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Brazilian Journal of Development

A psicomotricidade e a educação física adaptada no desenvolvimento de crianças


com transtorno do espectro autista
Psychomotricity and adapted physical education in the development of children
with autistic spectrum disorder

DOI:10.34117/bjdv6n5-244

Recebimento dos originais: 13/04/2020


Aceitação para publicação: 13/05/2020

Jailma Sousa Melo


Graduada pela Universidade do Estado do Pará
Endereço: Rodovia Mario Covas, 1500 Fit Coqueiro I torre B4 AP 11, Coqueiro, Ananindeua-PA,
Brasil
E-mail: jailma.sousa@hotmail.com

Simone de La Roque
Doutora em Doenças Tropicais, pela Universidade Federal do Pará
Instituição: Universidade do Estado do Pará
Endereço: Barão do Triunfo, 1929 AP 2004, Belém-PA, Brasil
E-mail: silarocquec@hotmail.com

Rodolfo de Azevedo Raiol


Mestre em Gestão pela Universidade Lusónfa de Humanidades e Tecnologias
Instituição: Centro Universitário do Estado do Pará
Endereço: Avenida Alcindo Cacela, 1523, Belém-PA, Brasil
E-mail: rodolforaiol@gmail.com

Andrew Matheus Lameira Sampaio


Graduado pela Universidade do Estado do Pará
Endereço: Cidade Nova VI, WE 83, 951, B Coqueiro, Ananindeua-PA, Brasil
E-mail: jailma.sousa@hotmail.com

Jamila Mariana Martins da Cruz


Acadêmica de Educação Física da Universidade do Estado do Pará
Endereço: Travessa Vileta, 3400, Marco, Belém-PA, Brasil
E-mail: mila.mariana05@gmail.com

RESUMO
A pesquisa de campo, descritiva e abordagem qualitativa, objetivou avaliar a influência da
psicomotricidade no desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Questionou-se se a psicomotricidade enfatizada durante as atividades lúdicas na educação física
adaptada influenciaria positivamente no desenvolvimento global de crianças com TEA. A coleta de
dados se fez através de ficha de registro observacional dos aspectos psicomotores e bateria de
avaliação psicomotora proposta por Mattos e Kabarite (2005), com adaptações de LÚRIA (1987). A
análise dos dados esteve de acordo com observações dos aspectos psicomotores coletados ao longo
das atividades proposta. Como considerações finais observou-se que a pesquisa realizada indica que
a utilização da psicomotricidade nas aulas de educação física adaptada pode ser uma excelente
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estratégia para o alcance de melhores resultados no desenvolvimento global e de crianças com TEA.
Acredita-se que a contribuição deste estudo para a ciência está em mostrar que é possível favorecer
o desenvolvimento psicomotor de alunos com TEA durante as aulas de educação física. Assim,
ressalta-se que se o professor incorporar em suas aulas a psicomotricidade, certamente estará
utilizando um excelente recurso pedagógico.

Palavras-chave: Psicomotricidade, Educação Física Adaptada, Transtorno do Espectro Autista.

ABSTRACT
The field research, descriptive and qualitative approach, aimed to evaluate the influence of
psychomotricity on the development of children with Autistic Spectrum Disorder (ASD). It was
questioned whether the psychomotricity emphasized during recreational activities in adapted
physical education would positively influence the global development of children with ASD. Data
collection was done through an observational record form of psychomotor aspects and a battery of
psychomotor assessment proposed by Mattos and Kabarite (2005), with adaptations by LÚRIA
(1987). The data analysis was in accordance with observations of the psychomotor aspects collected
during the proposed activities. As final considerations, it was observed that the research carried out
indicates that the use of psychomotricity in adapted physical education classes can be an excellent
strategy for achieving better results in global development and for children with ASD. It is believed
that the contribution of this study to science is to show that it is possible to favor the psychomotor
development of students with ASD during physical education classes. Thus, it is emphasized that if
the teacher incorporates psychomotricity in his classes, he will certainly be using an excellent
pedagogical resource.

Keywords: Psychomotricity, Adapted Physical Education, Autism Spectrum Disorder

1 INTRODUÇÃO
O autismo é denominado como um transtorno de espectro que se manifesta em torno do
terceiro ano de vida da criança, causando prejuízos na interação social, alterações na comunicação e
padrões limitados ou estereotipados de comportamentos e interesses (KLIN, 2006).
Historicamente a literatura aponta que o termo autismo foi concebido inicialmente no ano de
1911 pelo psiquiatra Eugen Bleuler, para descrever o afastamento do mundo exterior observado em
indivíduos com esquizofrenia, por acreditar que tais indivíduos apresentavam déficit na
comunicação, imaginação e perda de contato com a realidade. Sendo considerado por muitos outros
autores como uma característica essencial de esquizofrenia o qual por muitos anos se definiu o
autismo em um quadro de esquizofrenia infantil (CARRERA, 2014).
A Educação Física Adaptada é a educação que transforma as atividades tradicionais da
educação física em atividades seguras e adequadas as capacidades funcionais de criança com
necessidades especiais (STRAPASSON, 2002). Assim a educação física adaptada se utiliza de
técnicas, métodos e formas de organizar os conteúdos da educação física com o propósito de
atender as necessidades educativas especiais da criança com TEA (CIDADE; FREITAS, 2002).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1999), a psicomotricidade é a
ciência que tem como objeto de estudo o homem e a sua relação ao seu mundo interno e externo por
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meio do seu corpo em movimento. Pode estar relacionada ao processo de amadurecimento, no qual
o próprio corpo do sujeito origina as aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. A psicomotricidade
sustenta-se em três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.
AZAMBUJA (2005) declara que a psicomotricidade pode ajudar no desenvolvimento de
crianças com Transtorno do Espectro Autista, pois a ação psicomotora é uma técnica que visa
promover o desenvolvimento global e o conhecimento do seu próprio corpo, através das atividades
lúdicas. Nesse sentido, instigou-nos saber se a psicomotricidade como um método de intervenção
poderia ser capaz de melhorar alguns dos déficits que se manifestam em crianças com Transtorno
do Espectro Autistas (TEA).
Esta pesquisa objetivou avaliar o desenvolvimento de crianças com TEA, através do uso da
psicomotricidade nas aulas de atividades físicas adaptada, observando quais dentre os aspectos
psicomotores: desenvolvimento da coordenação global, esquema corporal, equilíbrio, noção
espacial e temporal, seriam mais evidenciados no processo de desenvolvimento global de crianças
diagnosticadas com TEA a partir de um programa de atividades lúdicas composto por 18 sessões de
atividades física psicomotoras.

2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA
A primeira descrição de autismo infantil ocorreu em 1943 pelo psiquiátrico Leo Kanner em
seu artigo intitulado “Distúrbios Autisticos do Contato Afetivo” em que após observar grupo de
onze crianças, notou a presença de algumas características em comum o qual denominou como
“solidão autística extrema” que seria a dificuldade que essas crianças apresentavam em desenvolver
contato afetivo e social. Kanner também detectou linguajar anormal, atrasos na aquisição da fala,
aspectos físicos aparentemente normais, uma excelente função da memória e extrema necessidade
em manter uma rotina e um ambiente sem alterações (MATSUKURA & SORAGNI, 2013).
Historicamente como aponta a literatura à biografia do autismo é marcada por uma série de
alterações, segundo o autismo foi inserido em 1968 na categoria de psicose no Manual Diagnóstico
e Estático de transtorno Mental (DSM II) como um quadro de esquizofrenia, permanecendo assim
até 1980 quando então foi classificado pelo DSM III como distúrbio invasivo do desenvolvimento.
Em 1991 foi nomeado pelo DSM IV como distúrbio global do desenvolvimento por configurar
prejuízos invasivo e severo em diversas áreas do desenvolvimento (DIAS, 2015).
De acordo com Oliveira (2014) nos últimos anos muito se avançou em pesquisas científicas
em busca da explicação da sua natureza etiológica e na melhoria da qualidade de vida de pessoas
com TEA, porém sua causa ainda é mal conhecida e compreendida pela ciência. atenta que ainda

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hoje o diagnóstico é impreciso e não é possível afirmar geneticamente sobre a incidência da
síndrome. O autismo está inserido no grupo de Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID),
por apresentarem precocemente atrasos e desvios no desenvolvimento das habilidades sociais,
comunicativas, comportamentais (KLIN, 2006).
O avanço nas pesquisas e no diagnóstico do TEA ainda é fundamentalmente clinico e
baseado nos critérios estabelecidos pela DSM – V (Manual de Diagnóstico e Estatístico da
Sociedade Norte Americana de Psiquiatria) que serve como instrumento de orientação para o
diagnostico clinico e pelo CID – 10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde) que lista o transtorno do espectro autista conforme indicado nas Diretrizes
de Atenção a Reabilitação de Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) (BRASIL,
2014).
O diagnóstico que definem o autismo está relacionado na deficiência de interação social e na
capacidade de iniciar ou manter uma conversação, retardo na linguagem verbal, deficiência em se
comunicar através da linguagem corporal, e nos padrões de comportamentos restritos, repetitivos e
estereotipados (KLIN, 2006).
Em consoante a nova revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais da
em sua V edição (2014), o autismo que antes era classificado como “Transtornos Globais do
Desenvolvimento”, descreve-se hoje como, Transtorno do Espectro Autista (TEA). A utilização do
novo termo se dá pela variabilidade de características e intensidades a um grupo heterogêneo de
doenças que varia de acordo com o nível de gravidade.
Classificado e denominado como um Transtorno do Neurodesenvolvimento passou a
englobar atualmente transtornos antes denominados de autismo infantil precoce, autismo infantil,
autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do
desenvolvimento sem outra especificação, transtorno degenerativo da infância, e transtorno
Asperger, todos em único grupo, passando a ser classificado de acordo com nível de gravidade que
pode se apresentar de forma leve, moderada e grave, com déficits persistentes nas habilidades
comunicativas, sociais e comportamentais (DSMV, 2014).

2.2 PSICOMOTRICIDADE
O termo psicomotricidade surge em um discurso médico, especificamente no campo da
neurologia no início do século XIX, a partir da necessidade de identificar e nomear as zonas do
córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras (LUSSAC, 2008). Nesse mesmo contexto,
Fernandes e Barros (2015) dizem que, o termo psicomotricidade surgiu em Paris, capital da França
e teve como principal precursor, o neurologista Ernest Dupré no ano 1907. Em seus estudos

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clínicos, evidenciando a Síndrome da Debilidade Motora, realizou várias observações clínicas e
detectou que existia uma estreita relação entre anomalias psicológicas e anomalias motrizes,
levando em consideração a recordação do corpo passado, a valorização do corpo presente e a
reabilitação do corpo futuro.
O grande pioneiro da psicomotricidade vista no campo científico foi o médico, psicólogo e
pedagogo Henry Wallon que estudou o desenvolvimento neurológico de recém-nascido e da
evolução psicomotora da criança. Wallon dizia que o movimento é a única expressão e o primeiro
instrumento do psiquismo (FONSECA, apud, FALCÃO, 2005).
Segundo AZAMBUJA (2005), a psicomotricidade é a ciência que se utiliza do movimento
corporal para através da educação, atingir outras aquisições mais elaboradas. O corpo é
comunicação pura é por intermédio dele que transmitimos nossas emoções, sejam elas quais forem,
são expressas por meio das mais diferentes formas de movimentos dos mais simples e involuntários
aos mais complexos e elaborados.
De acordo com FALCÃO (2010) a psicomotricidade pretende transformar o corpo num
instrumento de relação e expressão com o outro, criando condições que facilitarão a inter-relação
entre a criança e a aprendizagem, através do seu corpo em movimento, ou seja, dirigindo o
indivíduo em sua totalidade em seus aspectos motores, emocionais, afetivos, intelectuais e
expressivos, dentro de um contexto sócio histórico cultural, permitindo a criança melhor sentir-se
no espaço, no tempo, no mundo dos objetos.
O trabalho da Educação Psicomotora prevê a formação de uma base indispensável para o
desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, dando oportunidade para que, por meio de jogos e
atividades lúdicas a criança se conscientize sobre seu corpo. Assim, a psicomotricidade é
considerada o alicerce de maturação do indivíduo, o que a torna de fundamental relevância no
processo de desenvolvimento infantil, por envolver os aspectos emocionais, cognitivos e de
movimentos, de forma organizada, coordenada, temporal e sequencial (SANTOS & COSTA 2015).
Em consoante Le Boulch (2001), afirma que educação psicomotora deve ser considerada
uma educação de base na escola primária indispensável, pois prepara todos os aprendizados pré-
escolares, permitindo a criança a tomar consciência do seu corpo, da lateralidade, a situar-se no
espaço, dominar o tempo, adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A
educação psicomotora permite prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas.

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2.3 EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA E SUA RELAÇÃO COM A PSICOMOTRICIDADE NO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Resumidamente a educação física adaptada não diferencia da educação física em seus
conteúdos, e sim nas condutas relacionadas da atuação do professor, que irá adaptar regras,
estratégias metodológicas e de aplicabilidade dos conteúdos visando atender os educandos com
necessidades educativas a participação nas atividades (SOARES et al., 1992).
A psicomotricidade é uma ferramenta utilizada pela educação física que tem como proposito
promover o desenvolvimento da criança em seus aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais,
pois através das atividades psicomotoras é possível desenvolver satisfatoriamente todos os
elementos psicomotores (AQUINO, et al 2012). Neste sentido a psicomotricidade e a sua relação
com a educação física está fundamentada nas necessidades básicas indispensáveis ao
desenvolvimento da crianças, juntas por intermédio de jogos e brincadeiras, influenciam
positivamente no processo de maturação do indivíduo, uma vez que assegura a base de formação do
desenvolvimento motriz, afetivo e psicológico, permitindo a conscientização da realidade do corpo
das crianças (MOLINARI e SENS, 2003).

QUADRO 1 - DEMOSTRATIVO DOS ELEMENTOS PSICOMOTORES

Elementos
Definição Autor
Psicomotores
É a capacidade que o indivíduo tem de controlar e organizar
Coordenação FERREIRA
e integrar grandes grupos musculares. Buscando a harmonia
Motora Global (2000)
nos deslocamentos
Esquema É a tomada de consciência e organização da estruturação dos LE BOULCH
Corporal segmentos corporais. (2008)
O equilíbrio é base de toda coordenação corporal. O qual
reúne um conjunto de aptidões estáticas e dinâmicas que
Equilíbrio
engloba o controle postural e o desenvolvimento das FONSECA
aquisições de deslocamento do corpo. (1995)
Orientação espacial é a capacidade que o indivíduo tem de
Noção
orientar-se diante de um espaço e de localiza os objetos em FONSECA
Espacial
relação a si própria. (1995)
Noção Organização temporal é a capacidade de avaliar o tempo
Temporal dentro de uma determinada ação, ou seja, é a capacidade de MEUR E

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situar-se em relação aos acontecimentos e a duração dos STAES (1991)
mesmos.
Fonte: Ferreira (2000); Le Bouche (2008); Fonseca (1995); Meur & States (1991).

A educação psicomotora favorece que a criança tenha consciência dos elementos do seu
corpo, promovendo o desenvolvimento das habilidades coordenativas, gestos e movimentos de uma
forma harmônica para um maior domínio na lateralidade, no espaço e no tempo (LE BOULCH,
2001).
Portanto a educação física é um dos principais meios para o desenvolvimento da criança, e
são através dos jogos psicomotores presentes nas atividades lúdicas que a criança se desenvolve
plenamente, tornar-se um ser integral, pois o brincar, no desenvolvimento infantil possibilita seu
crescimento de forma global, fornecendo oportunidades para que através das brincadeiras possa
vivenciar diversas situações que utilize seu corpo, sua imaginação, seus sentimentos e que venha
estabelecer uma relação consigo mesma, com outro e com o mundo que o cerca, para que assim
venha se desenvolver os aspectos afetivos, social, motor e cognitivo (AZAMBUJA, 2005).

3 METODOLOGIA
Esta pesquisa de Campo, Descritiva e de natureza Qualitativa, baseou-se nos de Gil (2008).
O estudo foi realizado no Laboratório de Atividades Físicas Adaptadas - LAFAD do
Campus III da Universidade do Estado do Pará, tendo como amostra 04 (quatro) crianças na faixa
etária de 07 (sete) a 12 (doze) anos, do sexo masculino e com diagnóstico de TEA. Os critérios de
inclusão foram: apresentarem diagnóstico médico de TEA; faixa etária de 07 (sete) a 12 (doze)
anos; de ambos os sexos; inscritas no LAFAD; apresentarem no mínimo 80% de frequência.
O procedimento de intervenção ocorreu por meio de 09 (nove) sessões/aulas atividades de
atividades físicas de caráter lúdicas que após de realizadas foram repetidas fim de comparar se
houve desenvolvimento dos elementos psicomotores totalizando um número de 18 sessões. O
período de aplicação do programa ocorreu a partir do dia 05 de abril de 2018 até 14 de maio de
2018, o qual foi realizado 03 (três) vezes na semana, com duração média de 50 minutos, com o
objetivo de trabalhar o desenvolvimento da coordenação global, esquema corporal, equilíbrio,
noção espacial e temporal.
Cada sessão desenvolveu-se da seguinte maneira:
1ª parte: ocorreu a análise observacional por meio de atividades lúdicas-avaliativas para o elemento
psicomotor a ser desenvolvido; 2ª parte: Intervenção - Visando reforço no domínio do elemento
psicomotor avaliado; 3ª parte: reavaliação – Verificar se houve mudança no domínio do elemento
psicomotor.

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QUADRO 2 - Programa de intervenção - Proposições de sessões/aulas

Atividades Objetivos
Sessão 01. Reconhecendo as partes essenciais do corpo Desenvolver o esquema
corporal.
Sessão 02. O mestre mandou. Desenvolver a noção espacial
Sessão 03. Andando seguindo o ritmo Desenvolver a noção temporal
Sessão 04. Pulo certeiro (pular dentro do círculo) e andando Desenvolver o equilíbrio.
sobre a corda
Sessão 05. Vivo morto e imitando os animais Coordenação global
Sessão 06. Quebra cabeça das partes do corpo humano e onde Desenvolver o esquema
está o meu (citar parte do corpo) corporal

Sessão 07. Atividade de compreensão perceptiva temporal e Desenvolver a noção espacial e


espacial. temporal.
Sessão 08 Jogo da amarelinha e atividade de compreensão Desenvolver o equilíbrio
perceptiva temporal e espacial.
Sessão 09 Circuito psicomotor Coordenação global, equilíbrio
e noção espacial e temporal.
Sessão 10. Reconhecendo as partes essenciais do corpo Desenvolver o esquema
corporal.
Sessão 11. O mestre mandou Desenvolver a noção espacial
Sessão 12. Andando seguindo o ritmo Desenvolver a noção temporal
Sessão 13. Pulo certeiro (pular dentro do círculo) e andando Desenvolver o Equilíbrio.
sobre a corda
Sessão 14 Vivo morto e imitando os animais Coordenação global
Sessão 15. Quebra cabeça das partes do corpo humano e onde Esquema corporal
está o meu (citar parte do corpo)
Sessão 16 Atividade de compreensão perceptiva temporal e Desenvolver a noção espacial e
espacial. temporal.
Sessão 17 Jogo da amarelinha Desenvolver o equilíbrio.
Sessão 18 Circuito psicomotor Coordenação global, equilíbrio
e noção espacial e temporal.

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Para coleta de dados utilizou-se ficha de registro observacional dos aspectos psicomotores e
bateria de avaliação psicomotora proposta por Mattos e Kabarite (2005), com adaptações e
conforme os pressupostos teóricos de LÚRIA (1987).
Está pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade Estadual do Pará – Curso
de Educação Física - Campus III (CAAE: 85650618.1.0000.5167), de acordo com as normas da
resolução 196/96 do Conselho Nacional de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Todos os
responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assim como também os
menores assinaram o Termo de Assentimento Livre Esclarecido.

Quadro 3. Resultados comparativos dos elementos psicomotores coletados


individualmente no marco zero ou 1ª sessão/aula e na última sessão

Elementos
Aluno

Psicomotores
Noção
Noção Espacia *Circuito
Esquema Noção Equilíbri Coord. Esquema Equilíbri
Espacial l e Coord.
Corporal Temporal o Global Corporal o
Tempor Global
al

*S 1ª 10ª 2ª 11ª 3ª 12ª 4ª 13ª 5ª 14ª 6ª 15ª 7ª 16ª 8ª 17ª 9ª 18ª

A 4 8 4 6 2 6 4 6 2 4 10 10 8 10 4 4 2 10

B 2 8 6 8 4 10 4 4 6 8 10 10 8 10 4 6 8 10

C 6 8 10 10 6 10 4 8 8 8 10 10 10 10 8 10 10 10

D 8 10 10 10 8 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 8 10

*O circuito foi composto pelos elementos (equilíbrio, orientação espacial, temporal e Coordenação global).
*S – Sessões.

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Ao analisar os elementos psicomotores propostos pela pesquisa através do diário de campo e
da bateria de avaliação psicomotora observou-se que antes da intervenção, dois alunos apresentaram
inicialmente um alto grau de deficiência na apropriação do esquema corporal, porém, ao longo das
intervenções das atividades físicas psicomotoras percebeu-se um aumento substancial na percepção
do seu corpo e na conscientização dos segmentos corporais.
Na sessão que se avaliou o equilíbrio, percebeu- se um alto índice de dificuldade dos alunos
A, B e C em realizar as atividades que exigia utilização deste elemento, chegando ao final do teste
apenas os alunos C e D com uma evolução satisfatória.
Nos estudos de Vasconcelos (2007), cujo objetivo foi avaliar os efeitos de um programa de
psicomotricidade no desenvolvimento da coordenação crianças com transtorno do espectro autista,
conclui-se que as crianças apresentaram um equilíbrio muito deficitário. No entanto, apesar de não
se observarem diferença estaticamente significativa foi possível observar melhorias ao final do
programa. Esses resultados foram semelhantes aos que encontramos na nossa pesquisa.
Na sessão que se propôs avaliar a noção espacial e temporal dois alunos também
apresentaram dificuldade em realizar as atividades que requeriam o domínio noção espaço-
temporal, porém, ao final do teste reavaliativo todos os alunos desta pesquisa tiverem excelentes
resultados.
Tais resultados corroboram com os estudos de (AQUINO etal, 2012; LE BOULCH, 2001),
citados como referências nesta pesquisa, os quais enfatizam que a psicomotricidade aliada à
educação física por meio de jogos e atividades lúdicas é indispensável à evolução dos elementos
psicomotores da criança, pois a partir do conhecimento do seu próprio corpo, aprendem a situar-se
no espaço, dominar seu o tempo, adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos.
Na sessão que se avaliou o equilíbrio percebeu-se um alto índice de dificuldade dos alunos
A, B e C em realizar as atividades que exigia a utilização deste elemento psicomotor, chegando ao
final do teste reavaliativo apenas os alunos C e D com uma evolução satisfatória. O que vem a
comprovar com teste de coordenação motora e preferencial manual
Na atividade denominada “circuito psicomotor” realizada propositalmente na última sessão
em que os alunos já haviam trabalhado os elementos psicomotores nas outras atividades, apenas um
aluno teve dificuldade realizar o circuito, porém ao final teste comparativo todos os alunos
obtiveram excelente desempenho ao realizar esta atividade, pois demonstrarão harmonia e
integração das suas capacidades motoras ao se deslocarem ao longo do circuito. O que vem a
comprovar ser um importante instrumento facilitador de desenvolvimento para as crianças com
TEA nas aulas de educação física.

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Segundo Santos e Costa (2015), a psicomotricidade aliada à educação física, desenvolve a
criança por completo, por ser uma ação educativa que se utiliza movimento natural com a finalidade
de normalizar, completar ou aperfeiçoar o desenvolvimento global da criança.
Tomando como referência os resultados obtidos individualmente, foi possível constatar que
os alunos participantes da pesquisa apresentaram ao longo das atividades físicas de caráter lúdico
propostas, melhoras significativas nos aspectos sociais, motores e afetivos. Este resultado concorda
com os estudos de AZAMBUJA (2005) quando diz que a psicomotricidade pode ser um
instrumento facilitador capaz de promover a criança autista através de brincadeiras o
desenvolvimento das suas capacidades motoras, facilitando a Inter-relação com o mundo externo.

4 CONCLUSÃO
Conclui-se neste estudo que o programa de intervenção psicomotora com atividades físicas
adaptada de caráter lúdico utilizados nesta pesquisa pode influenciar positivamente no
desenvolvimento global de crianças com TEA, pois ao longo das intervenções percebeu-se que os
alunos da pesquisa tiveram avanço positivo no desenvolvimento dos elementos psicomotores e
também uma maior concentração e segurança ao realizar as atividades e na inter-relação com os
monitores do laboratório. Portanto, acredita-se que de fato a utilização da psicomotricidade junto às
aulas de educação física adaptada é capaz de promover o desenvolvimento de crianças com TEA.
Neste sentido, a contribuição deste estudo para a ciência está em mostrar que é possível
favorecer o desenvolvimento psicomotor de alunos com TEA durante as aulas de educação física, se
o professor incorporar em suas aulas a psicomotricidade, certamente estará utilizando um recurso
pedagógico de grande relevância.
Nesse sentido, espera-se que mais estudos sejam direcionados ao assunto a fim de
contribuírem com os avanços no desenvolvimento de crianças com TEA nas aulas de educação
física.
REFERÊNCIAS

Associação Americana de Psiquiatria, APA. DSM V – Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais. 5. ed.rev. – Porto Alegre: Artmed, 2014. Disponível em:
<https://aempreendedora.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Manual-Diagn%C3%B3stico-e-
Estat%C3%ADstico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5.pdf> Acesso em: 06 de Novembro de 2017.
Associação Brasileira de Psicomotricidade. Disponível em:
<https://psicomotricidade.com.br/historico-da-

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psicomotricidade/<http://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/> Acesso em 04
de maio de 2017.
AZAMBUJA. M. E.D. O Autismo Infantil na Psicomotricidade. 69 f. 2005, Monografia (Curso
de Psicomotricidade) – Universidade Cândido Mendes Projeto a Vez do Mestre. Disponível em:
<http://www.avm.edu.br/monopdf/7/MARIA%20ELISA%20DUARTE%20DE%20AZAMBUJA.p
df> Acesso em 13 de Novembro de 2018.
AQUINO. M.F.S. etal. Psicomotricidade como Ferramenta da Educação Física na Educação
Infantil. Revista Brasileira de Futsal e Futebol, Edição Especial: Pedagogia do Esporte, São Paulo,
v.4, n.14, p.245-257. Jan/Dez. 2012 INSS 1984-4956.
CARRERA. G. Transtorno de Aprendizado e Autismo. São Paulo. Grupo Cultural, 2014.
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