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IBMR

PSIC
O L
ESCO OGIA
LAR
Q UE
FAZE
R É ES S
E?
E: Qual a função desempenhada pelo psicólogo escolar ?
QUEM É O L: Quando você menciona a palavra psicologia a alguém, é normal que venha à
O
PSICÓLOG cabeça dessa pessoa o estereótipo do psicólogo clínico.
?
ESCOLAR O psicólogo educacional é o profissional da psicologia cuja missão é o estudo e a
intervenção do comportamento humano no contexto da educação. Seu objetivo
principal é o desenvolvimento das capacidades das pessoas, dos grupos e das
instituições. Além disso, na definição se entende o termo educacional no sentido
Entrevista realizada mais amplo da formação, de possibilitar o desenvolvimento pessoal e coletivo.
com a psicóloga
escolar; O campo de estudo e de atuação do psicólogo educacional está relacionado com
os processos cognitivos associados ou derivados do aprendizado. Reflete e
Laís Fontenelle –
Mestre em Psicologia desenvolve seu trabalho em todos os níveis da psicologia, seja no nível social,
Clínica pela PUC/RJ. pessoal, biológico, de saúde, etc.
Atualmente atua
como coordenadora
no núcleo de
psicologia de uma
escola particular no
Rj no segmento
fundamental.

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l p sic ó log o
É igua
clínico ?

• Quais as demandas do
dia a dia ?
• Pode atender igual na
clinica ?
• Tem diferença entre a
rede publica e privada ?

A Laís nos respondeu todas


essas perguntas e muitas
outras ! : )

O papel do psicólogo escolar é o de agente de mudanças neste ambiente, no qual busca promover a
reflexão e conscientização dos grupos que compõem a escola (alunos, profissionais e responsáveis), 3
acerca do melhor funcionamento do processo educacional, dentro da realidade da instituição,
diagnosticando estas situações para planejar as ações que irão beneficiar esse cenário.
O QUE É ?

A Psicologia Escolar, enquanto campo de produção científica e de atuação


profissional do psicólogo, caracteriza-se pela inserção da Psicologia no contexto
escolar com o objetivo de contribuir para a promoção do desenvolvimento, da
aprendizagem e da relação entre esses dois processos.
Inserido neste contexto de formação coube ao psicólogo escolar, por muito tempo,
classificar os alunos com dificuldades escolares e propor métodos especiais de
educação, tentando ajustá-los aos padrões de normalidade aceitos socialmente.
Entretanto, a partir do afastamento em relação à postura adaptativa e corretiva, a
Psicologia Escolar tem buscado solidificar uma atuação de caráter preventivo e
relacional que se sustenta muito mais em parâmetros de sucesso do que de
fracasso....

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n ç õ e s d o
l g u m a s fu
A e s c ol a r:
s i c ól o g o
p
1. Intervenção em relação às necessidades escolares dos alunos: deve se encarregar de estudar e prever as necessidades
educacionais dos alunos. Graças a isso pode agir para melhorar a experiência educacional dos alunos.
2. Funções vinculadas à orientação, aconselhamento profissional e vocacional: o objetivo geral desses processos é colaborar no
desenvolvimento das competências das pessoas, através do esclarecimento dos seus projetos pessoais, vocacionais e
profissionais de modo que possam dirigir sua própria formação e sua tomada de decisões.
3. Funções preventivas: deve intervir na aplicação das medidas necessárias para evitar os possíveis problemas na experiência
educacional. É importante agir sobre todos os agentes educacionais (pais, professores, filhos, orientadores…).
4. Intervenção na melhoria do ato educacional: é de grande importância prestar atenção à instrução aplicada pelos educadores.
Estudar e aplicar as melhores técnicas educacionais é necessário para que o aprendizado e o desenvolvimento do aluno seja ideal.
5. Formação e aconselhamento familiar: uma parte importante da educação é a que a família oferece. Através do estudo da família e
do posterior aconselhamento é possível alcançar modelos educacionais familiares eficientes. Com isso, aumentamos a qualidade
de vida de todos os membros da família.
6. Intervenção socioeducativa: a vida acadêmica e familiar não são as únicas coisas que educam o ser humano, o ambiente todo
importa. É responsabilidade do psicólogo educacional se encarregar do estudo de como o sistema social influencia a educação
para, assim, tentar intervir naqueles aspectos que são passíveis de melhorias.
7. Pesquisa e docência: para que todas as outras funções possam ser desempenhadas, são necessárias muitas pesquisas que
mostrem as direções a seguir. Toda pesquisa seria inútil sem uma docência que dissemine o conhecimento entre outros
profissionais e estudantes.
5
qu es tões o
o de r
A que tip escolar deve esta
psicólogo dia a dia ?
atento no
L: A presença de um psicólogo na escola é fundamental, pois ele está  habilitado a observar os comportamentos
dos alunos, como agem quando estão sozinhos ou em grupos, qual o rendimento em sala de aula, quais as
mudanças de comportamento, entre outros aspectos do desenvolvimento pessoal, social, emocional e intelectual
de cada um dos estudantes. Com esses dados, os psicólogos podem orientar os professores a agirem de acordo
com as características dos seus alunos, visando integrar todos eles. O método de ensino adotado pela escola
pode ganhar uma ajuda importante quando se tem um psicólogo escolar no processo de elaboração. Eles são
capazes de identificar comportamentos e atitudes que podem demonstrar que um método é mais eficiente que
outro, bem como saber o que pode ser melhorado nas relações dentro da sala de aula por meio da observação
da relação entre alunos e professores. As brigas entre alunos, os desentendimentos em sala de aula e até
comportamentos inadequados de professores podem ser corrigidos e orientados pelos psicólogos escolares.
Nesse ambiente, os conflitos podem acontecer, e devem ser combatidos com ensinamentos e compreensão. Por
isso,se torna ainda mais importante, pois, com uma visão de fora, eles podem ajudar a resolver os problemas de
modo educativo e acolhedor. Tanto alunos quanto professores estão sujeitos a problemas que atingem o campo
emocional e psicológico, também por isso um profissional da saúde mental é tão importante. Com a capacidade
de identificar com mais facilidade algumas alterações de comportamento e sinais de que algo está anormal, os
psicólogos podem ouvir e orientar quem está passando por situações complicadas. Além disso, podem estimular
a prática de atividades que são positivas para a mente e para o corpo, visando a melhora e/ou a prevenção de
problemas emocionais, mentais e psicológicos de maior gravidade.

6
p r i va d a x
Escola b li c a
p ú
Escola

ADICIONAR UM RODAP 7
LE XO DA NSINO
O R EF DADE N O E
U A L
DESIG

A cada resultado do Enem, fica mais explícito a desigualdade entre os estudantes da rede pública de ensino e as instituições
privadas. Tudo pode contribuir com o resultado, a nota não é determinada apenas pela vontade do jovem de estudar. Isso vai
desde a estrutura da família até a classe econômica e formação dos docentes. Esses fatores explicam 70% do desempenho
médio.
O Ministério da Educação divulgou os resultados por escola do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015. No Distrito
Federal, de todas as instituições divulgadas somente seis são públicas, o resto são privadas. As escolas com maior pontuação
são Colégio Olimpo e Centro Educacional Sigma, ambas para alunos de alto poder aquisitivo.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), existe uma
diferença de mais de 400 pontos entre escolas com melhor nota e alunos de nível socioeconômico alto, e os de nível baixo. Esse
ranking é feito através da escolaridade e classe social dos responsáveis, segundo o Inep.
Segundo a psicopedagoga,Marta Freitas, diretora de uma escola pública do Distrito Federal, o nível socioeconômico dos alunos
determina o seu desempenho. -“ É uma realidade diferente a de um aluno que estuda na rede pública do que estuda em uma
instituição privada. Quanto maior o poder aquisitivo do aluno, mais alto é o resultado da escola. Quando é realizada esse tipo de
pesquisa, você está ranqueando a classe social não a qualidade da instituição. Ela pode ser ruim, mas quando recebe alunos
com nível socioeconômico elevado, esses alunos também têm acesso a cursos fora da escola. Com isso, essa instituição terá um
resultado mais alto do que de uma escola pública de qualidade, que atende uma população carente”, conta.
Segundo o Inep a dificuldade não está em ambos os ensinos seja ele fundamental ou médio, o problema se encontra também na
infraestrutura das escolas, que é o processo mais importante, já que a maioria não possui nem computadores ou laboratórios.
Todos esses fatores contribuem para o fato de 60% das escolas da rede pública de ensino não terem divulgado suas notas do
Enem. Para uma escola participar do processo seletivo é necessário que pelo menos 50% de seus alunos participem do exame. 8
Al unos x
internet
•Conectividade: 21% dos alunos de escolas públicas só
acessam a internet pelo celular. Na rede privada, o
índice é de 3%
•Regiões: o uso da internet exclusivamente pelo celular
é maior no Norte (26%) e Nordeste (25%)
•Plataformas virtuais: 14% das escolas públicas
(estaduais e municipais) tinham ambiente ou plataforma
virtual de aprendizagem antes da pandemia
•Aprendizagem online: 16% dos estudantes da rede
pública e privada declararam ter participado de cursos
online e 24% fizeram simulados ou provas, o que pode
indicar dificuldades atuais para acompanhar o ambiente
virtual de aprendizagem. Quanto mais velho o aluno,
maior o índice
•Professores: 53% dos docentes disseram que a
ausência de curso específico para o uso do computador
e da internet nas aulas dificulta muito o trabalho; para
26%, dificulta um pouco – a soma é de 79%
•Interação: entre 2016 e 2019, a porcentagem de
instituições públicas urbanas cujos pais ou responsáveis 9
utilizaram perfis ou páginas em redes sociais para
interagir com a escola passou de 32% para 54%
 
E: Você vê diferença na atuação do psicólogo escolar na rede pública da privada?
L: Sim,Muitas !!! Apesar de nunca ter atuado no setor público escolar/educacional como psicóloga. Porém,
penso que o que define um psicólogo escolar não é o seu local de trabalho, mas o seu compromisso teórico
e prático com as questões da escola. Certo?! Mas, quanto ao ensino particular, o psicólogo encontra-se
numa realidade diferenciada, cujas contradições sociais se revelam na própria origem da escola particular no
Brasil, marcada por interesses político-ideológicos, nos quais se evidencia claramente a orientação liberal
que privilegia as classes mais favorecidas.  Quando nos reportamos à escola pública, isso se mostra mais
desafiador para se efetivar. Muitas escolas públicas nacionais não contam com uma estrutura básica
satisfatória. Além das limitações e complexidades do financiamento, elas também enfrentam outras
problemáticas, tais como: violência e vulnerabilidade social no entorno, absenteísmo, dificuldades no ensino
e na aprendizagem, distanciamento entre a formação acadêmica dos professores e a realidade prática,
relações políticas que muitas vezes são marcadas por decisões verticais e com pouca participação dos
educadores, entre outros impasses. Todo esse panorama se reflete nas relações de ensino e de
aprendizagem, bem como na subjetividade de alunos e de educadores.

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E: Há espaço para atuação como psicóloga clínica na escola ?
L: Todo ser humano precisa ter o seu momento para falar, colocar
suas idéias, expressar suas opiniões e sentimentos. Dentro da escola,

Í NI C A ? geralmente, esse espaço ou é limitado, ou não existe. Percebe-se

E A CL então, que a presença do psicólogo nas instituições de ensino é de


extrema valia e importância para esse contexto. Em meio às diversas
habilidades que este profissional deve apresentar, inclui-se,
proporcionar aos alunos um momento em que eles possam se
expressar como seres que além de possuir suas capacidades
cognitivas, têm valores, emoções e opiniões próprias que não podem
ser silenciadas, mas sim compartilhadas. A escola tem função de
socialização porque reproduz o sistema social, ela simula uma
pequena sociedade que permite aos seus alunos desenvolverem-se,
almejando que, futuramente sejam dirigidos para o verdadeiro
complexo de relações que é a sociedade como um todo. Atualmente, a
instituição de ensino encontra-se no contexto de um mundo que
vivencia grandes crises, tanto no que se refere aos valores, como à
ética. Sendo assim, a linguagem é um instrumento de grande
importância, pois ela permite que o indivíduo se firme e consolide-se
perante o outro. Ao comunicar-se, o homem interage socialmente,
MULHER EM FRENTE AO ESPELHO expressa-se, comunica-se com o mundo ao seu redor. A fala
possibilita o desenvolvimento e a atualização na relação com o outro,
podendo ser uma grande aliada da escola, pois na medida em que o
aluno se expressa por meio da linguagem, a sua atividade intelectual e
conseqüentemente sua formação de ideais são desenvolvidas e
aprimoradas.  
– PABLO PICASSO

Então, a partir de todas as colocações


apresentadas acima, percebe-se a relevância de um trabalho
realizado na escola que proporcione aos seus alunos um espaço
aberto para a fala. Nessa nova perspectiva de atuação, tenta-se criar
ADICIONAR UM RODAPÉ espaços de interlocução com todos os atores escolares, incluindo e
acolhendo os diferentes segmentos que participam e constroem o 11
cotidiano escolar. Esses espaços têm como foco tanto os aspectos
objetivos dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem,
como a conscientização dos aspectos subjetivos que os permeiam.
p s ic o l o g ia
Pq ?
la r, L aís
esco
E: O que te levou a escolher psicologia escolar e qual seu papel (propósito)
como psicólogo dentro deste campo?
L:O papel do psicólogo escolar é o de agente de mudanças neste ambiente, no
qual busca promover a reflexão e conscientização dos grupos que compõem a
escola (alunos, profissionais e responsáveis), acerca do melhor funcionamento do
processo educacional, dentro da realidade da instituição, diagnosticando estas
situações para planejar as ações que irão beneficiar esse cenário.
Eu entrei na área da psicologia escolar em 2000, no meu ultimo ano de faculdade,
Para quem está chegando ao como estagiária de uma escola particular no Rio de Janeiro, e neste estágio adquiri
uma ampla experiência, tanto pela demanda do trabalho, como também, pelo
fim da graduação em
contato e a troca de vivências com os demais profissionais. Minha função era
psicologia e ainda está em auxiliar um aluno autista do 2º ano do primário no seu processo de aprendizagem,
dúvida sobre qual área desta identificando suas dificuldades e potencialidades, para então adaptar as atividades
tão ampla carreira seguir … pedagógicas de modo que fosse melhor aproveitada e desenvolvida por ele, bem
como sua adaptação e inclusão social neste ambiente. Hoje formada, e trabalho
como psicóloga escolar, percebo que esta experiência inicial me trouxe o manejo
clínico inicial no cuidado e trabalho com crianças, além de ter ampliado a minha
visão sobre a área escolar, a qual foi pouco abordada em minha formação
acadêmica. A partir deste contato inicial percebi que o que queria fazer com a
psicologia e transformei em meu trabalho. 12
 
AT IVA X
EXPECT E
A L ID AD
RE
E: Quais expectativas você tinha antes de começar a trabalhar na área escolar? A realidade atendeu as suas expectativas?
L: Em minha prática é comum discutir com os alunos sobre o campo da Psicologia Escolar, e a pergunta mais freqüente que me é colocada
desde o começo da minha jornada nesta área, diz respeito à postura e ao papel do psicólogo no contexto escolar. De certa forma, o que os
alunos me solicitam expressa a necessidade de estabelecermos uma diferença entre os campos de atuação profissional do psicólogo, quais
sejam: psicologia clínica, psicologia organizacional e a psicologia escolar. Esta discussão é muito antiga no contexto da psicologia. No que diz
respeito à identidade do psicólogo escolar, geralmente ela passa pela superação do modelo médico saúde x doença, normal x anormal,
enfatizando-se o papel de educador que este profissional pode assumir quando atua no contexto da escola. Não se trata de trabalhar no eixo
doença x saúde mas criar espaços onde as vivências escolares possam ser ditas e escutadas – seja sob na perspectiva da sociedade, seja na
perspectiva da instituição, seja na perspectiva dos indivíduos ou grupos, etc... Tal lugar – o da escuta – possibilita ao psicólogo criar situações
coletivas, espaços de construção de conhecimentos sobre si mesmo – sobre a escola, sobre as experiências dos envolvidos de tal forma que
os problemas vividos sejam amplamente discutidos e a busca de soluções para os mesmos, compartilhada. O psicólogo, nesse lugar, tem a
condição de sair da desconfortável situação de bombeiro – onde sua ação se restringe a “apagar incêndios” – e contribuir para com a
organização dos envolvidos com a escola, criar no coletivo novas pautas de compreensão da realidade vivida, sugerir novas formas de
avaliação dos processos que se desdobram no contexto escolar (de aprendizagem, de avaliação, referentes a organização, a instituição, etc...).
É no âmbito dessas relações que vislumbramos as possibilidades de mudança, pois é aí que o profissional terá a oportunidade de negociar
sentidos, ampliar o significado de sua prática, apresentar novas perspectivas de intervenção e de compreensão da realidade.

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X ESCO LA
C OLO G I A
PSI

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r od uz i r a
Como int nas escolas ?
s i c ol o gia
p
L: As possibilidades de atuação do psicólogo na instituição escolar constituem, ainda, um tema de reflexão e de
debate entre esses próprios profissionais, especialmente entre aqueles interessados em contribuir para o
melhoramento da qualidade do processo educativo. O debate e os questionamentos se expressam, também, em
diferentes instâncias do sistema educativo e deles participam, em diferentes graus, gestores, pedagogos e outros
especialistas no campo da educação. A nossa experiência de trabalho na escola nos tem demonstrado que o
psicólogo muitas vezes é percebido com receio por parte de outros integrantes do coletivo escolar, sendo, às
vezes, implicitamente rejeitado, devido à representação de sua incapacidade para resolver os problemas que
afetam o cotidiano dessa instituição. Sua atuação se associa frequentemente ao diagnóstico e ao atendimento de
crianças com dificuldades emocionais ou de comportamento, bem como à orientação aos pais e aos professores
sobre como trabalhar com alunos com esse tipo de problema. Essa situação é resultado do impacto do modelo
clínico terapêutico de formação e atuação dos psicólogos no Brasil na representação social dominante sobre a
atividade desse profissional. As contribuições da Psicologia no campo educativo não se reduzem ao trabalho do
psicólogo na instituição escolar, pois é sabido que os processos educacionais acontecem em diferentes âmbitos e
níveis, fazendo com que a articulação Psicologia e Educação assuma diferentes e variadas formas.

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du ca do r
ó l og o x e
Psic

E:O psicólogo também assume um papel de educador, orientador, pesquisador e professor dentro de
algumas instituições de ensino. (Segundo Reger). Os psicólogos estão preparados para essa demanda
dentro do campo de ensino?
L: Essencialmente, o psicólogo escolar é um profissional que utiliza os conhecimentos produzidos sobre o
funcionamento psicológico humano para colaborar com os processos de aprendizagem e desenvolvimento que
têm lugar no contexto escolar, tendo em conta a complexa teia de elementos e dimensões que nos caracterizam
e que, de alguma forma, nos determinam. O psicólogo escolar serve, no modelo clínico, como elo entre várias
agências de saúde mental e o sistema escolar. Enquanto agente de ligação entre o mundo acadêmico e o
sistema escolar, o psicólogo escolar está interessado em metodologias científicas e resultados de pesquisas,
geralmente obtidos no ambiente acadêmico. Enquanto profissional vinculado ao campo educacional, traduziria
estas metodologias e resultados em ação nas escolas. Fazendo isso, poderia atender a dois objetivos: ajudar a
superar o descompasso entre educação e aplicação de resultados de pesquisa e encorajar atividades de
pesquisa nas escolas, servindo como elemento de ligação para os acadêmicos que queiram fazer contato com
indivíduos que falem a sua linguagem nas escolas. Como educador comprometido com a identidade acadêmica,
pode também tentar ensinar a outros profissionais no sistema escolar, fornecendo condições de aprendizagem
para os que podem tomar as melhores decisões referentes a programas educacionais.

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Gênero x x Es c ola
de
Sexualida

• Qual o papel da escola ?


• Por que e como trabalhar essas
questões na escola ?

Essas questões devem ser faladas e


são urgentes !

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“A escola não é pra aprender a fazer sexo. Quando o pai bota o filho na escola, quer que ele aprenda alguma coisa”. A frase, proferida
pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) em uma transmissão realizada em seu perfil do Facebook, na sexta-feira (9/11), foi uma
resposta ao debate que tem tomado as redes sociais nos últimos dias. Afinal de contas, as escolas devem ou não tratar de
sexualidade em sala de aula? Especialistas explicam a importância de falar sobre o assunto com as crianças.
O debate tem crescido desde as eleições passadas. Na semana anterior à fala de Bolsonaro, o deputado Flavinho (PSC-SP)
apresentou uma nova redação do projeto Escola Sem Partido à Câmara dos Deputados, restringindo a atuação de professores em
relação ao ensino sexual. O uso dos termos “gênero” e “orientação sexual” também ficariam proibidos nas salas de aula de todo o
país.
A psicóloga e doutora em educação pela UNESP (Universidade Estadual Paulista) Mary Neide Figueiró, de 63 anos, considera a
investida sobre a educação, especificamente ao conteúdo que envolve a sexualidade, um ataque à liberdade de ensino. “A educação
sexual é o inverso da erotização da criança. Ela tem a finalidade de levar informação e conhecimento sobre tudo o que diz respeito ao
corpo, para que as pessoas entendam de onde vieram”, sustenta Figueiró.
Mary Neide, que é autora do livro Educação sexual: saberes essenciais para quem educa, explica que a “erotização precoce da
criança seria o incentivo de toda e qualquer atitude gestual, de vestimenta ou de dança semelhante à adolescência”.  A psicóloga
defende que perguntar para a criança sobre ‘namoradinhos’ também é um tipo de erotização precoce.

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n ossa entrevistada >
ea ero
O que diss a sexualidade e gên
sobre o tem

L:A orientação sexual também constitui uma forma específica da


função de orientação na qual se têm produzido mudanças. Nesse
sentido, da ênfase dada à informação sobre a sexualidade humana,
os sentimentos afetivos nela envolvidos e os cuidados que devem ser
considerados, passa-se, com justeza, a destacar a contribuição para
o desenvolvimento dos recursos subjetivos favorecedores de um
comportamento sexual responsável e positivamente significativo para
os envolvidos. A orientação em relação ao sentido atribuído à
sexualidade, à responsabilidade para com o outro, às dúvidas e
inquietações sobre desejos e afetos, assim como a contribuição para
o desenvolvimento do autoconhecimento, a autorreflexão, a
capacidade de antecipar consequências e a tomada de decisões
éticas, constituem um objeto significativo do trabalho do psicólogo
escolar, tanto na sua expressão individual quanto na grupal. 19
COV ID- 19

EDUCAÇÃO E
PANDEMIA

O afastamento das escolas, levando as crianças e os jovens a estudarem em casa, mostrou em muitos casos o quanto as famílias
estavam até então afastadas da escola e do aprendizado de seus filhos. Ao terem que acompanhar mais de perto a rotina de estudos
deles, pais e mães perceberam a necessidade de estarem mais próximos e inteirados do material didático, das metodologias adotadas
e dos professores.
Esse processo tem seus desgastes para ambos os lados. Os familiares e responsáveis se vêem sobrecarregados com essa nova 20
demanda combinada ao trabalho no formato home office e afazeres do lar, mas passam a valorizar mais os professores e a escola. Do
outro lado, as instituições de ensino passam a ser mais cobradas por pais e mães agora com melhor entendimento da aprendizagem
dos estudantes.
s x co v id
D em an da
E: Durante esta crise, surgiu alguma tendência educacional que não estava mapeada ?
L: Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, todas as esferas da sociedade passam por profundas
transformações que alteram, significativamente, os padrões estabelecidos até então. Hábitos e comportamentos
adotados por décadas são, agora, reestruturados e submetidos a novas avaliações. Certamente, a área da
educação foi uma das mais afetadas no período e nela estão alterações transformadoras e, em muitos casos,
definitivas.
Diante da impossibilidade de frequentar as salas de aula, devido à necessidade de isolamento social, alunos e
professores tiveram que se adaptar rapidamente ao ensino a distância, usando os recursos tecnológicos como seus
grandes aliados para vencer os desafios impostos pela pandemia. Com isso, um novo processo de ensino e
aprendizagem começou a se desenhar, no qual os alunos passaram a ter contato com experiências didáticas mais
interativas e dinâmicas.  a pandemia trouxe uma disrupção no universo educacional, ou seja, a necessidade de
isolamento social causou uma drástica ruptura nos padrões e modelos estabelecidos na educação. Para o
pesquisador, a própria concepção de ensino se modificou: O conceito de aula mudou, de presencialidade também.
Hoje, o presencial é conectado. A aula deve ser um momento de troca, de comunicação, em um local onde as
pessoas ficam para se comunicar. Não é um conceito de quatro paredes, pode ser no jardim, em casa, enfim, no
lugar onde o aluno se sinta mais à vontade para aprender. No atual contexto, os educadores e as instituições
também devem prever e lidar com novos desafios. Dentre eles, o estímulo a uma retomada aos estudos acolhedora,
inclusiva e adaptativa; tornar as atividades presenciais mais dinâmicas; a promoção do acesso democrático à
internet e a dispositivos eletrônicos, com a manutenção da equidade; métodos inovadores focados em aprendizagem 21
e no aproveitamento do aluno, e não apenas no cumprimento de carga horária; grade curricular adequada e
pertinente ao novo cenário; métodos de avaliação viáveis e acessíveis em qualquer circunstância; modelos de
ensino adaptáveis a possíveis novos impactos; entre outros.
E: Em relação a pandemia da covid-19, sabemos que afetou de maneira geral a saúde mental
de todos os envolvidos no processo escolar. Qual o papel do psicólogo escolar frente as
novas demandas do momento e como poderia ajudar aos alunos, pais e professores neste tão
delicado retorno?
L: Serão muitos os desafios. E vão dos aspectos estruturais e organizacionais da escola, que deverá
atender aos protocolos, aos aspectos emocionais, que envolvem não só o acolhimento dos alunos
como também o das famílias. Todos estão, em alguma medida, sensíveis a tudo que vem
acontecendo e, de certa forma, inseguros, ansiosos e um tanto esperançosos com o que está por vir.
E, embora o professor seja parte desse coletivo, no momento em que a escola abre, é ele o
catalisador de todas esses vetores, portanto o desafio será grande e seu papel ainda mais
fundamental.
No retorno às aulas presenciais, esse novo encontro, apesar de muito esperado por todos,
demandará do professor novas estratégias para a reinvenção tanto das relações afetivas quanto do
trabalho pedagógico em si, repensando os projetos, de acordo com a avaliação diagnóstica dos
alunos, contemplando novos encaminhamentos, além de outros combinados para a rotina, que será
inteiramente diferente. Essa nova realidade será um grande desafio para todos na escola, sobretudo
para os professores que são o porto seguro dos alunos, suas famílias e coordenação. Portanto, o
acolhimento deve também se estender a eles. Gestores e coordenadores precisam estar abertos
para ouvir esses profissionais nas suas demandas e trabalhar em parceria.

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e n t a l e
Saúde m
n d emi a
pa
E: Com a pandemia, como você acha que o lado emocional dos
profissionais está sendo afetado?

 L: As primeiras questões que aparecem são socioemocionais. Os professores


estão angustiados, preocupados. O que percebo neles é um medo de saber se
vão dar conta, se vão conseguir, por exemplo, fazer uma boa videoaula e se os
alunos vão aprender nesse contexto. O principal desafio é passar por esse
período de transição.

A pandemia provocou uma ruptura muito brusca. Ninguém se programou para


ter tempo para aprender a usar o Google Classroom, editar uma aula, gravar
um vídeo, montar um roteiro. Algumas escolas fecharam na sexta e, a partir de
segunda-feira, as videoaulas começaram a ser disponibilizadas. É real: alguns
professores tiveram dois dias para se remodelar e mudar o formato das suas
aulas. Ainda entram na conta a insegurança e a pressão da escola por
produção de conteúdo. Afinal, o formato de dar aulas mudou. Mas, em geral, a
filosofia continua a mesma. E a angústia e a pressão externa está sendo
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colocada nos professores em um momento que não é emocionalmente
favorável para ninguém.
m ia a in d a
A p an d e
ac ab o u !
não
E: Você acha que as escolas estão preocupadas com a saúde mental dos professores e dos alunos ou
apenas com a saúde financeira da instituição?
L: O professor precisa sentir a confiança dos pais e da escola. Mais do que nunca, a escola como um organismo
precisa apoiar o professor. E o professor precisa apoiar os gestores para se constituir uma comunidade. É hora
de dar as mãos e pensar em soluções. É hora, por exemplo, de pensar no currículo para ver o que é essencial
fazer e em como fazer.

Quando a escola passa tranquilidade e confiança para o professor de forma organizada, com cronogramas
claros, isso tende a deixá-lo mais tranquilo. Inclusive, aumenta o potencial dele para fazer um trabalho melhor –
porque ele está se sentindo acolhido. Todos estamos num momentos sensível, então, mais do que nunca, é hora
da escola se organizar enquanto comunidade que se apoia mutuamente. Um estudo do Insper (Instituto de
Ensino e Pesquisa) sobre o impacto da perda de aprendizado neste ano ao longo da vida dos estudantes aponta
que os jovens podem perder R$ 42,5 mil de renda se os conteúdos não forem repostos e eles seguirem para o
mercado de trabalho com esses déficits. Não foi planejado, não houve transição para esse novo modelo. Então,
houve perdas e precisamos olhar agora para elas.

24
o ce d a ri a
c on s el hos v e s sa
Que er s e gui r
ue m q u
para q m e nt e?
ur a
área fut
L: Na escola, são inúmeras as possibilidades de intervenção do psicólogo escolar para contribuir ao
desenvolvimento da carreira dos alunos. De modo que sua atuação supere o enfoque remediativo,
estando mais focada nas competências do que nos déficits ou dificuldades da clientela. Uma
atuação em Psicologia Escolar que busque abranger toda a instituição educacional e que se
comprometa com um trabalho de caráter mais desenvolvimentista do que remediativo. É através
dessas que se compartilham significados e se constroem concepções de mundo, de educação, de
desenvolvimento humano. É também intervindo sobre elas, por meio da escuta psicológica, que o
psicólogo pode se tornar um mediador de processos de ressignificação que possibilitem aos
educadores, alunos e familiares se reconhecerem como sujeitos históricos, assumindo suas
responsabilidades no processo educacional. Cabe ao psicólogo escolar, nas intervenções de
carreira por exemplo, dispor-se a ocupar um lugar de escuta, tanto junto aos sujeitos orientandos
quanto junto aos demais atores do contexto educativo. Que ele esteja disponível a escutar e
compreender as vivências dos educandos acerca da relação que estabelecem com o sistema
educativo, com o mundo do trabalho e consigo mesmos, contribuindo à construção de processos de
conscientização destes sujeitos e de seus educadores.

25
Obr i gad a !

Grupo Composto por :

Natália Antunes

Lara Chambarelli

Jéssica

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