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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL.

Ana Beatriz Silva Pessoa


Tatiana Maria Silveira Amorim
Érika Caroline Assumpção Sampaio de Carvalho

Relato de experiência apresentado como requisito avaliativo do Estágio Básico I do curso de


Psicologia da Universidade Federal de Rondônia - UNIR. tatimariapvh@gmail.com
RESUMO
A experiência a ser relatada será sobre as visitas feitas ao CAPS Madeira Mamoré, na
cidade de Porto Velho. O CAPS é um serviço de saúde mental que integra a rede de atenção
psicossocial no Brasil. No total, foram cinco visitas ao local, com o intuito de observar o
funcionamento das práticas que ocorrem dentro da instituição. Essa prática foi passada pela
matéria de Estágio Básico I, do curso de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia.
Nos cinco encontros, foi-se observada algumas dinâmicas que ocorrem no centro, como as
oficinas terapêuticas, que tem o intuito de gerar integração e a manifestação artística e criativa
dos pacientes. Através disso, foram feitas anotações com uma caneta e um caderno do que se
foi observado e de que maneira essa experiência acrescentou nos quesitos acadêmicos e
pessoais das autoras. Assim, cabe analisar o contexto inteiro da experiência, que se
manifestou de maneira esclarecedora perante o que foi visto dentro da sala de aula.

Palavras-chave: CAPS, experiência acadêmica, relato, teoria psicanalista, oficina


terapêutica.

1 INTRODUÇÃO

O texto atual se refere a experiência ocorrida no CAPS Madeira Mamoré, localizado


na cidade de Porto Velho. Essa experiência se dá como uma atividade demandada pela matéria
de Estágio Básico I, do curso de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia. O intuito
da atividade se manifesta na observação das práticas que ocorrem dentro do Centro de
Atenção Psicossocial. Sabe-se que o CAPS é um serviço de saúde mental que oferece suporte
e tratamento a pessoas com transtornos mentais graves, envolvendo uma abordagem
multidisciplinar, que envolve profissionais de diferentes áreas, como psiquiatras, psicólogos,
assistentes sociais etc. No total, foram cinco encontros, totalizando 25h de atividade de
observação no CAPS. Dentro da instituição, há diversos modos de intervenção, contudo o que
foi acompanhado de perto foram as oficinas terapêuticas , que obtinham como intuito fazer
com que os pacientes se integrassem uns com os outros e manifestassem criatividade. Tais
oficinas foram cruciais no desenvolvimento da observação e na construção de interligações do
que foi visto em sala de aula e do que estava sendo observado. O referencial teórico será
desenvolvido sob o viés psicanalítico de Sigmund Freud, sendo abordado por outros autores
da área, trazendo as maneiras que a teoria psicanalítica esteve presente nas observações da

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dinâmica do CAPS. Por conseguinte, a prática serviu de atividade acadêmica e experiência
pessoal, haja vista que esse processo foi muito enriquecedor no que tange os conceitos
enraizados na sociedade, refletidos nas autoras, quanto a instituição e as pessoas que fazem
parte dela. O que foi analisado dentro do CAPS servirá de parâmetro para a construção do
texto e de uma possível tentativa de apontar a importância dessa instituição na sociedade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A priori, no contexto histórico da saúde mental, o surgimento dos Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) representa uma importante transformação no que tange os cuidados com
a saúde mental. A partir da década de 1980, a luta antimanicomial ganhou força no Brasil,
impulsionada pela crítica ao modelo asilar e à violação dos direitos humanos das pessoas com
transtornos mentais. Influenciado pelo movimento antimanicomial italiano, liderado por
Franco Basaglia, o país presenciou avanços significativos na promoção da
desinstitucionalização e na busca por alternativas mais humanizadas e inclusivas de
atendimento (BOARINI, 2020). O primeiro CAPS foi inaugurado em São Paulo, em 1986,
como uma resposta concreta à necessidade de se estabelecer um cuidado em saúde mental
mais próximo da comunidade, evitando a internação desnecessária e promovendo a
reabilitação psicossocial (SOAREZ & ALVAREZ, 2022). Desde então, os CAPS se
disseminaram em todo o território nacional, consolidando-se como uma referência no cuidado
comunitário, pautado pela integralidade, participação dos usuários e garantia dos direitos
fundamentais (SOAREZ & ALVAREZ, 2022). Esse contexto histórico e social do surgimento
dos CAPS evidencia a importância da luta antimanicomial e sinaliza um caminho de
transformação no campo da saúde mental, visando à inclusão e ao respeito à dignidade das
pessoas com transtornos mentais.
No contexto vivenciado no CAPS, notou-se algumas nuances da psicose presente na
teoria psicanalítica fundada por Sigmund Freud e explorada por outros autores responsáveis
pelo referencial teórico que será utilizado para o desenvolvimento do atual relato. A princípio,
cabe citar a importância da abordagem psicanalítica no processo de compreensão das
psicopatologias e suas causas latentes, através da exploração do inconsciente, dos conflitos
internos e dos processos psíquicos. (VILHENA & ROSA, 2011). No que tange os pacientes
observados nos encontros do CAPS, foi destacado que boa parte deles apresentavam quadros

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claros de psicose, que segundo Freud, pode ser definido como uma ruptura com a realidade,
de tal maneira que há uma perda de capacidade de diferenciação entre o mundo interno e o
mundo externo (ROCHEL, 2018).
Em palavras mais complexas, pode-se dizer que a psicose se encontra numa ruptura do
vínculo do sujeito com o mundo simbólico, sendo caracterizada pela foraclusão (SOLER,
2007). De maneira geral, o psicótico apresenta dificuldades concretas de estabelecer uma
relação simbólica com o que se manifesta no mundo externo, podendo isso o levar a uma
experiência de despersonalização e algumas manifestações sintomáticas (SOLER, 2007).
Dentre essas manifestações presentes em quadros de psicose, pode-se destacar as alucinações,
delírios e desorganização da linguagem, sendo esses sintomas uma possível tentativa de
estabilização e construção de sentido para o sujeito (SOLER, 2007). Através disso, foi-se
percebido em alguns pacientes observados nesses encontros momentos de delírios, em que
não era possível entender com clareza de onde vinham aquelas queixas e a irritabilidade por
situações que neuróticos lidam constantemente de maneira a manter uma boa relação entre seu
mundo interno e o mundo externo. Como por exemplo, uma paciente havia chegado bem
nervosa sobre uma situação com seu filho que não a deixava se vestir do jeito que queria e,
dessa maneira, não conseguia se acalmar, deixando os outros pacientes irritados por não
deixar a oficina de arte começar de maneira tranquila e integradora.
Outro ponto importante a ser citado quanto a relação do sujeito psicótico com o que
está fora dele é a sua relação com os cuidados com o corpo. É citado no texto de Pereira &
Barbosa as dificuldades que o sujeito adquire de cuidar do corpo, uma vez que a fragmentação
com o externo o faz negligenciar o que tange os sentidos gerais desse cuidado. Nesse viés,
torna-se muito clara a presença de comorbidades que se manifestam por essa negligência
exercida de maneira inconsciente por essa fragmentação geradora da psicose, e dentre as que
mais se destacam é o aumento de peso, dislipidemia e síndrome metabólica, podendo ocorrer
antes, durante e depois dos utilização de antipsicóticos no tratamento da patologia (PEREIRA
et al, 2022). O uso de antipsicóticos é fundamental para o tratamento, principalmente quando
atrelado à terapia, assistência médica e familiar. Contudo, apresenta efeitos adversos à saúde
física de quem os utiliza, sendo esses efeitos associados ao ganho de peso, dislipidemias e
diabetes (PEREIRA, 2022). No pouco tempo de convívio na instituição do CAPS Madeira
Mamoré, foi possível notar os nuances do que se destacou quanto às dificuldades geradas nos
quadros de psicose, haja vista que a maioria dos pacientes se mostraram acima do peso e, nos

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momentos de integração em que eram permitidos falarem da sua vida, se queixavam de
problemas de saúde que importunavam mais ainda sua qualidade de vida.
Em suma, a aplicação da Psicanálise na vivência do CAPS revela-se um campo
desafiador, especialmente ao lidar com a psicose e suas manifestações no corpo. Todavia, o
CAPS desempenha um papel essencial ao oferecer um espaço multidisciplinar, capaz de
valorizar a participação ativa dos pacientes. Através de atividades terapêuticas, apoio social e
vínculos confiáveis, o Centro de Atenção Psicossocial promove a escuta qualificada, o resgate
da dignidade e a construção de novos projetos de vida. Diante dessas considerações, fica clara
que a intersecção entre a psicanálise e o CAPS proporciona uma abordagem terapêutica
valiosa para a compreensão da psicose e a reintegração social dos pacientes, reforçando a
importância de uma escuta sensível, do cuidado integral e da valorização da subjetividade,
sendo capaz de contribuir para a transformação dos paradigmas do campo da saúde mental e
para uma atenção mais humanizada Às pessoas em sofrimento psíquico na sociedade
brasileira (VILHENA & ROSA, 2011).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente relato é resultado das experiências psicoeducativas vivenciadas durante a


disciplina de Estágio Básico I, oferecida pelo curso de Psicologia, de uma universidade
pública federal. A disciplina ofertada possui carga horária de 80 horas, sendo destas, 40% em
aulas teóricas e 60% em campo de estágio.
O estágio foi realizado no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), localizado na
cidade de Porto Velho, Rondônia. As visitas ao campo de estágio iniciaram em 31 de março
de 2023, com término em 10 de maio de 2023. Durante esse período foram cumpridas 25
horas de observação na instituição. O público observado na instituição foram os pacientes que
participavam semanalmente, às quartas-feiras, de oficinas terapêuticas ministradas por
estagiários de outra instituição.
A pesquisa é de natureza qualitativa, visto que utiliza-se de dados não mensuráveis,
que tem como objetivo “aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda ações dos
indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente ou contexto social, interpretando-os

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segundo a perspectiva dos próprios sujeitos que participam da situação, sem se preocupar com
representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito
(GUERRA, 2014, p. 15)”.
O método adotado na pesquisa foi a observação participante, onde os pesquisadores se
envolvem e participam das atividades do grupo estudado, que segundo Margaret Mead (1928,
p. 16) "A abordagem [da observação participante] exige que o pesquisador viva no mesmo
ambiente que o grupo estudado, participe regularmente de sua vida e se torne parte dele".
Nesse sentido, o objetivo principal da observação participante é permitir que o pesquisador
tenha uma maior compreensão dos fenômenos a partir da imersão no cotidiano dos sujeitos
estudados. O pesquisador deixa de ser um mero espectador, mas participa ativamente das
atividades em grupo, interagindo com os sujeitos de estudo.
As oficinas terapêuticas em questão ocorriam sempre às quartas-feiras e eram
organizadas por estagiários de outra instituição acadêmica, e estes nos permitiram observar
essa dinâmica nos quatro dias que fomos. Ao todo, tivemos cinco encontros, e destes, apenas
um foi realizado numa Sexta-Feira, sendo o primeiro deles. Neste primeiro dia, nos foi
apresentada a instituição, seus horários de funcionamento e alguns funcionários que trabalham
na assistência dos pacientes.
A partir dos próximos encontros pudemos conhecer os integrantes do grupo
terapêutico, participando ativamente das oficinas. As atividades propostas consistiam em
trabalhos artesanais como pinturas, desenhos, customização de garrafas e até mesmo a escrita,
desde que pudessem se expressar por estes meios. Todas as semanas eram propostas
atividades diferentes das anteriores e todos os materiais eram disponibilizados pelos
facilitadores e expostos em uma grande mesa onde todos se sentavam juntos, e no
encerramento das atividades, todos os participantes eram convidados a compartilhar seus
sentimentos e vivências acerca daquela experiência.
Não houve exatamente critérios de escolha de participantes, observamos os
participantes que compareceram às oficinas nos dias que estivemos presentes, visto que em
alguns encontros, alguns integrantes não compareciam ou novas pessoas chegavam. Em todo
o escrito do texto foi respeitada a identidade dos pacientes, não sendo possível a identificação
deles. Os que foram citados de maneira implícita foram apenas para compreensão do texto.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

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As atividades psicossociais tem o objetivo de promover o bem-estar psicológico e
social de indivíduos e grupos, ajudando os participantes a expressar suas emoções,
sentimentos e pensamentos de forma lúdica e criativa. Em geral, as atividades psicossociais
têm como objetivo melhorar a autoestima, a autoconfiança, a resiliência, a empatia e a
capacidade de comunicação dos participantes. Elas também podem ajudar a reduzir o estresse,
a ansiedade, a depressão e outros problemas emocionais e comportamentais. Se tornando
assim um processo importante no tratamento pois ajuda os participantes a desenvolverem
habilidades sociais e emocionais que podem ser transferidas para outras áreas da vida dos
participantes.
Durante os encontros, observamos os estudantes de Psicologia de uma outra
universidade aplicarem uma oficina terapêutica. Foram realizadas as seguintes atividades
interativas:
● 1° Atividade temática para a páscoa: Decorar/Pintar os ovos de páscoa;
● 2° Desenhar mandala
● 3° Fazer uma garrafinha de líquido transparente, com glitters e pedras coloridas;
● 4° Criar um diário de memórias.
Em todas as atividades foram disponibilizados materiais diversos como tintas,
lantejoulas, barbantes, isopor, pincel, glitters, cola branca, pedrinhas de artesanato, papéis e
etc. No final de cada sessão, era oferecido um lanche aos participantes das dinâmicas, sendo
esses lanches trazidos por conta dos próprios estagiários da outra instituição.
Na psicanálise, o processo de expressão artística é conhecido como sublimação. A
sublimação é um mecanismo de defesa no qual os impulsos instintivos são transformados em
uma forma socialmente aceitável de expressão, como a pintura, a escrita ou a música. Por
meio da sublimação, as emoções intensas são canalizadas para fora e podem ser
transformadas em algo positivo e construtivo. As atividades citadas - decorar ovos de Páscoa,
desenhar mandalas, fazer garrafinhas com glitters e pedras coloridas e criar um diário de
memórias - são exemplos de atividades que podem facilitar o processo de sublimação. Ao
decorar ovos de Páscoa, por exemplo, os participantes podem expressar sua criatividade e
também seus sentimentos sobre a festividade. Desenhar mandalas pode ajudar os indivíduos a
se concentrarem e a encontrar um estado de relaxamento, permitindo-lhes lidar com seus
estresses emocionais. Fazer garrafinhas com glitters e pedras coloridas pode ser uma atividade
divertida e relaxante, que proporciona aos participantes um senso de realização. E criar um
diário de memórias pode ajudar a processar e registrar as experiências emocionais de uma
maneira segura e estruturada.

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A abordagem psicanalítica no contexto grupal tem como objetivo compreender e tratar
os distúrbios emocionais e comportamentais que afetam indivíduos em um grupo. Assim, o
grupo é visto como uma entidade única, com sua própria dinâmica, e não simplesmente como
a soma das partes individuais. Em resumo, a abordagem psicanalítica no contexto grupal
permite que os indivíduos expressem e compartilhem seus pensamentos e emoções,
ajudando-os a lidar com problemas emocionais e desenvolver habilidades interpessoais
saudáveis. Um exemplo disso é que na prática de observação, em que os pacientes tinham que
decorar o ovo da páscoa em um papel, um paciente ao invés disso fez uma estrutura de ninho
de passarinho (especificamente, uma codorna) com dois ovinhos dentro. Ao final de cada
atividade há um momento em que cada participante fala um pouco sobre o que fez e o que
sentiu enquanto fazia a atividade. Nesse momento, o participante que fez a estrutura da
codorna, explicou que tinha feito a estrutura pois lembrava ele de uma época em que uma
codorna fez um ninho em sua janela. Indagado a explicar mais pelos estagiários em que
conduziam a dinâmica, o participante disse ainda mais, que a codorna costumava colocar
apenas dois ovos por vez, mas ele teria colocado dois pois ficaria diferente e segundo ele, ele
gosta de ser diferente e partir disso, foi se aprofundando nas explicações. Com este relato,
podemos perceber que um paciente pode criar uma pintura que representa sua dor emocional
ou trauma passado, permitindo que ele explore e processe essas emoções de forma não verbal.
Em seguida, o terapeuta pode usar essa obra de arte como ponto de partida para iniciar uma
discussão sobre as emoções e experiências do paciente, utilizando a teoria psicanalítica para
ajudá-lo a compreender melhor suas próprias questões emocionais.
E desta forma, observamos uma grande evolução na participação dos pacientes
durante as oficinas. Em comparação, nas primeiras atividades os pacientes pareciam mais
agitados, se levantavam muitas vezes para se retirar da sala, discutiam entre si, alguns não
deixavam outros falarem e ia se criando um clima de desordem. Já nas últimas atividades
pode-se perceber que apesar dos conflitos externos que carregavam, durante a dinâmica os
pacientes se encontravam mais e se distraiam menos, já respeitavam na medida do possível a
vez de cada um explicar suas atividades e também percebemos o quanto eles cresceram e se
fortaleceram como grupo e criaram um vínculo de cuidado entre eles.
Ouvimos relatos de o quanto a oficina era aguardada pelos pacientes. Na última
atividade em que presenciamos os estagiários moderadores de outra universidade perguntou
aos pacientes o que cada um se sentiu ao terem acesso a essas atividades, as respostas foram
muito positivas e girarem em torno de como eles se sentiam felizes em ter um espaço em que

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eles pudessem se divertir, de como eles se sentiam menos ansiosos durante as execuções das
atividades, e de poder ter feito amizades.
"As imagens produzidas pelos pacientes são verdadeiras obras
de arte, revelando uma riqueza e uma complexidade que vão
muito além do que podemos captar com palavras. Não podemos
subestimar a importância dessas imagens no processo
terapêutico." Nise da Silveira, Imagens do inconsciente 1976.
Por fim, é interessante discutir a importância do CAPS Madeira Mamoré na sociedade
de Porto Velho e como ele pode auxiliar no tratamento de pacientes com transtornos mentais.
Pode-se falar sobre a abordagem do CAPS em relação ao tratamento desses pacientes e a
importância da integração social e atividades psicossociais para a melhora da qualidade de
vida dos mesmos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O relato apresentado descreve a experiência de observação realizada no Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) Madeira Mamoré, localizado em Porto Velho, como atividade
da disciplina de Estágio Básico I do curso de Psicologia da Universidade Federal de
Rondônia. Foram realizados cinco encontros de observação, totalizando 25 horas, com foco
nas oficinas terapêuticas oferecidas aos pacientes com transtornos mentais graves atendidos
pela instituição. O referencial teórico utilizado foi o da psicanálise, principalmente o de
Sigmund Freud e outros autores que abordaram a psicose e suas manifestações nos pacientes
observados. Foi destacado o contexto histórico e social do surgimento dos CAPS no Brasil,
como uma resposta à luta antimanicomial e busca por alternativas mais humanizadas e
inclusivas de atendimento em saúde mental. A metodologia utilizada foi a observação
participante, com imersão nas atividades oferecidas aos pacientes do CAPS que tiveram
interesse em participar das atividades interativas. As atividades observadas consistem em
trabalhos artesanais e expressivos, com o intuito de promover a integração e criatividade dos
pacientes. Foram relatadas as dificuldades dos sujeitos com quadros de psicose em estabelecer
uma relação simbólica com o mundo externo, incluindo problemas com os cuidados com o
corpo e comorbidades associadas ao uso de antipsicóticos. O estágio serviu como atividade
acadêmica e enriquecedora, permitindo a compreensão dos conceitos teóricos discutidos em
sala de aula e a reflexão sobre a importância dos CAPS na sociedade. A experiência de
estágio nos enfatizou a importância da empatia, da compreensão das motivações e valores dos

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sujeitos, além da análise das normas e contextos em que eles se encontravam. Também nos
ensinou muito sobre a desestigmatização desses sujeitos, visto que são uma parcela tão
negligenciada e esquecida pela sociedade.

6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Conselho Federal de Psicologia (Brasil). Referências técnicas para atuação de psicólogas (os)
no CAPS —. Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). Conselho
Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia, Centro de Referência Técnica em
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