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DOI:10.34117/bjdv6n5-244
Simone de La Roque
Doutora em Doenças Tropicais, pela Universidade Federal do Pará
Instituição: Universidade do Estado do Pará
Endereço: Barão do Triunfo, 1929 AP 2004, Belém-PA, Brasil
E-mail: silarocquec@hotmail.com
RESUMO
A pesquisa de campo, descritiva e abordagem qualitativa, objetivou avaliar a influência da
psicomotricidade no desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Questionou-se se a psicomotricidade enfatizada durante as atividades lúdicas na educação física
adaptada influenciaria positivamente no desenvolvimento global de crianças com TEA. A coleta de
dados se fez através de ficha de registro observacional dos aspectos psicomotores e bateria de
avaliação psicomotora proposta por Mattos e Kabarite (2005), com adaptações de LÚRIA (1987). A
análise dos dados esteve de acordo com observações dos aspectos psicomotores coletados ao longo
das atividades proposta. Como considerações finais observou-se que a pesquisa realizada indica que
a utilização da psicomotricidade nas aulas de educação física adaptada pode ser uma excelente
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 5, p.27179-27192, may. 2020. ISSN 2525-8761
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estratégia para o alcance de melhores resultados no desenvolvimento global e de crianças com TEA.
Acredita-se que a contribuição deste estudo para a ciência está em mostrar que é possível favorecer
o desenvolvimento psicomotor de alunos com TEA durante as aulas de educação física. Assim,
ressalta-se que se o professor incorporar em suas aulas a psicomotricidade, certamente estará
utilizando um excelente recurso pedagógico.
ABSTRACT
The field research, descriptive and qualitative approach, aimed to evaluate the influence of
psychomotricity on the development of children with Autistic Spectrum Disorder (ASD). It was
questioned whether the psychomotricity emphasized during recreational activities in adapted
physical education would positively influence the global development of children with ASD. Data
collection was done through an observational record form of psychomotor aspects and a battery of
psychomotor assessment proposed by Mattos and Kabarite (2005), with adaptations by LÚRIA
(1987). The data analysis was in accordance with observations of the psychomotor aspects collected
during the proposed activities. As final considerations, it was observed that the research carried out
indicates that the use of psychomotricity in adapted physical education classes can be an excellent
strategy for achieving better results in global development and for children with ASD. It is believed
that the contribution of this study to science is to show that it is possible to favor the psychomotor
development of students with ASD during physical education classes. Thus, it is emphasized that if
the teacher incorporates psychomotricity in his classes, he will certainly be using an excellent
pedagogical resource.
1 INTRODUÇÃO
O autismo é denominado como um transtorno de espectro que se manifesta em torno do
terceiro ano de vida da criança, causando prejuízos na interação social, alterações na comunicação e
padrões limitados ou estereotipados de comportamentos e interesses (KLIN, 2006).
Historicamente a literatura aponta que o termo autismo foi concebido inicialmente no ano de
1911 pelo psiquiatra Eugen Bleuler, para descrever o afastamento do mundo exterior observado em
indivíduos com esquizofrenia, por acreditar que tais indivíduos apresentavam déficit na
comunicação, imaginação e perda de contato com a realidade. Sendo considerado por muitos outros
autores como uma característica essencial de esquizofrenia o qual por muitos anos se definiu o
autismo em um quadro de esquizofrenia infantil (CARRERA, 2014).
A Educação Física Adaptada é a educação que transforma as atividades tradicionais da
educação física em atividades seguras e adequadas as capacidades funcionais de criança com
necessidades especiais (STRAPASSON, 2002). Assim a educação física adaptada se utiliza de
técnicas, métodos e formas de organizar os conteúdos da educação física com o propósito de
atender as necessidades educativas especiais da criança com TEA (CIDADE; FREITAS, 2002).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1999), a psicomotricidade é a
ciência que tem como objeto de estudo o homem e a sua relação ao seu mundo interno e externo por
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meio do seu corpo em movimento. Pode estar relacionada ao processo de amadurecimento, no qual
o próprio corpo do sujeito origina as aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. A psicomotricidade
sustenta-se em três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.
AZAMBUJA (2005) declara que a psicomotricidade pode ajudar no desenvolvimento de
crianças com Transtorno do Espectro Autista, pois a ação psicomotora é uma técnica que visa
promover o desenvolvimento global e o conhecimento do seu próprio corpo, através das atividades
lúdicas. Nesse sentido, instigou-nos saber se a psicomotricidade como um método de intervenção
poderia ser capaz de melhorar alguns dos déficits que se manifestam em crianças com Transtorno
do Espectro Autistas (TEA).
Esta pesquisa objetivou avaliar o desenvolvimento de crianças com TEA, através do uso da
psicomotricidade nas aulas de atividades físicas adaptada, observando quais dentre os aspectos
psicomotores: desenvolvimento da coordenação global, esquema corporal, equilíbrio, noção
espacial e temporal, seriam mais evidenciados no processo de desenvolvimento global de crianças
diagnosticadas com TEA a partir de um programa de atividades lúdicas composto por 18 sessões de
atividades física psicomotoras.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA
A primeira descrição de autismo infantil ocorreu em 1943 pelo psiquiátrico Leo Kanner em
seu artigo intitulado “Distúrbios Autisticos do Contato Afetivo” em que após observar grupo de
onze crianças, notou a presença de algumas características em comum o qual denominou como
“solidão autística extrema” que seria a dificuldade que essas crianças apresentavam em desenvolver
contato afetivo e social. Kanner também detectou linguajar anormal, atrasos na aquisição da fala,
aspectos físicos aparentemente normais, uma excelente função da memória e extrema necessidade
em manter uma rotina e um ambiente sem alterações (MATSUKURA & SORAGNI, 2013).
Historicamente como aponta a literatura à biografia do autismo é marcada por uma série de
alterações, segundo o autismo foi inserido em 1968 na categoria de psicose no Manual Diagnóstico
e Estático de transtorno Mental (DSM II) como um quadro de esquizofrenia, permanecendo assim
até 1980 quando então foi classificado pelo DSM III como distúrbio invasivo do desenvolvimento.
Em 1991 foi nomeado pelo DSM IV como distúrbio global do desenvolvimento por configurar
prejuízos invasivo e severo em diversas áreas do desenvolvimento (DIAS, 2015).
De acordo com Oliveira (2014) nos últimos anos muito se avançou em pesquisas científicas
em busca da explicação da sua natureza etiológica e na melhoria da qualidade de vida de pessoas
com TEA, porém sua causa ainda é mal conhecida e compreendida pela ciência. atenta que ainda
2.2 PSICOMOTRICIDADE
O termo psicomotricidade surge em um discurso médico, especificamente no campo da
neurologia no início do século XIX, a partir da necessidade de identificar e nomear as zonas do
córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras (LUSSAC, 2008). Nesse mesmo contexto,
Fernandes e Barros (2015) dizem que, o termo psicomotricidade surgiu em Paris, capital da França
e teve como principal precursor, o neurologista Ernest Dupré no ano 1907. Em seus estudos
Elementos
Definição Autor
Psicomotores
É a capacidade que o indivíduo tem de controlar e organizar
Coordenação FERREIRA
e integrar grandes grupos musculares. Buscando a harmonia
Motora Global (2000)
nos deslocamentos
Esquema É a tomada de consciência e organização da estruturação dos LE BOULCH
Corporal segmentos corporais. (2008)
O equilíbrio é base de toda coordenação corporal. O qual
reúne um conjunto de aptidões estáticas e dinâmicas que
Equilíbrio
engloba o controle postural e o desenvolvimento das FONSECA
aquisições de deslocamento do corpo. (1995)
Orientação espacial é a capacidade que o indivíduo tem de
Noção
orientar-se diante de um espaço e de localiza os objetos em FONSECA
Espacial
relação a si própria. (1995)
Noção Organização temporal é a capacidade de avaliar o tempo
Temporal dentro de uma determinada ação, ou seja, é a capacidade de MEUR E
A educação psicomotora favorece que a criança tenha consciência dos elementos do seu
corpo, promovendo o desenvolvimento das habilidades coordenativas, gestos e movimentos de uma
forma harmônica para um maior domínio na lateralidade, no espaço e no tempo (LE BOULCH,
2001).
Portanto a educação física é um dos principais meios para o desenvolvimento da criança, e
são através dos jogos psicomotores presentes nas atividades lúdicas que a criança se desenvolve
plenamente, tornar-se um ser integral, pois o brincar, no desenvolvimento infantil possibilita seu
crescimento de forma global, fornecendo oportunidades para que através das brincadeiras possa
vivenciar diversas situações que utilize seu corpo, sua imaginação, seus sentimentos e que venha
estabelecer uma relação consigo mesma, com outro e com o mundo que o cerca, para que assim
venha se desenvolver os aspectos afetivos, social, motor e cognitivo (AZAMBUJA, 2005).
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa de Campo, Descritiva e de natureza Qualitativa, baseou-se nos de Gil (2008).
O estudo foi realizado no Laboratório de Atividades Físicas Adaptadas - LAFAD do
Campus III da Universidade do Estado do Pará, tendo como amostra 04 (quatro) crianças na faixa
etária de 07 (sete) a 12 (doze) anos, do sexo masculino e com diagnóstico de TEA. Os critérios de
inclusão foram: apresentarem diagnóstico médico de TEA; faixa etária de 07 (sete) a 12 (doze)
anos; de ambos os sexos; inscritas no LAFAD; apresentarem no mínimo 80% de frequência.
O procedimento de intervenção ocorreu por meio de 09 (nove) sessões/aulas atividades de
atividades físicas de caráter lúdicas que após de realizadas foram repetidas fim de comparar se
houve desenvolvimento dos elementos psicomotores totalizando um número de 18 sessões. O
período de aplicação do programa ocorreu a partir do dia 05 de abril de 2018 até 14 de maio de
2018, o qual foi realizado 03 (três) vezes na semana, com duração média de 50 minutos, com o
objetivo de trabalhar o desenvolvimento da coordenação global, esquema corporal, equilíbrio,
noção espacial e temporal.
Cada sessão desenvolveu-se da seguinte maneira:
1ª parte: ocorreu a análise observacional por meio de atividades lúdicas-avaliativas para o elemento
psicomotor a ser desenvolvido; 2ª parte: Intervenção - Visando reforço no domínio do elemento
psicomotor avaliado; 3ª parte: reavaliação – Verificar se houve mudança no domínio do elemento
psicomotor.
Atividades Objetivos
Sessão 01. Reconhecendo as partes essenciais do corpo Desenvolver o esquema
corporal.
Sessão 02. O mestre mandou. Desenvolver a noção espacial
Sessão 03. Andando seguindo o ritmo Desenvolver a noção temporal
Sessão 04. Pulo certeiro (pular dentro do círculo) e andando Desenvolver o equilíbrio.
sobre a corda
Sessão 05. Vivo morto e imitando os animais Coordenação global
Sessão 06. Quebra cabeça das partes do corpo humano e onde Desenvolver o esquema
está o meu (citar parte do corpo) corporal
Elementos
Aluno
Psicomotores
Noção
Noção Espacia *Circuito
Esquema Noção Equilíbri Coord. Esquema Equilíbri
Espacial l e Coord.
Corporal Temporal o Global Corporal o
Tempor Global
al
A 4 8 4 6 2 6 4 6 2 4 10 10 8 10 4 4 2 10
B 2 8 6 8 4 10 4 4 6 8 10 10 8 10 4 6 8 10
C 6 8 10 10 6 10 4 8 8 8 10 10 10 10 8 10 10 10
D 8 10 10 10 8 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 8 10
*O circuito foi composto pelos elementos (equilíbrio, orientação espacial, temporal e Coordenação global).
*S – Sessões.
4 CONCLUSÃO
Conclui-se neste estudo que o programa de intervenção psicomotora com atividades físicas
adaptada de caráter lúdico utilizados nesta pesquisa pode influenciar positivamente no
desenvolvimento global de crianças com TEA, pois ao longo das intervenções percebeu-se que os
alunos da pesquisa tiveram avanço positivo no desenvolvimento dos elementos psicomotores e
também uma maior concentração e segurança ao realizar as atividades e na inter-relação com os
monitores do laboratório. Portanto, acredita-se que de fato a utilização da psicomotricidade junto às
aulas de educação física adaptada é capaz de promover o desenvolvimento de crianças com TEA.
Neste sentido, a contribuição deste estudo para a ciência está em mostrar que é possível
favorecer o desenvolvimento psicomotor de alunos com TEA durante as aulas de educação física, se
o professor incorporar em suas aulas a psicomotricidade, certamente estará utilizando um recurso
pedagógico de grande relevância.
Nesse sentido, espera-se que mais estudos sejam direcionados ao assunto a fim de
contribuírem com os avanços no desenvolvimento de crianças com TEA nas aulas de educação
física.
REFERÊNCIAS