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NOVOS RUMOS NA PSICANÁLISE

Conhecido como o pai da psicanalise, o Dr. Sigmund Freud, no final do século

19 inicia a criação de suas teorias e métodos para compreender a mente e o

comportamento humano. Nesse período os médicos, neurologistas em especial, não

sabiam como lidar com os problemas psíquicos de seus pacientes, sendo os mesmos

encaminhados para outros profissionais como místicos, religiosos e outros. Freud teve a

oportunidade de trabalhar com o médico francês, neurologista Dr. Charcot, que buscava

com profundo interesse um tratamento para os problemas psíquicos de seus pacientes.

Freud buscava com grande interesse um método que fosse capaz de aliviar e

trazer a cura para o sofrimento mental de seus pacientes. Inicia suas observações com a

hipnose, passando para o método da associação livre de ideias. Mantem um interesse

profundo nos sonhos, fantasias, angustias e desejos de seus pacientes, chegando a

conclusão que muitos dos sintomas psíquicos apresentados teriam como origem a

repressão desses sentimentos.

O auge da psicanalise ocorre no início século XX, com a participação de muitos

outros psicanalistas que contribuíram para o seu desenvolvimento. As intensas

transformações no mundo impulsionaram novos pensadores, muitos desses discípulos

de Freud, que ao longo de suas trajetórias descordaram, criaram novas teorias, refinaram

as teorias existentes levando a uma ressignificação do processo analítico. Essas

mudanças constantes, que continuam ocorrendo, conservam a essência dos legados e

mantem as bases teóricas deixadas por Freud, tendo o inconsciente como o ponto

central. Outros elementos e fenômenos psíquicos se mantem até hoje como a livre

associação de ideias, a fala como cura, a estrutura do psique, os mecanismos de defesa

criados pelo paciente – entre eles o recalque, a regressão, a racionalização, a projeção e


a formação reativa – como uma forma de proteção da realidade imposta pela cultura,

sociedade ou exigências pessoais.

Nos dias atuais nos deparamos com as constantes mudanças do mundo impostas

pela globalização, mudanças sócio - culturais, cientificas, éticas, modificações a nível

familiar levando consequentemente a mudanças individuais e pessoais. Surgem novas

indagações, novos problemas relacionados a essas mudanças de como vemos o mundo,

de como estamos inseridos nessa nova realidade, de como nos mantemos ligados e

interconectados uns com os outros e consigo mesmo. A visão sistêmica do mundo é

uma forma evoluída de como o enxergamos, de como estamos interligados na busca de

um objetivo comum que é a busca constante de harmonia e equilíbrio. Hoje as

características ou queixas dos pacientes são diferentes que nos dias de Freud, onde os

sintomas típicos e dominantes era de algum tipo de neurose.

Cabe ressaltar que ao longo do desenvolvimento das técnicas psicanalíticas

houve uma ampliação para o seu raio de ação. Na atualidade nos deparamos com

pacientes com queixas de ansiedade, depressão, angustias, transtornos do sentimento de

identidade, a cultura do narcisismo, as exigências de sucesso, entre outros, que vem de

encontro com a problemática do mundo moderno – globalizado e individualista.

Segundo Zimerman “...ficam claramente evidenciadas as profundas mudanças da

técnica psicanalítica da psicanálise contemporânea comparativamente com a dos

períodos anteriores.” (1999)

O trabalho do psicanalista também passa por modificações, essas motivadas

pelas mudanças ocorridas em nossa sociedade. A análise deixa de ser unilateral onde o

analista adotava a postura de ouvinte absoluto e portador de “todo saber”. Passa a existir

o “campo analítico”, um espaço vivo, dinâmico e onde ocorre uma constante interação
entre analista e analisando, com uma influência mutua sujeitos aos fenômenos

transferenciais e contratransferenciais. Ocorre a formação do vínculo analítico onde o

analista é mais espontâneo, informal e ao mesmo tempo mantem a distância necessária,

com uma atitude aberta e simples para escutar.

Freud em 1926 em “A questão da análise leiga”, comenta que “... a psicanálise

necessita lidar e incluir outros ramos do conhecimento que não estão interligados a

medicina”. Freud já estava alertando aos futuros psicanalistas da importante necessidade

de uma integração da psicanálise com outras disciplinas - a medicina, filosofia, as artes

entre outras. Zimerman (1999) divide de forma didática a evolução histórica da

psicanalise em três: psicanalise ortodoxa, psicanalise clássica e a psicanalise

contemporânea onde poderíamos situar o atual trabalho desenvolvido. Existe atualmente

uma busca por uma formação múltipla, pluralista, onde se busca conhecer diferentes

autores, variadas vertentes teóricas e técnicas para que o trabalho psicanalítico adquira

uma identidade própria.

Em 1910 Freud já fazia uma previsão do futuro da psicanalise, cujo

desenvolvimento estaria orientado para os avanços teóricos e técnicos, seria reconhecida

no seu estudo da mente humana e haveria um desenvolvimento da eficiência do trabalho

analítico. Porém todas essas mudanças e conquistas vem acompanhado de uma

necessidade crescente e constante de uma reflexão crítica com o objetivo de alcançar a

melhor pratica psicanalítica.

Podemos concluir que a psicanálise contemporânea encontra-se em um constante

movimento de crescimento, reavaliação, adaptação as mudanças de um mundo

globalizado acompanhado do surgimento de novos sintomas, necessidades e exigências

por parte do paciente. Cabe ao psicanalista ser capaz de acompanhar essas mudanças e

novas exigências mantendo uma pluralidade, o estudo de diferentes vertentes teóricas,


sendo capaz de criar uma identidade própria e livre, porém sem renunciar os princípios

básicos da psicanálise.

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