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(...) Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais: somos também o
que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que
trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos 'sem
querer'. Sigmund Freud
Sobre a Disciplina:
Esta disciplina da pós-graduação possibilitará a compreensão da
Introdução e a história da psicanálise criada por Sigmund Freud (1856-
1939). Veremos a trajetória e história da psicanálise está
indissociavelmente ligada à vida de Freud. A teoria criada por ele em
Viena no início do século XX se difundiu por inúmeras áreas do saber,
e seus termos circulam até mesmo em conversas coloquiais. Freud
inaugurou uma nova área do conhecimento, uma nova forma de ver e
pensar o mundo: as neuroses, a infância, a sexualidade, os
relacionamentos humanos, a subjetividade, a sociedade etc.
Coordenação Geral
Patricia R. T.
E-mail: trilhandocursosead@gmail.com
(19)99894-3877
SUMÁRIO
1. O surgimento da Psicanálise
No desdobrar ao final do século XIX e início do Século XX , Freud, então um jovem médico
neurologista, em Viena, incomodado com a pouca concretude cientifica das propostas
terapêuticas oferecidas pela ciência médica para os quadros de histeria que se avolumavam na
unidade hospitalar em que trabalhava, ao ter contato com inovadoras propostas de
entendimento e tratamento para essa doença - muito especialmente pesquisas e propostas
terapêuticas desenvolvidas por Charcot e Breuer -, entusiasmado pelos iniciais resultados por
eles alcançados, decidiu-se por buscar respostas para além dos paradigmas limitantes do
racionalismo e da exacerbada biologização das doenças, alcançando como inicial referência a
existência do inconsciente - um revolucionário conceito que, através de estudos posteriores, se
ampliou, adquirindo uma original e inovadora concepção, servindo ele, o
inconsciente, como fundamento para
criação, por Freud, da Psicanálise.
A Psicanálise como vimos é uma disciplina ou área científica instituída por Sigmund
Freud há cerca de mais de cento e vinte cinco anos. Designa-se teoria psicanalítica a
todo um corpo de hipóteses que dizem respeito ao funcionamento e ao
desenvolvimento da mente do Homem. Tem em sua base uma parte da psicologia geral
e compreende aquelas que são consideradas as mais importantes contribuições para à
psicologia humana e da medicina.
acontece por acaso. Cada evento psíquico é determinado por aqueles que o
Os primeiros medicamentos para estas doenças datam do século XX, sendo estes à base
de poções poliburmadas (burmetos) que pretendiam acalmar o sujeito. Na década de
50, descobriu-se um medicamento que baixava a tensão arterial, o que se pensava
também que acalmava o indivíduo. Depois seguiram-se os antidepressivos (caso do LSD
e do Prozac) que, embora fossem extremamente fortes, não ajudam em nada os
pacientes.
No final do século XIX, Sigmund Freud revogou que as neuroses se dão ao nível de todo
o corpo, não obstante as influências do meio também terem alguma importância.
Freud introduz a noção de inconsciente, afirmando que a maior parte das nossas ações
vêm daí. Esta ideia valeu ao psicanalista a rejeição por parte da sociedade médica da
altura.
É em 1928, que a Filosofia reconhece oficialmente o inconsciente no Homem. A
psicanálise surge como tentativa de explicar e curar as doenças do foro psíquico – razões
e porquês dos sintomas – e para tal é necessário a busca da história clínica do sujeito.
3. Psicanálise e a (Psico)Terapia
Ainda hoje encontro inúmeras pessoas que estão muito confusas quanto à definição e o
objetivo da Terapia, da Psicanálise ou da Psicoterapia. Muitas frustram-se ao escolher
um tratamento e esperar o resultado de outro (que não vai chegar).
O termo Terapia (do grego therapeía) quer dizer, de forma muito ampla, tratamento ou
cura de doenças. Essa palavra é utilizada por uma gama muito grande de profissionais da
saúde (das mais variadas formações) e serve como “um grande guarda-chuva” para
divulgar qualquer forma de intervenção que busque a promoção da saúde (ex.:
Acupuntura, Psicologia, Psicanálise, Biofeedback, Shiastu, Reiki, Psicoterapia, Hipnose,
etc.).
A psicoterapia é um termo genérico para falar das Terapias que atuam sobre o
funcionamento psíquico/psicológico. Existem vários tipos de Psicoterapias (Psicanálise,
Humanista, Cognitiva, Comportamental, Corporal, Transpessoal, etc.) que se diferenciam
dependendo do tipo de entendimento das origens, manutenção, evolução e tratamento
dos sinais e sintomas.
A psicanálise como já vimos é uma área focada no tratamento psíquico criado em 1896
pelo austríaco Sigmund Freud. A Psicanálise é um método de intervenção clínica para
quadros de neurose e de psicose que usa a investigação dos processos psicológicos
através da “atenção flutuante” do psicanalista que irá analisar e interpretar a “livre
associação” (falar tudo que vem a mente, mesmo que considere sem importância) do
“analisando” (paciente). A psicanálise, de modo geral, tende a ser um tratamento de
longo prazo.
Agora, somente como exemplo vamos usar neste caso os métodos psicoterápicos dos
quais falei: Sugestão: tenta-se persuadir o paciente de que ele é mais importante do que
pensa e que não precisa ter medo de ninguém. Podemos ainda hipnotizá-lo, tentando
fazer desaparecer a inibição e a vergonha que sente dos colegas e superiores. Também
na hipnose podemos recuperar situações onde sua agressividade e iniciativa foram
esmagadas pelo pai - hipnoterapia baseada na catarse. Podemos orientá-lo, apoiá-lo,
encorajá-lo em relação a seus problemas - seria educação e suporte. Podemos dizer-lhe
que tem medo dos superiores, medo de competir com os colegas, porque teve medo do
pai. Isto não é ainda uma interpretação no sentido psicanalítico, mas um mero
esclarecimento intelectual de pouco valor.
3.1. O que acontece na psicanálise?
Chegamos agora a mais uma diferença fundamental que existe entre psicanálise e as
outras formas de psicoterapia. Isto é, como é utilizada a transferência do paciente. O
primeiro grupo, da sugestão, orientação, educação e catarse, usa os aspectos positivos,
quer dizer, a dependência, a confiança do paciente e sua idealização do terapeuta para
melhor alcançar seus fins, de melhor poder influenciar o paciente. Os aspectos negativos
da transferência, como hostilidade e desconfiança, ou são ignorados ou suprimidos por
meio de gratificações e provas de apoio e amizade.
Acho que os senhores podem compreender assim que a psicanálise não focaliza somente
o passado, a infância, como muita gente pensa, nem somente o presente, mas sempre a
interrelação entre o passado e o presente. A transferência faz compreender ao analista
como o paciente sentiu e agiu no passado, e as situações da infância e as fantasias infantis
que o paciente nos conta ajudam a compreender seus conflitos e seu comportamento
atual. Os dois aspectos são interpretados para ele.
4. Fundamentos da Psicanálise e o comportamento dos indivíduos
5. Mecanismos de defesa
Alcançado entendimento, ainda que de modo não tão aprofundado como se poderia
avançar - até por não se constituir, esse, o objeto do presente trabalho -, porém
esperando que os conceitos balizadores das funções do Id, Ego e Superego hajam
ficado evidenciadas, bem como a interdependências estabelecidas entre essas três
instâncias do aparelho psíquicos, necessário agora descrever os mecanismos de
defesa do Ego, os quais se processam, em ciclos contínuos, a partir dessas instâncias.
Esses mecanismos, presentes nos processos da psique de todos – sejam elas pessoas
hígidas ou na daqueles que apresentem algum tipo de distúrbio ou disfunção -,
afiguram- se formas de proteção e segurança do Ego contra as interferências do Id e do
Superego.
O Ego, como já citado, por controlar as experiências conscientes do Eu, regulando a
relação do indivíduo com o meio por ele ocupado no seu específico contexto - inclusive
orientando o comportamento dos indivíduos na evitação de estados dolorosos, de
ansiedade e, muito especialmente, de desejos que a ele (Ego) chegam, emanados do Id -
, se vê, por um lado, permanentemente instado pelo Id para satisfação de seus impulsos
e desejos, sem qualquer freio da razão ou valorações morais lhes seja imposto,
enquanto por outro lado, sofre pressões do Superego, que busca mediar, através de
“freios e contrapesos" imposto por suas personalíssimas crenças e valores - introjetadas
ao longo do individual processo de seu desenvolvimento como indivíduo -, para que seu
comportamento e personalidade se adequem ao seu específico contexto vivencial. O
Ego, portanto, precisa administrar forças antagônicas vindas do Id e do Superego; forças
que
exigem que o Ego satisfaça as pulsões e desejos advindas do Id e, ao mesmo tempo,
reprimam os excessos externos ao Ego trazidos por conteúdos externos.
Segue, para reflexão, o conceito de alguns desses mecanismos de defesa, com rápidas
explicações para cada um deles:
b) Negação - refere-se aos fatos da realidade que são rejeitados e substituídos por uma
fantasia; no caso da fantasia, o indivíduo cria uma situação em sua mente que é capaz
de eliminar o desprazer iminente, mas que, na realidade, é impossível de se concretizar;
é uma espécie de teatro mental onde o indivíduo protagoniza uma história diferente
daquela que vive na realidade, onde seus desejos não podem ser satisfeitos; nessa
realidade criada, o desejo é satisfeito e a ansiedade diminuída;
3
FREUD, S. Análise Terminável e Interminável. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
substituído pelo amor, a crueldade pela gentileza, a obstinação pela submissão etc.; a
formação reativa é um mecanismo caracterizado pela aderência a um pensamento
contrário àquele que foi, de alguma forma, recalcado; nela, o pensamento recalcado
se mantém como conteúdo inconsciente; as formações reativas têm a peculiaridade
de se tornarem uma alteração na estrutura da personalidade, colocando o indivíduo
em alerta, como se o perigo estivesse sempre presente e prestes a destruí-lo; um bom
exemplo é o de uma pessoa com comportamentos homofóbicos, quando na verdade
ela se sente atraída por pessoas do mesmo sexo;
Isso posto, espero haver ficado claro que existem forças e mecanismos de defesa
intangíveis todo tempo atuando sobre o consciente de todos, e que, em realidade, sua
existência é que determina e/ou influencia o comportamento e a personalidade dos
indivíduos na vida, no convívio social e no trabalho, exercendo sobre cada um de nós, de
forma insidiosa, papel de grande relevância; e que, por assim ocorrer, as ações e
decisões tomadas pelos profissionais de saúde - que muitas vezes podem até mesmo ser
consideradas irracionais ou mesmo imaturas -, em verdade, refletem apenas crenças e
valores impregnados por uma cultura que, desde os ciclos de sua específica formação,
nele são incutidos.
Portanto, mais importante do que a simples identificação de situações objetivas para
efeito de planejamento de mudanças - como p. ex., implementação de alterações
operacionais nos fazeres e processos do segmento -, é o entendimento das
subjetividades presentes no “ser” e “fazer” dos profissionais de saúde que precisam ser
entendidas e avaliadas, pois são elas que determinam / influenciam o “por quê” das
práticas dos profissionais do segmento saúde serem feitas dessa ou daquela maneira.
Assim, mostra-se como fundamental conhecer e bem saber lidar com os tácitos
movimentos de defesa e negação desses profissionais, pois assim ocorrendo, as
necessárias “intervenções” e/ou mudanças, quando realizadas, ver-se-ão atenuadas
enquanto impacto para os recorrentes e inconscientes movimentos de resistência àquilo
que, ainda que por hipótese, para eles seja entendido como possibilidades de
interferência nas suas específicas “zonas de conforto”, deflagrando os citados
mecanismos de defesa.
Essa percepção encontra acolhimento em Godoi, que citando Broekstra, afirma que:
“... as organizações, entendidas como sistemas simbolicamente intermediados pela
linguagem, clama por teorias conscientes de que os fatos não falam por si e de que todo
saber esta incrustado na práxis comunicativa cotidiana [...] práxis está que é anterior à
estrutura [...] atuando sobre a linguagem, sobre o discurso, um estudo psicanalítico
busca revelar as significações encobertas na forma de vida organizacional,
transparecendo a normalidade subjacente às práticas coletivas”.
Outro autor, Godoi avança em sua percepção, afirmando que “... as interpretações
inconscientes no cenário organizacional são excluídas do campo da dizibilidade, do
espaço da linguagem pública nas organizações e os motivos de ações vinculados a essas
interpretações tornam-se aparentemente inofensivos [...] a função da psicanálise reside
em reverter esse processo de excomunhão, de exílio, possibilitando a tematização das
relações de poder e a ressimbolização dos desejos que não mais se anulem aos poderes
[...] através da escuta dos silêncios, daquilo que o imaginário oficial das organizações
impede representar, a psicanálise indica a condição institucional dos sentidos
dependentes de uma condição burocrática de significação”.
Sobre essa temática, a partir de uma citação que, aparentemente simples, muito
contribui para as reflexões aqui estimuladas, Horkheimer propõe ter a psicanálise por
intenção "... emancipar o homem de sua situação escravizadora"4. A partir dessa
assertiva, a reducionista visão de que essa ciência teria como limite de atuação o
indivíduo, seus conflitos e predisposições interiores e exteriores, adquire um sentido
bem
4
HORKHEIMER, M. Eclipse of reason. RAMOS, A. G. A Nova Ciência das Organizações. Rio
de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998.
mais amplo, pois se torna possível perceber o indivíduo não mais como uma “ilha”,
escravizado em seu particular mundo, e sim dele, mundo, fazendo parte - uma teia
universal onde tudo e todos são influenciados e influenciam-se mutuamente.
Alcançada essa nova percepção, o espectro de atuação a psicanálise em muito se
vê ampliado, existindo nos fundamentos propostos por Freud - seguidos,
ampliados e, através de releituras contemporâneas, adaptados à realidade dos
tempos atuais - indicadores que ajudam a se realizar produtivas incursões e leitura
do comportamento dos indivíduos nas organizações - inclusive indicativos
preventivos e de realinhamento do “ser” e “fazer” organizacional.
Bebendo dessa fonte, Godoi cita Horkheimer no artigo “As Organizações como
Formações do Inconsciente”, propondo a modelagem de uma estrutura epistemológica
cujo objetivo é a utilização dos fundamentos da psicanálise no campo organizacional.
Para tal fim, valeu-se a autora da trilha indicada por Horkheimer para identificar “...
brechas para a inserção de um saber novo, em um movimento de justificativa do onde e
do porquê da psicanálise”. A base epistêmica por ela desenvolvida possui “... três etapas:
o auto alerta aos problemas epistemológicos gerados pelo translado de conceitos de um
campo ao outro do saber; o esclarecimento da noção de sujeito com a qual trabalha a
psicanálise, diferentemente da psicologia herdada pelos estudos organizacionais; e, por
fim, a descrição das novas relações sujeito-objeto de estudo produzidas pela utilização
da teoria psicanalítica no campo organizacional”.
5
ENRIQUEZ, E. Imaginário social, recalcamento e repressão nas organizações. Revista
Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro: V. 36/37, p. 53-97. Jan/Hun, 1974.
reconhecida”. Segue Enriquez, propondo que para que haja consciência de si, é preciso
que haja desejo [...] a consciência-de-si é desejo geral e fundamentalmente desejo do
desejo do outro, isto é, desejo de reconhecimento [...] mas, nas organizações, não se
trata de uma “luta de morte por outro prestígio”, mas de uma luta codificada que, ao
invés de chegar a situar em duas posições extremas o mestre e o escravo, permitirá a
cada um encontrar certos elementos de reasseguramento no interior de uma
distribuição de papeis, a partir de status diferenciados no interior de uma pirâmide
hierárquica”.
Estabelecido esse cenário de permanente busca por identidade e reconhecimento,
emerge no radar de prescrutações a questão da pulsão e do desejo, que atávicos da
natureza humana, e de modo personalíssimo, tendem a criar um Ego imaginário cuja
finalidade é experimentar como esse indivíduo vai ser colocado em cena pela
organização - porém, para que esse cenário ganhe sentido é preciso mais bem entender
como o Ego de cada ser humano se forma... Nesse sentido, de modo metafórico,
podemos dizer que, de início, tal qual um espelho, conforme o autor assevera “... nós só
podemos “ver” por que o outro nos “vê” e nos fala de nós”, ou seja, essa autoimagem se
dá “... por uma identificação com a imagem dos outros sobre si que podemos ter uma
imagem de nós mesmos” - nessa fase inicial de formação do Ego, se vê introjectado nos
indivíduos a ideia de ser ele “mestre do que faz”, e em razão dessa equivocada
percepção, ele passa miopemente a acreditar no que vê. Essa percepção, ao longo de
sua vida, por haver sido incorporada ao seu Eu, será responsável por não conseguir
apreender a realidade em sua plena dimensão, pois sua visão de mundo irá espelhar
crenças e valores a ele propostos de fora para dentro - no segmento saúde, onde as
formações exigem dedicação exclusiva em períodos que duram 04, 06, 08 e, em algumas
especializações, até 10 anos, esse processo de espelhamento é bastante forte, ficando
evidente que, mesmo inconscientemente, jovens recém-formados tendem a reproduzir,
sem grandes críticas, comportamentos que a ele foram passados por seus mestres como
“verdades” absolutas. Como complemento necessário para o entendimento do
“imaginário” presente nas elucubrações de todos, Enriquez de modo bastante feliz
afirma que “... a estruturação do imaginário para um sujeito é o que define o
inconsciente como definitivamente inconsciente”. Enriquez prossegue sua linha de
raciocínio, instigando aos leitores de seu artigo a refletir sobre “... porque o inconsciente
permanece inconsciente”, ele próprio
respondendo que “... o desejo tem sempre necessidade de caminhos indiretos para
aparecer e se fazer entender, pois como escreveu V. Ségallen, só pode existir “o desejo
imaginante” [...] é porque o inconsciente permanece inconsciente, porque o imaginário
ai vela, que se poderão desenvolver projetos sociais, utopias, vontades de transformação
do mundo [...] “o homem, esse sonhador definitivo”, como dizia Breton, não parou de
sonhar, e seu sonho visa ao outro ou ao desejo do outro [...] e é porque o ser humano é
constituído a partir do outro que se deve procurar no olhar a voz dos outros, nas marcas
de reconhecimento dissipadas, nos sinais do poder aceito, de uma maneira lacrimante e
repetitiva, a prova de sua existência; de sua existência e de sua identidade (logro motor,
sempre submetido ao risco da cilada definitiva, na possibilidade de ser apenas o espelho
estendido pelos outros)”.
Sintetizando o todo de possibilidades de reflexão e entendimento delineadas a partir da
simples aproximação de apenas alguns dos fundamentos da psicanálise com a lógica de
estruturação e funcionamento das organizações de saúde, com elevado grau de certeza
me é permitido afirmar que os discursos técnicos encobridores dos profissionais do
segmento saúde, em tese, não se manifestam de forma consciente, apenas
externalizando na definição de comportamentos, através de acionamentos
inconscientes, de mecanismos de defesa e proteção e, em paralelo a eles o
espelhamento de uma pretérita cultura e práticas neles introjectadas por seus mestres
ao longo de sua formação – esse espelhamento cultural, resultado de subliminares
induções, favorecem que a visão dos contextos promovam uma distanciamento
autoimposto de suas práticas e percepção do mundo “distanciadas” das necessidades e
expectativas de seus clientes e da própria organização, gerando conflitos e ambientes de
grande tensão pelo reconhecimento de si e domínio-pertencimento das organizações.
No dizer de Godoi, aqueles que desconhecem as subjetividades até aqui expostas, “...
arvoram-se em revelar a verdade, desvelar a realidade organizacional, ignoram que o
realismo em um sentido estrito é impossível, uma vez que o objeto alcançado pelo
desejo
é sempre metonímico, é sempre outro [...] otdo discurso que intencione restituir a
realidade deve manter-se em uma perspectiva de permanente deslizamento de sentido
[...] não há como fotografar, diagnosticar a realidade organizacional sem o aparato
necessário a lidar com as intermediações, com as múltiplas realidades sobrepostas
(Wirklichkeit): "não há nenhum desejo que seja admitido senão através da refração de
todo tipo de mediações"”. No dizer de Lacan, “... o desejo de reconhecimento dos
participantes da organização funciona como a porta imaginária ao reconhecimento do
desejo simbólico. Em outros termos, só se tem acesso ao simbólico através do
imaginário, ou seja, a demanda, os sintomas, as necessidades conscientes são os
caminhos iniciais (e não podem ser tomados como fins últimos) ao reconhecimento do
desejo em jogo [...] o sintoma é algo que vai no sentido do reconhecimento do desejo,
porém sob a forma de um disfarce, de uma forma fechada, ilegível se não se possui a
chave".
Enquanto ressalva, entendo como necessário aqui ver-se esclarecido que a visão de
espelhamento e formação do Ego, para sua total apreensão, implicaria num
aprofundamento que aqui foge do objetivo em análise; entretanto, para o fim almejado,
entendo que as inserções textualizadas, selecionadas como pontes capazes de conduzir
você para uma compreensão mais abrangente do comportamento dos profissionais nas
organizações de saúde, sejam suficientes para despertar interesse para um olhar mais
atento do “por quê” os profissionais de saúde possuem um comportamento e reações
de
defesa e negação quando diante de algum tipo de confrontação ou solicitação de
“explicações” sobre suas práticas e professos, cabendo a cada leitor, a partir das trilhas
aqui indicadas, se for de seu interesse, ir adiante, pois ainda muito existe a se conhecer
e são diversas as conexões possíveis de serem realizadas...
Desde os primórdios da antiguidade (4.000 a.C. - invenção da escrita), o ser humano, a
partir da empírica observação da natureza, busca entendimento para inter-relação
estabelecida entre as dualidades nela identificadas - dia e noite, frio e calor, vida e
morte
etc. Imaginando existir opostos entre essas dicotomias, os povos do oriente começaram
mais atentamente a observar tais fenômenos, buscando melhor compreender sua
realidade, concluindo que, em verdade, entre esses opostos haviam
complementaridades e que, para que a vida, a saúde e o bem-estar fossem alcançados
era necessário que nesse processo houvesse equilíbrio... Dando concretude a tais
observações, Lao Tse (antiga china) formulou a seguinte premissa: tudo na natureza é
composto por dois aspectos opostos, que se completam entre si, condição necessária
para que o equilíbrio seja alcançado em cada individualizado processo - esses aspectos
opostos foram por ele nominado como princípios Yin e Yang. Essa elaboração empírica,
resguardada as diferenças de nomenclatura das correntes de pensamento dos povos
orientais, fundamenta “práticas de cura” que, até hoje, são reconhecidas como
eficazes na prevenção e tratamento dos seres humanos - Ayurveda, MTC e seus
desdobramentos terapêuticos. Apesar de serem os polos das dicotomias
considerados como princípios opostos e independentes, eles são complementares
entre si, servindo esse entendimento de meio para alcance de uma melhor
percepção e racional compreensão das muitas contradições identificadas na
natureza humana, seja em termos de anatomia / fisiologia seja em termos de
emoção / sentimento.
Muito adiante no tempo, Descartes de modo transversal ressignifica esses
fundamentos, resgatando a importância da razão e dos recursos do pensamento como
caminho capaz de propiciar ao homem a avaliação de si mesmo e de tudo mais...
Entretanto, mesmo caminhando seu pensamento nessa direção, barreiras são de
alguma
forma levantadas ao avanço de suas hipóteses, quando ele próprio chama a atenção
para
a possibilidade da subjetividade e a singularidade dos indivíduos poderem confundir o
raciocínio objetivo e fazer com que conclusões equivocadas sejam alcançadas - essas
barreiras, talvez, devam ser vistas com bastante parcimônia, face os limites e barreiras
cognitivas presentes há época. Esse anseio se de criar métodos para neutralização de
interferências do pensamento subjetivo em proposições de caráter geral - típico do
pensamento cartesiano a partir daí surgido - abriu caminho para formulação da
chamada
ciência moderna (tudo precisa ser medido, pesado, precisa ser possível ver-se replicado
etc.).
Cerca de dois séculos depois, através de Charcot e Freud, as possíveis
interferências da singularidade dos indivíduos e suas particulares percepções da
racionalidade são de uma forma bem mais ampla repensadas, ou seja, a importância das
subjetividades se vê ressaltada. Conforme propõe Denise Furtado, é esse “... movimento
que vai inaugurar a contemporaneidade, propondo caracterizá-lo como momento da
prevalência do apelo à libido, apelo ao amor e à sexualidade como via de solução dos
problemas da vida. Será ele que dará margem ao surgimento da psicanálise”.
Quanto a questão objeto do presente texto, a metáfora do barco, apresentada
pela autora, traz bastante clareza ao sentido prático da proposição “Para que serve a
Psicanálise?”, quando cita “... que se não se pode mudar a direção do vento, pode-se ao
menos alterar a posição das velas”, esclarecendo que, às vezes, “... precisamos de ajuda
para isso, e é aí que a Psicanálise pode nos servir”.
A Psicanálise, em sentido amplo, poderia ver-se entendida como a clínica do
desejo e seus impasses - o obscuro conflito entre o desejo que move o sujeito e aquilo
que o censura -, daí a importância do sentido ético presente em todos seus processos de
“intervenção” profissional. Nessa direção, a grande contribuição trazida por Freud foi a
de tratar o sintoma não como um defeito ou degeneração, mas como uma via de
expressão do sujeito. Daí o fundamento a ser observado quando da avaliação de
qualquer
processo psicanalítico: o “servir” da psicanálise exige que o sujeito “peça ajuda”, “peça a
análise” e, principalmente, “deseje ser analisado”. Isso porque, sem que o sujeito
efetivamente se decida pela terapia e bem compreenda os riscos que uma análise
psicanalítica representa - o paciente será levado a abrir as portas de seu inconsciente -,
seu recuo é previsível quando há eminência de acesso aos seus conflitos mais interiores.
Freud percebeu, ao longo da construção de seus estudos e teorias, que os
sintomas manifestos pelo sujeito, por maiores incômodos que lhe traga, representam
uma manifestação inconsciente por ele encontrada para externalizar seus conflitos
interiores - um mecanismo de defesa paradoxal entre sua autocensura e seus íntimos
desejos. Como proposto por Denise Furtado, “... o desejo, enquanto conceito
psicanalítico, é o ressentimento de uma falta, nostalgia da suposta presença da “Coisa”
que teria nos salvado do desamparo”. De modo diferente das linhas tradicionais de
intervenção, dirigida para o ideal, a psicanálise busca o auto direcionamento do sujeito
em relação ao real, visto que o proposto direcionamento ao ideal tende a ser impossível
(inalcançável), na medida em que o universo dos desejos e necessidades do sujeito é
personalíssimo e concebido através de representações - assim o sendo, as coisas não
são
o que são, e sim o que representam para ele (sujeito).
Portanto, cabe a Psicanálise tratar vazios existenciais presente nos indivíduos pela
falta de alguma coisa ou falta de alguém – sentimentos de incompletude gerados por
desejos e conflitos interiores não satisfeitos. A intenção do tratamento não é a cura, até
porque não se pode curar conflitos que são da natureza humana... Cabe ao profissional
levar o sujeito a encontrar caminhos próprios para redirecionar a forma de como
experenciar sua vida.
Relata também as muitas críticas e injúrias manifestas por seus pares (médicos), bem
como as reiteradas tentativas de descaracterização da essência psicanalítica por ele
delineada a partir de suas teorias. Por último, apresenta o processo de crescimento da
Psicanálise no mundo, bem como, novamente, relata as correntes desfiguradoras de
pensamento que surgiram a partir da expansão da aceitação das práticas psicanalíticas –
inclusive detalhando as dissociações havidas, em relação à essência psicanalítica,
promovida por nomes como Jung, Adler e Lacan, dentre outros – inclusive os
movimentos
de poder e busca pelo protagonismo surgidos a partir, principalmente, de Congressos de
Psicanálise havidos ao longo do período relatado no livro.
Freud encerra a narrativa citando a metáfora de “Faca de Lichtenberg”, referindo-se às
modificações introduzidas por Jung à Psicanálise: “Mudou o cabo e botou uma lâmina
nova, e porque gravou nela o mesmo nome espera que seja considerada como o
instrumento original”.
” Os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte; se enfraquecem quando
se opõem a ela. A psicanálise sobreviverá a essa perda e a compensará com a conquista
de novos partidários. Para concluir, quero expressar o desejo de que a sorte proporcione
um caminho de elevação muito agradável a todos aqueles que acharam a estada no
submundo da psicanálise desagradável demais para o seu gosto. E possamos nós, os que
ficamos, desenvolver até o fim, sem atropelos, nosso trabalho nas profundezas”
8. CONCEITOS DO INCONSCIENTE
Esta abordagem psicoterápica também pode ser usada por profissionais de diversas
áreas
(serviço social, pedagogia, terapia holística, enfermagem e outros) além de psicólogos,
psiquiatras e cada profissional pode utilizá-la de acordo com os limites da ciência
estudada em sua formação.
Entender o que cada profissional ligado à psicanálise e saúde mental tem como função é
primordial para iniciar a busca pela melhora e cura da sua desordem mental. E lembre-
se sempre de que problemas ligados à ordem mental e emocional não devem ser motivo
de vergonha!
• Possuir uma formação livre em psicanálise ou pós-graduação em psicanálise que
obedeça ao tripé de formação psicanalítica. (Tanto a pós-graduação quanto a
formação livre em psicanálise pelo Instituto GAIO possibilita a atuação como
psicanalista).
• CBO 2515-50 do Ministério do Trabalho - MTE;
• Estar vinculado em uma sociedade psicanalítica (Mas não obrigatória) A área de
psicanálise não conselho de classe ou órgão regulador.
• Estar em processo de estudos contínuo em psicanálise e supervisão (análise);
• Ser ético, profissional e comprometido com a teoria e o método psicanalítico.
Pelo CBO 2515-50 o psicanalista pode atuar como “psicoterapeuta/ terapeuta”;
Nas áreas: consultório particular, clínicas, hospitais, escolas, órgãos públicos (área de
saúde), Instituições sociais e particulares.
Quando o psicanalista atua em órgãos público a média pode varia de R$1.200 à 2500,00
reais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, Sigmund. Um estudo autobiográfico. Rio de Janeiro: Imago, 1996a.
_____________. Uma breve descrição da Psicanálise. In: ____. Obras psicológicas
completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, vol
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_____________. Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os
sexos. In: ___. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard
brasileira. Rio de Janeiro: Imago, vol XIX, 1996c p. 277–286.
_____________. O Ego e o Id. In: ____. Obras psicológicas completas de Sigmund
Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, vol XIX, 1996b p.15 – 82.
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_____________. Inibição, sintomas e ansiedade. In: ____. Obras psicológicas
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XX, 1996e.
MAURANO, D. Para que serve a psicanálise? (Organizadora da coleção Nina Saroldi). 3.ed. Rio de
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