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A Liga Literária
Prólogo
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30 de outubro de 2072.
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escondida atrás de uma parede de livros. A sala interna era enorme e luxuosa,
ocupava todo o andar inferior à cobertura, uma parede inteira do chão ao teto
com uma estante repleta de livros, todos antigos e bem cuidados, vários com
capas de couro legítimo, enfileirados em ordem alfabética e por temática.
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Não, culpa não, foi preciso, isso é apenas um preço justo para cumprir minha
missão e eu a cumpri. Ele está morto. Hhuuuuummmmm... – Ele gemeu ao
puxar uma bala de suas costelas – Caramba isso dói demais! O fato é que
estou morrendo e mesmo que não esteja vou estar morto em alguns minutos.
A polícia está lá fora, mas nunca vão chegar até mim, há salva guardas no
prédio e eles não tem como passar do quadragésimo andar, após ele o fosso
ainda esteja vivo até eles chegarem, bom, não vou deixar que me matem,
então, imaginem o resultado. Bem, imaginar para que, se estiverem vendo
essa gravação é porque já sabem o que aconteceu. E como você acabou desse
jeito, Armand? O fato é que quatro meses atrás...
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Livro 1
Cidade de Pilarium
20 de junho de 2072
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Damon Luca
O seu carro luxuoso, negro, com tração nas quatro rodas e vidro fumê
percorria lentamente aquela rua vazia, abandonada. Há muitos anos ele não
vinha ali, mas nunca esquecera aquele lugar. O lugar infernal que mudara sua
vida.
Damon Luca vagueava os olhos pelas calçadas escuras e sujas, pois
alguns lugares tinham restos de luz, mas outros estavam mergulhados na mais
completa escuridão. Os faróis clareavam o caminho, que depois mergulhava
novamente em sombras depois que ele passava.
Seus dedos estavam brancos pela força com que ele agarrava o
volante. Sua respiração era curta, pesada. Em seu peito o aperto que o
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controlava.
Damon passou com o carro em frente a biblioteca velha e
abandonada, seu olhar duro recordando suas paredes esfacelando-se, a sujeira
cobrindo-a. Não parou. Seguiu mais a frente e só então estacionou o carro na
parte mais escura da rua. Chegara ao seu destino.
Passado e presente teimavam em se mesclar em sua mente, mas ele
tentou se controlar. Precisava de sua força e frieza para entender o que era
tudo aquilo, se mais uma armadilha ou uma revelação. A que ele esperava e
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Ass.: P.L.”
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livro antigo ali, esperando por ele. Era o único ponto discordante de toda a
cena.
Por fim, percebeu que quem quer que marcara com ele ainda não
tinha chegado. Sem perder a atenção, afastou algumas garrafas do seu
Ciana
Aquilo um dia foi uma cidade. Cheia de luz, calor, gente andando,
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dormiu, caçou e sobreviveu, sempre sozinha. Mas principalmente foi ali que
ela fez o que mais gostava na vida e encontrou seus mais fiéis companheiros:
perambular por ali, sem testemunhas de sua própria solidão. Solidão essa que
não durou muito ao encontrar uma alma tão faminta e carente como a dela.
Um filhote de vira-latas marrom que parecia sempre feliz, que caminhou ao
seu lado, que a olhou com olhos pidões e que a fez dividir a pouca carne que
tinha. Agora, maior e mais forte, ele caminhava ao seu lado, seu fiel amigo
Gibran.
Há um ano a sua vida mudou drasticamente, não por ter saído do
orfanato ou por ter encontrado seu querido Gibran. Mas por um livro entre
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notara ser seguida. Gibran ajudava a averiguar isso. Como alguém a achara
ali e mais, como deixara o convite sobre o catre em que dormia sem ela e
Gibran perceberem?
A segunda coisa era o próprio conteúdo do convite:
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como ratos? Ou ainda mais provável, alguém com poderes, como ela tinha há
um ano?
Apesar da desconfiança e do fato de estar acostumada a evitar
pessoas, aquele bilhete perturbou-a. Ela não era covarde. Assim, caminhou
em direção ao local do encontro, como sempre atenta à sua volta, preferindo
as sombras e com seus passos leves que pareciam de bailarina mal fazendo
barulho.
Gibran corria na frente todo alegre, sem saber que o silêncio dela
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Tudo o que via era ele, o homem mais belo e impressionante que
pusera os olhos na vida. Esqueceu de todos os cuidados para não encarar as
dele. Parecia querer comprovar que ele era real. Ou simplesmente vê-lo mais
de perto.
Valentin
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de acordar todo dia e saber de suas perdas era pior do que qualquer coisa.
Trocara, sem que pudesse escolher, seus amores por poderes que nunca
pediu. Que nunca entendeu.
Era um cigano, de uma linhagem antiga. Depois de muitas guerras, de
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oral, Valentin era estudado. Sua maior paixão, além de Luna e seu povo, era
ler. Aprendeu praticamente sozinho e se tornou um viciado. Passou a escrever
encontro com Luna, pois ela participava de todas as decisões de sua vida. Ela
achou melhor saírem de Pilarium, por dois motivos: um, queria ter nosso
filho no meio da nossa família; dois, era muito intuitiva e desde o início
sentiu algo estranho com aquele homem. E que aquele trabalho traria
problemas e tragédias.
Devíamos ter respeitado mais aquela intuição. Pois o velho que nos
esperava na Biblioteca entregou-me um livro muito antigo, que fez uma
espécie de luz irradiar para dentro de mim e me deixar tonto, até desmaiar.
Quando acordei, Luna com meu filho na barriga, o livro e o velho tinham
sumido.
Nunca fiquei tão desesperado na vida. Vaguei procurando por eles,
tentei tudo que foi possível. E descobri que aquele livro maldito, além de me
tirar os meus amores, me deu outras coisas em troca, sem perguntar o que eu
queria.
E agora chegava aquele bilhete para mim. Do nada:
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O meu único interesse era encontrar Luna e nosso filho, que já tinha
nascido. Nunca perdi as esperanças de vê-los novamente, estar com eles,
saber o que aconteceu. E corri para a maldita biblioteca, armado com dois
punhais na cintura, pronto para qualquer coisa.
Alyha
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que o tempo não muda? - ela era baixinha e de cabelos encaracolados. Suas
feições eram bem leves e seus olhos muito viajados.
própria essência essas configurações. Logo, ser criança, ser adolescente, ser
adulto, idoso, não impedem o ser que é o humano, ou seja, são características
do ser e não ele próprio. Assim, não é o tempo que modifica o ser. O ser se
mostra, quando for necessário, suas características.
Todos entreabriram a boca e ficaram em assombro. O sinal tocou e
todos saíram muito rapidamente daquela aula de filosofia.
A faculdade de Ciências Olavo Bilac tinha outros cursos de humanas,
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Valaistu
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Esta súplica tão simples e profunda não nascia nos lugares mais
agradáveis de Pilarium: nas vastas avenidas, ou na região das praias, nem
mesmo nas partes mais simples, como os guetos, mas em um lugar que
poucos conheciam, um lugar no qual poucos pensavam que pudesse viver
gente por lá. Esta prece tão límpida, destituída de mancha nasceu nas
entranhas daquela cidade, no seu subsolo, no seu interior onde correm
livros que havia encontrado nas galerias daquele lugar ou recitava algum
poema que compusera, durante algum transe noturno. Valaistu era para
aquele povo uma espécie de líder e conselheiro espiritual.
Às vezes, porém, esta serenidade era abalada, durante a noite, quando
ele mergulhava em profunda meditação. Em uma dessas noites quando teve
visões estranhas, que o arrepiaram de uma forma jamais imaginada alguns
questionamentos nasceram e perturbaram seu espírito. Ele refletia consigo
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civilização. Bem ou mal não parecia ser mais esta a questão ou a opção. Tudo
estava tão confuso em sua mente que Valaistu, por um instante, pensou em se
desesperar, mas se conteve, ao repetir incessantemente o seu mantra matinal,
agora na noite escura. Nada, ninguém, nem mesmo seu ego inflado o
impediria de encontrar a paz, a luz divina em meio ao caos, pensava cheio de
convicção quando...
- Senhor Valaistu, senhor Valaistu! – uma voz angustiada feriu os
ouvidos de Valaistu, retirando-o bruscamente de sua meditação.
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- Não se preocupe José, se ela fugiu, ela não irá muito longe.
- De onde vem a sua certeza, senhor Valaistu?
- Você está duvidando de mim, José? – mais uma vez Valaistu pôs o
seu olhar nos olhos do frágil José.
com certo rancor - deveriam pagar pelos pecados cometidos contra essa
gente. Mas voltando a si e continuando a conversa com José, ele prosseguiu:
- As mimosas são plantas sensíveis a qualquer tipo de movimento.
Quando alguém ou algo as tocam elas se encolhem todas. Por isso lhe digo
José, as mimosas vão me trazer sua filha, sã e salva. Isso é questão de
segundos, pois sua filha já foi encontrada por elas.
- Sério?- perguntou assombrado aquele homem.
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Subitamente apareceu diante dos dois uma enorme planta, que trazia
enrolada em si uma criança. José ficou atemorizado, ao perceber que Valaistu
estava manipulando aquela planta monstruosa com uma das mãos.
- O que é isso, meu Deus! Senhor Valaistu, o que é isso?
- Tenha calma, José. A sua filha está aqui, sã e salva como lhe
prometi.
- Mmmas... mmas... – o pobre homem já não sabia articular uma
palavra sequer.
A criança parecia estar em estado de choque. Os olhos estavam
arregalados. A menina não parava de repetir:
- Entregar ao senhor Valaistu antes da meia-noite... entregar ao senhor
Valaistu antes da meia-noite...
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desenho. – Valaistu olhava com ternura para a menina e depois voltando seus
olhos para José, ele continuou – Sinta o aroma desta rosa, José. Inspire forte.
Vamos.
- Mas... eu não quero, senhor Valaistu.
Um leve lampejo de cólera passou pelos olhos de Valaistu, mas a
doce voz da menina não deixou que tal cólera se exteriorizasse:
- Papai cheira logo, vai!
- Não vai ouvir sua princesa? – concordava Valaistu.
- Tudo bem.
José inalou o perfume da rosa. A essência daquela flor invadiu
diretamente o seu cérebro, cancelando a memória recente dos fatos que lhe
sucederam.
- Está tudo bem com sua filha, José. Era só uma dor de barriga, que
logo passará. – disse Valaistu.
- Obrigado, senhor Valaistu.
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Ass.: P.L
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Aracaê Mirim
- Mas que raio de lugar é esse, oxê! Ando que ando e nada que
Chego! - Foi a primeira coisa que o pequeno Aracaê desandou a falar
enquanto perambulava nas nebulosas ruas de Pilarium, até chegar até o tal
endereço que pedira uma dama muito bela e de poucos amores para ler dias
antes, o curioso é que a tal mulher por alguma razão ficou em sua mente e a
cena que os apresentou.
Ela comia algo que semelhava uma maçã numa madrugada num beco
sem saída quando ele não perdeu a oportunidade:
- Fruta do pecado, hum... Imagina que você seja tudo, de menos santa
não é minha flor?
A moça se elevou no alto de 1.75 cm, mais 12 cm das botas salto
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- Oh! Oh! Pega leve bonitona! Está muito cedo para eu ir falar com o
Homem lá em cima!- replicou.
Ela o soltou e foi enfática:
- Rompe!
esquina!
A meretriz apanhou o pedaço de papel e leu:
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E novamente perdido retornou pelo beco até que avistou alguém que
julgava conhecer de outra época e seguindo seu instinto resolveu segui-lo.
Lá dentro outros se encontravam. Aracaê já chegou mostrando a que
veio:
- É daqui que Chamaram um cabra arretado, mas gostoso que
rapadura e adora uma bela dona para "quicar"?
Uma mocinha com um cachorro o fitou chocada e soltou:
- Afê! De onde saiu isso, gente?
- Dos seus mais íntimos sonhos meu anjo!- logo espantado pelo
cãozinho ciumento.
E fazendo uma careta se afastou do bichano, e relembrou da
conjuntura que recebera o tal bilhete. Numa antiga bandeja de chope no
tempo que era um mero e estimado garçom que além do papel uma quantia
de dinheiro para chegar até ali.
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Madame Zintrah
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minha cara."
Ass.: P.L
calculou que faltaria pouco para dada hora. Apanhou seu crucifixo, que na
verdade não evidenciava sua religiosidade e sim sua agilidade em manejar
um punhal oculto na parte de baixo do objeto. Elevou uma das sobrancelhas,
intensificando a tonalidade de seus belos olhos verdes para o único caco de
espelho que possuía e manifestou-se:
- Quer brincar? Pois eu topo.
Durante o trajeto Madame Zintrah pressentiu ser seguida. Astuta
esquivou-se daqueles que poderiam estar em seu encalço, todavia logo
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- Valentin.
A figura enigmática de um homem de semblante forte disse entre os
dentes:
- Armand.
Zintrah torceu o pescoço e meio que apreciando o outro sujeito, o
impeliu num gesto a se despontar:
- Valaistu.
Os olhos verdes dela fixaram-se num tipo baixinho e careca, ainda
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barulho, pois era um lugar abandonado por Deus, esquecido no tempo, junto
com seus objetos e construções obsoletas. Cada um dos oito ali presentes
tentava entender o que tudo aquilo significava, seus olhos avaliando um ao
outro, buscando respostas que pareciam impossíveis.
Até Gibran se recolheu a um canto e deitou sobre as patas, perto dos
pés de Ciana, seus doces olhos castanhos acompanhando aqueles estranhos
como se ele também não entendesse nada.
E então, quando menos esperavam, ouviram os passos. Eram
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pessoas e agora aquele senhor lhe causavam mal estar. Ele odiava ter
dúvidas, viver em busca de respostas. Impaciente, queria saber logo o que
tudo aquilo significava.
Apesar de sua idade parecer indefinida, seus cabelos grisalhos eram
ralos e a calvície bem acentuada. As rugas profundas em seu rosto indicavam
uma pessoa cujos anos começavam a pesar. Era gordinho, baixo e usava um
paletó bem talhado, um pouco maior que seu corpo franzino.
Valaistu continuava a contemplar os gestos daquele homem. A
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em qualquer lugar.
- Vocês são assim sempre? – Ela questionou um tanto deslocada em
meio à conversação.
- Não, senhora. – respondeu Aracaê, recostando-se à poltrona onde
estava para apreciar as belas pernas da mulher que acabara de adentrar a sala.
Alyha replicou a ele com um sorriso e voltou seu olhar para os
demais. Subiu as mãos e puxou todo seu cabelo e o asseou para o lado
esquerdo. Assim, encarou aquele homem idoso que por um instante deu um
leve pulo de susto. Encarou-o com alguma concentração, como se
examinasse o espírito dele. Depois, voltou-se para os demais e murmurou em
tom de deboche:
- Que cara esquisito! Só deve ser treta! – Disse num linguajar mais
despojado e voltou a sorrir como outrora.
Gibran ergueu-se, empinando as orelhas. A seu lado, Ciana acariciou
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o centro das atenções. Por isso tinha trabalhado tanto tempo em circos. Mas
agora preferia observar primeiro, tirar suas conclusões e somente então se
pronunciar.
Depois de tossir, mais para chamar a atenção para si, que por
necessidade, Valaistu sugeriu:
- Que tal deixarmos ele se apresentar? Creio que tem muito a nos
dizer.
O senhor concordou com a cabeça, sem encarar ninguém de frente.
Sua fala era serena, cordial, mas não parecia haver vida nas palavras que
proferiu:
- Meu nome é Victor Obsequens. Eu enviei os bilhetes para que
viessem aqui.
Alyha arqueou a sobrancelha quando ouviu sobre os bilhetes. Retirou
o seu do bolso, colocou sobre a mesa e cruzou as pernas. Pousou ambas as
mãos sobre elas e desceu o pescoço para um lado e para o outro, o estalando.
- E como o senhor sabe sobre nós? Que espécie de... – e ao dizer isso,
ela desapareceu da cadeira e apareceu atrás dele, seus olhos vigiando o corpo
dele - ...magia você julga ter?
Ela o encarou de forma extremamente séria. Uma outra Alyha surgiu
sentada na cadeira e ambas cruzaram os braços encarando o homem.
Ciana se sobressaltou com o que viu. De imediato percebeu que ela
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não era a única com poderes, estava diante de uma duplicata da Alyha. Seus
olhos arregalados se estenderam ao resto dos presentes e ela finalmente
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este andamento? Julgo ser mais prudente, ou será equívoco de minha parte,
afinal sou tão só um velho cheio de caraminholas e utopias para um mundo
humano. Dentre os poucos, ouso citar raros cidadãos, vocês são a última
esperança de meu antecedente, Julius Obsequens.
- Outro doido! – Alyha se manifestou.
O consorte ignorou a colocação e prosseguiu:
- O que restou da raça humana está entregue em suas mãos. Pessoas
que acaso do destino ou de um plano maior foram escolhidas, homens e
mulheres que guardam cada um ao seu modo o amor incondicional a leitura,
sendo ávidos leitores ou brilhantes escritores e por isso tão bem selecionados
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louco, sem saber a qual personalidade ele se enquadrava. Por fim, Alyha
exclamou:
- De que planeta o senhor veio, porque da Terra definitivamente não
foi!
impaciente.
- Boa pergunta do bonitão ali, que porcaria de P.L. é esse? – Alyha
retrucou.
- Acho que estamos aqui perdendo tempo! – Reclamou Damon, já
pensando em sair dali.
- Me desculpe, mas meu tino para Homem de Ferro é zero! – Disse
Armand.
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mas com passos firmes – Dentro de muito pouco tempo estaremos novamente
aqui. Foi um prazer conhecê-los enfim.E ao chegar perto da porta,
simplesmente saiu do recinto.
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infância pelos inúmeros amantes de sua mãe que a abandonou num orfanato
aos doze anos depois de ter constatado que ela estaria grávida e a obrigado
"Madame Zintrah", que atendia seus clientes nas esquinas mais afastadas
ininterruptamente com o claro intuito de deduzir deles o seu advindo de dor.
No entanto, houve um dia que alguém a denunciou sob circunstâncias
misteriosas e depois ser presa e julgada, foi lhe imputado a obrigação de
cumprir sua pena num Hospital Psiquiátrico, uma vez que era claro que era
uma psicopata de nível máximo. Contudo, o Diretor do Hospital, o doutor e
psiquiatra renomado Prado Antunes, que sustinha por Zintrah um tipo de
obsessão dada pela sua beleza díspar e pela sua periculosidade. Porém, ela
jamais deu importância aos seus cortejos e mais uma vez sofreu não somente
dele, mas pelo seu consentimento outras violências de quase toda equipe do
Sanatório. E em algumas vezes, no ápice de sua agonia, ela conseguiu vingar-
se de algum deles. Zintrah aprendera nas ruas, a utilizaçãoe a manipulação do
veneno do baiacu. O peixe produz neurotoxinas que levam a vítima a uma
morte rápida, mas que está muito longe de ser indolor. E na ponta de seu
crucifixo que abrigava na verdade seu talhante punhal chegou a assassinar
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azeda, da pouca água, no cômodo que não permitia nem levantar-se ou deitar-
se por completo. E em seus rompantes de fúria, a detinham no mesmo lugar
fétido numa camisa de força, o que aumentava em doses cavalares o ódio
dentro dela. E quando tudo pareceu não piorar, um homem atravessou o seu
caminho.
Num dia sem aviso prévio a retiraram colocando-a numa sala com
luzes fortes e despida. Tinha certeza, que do outro lado do espelho alguém a
observava. Logo depois, um homem bonito, alto, com uma sagacidade nos
olhos que chamou atenção da astuta meretriz abriu a porta com tranquilidade,
ensaiou um riso e complementou:
- Como vai, Zintrah?
Ela calou-se virando o rosto para o lado numa breve reação. Ele
puxou a outra cadeira num canto sentou-se a sua frente e foi sucinto:
- Imagino que esta marca de nascimento que tem logo acima do
quadril em suas costas não seja de nascença, não?
Por alguma razão volveu o olhar desafiador a ele.
- O que quer?
O homem levantou-se com um sutil riso no canto da boca e rebateu:
- Você, Madame Zintrah. Você!
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E com o tempo ele a ensinou muitas coisas assim como ensaiou cair
seus sortilégios voltando o feitiço contra o feiticeiro, porque Zintrah se
principal suspeita passou a ser ela, e esse foi um dos agentes que a fez se
ocultar das autoridades, e se refugiar nos seus livros e manuscritos, nos
sótãos e porões até que o grande dia chegasse, porque Zintrah sabia em si que
ele não havia morrido e sim movido uma peça de seu tabuleiro, sacrificando
um peão: Ela!
biblioteca. Um dos últimos foi Damon Luca, que ela acabou reconhecendo
como um famoso ator de Pilarium, embora não visse televisão. Mas o rosto
dele vivia espalhado pela cidade em campanhas e propagandas.
Viu-o entrar em seu potente carro negro, parecendo furioso, e arrancar
como se mil demônios o perseguissem. Só então chamou Gibran e seguiu em
frente, sem se importar com as sombras e partes sem luz na rua. A lua estava
cheia e orientava seu caminho, um caminho que ela conhecia bem.
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pensamentos.
Tudo que acontecera naquela noite inusitada passou em alvoroço por
sua mente. Era difícil acreditar que cada uma daquelas pessoas tinha um tipo
de poder e que todos pareciam tão confusos quanto ela. Pudera visualizar a
ruiva linda e alta se auto clonando na sua frente. Impressionante! E quais
seriam os poderes dos outros? Que mistérios fariam parte da vida deles?
Sem querer a imagem de Damon Luca veio de novo vívida, como se
ele estivesse a sua frente. Nunca vira homem mais lindo e impressionante.
Por toda noite seu olhar buscara por ele, como se uma força incontrolável a
atraísse. Qual seria o poder dele? Por que ficara com a impressão de que ele
estava a ponto de explodir?
Ficou imersa em tantas dúvidas, nas perguntas sobre o que realmente
Victor Obsequens queria com eles, em todo aquele mistério. Quase não
percebeu quando a rua de barro que deveria seguir surgiu ao seu lado. Gibran
já corria na frente, ansioso para chegar em casa.
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aos pedaços, mas servia bem pra ela. As janelas e portas de madeira verde
descascada estavam ainda funcionando bem, quase intactas. Por fora era
horrível, com limo nas paredes brancas e sujas, trepadeiras tomando conta de
uma parede, varanda caindo aos pedaços e degraus quebrados. Tudo fazia
barulho e anunciava algum visitante.
Por dentro as paredes eram descascadas, manchadas, mas limpas. O
chão era de ladrilho xadrez azul e branco, alguns faltando. Havia um quarto,
um banheiro, cozinha e sala, além do pequeno porão. Ela se livrara de tudo
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assim como fizera com as sete pessoas que foram convocadas como ele para
a confusa reunião. E que alguém há muito tempo quisera levá-lo ao livro,
armara várias maneiras para que isso ocorresse e, quando falhara em todas
usara uma isca: a sua irmã de onze anos.
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o que realmente era arte de qualidade. Isso ficava para uns poucos ricos e
privilegiados, ou para alguns que ainda pensavam por si mesmos e não
seguiam modismos.
Pôs para tocar uma música de Taiguara, Hoje, que mesmo na época
em que ele viveu, há mais de um século, não foi apreciada como devia.
Atualmente então, era um nome completamente esquecido. Mas não por
Damon.
Serviu-se de uma dose de uísque e sentou-se no sofá branco, ainda a
ferver por dentro. Pelo menos aquele velho tivera razão em uma coisa: a
bestialidade reinava em Pilarium. Mas isso Damon já sabia.
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baixa, com um colchonete por cima. Eram seus únicos companheiros naquela
vida em busca de respostas.
Ouviu uma briga de vizinhos do lado de fora. Lá dentro o calor era
terrível. Queria dormir, descansar, pensar em tudo aquilo. Mas tanto o
elementos. Água, vento e fogo me obedeciam há dois anos, desde que peguei
naquele livro.
Aprendi a usá-los. E agora eles eram facilmente manipuláveis. Estava
pronto para a briga com os inimigos, que não sabia quem era, mas que
tiraram minha família.
Se aqueles estranhos da Biblioteca me levassem ao maldito velho, eu
já estaria feliz.
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bilhete, pelas mãos de uma das crianças que ele protege no subsolo da cidade
de Pilarium. Porém, o retorno àquela biblioteca, de alguma forma, mexeu
profundamente com ele. Por mais que tentasse manter-se em equilíbrio, a
verdade é que o fato de ter ido àquele lugar, sentir o cheiro dos livros
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- Gente do seu tamanho não devia usar esse tipo de arma, menino. A
mamãe não o ensinou isto não?- partiu o homem com tamanha ferocidade
para cima do acanhado guerreiro.
Um duelo principiou naquela viela.
Aracaê dispersou várias vezes dos golpes certeiros do indivíduo
vendo que este detinha tanto quanto ele tamanha destreza em manipular o
objeto talhante, mais ligeirotentou passar pela terceira vez por trás do
troglodita quando este acertou um soco inesperado no olho esquerdo, o que o
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- Não se faça de rogado, meu pequeno pintor de rodapé, todos que ali
estavam certamente são tão bizarros quanto nós, ou não sacou isto?- parando
o fitando de lado.
- O que sabe sobre esse diacho de LIGA?- disparou.
- Tudo quando você, ou seja, NADA!- sorriu burlesca. -Mas de uma
coisa tenho plena convicção.
- Oxê, o quê?
- Cada um ali possui uma... Especialidade vamos assim colocar.
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- Não é um luxo, mas é o que tem para hoje pequeno.-pondo uma das
mãos no quadril.
do que creu ter esquecido.O dia em que adentrou naquela biblioteca com
seus pais para encontrar o tal homem e numa fração de segundo de descuido
dos pais se deparou com o livro que mudou todo seu destino.Contudo, quem
maissaberia de tal segredo? Haja vista que naquele dia somente seus pais, ele
e o tal indivíduo estavam na biblioteca? Como o levaram precisamente ao
mesmo local depois de vinte anos? Quem jazia por trás de tamanha
conjuntura?
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E tirando do bolso uma foto antiga de seus pais, com olhos marejados
ele fitou o fio de claridade e decidiu que fosse o que fosse o que estava por
vir,desejavair até o fim para desvendar aquele mistério tão sombrio quanto
doloroso em sua trajetória.E deitou-se para dormir.
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A bela lua. Se estivessem na lua, poderiam encarar a terra. Podia ser até bela,
mas, as feras que ali existiam. Os estúpidos... Pareciam querer desmoronar a
beleza do planeta.
- Precisamos colocar os culpados em seu devido lugar. E começar
uma revolução intelectual. Talvez o grupo nos ajude.
- Mas! - a outra interrompeu. - Não se esqueça de que precisamos
matar o Reitor. Ele foi o responsável por essa passividade intelectual. -
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cuspiu ao chão de forma bem masculina como só ela sabia fazer. - Tudo pela
ciência, cara Alyha.-sorriu.
voltou para resenhar com a turma essa aparição muito louca daquelas figuras.
Em resposta, um dos clones, feito é claro por Alyha, tomou sua
garrafa e a estourou na nuca do rapaz. Que caiu ao chão como uma bomba
lançada de um avião. Seus bons amigos correram o mais distante que
puderam e se esconderam de medo.
- Boneca é sua mãe, seu merdinha. – disseram os clones, que
lentamente foram se juntando. No fim, havia três Alyhas caminhando de
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Dias seguiram, até que outra vez, todos que ali estiveram presentes
receberam de um enviado, aos cuidados de Victor Obsequens, cada um de um
modo singular e ao mesmo tempo um tanto quanto inquisidor uma nova
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todos:
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emendou:
- No livro de Julius, meu ancestral, um portal para uma nova
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Gosta de seguir "a sua própria cabeça" , podendo às vezes ser visto como
"egoísta", já que é bastante autocentrado ( o "eu" é mais forte do que "os
outros"); mas, na verdade, sente que é importante "ser ele mesmo" e
autêntico. Uma das frases típicas do um é: "EU SOU EU, E QUEM
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para todos. Mas essa mesma sensibilidade ao outro pode lhe trazer
dificuldades de brigar por si mesmo quando isto significa entrar em
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maior prazer. Sua vontade de dialogar e de se relacionar faz com que goste
muito do contato com as pessoas, e o faz um bom negociador, lhe dando uma
buscar outros canais, que não se restrinjam apenas à fala: desta forma, ele
muitas vezes se interessa pela pintura, pelo teatro, pela literatura, pelo canto e
as outras artes.
Para ele é fundamental ter um espaço criativo, onde possa realizar os
seus potenciais. Está geralmente ligado à profissões que utilizam a sua
capacidade de comunicação, gosta de desafios, jornalista, investigador,ator
talvez? - lançando o olhar penetrante ao belo Damon Luca, que somente
acenou a cabeça.
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duráveis, como imóveis e terras, porque isto lhe traz segurança e a certeza de
que estabeleceu alicerces firmes no mundo. Da mesma forma, é importante
para ele construir uma família, um "núcleo" seu, que lhe dá o sentido de
pertencimento; mantém contato estreito também com os pais, avôs e parentes,
que sente como a "sua raiz". Ele é uma pessoa "pé no chão", e não gosta de
arriscar. Só dá um passo quando sente que os resultados são garantidos ( "não
dá o passo maior que a perna" ). Se isto é positivo, por um lado, porque
garante uma estabilidade que lhe é preciosa, pode também deixá-lo limitado
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realidade" .
Por outro lado, os idealistas podem chamá-lo de "quadrado", pois vive
"dentro dos padrões" e não se permite voar muito ao plano dos sonhos e do
imaginário. Mas o julgamento dos outros não vai lhe afetar muito, pois o
Número 4 é muito arraigado aos seus valores, defendendo-os firmemente -
quando instado a mudar, insiste, teima, e só aceita quando for convencido de
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agora ). O Número 5 gosta de gente - não apenas dos que tenham uma visão
ou forma de vida semelhante à sua – mas de todo tipo de gente, e cria
"pontes" e vínculos afetivos com pessoas de todas as idades, gostos, hábitos e
profissões. É expansivo, jovial e simpático, e quando entra numa empresa,
conversa com o boy, a "tia" do cafezinho, o gerente e o presidente da
companhia da mesma forma, adaptando a sua linguagem e os assuntos à cada
um. Quando passa na rua, vive acenando para todos os lados, pois sempre
conhece o "seu Manoel" da padaria, o Francisco da banca de jornal, a
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à uma Exposição Rural para comprar bois: após conversar com um amigo
leiloeiro, acabou saindo com vários cavalos de raça, determinado a montar
um haras. Sua grande curiosidade e a necessidade de aprender sempre coisas
novas torna vasto o seu campo de interesses e o leva aos assuntos mais
diversos. Assim, sabe um pouco de tudo – mas nada muito profundamente,
pois está sempre mobilizado por mais um tema novo.Se você perguntar à uma
pessoa com o perfil Número 5 o que ela gosta de ler, dirá algo como: "estou
lendo um livro de história, uma autobiografia de uma personalidade famosa e
também aquele romance novo que saiu - além, é claro, dos jornais diários e
várias revistas –gosto de ler um pouco de tudo, leio até bula de remédios".
Muitas vezes faz o mesmo com os cursos: durante um período aprende inglês,
depois já está entusiasmado com as aulas de natação, para em seguida se
apaixonar pela computação – até, é claro, surgir o novo curso de dança (
aliás, a dança é uma das suas paixões ). Já ficou claro que a objetividade e a
ação direcionada não são o seu forte, mas se por um lado ele pode ser
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ele ficaria entediado com uma rotina muito pacata e organizada – ele gosta
mesmo é de "agito" e de um dia-a-dia bem movimentado e sempre diferente.
Gosta dos prazeres da vida: comer e beber bem, roupas bonitas ( e geralmente
alegres e coloridas ), bons perfumes. Não espere que ele seja econômico: o
cinco acha que o importante é "viver a vida". Assim, ele gosta de sair,
passear, ir a festas, jantares e teatros. E viajar muito, pois as viagens lhe dão
um grande senso de liberdade. Suas habilidades no contato com as pessoas e
a flexibilidade para remanejar frente às novas situações lhe dão um talento
natural para o campo das vendas e para toda profissão que lide com pessoas,
desde o atendente de lojas até o promotor de eventos. Você pode encontrá-lo
também no campo da moda, dos restaurantes e da beleza. É mais feliz em
trabalhos onde possa estar sempre em movimento ( não o coloque num local
fechado, a não ser que ele esteja em contato com muitas pessoas ), e com um
cotidiano cheio de novidades.
- Presente, aqui estou eu, tio!- esbanjou Alyha como quem agradecia a
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nobre apresentação.
- E o que falar da sexta identidade?- gracejou Victor.-"O amor é um
estado de alma. Onde nasce, tudo fica mais bonito. Amor é cumplicidade, é
você saber que, por mais terrível que seja o dilema, por mais solitária que seja
a situação, só de ouvir aquela voz já dá aquele conforto". Tendo a família
como um dos seus pilares fundamentais, o 6 não gosta de ficar sozinho e
desde cedo busca a "outra metade da laranja", já que quer dividir o seu
espaço e compartilhar a sua vida. Em meio a uma sociedade que idealiza as
"grandes paixões", ele busca o casamento, pois prefere viver a dois e fazer as
coisas junto.
Honestidade e justiça são qualidades que fazem parte da sua
personalidade. Tem dificuldade em pôr seus ideais em prática e aceitar a si
mesmo ou aos outros, pois idealiza demais, espera demais. Sem família, sem
amor, torna-se quieto, triste, com sensação de fracasso. Julga os outros por
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quer uma relação que dure para sempre, pois a família é primordial em sua
vida. O número 6 tem influência do planeta Vênus que rege o amor a beleza
e a harmonia. As dificuldades e limitações a serem vencidas são: teimosia,
rigidez em opiniões e ideias, o mau hábito de discutir veementemente,
hábitos conservadores e a excessiva preocupação com as pessoas que ama. O
6 se identifica muito mais com o "nós" do que o ‘eu", e a sua preocupação
com o bem estar das pessoas lhe traz a necessidade de ser útil. Ela também
pode ser considerada uma "pessoa certinha", Por isto prefere não dar saltos,
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exatamente o que quer. Detalhista, ele precisa de tempo para pensar, pois
gosta de planejar as suas estratégias. Sabe esperar a hora certa, e se prepara
para a ação. Como o arqueiro, que estica a corda com cuidado, para lançar a
flecha no alvo exato.
Gosta de arte, e além da música, muitas vezes se liga à dança, pintura
e ao desenho. O seu trabalho será sempre minucioso, como só um
perfeccionista voltado a detalhes pode fazer. Introvertido, prefere conversar
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mas reservado sobre a sua vida pessoal, e confia apenas nos mais próximos.
Tem necessidade de ajudar as pessoas, e muitas vezes toma as suas dores e
sofre com elas. Isto pode lhe desequilibrar, uma vez que a sua sensibilidade
pode às vezes funcionar como uma antena para-raios, catalisando para si
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outro, encontra-se uma pena. Este simbolismo indica, para o bom iniciado,
que o coração não pode pesar mais que uma pena, daí a importância da
- Ele fez isso com todos – Valentin deu de ombros. – Por que a
surpresa?
- Também não entendi. - considerou Ciana.
- Está na cara que não nasceu pelas vias de fato, a julgar por esse
tamanho, foi cuspido! – Riu-se Zintrah.
- Literalmente! - finalizou Alyha com cara de poucocaso.
- Senhoritas, por favor, vamos nos ater ao assunto. - pediu o educado
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senhor Obsequens.
Aracaê sentiu-se no direito de findar com seu estilo peculiar a
questão:
- Só vou deixar passar porque são quatro calcinhas, se fossem cuecas
a coisa ia ficar diferente!
Na mesma hora, Alyha rapidamente duplicou-se para rente a ele
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morena de olhos verdes, que balançava uma das pernas cruzadas. – Talvez
como Zintrah, eu já tivesse as características necessárias.
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A meretriz o interpelou:
- Mas... E só com isso, para deixar bem claro. - voltando o olhar para
Victor.
- Aracaê Miri recebeu em contato com o livro um poder um tanto
quanto inusitado. Um pequeno que se transforma num gigante.
- Só falta o senhor falar que ele fica verde para virar primo do Huck!-
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seu lado mais agressivo, que por vezes ameaçava vir à tona, quase apareceu.
Mas estava acostumada demais a se controlar, por isso apenas encarou-a com
frieza.
- Bom, se é algo constrangedor não parece ser este o momento para
expor Aracaê diante de gente que ele nem bem conhece. Acredito que o
senhor Obsequens não tem esse direito. – Ponderou Valaistu, ao mirar o olhar
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necessárias para virar a mesa e as regras desse jogo. Cada um dos que aqui
estão tem o poder de fazer com que a humanidade conheça o que o livro P.L.,
verdadeira, que estava sentada sobre a cadeira, pareceu ganhar mais fôlego de
vida e respirar muito pesadamente. A mulher virou o rosto com alguma
desatenção às palavras de Victor.
- Você quer que salvemos essa sociedade entregue ao abismo? Essa
sociedade que merece lamber o pó que pisa?
- É isso que esse livro decidiu? Que seremos heróis? – Damon
perguntou, cínico, aparentemente confortável e elegante mesmo naquela
cadeira velha.
- Quando penso que descobri uma macumba me surge outra inda pior!
– Rezingou Miri, referindo-se ao que Alyha fizera.
Victor fitou a todos e proferiu sem reservas:
- E por que não? São os únicos donos de conhecimento, fora os
abastados de poder e dinheiro que dominam Pilarium. Vocês são a esperança
de um povo abandonado por uma profecia! – Contemplando o rosto de Ciana
o senhor prosseguiu: - O Livro diz que quando essas oito pessoas distintas
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entre si, mas que completam um corpo astral e projetam um poder de impacto
em todo universo, se unirem, então o poder em suas mãos além de imortal
disse fantasias? – Havia sim algum cunho sexual em seu tom, mas ela
permitiu apenas um sorriso lascivo enquanto retornava o olhar para Victor. –
Esse deve ser o fetiche dele, vestir estranhos com fantasias de super-heróis, é
claro!
Disse como se tivesse acertado a charada, na verdade, estava só
importunando o velho.
Se Damon não estivesse tão irritado, teria rido daquilo.
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- Oxê, que se esse for comunitário tem vez pra mim? – Perguntou
Miri.
- Não posso fazer com que acreditem, mas posso provar o que disse.
Ciana, que por quase todo o tempo observava Damon, como se uma
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- Pelo visto ela é uma velha conhecida de todos vocês, não é mesmo?
- Arguiu Victor.
Damon percebia que aquele velho parecia orgulhoso do suspense que
fazia. Um sentimento muito próximo à cólera dominou-o como uma
chibatada e ele caminhou até Victor e apontou o livro:
- Quero ver o que ele diz pra mim!
Ciana também queria respostas. Sua vida girava em busca daquilo,
assim também se aproximou do livro.
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muito facilmente tomaria o livro dele e estava a ponto disso. Não suportava
mais os mistérios e jogos de palavras daquele velho.
- Você esperou tanto tempo sem esperanças, Damon. O que são dois
dias para as respostas que tanto procura? – Replicou o consorte, tentando
amenizá-lo.
Zintrah olhou para ele e se posicionou:
- Não sei vocês, mas eu tenho meus motivos para continuar. Eu vou.
Percebendo que muitos estavam em dúvidas, Victor criou mais
alvoroço ao soltar uma frase:
- Todos vocês são vítimas de um só nome!
- Quem? – Ciana arfou, sentindo o coração disparar, aguardando o
nome que há catorze anos queria ouvir: o do assassino de seus pais.
- Vítimas de um só nome? Seja claro, senhor Obsequens. - Insistiu
Valaistu.
Damon também esperou, tenso, seus punhos cerrados. Por fim exigiu,
quase perdendo o controle:
- O nome dele!
- Algo me diz que não é rapadura! – resmungou o pequeno pássaro
Miri.
Zintrah não pensou em mais ninguém, seu instinto tinha lhe tragado
ao local certo. Obsequens foi enfático: um homem cujo a sombra esteve no
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passado de cada um, que premeditou tudo, porque intentava algo maior!
Ainda com o livro fechado sobre o peito, Victor precisou:
- Não tenho o nome. Mas o que ele deseja é sugar um por um para um
ato maior. O Livro diz que em determinada data um portal se abrirá e se
vocês estiverem reunidos, ELE poderá derrotá-los. É isso que desejam? Ou o
pulso da vingança ainda jaz dentro de vocês, meus caros?
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pela sala:
- Não cometam o erro de acreditarem que sozinhos conseguirão detê-
lo, ele é deveras mais poderoso que todos, provou isso nesses anos. Somente
unidos a Liga pode derrubar seus planos e exterminá-lo. Portanto, caros
outros.
Zintrah fitou a saída de Victor certa de que o veria outra vez, porém
não deixou de comentar:
- Esses nanicos!
O que logo ofendeu Aracaê:
- O dona madame, “guenta” o tranco aí, que sou pequeno mas sou
“opinoso”, não sou como esse cara aí não, linguarudo dos infernos! – E
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criança não mexe com faca! – sentando-se para ouvir o ator. – Armação, caro
púbere? Pois eu não, para mim ele fala algo bem consistente e merece minha
atenção.
Ela cingiu as sobrancelhas tão envolventes.
- Tudo isso é muito confuso. Mas talvez devamos ouvi-lo. – Disse
Valentin, fitando-os.
Damon continuava extremamente desconfiado. Fitou a bela Zintrah,
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cuja sensualidade e algo mais que ele não compreendia, mexia com ele. Mas
não quis se distrair com aquilo. Encarou o cigano e retrucou:
- Como vocês podem saber? Até agora não temos certeza de nada. Ele
nos reuniu duas vezes e ronda o mesmo assunto com charadas.
- A única palavra que pode resumir tudo isso aqui é somente uma:
LOUCURA. – Disse Valaistu.
O silêncio foi sua resposta, mas não durou muito. De repente, cinco
das oito vidraças foram estilhaçadas por brutamontes devidamente aramados
até os dentes, deixando-os petrificados por um momento. Aracaê gritou,
despertando-os:
- Acho que agora é que o negócio esquenta!
Os homens armados se espalharam pela sala e atacaram
conjuntamente. Um deles partiu decididamente pra cima de Ciana, que
arregalou os olhos.
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jogou abaixada sobre as pernas dele, que pareciam duas toras, mal tirando-o
do lugar, mas conseguindo o atrito do qual necessitava enquanto abraçava
suas pernas.
Sentiu a energia pura como um choque elétrico, estalando por seu
corpo e automaticamente seus pensamentos se tornaram em ação. Quando ele
se preparou para esfaqueá-la, Ciana direcionou mentalmente a mão dele para
para Valentin, que ali dentro, longe dos elementos, se via privado. Mas
resolveu rapidamente o problema, pois nunca andava sem fósforos. Primeiro
deu um murro bem dado no grandalhão e girou sua pequena adaga entre os
dedos, cravando-o num golpe duro na garganta dele, que desabou na hora.
Então ateou fogo em umas folhas espalhadas, com raiva de si mesmo ao fazer
aquilo. Amava os livros. Mas amava mais sua vida. Não podia morrer antes
de saber o que aconteceu com Luna e salvá-la.
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A pequena fogueira não seria nada sozinha. Mas dela ele criou
labaredas e as mandou em direção a dois brutamontes mais perto,
acostumado com boxe e luta de rua e que então uniu isso ao seu poder e
imediatamente utilizou-o, fazendo o tempo congelar para o capanga que
avançava para ele, tornando-o praticamente uma estátua. Assim foi muito
fácil para ele socar aquele monte de carne parada, cujo nem olhar se movia.
Depois de usá-lo para desforrar uns tantos socos, chutes e cotoveladas,
arrancando alguns dentes, quebrando um nariz e um estalar de osso, ele parou
seu poder e o homem caiu inconsciente no chão, como um boneco
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não esperou. Atacou-o puramente com sua força física, com um soco bem
acertado ao pé da orelha, deixando-o zonzo. E os dois caíram na luta.
O maior deles olhou o pequeno Aracaê com desdém e sorriu. O
pequeno pássaro lutava com excelente destreza nos golpes certos contra o
troglodita.
Ciana havia se levantado e esbarrado em Zintrah, livrando-a de ser
atingida, que rebateu:
- Bate direito, Ninfeta recalcada!
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Aquela saída de Victor, com toda a história de mais uma reunião tinha
incomodado bastante Valaistu, pois parecia que eles estavam andando em
círculos. Porém, toda essa preocupação se desvaneceu, com a entrada
repentina daqueles meliantes no saguão da Biblioteca. Um dos brutamontes
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- Encosta, ô bicho do mato, que eu vou fazer presunto dessa sua cara!
- ela avisou.
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vez num inimigo seja de onde viesse. O sangue sempre foi um elemento que
a enfeitiçava. Ao ver o homem agonizando pela mãe, ela tocou nele se
transformando na mesma e irônica comentou:
- Mamãe avisou...Não brinque com estranhos!- lambeu o punhal e
voltou para os demais.
O homem preparava um soco em direção do rosto de Valaistu. Toda a
força que aquela montanha de músculos possuía foi empregada no golpe. O
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-Nega!
Ciana ficou meio confusa:
- O quê?
Zintrah insistiu:
- Diz bem alto que não!
Ciana retorceu os olhos e soou:
- Nãoooooooooooooooooooooooo!
Aracaê deu um brado que parou todos na sala. E de repente seu corpo
foi entrando numa mutação abissal e gigantesca, os pequenos pés e as mãos
eram cavalares, e o seu tronco foi cada vez se alongando e ele quase bateu no
teto. Enfim sabiam o poder oculto do pequeno. Ele era um gigante, mas
somente quando um não feminino lhe soava os ouvidos depois de uma
mórbida esperança.
Zintrah olhou tudo e maliciosa não deixou passar:
- GIGANTE!!!!!
Ciana ficou de queixo caído. Não conseguia tirar os olhos do
gigantesco Miri. Murmurou para Zintrah:
- Como você sabia?
- Herança da profissão mais velha do mundo, ninfeta!
A jovem Ciana retrucou chocada:
- Prostituta?
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- Armação ou não, uma coisa é certa: este lugar não é mais seguro.
Ciana fitou o cigano, Valaistu e depois o homem ensanguentado e
morto no chão, onde Gibran montava guarda, arfante depois de toda briga.
Seu sorriso sumiu e ela afirmou:
- Se foi armação, esse sangue é bem real. - Sentia-se culpada, era a
primeira vez que matava uma pessoa.
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com o coração a disparar. Não podia acreditar. Ficou até sem fala.
E foi o bastante para que Miri fosse murchando até chegar na
acanhada estatura de sempre.
Ciana percebeu que tudo não passara de um truque. Olhou
desapontada e magoada para Damon, que acariciou seu rosto carinhosamente
e sorriu suavemente para ela:
- Desculpe a brincadeira, Ciana. Era para ajudar o garoto.
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- Por quê?
Ela já transformada rebateu:
- Querem ou não saber de onde saiu esse povo? Daqui a dois dias lhes
digo o que descobri. - E saiu pela porta da frente.
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invadimos.
- Imbecis!- bradou a voz com considerável impaciência. - Venha para
cais onde combinamos, estou no veículo parado ao lado da casa do píer
conforme o combinado. Lembre-se, aguarde o piscar dos faróis por três vezes
e só então entre.
- O senhor manda chefe. - E desligou.
Por um segundo a prostituta parou para ponderar os fatos. Parecia ter
ficado claro que a missão dos trogloditas não fora arquitetada por Obsequens,
haja vista que a pergunta cabal era saber se este jazia lá para quem sabe ser
emboscado, o que o tornara vítima e não algoz de toda conjuntura. A
princípio aquilo já responderia satisfatoriamente parte de onde tais elementos
surgiram e na verdade o que buscavam, entretanto, o que Madame Zintrah
não havia revelado era que seu interesse ao se passar por um deles era em
prol de benefício favorável, afinal, agia por si e para si, estar ou aceitar fazer
parte da LIGA só lhe interessou porque intuiu que se houvesse demais
pessoas com poderes como ela, provavelmente poderia a conduzir ao seu
maior intento: Encontrar a Entidade, uma vez que não cria que ele jazia entre
os mortos.
O local era a ermo, escuro e completamente desabitado uma vez que
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Chicão pelos braços usando uma boneca como se amarrasse a alma dele lá
dentro, outra garota manipulava a gente como marionete, e tem que de tão
sereno e ágil jogou meu irmão no chão, sem contar num nanico que bate na
minha cintura mas luta feito um cão com a faca na mão!
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usasse, uma grande fraqueza a invadia de tal modo que após o instante até se
locomover era um ato dificultoso. Porém, Zintrah compreendia que não havia
subterfúgios, teria que ir.
Como o antigo sanatório ficava numa área afastada da cidade.
Esquivou-se como pode até chegar a seu destino.
Ao pôr os pés no território uma onda de emoções truanescas e
vulcânicas a absorveu. Sua raiva e ira ganharam requintes da selvageria que a
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dominou no período que estivera ali. Por garantia a meretriz decidiu passar-se
por um típico faxineiro. Seguiu para as passagens obscuras do recinto onde
tempos atrás pacientes como ela eram levados às escondidas para ser servidos
como banquete para abusos e torturas. O que dava justamente na parede atrás
da sala do Doutor Prado Antunes. Astuta, revolveu a acanhada manivela e a
velha instante da sala abriu-se por onde entrou.
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abrindo os braços.
Num célere movimento ela voou em cima da mesa o agarrando pela
- Eis uma frase que sempre quis ouvir de sua doce e sedutora voz.
Ela o empurrou jogando-opor cima da mesa, o que fez bater no chão
enquanto ela o rodeava com seu olhar altivo e malevolente tão peculiar.
- O quer vagabunda?-Antunes indagou limpando a boca de sangue,
tentando se refazer, levantando quando a meretriz o chutou com toda força
em suas partes, passou por cima dele ajeitando-se em suas costas, agarrou
pelos cabelos erguendo seu pescoço como de um frango para o abate,
deslizando lentamente o punhal já batizado com o veneno e segredou:
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- Quer que eu te degole feito uma galinha para despacho para ver se
você recordar, bicha enrustida? - ela era cada vez mais violenta.
picar todinho, e advinha por onde irei começar?- empunhando o punhal nas
partes do indivíduo como se fora invadida por uma força abissal e com um
olhar de pura fúria.
- Desta vez, talvez pela primeira vez, estou falando a verdade!- ele
rogou. - Não sei sobre o que está falando!
Foi quando o raciocínio a deteve e a paralisou,permitindo que
Antunes se ergue ainda com dificuldade e sentasse à sua mesa, onde trêmulo
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abriu a gaveta onde guardava seus medicamentos pessoais uma vez que era
cardíaco e assim que engoliu uma cápsula diretamente voltada para aquela
ocasião foi fitando Zintrah ao mesmo tempo que pôs a mão sobre o pescoço.
Rápida notou que algo estava errado, afinal, já tinha visto tomar aquelas
mesmas cápsulas incontáveis vezes. No entanto, quando bateu os olhos nas
mesmas , ligeira abriu o conteúdo dando uma leve pitada na boca e cuspindo
em seguida balbuciando:
- Tetrodo toxina!
Tratava-se da mesma substância que Madame Zintrah usava em seu
punhal para atacar suas vítimas e seus algozes do passado. De cara soube,
alguém teria criado uma armadilha para ela. E foi compreendendo que a tal
emboscada se dera desde de o instante que decidira sair da biblioteca.
Alguém que conhecia seu passado tão bem quanto ela, que teria razões para
incriminá-la e a colocou justamenteali de cara com seu passado e um de seus
piores inimigos.
Zintrah se afastou do Doutor Prado Antunes enquanto este agonizava
por algum gesto de clemência de sua parte. Gesto este que jamais viria. A
meretriz era justa em seus princípios, ela não ia mover uma palha para aliviar
Antunes de sua última e derradeira cena. Quando percebeu que ele
estremeceu enquanto toda uma gosma sangrenta saía entre seus dentes
trincados pelo veneno, aproximou-se dele friamente e disse:
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recado para o capeta, diz a ele que eu ainda vou levar mais um tempo por
aqui. Seu otário!
Mas foi neste segundo que a porta se abriu inesperadamente, eram
agentes policiais que ao se depararem com a cena e a procurada pela justiça
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- Oxe, me deixe cuidar de você, dona, que música nessa vida alivia os
"nevros" que é uma beleza!
- "Nevros"?- rebateu Zintrah não crendo. O pequeno ajeitou o CD
player raridade na época, e veio pipocando com as perninhas como quem
estivesse possuído.
A meretriz contestou:
- Nanico, enlouqueceu?
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- Eita, dona, que ainda tá "aluada" é? Essa música é uma das minhas
favoritas de "Veveta dos coxão"!
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talagada só, afinal queria algo para lhe acalmar os ânimos desde o
acontecido. Victor não deixou de comentar: - Imaginei que você fosse o
último elemento da Liga a querer juntar-se comigo neste castelo, Madame
Zintrah, para ser sincero, por um instante cheguei a duvidar que viesse.
Limpando os lábios com o dorso das mãos, Zintrah,arremessando a
taça de cristal russo ao chão que causou verdadeiro assombro em Aracaê , ela
encarou o senhor mostrando toda sua sagacidade:
_Que curioso,senhor Obsequens. Pois raciocinando por este prisma,
poderia jurar que por tal razão eu seria a primeira a ser atraída para esta
ratoeira, o que justificaria o entrevero que me adveio neste dia.
Obsequens não compreendendo foi além:
- E o que lhe sobreveio, minha cara e bela meretriz?- levando a boca
um gole de seu vinho.
Zintrah o olhou de maneira que só ela sabia fazer quando decidia
entrar num jogo, e aceitara adentrar naquele. Por isso colocou as mãos sobre
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os ombros do senil forçando-o se sentar numa luxuosa cadeira que ali jazia,
rodou por trás dele e fitando Miri que jácompreendia parte de suas atitudes e
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tudo isto.- mostrando todo o hall a sua volta.- No seu caso e no de seu
pequeno Miri...- Mais uma vez interrompido, desta vez por Aracaê:
- Pequeno Miri. - imitando uma voz fanha como protesto. - Falou o
gigante!
- Prossiga.- Rogou a Madame.
- Este seria o seu convite. - retirando de um de seus bolsos internos do
paletó de trato italiano.
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Não há um só remédio
Em toda medicina...
Ela só quer...
Só pensa em namorar!
Ela só quer...
Só pensa em namorar...
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velha canção dos anos 80 ao som de Ultraje a Rigor, num som que estremecia
as vidraças, e pulava como um macaco na cama king completamente
aloprado:
esbugalhados.
- "Síndrome Dos Anões Despirocados da Silva"!-Obrigando-a a partir
para cima dele na cama o tomar pelas calças enquanto berrava destinado:
-"A gente escreve livro e não consegue publicar! Inútil a gente somos
inútil!"
Sem a menor piedade, a meretriz pediu que a agregada abrisse a
janela do recinto que era no térreo e arremessou como um saco de batatas
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para, juntos, usurparem alguns alimentos. Essa era a única forma de manter
aquela gente: Tirando um pouco dos abastados de Pilarium. A intenção era
parar um carregamento de víveres que tinha como destino um supermercado
da cidade. Enquanto estava na saída da galeria do subsolo da cidade, eis que
lhe aparece um enorme homem. De súbito Valaistu o reconheceu. Era
Higron, um dos encarregados de Victor:
— O que você faz aqui? — perguntou secamente Valaistu.
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costas e se foi.
Os homens que acompanhavam Valaistu nada compreendiam. Apenas
se entreolhavam tentando ver alguma explicação naquilo tudo. Já Valaistu
mirava aquele convite com certa raiva e também bastante interesse. Pensava
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a uma festa em sua residência uma de suas citações prediletas do livro Cartas
A Um Jovem Poeta. Seria o Prodigiorum Libellus que teria revelado esses
detalhes de sua vida? Até onde ele poderia chegar, com estas investidas?
Insistentemente o jovem formulava essas e outras questões.
— Senhor, Valaistu. Tudo bem? — um dos homens se aproximou e
tocou no ombro de Valaistu, enquanto lhe dirigiu a pergunta.
afastar.
Só então ela sentou-se no degrau da varanda, abriu o lindo convite
retangular e leu a seguinte frase:
"Se você viver até os 100 anos, espero viver 100 anos menos um dia,
para que eu nunca precise viver sem você".
Ciana recordou-se imediatamente daquela fala do personagem
Heathcliff, de seu livro predileto, O Morro dos Ventos Uivantes. Curiosa,
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pensou como Victor pudera saber daquilo. E o que estaria planejando com
tudo aquilo.
acha?"
Damon estava dando uma entrevista sobre seu mais recente filme,
quando um rapaz veio avisá-lo que havia uma visita para o ator no camarim
do estúdio, em nome de Victor Obsequens. Quando chegou lá, o homem
distinto explicou sobre a festa e entregou-lhe um convite. Depois que ele
saiu, Damon franziu o cenho e abriu o convite, dando com a seguinte frase do
livro Ilíada, de Homero, quando Aquiles conversa com seus cavalos e um
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deles, Xanto, de fúlgidos pés, negro e alto, responde influenciado pela deusa
Hera:
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então se sentia muito cômodo no lombo de um. Porém não acreditou quando
um empregado de Victor chegou em frente a seu luxuoso prédio em um
pequeno caminhão, trazendo a reboque um enorme puro sangue negro que
parecia com o cavalo Xanto, descrito na Ilíada. O empregado insistiu para
que Damon fosse à festa montado nele, mas Damon estava cansado daquelas
ideias malucas de Victor Obsequens.
Se não estivesse curioso sobre aquela festa e o fato de Victor
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conhecer tão bem seu livro predileto, teria resolvido ficar em casa lendo e
ignorar tudo aquilo.Irritado, simplesmente deu às costas ao atônito
empregado, pegou seu carro negro e foi para o castelo dirigindo-o, seguindo
o endereço do envelope. A caminhonete com o cavalo o seguiu de perto.
Deixou o carro em frente à entrada do castelo e saiu, balançando a
cabeça ao ver uma carruagem que se afastava.
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cabeça!
Zintrah com uma taça de vinho passando um dedo molhado entre os
lábios vagarosamente, contragolpeou:
—Neste caso teremos que visitar Monteiro e Sítio do Pica-Pau
Amarelo e roubar o tacho da Cuca!
A gargalhada e o ar descontraído foram cruciais para envolvê-los no
que seria uma verdadeira LIGA.
Cigano se sentia um tanto quanto incomodado naquele lugar e andava
entre os outros, observando-os. Ao passar pela jovem Ciana, percebeu que ela
não percebia nada em volta, seus olhos fixos e atentos em Damon. Ele acabou
se aproximando dela e alertando-a:
—A festa não é só naquela direção. — Ao ouvir, Ciana foi pega em
flagrante e se assustou um pouco.
—Como assim? —Ciana fitou Valentin, tendo uma sensação boa ao
fitá-lo. Desde que o tinha visto na Biblioteca, percebeu que Cigano emanava
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—Não queria parecer intrometido, mas às vezes nem nos damos conta
de uma coisa. E você não consegue disfarçar seu olhar para o ator. Ciana
ficou vermelha, tomou um gole do vinho que não costumava beber e tentou
mudar de assunto:
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confiável.
—A quem se refere?
—Não sei. Pode ser qualquer um. —Eles se olharam —Até eu ou
você. Observe. Não se distraia.
Ela franziu o cenho. Viu Armand a um canto e murmurou:
—Sabe o que me dei conta? De que Armand sumiu quando fomos
atacados na Biblioteca pelos brutamontes.
—É o que eu disse. Alguém, qualquer um, pode ser um perigo. Não
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direta:
—Acho que estamos perdendo tempo aqui, Zintrah. O que quer com
esse joguinho? Provocar ciúmes em seu namorado?
Ela gargalhou ao mesmo tempo em que jogou um das pernas com as
botas até a coxa em seu quadril. Encarando-o de frente e jocosa segredou:
—E isso te deixa irritadinho, é? —passando a língua pelo lábio
inferior.
O olhar dele seguiu o movimento daquela língua e escureceu na hora.
Instintivamente sua mão estava naquela coxa firme, na parte da pele nua, e na
mesma hora seu corpo reagiu, endurecendo. Mas sua irritação não passou
com a excitação. Pelo contrário, deixou-o mais alerta.
—Sim, estou irritado. Não gosto de joguinhos.
—Hum... — Ela abeirou-se inda mais do corpo dele. — O que espera
de mim, Damon? Que prometa amor eterno , case , tenhamos filhos e faremos
amor para resto da vida, infelizes para sempre? Se for isto... — sussurrou em
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do vinho que bebia.Damon aproximou ainda mais o rosto do dela e disse bem
sério:
— Pois o que é meu não divido, nem compartilho. Saboreio sozinho
onde quiser quantas vezes eu desejar. Se for um ménage ou uma sacanagem
que quer essa noite, fique à vontade. Como você disse, as donzelas são mais
interessantes. - E sem preâmbulos largou sua coxa e se afastou. Zintrah ficou
admirando-o com certo ar de satisfação. Ela sabia que ele estava nas mãos
dela, era somente uma questão de oportunidade.
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— Quer?
Armand olha de rabo de olhos, concentrado a tudo em seu redor e diz
ao perceber a chegada de Zintrah:
—Quero muita coisa, moça.
—Hum... - ela sussurra. —E em qual delas posso me encaixar? —
erguendo uma das sobrancelhas com o olhar jocoso que tanto sabia usar em
seus sortilégios femininos, enquanto ensaiava erguer uma das botas para
evidenciar ainda mais suas coxas para o emblemático Armand. Ele se volta
para a mulher e colocando os braços em seus ombros fala perto de seu ouvido
fingindo um beijo ao pé de sua orelha.
—Não sei qual é o seu jogo, mas posso imaginar. Há algo errado
nisso tudo aqui garota, ou só eu que notei? —A meretriz consentindo o
questionamento que lhe pareceu um tanto preocupante, dispara:
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fazer agora, vamos deixar os outros acharem que fizemos. Se eu estiver certo,
não teríamos tempo para isso de forma alguma nesse lugar.
—Um homem inteligente. Muito bom. Eu topo!
Zintrah passou por Damon, Ciana e Cigano como se quisesse chamar
a atenção e conseguiu, atraindo os três olhares. Ao tratar com Armand de
encontrá-lo num dos saguões do castelo, a meretriz o deixou ir,indo ao toalete
inesperadamente, e quando passou por Damon com uma cara burlesca,
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fogo. Mas reagiu logo e, sem ter muito o que fazer, enfiou a calcinha no
bolso e olhou desconcertado para Ciana e Valentin. Ciana ficou muda,
desconfortável, e um clima tenso se estendeu entre eles. Cigano murmurou
alguma coisa e se afastou. Ele a olhou, tentando fingir que nada de anormal
tinha acontecido, mas com uma vontade imensa de xingar um palavrão.
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—Deixa esse assunto pra lá. Quer dar uma volta, beber alguma coisa?
– Ele passou
O dedo entre os cabelos, desconfortável.
Por fim Ciana percebeu que aquilo não era da sua conta. Mas o ciúme
com um bando de gente, que ele nem sequer sabia da existência há alguns
dias, conseguia rir dos trejeitos únicos de Aracaê. Cada piadinha, cada fora
dado era, para ele, não obstante toda a loucura que era aquilo ali, motivo de
uma gostosa descontração. Até mesmo a lembrança dos assombrosos
pesadelos que se intensificaram depois do último encontro perdeu prioridade
em sua mente.
Zintrah retornou e achou que depois do trato com Armand e a
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Damon. Logo que Madame terminou o seu giro ele interviu, para desarmar
todo o cortejo armado por ela:
— Hum... Então você é uma mulher de muitas faces. —Notando a
tentativa de sair pela tangente com a elegância que era peculiar do rapaz,
Zintrah o encarou como quem o colocasse contra parede.
— Mil... Um milhão... Nasci para ser muitas, posso ser todas, a
pergunta é: Qual delas você prefere, hein? — gracejando atraente.Valaistu,
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— Bem, eu não vim com nada que possa recordar o meu livro
favorito, mas você quer arriscar algum livro?
A Senhora das muitas faces deu um passo atrás e deixou que ele
notasse que o ia detalhando minuciosamente cada adereço de sua vestimenta,
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Fez uma cara feia em direção a ela, e voltou-se a Valaistu: — Não sei o que
vocês veem nela. Ela não faz o meu tipo... Que bom que eu também não faço
o tipo dela.
Valaistu, enquanto olhava a saída de Zintrah, segredou a Valentin:
— Ela é uma mulher linda, porém o excesso de vulgaridade a
atrapalha muito... Mas no fundo, bem lá no fundo, isso tudo é uma defesa que
ela utiliza para esconder a sua dor.
Cigano teve que concordar com ele, embora elucidasse:
—Ela mostra sua dor de maneira bem diferente dos demais. Mas cada
um sabe de si.
—Verdade. Não somos nenhum exemplo de superação para julgar
aquela mulher, nem ninguém. —asseverou Valaistu. - Com licença, cigano,
vou tomar um ar puro ali fora.
Logo que a meretriz afastou-se de Cigano, decidiu sentar-se perto da
orquestra que tocava temas trovadorescos que tanto agradavam o Anfitrião
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Obsequens. Foi quando, a silhueta de Alyha, vestida com sua calça jeans
surrada, coturno, camiseta preta, ou seja, como sempre, abaixou flexionando-
se a frente da prostituta:
—Parece que enquanto todos aguardam pelo jantar, você me parece
empanturrada, não é Madame Zintrah, a julgar pela cara do metido a macho
do Armand. — Num tom bem cínico.
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almejava.
—A minha hora vai chegar...Preciosa Madame Zintrah. —gracejou.
—E nesta hora saberá quem foi que me contou.
—Está me ameaçando, Alyha? —rebateu a provocação.
—Ameaça é para quem tem medo, então a pergunta é: Eu te assusto
Zintrah?
O que fez com que a meretriz esquecesse todo tom de classe que não
era muito ativo e partisse para cima de Alyha, quando Damon a deteve
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descobriu que ele não tinha sido um menino maluquinho. Ele tinha sido um
menino feliz." —E por um fração de segundo esboçou um riso sincero
entregando o exemplar a quem de fato era seu dono.
Damon observou enquanto os outros pegavam seus livros. Ele
próximo está o dia de tua perda; e não seremos nós os responsáveis, senão
um grande deus e o rude Destino."
A palavra DESTINO martelou na mente dele.
Cigano olhou fixamente para o livro O Alquimista aberto exatamente
na página onde podia ler a frase que mais gostava:“ Quando você quer
alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo.”.
—Pegou-o com cuidado, emocionado como sempre ficava com aquela
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verdade.
Alyha abriu seu livro, O Príncipe, de Maquiavel, e leu alto: —"Todos
lhe aconteceu, enquanto lia para a si o trecho do livro. Veio-lhe uma forte
sensação de que aquelas palavras foram escritas diretamente para ele. Como
se Rainer Maria Rilke, estivesse ali, ao seu lado, com aqueles olhos cheios de
luzes e tristezas, proferindo lentamente cada palavra.
“Não busque por enquanto respostas que não lhe podem ser dadas,
porque não as poderia viver. Pois trata-se precisamente de viver tudo. Viva
por enquanto as perguntas. Talvez depois, aos poucos, sem que o perceba,
num dia longínquo, consiga viver a resposta. Quiçá carregue em si a
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foram empecilho para que ele exteriorizasse aquilo que gritava e gemia
dentro dele. Um mundo de perguntas o assolava nas últimas semanas e ele
da mesa e sob os olhares espantados de todos com o livro que mudara suas
vidas, contrapôs:
—Meu livro preferido. Minha vez. — E ao abrir o Prodigiorum
Libellus, desencadeou o processo. Uma luz muito forte afetou a todos
passando por entre eles.
Uma energia pura, vibrante e luminosa envolveu cada um deles como
uma aura, deixando-os imóveis, assombrados, cada um relembrando o
primeiro contato com o livro. Mas daquela vez a energia era muito mais
intensa e potente, talvez fortalecida pela presença dos oito ali, unidos. Cada
um foi afetado de uma maneira, com lembranças, sensações e emoções
descontroladas, que penetravam neles como farpas, suscitando sentimentos
antigos e guardados.
Valentin teve vontade de chorar ao quase sentir a esposa em seus
braços. Precisava dela de volta em sua vida, com seu filho. Mas então o medo
foi maior que tudo, pois pela primeira vez conseguiu aceitar que talvez nunca
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Passaria a viver ali, onde buscaria todas as respostas possíveis com Victor
Obsequens. Não havia mais sentido em se manter longe. Agora aquele era
seu lar e seu quartel general. Lutaria até o fim por uma resposta e uma
vingança.
E depois, quando a energia como por encanto pareceu ser sugada para
dentro do livro, a música linda e triste parou. Só restou, então, o silêncio.
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CAPÍTULO 7 - A MÚSICA
Ciana fitou com orgulho os seus tesouros. Na varanda caindo aos
pedaços, escorada com duas toras de madeira para não desabar de vez, o chão
velho e esburacado estava extremamente limpo. E sobre o mesmo uma bolsa
grande e uma cesta guardavam o material que a moça conseguira encontrar
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tudo dera um jeito, fizera remendos e agora utilizava como seus. Gibran a
seguia todo animado, já esperando o momento de pular no barco.
— Calmo aí, garoto. — Ela gostava muito daquela alegria dele.
Desde que o encontrara, se pegava sorrindo e se divertindo muito
mais do que nos 14 anos anteriores. Depositou a bolsa e a cesta no barco que
encontrara todo lascado, mas acabara se mostrando em melhor estado do que
imaginara. Com uns acertos aqui e ali, tornara-se o melhor meio para chegar
a Pilarium. — Vai lá, Gibran!
Ele latiu e pulou no barco, que balançou de leve. Mas estava
acostumado e nem ligou. Foi sentar-se na ponta, com a língua para o lado de
fora, os doces olhos castanhos brilhando de expectativa. Ciana soltou a corda
que amarrava o barco no píer e entrou nele com cuidado.
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enlouquecedoras e a música.
Ciana não conseguia esquecer aquela música de fundo, a música de
seus pais. O piano e o violoncelo juntos naquela melodia única, mágica,
triste. Era o que mais se lembrava dos pais, quando tocavam em casa aquela
melodia que estreariam na Alemanha. Coisa que nunca aconteceu.
Aquela música só podia significar uma coisa: O assassinato dos seus
pais tinha a ver com a profecia ou com seus poderes, com o fato de ser um
dos oito escolhidos. Pois se não, por que teria sido tocada quando eles
abriram o livro? Angustiada, não conseguia parar de pensar naquilo. Será que
teria finalmente as respostas que procurava? Por que seus pais foram
brutalmente assassinados em casa e o caso foi tratado como violência urbana
e sumiu dos jornais?
Ciana tentou esquecer tudo aquilo um pouco, pois nem estava
dormindo direito. Assim, procurou desviar o pensamento para os livros que
encontrara no dia anterior, em algumas casas abandonadas a leste dali.
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Ficara ansiosa para ler tudo de uma vez, viciada como era.
Infelizmente era dia do Mercado e precisava negociar algumas coisas e
noite, ouvir música no velho aparelho que encontrara e não precisava viver
como um morcego no escuro, como já acontecera antes.
Seguiram calmamente pelo lago, como sempre sem encontrar outros
barcos pelo caminho. Quando chegaram ao lugar de sempre, Ciana pulou na
beira da água, molhando os sapatos e as barras da velha calça até os
tornozelos enquanto puxava o barco para a beira e o amarrava no tronco
tradicional. Gibran já corria na frente, todo animado, latindo. Ela ajeitou a
bolsa de lona no ombro e carregou a cesta com a outra mão. Não estavam
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Ciana também. Lembrou-se que foi ali que finalmente percebeu que tinha
poderes diferentes, há quase um ano. Estava feliz por ter conseguido vender
alguns objetos que encontrara em suas andanças e queria logo ir embora, por
isso se abaixou e abraçou Gibran na feira. Antes, tinha se aborrecido com o
comprador pão-duro que quis pagar uma ninharia por seus objetos e
discutiram. Ela pensou: um dia vou encontrar um objeto tão valioso que esse
cara vai se ajoelhar e implorar para que eu venda para ele. Vai me oferecer
todo o dinheiro que tem e ainda mais. E eu vou desprezá-lo.
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como um teste. Procurou lugares onde não tinham câmeras, como em feiras e
mercados quase na fronteira da cidade.
Manipulou uma vez um comerciante a oferecer-lhe maçãs de graça.
Ele fez isso. Ela pôs na bolsa e se afastou logo, pois percebeu que a espécie
Ciana só alcançou que seu poder não dependia de Gibran, mas sim de
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ao alcance da mão. Nunca ferira um ser humano com essas armas, usava-as
apenas para abater suas caças, já que carne era um produto caríssimo
naqueles tempos e ela aprendera a cortar e limpar galinhas que eram criadas
no aviário do orfanato. Mas de qualquer forma as armas serviam de garantia
para se defender, caso houvesse necessidade.
Chegou à feira barulhenta que só acontecia uma vez por semana e
nessa data ficava geralmente cheia de compradores, negociantes e curiosos.
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produtos.
A primeira barraca em que parou foi da Mama. A mulher
grandalhona, com cabelos brancos ressecados e longos como de uma bruxa,
rosto entrecortado de rugas que pareciam fincadas à faca e que se orgulhava
de ter 72 anos de idade, era sempre a que Ciana negociava primeiro. Ela era
justa em suas ofertas, gostava de conversar e continuamente tinha algo a falar
de como era o Brasil antes da Terceira Guerra Mundial. Tinha sido carioca,
mas o Rio de Janeiro agora estava boa parte submerso e o que sobrara fora
um amontoado de pedras.
Tinha perdido toda sua família, perambulado pelos estados que
permaneceram e acabou indo parar em Pilarium ao se casar. Agora era viúva
e levava adiante os negócios do marido.
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pedaço, jogou para ele e mordiscou uma para si própria. Mastigando com a
boca aberta, ofereceu a Ciana: — Quer um pouco, moleca? Precisa de carne
nesses ossos!
— Não, obrigada. – Ciana sorriu. Observou Gibran, que se deliciava
com a linguiça. Terminou de espalhar os objetos e deixou Mama examiná-
los.
— Hum, barbeador. – Ela pegou o objeto antigo em ótimo estado,
ainda na embalagem, suas lâminas intactas. Havia três deles. – Sabe que
tenho um comprador que adora esses! Hoje em dia ninguém mais usa isso,
com esses cremes que passam e o pelo fica sem nascer um mês! Mas ele
odeia o cheiro do creme! Quanto custa?
Elas negociaram até chegar a um valor favorável a ambas. Depois
Mama passou a olhar as outras coisas, separando o que queria e negociando
mais. Havia ali relógios, sapatos de couro que mesmo que faltasse um dos
pés, eram caros pelo material, brinquedos, canetas, um celular, dois livros de
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escola que Ciana já tinha lido, e vários outros objetos. Como sempre, Mama
pegava alguns e tecia comentários recordando-se de outros tempos. Mesmo
com pressa naquele dia, com medo de pegar um temporal quando voltasse
para casa de barco, Ciana se recostou na lateral da barraca e ouviu-a com
atenção:
— Isso aqui e isso eu usava na escola! – Ela balançou a caneta e
apontou para os livros. — Hoje em dia para quê caneta, lápis e papel? Só
digitam por isso todo mundo já está nascendo com dedos mais compridos!
Reparou isso, menina? É a evolução da espécie! O corpo está se adaptando,
mas a mente! – Fazendo cara de nojo e cuspiu no chão.
Atrás de Ciana as pessoas passavam, algumas paravam para observar
os objetos que Mama vendia ou somente escutava com curiosidade seus
brados revoltados.
Ciana sorria curiosa e na expectativa.
— Só tem gente burra hoje! Passam por você e nem te olham! Todo
mundo igual, ligados naqueles aparelhos, que nunca leram um livro na vida!
Olha isso aqui! Livro de matemática, livro de História! Quem sabe o que é
isso hoje, menina? Quem foi Napoleão? Quem foi Getúlio Vargas? Eles
estudam isso na escola? Não, senhora! Estudam porcarias naqueles
computadores! Na minha época eu sabia tudo! De que me adianta esta merda
agora?
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escondia metade do seu rosto. Não olhava para nenhuma das duas, mas para
os objetos de Ciana espalhados pela bancada. Ciana sentiu uma pontada de
reconhecimento. Os ombros largos, os braços musculosos, o nariz afilado.
E aquela voz, grossa, rouca e naturalmente sensual, que ouvira há
apenas alguns dias. Não podia ser ele! Mesmo assim ficou com olhos fixos
em seu rosto, meio que na dúvida. Seu coração acelerado alertou-a de que era
ele sim, disfarçado. Damon Luca. Não era possível!
— Você tem razão, rapaz! – Berrou Mama, como se brigasse com
alguém, mas era seu jeito. – Aqui ninguém me enrola nas contas! Tinha uma
professora de matemática em 2013 que era uma fera, a Adélia! Ai de mim se
eu errasse um número!
O homem sorriu para si mesmo e uma parte de seus dentes brancos foi
visto entre a barba. Ciana respirou fundo. Era ele!
Ainda se lembrava claramente do último encontro com ele na festa,
quando sentira-se muito atraída e com ciúmes dele com Zintrah. Aliás, ele
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Ele virou o rosto em sua direção. Os óculos escuros não deixavam ver
seus olhos, mas ela sentia seu olhar no mais íntimo de si e estremeceu.
— Sabe quem sou?
— Sei.
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olhar, mas era ruim encarar uma lente. Queria muito ver os olhos dele.
— Você é surpreendente, Ciana. Que artistas do passado você gosta?
— Vários. Muitos. Não gosto das músicas atuais. Adoro também
música clássica.
— Já foi a um concerto?
— Não. Isso é para os ricos.
— Quer ir comigo? — Ciana ficou sem fala. Pensou que ele estivesse
brincando.
Damon continuou:
— Estou com dois convites para a estreia de Luciano de Angelis no
teatro de Pilarium, na próxima sexta. Quando vi que a música clássica é
importante para você, achei que gostaria de ir comigo.
— Você fala sério?
— Muito sério.
Naquele momento pingos grossos de chuva começaram a cair e ela
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tomou um susto. Olhou para o céu cinzento e fez menção de pegar a cesta
que ele segurava.
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o cachorro:
— Vamos lá, Gibran, pule aí!
O cachorro não se fez de rogado. Rapidamente entrou no carro e se
acomodou animado no banco de trás. Enquanto Damon corria e entrava pelo
lado do motorista, Ciana fechou os olhos por um momento e respirou fundo.
Gibran ia enlamear todo o carro! E ela não queria que Damon visse o barraco
abandonado em que vivia. Mas o que podia fazer? O barco não serviria de
nada para ela agora. Teria que dar um jeito de chegar em casa, o que já era
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valem.
— Fico com eles. — Repetiu. — Diga quanto custam.
Ficou sem saber. Pensou num valor que cobraria a Mama e disse a
metade do preço a Damon, afinal ele estava lhe dando aquela carona.
— Valem mais do que isso. Quero que cobre o de sempre, Ciana.
Estou acostumado a comprar músicas no mercado.
artistas:
— Slipkinot, Michel Teló, Zezé di Camargo e Luciano, Charles
Azavour...
— Quero todos. Alguns eu não conheço, mas de outros sou fã.
— Tem também Chico Buarque, Dominguinhos, Zizi Possi,
Deeppurple... — E ela foi falando a lista toda até o fim. Depois completou:
— A maioria eu gosto, mas já tenho.
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frente. Até a última, que mesmo para ela que estava acostumada parecia
horrível, cheia de limo, quebrada, caindo aos pedaços.
— É aqui. – falou entre dentes. Mal o carro parou, ela fez menção de
descer, mas ele a segurou firme pelo pulso. Virou-se e encarou-o. — O que é
agora?
— Você mora aqui? Sozinha?
— Com Gibran. — Seus olhos foram para a casa e depois para ela,
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Mas Damon não a largou. Como se falasse com uma criança, fitou-a
com paciência e explicou:
— Sei que não nos conhecemos direito. Mas temos algumas coisas
em comum, como nossos poderes e a tal da Liga Literária que Victor tanto
fala. Possivelmente vamos estar juntos mais vezes. Já até lutamos juntos
contra inimigos! Em nome de tudo isso, me escute: Eu tinha uma irmã que, se
estivesse viva, teria sua idade. Eu nunca a deixaria correr riscos
desnecessários e viver sozinha num lugar desses. Aceite minha oferta,
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apertar essa tecla e entrará em contato com meu número particular. Não
hesite em chamar se precisar de ajuda.
Ciana olhou para o dinheiro e o aparelho ultramoderno que ele lhe
estendia. Sabia que se recusasse ele não a deixaria em paz. Pegou tudo e
olhou-o com firmeza.
— Obrigada. — Antes que ela saísse, acrescentou sério:
— E o concerto? Passo aqui sexta-feira, às sete da noite. Você vai
comigo?
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de meia naquelas roupas de segunda mão, mas que estavam em ótimo estado.
E se sentia feliz com o resultado.
ela só aceitara depois de uma discussão entre eles, mas agora se sentia feliz
por ter capitulado. E melhor que tudo, estava na companhia dele.
— Pronta para seu primeiro concerto? – Damon sorriu alto e elegante
em seu fraque negro, seus cabelos pretos domados naquela noite.
— Sim.
Enquanto dava o braço a ele e caminhavam pelo tapete vermelho,
Ciana pensou nos pais. Suas lembranças eram fracas, nebulosas, mergulhadas
em fantasias de uma criança de quatro anos. Mas quase podia jurar que ouvia
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Mas agora quase podia sentir como fora as primeiras vezes em que ele
estivera ali e a emoção que o envolvera, veemente, única.
Pela primeira vez olhou para Ciana não como se fosse uma mocinha,
quase uma irmã. Mas como uma mulher, linda, formada, sensual naquele
vestido que caía até seus pés denunciando suas curvas femininas e as linhas
esguias e suaves do seu corpo. Os cabelos longos, castanho-claros, recebiam
reflexos dourados da iluminação acima dela e caíam em cachos arrumados
sobre seus ombros e costas. Ela estava linda, atraente, exalando feminilidade.
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homem alto, magro e de meia idade, com cabelos grisalhos até os ombros
apareceu no centro do palco. Ele fez uma ligeira reverência ao público, que
na mesma hora explodiu em aplausos.
— Luciano de Angelis. – Explicou Damon, referindo-se ao principal
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feliz para Damon, que a observava quieto. Sorriu para ele, sentindo-se tão
bem e flutuante como nunca se sentira desde a morte de seus pais. Então ele
sorriu de volta, como se a compreendesse. E uma emoção pura fluiu entre
eles, quase como uma força viva.
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Todo tempo Ciana ficou magnetizada por eles, mal notando que as lágrimas
desciam por seu rosto, que sentimentos complexos e puros se imortalizavam
dentro dela.
Eles pararam um pouco. Ela só saiu do encantamento quando Damon
pôs sua mão grande sobre a dela, quase a assustando. Foi então que o olhou
surpresa e viu-o sorrir.
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e praticamente ficou sem ar, muito pálida. Aquela música... Aquela música!
Como era possível...
Ela não conseguia respirar. A música invadia seu corpo, sua alma, sua
vida. A música do seu passado, que ouvira tantas vezes e que de tudo que se
relacionava a seus pais era a que ela lembrava sem erros, perfeitamente, como
se eles tivessem tocado há pouco tempo. Depois de 14 anos só a ouvira de
novo naquele castelo, quando tocara o livro com Damon e os outros. Como se
mostrasse a ela o futuro, talvez as respostas que tanto procurava. E que agora
Luciano de Angelis tocava no palco.
— Não é possível... — Murmurou.
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Merda!
Pediu licença aos outros, mas sem saber ao certo que direção ela
tomara.
Ciana mal via quem surgia a sua frente. Desviava, empurrava, seguia
em direção aos fundos, onde deveria ficar os camarins atrás do palco. Tinha
que obter respostas. Aquela era a sua chance de enfim saber o que acontecera
com seus pais, por que aquele homem misterioso os matara, o que aquela
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música tinha a ver com tudo. Desesperada não parou, nem estranhou quando
encontrou o corredor dos fundos vazios. Foi rápido por ele, lendo os nomes
nas portas, até chegar à última onde uma plaqueta indicava: LUCIANO DE
ANGELIS.
Ela não parou para pensar ou se controlar. Os anos de sofrimento e
solidão naquele orfanato, a saudade dolorosa que a acompanhou todo aquele
Ele não se mexeu, não reagiu. Ciana parou, engolindo a bile que subiu
do seu estômago. Deu-se conta do silêncio e mesmo em meio ao descontrole
emocional, lembrou-se das acusações de assassinato de Madame Zintrah,
encontrada na cena do crime. Contudo já era tarde demais para recuar.
Segurou à poltrona e girou-a de frente para ela.
Luciano de Angelis estava com os olhos arregalados, enquanto de sua
garganta cortada o sangue borbulhava e escorria vermelho, denso, por seu
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peito. Ciana tomou um baque, lembrou-se da mesma cena 14 anos atrás, seus
pais caídos na sala com as gargantas cortadas, o sangue por todo lado, ela
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cintura e apontando para ela. Ao mesmo tempo, com a outra mão falava em
um aparelho preso a seu pulso: — Emergência! Camarim de Luciano de
Angelis! Urgente!
— Não, eu... — Ciana balbuciou, largando a toalha e erguendo as
mãos. — O senhor não entende, eu...
— Cale a boca! Mantenha as mãos ao alto! Agora! — Ele gritou.
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escapar.
Mas como? Se ela se aproximasse demais receberia um tiro. Assim,
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e, quando foi segurar seu pulso, ela se abaixou e investiu com tudo contra a
cintura dele, como um touro atacando o toureiro. É claro que ele mal se
moveu, era bem maior e mais pesado que ela.
Entretanto Ciana conseguiu duas coisas: Ele ficou como uma barreira
entre ela e a arma do outro e a agarrou com força. Ela esperneou e lutou, mas
não o soltou. Sentiu a energia forte e densa se concentrando dentro dela,
como se uma música estrondosa, um rock pesado no amplificador, explodisse
em seus ouvidos, E aí agiu.
Visualizou a arma do negro voando de suas mãos para bem longe. Ele
correndo na direção deles, ao mesmo tempo em que o loiro a soltava e se
virava para o negro. Ela viu-se livre de repente e manipulou os dois
mentalmente para que se agarrassem em um abraço de urso e assim ficassem.
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centímetros de seu pescoço, seu rosto imobilizado num esgar de fúria. E ela
percebeu que todas as pessoas a sua volta estavam congeladas no tempo, só
ela se movia. Ela e Damon, que tinha o poder de tornar o tempo imobilizado
ou fazê-lo andar em câmera lenta.
Ele surgiu à sua frente, já agarrando sua mão e puxando-a em direção
à saída.
— Vamos sair daqui antes que a polícia chegue. Em que merda você
se meteu?
Ela não tinha condições de falar. Desceram rapidamente os degraus
do teatro, enquanto Damon fazia o tempo parar ali também para quem
circulava. Era como andar no meio de bonecos e ela ficou impressionada com
a facilidade dele em dominar seu poder. Deixou-se levar para fora, até o
estacionamento iluminado.
Damon ligou seu carro com um aperto em seu relógio e eles o
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de sangue?
Ela abriu os olhos e respirou fundo, ainda em choque.
aonde vão me buscar será lá. Preciso passar em casa, pegar Gibran e minhas
coisas. Sabe que só posso ir a um lugar. – Olhou-o, já lamentando tê-lo
metido naquela enrascada.
— O castelo de Victor. – Damon afirmou.
Ciana apenas se recostou no banco. E então começou a chorar. Ia ser a
nova companhia de Miri, Zintrah e Valentin.
No dia seguinte, Damon meio que já esperava a visita da polícia no
seu apartamento. Abriu a pesada porta de madeira e recebeu dois policiais,
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para casa, sozinho. Todos devem comprovar que cheguei com ela, mas não
saí de lá com ela.
— Algumas pessoas relataram que a viram correndo pelo corredor,
ensanguentada, depois não se recordam de mais nada. Quando ela sumiu, o
senhor não foi mais visto.
— Saí antes do concerto terminar. Sei que houve o assassinato de
Luciano de Angelis, vi hoje nos noticiários, todavia não posso ajudar vocês.
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Castro voltou-se para Damon com ar ameaçador, Damon disse de uma vez:
— Tenho um compromisso inadiável agora e infelizmente preciso
sair. Já informei tudo que sabia. Se precisarem de mim, sabem onde me
encontrar.
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logo.
— Aguardarei ansioso.
Depois que eles saíram, Damon bateu a porta e passou as mãos entre
o cabelo. O cerco estava se fechando sobre eles. Teria que ficar bem alerta.
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Era ainda muito cedo, mas Damon não conseguira dormir direito
aquela noite. Depois de todo estresse pelo qual passara acompanhando Ciana
até o castelo, voltou para o apartamento e ficou na sala tomando uma dose de
uísque. Estava tenso, sabendo que era questão de tempo até que um novo
assassinato envolvesse um deles. Depois, ainda naquela manhã, recebeu a
visita da polícia.
O dia fora longo. Terminara seu último filme há algumas semanas e
estava em época de lançamentos. Tinha passado o dia inteiro dando
entrevistas sobre o filme e fugindo de perguntas inconvenientes sobre o
assassinato de Luciano de Angelis no teatro, quando a suspeita era a
misteriosa fã que o acompanhava. A mídia só queria saber daquele fato,
ansiosos com uma nova fofoca. Por fim viera para casa exausto e após um
banho quente, caiu no sofá com vontade de morrer para o mundo.
A enorme tevê estava ligada, porém ele nem prestava atenção.
Pensava no homem que estava por trás de tudo aquilo e foi impossível não
relembrar do passado, de como sua vida mudara de rumo desde que aquele
homem entrara nela. Aquele desconhecido que Damon queria pegar a
qualquer custo.
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absurdo o marido incentivar nele uma profissão quase extinta, que o faria
morrer de fome. E o pai achava o mesmo dela, arrastando-o para gravações
bestas e fúteis. E ele ficava dividido, tentando agradar a ambos. Ainda mais
tendo uma irmãzinha doente, que nunca poderia trabalhar ou seguir o sonho
de um deles.
Quando se tornou ator, o destino decidiu por ele. Ganhou tanto
dinheiro, que poderia pagar os tratamentos caros e exclusivos da irmã Sílvia,
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Assim, Damon investiu na carreira para deleite da mãe, mas nunca deixou de
ler e discutir literatura com seu pai.
Quando fez dezoito anos, já era um sucesso estrondoso em Pilarium.
Sílvia piorou, mesmo com os tratamentos caros, muitas vezes ficava
internada. Não podia andar e tinha várias complicações respiratórias. Mas era
sempre doce, não reclamava de nada e aos onze anos era o amor da vida de
Damon, que fazia o impossível por ela.
Damon recostou-se no sofá, fechando os olhos por um momento. As
recordações o bombardearam.
Ficou claro naquele ano que várias coincidências aconteceram e só
mais tarde ele percebeu. Várias pessoas cruzaram seu caminho falando da
velha biblioteca em Pilarium, muitas tentando convencê-lo a ir lá à procura
de livros raros. Por algum motivo que ele não entendia, ele não queria ir.
Outras pessoas foram lá em busca dos tais livros, amigos, empregados, até o
pai. Mas ele nunca. E mais pessoas apareciam tentando convencê-lo, por isso
mesmo tornando-o mais desconfiado e determinado a não ir. Até aquele dia,
há sete anos.
Sílvia estava internada, mas tinha tido uma grande melhora. Damon
estava com ela quando o médico anunciou que ela teria alta no dia seguinte.
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Eles ficaram felizes da vida e, depois que o médico saíra do quarto, Damon
sentara na beirada da cama dela e segurara sua mão fina e magra, olhando-a
realmente o era.
Ficaram juntos conversando, rindo, brincando. De vez em quando ela
precisava de oxigênio, pois se cansava rápido. Mas depois ficava bem de
novo.
Damon prometeu vir buscá-la com os pais no dia seguinte. Beijou-a,
acariciou seus macios e lisos cabelos escuros, animado por que a teria
novamente em casa. Era pequenina, magrinha, frágil, todavia era a sua rocha,
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com a ligação.
Damon sentiu o pavor congelá-lo. Fitou o aparelho e viu que o
número de quem ligara não aparecia. E as palavras dele fizeram sentido em
sua mente abalada. Era um sequestro. Tentou disfarçar, com medo que
alguém percebesse o fato e isso acabasse por influenciar os bandidos a fazer
mal a sua irmã.
O valor pedido era uma fortuna e ele teria que correr contra o tempo
para juntar o estipulado, já que possuía muito dinheiro investido.
E foi o que ele fez. Deixou os pais no hospital para receber a polícia e
disse que correria atrás de ajuda. Saiu logo, um tanto perdido, um jovem de
dezoito anos tendo que resolver a maior tragédia da sua vida.
Ele conseguiu. Às seis da tarde entrava sozinho naquela biblioteca
abandonada e suja, com muito medo. De que fosse uma armadilha, de que
tivesse caído ao não falar com os pais ou com a polícia. De que algo
acontecesse com Sílvia, que era a sua maior preocupação. Não ligava para o
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na penumbra. Caminhou até a sala e viu o livro com pesada capa de couro
sobre uma mesa velha. Vidraças quebradas deixavam a claridade de fora
incidir diretamente sobre ele. Damon se aproximou tremendo, uma sensação
ruim percorrendo seu corpo, seus olhos sem conseguir desviar do livro.
tudo aquilo, mas conscientemente a única coisa que sabia era que aquela luz
lhe dava algo novo, o transformava de alguma maneira.
Reagiu assustado, fechando o livro com um baque surdo. A luz
sumiu, mas a energia parecia percorrer ainda todo seu corpo, espalhando-se
rapidamente, envolvendo-o sem que ele pudesse impedir. Somente quando
voltou ao normal, Damon deu-se conta do motivo de estar ali. Lembrou-se do
telefonema e buscou no livro as tais instruções.
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O papel estava sob o livro. Era raro, fino, branco. Apenas uma frase
curta se destacava em preto, com letras garrafais:
exigida, junto ao misterioso livro com o qual não tinha tempo de se preocupar
naquele momento. E saiu correndo da biblioteca, seus passos fazendo um eco
surdo no silêncio sepulcral.
Começava a escurecer. As ruas vazias e cheias de escombros
pareciam fantasmagóricas. Ele escorregou em algumas pedras, mas conseguiu
se equilibrar e seguiu em frente, só pensando em Sílvia ali o dia todo, com
pessoas estranhas. E se ela tivesse passado mal? E se tivesse precisado de
oxigênio?
Seu coração disparava, ele tremia, mas correu o mais rápido que
conseguiu, buscando freneticamente com o olhar o local do velho teatro.
Finalmente avistou o prédio grande, com metade do teto e das paredes
desabadas, praticamente um amontoado de pedras. Não se preocupou consigo
mesmo ou se haveria alguém prestes a atacá-lo. Subiu os degraus sujos de
poeira e folhas mortas pulando alguns, velozmente, desesperadamente.
— Sílvia! — Gritou, passando pela entrada ainda de pé. Como a
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se ajoelhando ao seu lado, sem se importar com as pedrinhas que feriram seu
joelho, já a virando suavemente pelo ombro.
— Sílvia, estou aqui, cheguei, meu bem...
Seu dedo resvalou do vestido amarelo claro para a pele de seu braço,
gelada, estranhamente endurecida. Seu coração falhou uma batida. Ele fitou
seus grandes olhos castanhos abertos, sem vida, sem brilho, imobilizados no
tempo, perdidos para sempre.
— Não... Sílvia... Sílvia!
Damon gritou, puxando-a para seus braços. Seu corpo estava rígido,
muito frio, morto. Mas ele não podia aceitar aquilo. Caiu sentado no chão e a
pôs no colo, abraçando-a com força, tentando reanimá-la.
— Não faz isso comigo, por favor...
Ele a embalava, chorava desesperadamente com aquela dor lancinante
parecendo rasgá-lo por dentro. Suas lágrimas pingavam no rostinho dela, ele
soluçava como um bebê, sabendo que não poderia suportar aquilo.
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injeção calmante para que ele apagasse e pudesse ser tirado dali.
Nunca o dinheiro foi achado, nem o livro. Muito menos os bandidos
que fizeram o sequestro. Damon fez de tudo para encontrá-los, dedicou sua
vida a isso, alimentando o desejo de vingança e de justiça. Sua vida nunca
mais foi à mesma e só piorou.
Ao mesmo tempo, descobriu que naquele dia fatídico ganhou um
estranho dom, que é o de tornar lento ou parar o tempo a sua volta. Pensou na
sensação que teve ao tocar o livro e não soube ao certo se foi ele ou a morte
da irmã que desencadeou o processo. Aprendeu a dominar esse dom e a usá-
lo nas investigações, mas nunca conseguiu descobrir grande coisa.
Sua mãe não aguentou o sofrimento e morreu um ano depois de
câncer. Seu pai desanimou, começou a beber demais, largou a profissão e
perdeu o interesse em seus amados livros. Morreu pouco tempo depois, de
um ataque cardíaco. Damon ficou sozinho. Sua família foi esfacelada num
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nunca esquecesse, pagando para que estivesse sempre visível nos arquivos,
na mídia e nos computadores.
mas continuou negando. Irado, vendo que esperar a polícia não adiantaria
nada, Damon parou o tempo na delegacia e entrou na sala de interrogatório.
Ele podia selecionar tranquilamente quem ficava ou não congelado no
tempo. O policial que fazia o interrogatório estava como uma estátua,
segurando o copo de café que levaria até a boca, imobilizado naquela ação.
Sentado à sua frente, o homem calvo e pançudo olhava embasbacado para o
policial, sem compreender o que acontecia com ele. Voltou os olhos
pequenos e muito juntos para Damon, quando entrou na sala e murmurou:
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— Já disse que não fui eu! Ah! – Ele berrou ao ver o punho armado.
Direto no queixo. Sua cabeça estalou sobre a mesa e ele começou a chorar,
implorando: — Juro por Deus, cara! Não fui eu!
— Vai morrer de tanto apanhar! Só saio daqui quando souber de
tudo.
— Polícia! Esse louco vai me matar!
Damon socou-o novamente, agora no maxilar, que chegou a fazer um
barulho de osso rachando. Puxou-o, levantou-o e o próximo foi no estômago.
O calvo se dobrou e caiu para frente, vomitando sangue e parte de seu café.
Damon largou-o e ele caiu de joelhos no chão, escorregando em seus próprios
líquidos. Olhou-o com desprezo, sentindo uma vontade imensa de matá-lo de
tanta porrada. Contudo, só depois que soubesse de tudo.
Quando o ergueu de novo, o homem se encolheu chorando,
implorando, todo arrebentado. Damon levantou a cadeira e o empurrou
sentado. Do outro lado da mesa o policial continuava congelado no tempo,
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suada. Sua ira fria é que causava mais terror no homem. Olhou-o no fundo
dos olhos e por fim algo pareceu fazer sentido. Recordou-se de alguém, de
um passado não muito distante. Palavras soltas murmuradas por uma voz
masculina e sedutora: “muito dinheiro”, “biblioteca”, “leve-o até o livro”,
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um chapéu! Porra, que merda ele falou? — O calvo forçou a mente, confuso.
— Parecia que ele tinha me dominado! Aquele olhar, meu Deus! Só fui pela
grana, eu nem queria por que fiquei com medo dele! Mas não deu pra
escapar! Só agora lembro, eu... Levei a garotinha pra lá! Aquele lugar velho...
Era só deixar a menina lá e ficar de olho até me mandar sair...
Damon respirava irregularmente, muito nervoso. O homem continuou
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esquecido? Ter sido usado? Alguém teria o poder de mexer com a mente dele
e de Sílvia? Por isso ela saiu do hospital com eles sorrindo, sem reclamar?
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fez ter certeza de que alguém o apagou. O mesmo homem de chapéu que
contratou para sequestrar sua irmã. E que ele faria de tudo para encontrar.
delegacia ou de prisão.
Damon ficou totalmente alerta. Estava claro que algo voltara a
acontecer e que sua vida viraria de pernas para o ar. A polícia e a mídia não o
deixariam em paz até tentar arrancar algo sobre Ciana. Sabia o que deveria
fazer, na atual conjuntura. Calçou um par de sapatos, pôs uma camisa,
separou tudo que mais prezava em uma mochila, desde algumas roupas a
fotos, documentos e dois livros, um conjunto de músicas e voltou à sala no
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Luísa Castro.
— Entrem, por favor.
— Senhor Luca, não demoraremos. – Disse Luísa, parando no hall e
lhe estendendo um papel. O mal-humorado detetive ficou ao lado dela, com
pegou as algemas. Algemou-os juntos. Depois, sem ter mais o que fazer,
pegou sua mochila e saiu, trancando a porta por fora. Saindo do ambiente,
seu poder acabava. Pôde ouvi-los gritando confusos lá dentro e sabia que era
questão de segundos até se comunicarem com outros policiais. Logo a polícia
de toda cidade estaria atrás dele.
Desceu rapidamente de elevador e no estacionamento do subsolo,
jogou a mochila no banco e saiu dirigindo em disparada seu grande e potente
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quando, após uma curva, justamente quando devia pegar a ponte que cortava
o rio principal da cidade, começava um grande engarrafamento. Damon parou
o carro e na mesma hora outros vieram atrás dele e pararam, deixando-o
encurralado ali. Não tinha como sair e procurar outro caminho. Tinha duas
opções: sair a pé ou enfrentar o engarrafamento. Mas precisava atravessar a
ponte para ir ao castelo. Assim resolveu enfrentar.
O tráfego estava lento. Só quando virou uma curva, notou o que já
esperava. Havia dois carros de polícia na entrada da ponte. No meio deles o
espaço para passar só um carro de cada vez. E a todos a polícia fazia parar e
examinava. Era uma blitz. A procura dele. O carro se aproximava lento do
local. Ele estava sem opções. Se saísse do carro, chamaria atenção da polícia.
Se ficasse, poderia ser pego. O jeito era arriscar mesmo e usar seu
poder na hora certa para escapar.
Quando chegou a vez do carro dele, dois policiais sinalizaram para ele
parar. Damon obedeceu, até calmo demais.
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sabia que ele tinha estado com a assassina de Luciano De Angelis e que
prendera dois policiais em seu apartamento. O policial automaticamente
sacou sua arma e apontou para a cabeça de Damon, avisando ao
companheiro:
— É ele!
O que estava ao lado de Damon rapidamente puxou a arma para ele,
um tanto nervoso.
— Não se mexa senhor Luca!
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recuperariam e poderiam vir atrás dele. Assim, quando virou, acelerou o carro
e disse a si mesmo:
vezes sobre si mesmo antes de acertar o carro da polícia que vinha na frente.
Fez com que esse rodasse ainda em movimento e, bem menor, fosse
arremessado pelo declive ao lado da estrada, batendo em cheio no tronco de
uma árvore. Um dos policiais foi arremessado para fora e caiu como um
boneco no barranco, rolando já com o pescoço quebrado e parando no meio
do mato. O outro ficou momentaneamente desacordado.
Por fim o carro parou sobre as quatro rodas, as duas da frente
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totalmente destruídas.
Balançou um pouco e se estabilizou, com o teto e as laterais
dos policiais na mão, mas nem precisou usar. Simplesmente congelou tudo e
olhou à sua volta, pensando o que fazer. Seu carro estava destruído. Então
apontou para os pneus dos carros dos policias e atirou neles, menos em um.
No que ficou intacto, ele entrou e destruiu o rastreador com uma coronhada.
— Vou dar o fora dessa merda! — Exclamou e acelerou, deixando
toda a confusão para trás. A estrada era longa e ele se afastou muito,
mantendo tudo atrás de si congelado. Os carros que vinham na direção
contrária dele seguiam em frente e paravam ao se deparar com a cena de
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no dia seguinte, mas não podia resolver aquele problema até pegar o maldito
que estava acabando com a vida deles.
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imediatamente.
Enquanto isso, no interior da casa denunciada, um drama que adquiria
proporções assombrosas se desenrolava.
— Cadê a criança? — perguntou com impaciência um homem, que
trajava os distintivos da polícia local, a uma mulher e seu esposo, que
estavam amarrados, cada um em uma cadeira, na sala daquela casa.
— Policial, o senhor invadiu nossa casa, apontou uma arma para nós e
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nos amarrou. Que absurdo é esse? Nós somos cidadãos de bem. Temos os
nossos direitos. Isso é um abuso de poder inaceitável. – redarguia o homem,
dentes cerrados.
— Não precisa gritar. Não somos surdos. — ironizava o homem.
— Cala a sua boca! – gritou o policial, ao mesmo tempo em que
desferia um soco naquele homem, totalmente indefeso.
No mesmo instante, a mulher soltou um grito e uma súplica, mais
para si do que para os céus:
— Oh, meu Deus! — chorando e com a voz embargada de espanto
continuou – O que nós fizemos de errado? Por favor, nos deixe em paz!
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— Tá... E a rota?
— O sistema ficou um pouco mais lento, por causa da intempérie,
oficial, mas em alguns segundos o seu cérebro verá a nova rota. —
Justificava-se a CMP.
— Ok.
Ele tinha conseguido desamarrar um dos três nós, que mantinham a
mãe da criança, firmemente atada à cadeira. Agora já estava no segundo.
Porém, antes de conseguir desatar o segundo nó, uma fisgada aguda atingiu a
parte interna de sua coxa direita. No mesmo instante o homem urrou de dor,
misturada com desespero, pois ao se virar ele viu uma criança, com olhos
perdidos e sorriso macabro empunhando uma faca ensanguentada. O
desespero apoderou-se completamente dele quando ele viu o seu sangue
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Um frio aterrorizante começava tomar conta de seu corpo. Era o sinal de que
ele tinha poucos minutos de vida.
Foi você, minha criança. — a mão que não segurava a faca, como se
fosse à mão de outra pessoa, acariciava o rosto de Valaistu- Você matou
aquele homem. E não só. Você vai matar o papai e a mamãe, também.
Os pais de Valaistu já não sabiam o que pensar, o que conjecturar. O
pavor era maior que qualquer tipo de raciocínio lógico. Lógica, clareza eram
palavras vazias naquele instante e até mesmo aquelas que poderiam ser
usadas para tentar descrever o que ocorria não seriam suficientes. Absurdo,
loucura, monstruoso, diabólico, aterrorizante... O que ocorria e estava para
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que isso a sua mente assolada pelo terror conseguia formular. Já a mente da
criança lutava inutilmente contra aquela força dominadora, mas não
conseguia. Só lhe restava pedir perdão, com os olhos marejados. A força que
dominava a criança a fez erguer o braço que empunhava a faca e, com
destreza quase cirúrgica, fez com que a criança cortasse profundamente a
jugular da própria mãe. Enquanto a criança se banhava com os esguichos do
sangue morno da mãe — que se debatia — o pai urrava desesperado. Com
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todas as forças ele tentou se desvencilhar das amarras, porém os nós estavam
muito bem ligados.
encontra na casa o filho dos dois: Valaistu Virtanen Sakamoto, de apenas seis
anos.
— E o policial?
— Perdemos os sinais vitais dele...
— Merda!
A criança, banhada de sangue se aproximou do pai, enquanto dizia:
— A sua hora chegou. Se você tivesse colaborado... Se não tivesse
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Enquanto Valaistu saía para a rua, pela janela de seu quarto, o oficial
Casadei arrombava a porta da frente da casa de seus pais. A cena com que o
civis estão mortos. A mulher foi degolada, o policial teve a femoral talhada e
o homem teve a traqueia perfurada, três perfurações no abdômen e a veia
femoral cortada profundamente. Meu Deus, quem poderia fazer uma coisa
dessas.
— Tem certeza de que estão mortos?
— Tem um mar de sangue nessa sala, porra! E eu sei reconhecer um
cadáver, muito bem. E sem essa de correções vocabulares, pois estou puto
com isso aqui. Quem fez isso não tem coração. Deixou sangrarem até morrer.
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intransitáveis e pelo que percebo a nossa caça foi em direção das ruelas e
becos fétidos da Pilarium velha. Vamos logo que não tô com vontade de
pegar um resfriado.
Os dois começaram a correr. O oficial Casadei o olhava com o canto
dos olhos e se perguntava de onde teria surgido este homem. Perguntava-se
porque a Central enviaria um homem daquele tipo, sem modos e,
julgue porque não tenho modos ou não visto este uniforme medíocre.
— Desculpe-me... É que... — o olhar penetrante daquele homem o
estarrecia.
— Vamos logo, antes que eu perca o rastro da caça. Ela não deve
estar tão longe.
— Ok.
Os dois continuaram a correr.
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comentou:
— Rápido! Ele foi por aqui. Ele não pode escapar.
— Estamos perto do assassino? – perguntou Casadei.
— Acredito que sim, porém temo perder o seu rastro.
Enquanto eles corriam, em busca da criança, a chuva que era intensa,
começava a diminuir. Já era quase uma garoa. O policial, que estava com o
oficial Casadei, de repente parou. Automaticamente, Casadei também se
deteve.
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encontrar.
Casadei não entendia nada;
cabelos lisos que escorriam por entre os olhos, por causa da chuva e
prosseguiu — não estamos perseguindo um homem, mas uma criança. A
coitada acabou de enfiar o pé em uns espinhos, quando atravessou os jardins
de uma praça logo à frente. Será uma presa fácil, agora.
O oficial Casadei, com as duas mãos na cintura olhava aquele policial
com estranheza e admiração. Inquieto com o que acabara de ver, logo
perguntou:
— Como sabe disso tudo, cara? Aliás, não vai mesmo me dizer o seu
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do que tinha acontecido em sua casa, por causa da corrida por ruas ermas e
escuras, ou por causa do espinho. Era uma mistura de dor e desespero que
assolava o coração daquele pequeno ser, que ele não encontrava outra forma
de exteriorizar tudo aquilo senão pelo choro, quase sem fôlego.
Depois de contornar mais uma rua deserta, cheia de casa
abandonadas, o menino se defrontou com um grande edifício. Era uma antiga
com a dor nos pés e na cabeça ele conseguiu forças para correr rumo à
Biblioteca.
— Cara, para de mirar na criança. — o policial ao dizer isso
lentamente abaixou o braço de Casadei.- Ela está encurralada. E acho que é
melhor ela viva, que morta.
— Você tem razão. Vamos lá acabar logo com isso – Casadei tomou
a frente, rumando à Biblioteca. O outro policial o seguia, primeiramente com
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criança:
— Diga logo quem foi, porra! Foi você? Você matou os seus pais?
Você é um assassino?
— Casadei, controle-se!
Casadei gritou um sonoro não em direção daquele homem e depois
virou-se e continuou:
— Fala logo pirralho, maldito!- a última chacoalhada, fez com que
uns livros caíssem por sobre os dois, criança e oficial.
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Gravitava sobre a sua mão o pequeno espinho, que o oficial havia arrancado.
— Afaste-se agora Casadei! — gritou o policial, pressentindo que
algo terrível estava para acontecer.
Mas Casadei parecia estar em estado de choque. Ele via aquela luz
intensa que envolvia a criança e não conseguia se mover. A criança olhava
para aqueles dois homens com desdém. Ele fez um gesto como se estivesse
usando um arco. Enquanto esticava o braço como se puxasse o arco, o
espinho que ele estava manipulando aumentava e se duplicava.
— Saia logo daí, cara! – mais uma vez gritou o policial, sem
qualquer reação de Casadei.
Valaistu já tinha esticado os braços no limite. Os espinhos tinham se
multiplicado exponencialmente. Ele tinha sobre a sua mira um Casadei
totalmente indefeso. Antes de lançar os espinhos, que a esta altura pareciam
verdadeiro dardos, o garoto pronunciou, sem demonstrar qualquer tipo de
sentimento:
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— Desapareça!
Logo em seguida atirou. Antes de ver os dardos perfurarem a sua
vítima, o garoto perdeu a consciência e todo o poder que fluía de dentro dele
o tele transportou para um lugar distante dali. A criança, então, não pôde ver
as dezenas de dardos perfurarem não Casadei, mas sim o outro homem, que
instintivamente havia se atirado para proteger o inerte oficial.
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Pilarium 2051
Um dia depois do assassinato
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Oficial Casadei, Pilarium é uma das cidades mais bem equipadas, quando o
quesito é segurança. A nossa corporação tem trabalhado com eficiência todos
esses anos, logo após a reconstrução. Sua postura, durante a operação foi, ao
menos, questionável. E essa história... – o inspetor se aproximou de Carlos e
colocou uma das mãos no ombro inerte do jovem – essa história não tem
cabimento. E o pior, sabemos que você não ingeriu qualquer tipo de droga,
nos dias que precederam a operação. Então, que conclusões eu posso tirar de
tudo isso?
— Senhor, eu... — o jovem Carlos, não sabia o que dizer.
O inspetor se afastou e, novamente voltando para a janela, disse,
fitando a cidade:
— Que conclusões posso tirar, Carlos? Que tudo é verdade? É
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doutor Antunes.
— Sem hipocrisias comigo, doutor Antunes. Nós bem sabemos que
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haveria alguma conexão entre aquela criança, que agora deveria ser um
jovem, e aquela jovem mulher.
Pilarium
Dias atuais
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livro Prodigiorum Libellus. Chegou a conjecturar que foi tal livro que a
pequena criança, que fugia de sua perseguição naquela noite, havia tocado. E
chegou a conjecturar que também aquela jovem poderia ter tido contato com
o livro. Somente isto explicaria os poderes daqueles dois. Tais investigações
o levaram ao nome de Victor Obsequens.
Duas vezes ele tentou marcar um encontro com Victor, em sua
mansão, mas sempre fora repelido. Então, numa medida audaciosa, ele
deixou a seguinte mensagem para Victor:
“Sei do livro. Sei da profecia, nele contida. Sei que você também sabe
de tudo isso. E também sei que você sabe onde está a “criança monstro”:
Valaistu. Dê-me o paradeiro deste homem. Ou então...".
Ao ler a mensagem enviada, um frio percorreu a espinha de Victor.
Entretanto, o que mais lhe tinha incomodado foi aquele “ou então” no final
que lhe soara como uma ameaça. Ele se sentiu um pouco acuado e isso muito
o incomodava.
Os fatos que estavam sucedendo naquelas semanas criavam dentro da
mente de Valaistu muita perplexidade. A sua meditação já não fluía bem, os
conselhos que dava para sua gente, nos subterrâneos de Pilarium, pareciam-
lhe tão mecânicos e, por isso, destituídos de vida, que ele se sentia cada vez
mais irrequieto. A busca pela paz profunda tornava-se cada vez mais uma
tarefa impossível.
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Além disso, cada vez mais ele se preocupava com o destino desta
Liga Literária, que Victor Obsequens havia criado. A inconstância dos
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— Olhe por onde anda, cabra sorumbático! Até parece que tá com a
mãe na forca. — vendo que Valaistu nem dera ouvido a ele, Aracaê terminou
de entrar no castelo e, jocoso, provocou as duas mulheres ali reunidas —
Cheguei, meu amores. Quem vai vir me dar um chêro primeiro?
Com o coração querendo saltar pela boca, Valaistu corria
desesperadamente rumo ao esconderijo, nos subterrâneos de Pilarium, no
qual ele e sua gente habitavam. Ainda lembrando-se das últimas palavras de
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Zintrah, ele conjecturava que a única forma de ser atingido era através
daquele povo simples, frágil, abandonado pelo governo da cidade. A pessoa
mais distante de sua casa. E o truque do bilhete foi uma forma ardilosa de
triá-lo de lá. A pessoa que está incriminando os membros da Liga sabia de
muitas coisas, inclusive da existência de Victor, de seu costume de
comunicar-se de maneira arcaica e de sua residência secreta. Seja quem for
que tenha feito isso, certamente, não tinha boas intenções. Era essa certeza
que assolava o coração daquele jovem, pois ele temia pela pequena
comunidade, guiada por ele, nas galerias dos esgotos de Pilarium.
Valaistu, ao chegar ao local onde morava e ao ver a carnificina diante
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corpos tinha escrito o seu nome de forma bem legível e com o sangue havia
deixado um endereço que lhe era bem familiar:
anos.
— Por que você fez isso com estes inocentes? Por quê? – sem impor
qualquer tipo de barreira ou máscara consciente e inconsciente, Valaistu
deixou-se levar pelo ódio e pela dor ao berrar desmedidamente –
DESGRAÇADO! FILHO DA PUTA! Eu... Mesmo que custe a minha vida
eu vou fazer você pagar por isso.
Cego de tanto furor e usando de forma exponencial o seu poder,
Valaistu, começou a fazer brotar sob o pavimento daquele local, grossíssimas
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Valaistu, deu floradas e assim foi possível perceber que era um pé gigantesco
de Ypê Amarelo. A população da cidade, que contemplava aquela árvore não
sabia o que pensar. Menos ainda, quando do alto de sua copa, tinha aparecido
aquele jovem, tomado pelo furor, que urrava aos quatro ventos:
— Pilarium, a suntuosa, hoje, um canalha acabou com vidas
inocentes que você fez questão de recusar. Porque eram pobres, doentes,
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devia procurar.
Mas toda essa alegria, essa paz verdadeira... Tudo isso lhe foi
usurpado com uma brutalidade sem igual.
O canalha que acabou com sua vida duas vezes deveria pagar. E mais
uma vez o desejo de se vingar aflorou dentro de Valaistu. No entanto, qual
não foi a sua surpresa quando ele chegou à sala, o local da execução macabra
de seus pais. Ali, diante de seus olhos jazia inerte o corpo de um homem. Ele
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Alguém tinha matado aquele homem, em sua antiga casa. Tudo isso
para incriminá-lo, de uma forma pavorosa. Enquanto ele se atormentava com
estes pensamentos, Casadei moveu-se lentamente:
— Va... Laiustu... Eu... Eu...
Assustado, Valaistu dirigiu-se ao moribundo e começou a perguntar
freneticamente:
— Quem fez isso com você? Quem matou os meus pais? Quem
matou a minha segunda família, no subsolo de Pilarium? O que essa pessoa
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o que estava para acontecer e sentindo o que devia fazer, sussurrou para
Valaistu:
— Fuja!
Após dizer isso, o pobre homem ainda encontrou forças para empurrar
com a central:
— Central, o homem que causou o caos na cidade e atingiu
mortalmente o ex-oficial Casadei se chama Valaistu.
— Onde ele está? — perguntou a voz do outro lado?
— Ele desapareceu, de forma bem estranha. Aconteceu tipo...
A voz do outro lado cortou a descrição do policial ao dizer, com uma
voz fria e sombria:
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Capítulo 10
A Morte da criada Margaret e do Reitor.
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ficou tão aflita que deixou a vassoura despencar de uma das mãos, e antes
que esta chegasse ao chão, um clone de Alyha a pegou fazendo com que a
mulher entrasse em um tipo de surto, logo controlado pela hipnose da jovem.
- Calma. Vamos ter muita calma, minha querida Margaret. - tateando
as mãos sobre a testa da face agoniada da senhora. - Acha que viu uma coisa
foi?
- A...Você... - o terror estava em seu semblante.
- Eu? Eu o que anjo?- Gracejou a fria Alyha, que até então achava
tudo aquilo divertido. Até que...
- Você sempre me deu muito medo. Desde criança com essa maldade
desentendida, mas que na verdade sabia e muito bem o que fazia!
O semblante da jovem transformou-se imediatamente.
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entanto o mesmo não jazia ali ou dentro do armário, foi quando dois
seguranças do Campus, que levavam naquela hora todos os dias o café
descafeinado e bem quente do exigente Moura Santini romperam como de
costume a porta e se depararam com a cena: O corpo do professor ao chão,
Alyha sobre ele tentando arrancar as pastas e Margaret imóvel e com os olhos
esbugalhados, nitidamente com ausência de qualquer resquício de
consciência.
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- Você quietinho!
No rompante, o outro conseguiu desvencilhar-se da cena correndo
pelos corredores, passando mensagem pelo pulso, alertando toda segurança
da emergência do episódio. O que fez com que Alyha se concentrasse e, em
alguns segundos, conseguiu emanar mais de vinte clones dela, espalhando-os
por todos os cantos do Campus.
Ao olhar para Margaret, algo como sangue gotejava do canto da boca,
estava claro que agora eram dois homicídios. Quando a pessoa é posta sobre
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meu jovem?
Objetando um sim submisso e completamente entorpecido deu a
segunda ordem ao clone:
- Solte-o e vá para o fundo do Campus!
Imediatamente olhou pela fresta de uma das vidraças e viu que a
movimentação a sua procura era grande, pensou alto:
- Inferno, chamaram a cavalaria!-Ao cruzar a porta ponderou arrancar
as provas das mãos nem que tivesse que arrancar as mesmas do corpo,
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ao menos entender o verdadeiro por que. Alyha agachou rente ao guichê dos
portões da Universidade ainda abertos graças a imbecilidade da guarda de
segurança que cria que violência se resolvia com testes psicotécnicos e jogos
de xadrez, todos devidamente simulados na mais alta ponta de tecnologia da
atualidade.
- Bando de babacas!-resmungou.
E logo que viu um jovem pronto para apanhar sua caminhonete de
alto luxo, correu até ele passando uma das mãos em seu pescoço e
impetrando:
- Você me dará as chaves porque se lembrou que veio para
Universidade de carona com seu melhor amigo e deixou seu veículo em casa.
Ele sacolejou a cabeça como se tivesse sido tomado por uma força
maior e prontamente abriu as mãos. Alyha passou para frente dele, ficando
face a face, e com um aceno de mãos, sem tocá-lo, fez com que o moço
cerrasse os olhos e despencasse. Ela segurou seu corpo desfalecido, abriu a
porta e o jogou no banco do carona, sem perder de vista todo o caos que se
instalara ao seu redor. Atrás de si viam gritos histéricos:
- Peguem-na!
- Andem, homens, não a deixem fugir!
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Livro 2
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mesmo assim possuía quatro torres e três andares, que se elevavam numa
planta quadrada. O seu piso térreo apresentava duas entradas em pedra
natural, um grande portão arcado, que podia ser bloqueado do interior com
barrotes transversais de madeira e nos dois cantos exteriores duas torres
hexagonais com telhados cônicos se erguiam imponentes. Os seus pisos
superiores eram de tijolo, com brilhante enquadramento em alvenaria.
Havia um pátio interno com jardim e quatro pilares góticos, com
arcos que levavam ao salão principal. Dali se espalhavam cômodos e mais
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salas trancadas, que ele disse estarem em desuso por enquanto. Pelo lado de
fora era possível ir até as torres em uma escada circundante e de lá a visão da
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pesava, esquentava. E apertava o coração dela, que lutava em vão para não
notar nem se importar. Mas talvez já fosse tarde demais. De uma maneira que
nem ela soube explicar, Damon já tomara uma parte dela para si e já ocupava
seu ser, seu pensamento, seu amor.
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citar: "... essa sua maldade desentendida, mas que na verdade sabia e muito
bem o que fazia!". A pergunta era: Como? De onde? Talvez isto fosse algo
com que devia se ocupar em desvendar antes de qualquer um daqueles que
agora seriam seus "melhores amigos", afinal, “nunca acredite em nada ou
ninguém que não possa controlar”, fora ininterruptamente sua frase de ordem
e de sobrevivência até aquela presente ocasião.
Aracaê não via tanta comida assim desde os tempos que trabalhava de
garçom nas pizzarias da cidade onde crescera. E não fez questão de guardar
os bons modos quando seus olhos se viram diante de tanta comida:
- Eita, que hoje eu vou tirar a pança da miséria! O meu "padinho"
Padre Cícero! - imediatamente apanhando o que seria um refinado
guardanapo de seda bordado ao meio com o brasão da família Obsequens,
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poderia esclarecer para nós aqui como foi que o senhor veio parar na tal casa?
Todos os olhares se fixaram em Armand, pois a dúvida não era só de
Miri. E aguardaram sua resposta.
Armand apenas observava o grupo como sempre fazia, sempre no
mundo dele, sempre isolado mesmo estando em um grupo tão distinto.
Inúmeras coisas passavam pela cabeça dele, as atitudes de Zintrah, a fúria de
Damon, a irreverência de Miri que ele sabia bem que era só teatro. Quando
ouviu a pergunta dirigida a si ele pensou “Interessante”, e respondeu:
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alguma mente maligna estava tramando contra ele, desde criança, e contra os
convivas daquela mesa. Esse turbilhão de pensamentos e sentimentos o
impedia até mesmo de se concentrar na conversação dos outros ali reunidos.
A vontade de comer não vinha. Toda aquela fartura só o fazia relembrar da
miséria que era a sua vida e a de sua gente e novamente revivia tudo o que
havia acontecido. Era um círculo vicioso que o afligia constantemente. Estava
a ponto de explodir.
Na tela, o noticiário mostrou a bela apresentadora, com o cabelo
branco que era moda, e um costume azul metálico, falando de casos
misteriosos tinham ocorrido na semana anterior e ainda demoravam a ser
solucionados. Quando as palavras “assassinatos” e “poder” foram proferidas,
todos na sala passaram a prestar atenção ao que ela dizia:
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que além da violência, contaram com fatos estranhos, nunca antes relatados
na cidade. Vamos agora com uma reportagem especial sobre esse caso
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trancou dois detetives em seu apartamento e fugiu. Dessa vez não houve
como negar e ele empreendeu uma fuga cinematográfica na ponte, com
perseguição policial e capotamento do carro do ator. Os policiais contam que
não sabem como fugiu. Em um momento estavam sob a mira de suas armas,
detetive Carlos Casadei, escapando como por encanto do cerco policial, como
informamos aqui há alguns dias. No apartamento do ex- detetive foi
encontrado um relatório completo sobre o assassino, parece que há anos ele é
suspeito pela morte dos pais e de dois policiais, quando ainda era um garoto.
Seu nome é Valaistu e a polícia retomou as investigações sobre o caso.
E por último foi o assassinato do Reitor da Universidade, o Doutor e
Ph.D. Moura Santini e sua empregada Margareth. A professora Alyha Silva
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esconder seu corpo no armário, quando talvez tenha sido surpreendida pela
faxineira Margareth. A senhora também acabou morta. Ambos de maneira
estranha e inusitada. O sangue do reitor parecia ter sido drenado por um
ferimento em sua traqueia, enquanto da senhora ainda não se sabe a causa.
Ela teve hemorragia interna. Não há ferimentos externos. Ainda mais suspeito
foi a fuga de Alyha Silva sobre o campus da Universidade. Testemunhas
contam que havia vários clones dela e a polícia ficou dividida, sem saber a
quem perseguir”.
A repórter voltou-se para outra câmera, muito séria.
- “Várias teorias foram formuladas para esses estranhos casos em uma
semana difícil para nossa cidade, mas até agora nada foi explicado e as
investigações continuam. Se vocês virem qualquer um desses suspeitos,
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Aracaê. - É que eu tô com um coceira na entrada do rêgo, e toda vez que essa
coceira aparece é chuva de certo e...
- Cala boca, praga! – Zintrah jogando a taça de vinho na cara do
pequeno num supetão para ver se ele dava conta do verdadeiro clima que
pesava ali.
Damon falou para os outros, furioso:
- Mais uma vez esse desgraçado misterioso acabou com nossas vidas!
E onde está Victor? O que ele fez até agora para nos dar pistas desse
assassino?
Valaistu olhou aquela cena, que parecia um desabafo de Damon,
depois recordou do noticiário e de sua face estampada para toda a cidade de
Pilarium. Algo nele estremeceu. Ele queria desabafar de alguma forma, como
o fez o ator, mas não lhe vinha alguma ideia para exteriorizar o caos que se
fazia dentro dele. Com os olhos meio que perdidos, ele se levantou e disse
aos outros:
- Com licença. Tenho que me retirar, pois esse noticiário azedou ainda
mais este jantar.
Depois de dizer isso, Valaistu se retirou da sala de jantar. O coração
batia acelerado. Uma vontade louca de gritar e de chorar tomava o seus
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ele. Naqueles dias ela fizera a diferença e tornara seus dias melhores, mais
suportáveis. Talvez por ser tão doce e serena, ou por ter a idade que Sílvia
teria, ele se sentia muito ligado a ela, com um sentimento de proteção que só
aumentava com o tempo. Não quis pensar na atração que ela despertara nele
naqueles momentos no teatro e que ele tentara não pensar naqueles dias. –
Vou para meu quarto, Ciana. Depois a gente se fala.
- Tudo bem, Damon.
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embaixo dela, agitado, sacudindo o rabo, orelhas em pé. Ela pensou que
talvez tivesse ali algum gato ou outro bicho. – O que há com você, garoto?
Ele realmente se agitava latindo, pronto para entrar. Ficou sobre as
patas traseiras, apoiou as dianteiras na porta e começou a arranhá-la, ganindo
e rosnando.
- Gibran, o que é isso? – Ciana estranhava o jeito dele. Só por
curiosidade testou a porta, que estava trancada. Daquele lado do corredor, na
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penumbra, só eles dois. Falou com mais firmeza: - Vamos, pare com isso!
Gibran! Pro quarto! Agora!
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tempo, porque o que não tem hora e data, jamais fica no passado. - gracejou
com um olhar quase maligno.
- Hora?- Damon semelhava um lobo ardente.
- Uma da madrugada...
Onde estava com a cabeça?- esfregando as mãos uma na outra. Damon não
sabia elucidar em pormenores nem para si mesmo a razão pela qual Madame
Zintrah lhe invadia tanto a alma. Mas era fato, ela o enfeitiçara.
De repente, ao fundo, no hall gigantesco do luxuoso castelo, uma
canção num tom quase inaudível principiou a tocar num raro CD player. Ele
franziu as sobrancelhas e afiou os ouvidos para decifrar que melodia era
aquela e ergueu o corpo caminhando até onde jazia o instrumento musical, e
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Atravesso o travesseiro,
Te reviro pelo avesso!
Tua cabeça enlouqueço!
Faço ela rodar!"
Foi neste preciso segundo que sentiu algo intenso o jogar contra a
parede com os braços para cima. Erguidos como se estivesse pronto para ser
crucificado, no entanto, era ela com seus envolventes olhos verdes,
exclusivamente vestida com as luvas que usava para ocultar a inúmeras vezes
que tentara tirar a vida no sanatório, véu negro rendado envolto no rosto, suas
botas de couro altas que navegavam nos adágios do moço e mais nada.
Imponente sussurrou com uma voz doce e macia como até então Damon não
ouvira:
- Suas últimas palavras...
O ator num ato de completa insanidade a agarrou pelos longos cabelos
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jogando desta vez o corpo dela pela parede e mordendo a sua nuca revidou:
- Cala a merda da boca, você é minha!
Damon imobilizou-a entre a parede e seu corpo, tomando dela tudo que tanto
tinha desejado.
Eles se beijaram com volúpia e luxúria. E se agarraram dominados
pelo desejo, as mãos dela despindo-o, as dele percorrendo a pele nua e macia.
Em segundos estavam nus e arfantes, e ele a segurava sob as coxas,
exatamente no ponto onde suas botas terminavam e começavam aquela pele
suave. Logo eram um só, arfando e gemendo contra os lábios um do outro.
Foi mais forte do que imaginavam, muito mais intenso. Ali mesmo,
sob o relógio, eles se devoraram com se o tempo fosse deles, dominados pelo
desejo alucinante, esquecidos por um momento de quem eram e de onde
estavam. Moviam-se como numa dança secreta, mais antiga do que eles, até
que juntos como estavam chegaram a um lugar que parecia só deles, fazendo-
os esquecer de tudo.
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Somente o candeeiro ao lado do senil emanava uma tímida luz quando uma
silhueta masculina esboçou breve movimentação.
- As cartas. - a voz grave resvalou em tom mandatório.
Victor levantou-se e entregou nas mãos grandes, com um anel
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escurecido:
- Vamos terminar isso no quarto.
Zintrah o segurou pelo queixo e sorrindo segredou:
- Miau!
Damon sorriu devagar, segurou a mão dela e juntos percorreram um
dos corredores do térreo, ela somente com a camisa dele, Damon sem camisa,
de calça e sapatos macios de couro, silenciosos. O tapete abafava seus passos.
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a latir e quis entrar no escritório de onde ele saíra, mas pálido Victor
conseguiu fechar a porta rapidamente.
- Calma, somos nós. Está tudo bem. – Disse Damon, com medo de
que ele tivesse um enfarte bem ali, pois o senhor levava a mão ao coração.
Zintrah já se abaixava e pegava o papel. Seus olhos sempre atentos
bateram no conteúdo um tanto misterioso e algo chamou sua atenção. Victor
recuperou-se e tentou pegar o papel, um tanto ansioso:
- Dê-me isso!
Ela, mais alta e curiosa, afastou a carta dele, leu de novo e então,
encarou-o.
- O que é isso? Uma charada?
Gibran continuava a latir, agitado, arranhando a porta, cheirando
embaixo dela.
Damon estendeu a mão e ela entregou a ele, ainda fitando Victor, que
apenas suspirou, parecendo cansado. Damon leu e franziu o cenho.
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Murmurou:
- É a frase do livro Dona Flor e seus dois maridos. Do que se trata
isso, Victor?
- Eu vou falar. Ia contar a vocês. Mas preciso de todos juntos.
Venham, vou pedir para os empregados acordá-los. E tragam esse cachorro.
Estou velho demais para tropeçar e cair por aí.
Damon chamou Gibran. Mas o cachorro nem lhe deu atenção, latindo
para a porta fechada. Por fim, pareceu desistir e saiu correndo na frente deles
em direção ao salão. Só então se dirigiram para lá.
Ao começarem a caminhar para o salão, Zintrah deu uma última
olhada para trás e observou o vulto negro de Armand esgueirando-se da
mesma sala em que Victor acabara de sair. Ele a observou, fez sinal para que
ela ficasse em silêncio e desapareceu na escuridão do corredor.
Valentin desceu e viu Zintrah e Damon ao lado de Victor. A cena era
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engolfou foi até pior, pior do que pudera sequer imaginar. Seu olhar ficou em
Damon e ela, ao entender tudo, teve vontade de sair dali correndo, pois sentia
uma quase que incontrolável vontade de chorar.
Aracaê cruzou correndo todo hall, ajeitando a calça cedida por Victor
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intensidade, contra o assassino de seus pais. Daquela vez não ficou quieta.
Retrucou com uma frieza que desmentia o que sentia:
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fica calada quando ela fala o que quer, não está mais aqui!
- Esse é problema dela, MEU AMOR... nunca deu, não é ? O nome já
diz...Está no cio... CIANA!
- Prefiro escolher e não distribuir como cachorra no cio! Quando eu
der, vai ser por que quero! E garanto que não será para qualquer um! -
Olhando com nojo dela para Damon.
Valentin tentou conter as duas:
- Moças, acho que essa deveria ser uma discussão particular, não?
-Ela é que toda hora joga piadinha pra mim, Valentim. Chega!
Zintrah sabia que tinha tocado no calcanhar de Aquiles da jovem e,
provocante desceu o tom e replicou:
- Cachorra não, fofa, gata, que arranha, faz ele gemer e no fim fala
MIAUUUUUU!!!
Valentim fitou as duas e depois Victor:
- Nos chamaram aqui para isso?
- Vocês duas estão loucas? - Damon despenteado, sem camisa,
começava a se enfurecer com aquilo. - Valentim está certo! - Ele apontou
para Victor. - Temos algo importante para discutir aqui. Vamos, Victor, fala
logo essa merda!
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Aracaê disparou:
- Não foi para ver a nega pelada com o seu "Demo" não?
depois soprou.
Ciana lançou um olhar de morte a Zintrah ao passar por ela, quase um
desafio. E seguiu para o salão com Valentim. Ódio, mágoa e ciúme estavam a
ponto de sufocá-la. Procurou Gibran com o olhar e não o viu em lugar
nenhum.
Quando Damon e Zintrah se reuniram aos demais, que já haviam se
acomodado em sofás e poltronas do salão, Victor tomou a palavra:
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- Bem, eu recebi uma carta de certa forma bem inusitada, e sim quero
falar do conteúdo dela com todos aqui presentes.
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situação.- É lógico que tudo indica que essa menção nos guiará a um nome,
certo? Ninguém pensou nisto?
- De onde veio essa carta? De quem? - Indagou Damon, não gostando
nada daquilo.
Obsequens foi preciso:
- Alguém que está disposto a pôr todo plano, toda a importância e
supremacia da LIGA LITERÁRIA em xeque!
– Supremacia? – Indagou Armand com ar de deboche.
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- Sorrindo em sussurros.
Foi quando Victor foi talhante:
- Os opostos se atraem, e se completam.
O que fez Alyha e Valaistu se olharem e todos, um por um, foram
voltando o olhar para as duas moças. A meretriz e a jovem Ciana.
- Ah, não! - Ciana sentou de novo, horrorizada.
- Merda! - Damon murmurou.
- Mas que marmota é essa? - rezingou Miri. - Agora até você,
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- Por que essa charada sem mais nem menos, ainda mais direcionada a
Zintrah e Ciana? – Valentim encarou Victor.
- Meu caro jovem, - respondeu Obsequens. - como não sabemos quem
está nos enviando, está claro que o autor preza pela natureza de cada um de
vocês. Por isso nesta missão quem deverá ir será Madame Zintrah- esticando
o braço esquerdo e com o braço direito: - e a jovem Ciana.
- Eu vou junto. - Damon disse de imediato.
- Sinto muito, meu caro jovem,- redarguiu o senhor- mas Zintrah e
Ciana são as pessoas adequadas para esta missão. É o que o bilhete
especifica.
- Eu vou e acabou. - Damon foi sistemático.
- Faça melhor, Damon! Vá com ela! Eu estou fora! - Ciana, corada,
encarou Victor.
Madame Zintrah cruzou a sala e fitando Damon com controle,
prometeu:
- Eu cuido dela. Tem minha palavra. – E voltou para o lado de Ciana,
disparando: - Ok, por mim o lobo mau está pronto para comer a chapeuzinho!
- Vá se f... - Ciana calou-se a tempo. Ergueu-se, bem de frente para
ela, tremendo.
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pulso dela:
- Espere, Ciana. Essa missão pode levar ao maldito que queremos
encontrar.
- Ninfeta, seja racional, esqueça o seu problema comigo, que tem
exatamente 1.80 m, cabelos e olhos lindos e muito gostoso...- limpando os
lábios.- E vamos de boa, guria, estamos todos no mesmo barco!
Ela puxou o pulso e respirou fundo. Alguma consciência retornou.
Olhou com desprezo para a meretriz. Depois para Damon.
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manhã! - Pondo as mãos para trás num tom imperativo. - O que as moças
dizem?
Zintrah suspirou e deu sua resposta:
- Por mim, tô dentro, agora se ela levar aquele saco de pulga, vou
levar o meu também. - Puxando Miri pela orelha, que olhou para cima na
direção dela e os bracinhos:
- Agora vou ser totó também, é? "Chacoalhar " o rabinho?
- O Gibran fica. – Ciana disse cansada.
- E se tudo isso for uma armadilha? – Preocupou-se Valentin.
Victor o encarou:
- Este é um risco que teremos que correr, caro Valentin, mas por outro
lado, quem melhor que as duas para suportá-lo?
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fora? Eita, que isso é zica da mãe Dolores, só pode! As duas sabem quando
vou ter uma chance de pegar duas "muiés" de uma só vez? - Levando outro
Confie em mim, ninguém conhece aquele canto melhor que eu. E se quem
mandou a charada souber, pode se afastar e não saberemos o que queria.
Cuido dela, mesmo a contragosto.
- Não a provoque, Zintrah. - O olhar dele era sério. - Não tire os olhos
dela.
Eles começaram a se dispersar e Ciana subiu para se trocar e conferir
se Gibran estava no quarto. Damon esperou até ficar sozinho com Victor
Obsequens. Então se aproximou muito sério e encarou o homem
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mais furioso ao ser deixado no vazio sem dar sequer uma resposta ao
enigmático sujeito.
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juntos, deixava-a quase prostrada de uma maneira que não conseguia reagir,
que a desconcertava e desestabilizava. Sabia que precisava se equilibrar, que
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um pimentão.
- Droga! - murmurou, pensando no que os outros diriam se a vissem
assim. Tinha certeza que Zintrah faria o favor de contar. - Não tinha outra
droga de loja, não?
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Zintrah deixou que a pequena colocasse toda ira para fora e foi
esquivando dela. Não satisfeita, fez cara de surpresa quando passou a mão no
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as mãos e se entregando a dor pura que a consumia desde que os vira juntos.
Zintrah passou a frente dela e repetiu o aviso:
- Sempre atrás de mim, apesar de saber que desta forma você queria e
muito estar na frente. - E ignorou a moça pondo-se a caminhar entre as
estreitas ruas.
Ciana não saiu. Sua vontade era sumir. Chorou até ficar com os olhos
inchados, até parecer não sobrar nada dentro dela. E só então, sabendo que
não tinha como fugir dali, pois seu objetivo era pegar o assassino de seus
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como há muito Ciana não via. Até esqueceu sua roupa curta e decotada, seus
olhos curiosos não perdendo detalhes.
Zintrah logo que viu o moço que deduziu ser Vadinho, a partir das
características que o homem lhe dera, puxou Ciana para um canto:
- Agora faça justiça à profissão mais antiga do mundo. Sua vez!
Arrume um jeito de levá-lo para os fundos por onde passamos. E lá daremos
um jeito nele.
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segundos, deixou.
Ao mesmo tempo, a energia pura de seu poder percorreu-a mais
intensa do que qualquer das outras vezes. Por fim reagiu, tentou se afastar e
murmurou:
- Venha comigo, Vadinho.
- Carlinhos, meu bem. Mas vamos! Me leve ao paraíso!
Ela conseguiu pular para trás e agarrou a mão dele, puxando-o atrás
de si. Os colegas dele riram, gritaram obscenidades e assobiaram. Ciana saía
o mais rápido possível dali.
Zintrah acompanhava tudo a distância e a espreita.
Quando a multidão começava a dispersar, ele a puxou, encostando-a
nele por trás, suas mão subindo perigosamente por sua barriga, sua boca
mordendo-a no ombro. Um arrepio a percorreu e Ciana arfou, tentou fugir, se
debateu com o coração acelerado. Por fim, conseguiu sorrir forçado,
anunciando:
- Aqui não. Tenho um lugar melhor.
E puxou-o de novo, quase correndo para os fundos, em uma viela
onde Zintrah os aguardava. O rapaz arregalou os olhos ao ver a loira de fada
e exclamou:
- Deus me ama!
A meretriz retirou lentamente o crucifixo do pescoço, pôs bem a
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Zintrah sorriu para jovem e pela primeira vez de modo sincero. Veloz
moldou o crucifixo em punhal e deslizando em sua garganta ofegante,
disparou:
- Quero a carta que você recebeu...E quero agora! - Com uma voz
extremamente sedutora.
- Do que está falando? - Gaguejou o sujeito que gotejava em suores.
-Não me faça perder a paciência. Acredite...- sussurrou em seu
ouvido.- Não vai gostar de me ver impaciente. Onde?
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- Não sei, dona. – Ele foi bem sincero, um tanto apavorado com tudo
aquilo. Indagava-se se não seria a bebedeira.
Ciana nem teve tempo de insistir, quando uma barulheira veio da
frente dentro do Bar e dos botecos da viela do Samba. Era a Polícia. Sagaz, a
meretriz disse a jovem:
- Se livra dele! Acho que está na hora de cantar para subir!
- Me livrar dele? Como? - Ao mesmo tempo que dizia isso, ela gritou
para Vadinho. - Vai, corre, some daqui!
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alcançar as armas. Atrás de si ouvia a luta, mas não teve tempo de olhar.
Ordenou:
- Algemem-se uns aos outros de costas! Rápido! Agora!
- Mas que merda... O que é isso, sargento? – Gritou um deles, quando
todos começaram a obedecer, mesmo suas mentes gritando pelo contrário. No
final, havia um círculo deles de costas um para outro, um pulso algemado ao
do colega ao lado. Olharam horrorizados para ela, como se fosse uma bruxa.
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cidade.
Ao chegarem ao posto, a meretriz expôs:
- Procure algum que funcione!
- Mas como?
- Ligação direta, honey! - Redarguiu a madame.
- Posso manipular o carro, mas apenas até meu poder durar.
Zintrah pensou e emitiu com a mão no queixo:
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- Hum!
Ciana viu alguns carros parados e tentou ligar o primeiro, um amarelo
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vento na face, o que lhe dava o que mais amava, liberdade de ser ela.
- Se parar essa joça te porro a cara, ninfeta! - disparou.
- Vou te jogar é pra fora, se não calar essa boca! - Ciana jogou as
palavras, sem se importar com mais nada. A corrida, a fuga, aquele rock
louco, deixavam-na nervosa, ao mesmo tempo um pouco enlouquecida
também.
Atrás seis viaturas se cruzaram formando um verdadeiro comboio
seguindo as duas. Louca a prostituta berrava, abrindo a blusa e mostrando os
seios:
- Podem vir quente que eu estou fervendooooo!!!!!
Uhuuuuuuuuuuu!!!!!!
- Sua maluca! - Ciana gritou, fazendo o carro correr o máximo
possível.
Um auto da polícia disparou pelo lado esquerdo alcançando e
emparelhando com o delas.
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esquerda! - Pulando para o banco de trás, inclinando o corpo para fora mirava
insistentemente nos pneus dos veículos policiais, atirando sem parar, até que
um capotou ultrapassando por cima do auto onde as duas estavam e explodiu
mais à frente, o que obrigou a jovem conter o corpo e gritar:
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aguardava.
- Merda! Zintrah!
- Abandonar o Navio!
- Ai, meu Deus! - Ciana fechou os olhos e se jogou para fora do carro.
- Sim.
Elas mal podiam respirar. Não podiam descer ou cairiam lá embaixo,
onde o carro já batia violentamente contra as árvores.
Policiais com seus capacetes infravermelhos se aproximaram de onde
estavam.
- Olha isso! - Ciana apontou. - Vamos dar o fora logo! Estou sem
poder quase nenhum!
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chegaram lá, arfantes e arranhadas, deram com seis policiais armados e que
as tinham sob a mira.
Elas se olharam, Madame Zintrah suspirou e dessa vez beijou o
inseparável crucifixo:
- Nunca achei que diria isto, mas seja o que Deus quiser! Carne mal
passada ou frangos? - Indicando os homens.
Ciana ficou muda. Concentrou-se, buscou um resquício de poder
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Ciana correu para eles, sabendo que não tinha jeito. Só lhe restava
buscar mais contato físico, saber se podia conseguir seu poder de volta em
pouco tempo, pois não sabia lutar direito e nem tinha estado numa situação
daquelas. O que tinha era só a coragem.
A meretriz lutava como poucas mulheres e muitos homens. Fora o
que a vida lhe dera. O primeiro e o segundo vieram com tudo e, sacana,
soltou das suas:
- Adoro brincar a três! - desfechando um golpe certeiro na glote de
um e soco nas partes do outro que caiu ajoelhado ao seu lado, embora a tenha
puxado pelo cabelo, o que a fez ser mais irônica: - Agarrando pelo cabelo...
Assim eu gozo!
Mesmo assim, sem piedade ela se desvencilhou das mãos de seu algoz
e ao jogá-lo no chão, esfregou a bota na cara dele e sem pena cravou o punhal
nas suas partes, fazendo-o berrar.
- Odeio gozar com pressa! Babaca! – E já partia contra o terceiro.
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A reação dos policiais veio mais rápido do que Ciana pensava. Três a
cercaram e o medo ameaçou paralisá-la, mas sem ter tempo para pensar, ela
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mais fundo na insanidade interna onde jaz uma psicopata que a habitara sem
precedentes.
- Você está presa, Madame Zintrah! - Ele gritou com soma das forças.
Ela o olhou com frieza e despeito e redarguiu:
- Que pena...Você está morto! - e cravou o punhal ferino, que vazou
do outro lado do pescoço do sujeito.
Ciana viu o ódio no olhar do policial e sua mão, com o que parecia
uma espécie de arma de choque. Estava acabada e teve certeza de que iria
morrer.
Na raça, ainda que também bem machucada, Zintrah, que sempre deu
valor à sua palavra, recordou-se do que prometera a Damon.. E foi num chute
inesperado na mão do homem da lei que ela jogou a arma próxima a Ciana,
segurou o cara e disse:
- Manda ver, é todo seu!
Ciana pegou a arma sem vacilar, tropeçando. Nem parou. Na hora
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mirou nele e atirou. Não era o bastante para matar, mas a dor era terrível,
percorria todos os músculos do corpo e paralisava momentaneamente os
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- Ciana...
Ela o ignorou. Parecia infinitamente cansada e magoada. Ele não
sabia tudo que ela tinha passado naquela noite, as muitas provas que fora
obrigada a enfrentar, a começar por ele. Vacilou um pouco ao subir o
propósito. Gostava demais dela. Nunca quisera fazer com que ela sofresse.
Voltou-se e encarou Zintrah. Ela apenas observava com seu ar decadente,
jocoso.
Ele terminou de se aproximar dela e indagou, passando um olhar por
todo seu corpo, preocupado, atraído como sempre:
- Você está...
Zintrah não o deixou terminar. Segurou o queixo dele com força e
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junto com a dor. Decidiu naquele momento que era a última vez que chorava
por ele. Olhou de novo para frente e entrou com Valaistu e Valentim,
sentindo o corpo todo doer. E a alma mais ainda.
Zintrah, quando o beijo acabou, fitou Damon dentro de seus olhos
azuis escurecidos pelo desejo e disse:
- Promessa cumprida!
Sem mais nem menos se afastou dele e entrou no castelo.
Damon ficou lá fora naquela manhã fria e nublada sozinho, tenso,
Assim que chegou ao seu quarto Zintrah pensou somente num banho.
Ela tirava a roupa e via os cortes resultantes daquela missão, quando viu uma
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sombra entrar no recinto e um perfume que tão bem conhecia. Era Damon.
Damon fechou a porta atrás de si e seu olhar percorreu o corpo dela,
totalmente nu. Mesmo arranhada, com sujeira de terra e sangue, ela era linda,
um mulherão. O fogo percorreu o corpo dele na hora e ele se aproximou
devagar, sem conseguir tirar os olhos dos dela.
- Precisamos conversar, Zintrah. - Embora fosse difícil se concentrar
O olhar dela foi capcioso, pegou as mãos dele e roçou de leve num
dos de seus seios, o esquerdo, com a outra mão passou o dedo num dos
muitos machucados, envolveu com uma gota do seu sangue e passou nos
lábios dele, indagando:
- Onde será que você quer estar, Damon?
Ela se referia ao corpo dela, por isso o toque dos seios ou no coração,
e por isso no sangue.
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segundos a pegava no colo e caía sobre ela na cama, segurando seus pulsos
com uma só mão, enquanto a outra passeava em sua pele. Tomou o que quis,
com a boca e o corpo, com algo dentro dele que o impulsionava e dominava.
- O que você fez comigo, sua feiticeira? - Murmurou rouco, afastando
o rosto para olhá-la quase com raiva.
- Nada que você não desejasse. - Segredando em seu ouvido. - Ser
meu!
E eles se entregaram entre os lençóis, iluminados pelo sol da manhã
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- Sim, não, talvez. Mas o que fomos buscar está aqui. – Ela caminhou
até a cômoda e mostrou as páginas envoltas numa camisinha, o que fez com
que ele se surpreendesse.
- Conseguiram isso com o Vadinho de baiana? - Fitou-a, desconfiado.
- Como?
Ela suspirou irritada e respondeu:
- Sim, abaixei as calças dele, e tirei da sua cueca esse recadinho. Quer
detalhes de como fiz? - Ela queria provocá-lo.
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fugimos de carro, levamos muita porrada, mas como pôde ver, ela está a
salvo. - Cruzando os braços.
- Primeiro me fiz de você para ela. - Num tom de escracho ela queria
causar a intenção da discussão. - Depois dei a ela a única chance que havia,
de se vestir de prostituta, julguei que não seria má ideia, já que aprecia tanto a
profissão.
Ele franziu o cenho, irritado.
- O que você quer, Zintrah? Por que não para de provocar Ciana? E de
tentar me irritar?
A meretriz o fitou altiva e redarguiu:
- E o que sei fazer de melhor, do seu ponto de vista que isto, Damon?
Ele se aproximou e segurou o braço dela, sem tirar os olhos dos seus:
- Quer que eu diga o quê? Que é só na cama que você presta? Qual foi
a primeira coisa que me disse ao chegar? Promessa cumprida! Todo o tempo
você cuidou dela! Então não se diminua nem queira me provocar!
Zintrah caminhou para a porta e disse serenamente:
- Fora!
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A ira o consumiu. Bateu a porta com força, jogou-a contra ela e sem
cuidado devorou sua boca em um beijo violento, bruto, que a castigava.
Então a largou com desprezo.
- Não queira brincar comigo, Zintrah. - E saiu fervendo de ódio.
daquela madrugada. Nem em seus sonhos mais loucos poderia imaginar que
passaria tanta coisa, desde a montanha-russa que se tornaram seus
sentimentos aos momentos de luta, fuga alucinada, perseguição da polícia.
Era surreal.
Ao ficar sozinha, tinha abraçado muito Gibran, que era seu querido
amigo, o único companheiro que tivera desde que saíra do orfanato, aquele
em quem ela primeiro aprendeu a amar e era seu porto seguro. Ele a lambeu e
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ele sentada no tapete, cheia de dor no estômago, mas felizmente mais forte.
Desde que seus pais morreram, ela era sozinha. O orfanato frio e
imenso, apesar de cheio de crianças, era um lugar impessoal, onde eles
viviam trabalhando para pagar a própria comida, não conversavam, não se
testada, como se tivesse despertado para a vida. Não conhecia seus limites
nem a si mesma. Mas a convivência com aquelas pessoas, a busca pelo
assassino dos seus pais, tudo que colocava sua vida de pernas para o ar era
também o que a fazia crescer agora.
Vestiu-se, mas ainda sentia toda a região do estômago infinitamente
dolorida, assim como o ombro. Qualquer movimento espalhava agulhadas de
dor por todo seu braço, por isso o movia o mínimo possível. Queria deitar-se
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e dormir, mas sabia que Victor os aguardava para a reunião sobre os papéis
que tinham trazido.
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se...
- Se eu fosse sua irmã. Já entendi, Damon. – Disse, como se não se
importasse.
- Não queria que se magoasse. Que pensasse que entre nós...
sorrir.
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Victor emudeceu.
Um alarido começou por Alyha:
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- Diga, Damon.
- A página 3 tem a frase sublinhada, sobre a morte de Vadinho. A
página 9 não tem nada sublinhado. – Ele completou.
- Se a 9 não é importante, por que estava junto com a outra? -
Perguntou Ciana.
- Porque somos um bando de idiotas e eu, em particular, uma babá! –
Zintrah disse, sentando-se furiosa com as informações.
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- E quem te livrou dos caras, ninfeta? Depois quem sofre com a idade
sou eu. - cruzando as pernas e virando-se para o outro lado.
Ciana a encarou irritada, mas respirou fundo e resolveu não rebater.
Victor pediu a palavra e deu algo novo para reflexão.
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policiais nos cercou. Não tínhamos mais poder nem condições de lutar. Então
tudo ficou escuro e quando a luz voltou, eles estavam desacordados no chão.
- Mas como? – Valaistu perguntou.
- Não sei. – Disse Ciana.
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enrodilhar e dormir. E então lembrou que ele tinha ficado impaciente dentro
do quarto, arranhando a porta querendo sair. Às vezes queria dar umas voltas,
esperava não teve resposta. Ainda assustada pelo pesadelo, saiu ao corredor
silencioso do andar superior, procurando-o na penumbra. Sem fazer barulho,
desceu a enorme escadaria, seu olhar percorrendo cada canto do salão.
- Gibran! – Chamou baixo. E seguiu em direção aos fundos. Ele
gostava de ficar na cozinha, onde os empregados sempre o agradavam com
pedaços de carne e osso. Andou tudo, cozinha, sala de jantar, de estar, nada
dele. Tudo vazio e silencioso.
Seu coração estava apertado e a ansiedade a corroía. Preocupada,
correu de volta ao salão, chamando por ele, buscando-o cada vez com mais
nervosismo. E então ouviu algo. Um ganir abafado, um lamento de dor que
vinha de longe, quase um choro. O terror a percorreu e ela saiu em disparada
pelo outro corredor, onde ficava o escritório de Victor e onde Gibran andara
bisbilhotando nos últimos dias com insistência.
Tentou abrir a porta, que como sempre estava trancada. Bateu nela
com os dois punhos, gritando:
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- Gibran! Gibran!
Jurou ouvir mais um gemido agoniado dele lá de dentro e então só o
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companheiro. Imóveis e vazios. Para sempre perdidos na alegria que lhe era
peculiar. Enquanto o sangue ainda quente e fresco jorrava de sua garganta
ficar com a cabeça no lugar. O sangue escorria nela, encharcava suas mãos,
enquanto ela enfiava os dedos entre seus pelos castanhos e macios úmidos e
colava o rosto em seu focinho, lamentando em uma dor horrível, que fez com
que os outros ficassem com pena, chocados com o que tinha acontecido.
- Ciana, vem cá... – Damon se abaixou ao lado dela, tentou segurá-la,
mas ela se debateu, lutou, gritou, agarrada a Gibran, fora de si, balançando-se
de um lado para o outro, chorando.
- Gibran, acorda... Acorda, por favor...
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- Pare, Ciana. Meu bem, você vai se machucar... Vem aqui comigo.
Ela parecia enlouquecida, além da razão, de qualquer pensamento
racional. Estava dominada pela dor e pelo ódio. Seus olhos passavam
loucamente pela sala, por cada brecha, pelas janelas fechadas. Depositou o
- Quem?
- O assassino. Como ele saiu? Só tem uma porta.
Damon e os outros olharam em volta. Com cautela, começaram a se
espalhar e procurar. Os dois janelões de madeira estavam trancados. Não
havia por onde sair a não ser pela porta.
- Ele deve ter saído antes de você chegar. – Valaistu alertou.
- Mas quem faria isso? – Perguntou Alyha.
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braços, suplicando:
- Você pode curar ele! Por favor, Armand!
Armand afastou-se e examinou o animal. Voltando-se para a jovem
desesperada, ele lhe disse:
- Quem o fez quase decapitou o pobre animal, está além do meu
poder. Tudo o que poderia fazer seria trazer-lhe paz sem dor. Se ele estivesse
vivo.
As esperanças dela acabaram-se de vez.
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Alguns foram ajudá-lo. Ciana fitou os olhos de Damon e então os olhos dela
se encheram de novo de lágrimas.
- Damon...
Sentiu que não ia aguentar toda aquela dor. Ele a segurou e pegou-a
no colo.
- Vem, vou cuidar de você.
- Gibran...
- Xii... Fique quietinha, meu bem. Depois eu cuido dele. Juro pra
você.
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passado rasgavam sua mente tão perturbada. Ela já vira aquilo antes. Foi
neste instante que Miri com seu jeito todo próprio entrou e depois bateu na
porta perguntando:
- Posso entrar, nega? - Com o mesmo riso fácil de sempre.
Zintrah bufou rezingando:
- Já estás dentro, Ó poderoso Aracaê Miri! - Seu ar sarcástico não
escondia outro, um ar sombrio que jazia sobre ela, tanto que nem o pequeno
se atreveu a dizer nada, apenas aproximou-se dela se achegando a beira da
cama como um cãozinho obediente. Aquilo já lhe era importante, ele gostava
dela, e de um jeito muito singular, além da volúpia. E a meretriz nutria por
ele o mais próximo da ideia de se ter um amigo, quiçá por isso tal confissão
tenha sido feita.
- Tranque a porta. - Pediu ao visitante, que num salto desceu e acatou
de pronto sua ordem volvendo para o mesmo lugar.
- Tá esquisita, nega, não vai dizer que gostava tanto assim daquele
totó pulguento? – Indagou, arqueando a sobrancelha.
Ela levantou-se, com a intenção de preparar uma bebida e por fim
pegou mesmo a garrafa e sentou diante dele numa cadeira com as pernas
abertas e as fissuras do vestido ao meio. Mesmo quando não queria a
prostituta era sedutora.
- Já vi aquilo antes, Miri. - O que causou estranhamento no mocinho,
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- O cachorro.
Miri manteve-se em silêncio.
- Conheço aquele jeito de matar. Frio, cruel e com aquela tonalidade
de não "mexa mais comigo".
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- Sim.
- Depois de muitos anos na solitária, houve um dia que sem razão
aparente me tiraram de lá, e na minha frente um homem alto, lindo, de porte
imponente mudou a minha vida.
- Casou com ele? - Miri arriscou uma previsão.
- Morri com ele! – A meretriz bradou. - A vida que eu não tive foi
acabada por ele. Fez-me crer que me amava e eu o amei. E por ele fiz coisas.
E uma dessas coisas foi entrar em contato com Prodigiorum Libellus. Antes
de tudo, a primeira pergunta que ele fez foi: "Imagino que esta marca de
nascimento que tem logo acima do quadril em suas costas não seja de
nascença, não?" - Tudo que ele queria era me manipular, fazer com que
entrasse em contato, porque conhecia que possuía a marca. E esse homem me
ensinou a manejar meus poderes da melhor maneira possível. E o vi matar.
Eu matei por ele. Todavia, veio um dia em que tudo fez sentido. O que aquele
indivíduo queria eram meus poderes, mas não foi possível retirá-los de mim
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depois de tantas torturas. E então mostrou a que veio. Numa cilada muito
bem concebida, surgiu morto, e a principal suspeita passou a ser eu, e esse foi
um dos agentes que me fez ocultar das autoridades e abrigar-me nos meus
livros e manuscrito, nos sótãos e porões de Pilarium. Sempre soube que ele
não morreu, e quando recebi o primeiro bilhete para estar na biblioteca, senti
que enfim podia ter outra oportunidade de tornar a minha dúvida numa
certeza. E nesta noite, a forma como aquele animal foi morto me evidencia
isto, Miri, porque é assim que ele mata.
- E quem é este homem, nega? - Miri estava assombrado.
- O homem que cruzou a vida de todos nós e a desgraçou uma por
uma.
- O cabra que matou meus pais? - Ele se enfureceu.
- O próprio.
- Ele não morreu, e agora minhas suspeitas foram sanadas. Agora
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Capítulo 13
O mistério continua
Quem poderia ter entrado lá e matado o cachorro dócil, que nunca fez mal a
ninguém? Algum deles? Victor? O assassino que eles procuravam? Qualquer
das hipóteses era preocupante, pois assinalava um inimigo perigoso dentro do
castelo, em um local que até então eles se sentiam protegidos.
Victor prometeu que aumentaria a segurança, mas mostrou-se
surpreso com o fato, pois garantiu que ninguém sabia que estavam ali. No
entanto, a desconfiança permanecia e pesava entre eles. Estavam mais alertas
do que nunca.
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E foi nesse clima extremamente tenso que Victor pediu mais uma vez
que todos se reunissem no salão principal e, mesmo sob os olhares
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vazio atroz dentro de si, que não conseguia explicar. Aquelas charadas o
enfastiavam, no entanto ele permaneceu ali, como um mero espectador;
duros para ela com Armand. Não estava com paciência para provocações.
- Miri, você e Armand são os únicos que não estão sendo procurados
pela polícia. - Disse Ciana.
- Pois eu vou com seu "Demo" e a dona " Vaca ruiva"! Estamos aí! -
Alyha na mesma hora ameaçou o pequeno batendo os coturnos no chão.
- Ameaçado...ameaçado...não! Mas eu andei mexendo com umas
donas por aí né... Ninguém manda ser gostoso! - Batendo as mãos, se fazendo
de bobo.
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pode ser uma armadilha, a polícia pode aparecer a qualquer momento, como
fez comigo e Zintrah. Alguém está nos denunciando, Damon. Por favor, tome
muito cuidado.
- Pode deixar. – Beijou o rosto dela, sorriu e se afastou.
Ciana o observou com o coração apertado, mas também com o desejo
de vingança corroendo-a por dentro. Voltou para o quarto muito preocupada.
Ao descer a escada que dava no pátio, Damon deparou-se com
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Zintrah.
- Não vai me desejar boa sorte? - Damon impediu sua passagem.
saiu.
Alyha e Miri já o esperavam e entraram no carro de Victor. O
motorista levou-os até a praia que se chegava após contornar o penhasco,
onde dois jetski estavam atracados em um pequeno deck. Miri se benzeu e
anunciou:
- Não sei nadar, seu “Demo”!
- Vamos rezar para você não cair na água, então. – Damon provocou-
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elas!
Estavam sentadas, praticamente mudas, mergulhadas em seus
aparelhos ultramodernos. Era quase um cyber café a céu aberto. O sol, o dia
lindo, tudo parecia esquecido. Talvez um ali até conversasse com outro a
pouca distância, mas através de seus computadores. Nada pessoal. Nenhum
contato humano. Era impressionante a distância entre eles, mesmo estando
tão perto um do outro.
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- Cadê o Miri?
Alyha se dera conta que perdera o "amado" filho.
Damon não esperou resposta e observou atentamente o livro em suas
mãos, procurou pistas, mas era só o livro mesmo, antigo e muito usado.
Encarou a senhora.
- Alguém pediu que nos entregasse isso?
A senhora os observava atentamente. Respondeu a Damon:
- Sim, me mandaram entregar esse livro.
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- Ai, vou comer esse toco de amarrar jerico na porrada , cara! Filho da
P...! – Alyha estourou.
Os seguranças imediatamente entraram enquanto ele gritava:
- Eita, peraí, oxê, EU QUERO MANDAR UM BEIJO PARA
MINHA MÃE, PARA O MEU PAI, E PARA VOCÊ!
O apresentador fitava aquilo sem palavras. Até as pessoas pareciam
sem fala, olhando aquele anão fantasiado de palhaço no palco.
A velhinha índia começou a rir, extremamente divertida.
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só tem lá!
Miri puxou Damon pela camisa e o indagou:
- Ela tá mangando de mim, é isso? A velhinha sem dente tá mangando
"deu"?
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mais poderosa que a alienação. E foi isso que fizeram. Alienaram todo
mundo! Perceberam que a tecnologia poderia nos unir, então a usaram para
nos isolar, nos enfraquecer, nos fazer como robôs, felizes em nossa ilusão! E
olha o que esse país se tornou!
Sabiam que cada minuto que passava corriam mais riscos ali. No entanto, o
envelope parecia queimar nas mãos de Damon. As respostas que procurava
podiam estar ali. Alyha também estava ansiosa, pois indagou:
- Boa hora para ver o que tem no envelope, não?
Damon estava desesperado para saber o conteúdo. Rapidamente
abriu-o e viu uma página de livro. Puxou a folha debaixo e ficou chocado ao
fitar o rosto jovem e feliz de sua irmã Sílvia, ao lado de um homem loiro,
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Apertou a foto com força. Sílvia usava a mesma roupa do dia de sua morte.
- É a foto do maldito! - Berrou enfurecido, com lágrimas nos olhos.
Tinha agora um rosto para caçar, alguém real para direcionar seu ódio.
Agoniada, Alyha replicou:
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- Ué! O senhor não sabia disso, não? A nega e esse moço aí tiveram
um rala e rola, e cá entre nós foi coisa das grandes, acho inté que foi o grande
E foi então que o pequeno pássaro briguento viu que a língua o traíra
outra vez.
- Fale de uma vez, Miri! Foi ela quem te disse isso?
Alyha interveio:
- Acho melhor as comadres deixarem as notícias para depois! -
Acenando para a Guarda Nacional e a Polícia, que chegaram ao local e mais
uma vez os nomes deles eram expostos com fotos nos telões.
- Porra! - Damon largou Miri e guardou as pistas dentro do envelope
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- Por que minha foto não tá ali? Oxê, até aqui tem bulingo?
Alyha imediatamente o ergueu segurando nas partes e disparou:
- Quer mesmo que eu te mostre o que é uma merda de Bullying, seu
3/4 de otário?
- Faça o Miri ficar gigante! – Damon gritou para ela, quando policiais
e a Guarda Nacional vinham de todos os lados e três helicópteros se
aproximavam rapidamente.
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- Vou ter que estuprar essa porra de anão! - Berrou Alyha. Pelo
caminho, enquanto se aproximava dele Alyha gritava: - Vem cá, meu bem!
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ele:
- Nem se tu fosse o último homem da Terra! - Imediatamente ele fitou
Alyha e percebeu o que ela fizera. O urro da noite foi solto mais uma vez.
- Estou preso! - Damon admitiu enquanto pensava o que fazer. Foi
naquele momento que o uivo pavoroso de Miri ecoou por todo o parque. E
quando começou a se tornar gigante, o policial olhou para Miri estarrecido.
Além da força descomunal e do tamanho adquirido, a pele de Aracaê
era como uma couraça. Nem bala de revólver o perfurava.
Alyha berrou para Damon:
- Ok, liberamos o King Kong!
Aracaê olhou para o policial que apontava para Damon e com sua
mão gigante fez com o dedo: Não! E o jogou longe como se não fosse nada.
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lhe disse:
- Agora será de igual para igual! - Ela sorriu e ironizou:
ideia:
- Procure o comandante! Mande-o dar uma ordem para recuarem! Só
pra gente conseguir chegar à praia!
- Deixa comigo! - O olhar de predadora da ruiva era crucial, foi se
afastando, localizando o responsável pela ação.
Foi naquele instante que começaram a mandar tiros em cima deles.
Damon se jogou no chão. De bruços, ele sacou uma das pistolas e mandou
bala em cima dos policiais, apenas para desviar a atenção e Alyha poder
fugir.
- Miri! - Gritou Damon - Distraia esses caras!
Ela se jogou por baixo de um dos carros oficiais e correu até o homem
que orquestrava toda situação com palavra de ordens. Ligeira, depois de
alguns golpes, parou atrás dele e jocosa impetrou suas mãos dizendo:
- Dispersar! Dispersar!
Rapidamente, sem entender, os guardas e policiais iam se afastando.
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Miri na mesma hora acenou a cabeça para o ator e com sua mão pegou cinco
de uma vez, olhou e brincou com sua voz grave:
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- Definitivamente tu não faz meu tipo, mas é o que tem para hoje! - E
lascou um beijo no ator digno de cinema.
Aracaê foi minguando, minguando e somente sobrou o olhar triste.
Damon ficou um momento parado, sem reagir. A ruiva, apesar de
linda, nunca foi seu tipo. Inclusive a achava bruta demais. Mas não disse
nada.
Alyha se afastou e fitou o pequeno:
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- Não, é por causa do senhor, é bem melhor ver você pelado com a
nega que se atracando com a dona "vaca ruiva" aí!- E imediatamente Alyha
deu-lhe outro tapa na nuca.
Damon balançou a cabeça e apontou o fim do beco:
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- Segura essa merda, Miri! - Foi nessa hora que um tiro acertou o
motor do jet ski deles.
- Dirigir seu "Demo"? Nem velotrol eu consigo guiar! - Tentava com
uma mão enquanto a outra fugia do guidom.
O Jet perdeu a velocidade e virou violentamente. Miri e Damon foram
arremessados na água, com violência. Damon afundou com duas
preocupações: as lanchas que vinham atropelá-los e Miri se afogar. Nadou
sob a água e visualizou Miri se debatendo e afundando. Agarrou-o pelo resto
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afogar o pequeno. O mar estava em chamas, mas eles não foram atingidos.
Alyha volveu na escuridão e abordou uma das lanchas. Na luta soco a
soco com dois policiais conseguiu jogar um na água e o outro a enforcou
gravemente, mas no último segundo conseguiu chutá-lo nas partes e jogá-lo
para fora e tomando o controle da lancha voltou para buscar Miri e Damon.
Os helicópteros, no meio da fumaça negra e espiralada, tentavam
circular e atirar neles.
Miri e Damon subiram na lancha de Alyha, arfando, molhados.
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Aracaê só objetou:
- Seu "Demo"... Outro macumbeiro! - Olhando estupefato.
saiu gargalhando.
Aracaê estava se refazendo quando um assunto carecia vir à tona
outra vez.
Damon olhou-o sério e disse:
- Fale agora, Miri. De Zintrah e do assassino!
O pequeno sentou-se rapidamente e começou a matutar o tamanho da
encrenca que se metera.
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entender nada.
Abriu a porta do quarto dela com tanta violência que a mesma bateu
contra a parede. Ele a chutou para fechar e avançou para cima da meretriz na
cama como um animal. O solavanco da porta e o corpo dele em cima dela
colérico a fez acordar na hora.
- Ei, onde pensa que está?
Ele já arrancava a foto do envelope e esfregava na cara dela, pingando
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Damon não sentiu pena. Estava, além disso, dominado pelo ódio.
Buscou-a e puxou-a para sua frente, ordenando:
- Conte como se divertiu às nossas custas todo esse tempo!
O silêncio pesado estava na sala. Eles olhavam a foto e então para
certeza que Hally, o único homem que realmente amei na vida, infelizmente,
está vivo!
- Se eu pudesse eu te matava, Zintrah. E não tente se fingir de vítima e
me acusar! Ele não encostou em você, fez mais! Mandou você matar! E você
matou. Quantos inocentes? Quantas crianças?
A imagem da irmã morta o corroía, como um punhal se torcendo
dentro dele.
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forma como está me condenando, aliás, todos estão! Fiz dois abortos, porque
ele não queria sujar o sangue com o meu. Foram estas vidas que tirei e é por
elas que responderei, Damon Luca!
- Fez aborto? Por que mandou, você teve coragem de tirar dois filhos
e ainda assim ficar com ele? - O nojo era óbvio em seus olhos. - Você é ainda
pior do que pensei!
- E você sabe o quê de mim? O que pensam que sabem de mim? Da
minha vida, do meu passado?- Encarando todos.- O que uma mulher como eu
poderia oferecer para uma criança? Não seja patético!
Apesar de estar consumida de ódio e desejo de vingança desde a
morte de Gibran, Ciana viu o estado dos dois e disse a Damon:
- Não resolveremos nada assim! Zintrah, por que não falou que sabia
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- Então, por que só eu tinha que expor o que sei? Porque não contam
todos o que sabem? Mas a vadia aqui tem que responder por todos, atirem a
- Minha irmã tinha onze anos e era doente, sempre foi. Aos dezoito
anos, inúmeras pessoas tentaram me levar àquela biblioteca, mas algo me
impedia. Mas esse maldito descobriu uma maneira de me forçar. Tirou minha
irmã do hospital, deixou-a naquele lugar abandonado e me fez entrar em
contato com o livro. Quando a achei, ela estava morta. Pouco depois meus
pais se entregaram a dor e morreram também. E tudo porque seu amante me
queria lá! Está satisfeita agora? Quem é o próximo a despejar as artes do
amado de Zintrah?
- Meus pais foram mortos porque esse cabra prometeu que minha vida
seria diferente se fizesse o que desejava, mas como desconfiaram ele os
matou. - Admitiu Aracaê.
- Os meus também, mas não sei direito por quê. – Ciana completou.
- Acho que a vida de todos aqui foi, de alguma forma, destroçada por
este homem. No entanto, por maior que seja a dor de cada um, por maior que
seja a minha dor, não me sinto autorizado em usá-la como arma,
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simplesmente para humilhar ainda mais a Zintrah. Essa minha dor, esse meu
ódio eu o cultivo para que, no dia em que me deparar com este infeliz, se
torne poder e força inabalável em mim. – Ponderou Valaistu, com uma voz
embargada de emoção.
- Com doze anos de idade eu fui estuprada por um dos machos da
minha mãe, engravidei, e depois de um aborto mal sucedido ela me jogou na
frente de um convento. Lá vivi, até aprender ser puta, matava meus clientes
para que não fizessem outras sofrerem como eu sofri. Psicopata? Sim, eu sou!
Mas meus delitos foram descobertos e fui levada para um hospital
psiquiátrico, onde fui abusada por toda sorte de gente que imaginarem, desde
o faxineiro até o Diretor. Na solitária, como um animal comendo comida
estragada e bebendo urina para não morrer de sede, fiquei por anos. Até que
um dia esse homem apareceu, e foi a primeira pessoa que cuidou de mim. O
que ele queria era fazer com que entrasse em contato com o Prodigium, sabia
que tinha a marca do infinito como todos aqui. Ele me fez tocar o livro, me
fez saber usar os poderes, e eu? Eu só o amei. No entanto, tudo que fiz, foi
porque assim desejei. Não vou me fazer de coitadinha como uma e outras
aqui não! – diz Zintrah fitando Ciana. - No dia que percebeu que não podia
sugar os poderes de mim, tentou simular a sua morte e me pôs como a autora
do suposto crime.
Todos se sentiam arrasados, expostos emocionalmente com suas
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tragédias. E Zintrah fora mais uma tão ou mais afetada por Hally como eles.
Damon correu os dedos entre os cabelos, abalado por tudo que acabara de
ouvir. Imaginou uma garota como sua irmã com apenas doze anos, passando
tudo que ela passou e sua vida de miséria. A pena o corroeu, junto com o
ciúme e o ódio. Ainda não conseguia pensar com clareza, mas parte de sua
raiva se foi. Ficou uma exaustão horrível. E com o amargor da traição
travando sua garganta. Ele se sentou no sofá e apoiou a cabeça nas mãos sem
saber mais o que pensar.
Victor Obsequens, que apenas ouvira tudo, pediu ao moço a foto e a
página. Seu rosto era de pura interrogação.
Damon entregou em silêncio. Estavam úmidos, mas o envelope de
plástico os protegera. Ele leu em voz alta:
(...) de casa, no banheiro ou na cama - não havia fuga (...) “Ele não
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(mulher provavelmente; alguém como aquela zinha com cabelo cor de...), (...)
20
- Está claro que quem quer que esteja por trás de tudo isto, quer
claramente nos desestabilizar e parece que está conseguindo.
- Havia uma parte do livro sublinhada. - Damon falou: - 1984, George
Orwell.
- Mas e as pistas? - Ciana fitou-o. - Acho que quer nos ajudar, pois
graças a ele sabemos quem é o inimigo!
- Sim. - Ponderou Victor, sobre o olhar sagaz de Alyha. - Mas a
questão é com que intuito?
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um de nós.
Victor pensativo redarguiu:
- Não nos sobra outra opção que não seja descobrir as demais.
Aracaê soltou:
- Eita, um traíra, é isso?
Um traidor. Eles se entreolharam. E depois os olhares resvalaram em
Zintrah.
Que imediatamente sorriu e foi num golpe:
- Estou fora! Procurem outro para algoz. - E retirou-se em direção a
porta da frente.
E em Armand, calado e taciturno como sempre. Eram os dois mais
óbvios.
Armand foi até Victor e estendeu a mão para pegar as fotos, o velho
lhe entregou sem fazer perguntas. Ele observou a foto de Hally por alguns
instantes, olhou para o chão pensativo, deu dois tapinhas no ombro esquerdo
de Victor e saiu pela porta da frente levando a foto em suas mãos. Antes de
sair, tocou o rosto de Zintrah e deu uma piscada como quem diz, “ficará tudo
bem”. Damon abriu os braços, indignado com a saída instantânea de Armand,
justo quando todos começam a desconfiar do sujeito obscuro.
- Estão vendo! – ele disse.
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Logo após deixar o grande salão pela porta frontal do castelo, Zintrah
parou por um momento e ponderou todas as reações que se manifestaram,
um como os outros que no fundo só a via como uma vadia. Ela sabia que de
fato era ou se portava como se fosse e tentava não se importar com isso.
Sobre a primeira convicção, sabia que podia caçá-lo, não dependia da Liga
Literária para fazê-lo. Já o segundo, era mais um homem a mentir para ela,
contudo o que a irritara fora como ele a expôs diante de todos, e a grande
ironia, por mais vil que Hally fosse jamais lhe encostara a mão daquela
forma. Tampouco a fez sentir-se tão baixa. Ele jamais a julgara de modo tão
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vil. E foi aí que outro agente lhe saltou os olhos, e sorrateira desapareceu.
Aracaê entrou em seu dormitório falando sozinho e com semblante
entristecido.
- Eu e essa minha boca! Oxê, agora lascou a bodega toda. Não vai
mais ter a nega pelada com seu "Demo". Tudo por causa dessa minha boca de
jegue! - Foi quando da sombra, a voz da meretriz o corrigiu:
- Jegue não, camelo! Velho dito árabe: "O camelo parou para abrir a
boca e nunca mais conseguiu fechar." - Já chacoalhando o crucifixo no
pescoço.
Aracaê prontamente ficou de pé em cima da cama, sabia que aquela
conversa não ia terminar bem e quando a viu tirar o punhal do pescoço
imediatamente apanhou uma almofadinha guardando suas partes
desesperado:
- Ô nega, para aí, me deixa prosear mais com "ocê" só um bocadinho!
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- Escuta aqui, não estou com pressa, posso ficar a noite toda aqui,
vamos, me dá o serviço, nanico! - Ameaçando deixar escorregar.
- AI MEU 'PADINHO" PADRE CICERO! PENSA EM DEUS
MULHER!
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mais de Pilarium.
Ela parou de supetão e então a dor atroz da saudade a atacou. Não
teria mais seu fiel companheiro ao lado. Fechou os olhos e as lágrimas
desceram, enquanto a imagem de Gibran veio muito real em sua mente, com
protegidos, como Victor dissera? Se o tal de Hally não sabia deles ali, então
significava que uma das pessoas no castelo fizera aquela atrocidade.
Ciana olhou em volta, arfando, mordendo os lábios. Um ódio
incomum a devorava devagar. Primeiro seus pais, da mesma maneira, caídos
na casa, suas gargantas cortadas, sangue para todo lado. E as pessoas
entrando, tirando-a a força de lá, apenas uma criança de quatro anos que até
então só tinha conhecido o amor. De repente se viu em um orfanato que mais
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Alguém que sabia como seus pais foram assassinados. Mas quem? Um
traidor entre eles? Victor?
Angustiada, Ciana abriu a porta do quarto e saiu. Não sabia o que
fazer ou aonde ir, mas não podia mais ficar ali inerte, esperando o mundo
desabar em sua cabeça. Sentia uma opressão no peito, um ódio que crescia
durante aqueles dias. Muito mais do que um desejo de justiça, o que a
devorava agora era um desejo de vingança. Era como se a vida a
transformasse. Tornava-se adulta da pior maneira possível, sentia que não era
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ainda mais.
- Procurando por mim, jovem? – Disse uma voz calma, do corredor.
Ciana parou com o punho no ar, antes de bater mais na porta. Voltou-
se apertando os lábios com raiva e encarou Victor Obsequens. Ele tinha saído
da biblioteca e a fitava serenamente, como se seu estado fosse normal.
- Quero respostas e o senhor vai me dar.
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- Ou um empregado. Talvez...
- Gibran vinha estranhando alguma coisa nessa casa e naquele
escritório. – Ela completou, engolindo para não engasgar de raiva. – Acho
que há um intruso aqui. Por isso o matou. Para que Gibran não o descobrisse.
Se é assim, Hally pode ter acesso a essa casa! Talvez alguém abra a porta
para ele! Quem sabe não é o senhor?
- Entendo sua revolta e desconfiança, Ciana. – Ele se mantinha
tranquilo, sereno, o que a irritava mais em vez de acalmar. – Mas por que eu
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corredor.
- Eu li, menina. Diz que se você for vai saber exatamente o que
aconteceu no dia do assassinato dos seus pais.
Ciana parou, seu coração batendo forte no peito. Virou-se devagar e o
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oprimia. Ver Zintrah o magoava pela traição. Eles não se falaram mais e se
evitavam como se estivessem com uma doença contagiosa. Agora ela só vivia
com Armand. Mas era melhor assim. Não confiava nela. Como poderia,
depois de tudo que acontecera?
Ser prostituta já era ruim, mas Damon nunca a tratara como tal. Vira
apenas a mulher decidida, sensual, que o atraíra de imediato. Mas então
com ela. Enterraria aquele assunto assim como enterrava o desejo e a paixão
que ela tanto despertara nele. Era o fim deles. Apenas isso. Mas não
significava que estava imune com ela perto. Nem que um ciúme e uma raiva
densa o invadisse com seu joguinho com Armand. Mas teria que aprender a
conviver com isso até se livrar daquele sentimento.
Com exceção de Armand, que havia saído do castelo com a foto de
Hally tempos atrás, todos os demais pareciam impacientes na sala e, como se
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– Eu vou. E você?
- Claro que vou com você. – Damon foi firme. Encarou Victor. –
Sabemos o risco que estamos correndo. Nas duas últimas missões houve
perseguição policial. Inclusive sabiam como estávamos disfarçados. Espero
que dessa vez você use suas influências para ao menos nos dar mais opções
de escapar.
- Sim, vou fazer tudo que estiver ao meu alcance. – Ele concordou
solene. – Vou providenciar tudo para irem com segurança.
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pessoas. Tão logo ele saía do ambiente, tudo voltava ao normal, mas ninguém
o via. Nem notava que passou por ali. Ele foi rápido. Dirigiu-se direto a parte
de roupas e apetrechos sexuais e pegou algumas. Enquanto tudo estava
congelado a sua volta, enfiou o que precisava em uma sacola e saiu rápido.
- Tá. Acho que entendi. Quer saber se vão nos caçar com a roupa que
saímos do castelo ou com essa.
- Exato.
Ciana desmontou, explicando:
- Ninguém no castelo sabia que Zintrah ia arrumar uma fantasia para
mim, na nossa missão. Mesmo assim a polícia nos perseguiu.
- Mas nos outdoors policiais, quando disseram que apareceram as
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mesmo material até o cotovelo e botas de salto alto. Os cabelos ficaram sob
uma peruca de cabelo preto e liso num corte Chanel e uma máscara como da
mulher gato no rosto.
Damon não ficou imune quando a viu. Ela estava espetacular, a roupa
marcando sua cintura fina, os quadris arredondados e os seios empinados.
Seus lábios estavam vermelhos. As botas de salto deixavam-na mais alta.
Toda doçura de sua aparência continuava lá, mas ofuscada por uma
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sensualidade gritante, desperta. Quase obscena para a imagem que ele tinha
de uma garota pura de dezoito anos.
mas também pela situação deles, que teriam que se passar por amantes num
lugar cheio de sexo. Depois de Zintrah, tudo que queria era fugir de
complicações. Ainda mais com Ciana, que Damon sabia sentir uma atração
por ele.
Escondeu a moto no beco e então seguiram pela calçada, virando por
ruas menos movimentadas, até uma onde se destacava uma grande boate toda
feita em granito negro, de dois andares e portas duplas de ferro, guardadas
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por seguranças. Pessoas de todos os tipos, mas todas com aparências de ricas,
entravam ali. Compraram o ingresso que era uma fortuna e entraram de mãos
dadas.
Ciana respirou fundo, preparando-se para o pior. Mas deram em um
grande salão que mais parecia um restaurante, mais escuro, com mesas e
cadeiras negras espalhadas, parede cor de vinho, lustres que espalhavam
apenas uma luz dourada na penumbra. Pessoas se espalhavam por lá, bebiam,
conversavam, a maioria formada por casais. Em duas paredes telões
passavam clipes de músicas instrumentais e sensuais. Mas fora isso, não
havia gente pelada ou transando ali. Tudo parecia quase... normal.
Apertou a mão de Damon e ele a fitou. Ela sussurrou:
- Não estamos estranhos vestidos assim?
- São vários ambientes, Ciana. Fique calma, mas você ainda não viu
nada. Temos que procurar o labirinto cheio de cubículos, quartos e
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Como um preparatório.
Com os olhos arregalados, Ciana se deixou levar por Damon por ali,
olhando abismada em volta. O batuque quente da música parecia revolver
algo dentro dela. Mesmo sem querer, seu corpo reagiu, sua respiração tornou-
se mais rápida, seu coração disparou. E então seguiram por outro corredor,
que acabou virando um labirinto. Pessoas iam e vinham. E a cada virada que
davam, vários cantos com cadeiras, sofazinhos, pufes e recamiers podiam ser
vistos. Neles as pessoas se entregavam a diversos tipos de carícias e posições
sexuais. Outras ficavam espiando por treliças o que alguns faziam nos
quartos adjacentes. Havia ainda algumas portas com seguranças e Damon
explicou baixo:
- São quartos privativos para sessões de sexo virtual, quando põem
apetrechos e podem ser quem quiser, fazer o que quiser através de avatares e
de uma realidade virtual criada por eles. Outros têm sessões de
sadomasoquismo e ainda apenas quartos alugados por um grupo ou um casal,
particulares, sem que outros possam ver.
Ciana indagou a si mesma sobre quais quartos e ambientes Damon
frequentara ao estar ali antes. Imaginou-o nu, as pessoas o observando, seu
corpo longo e forte sobre alguma mulher. Arfou de leve ao imaginar a mulher
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como ela. Uma onda de luxúria pura e densa percorreu-a e Ciana ficou
excitada com tudo que via, por estar perto dele imaginando aquelas coisas,
pela música sensual e sussurrada que saía das pequenas telas nas paredes,
mostrando trechos da boate.
Ao chegarem ao fim do labirinto, puderam ver um grande quarto
coletivo e escuro cheio de sofás, onde rolava de tudo. Pessoas se misturavam
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raiva por ter que expor a jovem e virgem Ciana a um ambiente como aquele,
ao mesmo tempo que ele próprio se excitava com o que via e sentia. Sabia
que se estivesse ali com Zintrah os dois já estariam em algum canto fazendo
muito mais do que olhar. Mas afastou o pensamento. Aquilo nunca mais
aconteceria.
Não podiam simplesmente se abaixar e ir procurando embaixo de
cada sofá. O local era vigiado e qualquer pessoa com atitude estranha
acabava sendo expulsa na hora. Apesar de ser um lugar de sexo, era voltado
para os casais e garantia a segurança dos mesmos, para realizarem suas
fantasias sem correr riscos.
Ao passarem pela pista de dança, diversos homens e mulheres
olharam para eles, admirando-os. Um casal que se roçava quase nu veio
dançar impedindo sua passagem e a mulher bonita disse a Damon, passando
as unhas longas no peito dele:
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lábios dele enquanto, muito excitada beijava de leve seu queixo, sem deixar
de se mover.
Damon respirou irregularmente, tentando controlar as reações do
corpo, mas era difícil. A luxúria vinha como uma onda, arrasando seu
pensamento racional, fazendo-o muito consciente dela. Tentou dizer a si
mesmo que era só um disfarce, que Ciana era virgem e tinha só dezoito anos,
que era como uma irmã, mas não conseguia convencer a si mesmo de nada
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colou-se de vez, rebolou o quadril contra o dele, seus lábios deslizando de seu
queixo à garganta.
Por um momento esqueceram de tudo, dominados pela mais pura
luxúria, a música envolvendo-os como um manto, como se estivessem ali
ela passou a língua de leve em seu lábio inferior. Era cheirosa, macia, gostosa
e linda. Xingou a si mesmo, mas amparou firmemente sua cabeça e beijou-a
vorazmente. Ela abriu os lábios e retribuiu, doce e inocente, seu primeiro
beijo de verdade. Mas logo aprendia e roçava a língua na dele, tomando e
dando, beijando-o com o mesmo desejo intenso.
Ela sentiu o corpo pegar fogo. Além da luxúria e do amor por Damon
que a devoravam, seu poder também pareceu alcançar um pico, percorrendo
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seu corpo como se diversos raios caíssem sobre ela, deixando-a tonta, todos
os terminais nervosos em alerta, a ponto de explodir. Agarrou-o e se entregou
totalmente, maravilhada com seu gosto e cheiro, com sua pele, com tudo que
ele a fazia sentir e que era mais do que qualquer coisa que já sentira na vida.
Muito mais.
Sem controle, as mãos de ambos percorriam seus corpos. Ondulavam
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aprender tentando. Concordou com a cabeça e foi para o sofá. Deitou-se nele
sem tirar os olhos de Damon e sem precisar fingir nada. Ela realmente o
seu peito, mordia-o de leve, maravilhada por prová-lo. A Ciana tímida e doce
parecia ter se transformado em uma gata quente, escaldante, tentadora. Era
uma luta para Damon se concentrar. Seu corpo estava no ponto, esticado,
tenso. E ela lá, arrebatando-o.
- Não há nada aqui. – Murmurou rouco, olhando a volta. No salão
havia mais dois sofás. Um deles ficou vazio. – Ali, Ciana. Vem.
Damon a puxou. Sentou-se no outro sofá e fez menção que ela
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sentasse ao seu lado, mas o sorrisinho no rosto dela alertou-o que tinha outros
planos. Enquanto se sentava de frente para ele, sobre seu colo, montando-o,
disse rouca:
- Deixe que eu procuro agora.
Ele estava perdido!
E se roçou toda nele, suas mãos percorrendo seu peito, sua barriga, e
quando parecia a ponto de descer mais, ela se inclinou para o lado como se
oferecesse a nuca, parte das costas, mas suas mãos percorriam embaixo do
sofá. Damon estava fora de si e cerrou o maxilar para não tomá-la ali. “É a
Ciana!”, seu consciente gritava, tentando alertá-lo. Mas não o convencia
muito, pois ele aproveitava e beijava a pele lisa de seu ombro,
acompanhando-a para não deixar de acariciá-la e cheirá-la.
E assim ficaram, se beijando, tocando, tentando. Enquanto
procuravam as pistas, não deixavam de aproveitar sem disfarces, realmente se
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na coxa dele, suas mãos varrendo embaixo do sofá. Apesar de toda sua
sensualidade latente, Ciana guardava algo inexperiente e puro, sua docilidade
tornando-a ainda mais encantadora. Depois de comprovar que não havia nada
ali, ela sorriu e subiu as mãos pelas pernas dele, seu olhar quente. Damon
agarrou os pulsos dela e levantou-a com ele.
- Pare com isso.
- Não vou parar. – Ela sorriu mais e se virou para o labirinto,
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correntes e coleiras. Assim como nos pés da cama, caso alguém quisesse ser
preso ali. Em uma parede também tinha apetrechos sexuais e algemas
penduradas. O quarto era escuro e todo vermelho, fresco, mas o calor que os
percorria parecia esquentar o ambiente. A um canto estava encostado um sofá
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congelada na tela. Ali os dois apareciam com as roupas com as quais saíram
do castelo de Victor. Ambos se entreolharam.
- Você estava certo, Damon. Alguém de lá está nos espionando e
mandando as charadas. Mas quem? Por quê?
- Não sei. Felizmente estamos com outro disfarce. Temos que passar
como amantes reais, Ciana, entendeu?
Ciana concordou. Damon dobrou o envelope e enfiou-o no bolso
traseiro da calça. Foi até a porta e destrancou-a por dentro. Explicou:
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roupas foram afastadas até só restar as peles quase nuas, coladas, unidas,
assim como os lábios e língua. Ciana implorou rouca:
- Faça-me sua, Damon...
- Ciana...
- Por favor...
E ele não lutou mais contra. Tornou-a mulher ali, naquele sofá, entre
gemidos e carícias, mostrando a ela o que era dor e depois prazer, até ambos
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novamente.
Percorreram o resto do labirinto. Tudo parecia normal, mas
Dentro dela seu poder a percorria mais intenso do que nunca e ela tentava
controlá-lo para não manipular o ambiente a sua volta sem querer. No
entanto, um policial os olhava com atenção e se aproximou. Sentiu que ia
abordá-los, talvez até pedir que se identificassem e tirassem as máscaras.
Na mesma hora ela o manipulou mentalmente: “Não está nos vendo.
Vá para longe e nos esqueça!”. Na mesma hora ele desviou o olhar e se
afastou. Ela sorriu e continuou ao lado de Damon. Analisaram tudo devagar,
dirigindo-se à porta.
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ferro.
- Merda. – Damon olhou em volta. – Temos que procurar outra saída.
Faça-o nos dizer onde tem outra saída, Ciana.
Assim ela fez, mentalmente.
- Nos fundos, depois da cozinha, atrás do palco. Dá para um beco,
mas também está trancado e cercado pela polícia. – Ele falou como um robô.
– Não tem outra saída.
- Nenhuma outra? – Ela insistiu. O segurança negou. – E agora,
Damon?
- Merda... Vamos ter que encarar essa ou a dos fundos. Consegue
fazer a porta abrir?
- De ferro? – Ciana ficou na dúvida. – Acho difícil, mas posso tentar.
- Congelo todos aqui e você tenta.
- Mas e os policiais lá fora?
- Assim que sairmos, temos que usar nossos poderes contra eles.
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Preparada?
- Sim.
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sendo engatilhadas. Movida pelo pavor com Damon e o ódio de que eles o
ferissem ainda mais ou o matassem, Ciana perdeu o controle.
Fez as pedras que se espalhavam no chão voarem contra os policias e
os carros. Depois berrou:
- Ninguém atira na gente! Vão atirar uns contra os outros! Agora!
- O que está acontecendo?
- Meu Deus!
- Parem de atirar!
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mais afastados. Quando avistava algum policial, somente usando uma parte
de sua mente o mandava para longe, para se juntar a seus colegas no tiroteio.
Finalmente pôs Damon dentro de um carro, no lugar do passageiro. Prendeu-
o com o cinto. Antes de sair, destruiu com a mente o rastreador do carro,
como vira Zintrah fazer. Correu para o banco do motorista, rezou a Deus para
que mantivesse Damon vivo e fez o carro sair cantando pneus pela loucura
que se tornara aquela noite.
- Vai dar certo, Damon... Você vai sair dessa... Oh, meu Deus!
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foi brutal, torcendo metal como papel, fazendo um capotar por cima do outro
e terminarem amontoados fechando a rua. E ela seguiu em frente.
Então soltou o ar que prendia, segurou o volante apenas com uma das
mãos e se virou desesperada para Damon. Ele sangrava muito, pálido demais,
os lábios brancos. Chorando, ela o tocou, conferindo que estava vivo. Mas
respirava fracamente.
- Não... Corre mais, sua lata velha! – Ergueu os pneus do chão com
toda força concentrada, fazendo-o voar a uns cinquenta centímetros acima do
solo, ganhando assim mais velocidade. Seu medo era que de repente o poder
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terminasse. Não via pelo caminho nenhum sinal de ajuda nem dos homens de
Victor. Foi então que se lembrou de algo.
momento!
- Ciana, o que...
- Escute, Victor! Vocês precisam vir nos encontrar no meio do
caminho! A polícia pode aparecer e, se eu ficar sem poder, eu... Rápido! E
traga Armand, por favor! Ele precisa ajudar o Damon antes que seja tarde!
- Fique calma, Ciana! Mantenha-se na estrada no seu curso atual para
cá! Entrarei em contato com Armand imediatamente.
- Não demore! – Implorou, com as lágrimas pingando.
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primeiros socorros.
Victor mesmo limpou o ferimento e estancou o sangue. Ciana não
saía de perto de Damon, rezando para que Armand chegasse logo e o
salvasse, se controlando para não chorar.
Minutos após sua chegada e de constatarem que não havia muito que
se fazer para salvar a vida de Damon, Armand chegou a pedido de Victor.
Ciana correu até o recém-chegado e antes que ela pudesse começar a falar,
ela interrompeu seus passos ao ver a forma estranha como Armand lhe
encarava dos pés à cabeça. Ela se sentiu nua com o olhar. Armand esboçou
um leve sorriso e seguiu até Damon.
- Desculpem a demora. – disse ele já examinando o ferido – Não é
grave, mas também não será fácil, o jovem parece não querer ser salvo,
vejamos o que pode ser feito.
Armand tocou a ferida com sua mão direita e ao mesmo tempo
Damon se contorceu de dor. Uma névoa negra surgiu na palma de sua mão e
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adentrou o ferimento puxando a bala para fora. Ele pegou a bala e jogou fora,
voltando a tocar o ferimento. Dessa vez uma luz alaranjada surgiu em sua
lhe disse:
- Não Ciana, não irá. Victor! Precisamos conversar – disse enfático ao
mesmo tempo em que seguia para o escritório do ancião, sendo logo seguido
por este.
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- Isso não importa. Fiz amor com você e não me arrependo. Foi a
coisa mais linda que aconteceu na minha vida! Não precisa se desculpar nem
se sentir obrigado a nada. Somos ambos adultos. – Ela se levantou. – Estava
esperando você acordar para lermos as pistas. Está aqui comigo. Todo mundo
caminhou até seu armário e pegou uma muda de roupa. Entregou a ele.
Damon continuou imóvel, encabulado.
- Nunca pensei que fosse tímido! – O sorriso dela era aberto. – Não
quer ajuda?
- Não, eu consigo, obrigado.
- Tá bom. Espero você na porta.
Depois que Ciana saiu, Damon levantou-se ainda enfraquecido, mas
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sem desmaiar. Estava surpreso com a falta de vergonha dela. Onde fora parar
a menina tímida que conhecera? Quem era aquela Ciana?
clássica é muito admirada. Teriam uma bela vida e ainda mais sucesso. Mas
ELE não podia deixar que tirassem a menina do Brasil. Ele tinha que ficar
aqui e entrar em contato com o livro. Tentou convencê-los a não ir. Quando
não conseguiu, sendo visita na casa deles, simplesmente levantou-se e cortou
o pescoço do pai e depois da mãe. Garantiu que a menina fosse levada ao
orfanato e nunca deixou de observá-la, até ela sair e entrar em contato com
Prodigiorum Libellus. Providenciou para que todos achassem que o
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Damon pegou a folha e leu em voz alta para todos. Depois acariciou o cabelo
dela e disse suavemente:
- Você não teve culpa de nada, Ciana.
- Como não? Eles morreram por minha causa, por que esse maluco
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uma pista nesse texto, assim como não vi nos outros. Que relação pode haver
entre as páginas do livro Dona Flor e seus dois maridos, 1984 e agora Kama
Sutra? – Damon franziu o cenho.
- Temos que depois juntar todas as páginas e analisá-las com calma. –
Comentou Valentin.
- E tem mais. – Damon olhou em volta, sério. – Antes de entrarmos na
boate, eu e Ciana trocamos os disfarces. Quando nossa imagem apareceu no
telão, estávamos disfarçados da maneira que saímos daqui. O que isso diz a
vocês?
Eles se entreolharam. Por fim, Valentin emendou com o cenho
franzido:
- Alguém aqui está por trás disso.
Miri coçou a cabeça mostrando-se demasiadamente confuso. Alyha
indagou:
- Quem será o traidor?
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como meretriz a rogava que se afastasse dele ainda mais, porque percebera no
ar o clima entre ele e a jovem Ciana, e afinal de contas, era assim que ela se
sentia para um homem, uma mera prostituta.
- Estamos sendo caçados um por um e expostos a algo que nem
sabemos exatamente o que é. - Disse Zintrah com o olhar perdido na lareira.
- Eu não nasci para ser "jabá" de ninguém não"- confessou Miri que
foi argumentado por Alyha.
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- Jabá?
- Carne Seca, Vaca Ruiva. - Explicou Zintrah.
Ao final, eles tinham mais perguntas que respostas. O que sabiam era
que aquelas missões, embora elucidassem parte do mistério, se tornavam
cada vez mais perigosas.
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CAPÍTULO 15
É COMPLICADO DEFINIR.
“Histórias De Terror"
Ruiva do bosque
Já ouviu falar da lenda da garota de cabelos ruivos que anda pela
floresta a noite? Não?
Então escutará uma história que não sairá da sua cabeça nunca
mais. Acredite, é uma história daquelas. E o melhor, dizem que foi baseada
em fatos reais. Várias pessoas tentaram investigar o caso da garota nas
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florestas. Não se sabe em quais, ela aparece em todas e as pessoas que foram
investigar desapareceram. Dizem que o cabelo da garota é feito de fogo e
que ela usa uma roupa preta com capuz. Somente é possível para vê-la
devido seus cabelos serem bem brilhosos como labaredas. Dois primos foram
testar a floresta e nunca mais voltaram.
— Conversa tua! - Rebateu o irmão maior.
indagando:
— Quem te mandou aqui?
— Sabe que não vai voltar, e sua irmã, certamente te abandonou para
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é: Com ou sem você dentro? Lembre-se, desta vez é a resposta mais desejada
que lá estará.
abaixando a cabeça.
— Então pega. — Objetou Zintrah colocando o papel na ponta do seu
punhal. As duas pararam rente uma a outra. E enquanto Alyha puxava a carta
a prostituta fazia força contrária na tentativa que este se rompesse e nesta
batalha a ponta do punhal talhou o dedo de Alyha, que possessa revidou
imediatamente um soco como contragolpe na cara de sua arqui-inimiga, o
que fez romper gotas de sangue do nariz da meretriz, que não se abalou e
começou a gargalhar. Por algum razão parecia saber o que estava fazendo.
Mas diante do impasse, Armand e Valentin se posicionaram e cada uma foi
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aeroporto?
— O hangar de Aviões a oeste. — Emendou a prostituta, aquela era a
primeira vez que eles trocavam algum tipo de comunicação depois do que
no assunto, mas precisava. — O livro citado não existe, é uma lenda urbana
beirando coma bengala todo o recinto. — Esta missão é de Alyha, e o que ela
busca pode ser mais uma peça para este quebra cabeça.
— Assim como a missão anterior era minha e de Ciana e eu quase
realmente morto. Não é uma boa ideia Alyha ir sozinha. Vou com ela.
— Você ainda nem se recuperou! – Exclamou Ciana. Damon ainda
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— Nega inda bem que "ocê" errou quando cravou o punhal na mão do
seu linguarudo. Se ele já é futriqueiro com duas mãos, imagina sem uma!
Pode não, sabia?
Ela riu e tocou suavemente o queixo do baixinho e com uma voz
sedutora redarguiu:
— Na verdade errei meu intento era enterrar a mão dele junto com o
papel na mesa. Preciso melhorar a minha mira. Quer ser meu alvo para
treinamento? — Fitando-o com seus imensos olhos verdes. O pequeno
erros viu!Imagina que carece de treinar, "ocê" é fantástica coma faca na mão.
— E rompeu para outra ponta do ambiente.
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posicionou:
— E aí, o que achou da parada do conto?
ninguém além de sua mãe sabia do seu anseio por aquele conto. Apesar de
corajosa e seca, a ruiva tinha receios que soubessem de seus temores, via isto
como fraqueza. Logo que se ajeitou de vez, olhou para as duas de si e foi
enfática:
— Vamos. — Imediatamente uma após a outra entraram dentro dela. O
por ele e foi até o hall pegando seu capacete e suas luvas de couro.
— Moto? — Indagou Ciana.
beleza.
— Isso explica a ineficácia dele! — Soltou Zintrah do fundo da sala.
— Não provoca, Nega. — Ponderou Miri. — Até que se ela não fosse
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tão ruim não era de se jogar fora, não. Eu pegava, viu! — Levando outro
cascudo da meretriz.
quintas, cinco aviões partem de Pilarium levando tais raridades, que podem
ser desde quadros, tapetes; dizem até que o Santo Graal já passou por lá.
Dizem, e dentre essas especiarias, livros raros também.
— No entanto, você nos falou que não é um livro e sim um conto. —
Relembrou Valaistu.
— Não é um livro, mas é raro, pelo menos para mim. — Objetou a
moça.
— E por quê? — Mandou na lata Zintrah com um jeito todo próprio.
dos aviões... –Damon franziu o cenho. — Essa merda está ficando cada vez
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mais sinistra.
Obsequens entrou na conversa e arrematou:
Montou, ligou e rasgou pela estrada por trás do Castelo, que além de
deserta, estreita e pedregosa, era o caminho mais próximo do hangar,
aproximadamente uma hora de viagem. Com o fone ligado em "Hell Above
Water" música que apreciava, e um dos seus versos mostrava bem quem era a
mulher que havia por trás de tanta impassibilidade e sangue-frio.
"... Eu acho que estou pronto para matar
A próxima pessoa que não se encaixa.
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com o mar batendo contra as pedras do lado, ia marcando seu território com a
poeira erguida pela Davidson.
cada espaço, olhou para o pulso onde um tipo de relógio comum daquele
tempo grudava no pulso como adesivo, o seu colocara na parte inferior do
pulso.
— Puta merda, não tenho muito tempo!
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Olhou os pontos onde os postes eram mais largos e fortes, correu para
próximo de um deles, agachou, retirou um pequeno estilete, triplicou-se outra
vez e começaram a escavar uma espécie de tubo no chão, não tinha mais que
quinze centímetros bem rentes ao mesmo.
— Falta muito? — Uma de si perguntou.
Esclareceu à válida.
— Achei! — Segredou a outra.
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Questionou um clone.
— O fio-terra, serve para o aparelho não se carregar de íons e dar a
descarga elétrica em quem o utiliza, ou seja, o choque. Não tem nada a ver
com potência. O que faremos é isolar com a borracha dos coturnos em volta
dela e assim, poderei passar cortando a grade. Não pode ser um buraco
grande, quanto maior ele for mais exigirá isolamento, portanto quando der o
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acenou a cabeça enquanto rios de suor passeavam pelo seu rosto dando a
ordem:
— AGORA!
— Corta logo essa merda, não temos muito tempo! — Alyha estava
irritada. — Chuta essa porra no lugar que já encostou que o arame cede!
os clones.
O desafio agora era descobrir em qual avião poderia estar o tal diário.
Passar pela segurança não era tarefa fácil, porém mais simplificada, afinal
detinha o poder da hipnose. A questão era: A encomenda da charada está
num dos cinco aviões que taxiavam pela pista. Todavia, qual? Avaliou, e por
uma questão do passado escolheu o do meio. A razão era porque ela e o
irmão quando brincavam com a empregada, diziam-se mais poderosos,
portanto as extremidades, pela lógica e intuição, arriscou o aeronave do meio.
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ter feito um grande esforço para penetrar no hangar e pelo fato do avião ser
gigantesco, contendo todo tipo de cargas, tornava-se mais complexo.
Determinada, se empenhou outra vez, e foi adentrando na mente de todos e
ordenando que se afastassem da caixa. Caminhou em passos firmeza com a
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uma grande irritação nos olhos dos homens e uma sufocação quase
instantânea dos mesmos.
Não havia outra solução que não imputar a saída. E quando a porta se
abriu, os recepcionou com o jato de Nitrogênio puro nos olhos onde gritam e
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aqueles que ousaram cruzar seu caminho, com uma mão e outra ordenou a
cada um a um que atirasse na cabeça do outro, enquanto ela ia passando no
rastro de sangue deixado ali como um tapete digno de sua rainha.
O cenário era eletrizante.
No entanto, ao fundo, como fora avisado, o avião explodiu, era a
condição caso voltasse deflagraria. Em meio a sangue, bombeiros, labaredas
abissais de uma enorme explosão iluminada, Alyha que vinha triunfando
como uma artilheira disposta a tudo. Num desvio um soldado tentou parar sua
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estábulo com sua moto numa velocidade cortante e com um riso no rosto que
somente ela compreendia o que significava.
Ao chegar ao castelo cansada e visivelmente sarcástica, retirou do
bolso interno da jaqueta o embrulho e jogou em cima da mesa.
enigma:
— É jogo de "faça e desfaça". Fazia muito isso quando eu era
pequeno.
Todos se entreolharam como se dissessem: "Quem o convenceu que
cresceu?".
— Explana motorista da carrocinha de pulgas. — disparou Alyha
sarcasticamente.
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números dessa charada foram 53 e 25. Oxe,"Ocês" parece que num pensa,
não tiveram infância não? — E voltou a sentar no pequeno canto com muita
naturalidade.
Todos se reuniram sobre a mesa com as pistas das missões feitas até
então e aquele fato não se dera em outro caso, somente o de Alyha, por
incrível que semelhasse Miri havia matado parte do enigma.
Zintrah o olhou e berrou:
— Alguém me belisque! — Aracaê não perdeu tempo, cruzou e
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CAPÍTULO 16
O meu horóscopo
Valentin, como não tinha ido ainda em nenhuma delas, acabou achando que
estaria na próxima. E não se enganou. Três dias depois Victor os convocou
com uma nova charada e leu para todos em voz alta:
- “ Eles cantam, dançam e são felizes. Casam-se uma vez na vida, por
amor, são muito fiéis. Eles são seu povo. Procure o desenho e o resultado
para essa conta: A quantidade deles menos 3 deve ser colocada lado a lado
com os escolhidos. Busque a resposta no livro do seu povo, deixado sob a
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janela caída.
- Você entendeu a charada, Valentin? – Perguntou Damon, vendo
preciso ir até lá e ver a qual desenho se refere. – Mas teve uma ideia e se
levantou de imediato, decidido: - Mas não vou esperar até amanhã ao pôr do
sol, quando com certeza haverá uma armadilha para mim. Vou agora lá.
- Mas quem garante que a pista estará lá hoje? – Perguntou Ciana.
- Ninguém. Mas eu estarei. E ao menos verei quando a pista for
colocada.
Eles ficaram quietos. Era um risco, mas o cigano podia estar certo.
Talvez tapeasse quem mandou a charada. Insistiram para ir com ele, mas
ficou irredutível. Era a sua missão e faria do seu jeito. Ninguém se arriscaria
além do necessário.
Pegou um dos carros de Victor, armou-se com duas pistolas, suas
duas adagas antigas do seu povo e dirigiu-se até a biblioteca abandonada. Já
era fim de tarde quando chegou no local abandonado e completamente
silencioso. Chegava com 24 horas de antecedência do combinado.
Praticamente correu para dentro, as duas armas preparadas em suas
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“Pode rasgar suas roupas. Não se passaram três dias, mas dois
anos. Grite e chore. Foram tirados de você para que não fosse embora
com eles. A busca por repostas e vingança o manteve aqui. Isso ele fez
com você e os outros. É sua tática. E como não precisava deles, viraram
pó”.
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Era mais do que claro. Valentin ficou gelado. dor atroz o dilacerou
por dentro. Era costume de seu povo rasgar as roupas três dias após a morte
de uma pessoa querida. E a mensagem o mandava fazer isso, dois anos
depois. Ou seja, eles estavam mortos. O maldito os tirou de si para mantê-lo
ali. Matou Luna grávida.
- Ahhhhhhhhhhhhhhh ...
Gritou furioso, rasgando a camisa em tiras, a dor deixando-o a ponto
de enlouquecer. E sozinho, na biblioteca velha e abandonada, o cigano que
um dia foi sorridente e feliz viu todas as suas esperanças serem dilaceradas.
Morreu ali. Tudo de bom nele se foi. E só não enfiou a adaga no peito por um
motivo: vingança.
Mataria aquele desgraçado. Nem que fosse a última coisa a fazer na
vida.
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que arrasou com a vida deles. E para isso precisavam entender tudo o que
estava acontecendo.
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abandonado a Liga. Para ele, como talvez para a maioria, a Liga só tinha um
único objetivo: encontrar e destruir Hally. A ideia de salvar a população da
total ignorância e manipulação, impetrados pelos poderosos da cidade era um
aspecto secundário. Paradoxalmente, o que unia o grupo, ao menos a maioria
deles, não eram valores nobres, mas a sede irreparável de vingança. E era
exatamente por isso que ele estava ali. Para tentar por um fim naquela
história.
Mais uma vez se repetia aquilo que parecia ter se tornado quase que
um ritual, para os habitantes daquele castelo. Victor, com um ar sempre
compenetrado, voz mansa e, ao mesmo tempo incerta, lendo, num pedaço de
papel, mais uma mensagem de alguém que buscava, de alguma forma,
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meio que surpresos. Era a primeira vez que a pessoa que enviava as
mensagens fez uso de um poema. No entanto, o que mais inquietou os
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escolha por vontade própria. O que chama a atenção são três coisas: Valaistu
era considerado uma espécie de iluminado pelo povo que o seguia, já afirmou
mais de uma vez admirar poemas e, como todos nós, tem seu lado obscuro.
Portanto, mais do que claro a quem a charada se refere dessa vez.
Valentin mantinha-se quieto, pálido e abatido. Sim, estava claro que a
charada era para Valaistu, assim como a última foi para ele.
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causa disso. Todos sabiam o local da missão. Damon quase morreu, porque,
de alguma forma, que ainda não sabemos como, a polícia de Pilarium
descobriu o disfarce dele e de Ciana e onde se localizavam, com exatidão.
Não vou colocar minha cabeça a prêmio facilmente e parece que quem está
enviando estas mensagens também não o quer. Por isso essa mensagem
enigmática.
- Mas se acontecer alguma coisa, como vamos poder te encontrar se
não sabemos para onde vai? – Ciana ponderou, preocupada.
Victor questionou:
- Então, você vai sozinho.
- Sim, irei só, como o texto sugere. Esta minha ida sozinho será uma
oportunidade única para quem fica. Estejam atentos, e na hora certa vocês
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prestes a desvendar quem é que estava por trás daquelas mensagens, colocava
em segundo plano este sentimento ruim. Ele então sorriu e concluiu sozinho:
- Um enviado de Victor... por que será que não estou surpreso? Velho
maldito... sabia que tinha um dedo seu nessa história.
- Eu recebi ordens de te conduzir novamente para o castelo, para a sua
segurança e da Liga.
Com uma calma fora do normal, o jovem ironizou:
- Para a minha segurança e a da Liga. Conte-me a agora a do
português.
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abaixar a cabeça, para olhar para o chão, mas eu te explico. Todas essas
plantas estão enroscadas em sua perna.
- Por... por... fav...
- É... eu queria ser didático e explicar os efeitos devastadores de cada
planta, mas não tenho tempo. A paralisação é um deles. Bem... – nesse
instante Valaistu se abaixou e arrancou alguns pedaços de folhas e flores e
depois se levantou – sinto muito em lhe dizer, mas você e os boçais que
estavam junto com você estão mortos. Toma. Sinta o gosto e morra mais
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pobre vítima. - Valaistu deu de costas e seguiu o caminho. Ele tinha muita
estrada para percorrer até chegar ao local sugerido pela mensagem.
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- “Montes esquecidos... ok, mas onde seria o Santo dos santos?” pensa
ele. “A pessoa escreveu isso para você”. O jovem se via obrigado a descobrir
o paradeiro daquela pista, pois ele sentia que não tinha muito tempo à
disposição. Alguém com um poder incrível estava cada vez mais perto.
- “Santo dos santos” é Deus... mas a mensagem indica um lugar. Que
lugar poderia ser considerado “Santo dos santos”? O lugar onde Deus
habita... – ao terminar de conjecturar sobre isso, um lampejo veio-lhe em
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monastério. Ainda ali, mais uma vez fez uso de seu poder. Do chão, faz
nascer grossíssimos cipós que se amarraram numa das paredes próximas à
capela. Com um gesto, como se estivesse chamando alguém, em câmara
lenta, ele fez com que os cipós puxassem aquela parede, até que tudo
começou a desmoronar. Valaistu corre para dentro da capela, enquanto que
toda a parede desmorona a entrada da mesma. Tudo isso para atrasar aquele
que estava a poucos metros atrás dele.
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Ali era, para os cristãos católicos, o “Santo dos santos”, o lugar onde Deus se
fazia presente na eucaristia. Com certeza ali estava a pista. E para o seu alívio
ele tinha acertado. Ao abrir aquele belíssimo sacrário, mesmo que
abandonado, era possível ver o dourado que o ornava, além da imagem dos
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de seu poder em duas direções. Fez com que raízes profundas adentrassem a
terra e com ela levasse o papel. Também lançou sementes em várias direções.
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barriga, ao perceber que aquele homem poderia usar o seu poder contra ele.
Hally poderia feri-lo gravemente, pensava preocupado. No entanto, tal
daquele infeliz. Todo seu poder não seria suficiente contra aquele homem,
num ataque frontal. Entretanto, o jovem ainda tinha uma carta na manga.
- É claro que me lembro do que você me fez fazer, desgraçado.
Porém, isso não faz tanta diferença agora. O que me intriga mesmo é saber
como você conseguiu chegar até aqui. – o rapaz buscava o autocontrole com
todas as forças, ao mesmo tempo em que provocava Hally a se revelar. Este,
ainda mantinha os olhos fixos em Valaistu, lutando psiquicamente contra a
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a parede.
Quase, sem ar, Valaistu insistiu:
- Eu... eu... sei do que... você é capaz.
- Sabe mesmo – riu Hally, enquanto se aproximava de Valaistu, que
permanecia pressionado contra a parede. De frente para Valaistu, ele enfiou a
mão em um dos bolsos dele e arrancou um papel. Qual não foi a sua surpresa,
ao abrir o papel e se deparar não com a pista, mas sim com o poema
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te quebro todo!
A proximidade de Hally fez com que Valaistu sentisse um perfume
que não lhe era estranho. No entanto ele ainda não conseguia identificar.
Com a boca ensanguentada, devido a forte pressão, conseguiu ainda cuspir na
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usando ao máximo a sua telecinese. No entanto, era demais até para ele.
Controlou a situação até onde pôde, mas ao final viu suas forças diminuírem
e tudo veio abaixo sobre os dois.
Alguns metros fora do monastério, um esplendoroso girassol
floresceu, chamando a atenção de uma pessoa que de longe observavao que
acontecia lá dentro. Ele se aproximou do girassol e constatou que em sua
corola estava depositada a pista. Ao abrir seus olhos foram atraídos para uma
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Fuja solitário!
Armand fitou a capela destruída por uns instantes, sua vontade era ir
ajudar o garoto, mas ele renegou esta pensando consigo mesmo “Desculpe
garoto, ainda não posso enfrentá-lo, é muito cedo. Você ficará bem, ele
precisa de você vivo e saudável”. O homem deu meia volta e seguiu para o
castelo de Victor.
Por entre os escombros, Hally havia por fim conseguido manter-se a
salvo, graças à sua astúcia. Ele, com sua potente telecinese, fez uma espécie
de câmara de sobrevivência com alguns blocos de tijolo e, paradoxalmente,
tinha sido também auxiliado por Valaistu, já que, independente de sua
vontade, algumas raízes, ao se transformarem em uma espécie de coluna, para
proteger o manipulador de vegetais, mantiveram aquela câmara firme.
- Esse verme sabe demais. Terei que aprisiona-lo até o dia da profecia.
No entanto, preciso voltar o quanto antes para o castelo.
Pela manhã Armand chegou ao castelo. Os membros da liga e Victor
estavam acordados pois a hora já se fazia tarde.
Ciana não conseguira dormir, preocupada com o rapaz. Sentia-se
culpada por não ter se oferecido para ir com ele. A dúvida a corroía, pois de
um lado achava que tinham que parar de respeitar aquelas especificações e
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todos partirem juntos para as missões e arriscar; mas por outro lado temia que
as pistas não fossem dadas se fizessem isso. E todos eles ali se viam
um tanto trêmula:
- E o Valaistu?
Zintrah arqueou as sobrancelhas olhando Armand de um jeito bem
capcioso, era óbvio para ela que o senhor misterioso ocultava algo de fato.
- Cadê o carequinha? - indagou Miri curioso.
- Foi engolido por alguma plantinha carnívora? - Alyha ironizou a
situação.
Armand ignorou as perguntas, sentou-se com os pés sobre a mesa e
respondeu:
- Era mais uma maldita armadilha.
- E o que aconteceu com Valaistu? - Pressionou Damon, preocupado.
- Ha! - A meretriz gargalhou. -Por que será que não estou surpresa? -
Devolvendo o olhar para senhor Obsequens.
- Se foi... - respondeu o soturno componente do grupo.
- Se foi como? - Ciana se aproximou, cansada das meias palavras
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para comer quando era pequenininho lá... - Sendo talhado por um olhar de
Alyha.
- Até poderia explicar se tivesse visto o que houve - retrucou Armand,
fitando calmamente um a um.
- Ah, e você que foi com ele não sabe? Maravilha, alguém tem o
telefone da Mãe Santina, teremos que consultar os búzios. - A prostituta
sorriu sentando-se mais à frente.
- Não viu? - A ruiva se irritou.
- Havia alguém com Valaistu o tempo todo... Para cada passo que o
monge dava essa pessoa estava um a frente... Não pude me aproximar muito
para não denunciar minha presença e quando dei por mim ... pushhhhhhhh -
Fez um movimento de explosão com as mãos - O prédio caiu na cabeça deles
- Finalizou Armand.
- Nossa! Tão apropriado não, Armand? - Investigou Alyha.
- Prédio? - Ciana ficou assustada. - Ele ... morreu?
- Ficou surda agora também, piralha? - retrucou Zintrah para a Loira.
- Lascou foi a bodega toda! - Miri não se conteve.
- Por que não cala a boca? - Irritou-se Ciana nervosa, olhando com
raiva para Zintrah.
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onde quer, quebra, agora mata e todo mundo vai ficar aqui esperando ser feliz
para sempre?
- Ui que meda! - Rezingou a meretriz sacudindo os ombros para a
jovem.
- Duvido que ele esteja morto, ruiva, se Hally ou seja quem for nos
quisesse mortos, já estaríamos. - Afirma Armand.
- Nega... Posso pedir uma coisa? - Miri veio todo com jeito para
Zintrah que ela resolveu acatar.
- Pode.
- CALA A BOCA! - Para o espanto da maioria.
- Você tem tanta certeza sempre? - Retrucou a ruiva para Armand.
- Mostre onde ocorreu esse desabamento. Vamos até lá. - Ciana falou.
- Milagre, a ninfeta disse algo aproveitável. - Completou Zintrah. - O
que diz, Armand?
- Sempre tenho certeza - Armand falou simplesmente. - Ademais não
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seriedade.
- Além de tudo, cão farejador? - Alyha devolvia todas as farpas para o
senhor dos mistérios.
Armand por sua vez apenas esboçava um leve sorriso.
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-Hum.
- Estamos perdendo tempo aqui. - Damon concluiu, sem acreditar
totalmente em Armand. - Quem garante que você não deu um fim no rapaz? -
Sabemos que há um traidor entre nós. E na única missão que você vai,
alguém não volta.
- Bingo! - Alyha atirou com a mão como se fosse uma pistola.
Armand deu uma gargalhada ao ver a afirmação da ruiva. Depois
indagou:
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que se vire.
Ciana encarou-a com raiva.
- Aliás – Armand interrompeu, antes que alguém mais falasse - Anda
me dando muito trabalho manter vocês vivos...
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perderem as forças, surgiram mais policiais e elas viram que seriam pegas.
Então as tudo ficou escuro e quando as luzes voltaram, eles estavam todos
caídos no chão.
Zintrah balançou a cabeça, inconformada. Ciana disse baixo para
Armand:
- Parece que agora te devo duas.
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- Falou o que com Victor? - Damon se levantou. - Está aqui para nos
distrair? O que tanto vocês parecem combinar?
- Deixa de ser babaca, Damon! - Gritou Zintrah. - Ele quer tirar o a
questão em pauta, e está conseguindo!
- Ai meus "nevros"! - Miri começou a esquentar-se batendo na
cabeça.
- Será, Zintrah? - Perguntou Armand.
- Armand, querido, a mim você não engana... – Respondeu, mas num
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- Bom, façam como quiserem, mas dessa vez estão por sua conta, eu
fico. - Afirmou Armand. E continuou: - Enquanto dava uma de Sansão,
Salmo 118
17. Concedei a vosso servo esta graça: que eu viva guardando vossas
palavras.
53. Revolto-me à vista dos pecadores, que abandonam a vossa lei.
25. Prostrada no pó está minha alma, restituí-me a vida conforme
vossa promessa.
98. Mais sábio que meus inimigos me fizeram os vossos
mandamentos, pois eles me acompanham sempre.
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das charadas, na ordem em que foram feitos. Tinham que sentar, discutir
sobre aquilo, tentar achar uma solução naquelas pistas. No entanto, Ciana não
se sentia preparada para pensar naquilo. Seus olhos cheios de lágrimas
fitavam a última frase de Valaistu, um acréscimo, uma mensagem para
Capítulo 18
Amores e dissabores
Damon saiu com Victor para pegar a chave da moto, enquanto Ciana
corria ao seu quarto para pôr uma calça.
Na espreita, Zintrah logo escutou a correria, sorriu burlescamente e
pensou consigo: “Por que não?”
A meretriz pegou o pequeno Miri pela gola e foi incisiva:
– Ora de se redimir nanico!
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– Calma aí, Nega! Oxê, que quando "ocê" fala isso já me vem um
revertério no buxo...Lá vem merda! – resmunga Aracaê arrastado literalmente
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– Mas Nega...
Ela ameaçou bater o pé e ele prontamente correu para trás da cama.
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tantos escombros.
– Tomara que Armand esteja certo, que Hally nos queira vivos e tenha
poupado o garoto. – Disse, enquanto partia para investigar o local.
Embora sentimentos não fossem o seu forte, Zintrah por um segundo
sentiu certa indignação, afinal, quem causara tudo aquilo fora Hally. O
homem que prometeu mudar a sua história.
Zintrah deixou que se afastasse, e tomou a sua forma outra vez, só
responderia a Damon com a voz da moça entre os escombros, ainda não era
hora de se revelar.
Damon revirou tudo que pôde. Chamou Valaistu em voz alta várias
vezes, embora soubesse que seria em vão. Procurou qualquer pista ou indício
de que alguém ainda estivesse ali ou para onde tinham ido, mas não achou
nada. Desapontado, pensou em falar com Ciana, mas então se deu conta de
que ela não viera com ele.
– Ciana? – Chamou em voz alta, franzindo o cenho.
Ele começou a retornar ao local onde deixaram a moto.
De repente uma voz sussurrou:
– Minha garganta estranha quando não te vejo... Me vem um desejo
doido de gritar...
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Damon parou na mesma hora. Já sabia o que veria, mas mesmo assim
se surpreendeu ao dar com os olhos muito verdes de Zintrah.
– Mas o que ... – Entendendo tudo, ele andou até ela muito irritado.
– Psiu! – ela pôs a mão na cintura com a perna levemente aberta
evidenciando suas botas de couro. -Vai fugir é?
Damon tentou ignorar seu jeito sedutor, que apesar de tudo que
acontecera e do fato de quase nem se falarem mais, ainda mexia com ele.
Parou em frente a ela, indagando com frieza:
– O que você fez com Ciana, Zintrah?
Ela passou os dedos pelo seu cabelo como quem sentira saudade,
olhou o moço na alma e respondeu:
– A pergunta é: O que vai fazer comigo Damon?
Ele sentiu um baque por dentro, mas segurou o pulso dela. Olhou
entre enfurecido e excitado, mas sua voz era controlada:
– Pode me explicar por que tudo isso agora, Zintrah? Vivemos sob o
mesmo teto e quase nem nos falamos mais.
De repente um leve mal estar invadiu-a, sim, usar seus poderes fora
da hora morta a enfraquecera, mas como fora por tão pouco tempo a leve
descompostura tornou-se severa, afinal, ela o queria, e como dizia lá com
seus botões: O que eu quero, não consigo, é meu!
– Não me sinto bem...– ensaiou fraquejando na frente do moço.
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num golpe roçando seus lábios ao dele: – Então, que atitude quer que eu
tenha, Damon?
Ele não respondeu, lutando racionalmente com os desejos insanos que
ela despertava nele.
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tirando aqueles tecidos que o impediam de sentir sua pele macia, perfumada.
Ela fez o mesmo, puxando a camisa dele com tanta força que arrancou
nuca e olhou-a nos olhos, murmurando rouco, com raiva do desejo insano
que ela despertava nele:
– É isso que você queria? – Seu outro braço ergue-a e então a
depositou sobre as roupas deles no chão, espalhadas pela grama, deitando-se
entre as suas pernas. Penetrou-a fundo e ambos arderam ainda mais,
entregues unidos, movendo-se com volúpia e um prazer escaldante.
Mas Damon queria mais dela, queria tudo. Desceu a boca por sua
garganta, mordeu seu ombro, sem parar de fazer amor com ela, enquanto
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outro era a paixão por Damon. Logo que o ouviu, foi sucinta:
– E qual desejo não tem em si pacto com a insanidade, meu caro?
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precisava pensar!
– Um homem é senhor de seus sentimentos e não escravo deles. Vim
todos os botões.
Olhou exasperado para ela, sua irritação ainda permeada pelo desejo.
E a meretriz percebeu, e mais uma vez fez o que de melhor sabia.
– Quer ficar longe de mim, é? – Tirando outra vez o vestido. – Quer
ficar sem mim para nada? – Segurando na calça dele como quem fosse tirá-lo
só para ver a sua reação. – Tem razão, é melhor mesmo!
– Não brinque com fogo. – Ele segurou os pulsos dela e puxou-a para
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si. Como um castigo, beijou-a duramente na boca, até que ambos arfaram.
Mas soltou-a, correndo as mãos pelo cabelo. – Vamos sair daqui de uma vez!
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piedosos confessou:
– Foi a Nega.
Ciana ficou um momento imóvel, então entendeu tudo. Arregalou os
olhos e puxou as mãos:
pendurado pelo pé naquela torre lá de cima por horas até alguém conseguir te
enxergar? Fica assim comigo não!
– Não me chame mocinha do Totó! – Os olhos dela encheram-se de
lágrimas de raiva e decepção. – O Gibran está morto! Eu devia esperar algo
assim daquela prostituta, mas você... Nunca mais vou confiar em você, Miri!
Nunca mais!
E deu-lhe as costas, saindo do quarto tremendo.
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– Ai, agora além de defunto, vou ser um defunto sem crédito com a
mocinha do totó! Eu vou arder no inferno, o diabo deve estar com o caldeirão
faziam Valaistu como vítima, sua eterna disputa com Zintrah e agora isso. O
ódio a dominava, imaginando tudo que tinha vontade de fazer com aquela
ordinária.
Na sala não havia ninguém e ela saiu, furiosa. Foi quando viu Zintrah
e Damon desmontando da moto em frente ao castelo.
O ódio foi tanto, que ela desceu as escadas correndo. Damon a viu
primeiro, mas nem teve tempo de reagir. Ciana já voava em cima de Zintrah e
as duas foram ao chão.
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Zintrah. – Dou esse mérito a ela, já que tenho uma vantagem de digamos uns
vinte e cinco centímetros a mais aqui, não é?
Ciana parou, vendo que não conseguiria se libertar dos braços de
Damon, que pareciam duas barras de ferro. Respirava irregularmente, parte
do que ela dissera fazendo sentido. Olhou nos olhos da mulher odiosa.
– Então foi isso, não é? Sexo! O Valaistu sumiu e você me apagou
para ir no meu lugar, não por se preocupar com ele! Mas para transar com
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Damon!
– Apagou? – Damon encarou Zintrah. – O que você fez?
mágoa. – Foi com ela sem pestanejar! Agora me larga! Me larga, Damon!
Não vou mais tocar nessa sua vadia!
– Ui que meda! – Zintrah não se importava em continuar tudo aquilo.
Damon retirou devagar o braço em volta de sua cintura, atento. Ciana
virou-se para ele, vermelha, alterada, magoada.
– Espero que tenham se divertido! Pois aviso agora a vocês, podem
fazer bom proveito um do outro! Pra mim chega!
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Ele balançou a cabeça e ela percebeu que aquela viagem não dera em
nada. Só em sexo entre Damon e Zintrah, como aquela maldita muito bem
planejara.
Alyha, que acompanhara toda discussão da porta do castelo, decidiu
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por sua vez empenhou-se ao máximo para farejá-lo e enfim chegou à cozinha,
onde contra luz viu as pegadas das botinhas do fujão indo em direção do
armário.
– Como adoro esse cheiro! O medo fede sabia, Nanico? – Exclamou
com veemência para a agonia de Miri que dentro do caldeirão rogava:
– Meu "padinho", me livra dessa que lhe prometo que volto para subir
as escadarias do Bonfim com uma vela do meu tamanho! Ops, uma vela do
meu tamanho não vai animar muito o santo. Peraí, subo com uma vela do
tamanho da encrenca que estou, o senhor não pode negar que agora é uma
proposta tentadora, vai dar para "alumiar" o céu inteirinho e as minhas
custas!
Zintrah consciente da aflição que ambicionava lhe causar expôs:
– Eu sei o quanto você adora, Monteiro. – Batendo na primeira panela
que expeliu um som agudo, ou seja, vazia e a lançou longe. – Advinha qual o
meu personagem preferido, seu duende desgraçado?
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– Não farei nada com você, pequeno. É lógico que sabia que contaria
à ninfeta sobre o que fiz. Eu queria mesmo é te dar um susto. – Explicou.
– Nega...Pelo amor que "ocê" tem nessa sua vida, não faça isso com
um cabra... – pondo as mãos agora sobre o peito, aliviado quando algo
ocorreu à meretriz.
– Está sentindo isso?
– O quê? – Rebateu meio envergonhado.
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Morte ao monstro;
Quando o segredo trouxer”.
Não era necessário pensar muito, o grupo todo olhou para Armand.
– O monstro das sombras, inimigo de todos. – Ciana repetiu, pois para
ela não ficara bem claro. Então lembrou-se de Armand, que aparecera nas
sombras e ajudara a ela e a Zintrah ao final de suas missões. Olhou para ele. –
Isso significa uma admissão de que é nosso inimigo, Armand?
Zintrah pôs a mão sobre o queixo. Queria especular mais a situação.
Alyha o encarava, mas a espreita sendo observada pela meretriz, enquanto
Aracaê saiu com as suas:
– Mas que falta de vergonha nessa cara, né seu Armandinho? Tô
avexado do "sinhô"!
– Crianças... – Resmungou Armand.
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misterioso personagem.
– Não me importa quem você é lá fora. Quero saber é o que faz aqui.
– Retrucou Damon.
– Calma meus amigos, a mensagem é clara, Armand é o destinatário
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perna largada sobre o braço da mesma, coçando sua barba cerrada sem se
alterar. – De que adiantam essas missões? Tem alguém brincando com a
gente. Me mostre Hally e vou. Fora isso, chega de rodar de um lado para
outro como peru. Nunca nem chegamos perto dele.
Zintrah enfim moveu-se:
– Seja lá o que for que tem em mente Armand, eu vou contigo, quero
saber, posso?
O que despertou certo temor no rosto de Alyha, notado pela meretriz.
Ciana manteve-se calada, somente observando tudo.
Miri mostrou-se possesso:
– Essa Liga anda com urucubaca e das brabas, vamos chamar a Mãe
preta do Kuduro das ventas dos sete dias para benzer nóis tudo!
– Então é isso, Zintrah, você irá comigo, mas tome cuidado onde pisa,
não vou tolerar suas hostilidades para sempre, me encontre no meu
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Capítulo 19
A última missão
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está.
- Vixe, que num fico aqui sozinho com o linguarudo dos infernos! –
Miri se levantou logo. – E se a Nega precisar, to por lá!
- Eu vou também. – Disse Cigano, que estava com o grupo para tudo
o que viesse.
- Só não podemos demorar. Vou pegar um dos carros da garagem.
Usem disfarces e vamos. – Damon já saía.
Armand acordou cedo, além de ter ido até o aeroporto para receber o
governador e acompanhar o prefeito, teve que rever vários assuntos de sua
empresa. As 7:00 a recepção informou da chegada de Zintrah que ele mandou
subir prontamente.
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novamente.
- Muito bem senhor Armand, como adentraremos o recinto? Pensou
nisto também?
- Mais fácil ainda, o prédio é meu ... Entrar no quarto vai ser mais
complicado, mas nada que eu não resolva fácil também.
- Senhorio é? - A Meretriz gracejou. – Começo a achar interessante!
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Geralmente uso um cartão, mas como às vezes ele estraga, o código fica
ativo. Aquela porta aberta à esquerda de onde estamos é a biblioteca como
pode notar pelos livros. Na parede ao fundo há uma porta escondida. Procure
o livro Prodigiorum Libellus. Atrás dele há um botão, aperte e terá acesso à
escadaria que leva ao andar abaixo, é a única entrada que existe. Não existe
local mais seguro nesta cidade do que este prédio. Nem o tal Hally poderia
entrar aqui com todo o seu poder. Nem por baixo, nem por cima e nem pelo
meio – Voltou a informar Armand.
- E porque daria o trabalho de minudenciar tanto uma vez que iremos
juntos, mon petit chery? - Zintrah rebateu astutamente.
Armand levantou-se, foi até a janela e continuou:
- Tudo o que posso dizer é que caso, por algum milagre, eu seja
obliterado por fogo inimigo ou “amigo”, dentro da sala abaixo há uma
gravação automática que explicará tudo o que vocês precisam saber. Falando
em saber...
Ele foi até o escritório, seguido por Zintrah. O local possuía alguns
livros bem antigos, armas brancas raras e uma mesa computadorizada. Ele
sentou-se a mesa e disse:
- Victor.
Automaticamente a tela da mesa é ativada e Victor aparece nela.
- Olá meu velho. – Disse Victor – Em que posso ser útil?
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presença.
- Não se importe com ela, apesar de tudo é de confiança – Afirmou
Armand.
- Entendo. E caso o inimigo aja? – Indagou o velho.
fitou Zintrah e a encarou por um longo tempo, tempo o bastante para deixá-la
desconfortável.
- Não sei o que vamos achar no cofre, mas espero que seja algo que
nos leve ao fim desse caso.
- Onde o fim será somente um novo começo. Certo, bonitão?
- Quem sabe? - Ele respondeu.
No entanto, Zintrah pressentira onde de fato tudo aquilo poderia
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conduzir o destino da então Liga Literária, mas para a meretriz naquela altura
o que realmente contava para si era de que modo tal conjuntura a levaria a
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pelo menos por hora, manter a curiosidade sob controle. Se por desconfiar
dele ou se por confiar nele, não sabia, só apostava na segunda opção.
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conhecidos. O que a meretriz almejava era agora descobrir que peça Armand
tinha separado para sua pessoa, mero peão ou cavalo, peça certeira num
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sua mesa e pegou um par de luvas em uma gaveta, calçando-as. Ele faz
questão de mostrá-las a Zintrah, são pretas em seu dorso e cinzas em suas
palmas. Ela não entendeu porque ele agiu como se fosse um mágico de salão
mostrando as luvas daquela forma. Ele retornou à abertura do duto e,
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... – Ele falou, averiguando se havia outro modo de entrar ou sair da sala, o
que não existia.
- Muito bem, vamos, querida! – Disse Armand levantando a mão
direita, com sua luva totalmente preta, para que Zintrah o acompanhasse.
- Vamos, bonitão. - Rebateu a meretriz.
Do lado de fora um dos manobristas trouxe o carro de Armand. Ele
entregou as chaves para Zintrah e disse:
- Volte para o castelo, tenho um assunto a resolver.
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mesma hora em direção ao beco, mas Ciana segurou seu braço, indicando os
guardas que formavam um cordão de isolamento ali. Disse baixo:
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Por fim, a fitou, percebendo que eles tinham razão. Mais uma vez
sentiu que estava abandonando Luna com seu filho. Pois ao menos tinha que
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enfim pela Liga ou por si própria como sempre fez desde o início.
- Doces crianças, sei tanto quanto vocês, ou seja, nada. No entanto, há
Ah, eu percebi logo que botou os pés ali e ... -Desta vez foi a mocinha do
Totó que lhe deu uma olhada daquelas.
Ele parou um momento.
- Já entendi! - Gritou o pequeno. - "Ocês" são tudo chato demais
,"sô"!
Zintrah recuperou a forma e colocou a seguinte menção:
- Hally está entre nós. Ele é um de nós.
A meretriz botou a mão nos bolsos e retirou um pequeno papel
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busca de respostas.
PS. Não me esperem para o café”.
A.
Victor continuou:
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- Será que Valaistu também foi levado para esse endereço? - Ciana
olhou para os outros, ansiosa. - Acho que finalmente formaremos a tal Liga,
não é, Victor? Lutaremos lado a lado contra nosso inimigo, cujos poderes
nem sabemos ao certo quais são!
Victor olhou para a jovem e num riso deleitoso disse:
- Está na hora minhas doces crianças!
- Mas a dúvida continua. - Disse Damon. - Além de Hally, há mais
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um traidor entre nós. Pode ser Armand ou um dos aqui presentes. Então, todo
cuidado é pouco. O ataque pode vir de onde menos esperamos.
Alyha rebateu:
- E se isso for uma cilada? Quem nos protegerá, velhote?
Foi ao ouvir a menção do ator que a meretriz elevou-se tirando o
punhal e trazendo outro predicado. Madame sentou cruzando as belas pernas
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segunda, a terceira bituca do charutos que ele costuma usar e posso lhes
mostrar, estão guardado em minha alcova. E antes que alguém questione
como sei, deixo claro que fui eu mesma quem o apresentou a marca deste
fumo. E desde então passei a perceber que sempre que estamos juntos como
agora um leve aroma de uma madeira rara da Ciclides perpetua entre nós.
- E daí? - Cigano questionou.
- O perfume que Hally usa desde quando o conheci e que segundo
confidência dele em nossos tórridos momentos, - instigando Damon. -
Contou-me que nunca o troca em virtude de uma alergia muito rara que
possui.
Ciana se sentiu gelar e olhou para os que estavam a sua volta.
- Quer dizer ... Hally é um de nós?
Na sala estavam Victor, Ciana, Alyha, Zintrah, Damon, Miri e
Cigano. Todos se entreolharam.
- Antes achei que por alguma razão conseguia entrar aqui, mas haja
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- Ele poderia ser você, Madame Zintrah. Não pode se tornar qualquer
pessoa?
- Não careço dizer que com 1.45cm não tenho a menor possibilidade
de ser, né? - Miri mais uma vez se invocara com sua estatura.
aquele tempo todo ali no castelo com o assassino da sua irmã ... Mas ficou
imóvel, apenas observando. Como saber qual deles era Hally?
- Isso explica a morte de Gibran. - Ciana falou, furiosa. - Por isso ele
vivia latindo, parecia perseguir alguém no castelo. E por isso foi assassinado.
Damon foi para perto dela e disse baixo:
- Durante nossa ida a esse endereço, não saia de perto de mim. E fique
atenta.
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A moça era a única que Damon confiava ali. Nem mesmo Zintrah,
com toda paixão que despertava nele, escapava da chance de ser Hally. Ciana
prestando atenção a sua volta, sem perder a chance de agarrar seu inimigo.
- Como o maldito não vai se entregar, é melhor irmos logo de uma
vez até o local que as coordenadas indicam. Sendo ou não armadilha, não dá
para ficarmos aqui de braços cruzados. - Damon encarou Victor. - Dê-nos
logo o endereço.
- Não nos precipitemos. – disse Victor - Vamos nos preparar, peguem
o que achar necessário, armas, mantimentos, roupas, enfim, e dirijam-se ao
cais. Tomarei as providências para a sua ida ao ponto determinado, passarei
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fraqueza de sua portadora. Dentro do local apenas uma cama e uma janela
diminuta.
- Olá, irmã – Disse o vilão.
- Essa forma? Por quê? – Indagou a jovem e fraca Alyha.
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porta e disse:
- Ainda sabe brincar de gato e rato, maninho?
A sombra se detém. “Não sou seu irmão”, ouve Alyha em sua mente.
Foi quando mesmo que confusa concentrou-se deixando seus olhos
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Alyha".
E então ela soube que poderia confiar em suas poucas expectativas de
sobrevivência. No entanto retrucou:
- Cuidado! Ele quer bem mais do que pensam.
"Sei exatamente o que ele quer, por isso estou aqui", responde a
sombra.
- E o que vai fazer a respeito?
"Permitir que consiga" a sombra disse simplesmente.
A jovem retorceu-se, revirando os olhos:
- É muito pouco, meu caro. Meu irmão é uma mente doentia, vil e
abissalmente cruel - E quase desfalecendo, sussurrou: - Precisa saber de uma
coisa ...
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restava. Amarrou o lenço preto no cabelo e fez suas orações. Não pedia para
sobreviver. Mas para vingar a morte de sua esposa grávida. Se isso ocorresse,
cada sangue derramado valeria a pena, inclusive o seu.
Ciana não tinha a menor intimidade com armas ou como lutar. Damon
tinha lhe dado umas aulas de tiro, ensinado alguns golpes para se defender,
mas mesmo assim sabia que era a mais fraca do grupo. Teria que contar
basicamente com seus poderes.
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Sentia como se estivesse indo para um suicídio. Não sabia o que a aguardava,
quem era o inimigo infiltrado entre eles, ou o que realmente iam enfrentar.
Mas que outra opção tinha? Desistir de tudo e passar a vida perguntando a si
mesma por que Hally matara seus pais? Se culpando por não ter feito justiça
quando teve a oportunidade? Não. Só lhe cabia enfrentar o que tinha pela
frente.
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talvez nunca tivesse tempo de saber o que realmente queria. Mas sabia que
amava e desejava Ciana, assim como a Zintrah. De maneiras diferentes.
baixo:
- Parece que até aqui, no final de tudo, nós três nos encontramos.
A meretriz alteou o olhar e rebateu:
- Perdoem, errei a porta. - Já se preparando para sair.
- Zintrah! - Ciana adiantou-se a Damon, chamando-a. Quando a
meretriz virou-se, continuou: - Damon não me chamou aqui. Eu
simplesmente entrei e o beijei. Sabe por quê?
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nome da jovem.
- Mas vou falar assim mesmo. - Ciana encarou-a diretamente. - Acho
que se algum de nós aqui tem mais chances de morrer hoje, sou eu. Você viu
na nossa missão, sem meus poderes não sou nada. Vim aqui para ter esses
poderes, já que dependo do contato físico. Mas não apenas isso. Também
queria ter uma última lembrança doce do homem que amo, se as coisas não
derem certo. Só quero que saiba que, apesar de tudo, de querer ver você pelas
costas, foi bom ter lutado com você ao meu lado.
A meretriz esboçou um riso debochado, caminhou até a moça, tocou o
queixo dela e foi enfática:
- Você se daria bem nas décadas de 80, 90 ou 2000. Eles valorizavam
tanto esses dramalhões mexicanos. É bonitinha. Que pena que o tempo não
volta, pois teria a sua chance dourada e recuperaria meu tempo perdido! -
Fuzilando o ator com um olhar bélico.
- Olha, vamos enterrar tudo isso por enquanto e nos concentrar em
destruir Hally. - Damon interferiu, passando nervosamente a mão pelo
cabelo.
E foi então que ele conseguiu o que não queria. Zintrah foi até
Damon, rebatendo:
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- Por enquanto? Para quem, querido? Pois para mim ... - batendo
contra seu peito. - Morre agora! - E retirou-se do quarto.
- Certo.
Zintrah desceu os longos corredores indo direto para os fundos como
um foguete. Foi quando Miri, que se aquecia em abdominais cujo não
alcançava as pontas dos próprios pés, mas estava firme para lutar pela Liga,
por si a viu passar e rompeu atrás dela.
Zintrah já estava armada com seu punhal escondido no crucifixo e
doses cavalares de tetrodoxina. Mas parecia enfim que ia jogar por si só.
- Nega? - Miri a chamou e espantou-se porque do rosto dela viu
lágrimas rolarem, como jamais supôs sequer que haviam nela. - Nega...
- Me deixe, Nanico! - Ordenou.
Com muito cuidado o pequeno projetou-se diante dela e colocou sua
faca no chão. Ela retrucou limpando o rosto e respirando:
- Enlouqueceu?
Aracaê riu, alisando as pontas de suas longas madeixas e firme disse:
- Se ocê não for, Nega, eu não irei.
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aqui!
Miri sacudiu a cabeça e com a sinceridade de uma criança falou:
- Esse foi o motivo que me fez entrar aqui. Se ainda estou aqui é por
você. Quando todos me olharam, só ocê me viu e me deu guarida naquela
noite fria depois da reunião do bilhete. Soube que ocê podia ser tudo que é,
mas há bondade no seu coração, só carece da gente querer oiá melhor. De
onde venho, a morte de pai e mãe se vinga sim, mas a lealdade a um amigo
vivo não tem preço que pague!
E então ela deixou as lágrimas rolarem, agachou e o abraçou como
abraça um irmão, e então Madame Zintrah entendeu o que era amor
incondicional. Ergueu-se, segurou no queixo de Miri e foi assente:
- Quer ir para porrada, Nanico?
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local.
- Mesmo nessa situação, você tem a ousadia de me ameaçar?
Admirável.
Ofegante, não só pelas costelas, mas também pela opressão que lhe
causava aquela escuridão, ponderou Valaistu:
- A sua arrogância... guarde bem essas palavras... a sua arrogância
será a sua condenação.
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que você já percebeu onde você está. Você... como de costume, me obrigando
a ser criativo.
Valaistu, mancando, percorreu aquele espaço retangular, de poucas
dimensões. Ao perceber a sua situação, respondeu:
Não perca seu tempo tentando usar seus poderes, pois o lugar onde eu te
enterrei está revestido de concreto e aço.
Valaistu, tomado pelo desespero e ódio gritava, enquanto ouvia os
passos de Hally se afastando do local:
- HALLY! HALLY!
Depois que aquele homem se foi, um silêncio sepulcral tomou conta
do ambiente. Arfante, Valaistu andava sem direção, naquele cubículo. O
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lhe ar por causa das costelas quebradas, mas também por causa do desespero
e da sensação de que aquele lugar encolhia a cada passo que ele dava. O
silêncio também era motivo de tortura. O coração do jovem saltava no peito,
e por causa da ânsia extremada ele começou a expelir pelos poros bastante
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rumores dos mais diversos. No entanto, sozinho naquele lugar, ele reconhecia
para si que era chegado o momento de mergulhar nas trevas profundas de seu
ser, revisitar as dores de seu passado para que assim algo de sublime pudesse
florescer no meio de tanto terror.
Lembranças maravilhosas vinham-lhe em mente: o passeio no
zoológico, e aquela gostosa surpresa ao ver pela primeira vez araras, leões,
repente, era como que aquele lugar tivesse adquirido outras proporções, já
não lhe pesava tanto a dor, nem a ideia de estar enterrado em algum lugar que
dificilmente alguém encontraria.
Ao mesmo tempo em que ele mergulhava dentro deste oceano de
consolação e de paz, começaram a vir em sua mente todo o terror que ele
viveu naquela noite, na qual perdera seus pais. O controle cruel de sua mente,
a vermelhidão do sangue por toda a parte. No início ele pensou em negar
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aquelas imagens e lembranças e abrir os olhos, mas depois ele percebeu que
era necessário também passar pelo crivo da dor para, quem sabe, superar as
inseguranças e medos que o cerceavam e que ele fazia de tudo para negar.
Então fluíram por sua mente as súplicas e desespero de sua mãe, o pavor do
pai ao ver o próprio filho degolar a sua esposa, mais uma vez o escarlate do
sangue na sala, na cadeira onde estavam amarrados os seus pais, no corpo
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não só... ele sentia como que toda a força de vida dos diversos vegetais de
todas as eras estivesse de alguma forma pulsando nele. Era forte demais. A
- Toc, toc. – ironizava Hally, ao bater com um dos pés a parte de cima
da câmara onde estava preso Valaistu.
- Hally... deixe-me apodrecer neste lugar em paz.
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perto das árvores. Duas horas haviam se passado desde que saíram do castelo
de Victor. Não que o local fosse tão longe, mas as condições climáticas não
estavam favoráveis. Havia começado uma chuva muito forte após sua partida
e as ondas ficaram muito agitadas repentinamente.
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Disse Hally.
- Sim senhor! – Respondeu o homem retirando-se do local.
não sabiam de tudo. No que tangia a eles, podia ser mais uma armadilha,
como foram as missões em que se envolveram. Esconderam-se e observaram.
Por fim, Damon falou, em meio à tempestade e à escuridão:
- Não há muito a ser feito. Vamos invadir e lutar. Vou à frente,
congelo o que puder. Vocês vão eliminando os inimigos.
- Espere. - Ciana segurou o braço dele, molhada até os ossos. -
Preciso dos meus poderes.
E ele entendeu. Ciana o abraçou forte e beijou na boca, no que foi
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Poderiam morrer naquele dia. Mas morreria com seu beijo na lembrança.
Damon a olhou, sorriu e saiu detrás da árvore, correndo em direção ao prédio,
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sabia que não tinha como evitar. Tão logo ele entrasse no prédio e saísse
daquele ambiente, eles voltariam ao normal e os perseguiriam. Assim, sacou
as armas que a ensinaram a usar e foi acertando-os, não para matar, mas para
tirá-los de combate. Um tiro no joelho, no braço, na perna e assim por diante.
Corria atrás dos outros.
Zintrah e Miri logo encontraram companhia, com golpes céleres e
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inimigo que odiava mais do que tudo, sabendo que seus poderes não
funcionariam contra ele.
Ao ouvir Zintrah, Armand esboça um sorriso, mas é atingido no rosto
por um tiro vindo da arma de Damon, ele leva a mão ao rosto, limpa o sangue
e dá um suspiro dizendo ao mesmo tempo:
- Garoto idiota. Bem, vamos lá.
Armand se movimenta rapidamente e atinge Damon em seu abdome,
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derrubando-o longe.
- Vocês são patéticos.
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por um instante Miri creu que Madame Zintrah tinha morrido. Ensanguentado
e com um rombo no ombro, tomado por uma longa queimação que tomava o
lado esquerdo do corpo o mesmo que utilizava melhor a faca. Porém,
tomando fôlego arrastou-se pelo chão até Zintrah, e foi nesse momento que
num súbito ela agarrou em sua gola rogando:
-Me...Ajude... - lançando o olhar para a bota, onde escondia o
antidoto para o veneno. Abatido mas inda célere usou a outra mão e com sua
faca conseguiu rasgar o couro tirando o pequeno frasco que numa falta de
reflexo rolou indo parar mais abaixo num cimo de um módico abismo, nada
relevante, contudo naquela circunstância um obstáculo avassalador. Havia
um acanhado arbusto no caminho. E foi graças ao mesmo que o frasco não se
perdeu por completo caindo de vez. Miri fitou Zintrah, constatando que
entrara em convulsão, era uma hora decisiva. Esticando-se ao máximo
conseguiu pegar o frasco com a ponta da faca, contudo um dos brutamontes
surgiu de repente agarrando pelo ombro ferido. Miri uivou de dor. O frasco
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suas partes quando o jogou ao chão, pegou o frasco levando para a meretriz.
-Vamos Nega, ainda tem um restinho!- Abrindo sua boca
com esforço e o líquido escorreu dentro dos lábios da prostituta.
Os homens de Armand continuavam atirando quase às cegas, pois não
podiam ver direito devido a poeira. As balas cruzavam sobre a cabeça dos
heróis.
ironia e disse:
-Os peões já se foram. Olhem a surpresa que guardei para vocês.
No mesmo momento, surgiu a figura de uma pessoa conhecida por
todos. Ele trajava uma roupa completamente preta. Um sobretudo, que mais
aparentava uma batina, cobria quase completamente o seu corpo. Estava
abotoada até um pouco depois da cintura e logo depois se abria e era possível
ver uma calça e sapatos da mesma cor. O seu rosto não aparentava
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esperta, cravou um dos coturnos em sua ferida fazendo com que ele caísse de
joelhos a sua frente.
-Você fica bem melhor desse ângulo sabia? – Ela disse.
Miri queria ergue-se, mas a seiva lhe faltava. Alyha certificou-se da
confusão e puxou sua arma para imobilizá-lo. Foi quando uma voz muito
conhecida a rebateu impedindo o ato.
-Discordo plenamente, Vaca Ruiva. - Era Madame Zintrah, reerguida,
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ainda convalescente, porém pronta para o que julgava ser a grande batalha.
Alyha afastou-se. Aracaê ergueu-se, com a ajuda da meretriz
preocupado:
-Ôce ficou boa?
-Digamos que tenho algumas horas, Miri.
-Como assim? Ocê tomou o negócinho ,não foi?
cópias de si, que desapareceram e surgiram por trás dos integrantes da Liga
dizendo:
- Errada prostituta, nós é que vamos acertar as contas com vocês – Ao
terminar a frase ela tocou em todos e estes caíram desfalecidos.
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Capítulo 20
Batalhas, perdas e ganhos.
percebeu fortemente atada com os braços presos acima de sua cabeça a uma
parede de pedras. O cenário era escuro, o ambiente era circular. No centro
daquele ambiente havia um altar, também de pedra. Ela observou a sua volta
e viu que todos os demais membros do grupo, inclusive Valaistu, que havia
combatido seus próprios companheiros, também estava na mesma situação.
Apenas Armand estava faltando.
Os demais acordaram aos poucos. Miri se debateu e tentou em vão
aumentar sua estatura para arrebentar suas correias.
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Aracaê disse-lhe:
-Nega, ocê está bem?
Ciana respondeu:
- Sim, eu estou bem. E você?
- Eu também estou bem. – Ele parou por um instante, revendo tudo o
que aconteceu com eles, durante a luta, e em seguida retomou o raciocínio –
Além de já intuir o motivo de estarmos aqui presos, só quero entender porque
Alyha fez aquilo conosco. O que deu nela...
Valentin, que também despertara concordou com Damon:
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Hally estivesse envolvido em tudo aquilo, certamente o fim não seria dos
melhores. Era impossível não rememorar o quão bárbaro e atroz ele sabia ser
quando isso lhe era mais que uma conveniência e sim um prazer em sua
mente diabólica. Mesmo assim, o que mais lhe perturbava era o cheiro do
perfume que ainda jazia presente ali. Embora não visse a figura de Hally, ela
tinha certeza que ele estava ali, naquela sala. “O que mais Hally poderia estar
ocultando?” Zintrah se perguntava.
Alyha, ao despertar, fez com que todas as indagações dos presentes se
silenciassem. Ela estava visivelmente abatida e desorientada. Antes que ela
conseguisse ordenar as ideias e pudesse dizer alguma coisa, Zintrah,
totalmente furiosa disparou:
-Ah não vai dar uma de que vai bater as botas sua Vaca Ruiva! Anda!
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que nos atacou? Você não estava sob o controle de Hally como Valaistu! Por
que fez isso com a gente?
Valentin ponderou:
- Você nos deve explicação, Alyha.
- Sorte sua que minhas mãos estão atadas, pois você bem que merecia
um sopapo bem dado na nuca. – Zintrah esbravejou para o pequeno.
- Fui eu... fui que mandei as charadas. – Alyha disse.
Todos se espantaram com a revelação feita. Zintrah soltou das suas:
- Então foi a vadia que armou tudo. Só podia ser.
Ciana tentou indagá-la:
- Mas por quê? Com qual objetivo?
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Ela transpirava ódio. Damon tentou usar seus poderes, mas se viu
impossibilitado, sem saber bem o porquê. Assim também Ciana, Aracaê e
Valentin tentaram lutar contras as correntes. Ver a face de Hally diante deles,
juntamente com a figura de Alyha os deixaram cegos de tanta raiva e rancor.
Eles estavam perplexos com o desenrolar dos fatos.
Ele tinha exatamente a mesma aparência de quando apareceu para
Valaistu quando este tinha só seis anos, ou quando foi amante de Zintrah
anos depois. Sua face mão ganhou nem uma ruga a mais, nem seu cabelo um
fio branco. Sua aparência parecia ser imutável pelo tempo, como se fosse
mais velho e antigo do que todos podiam supor.
Zintrah urrou:
- Eu vou te matar, desgraçado! Eu juro! Mesmo que seja o
último ato que faça nessa minha vida. Vou cravar meu punhal em seu peito.
Hally se deliciava com o espanto evidente no rosto de todos. Dessa
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vocês estão aqui, onde eu queria. Se não fosse por ela – apontando, com
desprezo para Alyha acorrentada – eu já teria atingido os meus objetivos
muito antes.
- Ma... ma... mas agora não consigo entender mais nada. Tem a Dona
Vaca Ruiva do Bem e a Dona Vaca Ruiva do Mal e tem o Hally dos infernos.
Meu Padim Padre Cícero, valei-me!
Se é que posso chamar aquilo de luta. Precisei desse estratagema para poder
vigiar cada passo de vocês. O que mais me preocupou de tudo o que houve
foi não saber quem era o infeliz que enviava as malditas charadas e para onde
elas apontavam. Tudo, porém, ficou mais nítido quando me encontrei com o
monge, no monastério. Ali intui a finalidade das mensagens e quem as
enviava e tudo veio a se confirmar com a última charada.
Ciana ignorando a presença de Hally virou-se para Alyha, que estava
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acorrentada:
- Por que você fez isso? Por que nos enviou as charadas? Diga alguma
descobri tentei impedi-lo, lutar contra ele, mas por ele ter sido o primeiro a
tocar naquele livro não pude detê-lo. Ele me deixou aqui presa por meses...
Não vendo alternativa e cada vez mais debilitada decidi entrar em contato
com vocês atrás das charadas. O intuito era indicar onde eu estava e
também... desestabilizar esse louco, que manipulou a todos aqui.
Tanto Alyha, o clone, como Hally aplaudiam, com ironia.
– Muito bem! Você conseguiu me incomodar, mas veja só. Seu truque
foi muito útil, afinal você os trouxe para mim e eles estão onde eu queria que
estivessem.
- Mas falta um ainda. – Damon desferiu.
Ao chegar ao lado de Hally, Alyha tocou em seu ombro, sorriu e
disse, antes de se desmaterializar:
- Não. Não falta, não, caro ator. Agora o show vai começar.
Hally subitamente abriu a caixa e de dentro dele retirou o
Prodigiorum Libellus. No mesmo instante todo o ambiente foi tomado por
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vez era muito mais forte. Hally disse, com um sorriso de satisfação:
- Sabem por que esta luz está mais forte e porque a dor de vocês é
mais aguda? – Ele não esperou pela reação deles e continuou – Porque
estamos todos reunidos. Inclusive aquele que falta, aquele que tem a
pretensão de impedir, aquele que acha que eu não sei de sua linhagem nobre.
E ele está ... - virou-se – aqui! - Com rapidez lançou uma adaga num dos
cantos daquele salão, onde a luz não havia chegado. Um barulho de metal
sendo rebatido foi ouvido. Das sombras, empunhando uma espada, estilo
samurai, apareceu Armand.
Hally o encarou com desprezo:
- Eis que o rato, que se escondia nas sombras apareceu. Você vai
querer lutar comigo com uma espada?
- Com uma espada não... – Ele joga a espada na direção de Hally, que
desvia - mas com isso, sim. – Armand sacou uma arma e alvejou Hally com
dezenas de tiros.
Mesmo fuzilado, Hally se manteve de pé. As balas que perfuraram o
seu corpo começaram a ser expelidas. Um sorriso se desenhou na face dele,
mas logo desapareceu. Ele levantou uma das mãos em direção de Armand.
- Chega de brincadeira! – Ao dizer isso Hally ergueu com violência o
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- Otário! Você acha que só você tem seus truques? Ah, como é bom
ver essa sua cara de espanto. Você também foi enganado, imbecil.
Hally e os outros não entenderam a alegria de Armand. Era certo que
não parecia preocupado, ao contrário, era o único ali a se divertir, como se
esperasse o momento ansiosamente. No entanto, naquele instante uma luz
absurda surgiu de um buraco estratégico no céu e desceu, incidindo no livro,
espalhando-se no salão em feixes, atingindo todos os componentes, que eram
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poderia subjugar toda aquela cidade, sem grandes problemas. Faltava pouco.
Era só o último sopro vital ser sugado de todos e ele seria praticamente um
deus na terra. Hally estica as duas mãos em direção daquela energia
acumulada. Nesse instante uma de suas mãos é perfurada. Hally se vira com
um ódio abissal e qual não é sua surpresa ao se deparar com a figura de
Victor. Ele lhe diz, empunhando uma arma:
- Parado aí, sua besta. Hally controla por um instante seu ódio e lhe
pergunta: - O que faz aqui, seu velho caquético? Victor lhe diz: - Vim
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romper o seu domínio sobre mim e me pediu ajuda. É irônico, mas um velho
prestes a morrer está aqui tentando salvar homens e mulheres tão poderosos.
Victor disse:
- Você disse quase - e novamente disparou contra o corpo de Hally -
ainda temos chance.
Hally virou-se novamente em direção de Victor:
- Velho não me provoque. Ou terei que acabar com sua vida agora
mesmo.
Victor ignorou a ameaça e continuou a descarregar a arma:
- Morra, desgraçado! Morra!
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- Idiota!
Ele se aproximou do velho que definhava:
- Está delirando?
Victor reuniu forças e conseguiu rir, ao dizer:
- Tolo... sem o hálito vital do protetor do livro a profecia jamais... se
cumprirá. – ele dirigiu seu olhar para os membros da Liga – Jovens... com
este portal aberto, todas as barreiras se romperam.... vocês podem atacar sem
compaixão este ser imundo. Com o portal... além disso, o que é fatídico pode
ser alterado. Dele emana uma força regeneradora incrível. - Victor encarou
Hally e arrematou, antes que seus olhos perdessem a luz – Hally... você
perdeu.
Hally ficou paralisado:
- Não pode ser... velho. Não pode ser. - Ele correu em direção da
esfera de energia e desesperado constatou que ela começava a se diluir e a
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Era um foco de luz forte que chamava para uma outra dimensão,
desconhecida, com poder de cura e regeneração, com uma força que nem eles
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próximo!
Hally começou a se multiplicar nas mãos do gigante, até que a mão de
Aracaê não o pode dominar. Ele o soltou. Os clones de Hally alçaram o
gigante e, com muito esforço o lançaram contra os outros membros da Liga.
Todos escaparam por um triz e atacaram.
Ciana arremessou mentalmente a adaga de Valentin caída no chão
contra Hally, ao mesmo tempo que jogava tudo o que podia em cima dele,
distraindo-o enquanto ele afastava de si pedras, punhais, troncos, tudo que ia
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usando seus poderes para erguer pedras e atacar os clones que espancavam
cruamente Damon, enquanto Valentin se erguia e vinha correndo ajudar,
mesmo cuspindo sangue.
Hally parou a cadeira no ar, ergueu uma rocha e disse, ao fincar seus
olhos em Ciana:
- Esse jogo também sei jogar. - Ao dizer isso lançou cadeira e pedra
contra a jovem Ciana e contra Valentin.
Valentin tomou a pancada da rocha com mais força, pois protegeu
Ciana com o corpo e caiu desfalecido e sangrando no chão. Na mesma hora
ela arremessou a rocha para longe deles e tentou acudi-lo, desesperada sem
saber a quem ajudar primeiro, vendo Damon também caído de um lado e Miri
de outro.
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grave, não viu alternativa, senão tentar utilizar a técnica que ele começou a
desvendar quando era refém de Hally. O problema é que ele ainda não tinha a
total compreensão da dimensão desta técnica, muito menos o seu controle.
Porém, aquele não era o momento para raciocinar sobre a possibilidade de tal
técnica não dar certo. Aquela não era a hora de titubear, de ter dúvidas, mas
de ter apenas certeza.
Sua vida foi o contrário: um barco chacoalhado por ondas a todo
instante, nada de firmeza, de estabilidade. No entanto, naquele instante, o
jovem viu-se inundado por uma certeza que lhe ofuscava os olhos, a mente e
o coração. Ele pressentia o que deveria fazer, apesar das consequências
inimagináveis, mas que ele, no fundo já intuía. O jovem se sentou, com a
serenidade de sempre e invocou o seu poder mais oculto ao pronunciar, como
num mantra, o vocábulo sacro, enquanto, em sua mente vinha o anseio pela
unidade com a natureza:
- OM!
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branca tomava conta do corpo de Valaistu. A força que transcorria por todo o
seu corpo era avassaladora. Ele sentia que estava a ponto de explodir. Suas
veias dilatavam-se de forma assombrosa. A força que emanava dele, fazia
com suas vestes bailassem, como se fossem chacoalhadas por um forte
aquele homem. No entanto, Hally, mais tomado pelo desespero que pela
razão gritou para Valaistu:
- O que pensa em fazer pseudo-moge de merda? Vocês estão
acabados. Não existe saída para ninguém aqui.
Depois que disse isso, fazendo uso de sua forte telecinese, Hally
ergueu uma enorme rocha e a lançou contra o jovem, que ainda se mantinha
sentado, tomado pelo êxtase.
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mas resistente das flores e ervas inundem o meu ser. O manipulador agora
deseja ser manipulado, deseja ser tomado. O manipulador deseja, enfim, ser
habitado por vós e depois habitar, para sempre, em vós. Por favor, venham.
Mais uma vez um forte tremor tomou conta daquele lugar. Zintrah,
tendo um mal pressentimento gritou para Valaistu:
- Pare com isso, Valaistu. Você... você não pode fazer isso.
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coisa: eu te perdoo.
Após dizer isso, Valistu se virou em direção dos membros da Liga
que o olhavam assustados e, ao mesmo tempo, preocupados, ignorando um
Hally inerte e absorto, depois da última resposta do jovem. Com lágrimas nos
olhos, Valaistu usou o seu poder. As raízes e ramos envoltos em seus braços
foram lançados em direção de cada membro da Liga, fincando-se no peito
deles. Por um instante eles ficaram assustados, ao sentirem tais raízes
penetrarem os corpos fatigados, mas depois o terror tomou conta de cada um
deles ao ouvirem Valaistu dizer aquelas palavras, com voz embargada:
- Os sábios diziam que nas diversas plantas se encontra a cura para
todos os males. Pois bem... como manipulador das plantas eu quero oferecer
para vocês a cura de todas as feridas que vocês tiveram nessa luta.
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- Pelo amor de Deus, não. Você não pode fazer isso. – Gritou cigano,
tentando conter mais uma morte de um inocente.
acontecer.
Ciana chorava, não conseguia dizer nada para aquele jovem. Via que
ele ia até o fim, de qualquer jeito.
- Hoje eu me sinto pleno de vida...
Ao dizer isso Valaistu ergueu a sua cabeça para o céu, mais uma vez
ele fechou os olhos e deixou que um sorriso se desenhasse em sua boca:
- É chegada a hora. – uma clarão ofuscante tomou conta do ambiente,
enquanto que uma poderosíssima energia fluía pelo corpo de Valaistu. Ele
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ele relutou o gozo da visão beatífica e, um tanto consciente, através das raízes
que ligavam seu corpo ao corpo dos demais, ele começou a transferir parte de
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esperava que de dentro daquele ser pudesse emanar tanto poder. No entanto,
com seu sacrifício era um a menos com que se preocupar. Hally disse:
- Esse complexo de messias... não deu em nada. – Olhando para os
outros afirmou – Vamos acabar logo com isso, crianças.
Alyha mentalizou o ator que olhou para a mesma e lentamente disse
ofegante ao moço:
- Juntos seremos mais Fortes!
Zintrah escutando olhou para Ciana e nunca creu que fosse dizer-lhe
algo do tipo:
- Aí, ninfeta, topa ?
Ciana também nunca pensou que diria aquilo tudo, mas sentia a força
mais forte do que nunca dentro dela, sem precisar de nenhum contato físico:
- Vamos acabar com esse bosta, madame!
Zintrah juntou-se a moça, pondo a mão no seu ombro e
transformando-se em outra Ciana
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- Apodreça no inferno!
Zintrah e Ciana, agora eram duas, as rivais esqueciam toda e qualquer
turbulência do passado. Agora tudo refletia-se em sua vingança e na Liga
Literária. Juntas se ergueram e no buraco que jazia Hally içaram carcaças de
antigos carros, pedras, raízes, e rebatiam contra o mesmo, atacando-o,
perfurando seu corpo.
Miri não precisou de nada para se agigantar, com o poder extra dado
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repentino, mas então Damon o congelou no local, apenas sua cabeça para
fora da terra, seu corpo sendo soterrado e duramente atingido. Ficou surpreso,
chocado por que os poderes deles pareciam infinitamente mais fortes e
funcionavam contra ele.
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trajetória.
O ódio purgava dos olhos e o sangue literalmente em sua boca. Hally
a contemplou com um riso sarcástico e um comentário nada lisonjeador.
- Olha a vagabunda!
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antiga amante falava e de repente sentiu seu corpo voar para o outro lado
batendo numa pedra o que lhe deixou ainda mais contuso e atônito.
fosse sangue, saliva, suor também podia adquirir suas habilidades e naquele
caso seus poderes. Por outro lado, na última vez que fizera aquilo percebeu o
quanto era arriscado o quanto aquilo poderia detoná-la e conduzi-la de vez a
morte. Decidiu que deixaria aquele regalo para uma única pessoa e essa
pessoa seria Hally, seu maior algoz, embora não soubesse de tudo que ele
capaz. Diante daquela surpreendente constatação ao mesmo só restou
segredar:
- Filha da Puta!
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de vezes foi ameaçada quase sucumbindo. Ao sentir que suas forças iam se
esvaindo Zintrah caiu de joelhos e intuiu que era seu fim, foi quando Damon
chegou para ajudá-la.
Ele conseguiu escapar do quase desmaio provocado por Hally e, ao
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murmurou:
- Já vai tarde, desgraçado.
Miri aliviado bradou algo libertador.
Zintrah intuindo a oportunidade jogou-se na direção do turbilhão
quando sentiu um socavão lhe contendo, era o braço de Damon, sua mão
agarrando a dela com força antes que se fosse pelo mesmo caminho de Hally.
Damon agarrou o braço dela quando viu a loucura que fazia. Mas
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mesmo sendo um homem forte, teve que se concentrar com todos seus
músculos e poder para mantê-la com a metade superior do corpo deste lado e
portal para se refazer e se certificar que detonara Hally, mas agora também
vira que queria estar suspensa por aquele braço forte do ator.
Ela o fitou e olhando para o portal devolveu no furor da voz:
- Sinto muito, tenho que ir!
- Meu Deus! - Ciana, Valentin e Miri correram para tentar ajudar o
ator e puxá-la, mas tudo aconteceu rápido demais. Damon não a soltou e
gritou: - Volte! Volte agora!
E foi nesse momento que a maior decisão, a mais dura perpetuou na
vontade de madame Zintrah, ela soltou a mão do ator ,deixando-se sugar pelo
portal. E exatamente naquele momento o portal fechou-se, sugando-a mais
fortemente, até que sumiu de vez, como se nunca tivesse existido. Damon
correu para o local vazio, furioso, sangrando por dentro, gritando como um
animal ferido:
– Não!
Ao ver a amiga partir, Miri voltou a sua forma sem nenhuma
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intervenção que não fora a tristeza em seu coração e uma lágrima sincera
escoou do rosto do pequeno pássaro briguento.
abismada, a figura que corria entre as árvores com o precioso objeto nas
mãos. Apontou e gritou:
- Armand está fugindo com o livro!
Rapidamente se organizaram, sem precisar dizer nada. Correram em
perseguição. Embora desfalcados com a ausência de Valaistu e Zintrah, ainda
havia cinco heróis brasileiros pronto para lutar e pôr todas as cartas na mesa.
Miri aproximou-se correndo de Alyha, que naquele momento tornara-
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Damon os liderou, seu coração rasgado, mas sabendo que teria que
deixar a dor para depois. Precisariam do livro, até mesmo para tentar trazer
Zintrah de volta e evitar o que quer que Armand desejava desde o início
fazer:
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também ruiva, mas serena e equilibrada da rude caricatura que seu irmão
fizera durante todo aquele tempo como farsante.
e Ciana gritou:
- Eu tomo conta deles! - E usando todo seu poder de manipulação de
pessoas, objetos e ilusões, aumentados desde o sacrifício de Valaistu, criou
uma onda mental nos policiais e agentes, fazendo-os abrir caminho para eles
e olharem para lados opostos, sem poder vê-los. Correram assim para o
prédio. Correram em direção à garagem e Miri se agigantou somente para
arrancar a porta com violência, voltando ao normal quando passaram. Mas
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todas as outras eram do mais puro aço, tudo travado, impossível de abrir à
força.
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prostituta anotara ali todas as senhas e um mapa sobre como entrar no prédio
de alta segurança do mesmo.
- Quer que eu fume se ocê empacotar? Ô Nega, não sou a Dona Vaca
Ruiva que na verdade era o safado Do Hally... Ih gente! Seu Demô o beijou?
Inda bem que eu não caí nessa esparrela! - Interrompido por mais um tabefe
da meretriz.
- Não é nada disto, só abra se eu... Você sabe, entendeu? Fora isto
guarde com você e não revele a ninguém sobre esse conteúdo!
- E se eu quiser fumar?
- Quer que eu te parta a cara para que entenda é?
- Não carece, já entendi. - E logo em seguida a meretriz o soltou
daquela altura sem dó ou piedade dando-lhe as costas, ao pobre restou
segredar: - Isso me ama!- guardando a embalagem dentro de seu pequeno
alforje agarrada na cintura por baixo da calça.
Agora, naquela garagem, ele pediu a palavra:
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quarenta e cinco in; sessenta e sete aeternum. Não erre as senhas de forma
alguma ou morrerá na mesma hora. A porta da frente tem o mesmo código do
poço, sem os números. Geralmente uso um cartão, mas como às vezes ele
estraga, o código fica ativo. Aquela porta aberta à esquerda de onde estamos
é a biblioteca como pode notar pelos livros. Na parede ao fundo há uma porta
escondida. Procure o livro Prodigiorum Libellus. Atrás dele há um botão,
aperte e terá acesso à escadaria que leva ao andar abaixo, é a única entrada
que existe. poderia entrar aqui com todo o seu poder. Nem por baixo, nem
por cima e nem pelo meio . Isso faz sentido pra ocês? - perguntou o pequeno
pássaro briguento perdido com preciosas informações. Mas todos já corriam e
a ele só restou apressar as perninhas e ir atrás.
Fizeram todo o percurso e todas as recomendações, até chegarem à
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senhor?
- Ator, famoso? – Damon não entendeu.
- Não, quero 25 centímetros de serviço.
Damon só sacudiu a cabeça.
Ciana começou a chorar, ao lembrar como tudo havia começado e
agora terminado.
- Só sobramos nós.
Alyha sorriu e disse a moça:
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Armand não conheça. E proteger o livro. Nossa luta ainda não acabou, ela só
está começando.
somos capazes. Tudo que passamos teve um objetivo maior. E é por ele que
devemos brigar.
Cigano suspirou.
- Meu objetivo era só encontrar minha mulher e meu filho. Nunca
quis esse poder nem essa responsabilidade. – Fitou-os, uma nova esperança
surgindo dentro de si. – Mas agora a tenho. Estou com vocês.
- Eu também. – Acenou Ciana, seus olhos resvalando em cada um e
fixando-se em Damon. Só por ele já ficaria. Mas sabia que havia mais
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Epílogo
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FIM.
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