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FICHAMENTO I - AULA 6
Nesse texto, Ferenczi vai falar das crianças não desejadas, os “hóspedes não
bem-vindos na família'', como ele diz, e quais as consequências disso na sua psique, como a
criança percebe que não foi desejada e a consequência disso.
Ferenczi vai apontar, no texto, que “os menores acontecimentos, no decorrer da vida
posterior, eram bastantes para suscitar nelas a vontade de morrer” (p. 49). Ele percebeu, ao
lidar com pacientes adultos que já foram crianças não bem-vindas, que o método analítico
ortodoxo causava neles uma angústia que não conseguiam suportar, como se houvesse um
retorno àquela situação primária.
Achei esse texto muito importante do ponto de vista prático. Na nossa cabeça não é
difícil pensar que, dependendo do paciente, a psicanálise pode não ser ideal em um primeiro
momento, mas eu nunca tinha parado para pensar nos inúmeros porquês disso. E faz todo
sentido, agora, pensar que, para uma pessoa que carrega em si um sentimento muito forte de
rejeição que vem da infância, a análise vai ser um lugar de angústia muito maior do que já
seria normalmente. Uma postura analítica só vai ajudar a confirmar nessa pessoa o
sentimento de rejeição, levando-a a reviver aqueles traumas iniciais de uma maneira brutal.
Uma das questões da Psicanálise sempre foram as críticas, e não à toa Ferenczi foi
jogado no ostracismo sem piedade, pois lhe sobravam críticas e vontade de dizê-las, algo que
ninguém tinha coragem à época.
Acho que pode vir daí minha reflexão, pois esse caráter intocável da Psicanálise
parece atuar, com o perdão de trazer Lacan pra cá, quase como um Nome-do-pai para os
analistas. Freud ser “pai da Psicanálise” carrega algo além do significado simples de ter dado
vida à teoria. Assim como sua palavra é lei para muitos, para outros, durante mais de um
século, sempre existiu essa vontade de conseguir subverter à sua vontade, o que talvez
explique o porquê de Freud inspirar críticos tão ferrenhos até hoje.
Voltando ao texto, é também interessante a leitura que ele traz da pulsão de morte na
criança. Para ele, as consequências de não ser desejada tem um efeito tão brutal na criança,
pois esta nasce imersa em pulsão de morte, e apenas ao longo do tempo é que a força vital vai
se reforçando e tornando o indivíduo capaz de resistir às dificuldades da vida. Logo, o bebê
se encontra muito próximo do “não-ser”, sendo muito mais fácil para a criança ser destruída
pela sensação de abandono do que para o adulto. “Deslizar de novo para esse não-ser poderia,
portanto, nas crianças, acontecer de um modo muito mais fácil” (p. 50).
É intrigante pensar dessa maneira, que se alegrar, que aproveitar algo bom possa ser
uma habilidade, e não algo inerente, principalmente pelo fato de muitas das reflexões de
Ferenczi terem como base a ideia de inatismo. Seria mais fácil entender isso como algo inato,
mas ele contrapõe esse desfrutar de coisas boas com a capacidade de lidar com as frustrações,
logo aproveitar as coisas boas também é algo deve ser aprendido.
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FERENCZI, S. A criança mal acolhida e sua pulsão de morte. In: Obras Completas – Sándor
Ferenczi, Psicanálise IV.São Paulo: Martins Fontes, 1992.