seria a tendência universal ao infantilismo, ou
frustrações que a realidade impõe, tornando-se autônomo e não escravo dos desejos, sobretudo os
infantis: “A ética da autonomia”.
Na técnica psicanalítica, o terapeuta deve agir conforme o princípio da abstinência, ou seja, agir
no sentido de desconstruir os mecanismos de defesa: "o tratamento analítico deve ser efetuado, na
medida do possível, sob privação – num estado de abstinência" (Freud, 1919/1986, p. 205). Vamos nos
ater a este trecho entre vírgulas: na medida do possível. Em alguns casos, há o perigo de descontruir e
fragilizar ainda mais uma mente enferma. Ao escrever sobre as linhas de progresso na terapia
psicanalítica no mesmo ano em que se encerrava a primeira guerra mundial, em um contexto social
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marcado por importante vulnerabilidade emocional entre as pessoas, Freud (1919/1986) se preocupa
com o risco de oferecer muita análise e pouca síntese ao paciente, ou seja, interpretar muito suas
defesas, fragilizando suas resistências sem ajudá-lo no processo de reorganização, pois na verdade é
Freud reconhece que existem pessoas tão pouco preparadas para a vida, que é preciso, com
Não podemos evitar de aceitar para tratamento determinados pacientes que são tão desamparados
e incapazes de uma vida comum, que, para eles, há que se combinar a influência analítica com a
educativa; e mesmo no caso da maioria, vez por outra surgem ocasiões nas quais o médico é
No entanto, Freud se referiu a este método como uma nova técnica diferenciando do método
psicanalítico clássico.
Para o futuro psicanalista, é indispensável a leitura deste texto (Linhas de progresso na terapia
psicanalítica) que está publicado nas Obras Completas, datado de 1919, lido por Freud durante o
setembro de 1918, e tem muita ênfase nos métodos ativos de tratamento, posteriormente atribuídos
à Ferenzi.
psicanalítica, no entanto, sempre criticados por colegas psicanalistas como sendo uma rendição do
método às demandas sociais, fazendo com que a psicanálise se adaptasse ao que o contexto pós-
guerra precisava. Inegável que a sociedade precisava de atenção à saúde mental no contexto da
guerra mundial, assim como vimos ser necessária a atenção no contexto da pandemia COVID-19, mas
o que se questionava na época era se seria a psicanálise que deveria reformular seu método ou se
deveria ser criado um método para atender essa demanda social.
A situação que se colocava era a de que para diferentes pessoas precisam ser planejadas
diferentes intervenções, como se fosse um princípio da equidade. Quanto mais “saudável” a pessoa,
mais autonomia e autocuidado são esperados. Quanto mais vulnerável, mais frágil emocionalmente,
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quanto menor ou pior for a sua rede de apoio social, maior deve ser a preocupação do terapeuta com
Na clínica psicanalítica clássica, a ênfase é pela não gratificação, pela privação e abstinência.
O método ativo teve sua origem na psicanálise e inicialmente foi apresentado como uma
proposta de alteração na técnica psicanalítica para encurtar a duração dos tratamentos, que eram
muito longos e inacessíveis à maioria das pessoas.
Alguns casos atendidos por Freud tiveram curta duração e bons resultados. Gilliéron E. (1993, p.
6) apresenta um levantamento dos casos para mostrar o quanto foram considerados exitosos mesmo
breves, feitas durante conversas em passeios a tarde ou no tempo de uma viagem de trem, também
Os benefícios de um tratamento mais curto foram percebidos pelo próprio Freud, por exemplo,
no caso “Homem dos Lobos”, tratado durante 5 anos e publicado em 1918. Nesse caso, Freud
percebia importante resistência do paciente, sem avanços no tratamento psicanalítico. Decidiu então
por determinar uma data para a análise terminar e pressionado por essa data, o paciente cessou sua
resistência e entregou-se ao processo psicanalítico que evoluiu tão rapidamente que em nada se
Freud, Otto Hank e Sándor Ferenczi eram colegas de trabalho, amigos, trabalhavam em Viena (na
Áustria) e discutiam juntos a possibilidade de assumirem postura mais ativa nos tratamentos. Otto
Rank relacionava o tempo maior ou menor do tratamento à motivação do paciente e questionava se a
motivação poderia ser incentivada pelo analista. Freud chegou a reconhecer os benefícios da técnica,
mas mesmo diante dos resultados positivos decorrentes dos tratamentos curtos, negou-se a
modificar a técnica psicanalítica justificando que o tratamento deveria ser atemporal, de modo a ficar
o mais próximo possível do inconsciente do paciente. Em 1928, Ferenczi decidiu por recomendar
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tratamentos psicanalíticos mais curtos, apresentando o conceito de Técnica Ativa para caracterizar
técnica psicanalítica, então definida pelo tripé associação livre, princípio de abstinência no campo
transferencial e interpretação; o analista é que precisaria dispor da flexibilidade elástica necessária
para atender aqueles que até então eram considerados inanalisáveis” (Kupermann, 2019, p. 52).
Ferenczi acreditava que era a passividade do analista o principal fator responsável pelo
tradicionais foi pela defesa da técnica psicanalítica tradicional, sem ceder às pressões e demandas
sociais por adaptação. O próprio Ferenczi, depois de obter êxito em alguns tratamentos ativos,
abandonou a técnica ao concluir que as modificações poderiam ser usadas como resistência e que a
Logo após a segunda guerra mundial (terminada em 1945), foi muito maior a demanda social por
tratamentos à saúde mental e, ainda assim, a Psicoterapia Breve era vista como “uma rendição
humilhante às pressões de circunstâncias que levam a resultados transitórios, superficiais, pro forma”
O desconforto inicial se deu pela proposta de modificação na técnica psicanalítica, pois como
não havia outra modalidade de tratamento na época a não ser a psicanálise, e a Técnica Ativa tentou
nascer como uma evolução da psicanálise, o que não agradou os psicanalistas tradicionais. Foi
necessária a construção de um novo modelo de psicoterapia para que a Psicoterapia Breve fosse
Esse novo modelo começou a ser elaborado no Instituto de Psicanálise de Chicago no período de
1938 a 1945 por meio de um projeto de pesquisa coordenado por Alexander e French, que investigou
quais seriam os princípios básicos que permitissem um tipo de psicoterapia breve e eficaz. O estudo
concluiu que a experiência emocional corretiva era o fator curativo, pela “reexposição do paciente a
caracterizariam o método de condução do processo de PB, seguidos por Sífneos, em Boston, e juntos
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estes autores definiram conceitos e princípios fundamentais que constituem hoje a teoria da técnica
Psicodinâmica.
TEMA 4 – WINNICOTT
O pediatra e psicanalista Donald Winnicott assume destaque na história da psicanálise por ter
O inglês Donald Woods Winnicott (1896 – 1971) é um autor clássico na psicanálise pós freudiana
especialmente na clínica com crianças e com personalidades limítrofes.
desenvolvimento humano (maturidade), desde a completa imaturidade nos bebês até o alcance da
Um dos conceitos desenvolvidos por Winnicott foi delimitado a partir da constatação de que,
primária, função que ele chamou de Holding. Trata-se de uma função de sustentação:
A mãe protege o bebê dos perigos físicos, leva em conta sua sensibilidade cutânea, auditiva e visual,
sua sensibilidade às quedas e sua ignorância da realidade externa. Através dos cuidados cotidianos,
ela instaura uma rotina, sequências repetitivas. Com essa função de holding, Winnicott enfatiza o
modo de segurar a criança, a princípio fisicamente, mas também psiquicamente. A sustentação
pontos de referência simples e estáveis, necessários para que ele leve a cabo seu trabalho de
Entre o estado de total dependência até a autonomia, o ser humano terá necessidade de apoios
emocionais para apaziguar a ansiedade de separação decorrente da imposição do princípio da
No bebê, podemos observar rituais e uso de paninhos e chupetas eleitos como indispensáveis
que assumem o lugar de "ficar no lugar da mãe", tecnicamente conceituados como fenômenos e
objetos transicionais que irão ocupar o lugar vazio deixado pela mãe, entre a realidade interna e a
externa.
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Foi a partir da experiência clínica de Winnicott com as crianças que surgiu “A Ética do Cuidado”
como uma atitude do analista e ampliou as possibilidades de analisar pessoas vulneráveis, antes
consideradas sem indicação para o método psicanalítico.
teoria freudiana, contribuiu com a teoria do desenvolvimento afetivo desde a fase de dependência
influência na criança que cresce, no adolescente e no adulto. Sendo assim, sua obra se caracteriza por
dar ênfase aos conflitos Inter psíquicos. Sua teorização sobre a ética do cuidado é uma contribuição
Para Winnicott (1983, p. 205), “Os distúrbios mais insanos ou psicóticos formam-se na base de
falhas da provisão ambiental e podem ser tratados, muitas vezes com êxito, por uma nova provisão
ambiental”. Esse recurso metodológico se assemelha à função de holding na relação mãe-bebê, com
existência.
especializada de estar-com-o-outro.
O reconhecimento de que o outro está doente leva-nos naturalmente para a posição daquele
quem cuida, precisamos estar disponíveis para aceitar o outro como ele é, como pode ser, seja qual
for a possibilidade de ser do outro que se apresente num dado momento da relação terapêutica. Para
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deixar ser o outro, precisamos estar preparados para reconhecer qual é a possibilidade de ser do
momento e acompanhá-lo enquanto perdure essa possibilidade, por estreita que seja.
NA PRÁTICA
Por mais madura que uma pessoa possa ser, não está descartada a possibilidade de em um dado
momento e situação de vida acontecer uma regressão. Esse processo regressivo pode ocorrer durante
O caso a seguir é um exemplo: uma jovem senhora iniciou o tratamento com questões
relacionadas ao seu relacionamento conjugal. O tratamento avançou até o ponto em que os insights
reflexivos estavam bastante desconfortáveis e foi neste momento que a paciente faltou a uma sessão.
Na próxima sessão, chegou e justificou a falta falando de uma grave doença que acometeu seu filho e
ela precisou cuidar dele no hospital. O psicanalista interpretou a resistência da paciente. Na próxima
sessão, a paciente limitou-se a deitar no divã e chorar quase todo o tempo da sessão, com períodos
de silêncio. Novamente a interpretação foi quanto à resistência ao claro progresso que havia sido
tratamento e por telefone contou ao analista que seu filho havia morrido poucas horas depois que ela
Este caso mostra que a ética do cuidado deve permear a competência do analista em todas as
fases do tratamento. Além da possibilidade de ser uma reação de defesa e regressão, que atende à
resistência e à repetição, também há a possibilidade real de situações que fragilizam o paciente ao
ponto de não fazer mais sentido a ele a elaboração em curso nas sessões, pois a eminência de morte
do filho se impõe com supremacia neste caso.
A ética recomenda que o processo de tratamento fique em suspenso e que o psicanalista possa
dizer ao paciente: “me fale sobre seu filho, seu processo analítico pode esperar e continuamos com
ele depois”.
FINALIZANDO
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Freud fundou a Psicanálise e nos deixou um legado que é clássico para a compreensão teórica e
metodológica. A psicanálise foi indicada para pacientes com conflitos neurotípicos e a regra
fundamental é a associação livre. Para Freud, cada indivíduo deveria superar o que seria a tendência
saber lidar com as frustrações que a realidade impõe, tornando-se autônomo e não escravo dos
podem ser tratados, muitas vezes com êxito, por uma nova provisão ambiental, e propôs a "Ética do
Cuidado" para orientar a função de holding do analista para com o paciente, uma função de
REFERÊNCIAS
ALEXANDER, F.; FRENCH T. Terapeutica Psicoanalitica. Buenos Aires, Argentina: Editorial Paidós,
1965.
DIAS, Elsa Oliveira. Da sobrevivência do analista. Nat. hum., São Paulo , v. 4, n. 2, p. 341-
DIAS, Elsa Oliveira. O cuidado como cura e como ética. Winnicott e-prints, São Paulo , v. 5, n.
2, p. 21-39, 2010 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
FERENCZI. Sándor. (1928) "A elasticidade da técnica psicanalítica", in Sándor Ferenczi. Obras
FREUD, S. (1919) Linhas de Progresso na Terapia Psicanalítica. In: Obras Psicológicas Completas
FREUD, S. (1919) Sobre o ensino da Psicanálise nas Universidades. In: Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud p. 214 – 220. Volume XVII. Imago Editora, 1986.
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FREUD, S. (1929) O Mal Estar na Civilização. In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund
KUPERMANN, Daniel. A virada de 1928: Sándor Ferenczi e o pensamento das relações de objeto
na psicanálise. Cadernos de psicanálise, Rio de Janeiro, v. 41, n. 40, p. 49-63, jun. 2019 . Disponível
em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid="S1413-
62952019000100004"&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 nov. 2021.
NASIO, J. D., Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan /
OLIVEIRA, Marcos de Moura. Contribuições da técnica ativa para a clínica psicanalítica. Cad.
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