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Introdução e História da Psicanálise

(...) Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais: somos também o
que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que
trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos 'sem
querer'. Sigmund Freud
Sobre a Disciplina:
Esta disciplina da pós-graduação possibilitará a compreensão da
Introdução e a história da psicanálise criada por Sigmund Freud (1856-
1939). Veremos a trajetória e história da psicanálise está
indissociavelmente ligada à vida de Freud. A teoria criada por ele em
Viena no início do século XX se difundiu por inúmeras áreas do saber,
e seus termos circulam até mesmo em conversas coloquiais. Freud
inaugurou uma nova área do conhecimento, uma nova forma de ver e
pensar o mundo: as neuroses, a infância, a sexualidade, os
relacionamentos humanos, a subjetividade, a sociedade etc.

Coordenação Geral

Patricia R. T.
E-mail: trilhandocursosead@gmail.com
(19)99894-3877
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA PSICANÁLISE ................................................................................4


1. O surgimento da Psicanálise................................................................................................4
2. Trajetória da Psicanálise como área livre e científica .........................................................6
3. Psicanálise e a (Psico)Terapia ..............................................................................................7
3.1. O que acontece na psicanálise?...........................................................................................9
4. Fundamentos da Psicanálise e o comportamento dos indivíduos....................................11
5. Mecanismos de defesa ......................................................................................................12
6. Contribuições da Psicanálise aos estudos organizacionais ...............................................16
7. A HISTÓRIA DO MOVIMENTO PSICANALÍTICO ..................................................................23
8. CONCEITOS DO INCONSCIENTE .........................................................................................27
9. QUEM É O PSICANÁLISE E O QUE ELE FAZ? .......................................................................30
10. O AMPARA LEGAL DO TRABALHO DO PSICANALISTA NO BRASIL .....................................31
Olá seja bem-vindo (a) à Disciplina de Introdução e História da Psicanálise

(...) A maioria das pessoas não quer


realmente a liberdade,
pois liberdade envolve responsabilidade,
e a das pessoas tem
medo da responsabilidade.
Sigmund Freud

INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

1. O surgimento da Psicanálise

No desdobrar ao final do século XIX e início do Século XX , Freud, então um jovem médico
neurologista, em Viena, incomodado com a pouca concretude cientifica das propostas
terapêuticas oferecidas pela ciência médica para os quadros de histeria que se avolumavam na
unidade hospitalar em que trabalhava, ao ter contato com inovadoras propostas de
entendimento e tratamento para essa doença - muito especialmente pesquisas e propostas
terapêuticas desenvolvidas por Charcot e Breuer -, entusiasmado pelos iniciais resultados por
eles alcançados, decidiu-se por buscar respostas para além dos paradigmas limitantes do
racionalismo e da exacerbada biologização das doenças, alcançando como inicial referência a
existência do inconsciente - um revolucionário conceito que, através de estudos posteriores, se
ampliou, adquirindo uma original e inovadora concepção, servindo ele, o
inconsciente, como fundamento para
criação, por Freud, da Psicanálise.

Interessante ponto de vista é textualizado


por Maurano1 em relação à relevância do
trabalho de Freud, quando de modo
objetivo e bastante simples, afirma a que
“... a grande contribuição trazida por

Fonte: Google – hypenesse.com.br


Freud foi a de tratar o sintoma não como um defeito ou degeneração, mas como uma
via de expressão do sujeito”.

Uma vez contextualizado, ainda que de modo bastante resumido, os cenários


motivadores do surgimento da Psicanálise, entendo como relevante ver-se ressaltada,
enquanto agregação de conhecimento, sua importância para a ciência contemporânea,
socorrendo-me para tanto de manifestação de Schultz & Schultz2, que bem esclarecem
essa visão de importância, asseverando que: “... com a Psicanálise e a Teoria do
Inconsciente, Freud realiza a terceira grande ferida ao narcisismo humano [...] a primeira
ferida foi perpetrada, séculos antes, pôr Copérnico, com a Teoria Heliocêntrica [...] a
segunda ferida foi realizada por Darwin, que tira o homem do patamar de senhor e
centro
da criação, para o qual tudo foi feito, uma espécie única e destacada, e afirma que o
homem é uma espécie superior que é proveniente de formas inferiores da vida animal

[...] Freud realiza a terceira ferida narcísica ao criar


a Psicanálise, descentrando o sujeito de si mesmo
ao afirmar que o homem não é senhor de sua
própria casa, mas coabita com forças conflituosas
existentes no sistema inconsciente [...] o homem,
antes visto como posseiro de um local privilegiado
(o lugar do conhecimento e da verdade), agora é
visto como um ser movido por forças que sua
própria razão desconhece e sobre as quais ele tem
pouco ou nenhum controle, portanto, o homem
não é um agente racional sobre a vida, como se
pensava [...] a psicanálise, portanto, promove uma
ruptura com o saber existente, derrubando a razão
e a consciência do lugar sagrado em que se
encontrava”. (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ,2020)
2. Trajetória da Psicanálise como área livre e científica

A Psicanálise como vimos é uma disciplina ou área científica instituída por Sigmund
Freud há cerca de mais de cento e vinte cinco anos. Designa-se teoria psicanalítica a
todo um corpo de hipóteses que dizem respeito ao funcionamento e ao
desenvolvimento da mente do Homem. Tem em sua base uma parte da psicologia geral
e compreende aquelas que são consideradas as mais importantes contribuições para à
psicologia humana e da medicina.

Duas dessas hipóteses fundamentais, que foram exatamente confirmadas, são o

princípio do determinismo psíquico, ou da causalidade, e a proposição de que a

consciência é antes um atributo excepcional, do que um atributo comum dos


processos psíquicos. Por outras palavras, para a teoria psicanalítica, os processos
mentais
inconscientes são de grande frequência e significado no que diz respeito ao
funcionamento mental normal, bem como anormal. O sentido deste
princípio leva-nos a admitir que nada do que se passa na mente é fortuito, nada

acontece por acaso. Cada evento psíquico é determinado por aqueles que o

precederam. (INSTITUTO GAIO 2018)

Num contexto mais histórico, a primeira tentativa de explicar e classificar as doenças


mentais, levou a separação dos doentes em dois tipos: Simples (sem grandes problemas
ou distúrbios mentais) e Loucos/Alienados (for a da realidade, enormes perturbações)

Os primeiros medicamentos para estas doenças datam do século XX, sendo estes à base
de poções poliburmadas (burmetos) que pretendiam acalmar o sujeito. Na década de
50, descobriu-se um medicamento que baixava a tensão arterial, o que se pensava
também que acalmava o indivíduo. Depois seguiram-se os antidepressivos (caso do LSD
e do Prozac) que, embora fossem extremamente fortes, não ajudam em nada os
pacientes.
No final do século XIX, Sigmund Freud revogou que as neuroses se dão ao nível de todo
o corpo, não obstante as influências do meio também terem alguma importância.
Freud introduz a noção de inconsciente, afirmando que a maior parte das nossas ações
vêm daí. Esta ideia valeu ao psicanalista a rejeição por parte da sociedade médica da
altura.
É em 1928, que a Filosofia reconhece oficialmente o inconsciente no Homem. A
psicanálise surge como tentativa de explicar e curar as doenças do foro psíquico – razões
e porquês dos sintomas – e para tal é necessário a busca da história clínica do sujeito.

3. Psicanálise e a (Psico)Terapia

Ainda hoje encontro inúmeras pessoas que estão muito confusas quanto à definição e o
objetivo da Terapia, da Psicanálise ou da Psicoterapia. Muitas frustram-se ao escolher
um tratamento e esperar o resultado de outro (que não vai chegar).

O termo Terapia (do grego therapeía) quer dizer, de forma muito ampla, tratamento ou
cura de doenças. Essa palavra é utilizada por uma gama muito grande de profissionais da
saúde (das mais variadas formações) e serve como “um grande guarda-chuva” para
divulgar qualquer forma de intervenção que busque a promoção da saúde (ex.:
Acupuntura, Psicologia, Psicanálise, Biofeedback, Shiastu, Reiki, Psicoterapia, Hipnose,
etc.).

A psicoterapia é um termo genérico para falar das Terapias que atuam sobre o
funcionamento psíquico/psicológico. Existem vários tipos de Psicoterapias (Psicanálise,
Humanista, Cognitiva, Comportamental, Corporal, Transpessoal, etc.) que se diferenciam
dependendo do tipo de entendimento das origens, manutenção, evolução e tratamento
dos sinais e sintomas.

A psicanálise como já vimos é uma área focada no tratamento psíquico criado em 1896
pelo austríaco Sigmund Freud. A Psicanálise é um método de intervenção clínica para
quadros de neurose e de psicose que usa a investigação dos processos psicológicos
através da “atenção flutuante” do psicanalista que irá analisar e interpretar a “livre
associação” (falar tudo que vem a mente, mesmo que considere sem importância) do
“analisando” (paciente). A psicanálise, de modo geral, tende a ser um tratamento de
longo prazo.

Portanto caro pós-graduando chegamos finalmente ao último ponto, a interpretação,


que a psicanálise considera como a única arma eficiente em seu tratamento.

Interpretar, no sentido psicanalítico, quer dizer comunicar ao paciente as emoções,


fantasias e reações que ele ignora, que são inconscientes, e que causam suas ansiedades
e sintomas. A interpretação dá ao paciente o "insight", isto é, uma percepção interna, de
si próprio. O "insight" ganho pela interpretação é ao mesmo tempo uma compreensão
intelectual e uma experiência emocional. Vou ilustrar com um exemplo: um paciente
sentiu, na infância, muita agressividade contra seu pai. Este era muito severo e
autoritário, o que impediu nosso paciente de expressar a menor agressividade contra o
pai. Por medo do pai, ficou submisso e obediente, e esta submissão permaneceu como
traço proeminente de seu caráter. Tinha muito medo de seus superiores, seja na escola,
ou mais tarde no trabalho. Sempre submisso, perdeu toda iniciativa, não conseguia
progredir e usar a capacidade que tinha. Não sabia quando odiava, no fundo, seus
superiores, nem conhecia suas capacidades construtivas. Retirou-se mais e mais do
convívio social onde existe competição, porque competição sempre necessita de certo
grau de agressividade, o que era intolerável para o paciente, tanto a sua agressividade,
como a dos outros.

Agora, somente como exemplo vamos usar neste caso os métodos psicoterápicos dos
quais falei: Sugestão: tenta-se persuadir o paciente de que ele é mais importante do que
pensa e que não precisa ter medo de ninguém. Podemos ainda hipnotizá-lo, tentando
fazer desaparecer a inibição e a vergonha que sente dos colegas e superiores. Também
na hipnose podemos recuperar situações onde sua agressividade e iniciativa foram
esmagadas pelo pai - hipnoterapia baseada na catarse. Podemos orientá-lo, apoiá-lo,
encorajá-lo em relação a seus problemas - seria educação e suporte. Podemos dizer-lhe
que tem medo dos superiores, medo de competir com os colegas, porque teve medo do
pai. Isto não é ainda uma interpretação no sentido psicanalítico, mas um mero
esclarecimento intelectual de pouco valor.
3.1. O que acontece na psicanálise?

Na relação analítica, embora o analista mostre compreensão e objetividade e embora a


situação analítica lhe permita liberdade de expressar-se à vontade, o paciente vai sentir
medo do analista, mostrar inibição e comportar-se com submissão e obediência. O
paciente não está consciente deste comportamento. Se esta submissão e obediência
são mostradas, quer dizer, interpretadas, no momento em que ocorrem na sessão, o
paciente vai experimentar surpresa, vai ganhar nova percepção de si mesmo. Isto é
"insight", e o "insight" foi ganho pela interpretação. Interpretação também é quando
podemos mostrar ao paciente que ele, em certos momentos, nos odeia como odiava o
pai em determinadas situações do passado. Assim ele vai compreender e sentir que sua
submissão e obediência são somente uma fachada. Mostrando sua agressividade
reprimida e seu ódio nos momentos em que surgem contra nós e principalmente à luz
de suas próprias palavras e gestos, fazemos uma interpretação. É o "insight" que o
paciente recebe pela interpretação, e é o fator mais importante para movimentar o
processo de cura.

Chegamos agora a mais uma diferença fundamental que existe entre psicanálise e as
outras formas de psicoterapia. Isto é, como é utilizada a transferência do paciente. O
primeiro grupo, da sugestão, orientação, educação e catarse, usa os aspectos positivos,
quer dizer, a dependência, a confiança do paciente e sua idealização do terapeuta para
melhor alcançar seus fins, de melhor poder influenciar o paciente. Os aspectos negativos
da transferência, como hostilidade e desconfiança, ou são ignorados ou suprimidos por
meio de gratificações e provas de apoio e amizade.

As terapias analíticas ecléticas do segundo grupo analisam as relações atuais entre


paciente e terapeuta, mas sem se interessar muito por suas origens infantis. Também
elas não podem prescindir de apoio, orientação e educação.
Somente a psicanálise recorre à análise sistemática e detalhada das relações
transferenciais e suas origens. Mais umas palavras sobre o sentido da transferência no
tratamento, o que é tão mal compreendido. No curso do tratamento desenvolve-se uma
relação emocional entre paciente e analista com fortes elementos de afeição e
hostilidade, que não podem ser concebidos apenas no quadro da situação presente. Esta
relação, como já disse, constitui uma projeção no analista das relações infantis, reais e
imaginárias do paciente. É fator importante que o paciente, no curso do tratamento, sinta
de novo as relações que foram para ele, durante a sua infância, geradoras de
perturbações.

Na transferência, as relações insatisfatórias reais ou imaginárias com figuras importantes


da infância são reativadas e revividas nas relações do paciente com o analista. Estas
relações infantis e os sentimentos ligados a elas podem ser interpretados no momento
exato de sua vivência. Desta maneira a interpretação fica sendo uma experiência
emocional.

Acho que os senhores podem compreender assim que a psicanálise não focaliza somente
o passado, a infância, como muita gente pensa, nem somente o presente, mas sempre a
interrelação entre o passado e o presente. A transferência faz compreender ao analista
como o paciente sentiu e agiu no passado, e as situações da infância e as fantasias infantis
que o paciente nos conta ajudam a compreender seus conflitos e seu comportamento
atual. Os dois aspectos são interpretados para ele.
4. Fundamentos da Psicanálise e o comportamento dos indivíduos

De modo didático, buscando alinhar o todo contido nos fundamentos e


princípios norteadores da Psicanálise ao comportamento dos indivíduos nas
organizações, é importante ser entendido que Freud descobriu que as ações
humanas, apesar de manifestas através de seu consciente, são condicionadas
pelo inconsciente, havendo demonstrando que, acessando essa área (o
inconsciente), torna-se possível identificar a raiz de certos distúrbios e
comportamentos humanos. Na década de 1920, quando da apresentação da
segunda tópica de seu trabalho, Freud propôs um modelo estrutural do
aparelho psíquico, dividindo-o em três partes: Id, Ego e Superego.

Segue abaixo algumas referenciais conceituais, que básicas, são


apresentadas para efeito de facilitação do entendimento para a inter-
relação estabelecida entre essas estruturas - condição necessária para
percepção da importância do que não é dizível, porém exerce grande
influência sobre o comportamento humano nas organizações:
a) Id - instância totalmente inconsciente; é formada por impulsos e desejos,
desconhecendo para alcance da sua satisfação a razão e valores morais; instinto voltado
à preservação da vida e a autopreservação, sempre em busca do prazer, o Id não lida
bem com frustrações e quer sempre uma solução imediata para tudo - pulsões e
desejos;

b) Ego - O ego é racional e controla os instintos; constitui-se componente intermediário


das energias mentais (atuando entre o Id (inconsciente) e o Superego (Ego ideal /
também consciente); o Ego controla as experiências conscientes e regula a relação do
indivíduo com o meio por ele ocupado;
através dele, aprendemos sobre a realidade externa e orientamos nosso
comportamento no sentido de evitar estados dolorosos, de ansiedade e
punições;

c)Superego - sua atuação objetiva reprimir e criticar ideias, impulsos


e sentimentos que chegam ao Ego (consciente), julgando e decidindo terem
os mesmos potencial para afetar o comportamento e/ou personalidade do
indivíduo (o Superego, em sua essência, é judicativo, ou seja, é ele quem julga
e decide).

5. Mecanismos de defesa
Alcançado entendimento, ainda que de modo não tão aprofundado como se poderia
avançar - até por não se constituir, esse, o objeto do presente trabalho -, porém
esperando que os conceitos balizadores das funções do Id, Ego e Superego hajam
ficado evidenciadas, bem como a interdependências estabelecidas entre essas três
instâncias do aparelho psíquicos, necessário agora descrever os mecanismos de
defesa do Ego, os quais se processam, em ciclos contínuos, a partir dessas instâncias.
Esses mecanismos, presentes nos processos da psique de todos – sejam elas pessoas
hígidas ou na daqueles que apresentem algum tipo de distúrbio ou disfunção -,
afiguram- se formas de proteção e segurança do Ego contra as interferências do Id e do
Superego.
O Ego, como já citado, por controlar as experiências conscientes do Eu, regulando a
relação do indivíduo com o meio por ele ocupado no seu específico contexto - inclusive
orientando o comportamento dos indivíduos na evitação de estados dolorosos, de
ansiedade e, muito especialmente, de desejos que a ele (Ego) chegam, emanados do Id -
, se vê, por um lado, permanentemente instado pelo Id para satisfação de seus impulsos
e desejos, sem qualquer freio da razão ou valorações morais lhes seja imposto,
enquanto por outro lado, sofre pressões do Superego, que busca mediar, através de
“freios e contrapesos" imposto por suas personalíssimas crenças e valores - introjetadas
ao longo do individual processo de seu desenvolvimento como indivíduo -, para que seu
comportamento e personalidade se adequem ao seu específico contexto vivencial. O
Ego, portanto, precisa administrar forças antagônicas vindas do Id e do Superego; forças
que
exigem que o Ego satisfaça as pulsões e desejos advindas do Id e, ao mesmo tempo,
reprimam os excessos externos ao Ego trazidos por conteúdos externos.

Freud assegura que os “... mecanismos defensivos falsificam a percepção do sujeito, a


ele fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada da realidade”,
tendo esses mecanismos, como objetivo-fim, preservar o sujeito. Com base nessa
acepção, dado é se concluir existirem situações na vida cotidiana de todos que podem
desencadear sentimentos e, num crescente, comportamentos que, inconscientes, tem
potencial para provocar reações não necessariamente embasadas naquilo que por ele
vislumbrado como fruto de sua imaginada racionalidade; e isso ocorre por que, diante
de fatores adversos (ou como tal interpretados pelo sujeito), são ativados,
silenciosamente, os referenciados mecanismos de defesa, cujo objetivo é proteger o Ego
de um possível desprazer psíquico - mecanismo de segurança e autopreservação.

Segue, para reflexão, o conceito de alguns desses mecanismos de defesa, com rápidas
explicações para cada um deles:

a) Repressão - consiste em afastar da consciência eventos e ideias provocadores de


ansiedade; algumas doenças psicossomáticas podem estar relacionadas com a
repressão;

b) Negação - refere-se aos fatos da realidade que são rejeitados e substituídos por uma
fantasia; no caso da fantasia, o indivíduo cria uma situação em sua mente que é capaz
de eliminar o desprazer iminente, mas que, na realidade, é impossível de se concretizar;
é uma espécie de teatro mental onde o indivíduo protagoniza uma história diferente
daquela que vive na realidade, onde seus desejos não podem ser satisfeitos; nessa
realidade criada, o desejo é satisfeito e a ansiedade diminuída;

c) Racionalização - é o processo pelo qual o indivíduo apresenta uma justificativa para


uma ação inaceitável;

d) Formação reativa - consiste em uma atitude ambivalente - p. ex., o ódio torna-se


inconsciente, e assim permanece enquanto reacende o amor - assim o ódio é

3
FREUD, S. Análise Terminável e Interminável. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
substituído pelo amor, a crueldade pela gentileza, a obstinação pela submissão etc.; a
formação reativa é um mecanismo caracterizado pela aderência a um pensamento
contrário àquele que foi, de alguma forma, recalcado; nela, o pensamento recalcado
se mantém como conteúdo inconsciente; as formações reativas têm a peculiaridade
de se tornarem uma alteração na estrutura da personalidade, colocando o indivíduo
em alerta, como se o perigo estivesse sempre presente e prestes a destruí-lo; um bom
exemplo é o de uma pessoa com comportamentos homofóbicos, quando na verdade
ela se sente atraída por pessoas do mesmo sexo;

e) Isolamento - é o mecanismo em que um pensamento ou comportamento é


isolado dos demais, de forma que fica desconectado de outros pensamentos; é
uma defesa bastante comum em casos de neurose obsessiva; os exemplos desse
mecanismo são diversos, como rituais, fórmulas e outras ideias que buscam a
cisão temporal com os demais pensamentos, na tentativa de defesa contra a
pulsão de se relacionar com outro;

f) Projeção - trata-se de um mecanismo de defesa no qual o indivíduo atribui a


outros seus próprios desejos e impulso, dos quais, por lhes serem inaceitáveis,
procuram inconscientemente se livrar; a tendência é que o indivíduo repudie
impulsos ou comportamentos indesejáveis, atribuindo a outros; é o
deslocamento de um impulso interno para o exterior, ou do indivíduo para outro;
os conteúdos projetados são sempre desconhecidos da pessoa que projeta,
justamente porque tiveram de ser expulsos, para evitar o desprazer de tomar
contato com esses conteúdos;

g) Compensação - esse mecanismo de defesa tem por característica a tentativa


do indivíduo de equilibrar suas qualidades e deficiências, por exemplo, uma
pessoa que não tem boas notas e se consola por ser bonita.

h) Identificação - mecanismo baseado na assimilação de características de outros, que se


transformam em modelos para o indivíduo; esse mecanismo é a base da constituição da
personalidade humana; como exemplo podemos citar o momento em que as crianças
assimilam características parentais, para posteriormente poderem se diferenciar; esse
momento é importante e tem valor cognitivo à
medida que permite a construção de uma base onde a diferenciação pode ou não
ocorrer;
i) Regressão - é sem dúvida o mecanismo de defesa mais amplo; é o processo de
retorno a uma fase anterior do desenvolvimento, onde as satisfações eram mais
imediatas, ou o desprazer era menor; para melhor entendimento, um bom exemplo é o
comportamento de crianças que, na dificuldade em seus relacionamentos com outras
crianças, retornam, por exemplo, a fase oral e retomam o uso de chupetas, ou ainda,
comem excessivamente.

Isso posto, espero haver ficado claro que existem forças e mecanismos de defesa
intangíveis todo tempo atuando sobre o consciente de todos, e que, em realidade, sua
existência é que determina e/ou influencia o comportamento e a personalidade dos
indivíduos na vida, no convívio social e no trabalho, exercendo sobre cada um de nós, de
forma insidiosa, papel de grande relevância; e que, por assim ocorrer, as ações e
decisões tomadas pelos profissionais de saúde - que muitas vezes podem até mesmo ser
consideradas irracionais ou mesmo imaturas -, em verdade, refletem apenas crenças e
valores impregnados por uma cultura que, desde os ciclos de sua específica formação,
nele são incutidos.
Portanto, mais importante do que a simples identificação de situações objetivas para
efeito de planejamento de mudanças - como p. ex., implementação de alterações
operacionais nos fazeres e processos do segmento -, é o entendimento das
subjetividades presentes no “ser” e “fazer” dos profissionais de saúde que precisam ser
entendidas e avaliadas, pois são elas que determinam / influenciam o “por quê” das
práticas dos profissionais do segmento saúde serem feitas dessa ou daquela maneira.

Assim, mostra-se como fundamental conhecer e bem saber lidar com os tácitos
movimentos de defesa e negação desses profissionais, pois assim ocorrendo, as
necessárias “intervenções” e/ou mudanças, quando realizadas, ver-se-ão atenuadas
enquanto impacto para os recorrentes e inconscientes movimentos de resistência àquilo
que, ainda que por hipótese, para eles seja entendido como possibilidades de
interferência nas suas específicas “zonas de conforto”, deflagrando os citados
mecanismos de defesa.
Essa percepção encontra acolhimento em Godoi, que citando Broekstra, afirma que:
“... as organizações, entendidas como sistemas simbolicamente intermediados pela
linguagem, clama por teorias conscientes de que os fatos não falam por si e de que todo
saber esta incrustado na práxis comunicativa cotidiana [...] práxis está que é anterior à
estrutura [...] atuando sobre a linguagem, sobre o discurso, um estudo psicanalítico
busca revelar as significações encobertas na forma de vida organizacional,
transparecendo a normalidade subjacente às práticas coletivas”.

Outro autor, Godoi avança em sua percepção, afirmando que “... as interpretações
inconscientes no cenário organizacional são excluídas do campo da dizibilidade, do
espaço da linguagem pública nas organizações e os motivos de ações vinculados a essas
interpretações tornam-se aparentemente inofensivos [...] a função da psicanálise reside
em reverter esse processo de excomunhão, de exílio, possibilitando a tematização das
relações de poder e a ressimbolização dos desejos que não mais se anulem aos poderes
[...] através da escuta dos silêncios, daquilo que o imaginário oficial das organizações
impede representar, a psicanálise indica a condição institucional dos sentidos
dependentes de uma condição burocrática de significação”.

6. Contribuições da Psicanálise aos estudos organizacionais

Sobre essa temática, a partir de uma citação que, aparentemente simples, muito
contribui para as reflexões aqui estimuladas, Horkheimer propõe ter a psicanálise por
intenção "... emancipar o homem de sua situação escravizadora"4. A partir dessa
assertiva, a reducionista visão de que essa ciência teria como limite de atuação o
indivíduo, seus conflitos e predisposições interiores e exteriores, adquire um sentido
bem

4
HORKHEIMER, M. Eclipse of reason. RAMOS, A. G. A Nova Ciência das Organizações. Rio
de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998.
mais amplo, pois se torna possível perceber o indivíduo não mais como uma “ilha”,
escravizado em seu particular mundo, e sim dele, mundo, fazendo parte - uma teia
universal onde tudo e todos são influenciados e influenciam-se mutuamente.
Alcançada essa nova percepção, o espectro de atuação a psicanálise em muito se
vê ampliado, existindo nos fundamentos propostos por Freud - seguidos,
ampliados e, através de releituras contemporâneas, adaptados à realidade dos
tempos atuais - indicadores que ajudam a se realizar produtivas incursões e leitura
do comportamento dos indivíduos nas organizações - inclusive indicativos
preventivos e de realinhamento do “ser” e “fazer” organizacional.

Bebendo dessa fonte, Godoi cita Horkheimer no artigo “As Organizações como
Formações do Inconsciente”, propondo a modelagem de uma estrutura epistemológica
cujo objetivo é a utilização dos fundamentos da psicanálise no campo organizacional.
Para tal fim, valeu-se a autora da trilha indicada por Horkheimer para identificar “...
brechas para a inserção de um saber novo, em um movimento de justificativa do onde e
do porquê da psicanálise”. A base epistêmica por ela desenvolvida possui “... três etapas:
o auto alerta aos problemas epistemológicos gerados pelo translado de conceitos de um
campo ao outro do saber; o esclarecimento da noção de sujeito com a qual trabalha a
psicanálise, diferentemente da psicologia herdada pelos estudos organizacionais; e, por
fim, a descrição das novas relações sujeito-objeto de estudo produzidas pela utilização
da teoria psicanalítica no campo organizacional”.

Enriquez compartilha a mesma direção de Godoi, pois quando trata da questão de


transposição da teoria psicanalítica para o campo organizacional, afirma que numa
organização “... cada um, apesar de suas diferenças, é colocado nas malhas de um jogo
geral que desde Hegel podemos designar como “a luta pelo reconhecimento” ou ainda o
desejo de reconhecimento”. Confirmando essa percepção, literalmente cita Hegel, que
afirmava ser “... a consciência-de-si e para si na medida e pelo fato de que ela existe (em
e para si) para uma outra consciência-de si, isto é, ela só existe enquanto entidade

5
ENRIQUEZ, E. Imaginário social, recalcamento e repressão nas organizações. Revista
Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: V. 36/37, p. 53-97. Jan/Hun, 1974.
reconhecida”. Segue Enriquez, propondo que para que haja consciência de si, é preciso
que haja desejo [...] a consciência-de-si é desejo geral e fundamentalmente desejo do
desejo do outro, isto é, desejo de reconhecimento [...] mas, nas organizações, não se
trata de uma “luta de morte por outro prestígio”, mas de uma luta codificada que, ao
invés de chegar a situar em duas posições extremas o mestre e o escravo, permitirá a
cada um encontrar certos elementos de reasseguramento no interior de uma
distribuição de papeis, a partir de status diferenciados no interior de uma pirâmide
hierárquica”.
Estabelecido esse cenário de permanente busca por identidade e reconhecimento,
emerge no radar de prescrutações a questão da pulsão e do desejo, que atávicos da
natureza humana, e de modo personalíssimo, tendem a criar um Ego imaginário cuja
finalidade é experimentar como esse indivíduo vai ser colocado em cena pela
organização - porém, para que esse cenário ganhe sentido é preciso mais bem entender
como o Ego de cada ser humano se forma... Nesse sentido, de modo metafórico,
podemos dizer que, de início, tal qual um espelho, conforme o autor assevera “... nós só
podemos “ver” por que o outro nos “vê” e nos fala de nós”, ou seja, essa autoimagem se
dá “... por uma identificação com a imagem dos outros sobre si que podemos ter uma
imagem de nós mesmos” - nessa fase inicial de formação do Ego, se vê introjectado nos
indivíduos a ideia de ser ele “mestre do que faz”, e em razão dessa equivocada
percepção, ele passa miopemente a acreditar no que vê. Essa percepção, ao longo de
sua vida, por haver sido incorporada ao seu Eu, será responsável por não conseguir
apreender a realidade em sua plena dimensão, pois sua visão de mundo irá espelhar
crenças e valores a ele propostos de fora para dentro - no segmento saúde, onde as
formações exigem dedicação exclusiva em períodos que duram 04, 06, 08 e, em algumas
especializações, até 10 anos, esse processo de espelhamento é bastante forte, ficando
evidente que, mesmo inconscientemente, jovens recém-formados tendem a reproduzir,
sem grandes críticas, comportamentos que a ele foram passados por seus mestres como
“verdades” absolutas. Como complemento necessário para o entendimento do
“imaginário” presente nas elucubrações de todos, Enriquez de modo bastante feliz
afirma que “... a estruturação do imaginário para um sujeito é o que define o
inconsciente como definitivamente inconsciente”. Enriquez prossegue sua linha de
raciocínio, instigando aos leitores de seu artigo a refletir sobre “... porque o inconsciente
permanece inconsciente”, ele próprio
respondendo que “... o desejo tem sempre necessidade de caminhos indiretos para
aparecer e se fazer entender, pois como escreveu V. Ségallen, só pode existir “o desejo
imaginante” [...] é porque o inconsciente permanece inconsciente, porque o imaginário
ai vela, que se poderão desenvolver projetos sociais, utopias, vontades de transformação
do mundo [...] “o homem, esse sonhador definitivo”, como dizia Breton, não parou de
sonhar, e seu sonho visa ao outro ou ao desejo do outro [...] e é porque o ser humano é
constituído a partir do outro que se deve procurar no olhar a voz dos outros, nas marcas
de reconhecimento dissipadas, nos sinais do poder aceito, de uma maneira lacrimante e
repetitiva, a prova de sua existência; de sua existência e de sua identidade (logro motor,
sempre submetido ao risco da cilada definitiva, na possibilidade de ser apenas o espelho
estendido pelos outros)”.
Sintetizando o todo de possibilidades de reflexão e entendimento delineadas a partir da
simples aproximação de apenas alguns dos fundamentos da psicanálise com a lógica de
estruturação e funcionamento das organizações de saúde, com elevado grau de certeza
me é permitido afirmar que os discursos técnicos encobridores dos profissionais do
segmento saúde, em tese, não se manifestam de forma consciente, apenas
externalizando na definição de comportamentos, através de acionamentos
inconscientes, de mecanismos de defesa e proteção e, em paralelo a eles o
espelhamento de uma pretérita cultura e práticas neles introjectadas por seus mestres
ao longo de sua formação – esse espelhamento cultural, resultado de subliminares
induções, favorecem que a visão dos contextos promovam uma distanciamento
autoimposto de suas práticas e percepção do mundo “distanciadas” das necessidades e
expectativas de seus clientes e da própria organização, gerando conflitos e ambientes de
grande tensão pelo reconhecimento de si e domínio-pertencimento das organizações.
No dizer de Godoi, aqueles que desconhecem as subjetividades até aqui expostas, “...
arvoram-se em revelar a verdade, desvelar a realidade organizacional, ignoram que o
realismo em um sentido estrito é impossível, uma vez que o objeto alcançado pelo
desejo
é sempre metonímico, é sempre outro [...] otdo discurso que intencione restituir a
realidade deve manter-se em uma perspectiva de permanente deslizamento de sentido
[...] não há como fotografar, diagnosticar a realidade organizacional sem o aparato
necessário a lidar com as intermediações, com as múltiplas realidades sobrepostas
(Wirklichkeit): "não há nenhum desejo que seja admitido senão através da refração de
todo tipo de mediações"”. No dizer de Lacan, “... o desejo de reconhecimento dos
participantes da organização funciona como a porta imaginária ao reconhecimento do
desejo simbólico. Em outros termos, só se tem acesso ao simbólico através do
imaginário, ou seja, a demanda, os sintomas, as necessidades conscientes são os
caminhos iniciais (e não podem ser tomados como fins últimos) ao reconhecimento do
desejo em jogo [...] o sintoma é algo que vai no sentido do reconhecimento do desejo,
porém sob a forma de um disfarce, de uma forma fechada, ilegível se não se possui a
chave".
Enquanto ressalva, entendo como necessário aqui ver-se esclarecido que a visão de
espelhamento e formação do Ego, para sua total apreensão, implicaria num
aprofundamento que aqui foge do objetivo em análise; entretanto, para o fim almejado,
entendo que as inserções textualizadas, selecionadas como pontes capazes de conduzir
você para uma compreensão mais abrangente do comportamento dos profissionais nas
organizações de saúde, sejam suficientes para despertar interesse para um olhar mais
atento do “por quê” os profissionais de saúde possuem um comportamento e reações
de
defesa e negação quando diante de algum tipo de confrontação ou solicitação de
“explicações” sobre suas práticas e professos, cabendo a cada leitor, a partir das trilhas
aqui indicadas, se for de seu interesse, ir adiante, pois ainda muito existe a se conhecer
e são diversas as conexões possíveis de serem realizadas...
Desde os primórdios da antiguidade (4.000 a.C. - invenção da escrita), o ser humano, a
partir da empírica observação da natureza, busca entendimento para inter-relação
estabelecida entre as dualidades nela identificadas - dia e noite, frio e calor, vida e
morte
etc. Imaginando existir opostos entre essas dicotomias, os povos do oriente começaram
mais atentamente a observar tais fenômenos, buscando melhor compreender sua
realidade, concluindo que, em verdade, entre esses opostos haviam
complementaridades e que, para que a vida, a saúde e o bem-estar fossem alcançados
era necessário que nesse processo houvesse equilíbrio... Dando concretude a tais
observações, Lao Tse (antiga china) formulou a seguinte premissa: tudo na natureza é
composto por dois aspectos opostos, que se completam entre si, condição necessária
para que o equilíbrio seja alcançado em cada individualizado processo - esses aspectos
opostos foram por ele nominado como princípios Yin e Yang. Essa elaboração empírica,
resguardada as diferenças de nomenclatura das correntes de pensamento dos povos
orientais, fundamenta “práticas de cura” que, até hoje, são reconhecidas como
eficazes na prevenção e tratamento dos seres humanos - Ayurveda, MTC e seus
desdobramentos terapêuticos. Apesar de serem os polos das dicotomias
considerados como princípios opostos e independentes, eles são complementares
entre si, servindo esse entendimento de meio para alcance de uma melhor
percepção e racional compreensão das muitas contradições identificadas na
natureza humana, seja em termos de anatomia / fisiologia seja em termos de
emoção / sentimento.
Muito adiante no tempo, Descartes de modo transversal ressignifica esses
fundamentos, resgatando a importância da razão e dos recursos do pensamento como
caminho capaz de propiciar ao homem a avaliação de si mesmo e de tudo mais...
Entretanto, mesmo caminhando seu pensamento nessa direção, barreiras são de
alguma
forma levantadas ao avanço de suas hipóteses, quando ele próprio chama a atenção
para
a possibilidade da subjetividade e a singularidade dos indivíduos poderem confundir o
raciocínio objetivo e fazer com que conclusões equivocadas sejam alcançadas - essas
barreiras, talvez, devam ser vistas com bastante parcimônia, face os limites e barreiras
cognitivas presentes há época. Esse anseio se de criar métodos para neutralização de
interferências do pensamento subjetivo em proposições de caráter geral - típico do
pensamento cartesiano a partir daí surgido - abriu caminho para formulação da
chamada
ciência moderna (tudo precisa ser medido, pesado, precisa ser possível ver-se replicado
etc.).
Cerca de dois séculos depois, através de Charcot e Freud, as possíveis
interferências da singularidade dos indivíduos e suas particulares percepções da
racionalidade são de uma forma bem mais ampla repensadas, ou seja, a importância das
subjetividades se vê ressaltada. Conforme propõe Denise Furtado, é esse “... movimento
que vai inaugurar a contemporaneidade, propondo caracterizá-lo como momento da
prevalência do apelo à libido, apelo ao amor e à sexualidade como via de solução dos
problemas da vida. Será ele que dará margem ao surgimento da psicanálise”.
Quanto a questão objeto do presente texto, a metáfora do barco, apresentada
pela autora, traz bastante clareza ao sentido prático da proposição “Para que serve a
Psicanálise?”, quando cita “... que se não se pode mudar a direção do vento, pode-se ao
menos alterar a posição das velas”, esclarecendo que, às vezes, “... precisamos de ajuda
para isso, e é aí que a Psicanálise pode nos servir”.
A Psicanálise, em sentido amplo, poderia ver-se entendida como a clínica do
desejo e seus impasses - o obscuro conflito entre o desejo que move o sujeito e aquilo
que o censura -, daí a importância do sentido ético presente em todos seus processos de
“intervenção” profissional. Nessa direção, a grande contribuição trazida por Freud foi a
de tratar o sintoma não como um defeito ou degeneração, mas como uma via de
expressão do sujeito. Daí o fundamento a ser observado quando da avaliação de
qualquer
processo psicanalítico: o “servir” da psicanálise exige que o sujeito “peça ajuda”, “peça a
análise” e, principalmente, “deseje ser analisado”. Isso porque, sem que o sujeito
efetivamente se decida pela terapia e bem compreenda os riscos que uma análise
psicanalítica representa - o paciente será levado a abrir as portas de seu inconsciente -,
seu recuo é previsível quando há eminência de acesso aos seus conflitos mais interiores.
Freud percebeu, ao longo da construção de seus estudos e teorias, que os
sintomas manifestos pelo sujeito, por maiores incômodos que lhe traga, representam
uma manifestação inconsciente por ele encontrada para externalizar seus conflitos
interiores - um mecanismo de defesa paradoxal entre sua autocensura e seus íntimos
desejos. Como proposto por Denise Furtado, “... o desejo, enquanto conceito
psicanalítico, é o ressentimento de uma falta, nostalgia da suposta presença da “Coisa”
que teria nos salvado do desamparo”. De modo diferente das linhas tradicionais de
intervenção, dirigida para o ideal, a psicanálise busca o auto direcionamento do sujeito
em relação ao real, visto que o proposto direcionamento ao ideal tende a ser impossível
(inalcançável), na medida em que o universo dos desejos e necessidades do sujeito é
personalíssimo e concebido através de representações - assim o sendo, as coisas não
são
o que são, e sim o que representam para ele (sujeito).

Portanto, cabe a Psicanálise tratar vazios existenciais presente nos indivíduos pela
falta de alguma coisa ou falta de alguém – sentimentos de incompletude gerados por
desejos e conflitos interiores não satisfeitos. A intenção do tratamento não é a cura, até
porque não se pode curar conflitos que são da natureza humana... Cabe ao profissional
levar o sujeito a encontrar caminhos próprios para redirecionar a forma de como
experenciar sua vida.

7. A HISTÓRIA DO MOVIMENTO PSICANALÍTICO

(Fichamento de Conteúdo / Citações) Por Antonio Teixeira de Carvalho Filho

Freud, S. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros


trabalhos (1914-1916). São Paulo: Vol. XIV, Edição standart brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, 1980.
O autor apresenta, numa linha de tempo, as dificuldades por ele encontradas ao longo
da construção da Psicanálise. Nesse caminhar construtivista de elaboração de suas
teorias, ressalta as contribuições recebidas de Charcot e Breuer, creditando a esse
último, inclusive, o mérito pela criação da psicanálise.

Relata também as muitas críticas e injúrias manifestas por seus pares (médicos), bem
como as reiteradas tentativas de descaracterização da essência psicanalítica por ele
delineada a partir de suas teorias. Por último, apresenta o processo de crescimento da
Psicanálise no mundo, bem como, novamente, relata as correntes desfiguradoras de
pensamento que surgiram a partir da expansão da aceitação das práticas psicanalíticas –
inclusive detalhando as dissociações havidas, em relação à essência psicanalítica,
promovida por nomes como Jung, Adler e Lacan, dentre outros – inclusive os
movimentos
de poder e busca pelo protagonismo surgidos a partir, principalmente, de Congressos de
Psicanálise havidos ao longo do período relatado no livro.
Freud encerra a narrativa citando a metáfora de “Faca de Lichtenberg”, referindo-se às
modificações introduzidas por Jung à Psicanálise: “Mudou o cabo e botou uma lâmina
nova, e porque gravou nela o mesmo nome espera que seja considerada como o
instrumento original”.

Seguem algumas citações pinçadas do todo que, segundo entendo, ilustram o


pensamento de Freud:
“A finalidade do presente artigo foi estabelecer claramente os postulados e hipóteses
fundamentais da psicanálise, demonstrar que as teorias de Adler e Jung eram
totalmente incompatíveis com eles, e inferir que só levaria à confusão conjuntos de
pontos de vista contraditórios receberem todos a mesma designação”
“Embora por muitos anos a opinião popular continuasse a insistir em que havia “três
escolas de psicanálise”, o argumento de Freud finalmente prevaleceu. Adler já escolhera
a designação de “Psicologia Individual” para as suas teorias e logo depois Jung adotou a
de “Psicologia Analítica” para as suas”

“Em 1909, no salão de conferências de uma universidade norte-americana, tive a


primeira oportunidade de falar em público sobre a psicanálise. A ocasião foi de grande
importância para a minha obra, e movido por este pensamento declarei então que não
havia sido eu quem criara a psicanálise: o mérito cabia a Joseph Breuer, cuja obra tinha
sido realizada numa época em que eu era apenas um aluno preocupado em passar nos
exames. Depois que fiz aquelas conferências, entretanto, alguns amigos bem-
intencionados suscitaram em mim uma dúvida: não teria eu, naquela oportunidade,
manifestado minha gratidão de uma maneira exagerada? Na opinião deles, devia ter
feito
o que já estava acostumado a fazer: encarado o “método catártico” de Breuer como um
estágio preliminar da psicanálise, e a psicanálise em si como tendo tido início quando
deixei de usar a técnica hipnótica e introduzi as associações livres”
“As descobertas de Breuer...tinham como fundamento o fato de que os sintomas de
pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes causaram grande
impressão mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto apoiada, que consistia
em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências num estado de hipnose (catarse); e
o fragmento de teoria disto inferido, segundo o qual esses sintomas representavam um
emprego anormal de doses de excitação que não haviam sido descarregadas
(conversão)... Creio que, na realidade, esta distinção só se aplica ao termo, e que a
concepção nos ocorreu simultaneamente e em conjunto”

Afirma Freud que “o conflito do momento e o fator desencadeante da doença devem


ser
trazidos para o primeiro plano na análise... isto era exatamente o que Breuer e eu
fazíamos quando começamos a trabalhar com o método catártico. Conduzíamos a
atenção do paciente diretamente para a cena traumática na qual o sintoma surgira e nos
esforçávamos por descobrir o conflito mental envolvido naquela cena, e por liberar a
emoção. As associações do paciente retrocediam, a partir da cena que tentávamos
elucidar, até as experiências mais antigas, e compeliam a análise, que tencionava corrigir
o presente, a ocupar-se do passado nela reprimida. Ao longo deste trabalho,
descobrimos o processo mental, característico das neuroses, que chamei depois de
“regressão” ... a princípio parecia nos levar regularmente até a puberdade; em seguida
até os anos da infância que até então permaneciam inacessíveis a qualquer espécie de
exploração”
” Minha primeira divergência com Breuer surgiu de uma questão relativa ao mecanismo
psíquico mais apurado da histeria. Ele dava preferência a uma teoria que, se poderia
dizer, ainda era até certo ponto fisiológica; tentava explicar a divisão mental nos
pacientes histéricos pela ausência de comunicação entre vários estados mentais
(“estados de consciência”, como os chamávamos naquela época), e construiu então a
teoria dos “estados hipnóides” cujos produtos se supunham penetrar na “consciência
desperta” como corpos estranhos não assimilados. Eu via a questão de forma menos
científica; parecia discernir por toda parte tendências e motivos análogos aos da vida
cotidiana, e encarava a própria divisão psíquica como o efeito de um processo de
repulsão que naquela época denominei de “defesa”, e depois de “repressão”

“A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da


psicanálise. É a parte mais essencial dela e, todavia, nada mais é senão a formulação
teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se
empreende a análise de um neurótico sem recorrer a hipnose. Em tais casos encontra-se
uma resistência que se opõe ao trabalho da análise e, a fim de frustrá-lo, alega falha de
memória. O uso da hipnose ocultava essa resistência; por conseguinte, a história da
psicanálise propriamente dita só começa com a nova técnica que dispensa a hipnose”
“A análise nos tinha levado até esses traumas sexuais infantis pelo caminho certo e, no
entanto, eles não eram verdadeiros. Deixamos de pisar em terra firme... Por fim, veio a
reflexão de que, afinal de contas, não se tem o direito de desesperar por não ver
confirmadas as próprias expectativas; deve-se fazer uma revisão dessas expectativas. Se
os pacientes histéricos remontam seus sintomas e traumas que são fictícios, então o
fato
novo que surge é precisamente que eles criam tais cenas na fantasia, e essa realidade
psíquica precisa ser levada em conta ao lado da realidade prática. Essa reflexão foi
logo seguida pela descoberta de que essas fantasias se destinavam a encobrir a
atividade auto erótica dos primeiros anos de infância, embelezá-la e elevá-la a um
plano mais alto. E agora, de detrás das fantasias, toda a gama da vida sexual da
criança vinha à luz”
“Pouco preciso dizer sobre a interpretação de sonhos. Surgiu como os prenúncios da
inovação técnica que eu adotara quando, após um vago pressentimento, resolvi
substituir a hipnose pela livre associação... o simbolismo na linguagem dos sonhos foi
quase a última coisa a tornar-se acessível a mim, pois as associações da pessoa que
sonha
nos ajudam muito pouco a compreender símbolos... Só depois é que vim a apreciar em
sua plena extensão essa modalidade de expressão dos sonhos. Isso ocorreu em parte
por
influência das obras de Stekel, cujos primeiros trabalhos têm muito mérito, mas que
depois se desencaminhou totalmente. A estreita ligação entre a interpretação
psicanalítica dos sonhos e a arte de interpretá-los segundo a prática tida em tão alta
conta
na antiguidade, só se tornou clara para mim muito depois. Mais tarde, descobri a
característica essencial e a parte mais importante da minha teoria dos sonhos, ou seja,
que a distorção dos sonhos é consequência de um conflito interno, uma espécie de
desonestidade interna”
“Aprendi a controlar as tendências especulativas e a seguir o conselho não esquecido de
meu mestre, Charcot: olhar as mesmas coisas repetidas vezes até que elas comecem a
falar por si mesmas”
“Minha Interpretação de Sonhos e meu livro sobre chistes, entre outros, mostraram
desde o início que as teorias da psicanálise não podem ficar restritas ao campo médico,
mas são passíveis de aplicação a várias outras ciências mentais”
“A análise nos proporcionou não somente a explicação de manifestações patológicas,
como revelou sua conexão com a vida mental normal e desvendou relações
insuspeitadas
entre a psiquiatria e as demais ciências que lidam com as atividades da mente”
” A concepção da atividade mental inconsciente possibilitou fazer-se uma idéia
preliminar
da natureza da atividade criadora na literatura de imaginação, e a compreensão,
adquirida no estudo dos neuróticos, do papel desempenhado pelos impulsos instintivos
nos permitiu descobrir as fontes da produção artística e nos colocou face a dois
problemas: como o artista reage a essa instigação e quais os meios que ele emprega
para disfarçar suas reações”
“Depois de se ter ouvido com cuidado a voz da autocrítica e de haver prestado certa
atenção às críticas dos adversários, não resta mais nada a fazer senão sustentar, com
todas as forças, as próprias convicções baseadas na experiência. A pessoa deve
contentar-se em agir com o máximo de honestidade, não devendo assumir o papel de
juiz, reservado ao futuro remoto. Dar ênfase a opiniões pessoais arbitrárias, em assuntos
científicos, é mau; constitui claramente uma tentativa de questionar o direito da
psicanálise de ser considerada uma ciência - aliás, depois de já ter sido esse valor
depreciado pelo que foi dito antes [sobre a natureza relativa de todo o conhecimento]”

” Os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte; se enfraquecem quando
se opõem a ela. A psicanálise sobreviverá a essa perda e a compensará com a conquista
de novos partidários. Para concluir, quero expressar o desejo de que a sorte proporcione
um caminho de elevação muito agradável a todos aqueles que acharam a estada no
submundo da psicanálise desagradável demais para o seu gosto. E possamos nós, os que
ficamos, desenvolver até o fim, sem atropelos, nosso trabalho nas profundezas”

8. CONCEITOS DO INCONSCIENTE

Entender o conceito de inconsciente, como o percebo, exige a ampliação de nossa visão


sobre aquilo que, convencional e socialmente, se vê aceito como objetivo - real.
Enquanto o consciente externaliza-se como uma espécie de visão de mundo auto
imposta para o cotidiano coletivo dos indivíduos, temporalmente mediada por
experiências, lembranças e ações intencionais - arbitrada a partir de ciclos evolutivos
temporais, que impõem à sociedade parâmetros civilizatórios pré-definidos como
mecanismos de pesos e contrapesos -, o inconsciente representa, por assim dizer, a
individualização do sujeito (apesar dos arquétipos e instintos que representam forças e
padrões universalmente
predominantes). O consciente, como propõe Freud em relação ao tempo de sua objetiva
manifestação, tende a tornar-se uma espécie de objeto do discurso filosófico-social,
substancializando-se segundo a vertente do pensamento prevalecente - o ocidental, de
modo muito particular, tem grande dificuldade para pensar qualquer coisa que não seja
objetiva, ou seja, tudo precisa ser medido, pesado, quantificado, possível de ser
replicado etc., tendendo ele (homem ocidental) a opor resistência ou mesmo negação a
conceitos de natureza subjetiva. Portanto, o inconsciente, por ser subjetivo, um sistema
dinâmico, fundamentalmente regido por processos primários, representa o que
podemos entender como um “pedaço submerso” da verdadeira dimensão do indivíduo,
que livre dos freios impostos pela sociedade, coabita em constante interação com seu
consciente, de algum modo interferindo em suas manifestações objetivas.
O cartesiano conceito prevalecente que antecedeu Freud, muito especialmente aquele
que embasa a chamada “ciência médica”, propunha que tudo quanto o ser humano
dizia,
fazia ou sentia era produto de sua consciência - portanto, sua percepção de mundo, seja
ela descritiva, sistemática, dinâmica, econômica, ética etc., constituíam-se
manifestações
que externalizavam seu fazer e dizer objetivo – o endeusamento da razão se afigurava
mandatório. Freud rompeu com esse paradigma, abrindo a porta do obscuro existente
nos indivíduos, avançando especulações para além do nível consciente do ser,
constatando que o inconsciente existia e poderia, em alguma medida, “comandar” a
vida
e até mesmo a fisiologia humana. Assim o sendo, de modo simplista, conforme entendo
cabe aqui ser referenciado, propôs Freud que o indivíduo, conseguindo alcançar o
necessário equilíbrio entre o consciente e o inconsciente ao longo de seu individual
processo evolutivo – segmentos interdependentes, que se complementam entre si -, a
tendência seria a de o indivíduo se tornar completo; ao passo que, não conseguindo
alcançar esse equilíbrio, ou seja, não conseguindo o indivíduo superar suas
obscuridades,
a tendência possível seria a de que ele se tornasse um neurótico...
Isso posto, reduzindo o escopo do texto ao objeto proposto como questionamento,
podemos de modo livre reproduzir os conceitos indicados a partir da visão manifesta por
Freud:
Inconsciente Descritivo: descritivo pressupõe a observação do inconsciente
de fora,
ou seja, a partir da perspectiva de um observador – nesse caso nos será possível apenas
perceber os produtos; são atos inesperados, não racionalizados, repentinamente
surgidos em nossa consciência, que ultrapassam nosso saber e intenções, como p. ex. os
atos falhos, esquecimentos, sonhos; sejam essas manifestações normais ou patológicas,
o produto obtido através delas permanecem surpreendentes e enigmáticos para a
consciência do sujeito e para o psicanalista; entretanto, mesmo que, como profissionais,
não consigamos identificar, num primeiro momento, sua razão, constituem-se a
evidência de existir um processo inconsciente obscuro e ativo, passível de ver-se
externalizado;

Inconsciente Sistemático: segundo propõe Freud, nele leva-se em


consideração uma
rede de representações (conjunção de um traço de acontecimentos reais, investidos de
energia), onde a fonte de excitação chama-se representação de coisa (por elas
consistirem em imagens visuais, acústicas ou táteis de coisas ou pedaços de coisas
impressas no inconsciente), e os produtos finais são as manifestações deturpadas do
inconsciente;

Inconsciente Dinâmico: seria a luta da ação que impulsiona e o


recalcamento que
impede, a fonte de excitação é chamada de representantes recalcados, e seu produto
final são considerados produtos do inconsciente, estes que surgem sutilmente na
consciência, devido a ação do recalcamento - os sintomas neuróticos são os exemplos
clássicos dessa expressão; Freud considerava ser o recalcamento um jogo complexo de
movimentos de energia, ou seja, uma espécie de jogo que, se por um lado objetiva
conter
e fixar no inconsciente as representações recalcadas (recalcamento primário), de outro
lado busca reconduzir para o inconsciente eventuais representações que fugiram para o
nível consciente (recalcamento secundário).
Inconsciente Econômico: pode ele ser definido como a fonte de excitação
representante das pulsões, e os produtos do inconsciente econômico são as fantasias ou
comportamentos afetivos e escolhas amorosas inexplicáveis;
Inconsciente Ético: pode ele ser definido como desejo (movimento de uma
intenção
inconsciente com o objetivo de satisfação absoluta) – como produto podemos citar as
realizações parciais do desejo contrapostas à idealização do desejo pleno, que nunca é
alcançado.

9. QUEM É O PSICANÁLISE E O QUE ELE FAZ?


O psicanalista é a pessoa que estudou uma formação livre em psicanálise ou curso de
pós-graduação (obedecendo o tripé de formação).
O Formado em psicanálise, o psicanalista tem a função de equilibrar e tornar mais clara
a relação do “eu” interior do paciente com seus questionamentos internos e com os
problemas do mundo.
O método terapêutico criado pelo médico austríaco Sigmund Freud, que consiste na
interpretação dos conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias
de uma pessoa, baseada nas associações livres, na interpretação de sonhos e na
transferência. o psicanalista pode ter formação em diferentes escolas psicanalíticas

Esta abordagem psicoterápica também pode ser usada por profissionais de diversas
áreas
(serviço social, pedagogia, terapia holística, enfermagem e outros) além de psicólogos,
psiquiatras e cada profissional pode utilizá-la de acordo com os limites da ciência
estudada em sua formação.

O diferencial do Psicanalista está no seu recurso primordial de trabalho: a interpretação


do conteúdo do inconsciente bem como dos seus efeitos nas ações, palavras e
pensamentos do indivíduo, o que se faz pelo manejo de duas ferramentas principais: a
fala e a escuta.

A busca por esse profissional parte, geralmente, de pessoas que questionam o


comportamento humano através de pressões sociais, no trabalho e
nos relacionamentos — e buscam compreender melhor a si mesmas para que, assim,
possam entender como lidar com as frustrações de um mundo que não dá todas as
respostas que esperam.
São dois os fundamentos da teoria psicanalítica:

1) Os processos psíquicos são em sua imensa maioria inconscientes, a consciência


não é mais do que uma fração de nossa vida psíquica total;

2) 2) os processos psíquicos inconscientes são dominados por nossas tendências


sexuais.

10. O AMPARA LEGAL DO TRABALHO DO PSICANALISTA NO


BRASIL

Entender o que cada profissional ligado à psicanálise e saúde mental tem como função é
primordial para iniciar a busca pela melhora e cura da sua desordem mental. E lembre-
se sempre de que problemas ligados à ordem mental e emocional não devem ser motivo
de vergonha!
• Possuir uma formação livre em psicanálise ou pós-graduação em psicanálise que
obedeça ao tripé de formação psicanalítica. (Tanto a pós-graduação quanto a
formação livre em psicanálise pelo Instituto GAIO possibilita a atuação como
psicanalista).
• CBO 2515-50 do Ministério do Trabalho - MTE;
• Estar vinculado em uma sociedade psicanalítica (Mas não obrigatória) A área de
psicanálise não conselho de classe ou órgão regulador.
• Estar em processo de estudos contínuo em psicanálise e supervisão (análise);
• Ser ético, profissional e comprometido com a teoria e o método psicanalítico.
Pelo CBO 2515-50 o psicanalista pode atuar como “psicoterapeuta/ terapeuta”;

Nas áreas: consultório particular, clínicas, hospitais, escolas, órgãos públicos (área de
saúde), Instituições sociais e particulares.

Qual a área onde se concentra maior parte dos psicanalistas?


Consultório particular, clínicas integradas, Organizações Sociais, Escolas e Hospitais (...)
O psicanalista quando trabalha como “liberal” ele precifica o valor da sua consulta
“sessão”, hoje varia de R$50,00 à 150,00 (média) ou mais....
Em média se ele tiver 15-20h semanais a média seria 2.075,00-3.700 reais (R$50,00-
R$80,00)

As instituições no geral costumam pagar em média R$2000,00 à 2.900,00 segundo a


CATHO.

Quando o psicanalista atua em órgãos público a média pode varia de R$1.200 à 2500,00
reais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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_____________. O Ego e o Id. In: ____. Obras psicológicas completas de Sigmund
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