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PSICANÁLISE, CIÊNCIA E
PROFISSÃO
AULA 5
em mente que a
psicanálise não se pretende um fazer e nem uma ciência que busca inserção e
adequação às metodologias que são tidas como científicas, devemos entender que
o que a sustenta
que
possam ocorrer ao longo do tratamento analítico.
Como
analistas, devemos nos ocupar com o fato de que o sujeito do inconsciente e o
desejo
devem vir à tona. Freud percebeu que
os sintomas só poderiam ser tratados com base no momento
em que os impulsos
insuportáveis provenientes do Inconsciente pudessem vir à tona (normalmente
carregados de fantasias) para serem trabalhados. Somente fazendo emergir os
conteúdos do
psicologia ou ciências.
Em um primeiro
momento, seguiremos estabelecendo as distinções que existem tanto na
concepção
de homem (que, na psicanálise, tira o foco da consciência e leva para o
inconsciente)
quanto na de ética, que guia os fazeres da psicologia e das
psicoterapias, bem como o da
psicanálise.
Veremos, também, o
motivo pela qual essas concepções devem ser consideradas tão distintas.
Para
tanto, retornaremos a dois textos seminais de Freud, os quais versam sobre a
técnica
psicanalítica e dão instruções àqueles que querem exercê-la. No momento
final da aula, trataremos
sobre como foi difundida e estruturada a psicanálise
desde Freud. Esse aspecto historiográfico nos
rege as
instituições de psicanalistas e a relação da psicanálise com a sociedade.
ainda que, de um
lado, surgiram os laboratórios de psicologia experimental, com W. Wundt e W.
James. Por outro, durante esse mesmo período, surgiram as psicoterapias
sugestivas e a
psicanálise.
necessidade
mais premente parecia ser distingui-la da medicina. Ilustra esta indiferenciação
a
forma
ideal de tratamento psicológico [...]. (p. 40)
humanismo
criado por Rogers, estava carregada de elementos psicanalíticos” (Silva;
Gasparetto;
psicoterapia
se deve ao fato de que a palavra psicoterapia engloba uma série de possibilidades
terapêuticas, psicanalíticas ou não, tanto nas suas concepções
teóricas quanto nas suas aplicações
práticas.
principalmente
fundamentada como um tipo de consciência crítica da modernidade. Por meio dela,
O
que a psicanálise colocou e, a meu ver, ainda coloca em evidência
inquestionável é a limitação
motivações
de natureza exclusivamente biológica. Freud aponta o descentramento do sujeito
frente ao próprio desejo inconsciente, tematizado na primeira descrição do
psiquismo.
do sofrimento do
sujeito por meio de um fazer-saber sobre o inconsciente. Com isso, pode-se
Há, na
obra de Freud, uma série de artigos que versam sobre a técnica psicanalítica e
sua ética,
delas é a “atenção
uniformemente suspensa” ou atenção flutuante. O que seria essa atenção
associação
livre) é o que precisa ser trabalhado em análise.
Com
isso, percebe-se que a prioridade na experiência do Inconsciente não é a
produção de
sentido, mas sim a captação daquilo que não faz sentido num
primeiro momento. É justamente na
produção de sentido que pode ocorrer com base nisso, e, com isso, perder-se-ia
uma parte
Nenhuma
objeção pode ser levantada a fazerem-se exceções a essa regra no caso de datas,
[...] ou
Outro
ponto importante no que concerne à experiência analítica, diz Freud (1912), é
que, em
psicanálise, tratamento e pesquisa ocorrem ao mesmo tempo e até mesmo
se confundem. Ao se
Uma
outra observação importante que faz Freud, e aí entramos no plano daquilo que
distingue a
tornar o
tratamento impotente frente a determinadas resistências do paciente. O foco do
trabalho
deve ser investigar e trazer à tona os conteúdos provenientes do
inconsciente, e, com base nisso,
Nesse
ponto, podemos perceber o quanto é necessário que o próprio analista tenha
trabalhadas
suas próprias questões inconscientes e o quanto o Inconsciente do
analista é importante para o
entre o
inconsciente do analista e o do paciente que é possível que ocorra algum
trabalho).
Uma das pontuações mais relevantes de Freud no que diz respeito ao inconsciente do
analista e
realizado, pois,
devido a tais resistências, o analista pode não perceber, não levar em conta
e/ou não
suportar não trabalhar aspectos importantes do material inconsciente
do paciente. Ao analista, há,
pacientes, mas
correrá também perigo mais sério, que pode se tornar perigo também para os
outros. Cairá facilmente na tentação de projetar para fora algumas das
peculiaridades de sua
O
que fica evidente nessa passagem é que o analista deve se analisar tanto para
que não caia
em pressuposições e deixe de escutar seu paciente quanto para que
não projete questões próprias
essa experiência
na própria pele por meio da vivência e da análise do próprio inconsciente.
Entretanto,
Freud (1912) observa que mesmo que o analista tenha trabalhado seu próprio
essencial para
o setting analítico.
Uma
outra observação importante de Freud, que vai ao encontro da posição da
psicanálise,
segundo a qual não se deve buscar o bem-estar nem a cura, mas sim
a ética que guiará o analista, é
em
ter reconquistado certo grau de capacidade para o trabalho e divertimento para
uma pessoa
mesmo de valor moderado. (Freud, 1912, p. 132)
Neste
ponto de nossa aula, já nos vemos advertidos pelo próprio Freud de que a
prática analítica
análise). Sendo assim, algumas medidas devem ser tomadas logo de início para
que o tratamento
seja levado a cabo e se mostre eficaz no sentido de trabalhar
com os conteúdos inconscientes que
Em
seu texto Sobre o Início do tratamento (1913), Freud nos ensina que, em
um tratamento
psicanalítico, há um período preliminar em que o “médico” ou o analista
deve decidir se vai ser
possibilite o
trabalho analítico. Para Freud, pontos de extrema relevância no início do
tratamento são
subjetivas, seu
objetivo ao procurar a análise etc. Freud estabelece que o ritmo de tratamento
deve
ser intenso para que os conteúdos a serem trabalhados não se percam com os
espaços entre as
trabalho.
Já com relação aos acordos relativos ao dinheiro
em um processo de análise, tem-se que a
demasiadamente
organizado em seu discurso, ou quando são pedidas “tarefas de casa”, impede-se
ponto começará” (Freud, 1913, p. 149). Há que se tomar relativo cuidado para
não acelerar também
Enquanto as
comunicações e ideias do paciente fluírem sem qualquer obstrução, o tema da
transferência não deve ser aflorado. Deve-se esperar até que a transferência,
que é o mais delicado
dos procedimentos, tenha-se tornado resistência. (Freud,
1913, p. 154)
que
torna a resistência também um material de trabalho), é necessário que a
espontaneidade do
Stekel, que foi o idealizador; Max Kahane; Rudolf Reitler e Alfred Adler. “O encontro destes cinco
homens
judeus marca o início da configuração do campo psicanalítico” (p. 39).
indubitavelmente, uma associação singular para a reflexão científica, parece refletir nos primórdios
institucionais a complexa relação que a psicanálise, desde antes da institucionalização, sempre
manteve entre o sujeito que pesquisa e o objeto pesquisado e também entre o normal e o
patológico. (Robert, p. 40)
consenso em muitas
discussões, e conflitos instalavam-se. Tais desentendimentos geraram
surgimento de ramificações da
teoria freudiana (sabemos que a teoria psicanalítica é razoavelmente
ampla no
que tange aos seus autores e leituras da obra de Freud).
[...]
tal aspecto talvez tenha contribuído para que, na última
reunião antes do recesso de verão de
difusão da prática
psicanalítica, podemos ter em mente como seu corpo teórico e clínico se
constrói,
desde os
primeiros tempos” (Zacharewicz; Formigoni, 2015, p. 311). Zacharewicz e
Formigoni (2015)
Destaca-se,
ao longo da leitura dos documentos da Sociedade, outra relevante preocupação
freudiana: a transmissão da psicanálise. A iniciativa de reunir diferentes
interessados por sua ainda
incipiente teoria, pelo comportamento humano e pelas diversas manifestações culturais é, por si
Além disso,
diversas pessoas, também de fora de Viena, foram
convidadas a participar dessas
reuniões. (Zacharewicz; Formigoni, 2015, p. 312)
Psicanalítica de
Viena, a Wiener Psychoanalytische Vereinigung (WPV). Robert (2016, p. 44) afirma
que
uma
das estratégias mais curiosas de legitimação do poder, da definição da hierarquia
e das
autor, citando
Kupperman (1996), o que se via por trás das cortinas para a criação do Comitê
Jung, que sinalizava inclusive sua ruptura. Jung era então presidente da IPA, a
Associação
Internacional de Psicanálise,
criada em 1910 no Congresso de Nuremberg.
Na
história da psicanálise narrada por Freud, a complexidade das relações entre os agentes do
processo
é substituída pelo acento dado a uma narrativa linear de um herói contra um mundo não
receptivo, inóspito e incapaz de aceitar uma verdade que lhe é dolorosa. Freud, pelo
menos no
campo institucional, parece saber que não é somente isso. Por isso, não se
resignou ao destino
que seria obter reconhecimento científico em um momento posterior em
que o mundo enfim
O que se percebe
com base nessa breve narrativa histórica acerca
do início do movimento
psicanalítico no mundo é que desde seus primórdios
existem divergências acerca de como deve ser
a formação, a transmissão e até
mesmo de como devem sem compreendidos e tratados
Por fim, Robert (2016, p. 51) ainda chama a atenção para a “[...] advertência de
ficar atento às
NA PRÁTICA
“estar de fora”
do que se entende como normativas e expectativas sociais. Entretanto, um outro
aspecto ético é o de levar em consideração a singularidade do sujeito que se
escuta. Mas o que isso
quer dizer? Que todo tipo de ruído deve ser evitado para
que se emerja apenas o sujeito que está
sendo escutado. Esses ruídos são
evitados principalmente por meio de uma postura ética do
psicanalista, o qual
trabalha o seu próprio inconsciente.
Essa
postura ética nos coloca num lugar diferente dos outros tipos de psicologia, um
lugar até
mesmo muito menos normativo. Mas a grande questão é que deve ser um
fazer ético. O que se visa
em um processo de análise? A emergência do sujeito
do inconsciente e de seu desejo. Entretanto,
Se
levamos o tratamento de uma pessoa que apresenta compulsão em termos de educá-la
a
A
(re)construção da singularidade do sujeito e a (re)construção da narrativa
acerca daquilo que
o faz sofrer é o que deve objetivar o psicanalista. Não se
deve arrancar o sintoma do sujeito, mas
FINALIZANDO
2. A ética da psicanálise não visa à cura nem adequações ou normatizações, mas sim o
desejo.
Ela trabalha com o sujeito do Inconsciente e não com o Eu ou a
consciência;
7. Freud deixa claro que o que torna alguém apto para a prática da psicanálise é a
experiência
com o próprio inconsciente, portanto, não deve praticar a
psicanálise quem não colocar seu
fazer;
9. Houve grandes cisões e rompimentos durante a história do movimento psicanalítico
(seja no
historiografia.
REFERÊNCIAS
FREUD,
S. Recomendações
aos médicos que exercem a psicanálise. Edição Standard Brasileira
das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
______.
Sobre
o início do tratamento. Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de
LAPLANCHE,
J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
ROBERT,
M. R. Histórias da psicanálise em Curitiba:
surgimento e difusão de uma cultura
psicanalítica
entre clínica, teoria e política. 147 f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade
de
101852/publico/robert_corrigida.pdf>.
Acesso em: 1 jan. 2021.
SILVA, M. R.;
GASPARETTO, L.; CAMPEZATTO, P. M. Psicanálise e psicoterapia psicanalítica:
093X2015000100006"&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 1 jan. 2021.
das fronteiras.
J. psicanal., São Paulo, v. 39, n. 70, p. 309-325, jun. 2006. Disponível
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<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid="S0103-58352006000100020">.
Acesso em: 1 jan. 2021.
ZACHAREWICZ, F.;
FORMIGONI, M. C. Os primeiros psicanalistas: Atas da Sociedade
Psicanalítica de
Viena 1906-1908. J. psicanal., São Paulo, v. 48, n. 89, p. 309-312, dez.
2015.
Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid="S0103-
58352015000200024"&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 1 jan. 2021.