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Nome da Disciplina: NEUROCIÊNCIA E ESTIMULAÇÃO PRECOCE

Apresentação do professor: Noslaine da Conceição Sant’Anna Celestino cursou


Mestrado acadêmico em Ciências da Educação pela ACU; especialização em
Gestão Educacional Integrada pela FAAC; especialização em Alfabetização e
Letramento pela FACEL; especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional
pela FAADEMA; graduação em Pedagogia pela UNIUBE. Atua como docente de
Metodologia da Pesquisa Científica nos cursos de pós-graduação lato sensu.
Link para o currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/9186340849098007

SUMÁRIO

1 NEUROCIÊNCIA E ESTIMULAÇÃO PRECOCE


2 CONCLUSÃO
3 REFERÊNCIAS

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1 NEUROCIÊNCIA E ESTIMULAÇÃO PRECOCE

As creches em tempo integral são uma exigência concebida pelo formato


socioeconômico atual, no qual os pais precisam trabalhar e precisam de um local
confiável para deixar os filhos pequenos. E no caso de crianças com necessidades
educativas especiais, essa demanda é ainda maior, pois além do cuidado, a creche
precisa contribuir para o desenvolvimento físico e intelectual dessa criança.

Sarmento (2015) salienta que a criança, no contexto institucional, convive


conforme as regras ditadas pelos adultos, portanto, carregadas das
intencionalidades deles, por isso, os adultos devem atentar-se para as necessidades
das crianças, a fim de que esse período em que elas ali estão possa ser proveitoso
e harmonioso. Isso quer dizer que as crianças devem participar das decisões e
construções realizadas nesse espaço e tempo.

Segundo as Diretrizes de Estimulação Precoce (BRASIL, 2016), as crianças


pequenas e bebês acometidos por patologias orgânicas precisam ser devidamente
acompanhadas por profissionais que façam a intervenção clínico-terapêutica, de
modo garantir melhoria no desenvolvimento neuropsicomotor dessas crianças.
Portanto, os programas de estimulação precoce são de grande importância para a
prevenção ou atenuação de atrasos ou defasagens no desenvolvimento dessas
crianças.

A Estimulação Precoce (EP) é composta por um conjunto de atividades e


ações psicomotoras, cujo objetivo é proporcionar à criança uma diversidade de
estímulos fundamentais para que possa crescer de forma sadia. Há muitas crianças
hoje, que poderiam ter maior qualidade de vida, se tivessem recebido um
atendimento adequado em seus primeiros meses de vida. Nesse sentido,
percebe-se a relevância que deve ser dada ao processo de estimulação precoce na
educação infantil.

De acordo com Pérez-Ramos e Pérez-Ramos (1996), a EP deve ser


ministrada logo após o nascimento e deve continuar até os primeiros anos de vida e
ressalta que as crianças que não possuem deficiência também devem ser

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estimuladas desde o nascer. Orientam que os adultos propiciem situações onde as
crianças possam trabalhar sua capacidade física, mental, social e emocional.

Figura 1. Estimulação Precoce na Hidrocefalia


Fonte: https://cpsmig.ce.gov.br/

A escola nesse ponto sai em vantagem em relação à família, pois os


profissionais que nela atuam possuem conhecimentos mais refinados em relação ao
trabalho com as potencialidades, por isso, a escola deve direcionar como a família
pode contribuir com o processo de desenvolvimento das crianças. Muitos pais pouco
ou nada conhecem a respeito da especificidade da criança, e precisam ser
orientados pela equipe multidisciplinar que trabalha com esse aluno.

A escola precisa também, trabalhar alinhada com demais profissionais que


atendem esse aluno, pois cada um deles tem um olhar específico sobre o processo
de desenvolvimento da criança e todos esses olhares compõem uma visão global
das necessidades que precisam ser sanadas e qual a melhor forma de fazê-lo. O
trabalho do educador não é isolado. A escola precisa formar essas parcerias, para o
bem de seus alunos.

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Figura 2: Estimulação precoce por variados profissionais

Fonte: https://apaebh.org.br/site/wp-content/uploads/2019/01/20190118_105316.jpg

O profissional que trabalha com a EP precisa conhecer bem as fases do


desenvolvimento humano, para que possa entender as potencialidades e limites dos
alunos. Cada fase da vida é composta por avanços cognitivos, fisiológicos e
psicológicos, portanto, ao trabalhar com estímulos, o profissional deve ter ciência
desses avanços e como estimulá-los.

Diante desse cenário, a EP na educação infantil é primordial, principalmente,


em creches de tempo integral. Mulas (2007) comenta que o olhar do profissional que
cuida da criança com deficiência ou com risco ambiental pode impedir acidentes e
prevenir problemas de ordem neuropsicomotor. Pois ao atentar-se para os fatores
físicos, emocionais, sociais e cognitivos, esse profissional está atento ao
desenvolvimento global das crianças e poderá contribuir para a superação ou
diminuição de carências.

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Nesse contexto, a Neurociência contribui para uma contribuição mais
aprofundada do cérebro humano. De posse desse saber, os profissionais das
diversas áreas poderão elaborar estratégias mais assertivas, visando prevenir
defasagens ou deficiências desde o nascimento, trazendo benefícios às crianças e
suas famílias.

Blakemore e Frith (2009) afirmam que entender como o cérebro funciona


não é só importante, mas também empolgante, porque abre espaço para vários
debates em relação às deficiências cognitivas, físicas e emocionais. Possibilita ao
educador, por exemplo, elaborar metodologias diferenciadas para trabalhar com
crianças com sequelas neurológicas.

As descobertas da Neurociência têm contribuído muito para as atividades do


programa de estimulação precoce das instituições, pois têm esclarecido como o
cérebro se desenvolve, como ele funciona, como as modificações que ocorrem ao
longo da vida influenciam esse desenvolvimento e qual o papel das vivências sociais
nesse contexto, por exemplo.

Dentre as descobertas, a que impacta de forma mais direta o trabalho da EP


é a neuroplasticidade, a qual está ligada à regeneração celular, que proporciona
certo grau de atenuantes às lesões cerebrais.

A neuroplasticidade está relacionada à capacidade de aprender novas


coisas. No início da vida, essa capacidade é maior do que na idade adulta. Os
neurocientistas afirmam que a neuroplasticidade é a capacidade que o cérebro
humano possui de se regenerar e se adaptar conforme ocorrem modificações no
ambiente. Essa regeneração ou adaptação vai desde a maturação das estruturas
fisiológicas durante o crescimento, até adaptações celulares para suprir áreas
afetadas em lesões cerebrais (OLIVEIRA et al, 2019).

As alterações que ocorrem no cérebro humano podem acontecer de


diversas maneiras, dentre elas, estão as novas conexões entre as células nervosas,
pelo fortalecimento de conexões que já existem ou pela morte de neurônios. Isso

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mesmo, até quando um neurônio morre, os demais se adaptam para compensar a
perda dele.

É claro que se um número considerável de neurônios morrer, o cérebro não


conseguirá manter as mesmas características, portanto, não poderá exercer suas
funções normais. É o que acontece em um quadro de acidente vascular cerebral
isquêmico (AVCI), por exemplo.

Como a criança no início da vida precisa aprender mais coisas do que um


adulto, nos três primeiros anos, ela possui o dobro de ramificações neurais que um
adulto. Ao longo dos anos, as ramificações que são pouco utilizadas são,
gradualmente, eliminadas. Os cientistas chamam esse processo de “poda neural”.

Figura 3: Ramificações neurais antes e depois da poda neural


Fonte:
https://images.squarespace-cdn.com/content/v1/54884604e4b08e455df8d6ff/7420a261-fad9
-49dd-bd3a-39762d8d5459/poda+neural.jpg
A primeira poda neural delas ocorre por volta dos 03 anos de idade. De
acordo com Kruger (2020), a criança que é “exposta a novas possibilidades de
aprendizagem, tende a fortalecer mais circuitos neuronais e consolidar em sua

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memória um número maior de informações que podem ser muito importantes ao
longo de seu desenvolvimento”.

Portanto, os educadores e profissionais que atuam na EP devem aproveitar


para estimular corretamente as crianças nos seus primeiros anos, visto que sua
capacidade de retenção de informações e formulação de memória é maior nesse
período.

Para tanto, a aplicação de estímulos sonoros, visuais e táteis são


fundamentais. Trabalhar a coordenação motora, a lateralidade e o conhecimento do
próprio corpo, contribui para o desenvolvimento global da criança.

Os primeiros anos de vida têm sido considerados críticos para o


desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e sensoriais. É neste
período que ocorre o processo de maturação do sistema nervoso central
sendo a fase ótima da plasticidade neuronal. Tanto a plasticidade quanto a
maturação dependem da estimulação (BRAGA, 2014 apud BRASIL, 2016,
P. 81).

De acordo com Lima e Fonseca (2004 apud BRASIL, 2016, P. 81), a


plasticidade neural fundamenta e justifica a intervenção precoce para bebês
que apresentem risco potencial de atrasos no desenvolvimento
neuropsicomotor. Isso porque é justamente no período de zero a 3 anos que
o indivíduo é mais suscetível a transformações provocadas pelo ambiente
externo.

A estimulação precoce tem, como meta, aproveitar este período crítico para
estimular a criança a ampliar suas competências, tendo como referência os
marcos do desenvolvimento típico e reduzindo, desta forma, os efeitos
negativos de uma história de riscos (PAINEIRAS, 2005, apud BRASIL, 2016,
P. 81).

Como pôde perceber, a neurociência está ampliando o olhar sobre as


possibilidades do cérebro humano. No século anterior acreditava-se que o cérebro
humano era desenvolvido no útero e, ao nascer, a criança possuía um cérebro com
arquitetura definida. Hoje, como já citado, sabe-se que o cérebro se desenvolve, se
adapta e se regenera.

Para que você perceba como a neurociência tem contribuído nesse


processo, o quadro abaixo apresenta os conceitos antigos e as novas concepções a
respeito deste tão importante órgão humano:

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POSICIONAMENTO ANTIGO POSICIONAMENTO ATUAL

Como o cérebro se desenvolve Como o cérebro se desenvolve


depende dos genes (carga genética). depende de complexa interação dos genes
com as experiências de vida.

As vivências antes dos 3 anos As vivências prévias exercem


pouco afetam o desenvolvimento posterior impacto decisivo na citoarquitetura do
cérebro e na natureza das capacidades do
adulto.

O desenvolvimento do cérebro é O desenvolvimento do cérebro não


linear, a capacidade do cérebro de mudar e é linear, há períodos críticos para a aquisição
aprender, cresce paralelo a progressão da de conhecimentos e aprimoramento das
criança a fase adulta. habilidades.

Quadro 1: Formas de ver o cérebro humano

Fonte: Bartoszeck e Bartoszeck, 2015, p. 8.

Desta forma você pode perceber como os saberes foram evoluindo ao longo
dos anos e como essa mudança de percepção pode favorecer o trabalho com
crianças com patologias neurofisiológicas e/ou sequelas cerebrais.

E como o grande objetivo da educação é promover o aprendizado, ou seja,


contribuir para que o aluno construir seu próprio conhecimento, essas descobertas
contribuem para o avanço das metodologias educacionais.

2 CONCLUSÃO

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Nesta Disciplina estudamos sobre a neurociência e a estimulação precoce.
Como você pode perceber, a estimulação precoce é muito importante para o
desenvolvimento global da criança. Por meio de atividades e exercícios simples, a
criança pode desenvolver o autoconhecimento, a percepção do ambiente ao seu
redor, melhor qualidade de vida. A estimulação precoce é muito importante para
todas as crianças, pois como vimos, antes do período da poda neural elas estão
mais suscetíveis ao aprendizado de forma geral, devido ao maior número de
ramificações dos neurônios. Evidenciamos aqui ainda que a estimulação precoce é
importante para crianças com deficiência.

3 REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de


estimulação precoce: crianças de zero a três anos com atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor decorrente de microcefalia. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2016.

BLAKEMORE, S. J.; FRITH, U. O cérebro que aprende. Lições para a Educação.


Lisboa: Gradiva, 2009.

KRUGER, Olívia. Neuroplasticidade e estimulação precoce. Centro Evolvere. 13


de julho de 2020 (Blog).

BARTOSZECK, Amauri Betini; BARTOSZECK, Flavio Kulevicz. Neurociência dos


seis primeiros anos: implicações educacionais. Departamento de Fisiologia,
Laboratório de Neurociência e Educação. Instituto de Neurociência e Educação:
UFPR, 2015.

MULAS, J. P. Análisis de un modelo de seguimiento en atención temprana. 434


f. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid, 2007.

OLIVEIRA, Rayane Serren; BIANCHI, Larissa Renata de Oliveira; CAMPOS, Carla


Betania Huf Ferraz; SANT’ANA, Débora de Mello Gonçalves. Neuroplasticidade e
educação: a literacia relacionada ao desenvolvimento cerebral. Arquivos do MUDI.
2019, 23 (3): 172-188.

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PÉREZ-RAMOS, A. M. Q.; PÉREZ-RAMOS, J. Estimulação precoce: serviços,
programas e currículos. Brasília, DF: Ministério da Justiça, 1996.

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