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IBMR - Projeto Final: Estágio Básico em Processos Educativos

PANDEMIA, AS REINVENÇÕES EDUCACIONAIS E O MAL-ESTAR DOCENTE:


UMA CONTRIBUIÇÃO SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA E AS NOVAS MANEIRAS DE SE
ALCANÇAR O BEM ESTAR.

Autoras: Natália Dias Antunes


Jéssica Costa
Lara Chambarelli
 A pandemia causada pela Covid-19 impôs ao sistema educacional
muitos ajustes e alterações e, com isso, trouxe aos educadores novas
formas de adaptação, gerando sofrimento mental e físico.

 Diante disso, a partir de uma contribuição da psicanálise, este trabalho


visa refletir sobre o mal-estar docente e seus sintomas frente às
mudanças da prática pedagógica durante a pandemia.

 Para tanto, utilizamos pesquisas teóricas e entrevistas com educadores


para compor as reflexões aqui apresentadas.

RESUMO  Nosso Projeto Interventivo também possibilitou apresentar possíveis


práticas de atuação do psicólogo escolar em meio ao novo cenário de
incertezas e transformações decorrentes da pandemia do COVID-19
dentro deste novo contexto.

 São necessários empenhamentos do docente, em especial em educação


continuada e em serviço da instituição e do meio, incluindo a família e
apoios específicos a estes profissionais.

 Concluímos que após a pandemia e em pesquisas posteriores é


importante a ampliação dessa temática.
PROBLEMA
Diante de todas as catástrofes ocasionadas por essa pandemia de 2020, a área educacional tem
sofrido bastantes consequências, a paralisação do ensino presencial em todas as escolas, tanto
públicas como privadas, atingiu pais, alunos professores e toda a comunidade escolar, em todos
os níveis de ensino. Situação que interfere na aprendizagem, desejos, sonhos e perspectivas de
muitos discentes, provocando um sentimento de adiamento de todos os planos no contexto
educacional. Vale destacar que essa mudança gerou uma interferência na vida familiar de todos
os parentes, variações de rotinas trabalho e ocupações

Diante dessa perspectiva, a sociedade tem buscado soluções para que a educação seja viável de
outro jeito. Para isso, é importante a busca por novos métodos de ensino que permitam manter as
orientações da OMS sobre o isolamento social. Uma das soluções mais debatidas nesse contexto
é a utilização de tecnologias digitais de comunicação e informação

No atual momento de pandemia, os docentes, num contexto de extrema urgência, tiveram que
passar a organizar aulas remotas, atividades de ensino mediadas pela tecnologia, mas que se
orientam pelos princípios da educação,necessitando possuir habilidades com várias ferramentas
voltadas para o manejo tecnológico, como, por exemplo: Google Meet, Plataforma Moodle, Chats
e Live (Transmissão ao vivo).

Outro ponto de vista é que durante o isolamento social, os familiares estão confinados dentro de
casa causando, por muitas vezes, estresse e até violência física e/ou psicológica. Os pais
encontram várias dificuldades para ensinar as atividades escolares, dificultado pelo grau de
escolaridade familiar, principalmente, os pais de estudantes da rede pública.
 OBJETIVO GERAL
Promover o Bem-Estar Docente

Pensamos em como seria então, articular uma ‘’intervenção’’ em tempos de pandemia, a fim de promover o bem estar
docente. A proposta para a realização do estágio foi organizada em três etapas, sintetizadas da seguinte maneira:

  A CONSTRUÇÃO DO TRABALHO E A COMPREENSÃO DA DEMANDA

 ARTICULAÇÃO TEÓRICA E LEITURA DA REALIDADE : Consistiu na discussão das temáticas contemporâneas que
permeiam o cotidiano escolar e foram acentuadas com o isolamento social, como o sofrimento decorrente do trabalho
e estudo remoto, a medicalização da educação, as relações de dominação, o sofrimento ético-político, as
determinações da desigualdade social na subjetividade e o papel das políticas públicas de educação na garantia de
direitos. Buscamos compreender como esses conceitos se mostram na realidade das escolas.

  LEVANTAMENTO DE NECESSIDADES: Com a impossibilidade de realizar as visitas-técnicas, já que todas as


escolas estão em atividades remotas emergenciais, realizamos entrevistas online com pedagoga e psicóloga escolar
de diferentes segmentos, com o objetivo de identificar suas necessidades.

  PROJETO DE INTERVENÇÃO:A partir das necessidades identificadas, nos encontros de orientação de estágio e
também durante as aulas no IBMR as demandas foram analisadas em grupo, permitindo que se elaborasse ‘’um
projeto de intervenção’’, garantindo todos os aspectos éticos e técnicos delimitados para as intervenções remotas
emergenciais. 
METODOLOGIA
Após todas as entrevistas realizadas com profissionais da área educacional e debates
realizados em orientação de estágio, compreendeu-se que as demandas se organizavam
principalmente em:
 os desafios em atuar com as tecnologias da informação e comunicação;
 o cansaço gerado pelo trabalho remoto;
 a complexidade para a articulação entre atores escolares, principalmente o desafio de
comunicação com pais e responsáveis;
 sentimentos de insegurança, medo e ansiedade, gerados pelo momento atual;
 a sensação de impotência por não conseguir apoiar os estudantes que vivem em
condições mais precárias e que não tem conseguido acompanhar as atividades
remotas;
 preocupações objetivas e subjetivas com as possíveis retomadas de atividades
escolares presenciais. Compreendemos que com o fechamento de escolas, a interrupção
das rotinas escolares e a transformação dos métodos tradicionais de aprendizagem têm
levado ao aumento da pressão, do estresse e da ansiedade nas professoras/es bem como
dos estudantes e em suas famílias.
Para constituir o trabalho buscamos inspiração em propostas interventivas, realizando
dois grupos de encontro.
O grupo de encontro é uma modalidade de atendimento grupal que tem como proposta
auxiliar as pessoas interessadas em desenvolver e aperfeiçoar sua capacidade de
comunicação e de relacionamento interpessoal. Além disso, os grupos de escuta,
oferecem uma oportunidade de trocas afetivas e profundas em um nível de autêntico
respeito pela singularidade de cada uma das pessoas que participam deste tipo de
atividade.
 O Plantão Psicoeducativo
 O sentido do plantão psicoeducativo,é se abrir para o educador e se colocar diante de sua vivência e refletir sobre, para se olhar e perceber as
possibilidades que se revelam em seu existir ocultadas pela correria do cotidiano. O plantão psicoeducativo ancora-se na compreensão de que as questões
apresentadas nos encontros pelos educadores são expressões do seu modo de existir junto aos outros no mundo. Como o plantão psicoeducativo intenciona
tornar-se um espaço de abertura para a diversidade, pluralidade e singularidade das demandas daqueles que o procuram, carrega consigo algumas
especificidades, como sua definição de um espaço para reflexão da prática educativa como elemento organizador de uma demanda.
 O grupo de acolhimento e escuta ativa para professoras/ es em tempos de pandemia
O grupo foi realizado em sete encontros virtuais com duração de uma hora e trinta minutos. Cada encontro estava organizado com um objetivo específico e
todos tinham uma pergunta disparadora, que invariavelmente era ajustada para garantir o entendimento de todas as participantes.  

Em síntese os encontros tiveram o seguinte delineamento:


 Encontro 01 – Objetivo: conhecer os participantes, apresentar a proposta e criar um relacionamento de confiança Questão Disparadora: Como está a
sua rotina?
 Encontro 02 – Objetivo: compreender os desafios comunicacionais e avaliar os pontos fracos e potentes das instituições Questão Disparadora: Como
garantir uma comunicação eficaz com toda a comunidade escolar?
 Encontro 03 – Objetivo: discutir as transformações geradas pela pandemia no cotidiano escolar e impactos na vida das professoras/es e estudantes
 Questão Disparadora: Quais os desafios de aprendizagem neste momento de pandemia?
 Encontro 04 – Objetivo: compreender os riscos, preocupações e problemas que as instituições precisam rever para garantir um espaço de segurança
para todos Questão Disparadora: De que maneira podemos assegurar os protocolos de biossegurança definidos pelos órgãos sanitários?
 Encontro 05 – Objetivo: analisar os impactos objetivos na vida dos estudantes e como a escola para lidar com as possíveis perdas que a pandemia gerou
na vida de toda a comunidade escolar Questão Disparadora: De que forma podemos minimizar as desigualdades sócias acentuadas neste momento? •
 Encontro 06 – Objetivo: discutir o que será possível para a retomada das atividades escolares presenciais e planejar ações que serão imprescindíveis
para o trabalho docente Questão Disparadora: Na retomada das atividades presenciais, qual será o ponto de (re)início? •
 Encontro 07 – Objetivo: avaliar o percurso desenvolvido no trabalho e sugerir melhorias para próximos projetos Questão Disparadora: O que deixei e o
que levei destes encontros?
 
RESULTADOS
ESPERADOS
Aos poucos, as queixas vão dando lugar ao mais diversos assuntos, e é possível notar um avanço em
temas que inicialmente eram problemáticos ou tabus. A partir de iniciativas como esta é possível trabalhar
o fortalecimento das relações sociais, e a construção coletiva de estratégias para enfrentar os desafios do
trabalho educativo neste período de isolamento.
Paulo Freire (2003), que tão bem sentenciou que é pensando a prática de hoje ou de ontem que os
educadores poderão melhorar a próxima prática.
Cabe a nós, psicólogas/os escolares e alunas-estagiários deste campo, compreender o processo das
escolas e das condições de trabalho, que pode ocasionar o adoecimento das professoras/es: No contexto
atual, em que impera o processo de alienação do trabalho, instabilidade em relação aos direitos
trabalhistas, ao produtivismo, à ausência de espaços coletivos de discussão, ao desmonte dos sindicatos
e órgãos representativos, é urgente analisar o sofrimento a partir de suas bases materiais, de maneira a
encontrar alternativas coletivas de enfrentamento e de superação do processo de culpabilização vivido
pela/o professora e professor. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019, p. 57)
Considerando os processos de vida que se constituem no convívio e nas relações, condição para o
ensinar e o aprender, percebemos a importância de trabalhar os conflitos que muitas vezes são
produzidos nas práticas institucionais. A escola, historicamente, vem sendo compreendida como uma
instituição que produz e reproduz as contradições da sociedade da qual faz parte. Por isso, nem sempre
permite o exercício de uma cidadania ativa. Por isso, vale lembrar que é somente por meio do diálogo, da
interação entre as partes, que será possível promover reflexão e ações de forma transformadora e dessa
maneira romper com a lógica de reprodução da violência (FREIRE, 2003). Sabemos que uma reunião de
pessoas pode não ser um grupo, já que para que este se constitua é necessário fazê-lo e neste projeto,
almejava-se auxiliar as participantes a se escutarem, a refletirem sobre os assuntos trazidos, a
expressarem e significarem os seus sentimentos, desenvolvendo também um respeito mútuo pelas
considerações divergentes.
Nota-se também,que principalmente às experiências proporcionadas aos educadores por
meio de um trabalho que teve uma simplicidade, com atividades comuns, mas
pensadas para e a partir das pessoas que participavam dos encontros, sendo encontros
realizados no curto tempo disponível naquela ocasião, propiciaram vivências significativas,
discussões ricas e reflexões muito importantes.

O psicólogo escolar pode estar numa posição privilegiada para o trabalho com professores,
pelo fato de transitar por diversos campos do conhecimento, tendo em vista a complexidade
da realidade educacional. Destacamos a utilidade da teoria de D. W. Winnicott sobre o
amadurecimento humano para a área de psicologia escolar, lembrando a importância
conferida por ele à “influência ambiental... determinando se a pessoa, ao buscar uma
confirmação de que a vida vale a pena, irá partir à procura de experiências, ou se retrairá
fugindo do mundo” (Winnicott, 1990, p. 149).

O ambiente escolar, cuja provisão é de responsabilidade também do professor, da sua


condição de trabalho, pode ser facilitador no sentido da integração das experiências pelas
quais o aluno passa no contexto da escola, ou apresentar-se como invasivo, quando está
desajustado ao aluno, dificultando o seu processo de crescimento.

Acreditamos que, à medida que os professores sentirem-se apoiados em seu trabalho, que
também implica uma formação em muitos aspectos fundamentais não contemplados nessa
ocasião, como os pedagógicos e políticos, os estudantes, pelos quais as instituições
educacionais são responsáveis, serão os maiores beneficiários.
OBRIGADA!

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