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São Paulo
2001
AS RELAÇÕES TRAUMATIZANTES E SEUS EFEITOS
NO APARELHO PSÍQUICO: UMA CANTATA
POLIFÔNICA DAS IDÉIAS DE S. FREUD E S.
FERENCZI
BANCA EXAMINADORA
(Nome e Assinatura)
(Nome e Assinatura)
(Nome e Assinatura)
i
AGRADECIMENTOS
Aos Professores Luiz Cláudio Figueiredo e Audrey Setton pela clareza das sugestões
apresentadas quando do exame de qualificação.
A Othon Vieira Neto pela paciente acolhida, leitura cuidadosa e pelas perguntas
instigantes.
E, finalmente, aos colegas da Uni-FMU pelo estímulo e aos amigos pela apoio e
incentivo.
Ao meu filho querido:
Felipe
ii
Ao meu filho querido:
Felipe
Ii
ABSTRACT
VIEIRA, Cláudia Maria Sodré. The traumatic relationships and their effects in the
psychic apparel: a polyphonic cantata of S. Freud's ideas and S. Ferenczi
1. INTRODUÇÃO 1
2. MÉTODO 24
3. A METAPSICOLOGIA DO TRAUMA 39
vii
1. INTRODUÇÃO
O palco está montado, mas é preciso uma cena. Um palco vazio só pode ser
preenchido pela memória ou pela imaginação. Se a luz é forte demais, ela nos cega,
se o som é alto demais, ficamos surdos, se a dor é intensa demais, não somos capazes
de pensar, desfalecemos. Mas o palco continua ali. Como representar uma cena de
excessos? Como compor os personagens em ação quando devem representar o terror,
e como representar o objeto do terror, quando este é a morte? Aquele a quem se
teme, o que mata, é possível encarnar; mas aquilo a que se teme, a própria morte,
será?
Como representar algo que é incompreensível? Talvez a única forma seja
repetir, repetir e repetir até que luz, som e dor sejam controlados, e aí sim, possamos
pensar. Se o terror é da morte, talvez possa ser substituído por outro mais conhecido,
mesmo que medonho, mas contra o qual se tenha algum tipo de defesa.
Algumas pessoas suportam intensos sofrimentos, horrores mesmo, e se
mantém íntegras. Outras, um pequeno revés da vida as abate de tal forma, que vivem
como crianças assustadas, perturbadas, doentes.
Quem decide o que deve ser tolerável para alguém? Sua constituição? A sua
história? O tipo de amor e cuidado que recebeu e o tipo de amor e confiança que foi
capaz de viver?
Há pessoas que vivem como autômatos, como se aquela parte delas mesmas
que sente dor e alegria estivesse escondida e inacessível. Às vezes nós, terapeutas, é
que secretamente choramos por elas. Ou então talvez a doença da alma se expresse
no corpo: o coração esteja partido, a pele não suporte o atrito com o mundo exterior.
Há ainda aquelas pessoas por quem os filhos sofrem, no âmago, algo daquele horror
sem nome, como uma herança maldita.
Trata-se de situações limite. Algo atinge uma intensidade tal que não pode ser
conduzido pelas vias normais. Trata-se de trauma psíquico.
Há umas tantas perguntas e hipóteses no que acabo de descrever. Descrição
imprecisa e vaga, forma apenas um pano de fundo para que se possa introduzir um
tema de pesquisa, um objetivo, uma justificativa, uma hipótese e um método de
trabalho.
Por que trauma? Diante de tantos temas possíveis, por que trazer à superfície
algo que parece pertencer aos porões da psicanálise? Antiquado e em desuso, é como
os objetos que guardamos nos baús, esquecidos, e que ali permanecem apenas por
seu testemunho histórico. O trauma, como acontecimento drástico e marcante que
desvia a vida das pessoas da saúde para a doença, faz parte das explicações de senso
comum para os enigmas dos problemas emocionais. Uma perda súbita de alguém
muito querido, abuso sexual na infância, um assalto, uma história de repetidas
humilhações e maus tratos; os exemplos podem ser inúmeros e soam como super
simplificações de diferentes momentos da teoria psicanalítica. O que há de verdade
nessas relações de causa e efeito? O que há de substância nessas situações de
sofrimento mental que permita, ao menos, serem qualificadas como traumáticas? A
relação direta entre trauma e doença também merece questionamento, pois nos
convida a pensar sobre a possibilidade de se fazer uma outra relação, a do trauma e
desenvolvimento. As experiências de sofrimento psíquico que poderiam ser
classificadas como traumáticas seriam exceções infelizes na vida das pessoas, ou
muito mais freqüentes do que poderíamos supor? E assim sendo, não poderiam
funcionar como organizadores, que definem não a patologia, mas o caráter?
As guerras de nosso século deixaram, dentre outras seqüelas, um grande
número de doentes das chamadas neuroses de guerra ou neuroses traumáticas.
Encontra-se hoje na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) um quadro
clínico chamado de transtorno de estresse pós-traumático (F43.1), com
sintomatologia semelhante a das neuroses de guerra: revivescência da situação
traumática sob a forma de memórias intrusivas e de pesadelos, afastamento das
pessoas, entorpecimento e embotamento emocional, anodinia, estados de
hipervigilância, e outros... Segundo a Classificação Internacional de Doenças, CID-
10, esse distúrbio “Surge como uma resposta tardia ou protraída a um evento ou
situação estressante, de uma natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica,
a qual provavelmente causa angústia invasiva em quase todas as pessoas.” (1997, p.
160).
Acidentes graves, assaltos, seqüestros, situações limites onde a vida é
seriamente ameaçada, estão associados ao distúrbio de estresse pós-traumático. Esses
horrores que fazem parte de nosso cotidiano, diretamente para alguns, indiretamente
para todos nós, trazem em seu bojo a idéia de trauma e, com isto, uma pergunta: por
que associamos tão facilmente trauma e violência?
Seguindo esse caminho associativo, a violência não precisa ser explícita, do
tipo que leva as pessoas aos prontos-socorros e delegacias. Ela pode estar
seguramente escondida nos lares, mesmo naqueles que nos parecem tão insuspeitos.
Está no ódio camuflado em amor, no sadismo oculto sob certas formas de educação,
nas palavras e ações de pais que desconfirmam a percepção da realidade de seus
filhos pequenos; está na falta de acolhimento das crianças não bem-vindas nas
famílias, na vida das crianças sem família, sem teto, nas que morrem de
hospitalismo, sem afeto.
Como compreender o trauma nesse conjunto complexo? Caberia usá-lo como
conceito explicativo? Não correríamos o risco de ampliá-lo demasiadamente e
confundi-lo com frustração, com toda forma de sofrimento mental, com injustiça
social? Bion (1976) sugeria que deveríamos cuidar para que nossas palavras
estivessem em bom estado de uso, já que são nossos instrumentos. Talvez a palavra
trauma esteja necessitando um certo polimento, pois o uso indiscriminado acabou
criando camadas de diferentes momentos históricos, acúmulo de sentidos que a
deixam em mau estado de uso.
Etimologicamente a palavra trauma vem do grego traûma1 e significa
ferimento. O seu uso é bastante intenso na medicina. Na psicanálise a palavra trauma
foi inaugurada pelo próprio Freud: trauma psíquico. Ferimento psíquico, o que viria
a ser? Como uma metáfora, ferimento psíquico abre possibilidade para uma cadeia de
associações, e é como um recurso poético que Freud inicialmente lança mão da
palavra, descrevendo um fenômeno que ocupou importante lugar para a compreensão
das neuroses. Trauma vai adquirindo o status de um conceito na teoria do
desenvolvimento, na psicopatologia, na metapsicologia e na clínica psicanalítica. O
conceito de trauma carrega na história de sua evolução uma certa imprecisão: afinal,
o que é trauma? E que efeitos provoca? O que é traumático, um acontecimento ou
uma fantasia?
1
Dicionário Universal da língua portuguesa, versão on-line.
inicialmente, a um acontecimento dramático que põe em risco a vida, e que pode
ocorrer na fase adulta, provocando efeitos psicopatológicos, como a histeria
traumática. Logo a relação entre trauma e etiologia torna-se mais complexa,
envolvendo fatores como o estado mental da pessoa no momento do trauma (estados
hipnóides, de dissociação da consciência) e um efeito de somatória de diversas
impressões afetivas que podem ter um efeito traumático. Há uma hipótese de Freud
(1893) que não são os acontecimentos em si que são traumáticos, mas o afeto a eles
associado: "... pois não restam dúvidas hoje de que, mesmo no caso do trauma
mecânico principal da histeria traumática, o que produz resultado não é o fator
mecânico, mas o afeto do terror, o trauma psíquico” 2.(1973, p. 42).
Posteriormente Freud (1896) defenderá a idéia de que as neuroses têm como
causas específicas perturbações da sexualidade, quer sejam contemporânea
(neurastenias e neuroses de angústia), quer sejam localizada no passado (histerias
não traumáticas, e neuroses obsessivas). Nas psiconeuroses, o trauma estaria
diretamente relacionado a experiências sexuais precoces, de caráter passivo (histeria)
ou ativo (neurose obsessiva). Encontramo-nos no período de vigência do que seria
chamada a Teoria da Sedução. Eventos efetivamente ocorridos até os oito anos de
idade teriam um efeito traumático a posteriori:
2
Todos as citações de Freud foram extraídas de Obras Completas, editadas pela Biblioteca Nueva de
Madri, traduzidas para o português pela autora, única exceção feita ao “Projeto para uma Psicologia
Científica”, que teve como fonte de consulta a Pequena Coleção das Obras de Freud, extraída da
Edição Standart Brasileira das obras completas de Sigmund Freud.
considerasse tão alta incidência pouco provável. Freud teria que acusar de
pervertidos muitos pais, inclusive o seu. Ainda, "o conhecimento seguro de que não
há indicações de realidade no inconsciente, de modo que não se pode distinguir entre
a verdade e a ficção que foram catexizadas pelo afeto”.(Idem, p.265 - 266). Não se
pode distinguir entre a lembrança de um fato e uma fantasia. Recordações não são
confiáveis, não há como certificar a sua veracidade se levarmos em conta a
intensidade de afetos a elas associadas, e a impressão subjetiva de realidade. A
Teoria da Sedução caía por terra.
No artigo publicado em 1906, "Minhas opiniões sobre o papel da sexualidade
na etiologia das neuroses", Freud retoma esse período, e reinterpreta a lembrança da
sedução como uma fantasia, ou uma recordação encobridora que tem a função
defensiva de ocultar da própria pessoa os desejos incestuosos dirigidos aos pais.
Freud põe-se no caminho de desvendar não a realidade dos fatos, mas a
realidade psíquica. A essa opção deve-se o desbravamento clínico do mundo mental
e a concepção de seus modelos de funcionamento psíquico. O conflito psíquico entre
os desejos e a censura, ou entre instintos sexuais e de autoconservação, ou ainda
entre as pulsões e as exigências externas, torna-se protagonista deixando o trauma
como coadjuvante. O trauma deixa seu traço no período de 1916 a 1925, como um
apelo para a sua compreensão do ponto de vista econômico e, com isso, deixa
também uma série de questões pendentes.
Freud passa a considerar bem mais a imaturidade emocional da criança para
fazer frente ao montante de excitação sexual que assola sua mente sob a forma de
fantasias incestuosas, o seu trabalho psíquico para encontrar um meio de
conter/expulsar as idéias como forma de elaborar esse montante de energia, e deixa
em aberto o que significa o cerne do trauma: a incapacidade de manejar ou elaborar
de forma normal, como ele descreve em 1916: "... um enorme incremento de energia
que torna impossível a supressão ou assimilação da mesma por meios normais e que
provocam, deste modo, duradouras perturbações do aproveitamento da energia.”
(1973, p. 2.294). Qual o efeito desse acréscimo de estimulação e que perturbações
permanentes são essas? Neste momento encontramo-nos acompanhando a ascensão
do Complexo de Édipo como elemento central para a compreensão do
desenvolvimento psíquico sob o reino e domínio da repressão.
Quando consideramos o trauma a partir de seus efeitos e não pela qualidade
dos fatores indutivos externos ou internos (como a sedução ou a fantasia de sedução),
somos levados a considerar os fatores predisponentes individuais: o que é traumático
para uns não o é para outros...
Para que uma vivência seja traumática dependerá... de quê? Em que consiste
o trauma? As séries complementares3 (Freud, 1917) nos fazem associar dois fatores
que estabelecem entre si uma relação em que para se produzir um mesmo efeito, o
aumento de um dos fatores deve ser acompanhado pela diminuição do outro fator.
Para que um dado conjunto de circunstâncias tenha um efeito traumático deve estar
presente o par descrito:
3
S. Freud. As vias de formação de sintomas, p. 2348.
compulsão à repetição como uma forma de dominar a estimulação e que submete o
próprio Princípio do Prazer à sua ação. A compulsão à repetição que submete à sua
lei tanto a pulsão de vida como a de morte, tem nos sintomas das neuroses
traumáticas e nos sonhos traumáticos a sua expressão mais fiel. O trauma retorna à
cena.
O que aguça a curiosidade é da ordem do significado: qual a representação
psíquica ou qual a fantasia sobre o que é vivido como traumático? Como o perigo é
representado? O que está sendo ameaçado? Em "Inibições, sintomas e ansiedade"
(1926) Freud traz elementos para a compreensão do trauma pela vertente das
fantasias e da íntima relação entre trauma e angústia. A ansiedade automática seria a
resposta a uma situação traumática, o desamparo psíquico é o que qualifica a
experiência de ser engolfado por uma onda de estimulação de origem externa ou
interna.
A ansiedade como sinal vem cumprir um papel de defesa do aparelho
psíquico de um perigo já conhecido, evitando a repetição do trauma? O conteúdo da
ansiedade, o significado do temor - perda do objeto, perda do amor do objeto,
castração e perda do amor do superego - traz a causa no lugar do perigo, do dano que
é o desamparo? E haveria situações em que esse risco não pode ser definido, como
um terror de algo que não se conhece e não se entende o significado? Haveria uma
angústia sem conteúdo, um horror expresso apenas pelo corpo e registrado apenas
como uma memória sensorial tal e qual a angústia que acompanha o trauma do
nascimento? Haveria uma angústia tão intensa que seria traumática tornando nesse
momento angústia e trauma sinônimos?
Posteriormente, em “Moisés e o Monoteísmo” [1939 (1934-1938)], no final
de sua vida, Freud retoma o problema do trauma e apresenta uma síntese final de seu
pensamento quanto ao tema. Freud reconsidera o lugar que ocupa a realidade
sensível, a idéia de um evento, ou como no dizer de Bokanowski (1999) um fato
datável, que pode participar como traumático. Freud define: “Denominamos
traumas [grifo do autor] aquelas impressões, cedo vivenciadas esquecidas mais tarde,
que, segundo dissemos, tem tanta importância na etiologia das neuroses.” (1973,
p.3283)
Essas impressões traumáticas assim o são por não poderem ser tratadas de
forma normal. Elas ocorreriam até os cinco anos de idade e não podem ser
lembradas, emergindo como recordações encobridoras, ou seja, apresentam-se de
forma transformada, segundo o modelo dos sonhos, por condensações e
deslocamentos. Atentemos para o que se segue: “Referem-se a impressões de índole
sexual e agressiva; também, sem dúvida nenhuma, e, indubitavelmente, também a
danos sofridos precocemente pelo ego (ofensas narcísicas).” (1973, p.3285)
Freud está relacionando o trauma com danos ao ego, com o que poderíamos
chamar de ferida narcísica, que, como veremos é um traço forte no desenho de
Ferenczi sobre o trauma.
4
Tradução livre de Nancy Ogura Camargo.
Diante do exposto, nota-se que o conceito de trauma na obra de Freud está
presente desde o início de seus estudos até seus últimos trabalhos, relacionando-se
com a etiologia, com a teoria do desenvolvimento, com a clínica psicanalítica e com
a metapsicologia. abrindo uma série de possibilidades de estudo. O trauma tem lugar
nas transformações radicais da teoria psicanalítica, como o abandono da teoria da
sedução, e as diferentes versões das teorias da angústia e das pulsões. Retorna
recomposto com aquilo que foi abandonado por Freud e rejeitado na voz de Ferenczi:
a sua ligação precípua com a realidade externa.
6
S. Ferenczi. A psicanálise das neuroses de guerra, p. 27.
transferencial, como uma histeria (pato-histeria). O que proporciona a perturbação
traumática da libido narcísica foi delimitado por três condições que podem levar à
patoneurose histérica ou narcísica:
Se há a presença de um narcisismo constitucional forte: “qualquer parte do
corpo, não importa qual, atinge por inteiro o ego”7 . Ou, poderíamos dizer,
o ego está totalmente identificado com o corpóreo.
Se o traumatismo é uma ameaça para a vida da pessoa (seu ego e sua
existência ficam ameaçados, ou a pessoa crê nisso).
Se há lesão de uma parte do corpo fortemente investida de libido e, com a
qual o ego se identifica: os órgãos genitais, as zonas erógenas, o rosto, os
olhos.
7
Idem. As patoneuroses, p. 295.
8
Idem. Fenômenos de materialização histérica. P. 47
9
Idem, ibidem, p. 48.
Essa protopsique sugere algo como uma nova tópica, pois parece não ser pertinente ao Ego, nem ao
Id, mas como algo no corpo que funciona como mente.
Ferenczi chama a atenção para sua constatação de que partes do corpo tanto
se tornavam palco de encenações de tendências reprimidas (as materializações
histéricas)- como no caso das paralisias histéricas, como de uma reclusão de afetos
ligados ao trauma - no caso da hemiastesia traumática. Em ambos, o efeito tópico é o
mesmo, não há acesso `a consciência daquilo que está contido naquela parte do
corpo.
Ferenczi elevará o narcisismo ao alto da colina de sua geografia psíquica,
como algo que deve ser sempre considerado junto com a íntima relação entre os
fenômenos mentais e corporais. Em sua composição das relações entre mente e
corpo, distingue uma divisão de trabalho no orgânico: controlar e distribuir
excitações (tarefa do aparelho psíquico) e a descarga periódica de excitação
acumulada no organismo, tendo nos órgãos genitais a máxima especialização. O
órgão de controle das excitações sofreria em seu desenvolvimento uma incidência
maior da ação da pulsão de autoconservação, tornando-se sede do pensamento e o
órgão de prova da realidade. Os genitais se tornariam no transcorrer do
desenvolvimento no órgão erótico central. Na histeria teríamos uma reversão a um
estado anterior a separação funcional. A descrição que Ferenczi nos dá sobre a
formação dos sintomas histéricos em “Fenômenos de materialização histérica”
ilumina o obscuro salto do psíquico para o somático:
10
S. Ferenczi. Fenômenos da materialização histérica. p.50.
educador, pensador da cultura, preocupado com problemas técnicos, etiológicos,
pedagógicos, éticos, e outros. Este trabalho realiza leitura definida, como a
apresentada acima.
Apesar de haver diferenças em questões importantes como sexualidade
infantil, técnicas e também quanto ao trauma, nunca houve, entretanto, um
rompimento formal entre Freud e Ferenczi não obstante, no final de sua vida a
relação entre eles tornou-se muito tensa.
Na raiz dos desentendimentos estavam divergências técnicas e teóricas.
O clímax dessa tensão ocorreu em seu último encontro com Freud, quando
Ferenczi apresenta-lhe um trabalho que seria comunicado no Congresso de
Wiesbaden em 1932: "Confusão de línguas entre os adultos e a criança". Freud teve
uma forte reação às idéias contidas no artigo:
... Não acredito que você se corrija, como eu me corrigi uma geração
mais cedo... Nos últimos dois anos, você se distanciou
sistematicamente de mim... Acredito estar objetivamente em
condições de lhe mostrar o erro teórico de sua construção, mas de que
adianta? Estou convencido de que você se tornou inacessível a
qualquer reconsideração... (Idem, loc. cit.).
Em primeiro lugar, pude confirmar a hipótese já enunciada que nunca será demais
insistir sobre a importância do traumatismo e, em especial, do traumatismo sexual
como fator patogênico. Mesmo crianças pertencentes a famílias respeitáveis e de
tradição puritana são, com mais freqüência do que se ousaria pensar, vítimas de
violências e estupros.11
11
S. Ferenczi. Confusão de línguas entre os adultos e as crianças. p. 101.
12
Idem. O problema do fim da análise. p. 16-17.
pelos pais da criança, o "silêncio de morte" sobre essas experiências, ou a punição
diante das reações da criança, é o que tornam o trauma patogênico (Ferenczi, 1931,
p. 79). Fazem parte da mesma série a hipocrisia profissional, a rigidez da técnica e os
efeitos no paciente da contratransferência do analista, através da crueldade
disfarçada, do amor apaixonado, do apego exagerado, da vaidade pessoal. Tais
fatores prendem o paciente em uma armadilha onde está condenado a repetir, não
recordar e muito menos elaborar.
Esses pioneiros carregam em suas divergências o protótipo de um diálogo que
não cessou, até o momento, na psicanálise, entre constitucional e adquirido, mundo
interior e realidade exterior, objeto interno e objeto externo. Nesse contexto o trauma
pode ser interpretado como uma condensação, como uma metáfora da divergência,
lugar onde confluem os elementos e forças em disputa.
Não há como sair imunes ao diálogo iniciado e seus efeitos, que se expressam
concretamente em diferentes formas de exercer a psicanálise. Não se trata, portanto,
de um mero exercício de retórica.
13
J. Dupont. La nocion de trauma selon Ferenczi et recherche psycanalytique ultérier. p. 42
preocupado com a psicanálise como processo psicoterapêutico. Ferenczi foi tido
como o analista de casos difíceis, sensível aos efeitos dos comportamentos e da
contratransferência na relação analítica, a sua aproximação do trauma é carregada de
descrições de experiências. Ferenczi lança luz sobre as relações interpessoais, sobre
o lugar do analista e seu incomodo papel de funcionar como alguém que corre o risco
de re-introduzir-se como objeto traumático.
As questões acima destacadas não serão, entretanto o objeto da investigação
deste trabalho, mas por via indireta serão discutidas ou estarão presentes como pano
de fundo.
Há um outro aspecto, dentre muitos do texto de Dupont, que atrai
particularmente a atenção. O traumatismo seria integrado na psique traumatizada da
mesma forma que o seria uma fantasia endógena ou se produziria alguma fratura na
coerência psíquica? Essa questão é fundamental, pois trás à tona o problema da
intermediação entre o mundo exterior e interior. Seria possível que algo penetrasse o
mundo mental sem a intermediação de nenhum tipo de trabalho psíquico? Seria a
ruptura da fronteira entre o indivíduo e o mundo da mesma ordem que um corte, uma
ferida: ruptura? Seria a ausência de intermediação, a ausência de representação, o
efeito primário e, portanto, o mais drástico do traumatismo?
Seguindo o texto de Dupont encontramos um outro problema afiliado ao
anterior: as feridas traumáticas poderiam se combinar com fantasias para deflagrar
um efeito traumático ou existiriam alguns choques traumáticos que inibiriam toda
atividade de fantasia? Seria o caráter inesperado do trauma que produziria o efeito de
inibição? Aqui está o abismo, o mistério, o horror do vazio: o efeito traumático como
um buraco negro, o estancamento da fantasia, a impossibilidade de representar. O
que ocuparia o espaço vazio?
Todas essas questões poderiam ser agrupadas em uma: quais os efeitos do
trauma no aparelho psíquico?
1.5. Objetivo.
O propósito deste trabalho é identificar os aspectos intrapsíquicos do trauma
na metapsicologia de S. Freud, em especial quanto à economia psíquica. Investigar o
trauma segundo o modelo das relações de objeto e os interpessoais na obra de S.
Ferenczi, e a partir desse levantamento discutir da ótica econômica e das relações de
objeto, como se processa o trauma no aparelho psíquico.
Serão propostas também algumas vertentes para a compreensão do trauma:
O objeto da pesquisa.
A justificativa para uma pesquisa teórica em psicanálise.
Procedimentos e pressupostos.
Organização do trabalho e procedimentos específicos.
Não existe na realidade algo que seja o trauma psíquico. Esta noção como as
outras são construídas como uma forma de, por meio de um conjunto abstrato de
elementos, tornar possível, pelo pensamento, articular, compreender, para poder
controlar parcelas da realidade, criar condições de comunicação. Denominar trauma
um conjunto de elementos que se conjugam em determinadas relações não seria
possível na Idade Média, por exemplo. O que seria psíquico? O que seria afeto? O
que seria a noção complexa de sujeito? O que seria neurose? Isto significa que
anteriormente as pessoas não sofreriam traumas psíquicos? O conceito de trauma não
criou um fato, mas distinguiu-o como uma unidade de significado, como um
fenômeno, e estabeleceu relações com outros fenômenos de um contexto mais amplo
como o é uma teoria.
permite alguma idéia do rumo a tomar, mas não é o alvo que se quer
Há uma outra possibilidade sugerida por Mezan que é “... o estudo das teorias
por si mesmas, como conjuntos de hipóteses, deduções e elaborações sobre certos
fenômenos psíquicos que cada uma delas tome como objeto de reflexão”.16
14
R. Mezan. A sombra de Don Juan e outros ensaios. p. 92.
15
Idem, loc. cit.
16
Idem, ibidem, p. 94.
que nos relacionamos, seja algo de nosso mundo interior ou exterior, e que o desejo e
a angústia interferem na nossa apreensão da realidade. Poderíamos até afirmar que
não haveria a possibilidade de representação não fosse a ação do desejo e da
angústia, da mesma forma que não haveria possibilidade de relação não fosse a
transferência.
2. 3. Procedimentos e pressupostos.
autor produziu querendo dizer algo que estava sendo por ele
18
Idem, ibidem. , p. 118.
assombra e saboreá-lo como uma fantasia optativa, ou suportar o equívoco, as
imperfeições, as brechas, e não mascarar o que não se ajusta às nossas expectativas.
Há algo na leitura de textos psicanalíticos que nos obriga a tolerar o fato das teorias
não funcionarem sempre como um sonho submetido à elaboração secundária. As
teorias são, em última instância, ficções. Talvez isso nos cause horror. Mas, ao
mesmo tempo, as teorias podem nos colocar face a face com algo negado na
realidade e aí estará o inesperado, o nunca antes pensado. Por que quando lemos
Freud temos a impressão de que há sempre algo novo com que nunca tínhamos nos
deparado? Mas há outras brechas, a que a leitura analítica revela. Ali onde algo
falhou e emergiu algo como que advindo de uma intencionalidade de um outro
dentro de cada um de nós. Esse outro de nós mesmos, o estranho que nos habita,
deixa suas pegadas nas lacunas, nas falhas, nas incongruências, nos "acidentes e
defeitos". De uma forma clara, Figueiredo discute o lugar do texto para o leitor como
um não-eu, um Outro e é ao mesmo tempo “um outro para si mesmo”:
Assim, essa alteridade do texto evoca uma relação. Esse contato com o outro,
é um contato com o novo, com o insuspeitado, com o estranho, gerando ansiedade e
acionando mecanismos de defesa. Pode-se camuflar as diferenças, mascará-las,
exagerá-las, negá-las, ou, permitir alguma transformação no esquema referencial de
quem lê. Trata-se, em qualquer circunstância de estabelecer uma relação de objeto
com o texto, ou um vínculo, no sentido que Pichon-Rivière (1998) dá ao termo,
englobando a relação de objeto como estrutura interna do vínculo e os aspectos
pertinentes ao campo grupal, como papéis, status. Esse campo grupal define funções
e outorga significados, mesmo que estes não sejam explicitados. Os referenciais do
19
L. C. Figueiredo. Palavras cruzadas entre Freud e Ferenczi. p. 17.
campo grupal extrapolam o indivíduo e sua história pessoal, mas interferem e se
entrelaçam com o que se constitui como uma produção individual. Assim, a pesquisa
em questão realiza-se em um determinado contexto, em uma Instituição específica,
sob a influência de uma política nacional educacional específica, em um dado
momento da evolução das idéias, da psicanálise.....
Se for possível pensar que se estabelece uma relação de objeto com o texto,
este será elaborado, compreendido, ampliado, em função do estilo de relação que se
estabelece e a forma como o objeto está constituído: não há como conhecer o objeto
externo em si mesmo, ou o texto em si mesmo.
Como em uma situação analítica o trabalho sobre um texto não tem por meta
uma transformação interna do analista, mas a operacionalização de interpretações, ou
seja, algo que possa ser oferecido a um outro, como uma forma de conhecimento que
foi metabolizado, transformado, digerido pelo analista, algo que é ao mesmo tempo
do paciente e do analista, mas que é dirigido claramente a um interlocutor que é um
outro e para este outro. Pode ocorrer que o paciente traga para o analista algo que
provoque um efeito desorganizador e que para compreendê-lo seja necessária uma
mudança de referencial, uma transformação interna do analista. Essa transformação
pode ser parte do processo de conhecimento ou da experiência de estar se
relacionando com aquele paciente, mas não é o resultado a ser oferecido para o
paciente. O que se oferece ao paciente são interpretações e uma forma de estar junto
que é resultante das transformações do par paciente-terapeuta. Não importa no
preciso contexto de uma pesquisa teórica a elaboração interna do pesquisador, seu
processos psíquicos, mas o seu resultado operativo: como é o seu trabalho de
interpretação. O texto, como um objeto interno, é como uma sombra que comprova
algo tridimensional, um corpo que se manifesta à luz da consciência. Pode-se preferir
ler a "sombra", mas isto dependerá dos objetivos do leitor, não o é o da pesquisa. Se,
na situação analítica o outro para quem se fala é o paciente, no presente contexto, é o
leitor. O que resulta da relação da autora com o texto como objeto interno e externo é
oferecido a um terceiro, o leitor deste trabalho. A existência do leitor que representa
os muitos outros, impõe uma ordem específica: é preciso considerar como
compartilhar e como ser compreensível, articular aquilo que nos põe em contato com
o que é individual, já que há um sujeito do conhecimento, e o que é a expressão, a
manifestação dos efeitos de um grupo e de um patrimônio cultural.
20
L. C. Figueiredo. Palavras cruzadas entre Freud e Ferenczi. p.17.
Temos então textos, com os quais estabelecemos vínculos, aos quais
respondemos contratransferencialmente, o que impede uma captação totalmente
objetiva do que seja o objeto de estudo; um objeto que também foi produzido por
uma mente que também não pode ser dotada de plena objetividade e que não pode
escapar de si mesma. O produto dessas mentes não é um objeto ideal, portanto
apresenta cicatrizes, fendas, lacunas "impurezas", irregularidades e "fraturas".... Qual
seria, então a proposta de leitura?
21
A. G. Cunha. Dicionário etimológico da língua portuguesa.
22
L. C. Figueiredo. Filosofia e Psicanálise. Usos e abusos. p. 124.
textos de outros períodos um ultra temporal. Questões são feitas e podemos buscar o
que originalmente não estava ali. Perguntar ao “Projeto de uma psicologia
científica” em que pode nos auxiliar para a compreensão do trauma é uma ação
dessa ordem. Buscar em Problema econômico do masoquismo algo que esclareça
sobre as Q‟η do Projeto, também. Quando perguntamos à dor e esperamos que
responda como trauma, idem. Mas, especialmente quando solicitamos que o textos
de Freud se expressem com as idéias de Ferenczi e vice-versa. Seria um
ultraquismo? Ou seria uma violência e um abuso? Consideramos que possa se
constituir como “abuso fecundante”. Figueiredo menciona o abuso fecundante
quando há uma transdiciplinaridade, o que não é o nosso caso. Há sim uma „trans-
textualidade‟, uma transgressão de limites tanto temporais, por exemplo,
relacionando as idéias de Freud de distintas épocas em torno do problema econômico
do trauma, como entre os textos de Freud e de Ferenczi.
23
Segundo o Dicionário Etimológico da língua portuguesa, meta é um prefixo do grego meta, que “...
expressa as idéias de comunidade ou participação, mistura ou intermediação e sucessão...”.
significados que o deciframento viria a desvendar, mas uma potencialidade
de suscitar novas significações mediante o trabalho da leitura, e que só vêm
a ser se esse trabalho for realizado.A história de uma obra é a história das
leituras sucessivas que ela suscita, as quais em primeiro lugar só podem ser
efetuadas porque, devido a circunstâncias que lhe são exteriores, ela se
tornou interessante ou enigmática, e em segundo lugar lhe propõem
questões novas e a fazem dar respostas a estas questões, movimento pelo
qual surge uma faceta dela capaz de significar algo para o leitor e para seus
contemporâneos. Esse movimento não equivale, porém a retirar mais um
véu na direção da transparência absoluta; esta faceta resulta da negação do
texto imediato por meio de um trabalho - e não de uma simples mudança de
ângulo de visão.24
2. 4. Plano de trabalho
24
R. Mezan. A vingança da esfinge. Ensaios de psicanálise. p. 68-69.
Freud em Projeto para uma Psicologia Científica, que de agora em diante
chamarei sinteticamente de Projeto, buscava descrever os processos mentais como
fenômenos naturais, orgânicos. O que à primeira vista aparece como um modelo
calcado em um substrato orgânico, como uma ficção sobre o sistema nervoso, revela
uma surpresa, dele emerge a mente. Uma mente que vai além dos neurônios e de suas
funções diferenciadas: as trocas entre os sistemas, o registro mnêmico, os afetos, o
prazer, a dor...
Pode parecer anacrônico resgatar o Projeto nos dias de hoje, diante de tantos
avanços das neurociências e da psicanálise. O próprio Freud renegou o Projeto que é
quase condenado ao ostracismo, não fosse o cuidado de Maria Bonaparte que o havia
adquirido junto com parte da correspondência entre Freud e Fliess (Garcia-Roza,
1991). Se o intuito fosse compreender as relações entre cérebro e mente, este retorno
teria um caráter arqueológico, mas o objetivo é identificar uma certa concepção de
funcionamento mental que enfatiza o aspecto econômico e que se mantém no
pensamento de Freud, emergindo, revigorada pela experiência da clínica
psicanalítica, 25 anos depois em Além do Princípio do prazer. Há uma continuidade
entre esses dois textos: ambos são metapsicológicos e tratam de problemas muito
semelhantes, incluindo o trauma. É possível estabelecer um diálogo entre eles para
identificar a construção do conceito de trauma, suas particulares dificuldades e
aspectos obscuros, bem como a inserção do conceito no quadro mais específico dos
efeitos na representação e, mais geral, da construção do mundo interno e externo.
Assim, a primeira parte deste trabalho terá o Projeto como fundamento
básico, complementado por “Além do Princípio do Prazer”. Essa complementação
não implica necessariamente em ausência de incongruências entre os textos. Ambos
dão particular importância para princípios gerais que norteiam o funcionamento
mental, são especulações – “Além do Princípio do Prazer” assumidamente o é -, e
são modelos que se propõem descrever um padrão de funcionamento mental e tanto
em um quanto no outro, enfatizam o aspecto econômico.
A opção de destacar textos metapsicológicos e voltados para a administração
de quantidades visa exacerbar as diferenças de concepção do trauma entre Freud e
Ferenczi. Não traduzem a plenitude do pensamento nem de um, nem de outro, sobre
o tema e é preciso que isto seja dito com todas as palavras. O trabalho teórico destes
dois autores é complexo demais para que possam ser colocados lado a lado para uma
comparação simples, como relações biunívocas. É de tal forma questionável essa
forma de conduzir a relação entre as produções desses autores que teríamos que
sonegar a importância de suas mútuas influências. Há muito de Freud em Ferenczi,
mas também há muito de Ferenczi em Freud. Essa opção constitui bem mais uma
forma de desenhá-los em preto e branco, para fixar uma primeira imagem de
contraste, para que posteriormente se possa pintar um quadro, se não mais fiel, mais
complexo e menos polarizado. Uma forma de garantir isto é partir do econômico em
Freud, aproximarmo-nos do fenomenológico e do clínico em Ferenczi e retornar a
Freud, já em outro momento, tentando resgatar as relações, as fantasias em
“Inibições, sintoma e angústia” (1926 / 1925) e preocupado com o cerne da verdade
nas fantasias e nos mitos, em “Moisés e o Monoteísmo”. (1939/1934-1938). Este
último texto, entretanto, não será foco de nossa análise. Há um trabalho bastante
interessante, já citado25, que traça as relações entre as idéias de Ferenczi e as dessa
obra testamentária de Freud e que pode ser uma fonte de consulta.
Quanto a Ferenczi, será evidenciada sua contribuição mais original, qual seja,
a da importância das pessoas do mundo da criança enquanto objetos traumatizantes.
A principal fonte de pesquisa será o Diário Clínico, escrito em 1932, mas publicado
apenas em 1985, na França e os textos teóricos que lhe dão suporte, como “A
adaptação da família à criança” (1928), “A criança mal acolhida e a sua pulsão de
morte” (1929), “Confusão de línguas entre os adultos e a criança “ (1933).
A maneira de conduzir esse projeto será o de tentar compor através dos ecos
das vozes de Freud e de Ferenczi uma sinfonia que cante em várias modulações a
tragédia do trauma. Isto significa que não pretendo opor um ao outro, mas buscar em
cada uma deles um vislumbre de resposta daquilo que para o outro foi negado,
desconsiderado ou minimizado. Essa forma de expressar talvez dê a idéia de que eles
são complementares. Não afirmaria isso porque também é uma visão parcial. Não
vou me antecipar porque não posso prever o que resultará deste trabalho.
Assim, o plano de trabalho se compõe quatro etapas:
A) A metapsicologia do trauma: baseado no “Projeto de uma Psicologia
Científica” e em “Além do Princípio do Prazer”.
B) As relações traumatizantes: baseado nas anotações do “Diário Clínico” e
textos relacionados.
25
T. Bokanowski. Entre Freud e Ferenczi: le “trauma”.
C) Discussão: um desenvolvimento e uma conjugação das idéias de Freud e
Ferenczi apresentadas nos itens anteriores e acrescidas de outras para
compor um quadro de como se processa o trauma no aparelho psíquico.
D) Considerações finais.