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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

1.1 O NASCIMENTO DA PSICANÁLISE ................................................... 4

1.2 A psicanálise ........................................................................................ 5

2 TEORIA PSICANALÍTICA ........................................................................... 7

2.1 Escola Psicanalítica: contribuições para o estudo do comportamento


humana.....................................................................................................................7

3 INCONSCIENTE E PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA PSICANÁLISE 10

3.1 Inconsciente e Sublimação................................................................. 17

3.1.1 O que é o inconsciente? ............................................................... 18

3.1.2 Sublimação ................................................................................... 19

3.2 Constituição do sujeito e seu desenvolvimento .................................. 20

3.2.1 Melanie Klein ................................................................................ 22

3.2.2 Heiz Kohut .................................................................................... 23

3.2.3 Winnicott....................................................................................... 24

3.2.4 Jacques Lacan ............................................................................. 25

4 RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE, SOCIEDADE E CULTURA ............... 27

5 TEORIA FREUDIANA DA CONSCIÊNCIA ............................................... 29

5.1 Freud e a consciência ........................................................................ 30

5.2 As tópicas do aparelho psíquico ......................................................... 32

5.3 Consciência dos processos do Eu ..................................................... 35

6 ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA E METODOLÓGICA EM


PSICANÁLISE ........................................................................................................... 36

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 42

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1.1 O NASCIMENTO DA PSICANÁLISE

Todas as teorias científicas estão sempre relacionadas com a época. Na


psicanálise não é diferente. Foi influenciada pelas condições de vida social, cultural,
econômica e política de um momento histórico. Essa teoria científica, que surgiu em
um período fértil da modernidade, revelou-se surpreendente. Segundo Hurding
(1995), a psicanálise surgiu em uma época de conturbadas ideias do século XIX, em
uma época em que a psicologia e a ciência empírica eram dominantes. Nasceu como
uma nova solução para os dilemas anteriores sobre a natureza e a história da
humanidade.
Seu desenvolvimento ocorreu graças aos esforços de Sigmund Freud (1856-
1939), que buscou estudar a influência das estruturas internas do indivíduo em suas
ações, suas relações com o mundo exterior e suas decisões. Finalmente: Freud queria
entender como funcionava a vida mental.
Freud, médico, nascido na cidade de Freiberg, localizada na Morávia, recebeu
seu doutorado em medicina pela Universidade de Viena. Foi especialista em
neurologia e responsável pelo surgimento da psicanálise. A psicanálise nasceu em
Viena, no coração da Europa. Desde então, tornou-se uma das teorias mais
importantes que sustentam a mentalidade das sociedades de hoje.
A partir da análise da trajetória de Freud pode-se afirmar que sua perspicácia,
determinação e insatisfação com as respostas da psiquiatria clássica foram
fundamentais. Ele não encontrou explicações para distúrbios nervosos, fobias e
neuroses nas teorias de sua época, o que acabou lhe dando as ferramentas
necessárias para fazer descobertas que mudaram a maneira como as pessoas e seu
mundo eram entendidos.
As ideias de Freud foram influenciadas pela filosofia metafísica de Herbart,
entrelaçadas com um período histórico moldado pelo darwinismo, particularmente a
ideia de evolução e pelo método científico empírico.
A contribuição de Freud para a ciência é tão grande quanto o pensamento de
Karl Marx para a percepção dos processos históricos e sociais. Freud ousou colocar
como problema científico as questões relacionadas à psique de seus labirintos
sombrios e misteriosos, ou seja, fantasias, sonhos, esquecimento e interioridade

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humana. Sua maneira sistemática de investigar analiticamente as questões em aberto
o levou a criar uma abordagem revolucionária, a psicanálise.

1.2 A psicanálise

Quando surgiu, a psicanálise era uma forma radicalmente nova de


compreender o ser humano e interpretar o mundo que resulta de suas ações. Trouxe
uma nova perspectiva sobre a realidade interior do homem. Por isso, é considerada
pela literatura como uma abordagem revolucionária das questões da vida psíquica.
O termo “psicanálise” refere-se a uma compreensão teórica, um método de
pesquisa e uma prática profissional. Como teoria, a psicanálise caracteriza-se como
um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre a estrutura, funcionamento e
ações do ser mental (vida mental). Vale notar que essa busca pelo entendimento do
funcionamento da vida psíquica levou Freud a escrever uma série de textos, livros e
artigos, fruto do estudo meticuloso e cuidadoso de casos reais, muitos dos quais de
sua autoria. Entre as obras de Freud, destacam-se: A Interpretação dos Sonhos; A
Psicopatologia da Vida Cotidiana; O mal-estar na civilização; Reflexões para o tempo
de guerra e morte, entre muitas outras.
Como método de pesquisa científica, a psicanálise deve ser entendida como
um processo metodológico, um modo de interpretação. De acordo com Bock et al.
(2002, p. 70), ela “[...] busca o sentido oculto do que se manifesta por meio de atos e
palavras ou de produções imaginárias como sonhos, delírios, associações livres [...]”.
A rigidez de Freud sobre os passos da pesquisa científica forneceu um caminho
seguro para investigar a natureza profunda de cada ser humano com a criação da
psicanálise. Ele forneceu muitos insights para aqueles que tentam entender como o
homem, tão tecnologicamente incrível, é ao mesmo tempo alimentado por forças que
o levam a se comportar de forma inadequada e estranha.
Como atividade profissional, a psicanálise consiste em uma forma de
tratamento chamada análise. Quando aplicado por profissional capacitado
(analista/psicanalista), busca levar o paciente ao autoconhecimento e, assim, eliminar
os males psíquicos e suas manifestações somáticas. Para alguns estudiosos, a
psicanálise também deve ser vista como uma importante ferramenta que amplia as

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possibilidades de compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos que
desafiam a visão do homem como ser civilizado. Entre tais fenômenos, podemos
considerar a violência crescente, as brigas mesquinhas, o hedonismo intensificado e
o individualismo em suas várias formas. São elementos que levaram à extinção de
milhares de pessoas frágeis na cadeia de ecossistemas.
Antes de chegar ao método da psicanálise, Freud iniciou suas investigações
psicológicas com o método da hipnose aprendido com Josef Breuer. Através da
hipnose o paciente recordou eventos dolorosos esquecidos e experiências que
causaram um comportamento compulsivo, às vezes angustiante e doloroso. A
aplicação deste método resultou no desaparecimento dos sintomas da doença em
pacientes. No entanto, reconhecendo que nem todos os pacientes eram fáceis de
hipnotizar, Freud decidiu abandonar esse método, sem, no entanto, abandonar a
sugestão como meio de lembrar. Ele continuou sua pesquisa e decidiu abandonar o
método catártico, um passo crucial para chegar ao método que chamou de
psicanálise.
Freud abandonou a sugestão catártica e criou a técnica da concentração. Para
ele, esse foi um recurso eficaz para facilitar a lembrança, e por meio de conversas
formais. Esse processo deve inibir a resistência das memórias e levar à consciência
de fatos esquecidos (bons e ruins). Em seguida, aprimorou esses recursos e deixou
de lado a conversa dirigida em favor da liberdade de expressão do paciente
(conversão livre) como caminho de rememoração e autoconhecimento. Ao fazê-lo,
Freud estabeleceu a técnica que representa uma referência no tratamento analítico
(BOCK et al., 2002).
Embora tenha obtido bons resultados no tratamento de seus pacientes, Freud
teve dificuldade de compreensão, fazendo com que as lembranças de eventos
traumáticos fossem esquecidas ou neutralizadas. A partir desse levantamento ele fez
a tremenda descoberta do principal fundamento da teoria psicanalítica: o inconsciente.

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2 TEORIA PSICANALÍTICA

Influenciado pelos avanços científicos e tendências modernas no campo


filosófico, Sigmund Freud entabulou a Clínica de Psicanálise onde se pensava que a
subjetividade e, consequentemente, o comportamento humano estão sujeitos a uma
lógica diferente da razão cartesiana, mas, como Hegel descreveu, motivado pelo
desejo. Em seus estudos e pesquisas empíricas, Freud descortinou a instância do
inconsciente (Ics) como o lugar onde se organizam os pensamentos.
O Ics torna-se, assim, objeto de pesquisa psicanalítica, que se desenvolve em
muitas escolas que tratam de questões psicológicas relacionadas ao sujeito e à
dinâmica consciente-inconsciente. A partir dessas concepções é possível estudar a
constituição do sujeito como ser humano, as relações que ele estabelece com o meio
ambiente e seu desenvolvimento, tornando-se uma das maiores escolas e correntes
teórico-metodológicas nesse campo da Psicologia.

2.1 Escola Psicanalítica: contribuições para o estudo do comportamento


humano

Para falar da escola psicanalítica é preciso voltar a um cenário anterior ao seu


surgimento: o século XVII, que é visto como um período de profundas mudanças na
história e no pensamento científico. Naquela época, as revelações epistemológicas e
científicas produziram um afastamento da concepção aristotélica e religiosa da Idade
Média para desconstruir o paradigma anterior.
Entre os pensadores desse período, para a psicologia, vale destacar René
Descartes, que emergiu no mundo filosófico e defendeu a antropomorfização da
verdade sob o conhecido axioma: “Penso, logo existo, ou penso, portanto, sou”. Nos
tempos antigos, o locus da verdade era o locus das ideias divinas e não do homem.
A verdade humana era então uma réplica da verdade ou um simulacro, uma réplica
malfeita dela, e como simulacro tinha de ser descartada ou suprimida.
Para García-Roza (1993), Descartes foi ao mesmo tempo revolucionário e
herdeiro do pensamento grego e medieval. Enquanto os críticos do estudo das
ciências (Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Galileu Galilei, etc.) carreavam as ideias

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de um mundo fechado ao universo infinito, Descartes se curvava ao estudo da
subjetividade.
Chalmers (1999) também chamou a atenção para as transformações científicas
desse período com as pesquisas inovadoras de Galileu e Newton em oposição à
antiga concepção aristotélica de ciência, ou seja, a lógica cada vez mais absorvia a
experiência como fonte de conhecimento: a empiristas (indutivistas). Embora os
pensadores indutivistas também sejam criticados por Chalmers (1999), que considera
a ingenuidade de pensar a ciência como neutra em relação ao objeto observável,
podemos dizer que esses indutivistas, como Freud, são os que mais se preocupam
com os estudos à psique humana porque é impossível ao homem observar algo
puramente objetivo.
O campo filosófico associado ao estudo do conhecimento e da subjetividade
humana começou a abrir seu universo para o desenvolvimento de diversas teorias
críticas, incluindo as de Kant (1724-1804), Hume (1711-1776) e Hegel (1770-1831)
que, segundo García-Roza (1993), seguem esse modo cartesiano de afirmar a
verdade da razão como a maior característica do comportamento humano.
A partir dessa visão cartesiana da subjetividade, o campo da psicologia foi
definido e consolidado como ciência até meados do século XIX e início do século XX,
período em que surgiram diversos movimentos e correntes de pensamento que
examinaram e focaram os fatores psicológicos fundamentais (pensamento,
inteligência, linguagem, percepção, motivação etc.) e sobre o comportamento
humano, a partir do conhecimento e da subjetividade derivados das correntes
filosóficas, herdeiras da hegemonia platônica da Antiguidade Clássica.
No campo da psicologia como ciência, Wilhelm Wundt é considerado um
pioneiro da psicologia experimental ao lado de Ernst Heinrich Weber e Gustav
Theodor Fechner, em Wundt fundou seu laboratório no Instituto Experimental de
Psicologia da Universidade de Leipzig em 1879, Alemanha, e atraiu estudantes de
diferentes partes do mundo.
Para Araújo (2009, p. 211): “A definição de psicologia de Wundt pode ser assim
resumida: A psicologia é uma ciência empírica cujo objeto de estudo é interior ou
experiência imediata”. Da escola de Wundt em diante, várias outras escolas de
pensamento moldaram o tema da psicologia. Ainda no século 19 nos Estados Unidos,

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graduados da Escola de Leipzig demonstraram os ensinamentos de Wundt através
do estruturalismo de Titchener (1877-1927) e do funcionalismo de J. Dewey (1859-
1952), Angel (1869-1949) e H. A. Carr (1873-1954).
No século XX as escolas de psicologia começaram a se definir de acordo com
seu arcabouço teórico: Psicologia Comportamental: Watson (1878–1958); Psicologia
da Gestalt com alguns dos seus precursores, como Wertheimer (1880–1943), Koffka
(1886–1941) e Köhler (1887–1967); Behaviorismo: Skinner (1904–1990); Psicologia
Cognitiva: Piaget (1896–1980); Psicanálise: Freud (1856–1939).
Freud se dedicou ao estudo do Eu delimitado, não pela razão, mas pelo desejo,
descobrindo, em virtude disso, o Ics. O princípio dos seus trabalhos para explicar a
técnica psicanalítica, ocorreu pela força do neurologista francês Jean-Martin Charcot
(1825–1893) sobre a hipnose (FREUD, 1996a) como sendo uma forma de acessar os
conteúdos obscuros que fugiam das decisões conscientes de uma pessoa. Não
conseguindo ver eficácia da hipnose em seu trabalho clínico, Freud começou a
orientar sua clínica por meio da associação livre de ideias, em conjunto com o que os
próprios pacientes lhe retornavam.
No princípio, ele usava uma leve pressão sobre a fronte dos pacientes, como
se aquilo pudesse induzi-los a falar o que lhes viesse à mente, porém, um deles
sinalizou que aquele procedimento não era necessário e que bastava que o
psicanalista deixasse que ele falasse livremente. E foi assim que Freud passou a
sugerir que seus clientes falassem o que lhes viesse à cabeça, sem censura,
definindo-se, assim, o método psicanalítico pela livre associação de ideias.
A psicanálise, como técnica construída por Sigmund Freud (1856-1939),
contrariou o Eu único da razão e da verdade de Descartes introduzindo então a visão
do Eu dividido obscurecendo a verdade. No entanto, Freud, não conseguiu se livrar
do modo platônico de construção do conhecimento e da ciência (positivista). García-
Roza (1993, p. 20) fez essa distinção da seguinte forma: “[...] A psicanálise provocou
uma queda da razão e da consciência do lugar sagrado onde foram encontradas. Ao
fazer da consciência um mero efeito superficial do inconsciente, Freud praticou uma
inversão do cartesianismo [...]”.
A psicanálise freudiana contribuiu muito para a compreensão do funcionamento
mental e do comportamento humano e para o tratamento da dor, isto é, com o Ics, o

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comportamento humano não pode ser explicado somente em termos de aspectos
psicológicos racionais. A partir disso, formou-se todo um movimento que valoriza o
afeto. Para Freud (1996b), o conflito psíquico é resultado do choque de forças
instintivas (inconscientes) e repressivas (derivadas do Ego e do Superego), sendo os
sintomas as representações simbólicas desse conflito. Ele revelou a instância do Ics
e revelou a ideia da dissociação do Eu em sujeito consciente e inconsciente e os
impulsos que movem os desejos do homem em impulsos de vida e morte (FREUD,
1996a) que funcionam sob diferentes lógicas.
Freud argumentou que, além da associação livre, existe outra forma de acessar
os conteúdos inconscientes expressos por meio das memórias: as reminiscências dos
sonhos (FREUD, 1996c, 1996d). O médico chocou a comunidade científica ao
defender a existência da sexualidade infantil e citar os traumas sofridos na infância
pela instância do complexo de Édipo (FREUD, 1996e). Também revelou aspectos
subjetivos como repressões, resistências e identificações como coadjuvantes
formação do caráter, personalidade e comportamento humano e o fenômeno da
transferência como eixo do tratamento psicanalítico (FREUD, 1996e).
Para Garcia-Roza (1993), foi a produção do conceito de Ics que resultou em
uma cisão da subjetividade, indicando, de tal forma, para uma constatação do sujeito
sob duas realidades — um sujeito dividido —, pois, se a alma fosse passiva de
cognição, não existiria erro. Salienta-se que o Ics freudiano não é o lugar das trevas,
da irracionalidade, sua lógica é apenas diferente da lógica da consciência e é o desejo
(e não a razão) que a anima.

3 INCONSCIENTE E PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA PSICANÁLISE

Sigmund Freud era médico e nasceu em uma família judia de ascendência


austríaca. Sua descoberta e afirmação da lógica da Ics, movida pelo desejo,
estabeleceu a própria técnica psicanalítica e foi institucionalizada como a escola da
psicanálise. A teoria foi desenvolvida de acordo com sua aplicação prática, isto é
empiricamente. Ela vai além do abandono de Freud da técnica da hipnose aprendida
com o mestre Charcot, passa para a associação livre sugerida por um de seus
pacientes e esclarece a técnica na troca de inúmeras correspondências com outros

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pesquisadores de seu período (Breuer, Ferenczi, Fliess e outros). A base de criação
da psicanálise é em 1896 com a definição do aparelho psíquico.
Para Mezan (2008), Freud estava ligado a Charcot pela vinculação da histeria
com o processo de hipnose e com Breuer pelo processo catártico e pela teoria dos
estados hipnoides (FREUD, 1996a). A evolução clínica da Psicanálise o fez avançar,
a ponto de acabar com a amizade com Breuer, como reconhece o próprio Freud
(1996f).
Segundo Baratto (2009), o Ics foi elaborado como um sistema de
representações que obedece às leis do deslocamento e da compressão, e representa
a instância real da produção do pensamento, que pode encontrar na palavra um meio
de expressão (como registro do simbólico). A psicanálise teve um árduo caminho
histórico para formulá-la. Para o autor, o objetivo de Freud era aliviar o sofrimento do
paciente expresso por meio dos sintomas, tentando examinar o momento preciso em
que o trauma associado foi notado. Freud tentou usar as técnicas de hipnose e catarse
para descobrir a causa desencadeante dos sintomas. Inicialmente, foram abordados
sintomas que não podiam ser localizados em lesões biológicas, como paralisia, tiques,
cegueira e comportamentos repetitivos. Nessa jornada exploratória, Freud descobriu
a presença de uma força poderosa que se opunha à tomada de consciência de certos
aspectos inconscientes, que ele chamou de resistência.
A prática clínica mostrou que as emoções dolorosas tendem a permanecer
associadas a uma memória. Usando a associação livre, ele identificou a liberação de
certos sofrimentos psicológicos. Nesta primeira parte da teoria freudiana, podemos
dizer que em estudos clínicos de pacientes histéricas, verificou-se que eles sofriam
de lembranças das situações traumáticas para eles (principalmente na infância) e
produziam sintomas. Para se livrar dos sintomas, os pacientes tiveram que recuperar
essas memórias por meio da fala.
García-Roza (1993) denota para o surgimento de uma primeira definição de
organização do aparelho psíquico no Projeto para uma Psicologia Científica (FREUD,
1996i), onde o que se convencionou chamar de Ego tem uma função repressiva com
o objetivo de inibir o investimento de energia instintiva da imagem de memória de um
objeto satisfatório, evitando assim alucinações. Ainda intimamente relacionada às
descargas elétricas neurais, essa força vê a oposição expressa entre o Ego (Cs) e o

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reprimido (Ics). Ao enfatizar a memória como mais do que um evento, Freud articulou
o conceito de mente, que está intimamente ligado à teoria do trauma, ou seja,
reconheceu que o trauma nem sempre está ligado a um evento real, mas, sim, à
experiência fantasmagórica que o paciente tem.
Para Baratto (2009), Freud (1996c, 1996d), na interpretação dos sonhos,
confirma que a estrutura do fantasma é comparável à estrutura do sonho, pois o
fantasma e o sonho representam formas de realização inconsciente de desejos. Além
disso, os mecanismos de deslocamento e condensação são fundamentais para o
trabalho do Eu na deformação do desejo (como mecanismos de defesa) que tendem
a obscurecê-lo para o sujeito.
No que se refere aos mecanismos de defesa — pontos importantes na obra
freudiana —, é importante salientar que eles são, sumariamente, formas de o sujeito
consciente se proteger de algum conflito entre o Ego e o mundo externo ou entre o
Ego e os desejos inconscientes. Tais mecanismos geralmente são indispensáveis
para o sujeito quando este precisa enfrentar algo considerado, pelo seu Ego, como
perigoso ou ameaçador.
O sujeito acaba criando formas imaginárias para se proteger dessa situação,
que geralmente se repete diante de novas situações que por algum motivo se
assemelham ao primeiro evento que foi rotulado de traumático. No entanto, não se
limitam tão somente aos fenômenos mencionados por Baratto (2009) e Maia (2009)
em relação à formação do conteúdo dos sonhos, mas também a estes. Os
mecanismos de defesa são definidos, abordados e trabalhados ao longo do
desenvolvimento da psicanálise em textos como As neuropsicoses de defesa
(FREUD, 1996b) e Inibições, Sintomas e Angústia (FREUD, 1996g). Sobre os
mecanismos de deslocamento e compressão, Maia (2009) afirma que, para Freud, os
sonhos não se reduzem a um conteúdo inconsciente, pois são, na verdade, formações
do Ego.
Já em 1905, com base nas contribuições do editor inglês James Strachey,
Freud havia publicado duas de suas obras mais importantes sobre o conhecimento
baseado na descoberta da Ics e na compreensão da sexualidade humana: A
Interpretação dos Sonhos e os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade
(EDINGTON, 2012). Nesse período, Freud definiu, além da formulação do Ics, alguns

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aspectos importantes que caracterizam a psicanálise: a livre associação de ideias e a
interpretação dos sonhos como acesso ao seu conteúdo, a vida psíquica sexual da
criança e o medo da castração (Complexo de Édipo), resistência e supressão da
realização da libido pelo sistema consciente e pôr fim a presença constante da
dualidade das pulsões (autopreservação e sexualidade).
Quanto ao complexo de Édipo, Moreira (2004) confirma que não se trata
apenas de um caso de um complexo nuclear de neurose (uma das psicopatologias
estudadas por Freud na psicanálise que inclui a histeria - fenômeno psíquico
identificado em seus primeiros pacientes cujo tratamento constitui própria teoria
psicanalítica), mas a partir de um ponto de virada na sexualidade humana.
O complexo de Édipo estrutura e organiza como o sujeito se posiciona em sua
vida e como esse sujeito diferencia o Eu e o outro, o mundo interior e o exterior, e os
sexos. 'A Resolução do Complexo de Édipo' (FREUD, 1996h) é um texto fundamental
que define essa estrutura complexa, que muito contribuiu para a teoria psicanalítica e
é usada como referência por outras escolas de psicanálise.
Testi (2012) observa que Freud (1996e), em busca das situações patogênicas
que surgiam das repressões da sexualidade e quando surgiam os sintomas ao invés
das fantasias reprimidas, examinou a história do sujeito até a infância. Segundo esse
autor, Freud (1996e) deixou clara sua posição sobre a sexualidade infantil desde os
Três Ensaios, embora se detendo apenas aos adultos. Testi (2012) lembra que Freud
supervisionou a análise de Hans e sua própria filha realizada por seus pais,
observando o comportamento das crianças.
A partir de 1910, Freud fez uma clara distinção entre pulsões de
autopreservação (um conjunto de necessidades associadas às funções vitais do corpo
e reguladas pelo princípio de realidade) e pulsões sexuais (GARCIA-ROZA, 1993).
Freud (1996i) afirmou ter constatado que a satisfação dessas necessidades é
acompanhada por uma sensação de prazer. No entanto, essa luxúria está
desvinculada do instinto, não mais tomando como objeto algo do mundo real, mas um
fantasma do objeto, representando assim instintos sexuais em oposição aos de
autopreservação. Em Freud (1996j), esse contraste entre pulsões é suavizado pelo
contraste entre a libido do Ego (narcisista) e a libido objetal (libido investido em objetos
externos).

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É apenas no texto de 1914 que Freud vai definir mais claramente o Ego em
oposição ao Ics e a ruptura com Jung, por persistir com a ideia da sexualização da
libido (GARCIA-ROZA, 1993). Avançando em seus estudos sobre o embate de forças
inconscientes e conscientes, Freud formulou uma nova organização psíquica, a qual
alguns autores chamam de esquema topográfico do aparelho psíquico. Dessa forma,
Freud (1996k) distinguiu três instâncias mentais: o Ics, o Pré-Cs e o Consciente (Cs).
O trabalho da Psicanálise, nesse caso, seria o de tornar conscientes os
conteúdos inconscientes. Baratto (2009) afirma que, no texto O Inconsciente, Freud
(1996j) levanta a questão de como se dá a transposição, isto é, a passagem das ideias
do sistema Ics para o sistema Cs. Essa questão é precisamente introduzida em função
da concepção tópica de que o aparelho psíquico é constituído por três sistemas: Ics,
Pré-Cs e Cs. Os estudiosos da Psicanálise chamam essa primeira configuração
espacial do psiquismo humano de Primeira Tópica Freudiana.
Segundo Baratto (2009), Freud argumentou que o trabalho clínico prova que a
repressão não é revertida, nem seu efeito é revertido pela sugestão (FREUD, 1996l).
O autor lembra que os psicanalistas devem estar cientes de que a divulgação do Ics
ao paciente atendido na maioria das vezes leva a uma intervenção inofensiva e ao
aumento da resistência.
A psicanálise freudiana não pretende promover uma expansão da consciência,
Freud chamou esse método de ambição terapêutica, uma emoção perigosa para o
analista (selvagem). Freud também sugeriu, mas refutou, a ideia da possibilidade de
que a transição das ideias inconscientes para a consciência ocorresse por meio do
esforço de atenção. O Ics torna-se o Cs pela palavra, ou seja, pelas associações de
ideias inconscientes, já que a repressão nega as ideias. Assim, mais tarde, Lacan
apontou a distinção entre função e estrutura da linguagem para explicar o Ics
(BARATTO, 2009).
Quanto ao recalque, segundo García-Roza (1993), ele vem do Ego e tem como
fonte as demandas éticas e culturais do indivíduo. Freud reconheceu que nem todos
os sujeitos respondiam igualmente às demandas e experiências, e afirmou que um
determinado indivíduo poderia estabelecer um grande ideal de vida em que seu Ego
mede, e outro simplesmente não poderia ter uma referência tão alta, logo entendeu
Freud que para que haja recalque, deve haver um ideal como condição.

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No narcisismo, o verdadeiro Ego funde-se no novo Ego ideal, dotado de
perfeições às quais não se pode renunciar (perfeição narcisista infantil). O homem
então procura recuperá-lo através de uma forma de um ideal do Ego. Aqui temos dois
conceitos importantes para a dinâmica psíquica: o Ego ideal (busca repressão) e o
ideal do Ego (busca idealização).
Na obra Luto e Melancolia, Freud (1996j), trata de forma mais precisa sobre o
Narcisismo, e a identificação imaginária com o objeto, caracterizando como a libido
no processo de luto deve passar pelo teste da realidade e o confronto com a perda do
objeto para se esvaziar dos laços afetivos anteriormente associados a ele. Um
processo semelhante, mas fundamentalmente diferente, ocorre na melancolia, um
processo no qual o paciente identifica o objeto fantasia com o Ego e continua a enrista-
lo através dessa identificação.
Ainda de acordo com as ideias de García-Roza (1993) notamos que no texto
"Além do Princípio do Prazer" (FREUD, 1996m) ele afirma que há grande parte do Ics
no Ego, isto é, além de uma determinada parte do Ego estar ligada à consciência, há
outra que é inconsciente, contudo, é somente em O Ego e o Id, de Freud (1996h) que
é assinalada a emergência do surgimento de um novo sistema, conhecido como
Segunda Tópica Freudiana: Ego, Id e Superego. Entretanto, essa nova tríade não
substitui a anterior, pois: “[…] enquanto a primeira tópica voltava sua atenção para a
economia libidinal, a segunda está voltada para o confronto da libido com o que lhe é
externo: a exigência de renúncia imposta pela cultura” (GARCIA-ROZA, 1993, p. 206).
Em outras palavras, o que suprime a libido são as regras de uma sociedade. Só se
pode falar do ideal do ego quando o outro é introduzido.
García-Roza (1993) também aponta que Freud admitiu que o Ego é aquela
parte do Id que foi modificada pela proximidade e influência do mundo exterior
(FREUD, 1996n), confrontando o princípio do prazer e a realidade. Mas e o Superego?
Ainda segundo o autor, o Ego não enfrenta apenas o Id, pois uma parte dele se
diferencia e se constitui como entidade autônoma e produz o Superego no psiquismo,
que tem a função de agente crítico. Este é o herdeiro do complexo de Édipo e é
construído com uma tripla função: introspecção, consciência moral e ideal de Ego.
As crises para o sujeito são explicadas pela economia e dinâmica psíquica no
que se refere às negociações do Ego com as demandas instintivas do Id, as

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idealizações e repressões do Superego e da realidade. Uma frase que causou
polêmica no fim da XXXI Conferência (FREUD, 1996n) foi: Wo es war, sol ich werden.
Pode ser entendida de diversas maneiras, mas sobretudo como: onde isto (Id) estava,
então Eu devo ser (estar) — uma análise mais aprofunda foi realizada posteriormente
por Jacques Lacan (GARCIA-ROZA, 1993).
Complementarmente às questões do Ics são desenvolvidas, por diversos
precursores de Freud, algumas conceituações acerca do Narcisismo, da dissociação
do Ego, das fases erógenas infantis, do fortalecimento do Ego, da educação, entre
outras características de comportamento e desenvolvimento humano.
Podemos destacar aqueles que se mantiveram atrelados à Escola Freudiana:
 Karl Abraham (estudos dos estágios pré-genitais do desenvolvimento e
sobre o Narcisismo);
 Sandor Ferenczi (fundamentos da teoria das relações objetais e a teoria
do trauma da sedução real infantil);
 Wilhelm Reich (crítica de que uma análise deve ir além da remoção dos
sintomas, visando a mudanças na armadura resistencial);
 Anna Freud (enalteceu e aprofundou as funções do Ego e foi pioneira da
Psicanálise com crianças) e Bion.
Além de outras escolas oriundas da Psicanálise freudiana, como a kleiniana,
winnicotiana, do Ego, do self e a Escola Lacaniana, entre outras, destacaremos
algumas dessas escolas a seguir, considerando suas contribuições à subjetividade e
ao desenvolvimento humano (GARCIA-ROZA, 1993).
Por fim, podemos conceituar Id, Ego e Superego, que, como já vimos, foram
desenvolvidos por Freud entre 1920 e 1923 como uma segunda teoria para
aperfeiçoar sua descoberta ao afirmar que o aparelho psíquico consiste nesses três
componentes específicos, senão vejamos:
 Id: Para Freud, o Id deve ser entendido como um reservatório de energias
psíquicas, como o lugar de onde emanam os impulsos de vida (eros) e morte
(thanatus). O Id é o componente arcaico e inconsciente das energias mentais
(psique) que alimentam o comportamento humano. Do Id vêm os impulsos
cegos e impessoais dedicados à gratificação pessoal. Este componente não

16
consegue perceber os limites de suas ações. É o mais inconsciente dos três
componentes. Está nos mais profundos do aparelho psíquico;
 Ego: Este componente exerce controle sobre a experiência consciente e regula
as ações entre a pessoa e o ambiente. Ocupa a posição de centros de
referência para toda atividade psíquica e qualidades egocêntricas. Além disso,
sempre se esforça para a autopreservação do organismo. Através do Ego, as
pessoas aprendem tudo sobre a realidade externa e orientam seu
comportamento para evitar estados dolorosos, medos e punições. Quanto às
suas funções básicas, o Ego é responsável por memórias, sentimentos,
pensamentos, repressão, etc.
 Superego: para Freud, o Superego é o representante de uma natureza superior
do "Ego". Ele trabalha com o objetivo de evitar penalidades e infrações.
Também é responsável por promover as ideias moralmente aceitas. Também
de acordo com a teoria freudiana, o Ego surge com o complexo de Édipo, da
internalização de proibições, limites e autoridades. Como funções básicas
podemos considerar a geração de culpa, o sentimento de inferioridade, virtude,
a equação mágica de desejo e ação, e a necessidade inconsciente de punição.
Na concepção da psicanálise, esses três sistemas não são vazios. Ao contrário,
são habitadas por conteúdos decorrentes de experiências pessoais e particulares que
as pessoas descrevem sequencialmente como seres sociais. Por isso, na teoria
psicanalítica, para compreender um indivíduo é preciso resgatar seu passado, os
conteúdos de suas experiências passadas (BOCK et al., 2002).

3.1 Inconsciente e Sublimação

Como vimos, Freud deixou seus pacientes para falar e conduzir sessões
analíticas, e descobriu que alguns se sentiam estranhamente embaraçados e
retraídos quando certos conteúdos, pensamentos ou imagens lembradas surgiam. Ele
percebeu que havia uma força tentando parar tais atos e pensamentos.
Com base nessas evidências, foi estabelecida a presença de dois elementos
envolvidos na origem do esquecimento. Ele chamou o primeiro elemento de
resistência (poder psíquico impedindo a revelação, a consciência de um pensamento).

17
A segunda foi a repressão. Esse poder funciona no sentido de fazer desaparecer a
consciência de uma lembrança, a lembrança de algo insuportável e doloroso que pode
estar na origem do sintoma do paciente. Com base nessas considerações, Freud
descobriu a existência do inconsciente como parte do aparelho psíquico.
De acordo com a teoria psicanalítica, existe um recipiente intrapsíquico no qual
residem todas as memórias. Freud chamou esse lugar de inconsciente. Em sua
tentativa de compreender o esquecimento, os erros percebidos nas sessões de
análise, a percepção freudiana levou à conclusão de que o inconsciente humano o
orienta em suas decisões e sentimentos e tem sua própria lógica e leis de
funcionamento.

3.1.1 O que é o inconsciente?

Após estudos em seu livro A Interpretação dos Sonhos, Freud apresentou sua
primeira ideia da estrutura e funcionamento do aparelho psíquico, a personalidade.
Para ele existem três entidades psíquicas que compõem o aparelho psíquico, senão
vejamos: inconsciente, pré-consciente e consciente. A seguir, você pode conhecer
cada uma delas:
 Consciente: nessa localidade residem os conteúdos conscientes, as ideias
e os pensamentos mais presentes. Esse é uma doutrina do instrumento
psíquico em que as informações do universo exterior e interno são
recebidas, pensadas e percebidas;
 Pré-consciente: neste caso, são os conteúdos que são acessíveis à
consciência, mas podem ou não ser incluídos, e isso sem um esforço muito
grande por parte do indivíduo. Esta parte do sistema psíquico é um ponto
intermediário entre estados de consciência e o estado de inconsciência;
 Inconsciente: contém o conteúdo da memória, boas e más lembranças, ou
seja, fatos ou lembranças de episódios inconscientes. Freud definiu o
inconsciente como o sistema no qual se agrupam os conteúdos não
presentes na mente consciente. Existem os conteúdos reprimidos que são
impedidos de entrar na consciência. Este ocorre devido ao efeito de censura
dos mecanismos internos de defesa. Freud enfatiza que o inconsciente é

18
uma parte do sistema psíquico que se rege por suas próprias leis de
funcionamento e não se limita à noção de tempo. No inconsciente não há
ideia de passado e presente.

3.1.2 Sublimação

Como você já viu, existe uma força interior no inconsciente humano que
conspira para que os desejos sejam realizados sem culpa ou desconforto. Essa força
busca a paz de consciência. Freud chamou isso de mecanismo de defesa. Como o
nome sugere, esse mecanismo tenta mitigar o conflito negando ou distorcendo a
realidade. É um instinto que mantém o contentamento interior. Na concepção
psicanalítica, esses mecanismos, na maioria dos casos em que atuam, tentam
defender o autoconceito da pessoa e podem, assim, impedir o desenvolvimento
saudável da personalidade.
Um dos mecanismos de defesa mais bem estudados por Freud é a sublimação.
Este é um poderoso instinto/impulso que permite que impulsos indesejados sejam
convertidos em algo menos prejudicial. Esse instinto permite que conteúdos que não
podem ser expressos diretamente pela pessoa por serem violentos ou repulsivos se
manifestem na vida da sociedade por meio de atividades intelectuais, artísticas,
religiosas, atos que beneficiam a organização social em vez de prejudicá-la. Disso
pode-se deduzir que talvez a arte de Leonardo da Vinci e a música de Beethoven
sejam o resultado da sublimação de seus desejos desapontados ou emoções
tempestuosas.
Como você pode ver, a sublimação pode ser vista como uma importante
ferramenta de apaziguamento e manutenção da ordem social. Sem eles, a
convivência social poderia se tornar muito perigosa e difícil.
Contudo, para Jorge (2008, 153):

As indicações freudianas sobre a sublimação são pontuais e não chegam a


constituir uma ‘teoria coerente’, o que não impede que o termo sublimação
seja usado com grande frequência pelos psicanalistas, ainda que muitas
vezes distorcendo alguns dos achados mais fundamentais de Freud e
transformando-o no estandarte de uma teoria que tem por objetivo a
normativização da sexualidade. A teoria freudiana, no entanto, não autoriza
esse reducionismo psicologizante e o conceito de sublimação requer ser
apreciado em sua sutil complexidade.

19
Ainda para o autor, “os primórdios do processo de sublimação interessam a
Freud na medida em que permitem a produção de diferentes associações que de outra
forma não seriam observadas. Assim, haveria uma estreita ligação entre a sublimação
e o chamado saber ou pulsão de pesquisa, cuja atividade ocorre entre 3 e 5 anos.
Essa ânsia estaria ligada, por um lado, à ânsia de dominação, da qual seria uma forma
sublimada, e por outro, à escopofilia”. Com isso em mente, lembre-se de que o termo
teoria vem do grego theoria, significando o ato de ver, observar e investigar (JORGE,
2008, p. 153).
A supressão pela formação reativa é uma subespécie de sublimação. Ela se
inicia no período de latência e continua por toda a vida constituindo o que se chama
de caráter:

“O que descrevemos como o ‘caráter’ de uma pessoa é construído em grande


parte com o material de excitações sexuais e se compõe de pulsões que
foram fixadas desde a infância, de construções alcançadas por meio da
sublimação e de outras construções, empregadas para eficazmente conter os
impulsos perversos que foram reconhecidos como inutilizáveis” (JORGE,
2008, p. 153).

3.2 Constituição do sujeito e seu desenvolvimento

Para destacarmos as especificações das fases de desenvolvimento infantil em


Freud, vale ressaltar que desde o início de seus trabalhos, no Projeto (FREUD, 1996i),
ele analisa o vínculo mãe-bebê com uma experiência de satisfação erógena. A
experiência de satisfação vai ser importante no processo dinâmico psíquico de prazer-
desprazer.
Para Testi (2012), a experiência de satisfação em Freud se caracteriza pelo
encontro entre o bebê e a pessoa que permite as descargas das tensões internas
(geralmente a mãe), promovendo, assim, o apaziguamento dessas tensões, que é
reconhecida como uma vivência de satisfação, produzindo a primeira sensação de
prazer, além da saciação de uma pura necessidade. Assim, para a autora, quando a
mãe está cuidando do filho, ela também está despertando no filho a pulsão sexual ou
libido.
Garcia-Roza (1993) lembra a distinção freudiana entre Narcisismo primário e
secundário. O narcisismo é uma categoria criada por Freud para representar um

20
investimento libidinal no Ego. O narcisismo primário descreve um estado precoce em
que a criança investe toda a libido em si mesma (autoerotismo), ao passo que o
secundário descreve o retorno da libido ao Ego depois da retirada dos investimentos
objetais (libido do objeto). O narcisismo primário é entendido aqui, enquanto realidade
psíquica, como o mito primário do regresso ao seio materno, sendo o autoerotismo
uma fase anterior e preparatória ao narcisismo. Uma das formas de lidar com o
narcisismo infantil é o recalque (função normalizante).
Freud defendia tanto o menino quanto a menina como sendo o primeiro objeto
original de amor da mãe, mas insistia na ideia de que o abandono da mãe, como
objeto de amor, é uma condição necessária para a entrada da menina no Édipo
(MOREIRA, 2004). Freud caracterizou as fases de desenvolvimento infantil a partir
das pulsões sexuais em quatro fazes: oral, anal, genital e fálica.
Para Testi (2012), a sexualidade infantil na teoria freudiana não se caracteriza
por uma fase cronológica de desenvolvimento, mas por fases de organização psíquica
frente ao objeto. Na constituição psíquica do sujeito, Freud classificou duas etapas de
organização pré-genital: a oral e a sádico-anal, pois estando a satisfação a serviço da
autopreservação, é natural que ocorra em referência à nutrição. Situada entre a
organização pré-genital e a organização sexual adulta, é definida uma organização
sexual infantil ou fálica (sob a primazia do falo). O amadurecimento da criança pode
levar à resolução (dissolução) de seu Complexo de Édipo.
Devemos destacar, ainda, algumas contribuições à constituição do sujeito e ao
seu desenvolvimento segundo outras Escolas de Psicanálise pós-freudiana. Além de
Anna Freud, que deu continuidade à Escola de seu pai, mas tomando rumos próprios,
Jung, que fundou sua própria terapia, Abraham, Bion, entre outros, podemos também
destacar as contribuições de Melaine Klein. Segundo Ribeiro e Caropreso (2018),
entre 1920 e 1945, a Psicanálise infantil se restringia ao circuito europeu, tendo Anna
Freud, Melaine Klein, Margaret Mahler, Donald Winnicott, Spitz, Ferencsi e Abraham
como seus principais estudiosos. Com os determinantes da Segunda Guerra, alguns
desses psicanalistas precisaram se mudar para os Estados Unidos.

21
3.2.1 Melanie Klein

Melanie Klein partiu de alguns conceitos de Freud, como fantasia, mundo


interior, complexo de Édipo, etc., mas também elaborou outros conceitos originais
como posição e Ego primitivo (de nascimento) para mobilizar mecanismos de defesas
arcaicas (dissociações, identificação projetiva, identificação introjetiva, negação
onipotente, idealização e difamação) contra os medos primitivos decorrentes da
pulsão de morte inata, mantendo o conceito freudiano do complexo de Édipo, mas
identificando-o nos primeiros dias de vida da criança (NEVES, 2007).
Melaine Klein fundou a Escola dos Teóricos das Relações Objetais. Examinava
os estágios iniciais do desenvolvimento infantil, criando a técnica do brincar como
forma de expressão do Ics. Avaliando o primeiro trimestre do desenvolvimento infantil,
Klein identificou o medo da aniquilação (causado pelo trauma do nascimento e
identificação de objetos parciais como o seio da mãe), um medo persecutório que
evoca suas primeiras defesas (posição esquizo-paranóide quando criança).
Com base nesse conceito, Melaine Klein descreveu o desenvolvimento
psicológico do indivíduo humano. O período marcado pela escola kleiniana valorizou
aspectos do desenvolvimento emocional primitivo, relações objetais parciais,
mecanismos primitivos de defesa e, apesar da valorização da transferência pela teoria
freudiana, o caráter contratransferencial do analista começou a ganhar visibilidade.
Essa escola foi desenvolvida na obra de diversos autores, inclusive no Brasil, como
Isaacs, Segal, Rosenfeld, Meltzer, Bion e Aberastury (ABRÃO, 2008).
Ribeiro e Caropreso (2018) resumem a fase da separação-individuação de 4
ou 5 meses de vida do bebê e até 30 a 36 meses. Observações diárias no Centro
Infantil Maestro (MAHLER, 1971) descreveram certos comportamentos comuns aos
bebês, como o uso de objetos inanimados relacionados à mãe para atuar como
substitutos (objetos de transição) para ela durante sua ausência. Da mesma maneira:

Outro fato observado é que houve significativa modificação cinestésica das


crianças normais quando em contato com o corpo humano e pouca alteração
quando manuseando objetos inanimados. Entretanto, nas crianças
psicóticas, o quadro inverso foi notado. Uma terceira observação foi a
ocorrência, entre irmãos, de diferentes reações diante de estranhos,
mostrando que, apesar de terem o mesmo objeto materno, a aquisição da
expectativa confiante e da desconfiança básica dependem da maneira com
que foram cuidados (RIBEIRO; CAROPRESO, 2018, p. 905).

22
3.2.2 Heiz Kohut

Outra importante escola fundada nos EUA foi a psicologia do self. Foi
estabelecida por Heiz Kohut, um médico austríaco que, como Mahler e outros, estava
fugindo do caos dos nazistas. Kohut inicialmente se considerava um profundo
estudioso dos conceitos freudianos, mas em Chicago se distanciou desses conceitos
fundamentais da psicanálise tradicional. Para Kohut, os conceitos psicanalíticos
assumiram posições muito ortodoxas (as escolas de Anna Freud, Melanie Klein e a
psicologia do Ego). Ele explicou que os fenômenos psicológicos só podem ser
apreendidos através da introspecção e da empatia. Enquanto estudava patologias
narcísicas, sofreu fortes críticas negativas, mas seus ensinamentos foram ampliados.
Segundo Sarkis (2016), os estudos de Kohut sobre patologias narcísicas
apresentados em obras e publicados em seus livros têm recebido críticas negativas.
Colegas e alunos se reuniram e o ajudaram a fundar o Grupo de Estudos de Psicologia
do Ego. Heiz Kohut formulou o conceito do self-objeto respondendo empaticamente
às necessidades psicológicas, ou seja, o indivíduo que passa a ter uma experiência
associada a funções que um bebê ainda não pode desempenhar sozinho porque
possui apenas um núcleo de self desenvolvido por meio da conexão consigo mesmo
(SARKIS, 2016). Mais especificamente, para o bebê, o adulto que cuida dele é uma
parte dele mesmo.
O Ego-objeto idealizado garante segurança, apoio e um sentimento de
pertencimento a um contexto humano, mas quando esse Ego-objeto falha, ele vem
conduzindo a uma internalização idealizada do ego apegado, levando a patologias do
Ego narcisista. Kohut defendeu a existência de um Eu completo (não defeituoso) com
habilidades plenas, criativas e produtivas em oposição ao Eu narcisista (defeituoso).
A cura do Ego narcísico ocorre através das experiências emocionais do
paciente em reativação e análise de transferência, durante o processo analítico as
emoções inconscientes são revividas e processadas na mente consciente.
Posteriormente, Kohut modificou alguns conceitos como o narcisismo, que foi
conceituado como uma estrutura da mente, algo típico das relações humanas, com
capacidade de transformações evolutivas. Através do conceito de raiva narcísica, ele
criticou a agressão destrutiva que responde à ameaça de fragmentação do Eu. Além
disso, Kohut utilizou metáforas para distinguir o homem culpado (a relação do homem
23
com suas pulsões) do homem trágico (em busca de sentido existencial), enfatizando
seu distanciamento da psicanálise freudiana, e afirmando que o homem corre riscos
pela ameaça de fragmentação do self.

3.2.3 Winnicott

A Escola de Donald Woods Winnicott (1896–1971) também se tornou bastante


importante, tendo em vista que o pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista nascido na
Grã-Bretanha atuou clinicamente e escreveu para revistas destinadas ao público em
geral. Nelas, ele discutia os problemas das crianças e das suas famílias.
Sua extensa obra foi dedicada à construção da teoria dos processos
maturacionais (um caminho a ser percorrido partindo da dependência absoluta e da
dependência relativa à independência relativa) que, além de constituir uma teoria da
saúde, com descrição das tarefas impostas desde o início da vida pelo próprio
amadurecimento, configura também o horizonte teórico necessário para a
compreensão da natureza e a etiologia dos distúrbios psíquicos.
Winnicott exerceu a psiquiatria infantil com base na Psicanálise modelada por
ele mesmo em três pontos:
 A teoria da sexualidade no entendimento das patologias maturacionais e das
práticas clínicas;
 A valorização do fator ambiental;
 A substituição do Complexo de Édipo pela resolução dos conflitos no colo da
mãe e nos ciclos que vão se ampliando conforme o amadurecimento.
Metodologicamente, seu trabalho diferiu de Freud e de outros em sua decisão
de estudar a criança e sua mãe como uma entidade psíquica. Isso lhe permitiu
observar a sucessão de mães e bebês e obter conhecimento sobre a constelação
mãe-bebê, em vez de dois seres puramente diferentes. Portanto, não há como
descrever um bebê sem falar de sua mãe, pois o ambiente é primeiro a mãe (ambiente
encorajador: boa mãe), só aos poucos ele se torna algo externo e separado do bebê.
Naffah Neto (2005) argumenta que muito antes de o bebê constituir seu Eu
unificado e coerente, Winnicott define um modo particular de estar no mundo ao fundir
a herança biológica e articulando-a com seu ambiente. Apesar do surgimento de um

24
self fragmentado (gesto espontâneo, criativo), há um eixo central, um núcleo, a partir
do qual amadurece e produz experiência, fator primordial no desenvolvimento da
análise winnicottiana.
A psicopatia é caracterizada por uma perturbação ou falha no ambiente. A
teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique não é uma estrutura pré-
existente, mas algo constituído a partir da elaboração imaginativa do corpo e de suas
funções - o que constitui o binômio psique-soma. Essa elaboração se dá na
oportunidade materna de exercer funções primordiais como posse (permitindo a
integração no tempo e no espaço), manipulação (permitindo que a psique se aloje no
corpo) e apresentação de objetos (permitindo o contato com a realidade).
O psique-soma primitivo se move ao longo de uma linha de desenvolvimento
enquanto a continuidade de sua existência não for quebrada. Isso requer um ambiente
suficientemente bom no qual as necessidades do bebê sejam atendidas. Um ambiente
ruim parece uma invasão à qual o psicossoma (o bebê) tem que responder. Essa
reação interrompe a continuidade da existência do bebê. A doença surge então como
resultado de perturbações na relação mãe-filho, pois estas provocam perturbações no
desenvolvimento do indivíduo. Tais distúrbios criam uma sensação de ausência de
limites corporais, despersonalização iminente, medos inimagináveis, ameaças de
desintegração e despedaçamento e de cair para sempre e falta de coesão
psicossomática.

3.2.4 Jacques Lacan

A última Escola de Psicanálise que abordaremos aqui é a da Escola Francesa


inaugurada por Jacques Lacan. Lacan se tornou um autor polêmico, muito discutido e
admirado, de modo que seus seguidores o consideram um psicanalista brilhante, e o
maior depois de Freud, enquanto seus críticos o acusam de deturpar/desvirtuar a
Psicanálise, afirmando que a teoria lacaniana é um retrocesso à Psicanálise. Lacan
debruça-se sobre a teoria freudiana para apoiar suas diversas críticas à Psicologia do
Ego e as escolas desenvolvidas nos EUA.
Segundo Garcia-Roza (1993), Lacan lê Freud e se propõe a analisar a
enigmática frase do final da XXXI Conferência: Wo es war, sol ich werden (FREUD,
1996n). O autor considera que, para Freud, o sujeito não é o sujeito da verdade, que
25
o Eu desconhece os desejos do sujeito (deslocamento do sujeito cartesiano já
mencionado aqui). Então, “[…] dizem Freud e Lacan é que esse sujeito, até então
absoluto, é atropelado por outro sujeito que ele desconhece e que lhe impõe uma fala
que é vivida pelo sujeito consciente como estranha, lacunar e sem sentido” (GARCIA-
ROZA, 1993, p. 210).
No discurso do sujeito (na cadeia significante), o que é lacunar é o lugar do
Outro para Lacan, e é nele que o sujeito aparece. Lacan fazia distinção desse Outro
(com O maiúsculo) como sendo o lugar do Ics e da ordem simbólica, ao passo que o
outro (com letra minúscula) é o semelhante, ou seja, um outro sujeito. Para Lacan, é
esse Outro que agita (GARCIA-ROZA, 1993).
O Outro é a própria ordem simbólica que é constituída pela linguagem e
composta de elementos significantes formadores do Ics. Já o Ego é a imagem que o
sujeito tem de si mesmo, manifestando-se como defesa e por isso tem a função
fundamental de desconhecimento. Em sua origem, o Ego (moi) é anterior ao Eu (je).
O Eu, para Lacan, é o da realidade falada, da comunicação, aquele que faz referência
a um tu.
Lacan determinou a origem do Ego como anterior à linguagem. Ele formulou a
teoria do Estádio do Espelho como formador da função do Eu, designando um
momento da história do sujeito entre os 6 e 18 meses de vida, quando a criança se
torna capaz de formar sua unidade corporal por identificar a imagem do outro (reflexo,
espelho) (GARCIA-ROZA, 1993).
O sujeito é produzido na passagem do imaginário ao simbólico, ou seja, por
meio da linguagem. Nesse momento, Lacan concebeu a constituição e o
desenvolvimento do sujeito a partir de uma ordem tríplice: a ordem Simbólica, a ordem
Imaginária, e a ordem do Real. Essa última representa a realidade barrada, impossível
de ser definida, já que não é possível de ser definida por escapar da compreensão do
sujeito.
São considerados discípulos de Lacan os psicanalistas Jaques Allain-Miller,
Fraçoise Dolto, Maud Mannoni, Moustapha Safouan, entre outros, que ajudaram a
disseminar no mundo a Escola Psicanalítica francesa.
Podemos apontar uma questão para a reflexão: partindo do que conhecemos
até aqui quanto à revelação do Ics e a constituição do Eu, perpassando por diversos

26
conceitos que contribuem para o entendimento do campo da Psicologia e para o
desenvolvimento do ser humano, ao comparar a ideia e a dinâmica da sexualidade
infantil presente em todas essas linhas de pesquisa, podemos afirmar que o ser
humano sofre enquanto ainda retém conteúdos infantis na forma de agir no mundo
externo? Talvez aqueles que conseguem melhor se adaptar às exigências do nosso
ambiente interno e externo sejam sujeitos um pouco mais amadurecidos e livres de
suas energias libidinais infantilizadas.

4 RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE, SOCIEDADE E CULTURA

A psicanálise é uma teoria social que surgiu entre o final do século XIX e início
do século XX. Assim, buscou-se oferecer respostas aos problemas enfrentados por
pessoas que vivenciam conflitos psicológicos, exacerbados por circunstâncias
históricas, sociais, políticas, econômicas e culturais emergentes. A todo momento
Freud tentou compreender seu mundo compreendendo o ser humano em sua parte
mais íntima, o inconsciente. Ele sabia o quanto a realidade, constrangimentos e
exigências cotidianas influenciam a vida interior dos sujeitos e sua racionalidade.
Com esse caminho, a psicanálise apontou para a necessidade de construir
espaços em que a liberdade e a individualidade fossem levadas a sério. A busca pela
liberdade e emancipação do homem leva à afirmação do potencial humano. A
proposição freudiana de um ser humano mais autônomo e livre - ou pelo menos mais
consciente da existência dos vínculos sufocantes dos complexos morais - permite a
emergência de uma organização social menos repressiva.
Para a psicanálise é mais fácil para a pessoa autoconfiante lidar com o
sofrimento e as ausências. Confirmando essa visão, Bock et al. (2002, p. 80) reitera
que a finalidade da psicanálise como trabalho de investigação do autoconhecimento
é “[...] criar mecanismos de superação dificuldades, conflitos e submissão a uma
produção mais autônoma, criativa e humana de cada indivíduo, grupo, instituição […]”.
A influência e a importância dos conceitos de Freud na organização das
sociedades contemporâneas e na cultura que molda a vida em todo o Ocidente não
podem ser negadas. A grande contribuição para a ciência, arte, literatura e cultura em
geral está na descoberta do inconsciente. Disso nasce uma nova compreensão do ser

27
humano, diferente daquela anteriormente postulada pela filosofia moderna, com sua
acentuada ênfase na possibilidade de plena autonomia humana com base na razão.
O homem moderno tem sido descrito como uma máquina, sem emoção, frio.
Os postulados freudianos minam essa visão ao afirmar que o homem não é tão
proprietário de seus caminhos. A psicanálise demonstra a existência de outro "Eu" no
homem que o controla inconscientemente e demonstra que pessoas precisam ter uma
visão mais verdadeira de si mesmas. No entendimento de Mendes (2006), quando
Freud deu ao inconsciente um status de “alteridade radical”, por ter suas próprias leis
e lógica e não ser dependente da razão cartesiana, ele foi ao mesmo tempo
caracterizado pela genialidade. Tempo que o apresentou como um bom construtor da
cultura emergente.
A descoberta do inconsciente e sua descrição impactaram diretamente
algumas premissas da religião e da organização da sociedade, e demonstraram o
poder do conteúdo imaginário e da criação de ilusões. A pessoa concebida pela
psicanálise precisa estar em um relacionamento saudável para se manter produtiva e
ativa. Sua racionalidade depende de condições externas que afetam sua realidade
interior e suas disposições mais queridas. Daí a importância do outro, da
interdependência, de uma experiência mais livre, menos repressiva, mais criativa.
Outro elemento importante é a contribuição da psicanálise para o estudo da
neurociência e para a própria educação, bem como para as artes, como aponta
Mendes (2006, documento online):

A influência claramente assumida dos seus conceitos por movimentos


artísticos como o surrealismo nas artes plásticas e no cinema, com nomes
como Salvador Dalí, André Breton, Luís Buñuel, entre outros, com seu arrojo
crítico ativo e desconstrução das convenções, desconcertou o próprio Freud,
ele mesmo um burguês comportado, herdeiro da época vitoriana em sua vida
pessoal.

Outro legado da psicanálise que mostra suas raízes na cultura contemporânea


é a ênfase na subjetividade, bem como a noção de que as diferenças são importantes
para a organização das sociedades. A psicanálise faz parte dos grandes movimentos
que iluminaram e possibilitaram a existência do cenário atual, mais abertos às
minorias étnicas, à liberdade da mulher e seu consequente empoderamento, à
abertura e aceitação da sexualidade feminina ativa e à diversidade sexual.

28
Da análise do curso histórico da cultura decorre que a psicanálise, que
transcende as fronteiras entre o normal e o patológico, tornou-se uma psicologia geral.
Invadiu todo o campo da história humana: arte, religião, filosofia, antropologia etc. Em
suma, o vínculo da psicanálise com a realidade contemporânea é tal que é impossível
imaginar um mundo sem jargões e conceitos freudianos. Não há como ler e
compreender o homem e suas manifestações culturais e religiosas sem considerar as
afirmações de Freud sobre o inconsciente. Como você viu, o inconsciente cria os
desejos e impulsos que orientam as decisões e os sentimentos humanos. Nele o
sujeito se encontra e se revela completamente.

5 TEORIA FREUDIANA DA CONSCIÊNCIA

Os processos psicológicos permeiam a relação de nossa psique com o que nos


cerca. Por exemplo, eles integram nossas lições aprendidas (como quando
aprendemos a falar, ler e andar), nossas experiências (como quando ouvimos uma
música favorita) e a maneira como nos comportamos (como quando reagimos a
situações de medo) e nos relacionamos com as pessoas.
Observe como a consciência, assim como outros processos (como emoção,
pensamento, linguagem, sensação e percepção) estão presentes em todos os
exemplos citados. Estar consciente significa estar ciente de seus processos e da
relação que você está estabelecendo com o mundo exterior. Se não conseguimos
trabalhar e entender nossos medos e traumas, é porque na dinâmica psíquica não
conseguimos alcançar as informações que estão armazenadas em nosso
subconsciente por algum motivo (como quando temos medo de um determinado
animal, mas não entendemos a origem desse sentimento).
Etimologicamente, o significado de consciência vem de conscientia, que
representa aquilo/algo compartilhado com alguém. A consciência, portanto, diz
respeito à capacidade de nos conhecermos em relação ao ambiente e ao outro. Este
tema tem sido abordado especificamente em diversas áreas do conhecimento, como
filosofia, neurociência, biologia, medicina, psiquiatria e psicologia.
No campo da pesquisa psicanalítica desde o final do século XIX, destacam-se
as contribuições de Freud para a compreensão da consciência, particularmente o

29
conceito de inconsciente a partir da consciência. Para ele, a consciência pertence aos
conteúdos acessíveis ao sujeito. Consiste em perceber tudo ao nosso redor:
sentimentos, pensamentos e percepções. O inconsciente, por outro lado, pode ser
entendido como um registro de experiências e memórias traumáticas, assim como
desejos reprimidos e que podem se manifestar como sintomas. A ansiedade e o medo
são exemplos da influência do inconsciente em nossas vidas.

5.1 Freud e a consciência

Segundo estudos freudianos, a consciência é um grande "mistério" para a


ciência. Freud (2011b) abordou a consciência a partir da perspectiva do consciente,
argumentando que ela funciona como o órgão dos sentidos dos processos de
pensamento e percepção do mundo exterior. Portanto, esse órgão desempenha um
papel importante na discussão da função do inconsciente, pois pode se manifestar por
meio da mente consciente. A dinâmica do funcionamento consciente/inconsciente de
Freud é discutida detalhadamente neste tópico, usando as observações clínicas de
Freud como ponto de partida para a discussão. Serão objetos de discussão também
a dinâmica do aparelho psíquico e as contribuições de Charcot para o
desenvolvimento do conceito de histeria.
Pode-se retraçar parte do percurso cronológico freudiano sobre a construção
do irreflexivo a partir da obra Estudos sobre a histeria (1980/1893-1895). Entre os
anos de 1888 e 1893, o médico austríaco Sigmund Freud, usufruindo dos achados de
Charcot acerca dos aspectos traumáticos da histeria, afirmava, com a sua teoria da
sedução, que o trauma vivido pelo paciente histérico era de cunho sexual.
Nesse sentido, os sintomas histéricos poderiam resultar de abuso sofrido
durante a infância do sujeito (charme real). Mais tarde, o inventor renunciou à teoria
da sedução e começou a rebater sobre trauma, que ocorre na dinâmica psíquica. Ou
seja, as experiências negativas vividas na infância seriam recalcadas no irreflexivo e
não se teria acolhimento a elas por uma fala consciente. Assim, Freud afirmava que o
advento dos sintomas histéricos estaria inteiramente pautado às situações prévias
vividas pelo sujeito. Trata-se de um relacionamento não tão modesto de apreender,
imperfeição que serviu de alicerce para explicações entre causas e efeitos das crises

30
histéricas, contribuindo teoricamente para as discussões sobre a função do irreflexivo
e as sintomatologias (FREUD, 1996).
Entre 1893 e 1899 Freud desenvolveu o método da hipnose para promover a
catarse. O objetivo era aliviar os sintomas no momento em que se formavam, pois, o
médico observava a dificuldade de seus pacientes em associar o sintoma a algo
relacionado a si mesmo. Assim surgiu o conceito de resistência, um obstáculo entre o
conteúdo reprimido no inconsciente até a chegada da consciência. O autor também
descobriu que as emoções desencadeadas por eventos traumáticos estavam
intimamente ligadas às memórias.
Segundo Sampaio Primo (2015), Freud teve um intercâmbio intelectual com
Breuer sobre casos clínicos, o que foi importante para influenciar a construção da
histeria nas obras de Freud. Por muito tempo o psicanalista utilizou a hipnose como
método de estudo da histeria, mas finalmente a abandonou quando percebeu que o
aspecto principal dos sintomas histéricos são as reminiscências, ou seja, memórias
reprimidas por serem traumáticas. As atuações de Charcot, as trocas intelectuais com
Breuer e a prática clínica permitiram a Freud seguir seu caminho pessoal de pesquisa.
O médico então abandonou a hipnose e a teoria do trauma, concluindo que os
histéricos sofriam de flashbacks.
Nesse contexto, a consciência surgiu como um aspecto de extrema relevância
para o desenvolvimento da obra de Freud (2011b), pois é a partir deste que se
configuram as discussões sobre o papel do aparelho e as dimensões do inconsciente.
Segundo Freud (2011b), o ser consciente do sujeito é um estado relativo. Ou seja,
memórias, pensamentos e emoções podem escapar rapidamente da nossa
consciência, mas também podem reaparecer sob condições que os encorajam, como
em conversas, lembranças ou visitas a determinados lugares.
No entanto, para compreender plenamente o conceito de consciência, é
necessário reconhecer as diferenças entre o consciente e o inconsciente. A teoria
psicanalítica sugere que o inconsciente armazena experiências psíquicas como
traumas, emoções e memórias que podem se tornar conscientes como ideias, embora
essa não seja uma dinâmica tão fácil de apreender (FREUD, 2011b).
Para Freud, o inconsciente existe apenas do ponto de vista consciente. A
consciência, portanto, para o médico é a percepção do mundo exterior, a percepção

31
dos estados afetivos de prazer-dor e faz parte dos processos dinâmicos do sujeito
(GOMES, 2003). Não obstante, em O Inconsciente, Freud (2010) reconhece a
complexidade dos processos perceptivos. Para ele existem dois mundos: o interno,
que está relacionado a todos os conteúdos inconscientes e; o externo, representado
pela nossa percepção de mundo e pelos nossos valores e experiências.
Na obra Negação, o autor aponta que aquilo que se percebe não
necessariamente precisa estar integrado ao Ego e que a grande questão é se os
conteúdos do Ego, que estão presentes como representação, podem atingir a
percepção da realidade. (FREUD, 2014). Apesar de sua complexidade, a questão do
conteúdo interno e externo é fundamental para a compreensão da esfera psíquica.
Embora existam representações, segundo Coelho Junior (1999), elas decorrem de
percepções de mundo. Dessa forma, a representação garante a realidade, ou pelo
menos sua representação.
Com essas considerações podemos perceber que Freud desenvolveu
conceitos importantes como consciente e inconsciente que são essenciais para
entender como a dinâmica psíquica é gerada e como lidar com conteúdos reprimidos
no inconsciente. Também foram discutidas as relações freudianas entre o consciente
e o inconsciente, subsidiando a construção do autor da topografia do aparelho
psíquico idealizado.

5.2 As tópicas do aparelho psíquico

A psicanálise freudiana foi de grande importância para os conceitos de primeira


e segunda tópicas. O primeiro modelo foi chamado de teoria topográfica e trabalhos
sobre a dinâmica do aparelho psíquico (inconsciente, pré-consciente e consciente). O
segundo modelo é o estrutural, que fundamenta as discussões sobre o Id, o Ego e o
Superego, instâncias da dinâmica psíquica. Um dos principais aspectos da psicanálise
é definir a diferença entre o consciente e o inconsciente, pois sem essa distinção é
difícil compreender a dinâmica patológica e o aparelho psíquico.
Segundo a teoria freudiana, o primeiro tema sobre a estrutura do aparelho
psíquico o divide em consciente, pré-consciente e inconsciente. Freud diz dessas
ideias (2011a, p. 326):

32
Ao que é latente, tão só descritivamente inconsciente, e não no sentido
dinâmico, chamamos de pré-consciente; o termo inconsciente limitamos ao
reprimido dinamicamente inconsciente, de modo que possuímos agora três
termos, consciente (cs), pré-consciente (pcs) e inconsciente (ics), cujo
sentido não é mais puramente descritivo. O pcs, supomos, está muito mais
próximo ao cs do que o ics, e, como qualificamos o ics de psíquico, tampouco
hesitaremos em qualificar o pcs latente de psíquico.

Na esfera da psicanálise, desse modo, o entendimento da teoria freudiana da


consciência envolve discriminações entre consciente, pré-consciente e inconsciente.
O aparelho psíquico tem diferentes formas de manifestar seu conteúdo. Os
conteúdos manifestos não são conscientes, são reprimidos no inconsciente porque
são impróprios (como conteúdos sexuais ou violadores de leis socialmente
regulamentadas). O conteúdo latente, por outro lado, se manifesta através dos sonhos
e é interpretado de acordo com a análise e atinge o nível consciente.
O sonho é apresentado como o conteúdo latente do inconsciente, cujo caminho
é o pré-consciente em uma investida de acessar o que não está claro para a mente
consciente (FREUD, 2011b). Por meio dessa organização psíquica, o sujeito é capaz
de elaborar, editar e tornar conscientes seus processos internos, aliviando assim seu
sofrimento psíquico.
O pré-consciente é a barreira ou uma das áreas da psique. Faz parte do
inconsciente, mas a mente consciente pode acessar o conteúdo do gerenciamento de
análise. O consciente é o contato com o mundo exterior e total compreensão dele,
captando percepções de emoções e pensamentos (FREUD, 2011b). No inconsciente,
a repressão é o estado do que não é consciente, mas pode se tornar através do
gerenciamento analítico. A repressão é o mecanismo do inconsciente que mantém as
memórias reservadas.
Em suma, existem dois tipos de inconsciente: o latente e o reprimido. O primeiro
é um conteúdo que pode se tornar consciente; o segundo é o reprimido, incapaz de
tomar consciência dele. No sentido dinâmico, existe apenas o consciente e o
inconsciente juntos. Reforçando o que foi discutido acima: um depende do outro para
existir. Por exemplo, se o paciente muda de nome na análise ou diz algo que signifique
algo diferente, ele, através do ato falho, pode ter acessado, mesmo que
superficialmente, o seu inconsciente (FREUD, 2011b).
Todavia, na segunda tópica a própria teoria aponta para a organização de
entidades responsáveis pelos processos da dinâmica psíquica: o Ego, o Id e o
33
Superego. O Ego está ligado à consciência e controla as emoções do mundo exterior.
O Ego não é sobre a consciência, mas sobre uma barreira na psique que é o caminho
entre o Id e o Superego. Segundo Rosenfield (2021), o Id, o Eu-ego e o Superego
complicam a instância do Superego, cuja função é tanto consciente quanto
inconsciente. Nesta fase de maturidade Freud distingue diferentes funções do
inconsciente.
O Ego traz alguns entendimentos sobre o consciente e contém aspectos
inconscientes. O medo é um mecanismo que mantém o consciente e o inconsciente
conectados. Assim, para Freud (2011b), o Superego é herdeiro do complexo de Édipo.
Desempenha um papel importante na independência da criança, na ruptura simbólica
com os pais, mostrando que o sujeito tem mais autonomia e visão das coisas e do
mundo (FREUD, 2011b).
Consoante a obra freudiana Ego e Id, de 1923, o Superego vai contra as
escolhas objetais inconscientes ocorridas no complexo de édipo, no qual as meninas
trocam o objeto de afeiçoamento maternal pelo paterno e os meninos permanecem
ligados à forma materna, rivalizando o afeiçoamento da genitora com o progenitor.
O encargo do Superego é instaurar a lei que castra e frustra o indivíduo da
realização da fantasia erótica, levando-o a formar outras escolhas objetais (quanto os
primeiros amores, amigos e demais relações sociais). Isso fica totalmente explícito
quando se discute a fantasia que a menina tem com o pai e o menino com a mãe. A
castração age como interventor para a não realização da fantasia, de forma que a
criança se frustra e busca outros objetos para o investimento libidinal.
Na segunda tópica de Freud, o inconsciente não é mais tratado como um lugar,
mas caracterizado como uma das estruturas do psiquismo. Nesse sentido, o Id só
pode se tornar consciente se tiver um representante, como no caso do conteúdo
onírico. Parte do ego e do Superego podem ser conscientes, mas suas formas
originais são inconscientes. O Id, por outro lado, só pode se tornar consciente quando
se torna uma representação — suas formas originais são permanentemente
inconscientes.

34
5.3 Consciência dos processos do Eu

Na obra As pulsões e seus destinos (FREUD, 2013), Freud aborda o problema


do retorno instintivo do Eu. O autor faz uso dos problemas das neuroses de
transferência e das vias instintivas da dinâmica psíquica.
Primeiro é necessário reconhecer que o Eu pode ser literalmente inconsciente.
Tem uma especificidade que leva a ser consciente ou inconsciente, daí a
ambiguidade. De qualquer forma, nosso conhecimento está ligado à consciência e,
como mencionado acima, só podemos conhecer o inconsciente tornando-o consciente
(FREUD, 2011b). Assim, para compreender o inconsciente, é preciso torná-lo
consciente, transformar o que era apenas percepção em percepções externas.
Imediatamente, o Ego não é apenas uma parte modificada do Id que aparece
para o mundo exterior como um representante da psique. Existe uma terminologia que
pode abordar isso: o "ideal do Ego" ou "Superego". O grande desafio é que essa parte
do Eu tenha um contato mais distante com a consciência. Assim, pode-se observar
que o Ego desempenha um papel importante na construção do caráter, pois na fase
primitiva do sujeito o investimento objetal e a identificação com o objeto de gratificação
são indistinguíveis uma da outra. Supõe-se mais tarde que esses desejos primitivos
vêm do Id, que sente a necessidade de impulsos eróticos. O papel do Eu nisso? Afaste
ou reprima esses desejos (FREUD, 2011b).
Se um tal objeto sexual deve ou tem de ser abandonado (no caso dos bebês,
a mama é o objeto de desejo), não é raro sobrevir uma alteração do Eu. Ocorre uma
regressão ao mecanismo da fase oral, e o Eu facilita o abandono do objeto. De todo
modo, o processo é muito frequente, sobretudo nas primeiras fases do
desenvolvimento. O caráter do Eu se forma a partir do abandono dos objetos
primários, tarefa importante para essa constituição.
Nesse sentido, ocorre uma gradação da capacidade de resistência. Mas até
que ponto as influências da história de vida do sujeito têm impacto nas escolhas
eróticas de objeto? Por exemplo, muitas mulheres nas suas relações amorosas,
elegem perfis que se assemelhem ao pai e repetem a relação que tem com a mãe. É
claro perceber os traços de caráter do sujeito, os vestígios dos seus investimentos
objetais (FREUD, 2011c).

35
Nesse sentido, o Eu pode ser entendido como uma forma de repertório verbal
que indica o comportamento do sujeito, influenciado pelo social e por questões que
levam o indivíduo a compreender quem é. Os estudos de caso são de grande
relevância para as discussões sobre a aplicabilidade e aplicação teórica da
psicanálise em um determinado contexto clínico, convidando-nos a refletir sobre a
construção do tema à luz da experiência, trauma e história de vida.
Neste capítulo você viu que a teoria freudiana da consciência inclui vários
aspectos, como o estudo do aparelho psíquico que demarca o consciente, o pré-
consciente e o inconsciente. O autor esclareceu que para uma consciência deve haver
um inconsciente, que por sua vez atua como reservatório de emoções, pensamentos
e memórias. Os grandes psicanalistas como Lacan, Adler, Bettelheim, Jung, Pichon-
Rivière e Erikson baseiam suas discussões nos escritos de Freud. Não é um
argumento fácil de entender, mas é fascinante para psicanalistas e entusiastas do
assunto.
As diversas constatações de Freud sobre o consciente e o inconsciente
serviram de base para a compreensão do trauma, da elaboração do conteúdo
manifesto e latente da variedade de sofrimentos psicológicos que o sujeito
experimenta ao longo da vida. De fato, a teoria da consciência tem sido de imensa
importância para construções conceituais de diferentes perspectivas. Os escritos de
Freud contribuíram e continuam contribuindo diretamente para a prática psicanalítica
e para o trabalho de pesquisadores e entusiastas do inconsciente.

6 ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA E METODOLÓGICA EM PSICANÁLISE

A psicanálise surgiu no século XIX, em um período histórico de construção


científica em que o modelo dominante era o da ciência moderna. Seu nascimento
ocorreu no século XVII e Descartes pode ser considerado um marco da nova ciência,
pois representou um ponto de partida na discussão sobre a valorização de um sujeito
racional e a sede da experiência cognitiva.
Segundo Figueiredo (1995, p. 16) "o domínio tipicamente moderno das
tradições teóricas e epistemológicas, no qual surgem e flutuam questões de
fundamentos e métodos, reflete uma nova posição do homem [...]". Voltando à

36
proposta original da ciência moderna em seu autor principal, apresentamos a
afirmação de Descartes (1641/2008) segundo a qual a dúvida hiperbólica é a
transmissão da certeza, sendo o sujeito fruto do cogito a "coisa, que pensa" e,
ampliando a definição a partir do conceito de coisa: "Coisa que duvida, entende,
compreende, afirma, nega, quer, não quer, e também imagina e sente" (p. 92).
Segundo Descartes, tudo isso faria parte do que o autor chama de "natureza
humana". Consequentemente, Descartes propõe um método científico que poderia
orientar esse pensamento, que refinaria a variabilidade desse assunto para que ele
não errasse. O rigor do método seria usado para controle, senão vejamos:

Mas vejo bem o que se passa; meu espírito é um vagabundo que gosta de se
perder e não poderia suportar que o prendam nos justos limites da verdade.
Soltemos-lhe, pois, mais uma vez as rédeas e, dando-lhe todo tipo de
liberdade, permitamos-lhe considerar os objetos que lhe aparecem
externamente, para que, vindo mais tarde a retirá-la lenta e
convenientemente e a detê-lo na consideração de seu ser e das coisas que
encontra em si mesmo, ele se deixe depois disso mais facilmente governar e
conduzir. (Descartes, 1641/2008, p. 93)

A ciência moderna, que tem a obra cartesiana como marco, propôs a ênfase
no sujeito como resultado de um método de purificação, de rigor científico, em que o
principal objetivo das correntes epistemológicas era buscar um sujeito epistemológico
completo, consciente de sua era autoconsciente e mestre absoluto de tua vontade.
Com isso em mente temos a proposta de um tema movido pela razão em oposição às
paixões mundanas.
Desse rigor, segundo Figueiredo (1995), surge uma cisão entre um sujeito
ascético e tudo o que afeta a confiabilidade desse sujeito, ou seja, tudo o que pode
relacionar-se com seus desejos e inclinações, bem como com sua variabilidade e
singularidade. Segundo o autor, afirmamos que é possível constatar o repetido
fracasso dessa cisão, a partir da história construída sobre o projeto epistemológico
moderno e suas diversas versões.
Consideramos a psicanálise, segundo García-Roza (2009), como parte de um
“conjunto de saberes sobre o homem que vem evoluindo desde o século XIX” que
propõe o descentramento da razão (p. 22). Isso não significa que a psicanálise ignore
a razão consciente, resultado do refinamento do método, mas não é mais a base
cognitiva primária da teoria psicanalítica. Então aqui temos uma razão baseada no

37
inconsciente sobredeterminando o consciente, e a teoria freudiana indicaria a
sobredeterminação inconsciente, o que implica que o sujeito não é dono de sua
própria casa, ou seja, não tem controle total dos seus desejos, pensamentos,
sentimentos e afetos. Portanto, a psicanálise enfatiza a variabilidade em detrimento
da regularidade e generalização dos fenômenos, o que implica repensar a relação
com os modelos científicos.
Nesse sentido, a citação a seguir traz um panorama das questões a serem
tratadas no artigo, a saber, a constituição do estatuto epistemológico da psicanálise e
a construção de conceitos a partir de uma teoria do inconsciente, que aponta para o
sujeito em seu contexto e à sua maneira deseja:

Significa apenas dizer que, reorientada através dos esforços, como os de


Lacan, para uma leitura inovante de Freud, a psicanálise pode se tornar uma
teoria bem posicionada epistemicamente para substituir uma certa visão
'ortopédica' do sujeito da ciência - forjado nas cadeiras do cogito cartesiano -
por uma visão 'profilática', das relações entre um Ego cogitante e
um sujeito desejante, entre o imaginário da sua cognição e a verdade do seu
desejo. Tal convicção significa, pois, apenas querer ver o campo da ciência
inclinar-se 'epistemologicamente' à evidência do inconsciente. (Beividas,
2000, p. 17, itálicos do autor)

O caráter inventivo da reinterpretação lacaniana da teoria freudiana ao propor


uma subversão do cogito cartesiano a partir da invenção do inconsciente em relação
ao desejo de superação e à razão consciente também é demonstrado pelo
reposicionamento do analista diante do seu objeto de estudo e as características que
limitam sua prática.
Nesse sentido destacamos a seguinte passagem do texto de Lacan sobre o
caráter elusivo do objeto de estudo em psicanálise: "Mas esse princípio, ao articulá-lo
de um modo que, ao longo da análise, não se apresenta jamais como encerrado,
fechado, completo, satisfatório, esse perpétuo movimento, deslizar dialético, que é o
movimento e a vida da pesquisa analítica" (Lacan, 1958-59, p. 259).
Contrastando com as tentativas de incorporar o texto freudiano em
aproximações realistas do mundo exterior, seja por meio de reduções biologizantes
do aparelho psíquico ou pelo retorno a um instinto inato, Lacan propõe uma leitura do
estatuto epistemológico psicanalítico caracterizado pelo papel estruturante de Língua
em todo o seu caráter dialético e antinatural.

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Lacan (1998) afirma em Ciência e Verdade que é "impensável que a psicanálise
como prática, que o inconsciente, o de Freud, como descoberta, pudesse ter ocorrido
antes do nascimento da ciência" e que não houve suposta ruptura com o "cientificismo
de seu tempo" (p. 871), mas esse mesmo cientificismo o teria levado a lançar as bases
da teoria psicanalítica.
Segundo Figueiredo (1995), embora tenha nascido nesse contexto de
purificação da variabilidade dos sujeitos pelo rigor do método, a psicanálise lida
justamente com o que a ciência deixa de lado, pois o que é negligenciado é algo que
nunca deixa escrito vir a ser, que ou seja, estar presente através das formações do
inconsciente: sonhos, lapsos, chistes e sintomas. Isso implica que o “resto” dessa
ciência, ainda que suprimida pela ciência moderna, está presente em nossas ações
cotidianas por meio das manifestações do inconsciente. Se para Lacan (1998) o
sujeito da psicanálise não pode ser outro senão o sujeito da ciência, aqui é o sujeito
“não da desrazão, mas da razão inconsciente, cuja lógica também é apreendida pelo
método psicanalítico” (QUINET, 2000, pág. 12).
O ponto de partida da argumentação não poderia ter sido outro senão o modo
como Freud (1915/1996) abordou cada vez mais as estruturas discursivas de seus
pacientes, sua clínica, diferentemente das propostas de reduzir o fenômeno aos seus
determinantes biológicos, estabelecendo uma nova posição epistemológica de
aperfeiçoamento em relação aos projetos originais de estabelecimento de uma
psicologia centrada na consciência: a metapsicologia.
Diante das variadas críticas recebidas, em seu artigo metapsicológico, o autor
questiona, portanto, o que é uma ciência:

Ouvimos com frequência a afirmação de que as ciências devem ser


estruturadas em conceitos básicos claros e bem definidos. De fato, nenhuma
ciência, nem mesmo a mais exata, começa com tais definições. [As] ideias
[...] devem, de início, possuir necessariamente certo grau de indefinição; [...].
O avanço do conhecimento, contudo, não tolera qualquer rigidez, inclusive
em se tratando de definições. A física proporciona excelente ilustração da
forma pela qual mesmo 'conceitos básicos', que tenham sido estabelecidos
sob a forma de definições, estão sendo constantemente alterados em seu
conteúdo. (FREUD, 1996, p. 123)

Isso implica que "nem mesmo as ciências mais precisas" têm o poder (e talvez
o direito) de construir verdades absolutas na elaboração de seus conceitos. Freud
baseia-se no movimento sistemático de escrutínio conceitual que ele atribui à ciência,
39
o que dá à sua teoria o status de uma ciência em vez de um dogma (imutável). Nesse
sentido, Kisses (2000) aponta que "a obra de Freud é tão variada e a exploração da
realidade psíquica o levou a percorrer tantas áreas da mente humana que sempre há
flancos em seu texto" (p .27).
Um exemplo da revisão teórico-conceitual realizada por Freud (1897/1996) é
quando ele escreve a Fliess, na Carta 69, dizendo que não acredita mais em sua
neurótica, que é a primeira teoria das neuroses como teoria da sedução, passando a
redigir a teoria da fantasia. Importa salientar também que nos três ensaios sobre a
teoria da sexualidade Freud (1905/1996) faz acréscimos significativos ao texto na
forma de notas de rodapé. Este é mais um exemplo de verificação teórica do autor de
seus próprios textos.
Para Freud, porém, neste momento a construção do conceito difere da
verificação da realidade ou da própria coisa, mas do corte radical que a psicanálise
segue, após a leitura lacaniana, entre saber e verdade. Um caminho possível que se
seguiria nesse caso seria retornar ao conceito freudiano de realidade psíquica, que
implica a possibilidade de evitar a construção de elementos mentais que são vistos
como simulacros do exterior, que mediriam a verdade ou o erro. Segundo Freud
(FREUD, 1924/1996, p. 208):

A distinção nítida entre neurose e psicose, contudo, é enfraquecida pela


circunstância de que também na neurose não faltam tentativas de substituir
uma realidade desagradável por outra que esteja mais de acordo com os
desejos do indivíduo. Isso é possibilitado pela existência de um mundo de
fantasia, de um domínio que ficou separado do mundo externo real na época
da introdução do princípio de realidade.

Por outro lado, a disjunção entre conhecimento e verdade que emerge na


reinterpretação lacaniana do sujeito permite uma abordagem da realidade psíquica
como um regime de existência independente do que uma realidade externa possa ser.
Sua relação com a verdade, nesse sentido, não seria uma aproximação positiva de
um objeto existente independente da realidade psíquica, mas sim o seguimento de
critérios de desejo e engajamento, levando Freud a aceitar o inconsciente como
“realidade psíquica” e sobredeterminante no que se refere à consciência (FREUD,
1900/1996).
Nesse caso, o discurso clínico em psicanálise apresenta o conhecimento
mediado pelo analisando como real, factual e presente na medida da intensidade de
40
sua expressão. Essa intersecção entre teoria e prática clínica existe desde os
primórdios da psicanálise, como no texto Estudos sobre a histeria (1893) que afirma
que a pretensão freudiana ia além da cura, ou seja, da remissão dos sintomas
histéricos.
À medida que a teoria freudiana foi sendo construída, o movimento de revisão
conceitual também possibilitou a mudança dos critérios de legitimidade e das formas
de compreensão dos fenômenos epistemológicos. Se em sua pesquisa Freud buscou
primeiramente uma correspondência orgânica para o aparelho psíquico depois de
uma base inicialmente física na posição acima descrita da busca da verdade por
aproximação, a teoria vai mostrando aos poucos os sinais da impossibilidade dessa
correspondência. Exemplo disso é a passagem do texto O Inconsciente em que Freud
(1915/1996) defende a impossibilidade de localizar o inconsciente como substância
ou matéria objetivável e como tal observável no cérebro.
Assim, quando a construção teórica da relação entre o aparelho psíquico e a
realidade abandona gradativamente a possibilidade de uma relação ponto a ponto
entre representação e objeto representado, a consequência epistemológica é a
necessidade de apresentar os parâmetros pelos quais isso ocorreria. Nomeadamente,
destacamos que a hipótese do inconsciente como uma verdadeira realidade psíquica
está em contradição com a posição de um realismo representacional, que acabaria
por colocar a semelhança com o exterior como prioridade na construção do psíquico.
Portanto, Freud defende um regime de realidade psíquica autônoma que, no
entanto, não é inteiramente alheia ao mundo exterior. O conceito de determinismo
psíquico possibilita uma aproximação entre sistemas (inconsciente, pré-consciente,
consciente) e também em termos de reconstrução psíquica de elementos externos.
Com a afirmação de que o inconsciente é a verdadeira realidade psicológica, Freud
(1900/1996) aponta para uma mudança gradual de uma matriz de pensamento realista
para uma matriz discursiva.
Em “A perda da realidade na neurose e na psicose” o autor (1924/1996) mais
uma vez se refere à máxima da realidade psíquica ao afirmar que tanto na neurose
quanto na psicose ela "em ambos os casos serve ao desejo de poder do id, que não
se deixará ditar pela realidade" (p. 206). Deste modo, para Lacan (1966/1998), o
conceito freudiano de realidade psíquica “deve ser lido como efetivamente designado,

41
ou seja, como a linha da experiência que sanciona o sujeito da ciência” (p. 871),
afirmando que ela cria um sujeito autônomo, artificial e provisório. Nesse sentido, a
releitura de Lacan possibilitaria pensar a ciência como origem de um regime peculiar
de existência imanente ao desejo como sujeito estruturante.
Dessa forma, Freud (1923/1996) formula a definição de psicanálise no início do
artigo, Dois verbetes da enciclopédia, em que o autor afirma que psicanálise é o nome:
 Do método de estudo dos processos mentais que de outra forma são
praticamente inacessíveis;
 O método de tratamento dos transtornos neuróticos baseado nesta pesquisa;
 A série de conceitos psicológicos adquiridos dessa maneira, que são
gradualmente adicionados a uma nova disciplina científica. Ele distingue a
psicanálise da filosofia e afirma que, embora a primeira esteja próxima de uma
ciência humana, não deve ser equiparada à segunda.
A partir disso, podemos dizer que o advento da psicanálise freudiana propôs
uma revisão epistemológica das ciências até então existentes em torno do estudo do
homem. Isso não significa que as ciências da época tivessem que ser
epistemologicamente reestruturadas para serem bem utilizadas para o estudo da
mente humana segundo parâmetros freudianos, mas sim que a assunção do
inconsciente e sua entrada no universo das pesquisas desafiam os parâmetros de
construção dos critérios epistemológicos das ciências em geral. Isso se deve ao
questionamento sistemático do tema do conhecimento e da lógica da razão por meio
da psicanálise.

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