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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEISTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir {1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabal no, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
SUMARIO

O Paradoxo Cristao

Do nada a Cristo

Feminismo e Marxismo

O divorcio na Irlanda

"Origem dos dogmas e inovacoes da Igreja Romana"

Sacerdocio comum dos fiéis e sacerdocio ministerial

"Horizonte de esperanca. Teología da libertacao"

índice Geral de 1986

ANO XXVII - DEZEMBRO 1986 295.


PERGUNTE E RESPONDEREMOS DEZEMBRO - 1986
Publicado mensal N9295

SUMARIO
Diretor-Responjável:
0 PARADÓXO CRISTAO 1
Estévao Bettencourt OSB
Fala Tatjana Goritcheva:
Autor e Redator de toda a materia
DO NADA A CRISTO 2
publicada neste periódico
Dirator-Administrador Testemunhos Vivos:
FEMINISMO E MARXISMO 11
D. Hildebrando P. Manins OSB
Nao foi aprovado
O DIVORCIO NA IRLANDA 15
Administracao e distribuicao:
Será verdade?
Edicoes Lumen Christi
"ORIGEM DOS DOGMAS E INOVAC0ES DA
Dom Gerardo. 40 - £? andar, S/501
IGREJA" 24
Tel.:<021) 291-7122
Caixa postal 2666 Quem pode celebrar a Eucarfetica?
20001 - Rio de Janeiro - RJ SACERDOCIO COMUM DOS FIÉIS E SACER
DOCIO MINISTERIAL 36

Um livro veemente:
Composl;So a Imprasado "HORIZONTE DE ESPERANCA. TEOLOGÍA
"MARQUES-SARAIVA"
litAUitcmiNtOl «fiMOf I *.
DA LIBERTACÁO" 41
ftn ama Rooima. 240 -
EKfctodSiÜSs LIVROS EM ESTANTE 44

ÍNDICE GERAL DE 1986 51

ASS1NATURA EM 1987:
NO PRÓXIMO NÚMERO
Cz$ 190,00
Até 31 de dezembro de 1986
Cz$ 200.00
A partir de Janeiro de 1987 296-Janeiro- 1987
Cz$ 20.00
Número avulso:

A Fé, a Igreja, a Vida (o Papa aos jo-


Queira depositar a importancia no Banco
vens de Liáo). - "Meu Deus, em quem con
do Brasil para crédito na Conta Córrante
fio" (Jacques Loew). - Intercomunhao Cató
n- 0031 304-1 em nome do Mosteiro de
lico-protestante. - A Igreja, Povo de Deus. -
Sao Bento do Rio de Janeiro, pagável na
Secularizado e secularismo. - As novas tra-
Agenda da Praca Mauá (n?0435) ou en
ducóes da Biblia.
viar VALE POSTAL pagável na Agencia
Central dos Correios do Rio de Janeiro.
COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA

RENOVÉ QUANTO ANTES COMUNIQUE-NOS QUALQUER


ASUA ASSINATURA MUDANCA DE ENDERECO
CARO LEITOR, SE ESTA REVISTA LHE FOI ÚTIL,
QUEIRA DIFUNDI-LA SABEMOS QUE MUITAS PESSOAS
TEM PROBLEMAS PELO SIMPLES FATO DE QUE NAO DIS-
PÓEM DE INFORMACÓES EXATAS SOBRE O ASSUNTO EM
PAUTA. A SOLUCÁO CONSISTE EM APRESENTAR-LHES
NOCÓES CLARAS, PRINCIPALMENTE QUANDO SE TRATA
DE FILOSOFÍA E RELIGIÁO. ORA O PROGRAMA DE PR É
PRECISAMENTE O DE ATENDER Á NECESSIDADE DE ES
CLARECIMIENTOS.

QUEM OBTIVER TRES ASSINATURAS NOVAS, TERÁ


DIREITO Á QUARTA ASSINATURA GRATUITA. QUEIRA,
POIS, DESTACAR ESTA FOLHA E ENVIÁ-LA A PR, CAIXA
POSTAL 2666, 20001 RIO <RJ), DEVIDAMENTE PREEIMCHI-
DA, COM O NUMERARIO DAS ASSINATURAS.

ASSINATURAS NOVAS

1) Nome:
Endereco completo:

2) Nome:
Endereco completo:

3) Nome:
Endereco completo:

ASSINATURA DE CORTESÍA

Nome:
Endereco completo:
Doador:
ALÉM DO MAIS, PEDIMO-LHES A GENTILEZA DE EN
VIAR-NOS OS ENDERECOS DE PESSOAS QUE PODERIAM
ESTAR INTERESSADAS EM RECEBER PR:

Nome:
Endereco completo:

Nome:
Endereco completo:

Nome:
Endereco completo:

Nome:
Endereco completo:

Nome:
Endereco completo:

Nome:
completo:
'-"■ »:. o A

O paradoxo cristáo
Todo mes de dezembro pode assustar a quem sobre ele refuta.
Com efeito, a verificacio de que mais um ano se passou e mais um ano
se abre faz pensar na rapidez com que se esvai a vida na térra. O cristáo,
porém, descobre nessa sucessáo dos tempos um convite a crescer e se
revigorar interiormente, mesmo que o peso dos anos se faca sentir. Sim;
o cristáo é um ser "paradoxal", conforme o próprio Apostólo S. Paulo:
"Nao nos deixamos abater. Pelo contrario; embora em nos o homem
exterior vá definhando, o homem interior se renova dia-a-dia" (2Cor
4,16). 0 Apostólo assim fala porque sabe que duas vidas existem dentro
do cristáo: a biológica, que percorre seu arco e conhece o seu ocaso na
tural; e a espiritual, iniciada pelo Gatismo e alimentada pela Eucaristía;
esta é a vida dos filhos de Deus, que nos póe em comunháo com as tres
Pessoas Divinas (cf. Gl 4,6); tende a se desabrochar cada vez mais para
atingir as suas dimensóes definitivas ou "o estado de homem perfeito, a
medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef 4,13). É esta segunda vida
que deve, antes do mais, importar ao cristáo; já que ela se torna cada vez
mais forte nos fiéis, ela pode transfigurar a própria existencia biológica;
os anos de velhice deixam de ser tediosos e vazios, para tornar-se o pe
riodo mais penetrado pelos valores eternos. Poderíamos gráficamente
assim reproduzir tais idéias:

C3 Hptcn (XTCMS

Nesta figura, o cone que se fecha para a direita representa o defi-


nhar de nossa vida biológica, ao passo que o outro, abrindo-se constan
temente também na mesma direcáo, significa a vida da graca ou a comu
nháo com a SS. Trindade; esta segunda imagem desemboca no océano
da bem-aventuranca celeste ou da vida sem fim. - O programa da vida
crista é precisamente viver o paradoxo destes dois cones, fazendo que o
segundo projete sua dinámica sobre o primeiro.
Que o próximo Natal seja para nos o penhor do revigoramento do
nosso homem interior e a certeza de um 1987 mais rico dos valores defi
nitivos!

SANTO NATAL E FELIZ ANO NOVO!


E.B.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXVII - n? 295- Dezembro de 1986

Fala Tatjana Gorítcheva:

Do nada a Cristo

Em símese: A ProP mssa Tatjana Gorítcheva esteve no Brasil em ou-


tubro pp., onde fez palestras que apresentavam o seu testemunho de vida. Mi
litante marxista ardorosa, tornou-se descrente da ideología soviética e niilista;
leu entáo as obras de Sartre e Camus, cheias de desespero e revolta. A se
guir, voltou-se para a prática da Yoga (proibida na URSS) e descobriu o Par
Nosso entre as fórmulas adotadas pelos mestres de exercfcbs da Yoga. Tal
prece foi a ocasiao para que Deus se Ihe revelasse. Tornou-se crista entu
siasta e mistante. Isto Ihe valeu a perseguicáo por parte da policía, que acabou
expulsando Tatjana da URSS. Hoje vive na Franga, onde leciona Filosofía e
dá o testemunho do surto religioso que se verifica na Rússia á revelia de to
das as campanhas de ateísmo. O povo russo, diz Tatjana, está decepcionado;
o medo, porém, o obríga ao silencio.

Esteve no Rio de Janeiro participando de um Congresso Interna


cional sobre a Mulher na Igreja e na Sociedade, de 2 a 5 de outubro de
1986, a professora e escritora russa Tatjana Gorítcheva, de 39 anos de
idade. Realizou algumas palestras, que davam o testemunho de sua vida
e de sua alma arden te; é alguém que conheceu em cheio o ateísmo mar
xista; procurou assimilá-lo nos anos de sua juventude como membro do
Komsomol; todavia percebeu espontáneamente o vazio da ideología
marxista e finalmente descobriu o Cristo. Tatjana disse mais de urna vez
que na Rússia nao sao os homens que procuram Deus (pois nao tém ro-
teiro nern sinalizagáo para chegar a Deus; ao contrario...), mas é Deus
quem procura os homens, apesar de toda a militáncia atéia e irreligiosa
que tende a ensurdecer as criaturas para os valores transcenderíais.

A seguir, transmitiremos o conteúdo de urna palestra proferida pela


Prof- Tatjana Gorítcheva na Faculdade Eclesiástica de Filosofía Joáo

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DO NADA A CRISTO

Paulo II aos 6/10/86. Trata-se de anotacóes tomadas no decorrer da ex-


oosicáo, procurando reproduzir, tanto quanto posslvel, as palavras e a
seqüéncia de idéias da conferencista.

UM DEPOIMENTO: DO NADA A CRISTO

O Fundo de cena

Os governantes soviéticos decidiram esmagar a Igreja na Rússia. E


quase o conseguiram. No fim da década de 1930 nenhum mosteiro exis
tia entre nos e poucas eram as ¡grejas. Eis, porém, que a guerra de 1939-
45 nos ajudou, pois Stalin quis entáo excitar o patriotismo dos conterrá
neos, valorizando, de algum modo, o patrimonio religioso russo. A
guerra, portanto, acarretou certa distensio na oolltica anti-religiosa so
viética.

Sobreveio, porém, a época de Nikita Krutchev na década de 60, que


se caracterizou pela recrudescencia da perseguido. Foi fechada urna ter
ca parte das igrejas entao abenas, ficando 7.000 templos para um país
enorme. Krutchev mandou prender muita gente, tachando os cristaos de
loucos; inventaram-se horrendos processos de tortura, além da interna-
cáo de cristaos e dissidentes em hospitais psiquiátricos, onde eram sub-
metidos a tratamentos de "recuperado".

A Igreja e a cultura crista sofreram grandes perdas. Apesar disto,


verificou-se mais urna vez o que dizia Tertuliano: "O sangue dos mártires
é sementé de cristaos". Muitos e muitos cidadaos, sob a pressáo sufoca-
dora que experimentavam, sentiram-se cansados das mentiras oficiáis e
do vazio que elas deixam nos respectivos ouvintes. O marxismo havia
tentado construir o reino do homem sem Deus, mas evidenciava o seu
fracasso; o antigo Deus - Stalin - estava morto, e, com ele, havia morrido
a confianza dos cidadaos no próprio marxismo; os russos nao sao rnar-
xistas convictos nem acreditam em aiguma ideología; todas, tanto as de
direita como as de esquerda, Ihes parecem ultrapassadas; o preco pago
pelos cidadaos para construir o paraiso soviético foi caro demais, e, errf
última análise..., decepcionante.

Por isto a era de Krutchev suscitou auténtico surto de fé religiosa na


Rússia: numerosas pessoas puseram-se a procurar o Absoluto ou Deus,
Aquele que está para além das ideologias. E tal demanda foi animada por
verdadeiro heroísmo, disposto a enfrentar os obstáculos e contradicóes
levantadas por parte do Estado. O nome de Jesús Cristo passou a ser,
para eles, um ponto de atracjo e convergencia. Perguntavam onde po-
deriam encontrar algo sobre Jesús Cristo...; os sacerdotes, as igrejas e os
exemplares da Biblia eram (e sao) pouqulssimos naquele país. A Biblia

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

vem a ser um Mvro de mercado negro, e o mais caro dentre todos. Muitas
vezes sao os turistas que levam o Novo Testamento ou a Escritura para
dentro do territorio russo, se nao sao confiscados pelos policiais na fron-
teira.

"Digo que procuramos Deus, mas é mais correto dizer que Deus
nos procura a nos, russos, já que nao temos itinerario nem setas para
descobrir Deus".

Tragos autobiográficos

Tatjana nasceu em 1947, ou seja, após a Segunda Guerra Mundial.


Pertence, pois, á primeira geracáo dos novos cristáos.

"Sou o caso típico de urna mulher soviética. Nasci de familia atéia


soviética em Leningrado (antiga S. Petersburgo). Meus pais sao gente
boa, mas viviam (e vivem) com medo, pois o regime ameaca qualquer
dissidéncia".

Na escola, Tatjana era incitada a ser das primeiras alunas e a exer-


cer certa lideranca - o que bem correspondía ao seu temperamento.
Destacou-se, pois, como jovem dinámica, que, na idade prevista, entrou
no Komsomol (Juventude Soviética), como todos os jovens tém que en
trar. "Nao fui conformista. Era urna das últimas románticas, porque tinha
a esperance de modificar a vida soviética, que parecía sufocadora. Isto,
porém, foi um sonho infantil. Procurei de todo modo, mas em váo, con
tribuir para a formacio de urna sociedade nova. Como eu, existem muí-
tos e muitos na Rússia".

A invasáo da Tchecoslováquia por tropas da URSS em 1969 desilu-


diu grande parte da populacáo soviética. Alias, desde 1968 os cidadios
russos perderam as suas ilusóes políticas, quando precisamente o Oci-
dente se politizava em sentido esquerdista. Muitos estudantes russos
foram entao encarcerados.

Sentindo o vazio da vida, Tatjana voltou-se para a filosofía ocíden-


tal do níilismo, ou seja, de Jean-Paul Sartre e Camus; "tal modo de pen
sar correspondía á nossa situacao soviética: nao sabíamos de onde vi-'
nhamos nem para onde (amos, ou melhor, nao tlnhamos ponto de parti
da nem ponto de chegada". Convicta de que a vida nao merece ser vivi
da, disse Tatjana que ela se autodestruia: "Bebí muito, entregando-me ao
alcoolismo; cometí toda especie de loucuras ou transgressóes moráis e
jurídicas. Quería mostrar que era livre e que a vida nao tem sentido".
Está claro que isto valeu para Tatjana a repressáo governamental. Já era
entao professora universitaria; mas, como ensinava urna filosofía dife-

532
DO NADA A CRISTO

rente da oficial, foi demitida da cátedra e, por pistoleo, transferida para o


servico da Biblioteca da Universidade, onde seu trabalho devena ser
ideológicamente inocuo; todavia, já que ela nao se calava, foi ''nomeada"
ascensorista..., cargo ainda mais inocuo!

A esta altura da vida, Tatjana procurou saber qual a resposta das


pessoas religiosas para o problema da vida. Nao se dirigiu ao Cristianis
mo, porque este Ihe parecía clássico demais; "eu cacoava das velhas
mulheres que freqüentavam a igreja, pois as julgava alienadas ou co
mandadas infantilmente". Interessou-se, pois, por correntes religiosas
novas, como o Budismo, a Yoga, o Chintolsmo...; sao escolas de filosofía
religiosa proibidas na Rússia; "pus-me a praticar Yoga, que fascina os jo-
vens, mas é perseguida mais do que o Cristianismo. No liyro de treina-
mento de Yoga deparei-me com um exercfcio que se chamava Pai Nosso;
esta foi a primeira fórmula de oracáo que encontrei na vida; alias, nunca
tinha entrado numa igreja. Li com frieza tal prece; reli-a, sempre com
frieza. Aos poucos, porém, o Pai do céu me veio ao encontró. Recebi a
resposta; fui esclarecida; compreendi que Ele existe e que eu existo por
Ele. Tinha entáo 26 anos. Tal foi para mim a revelacáo do amor, da ple-
nitude do amor; senti que Deus quería que eu ame. Perguntei-me, a se
guir, o que devia acontecer, pois eu era obrigada a dizer que era crista; de
resto, eu já tinha urna vaga idéia do que é o Cristianismo através da lei-
tura de obras de filósofos ocidentais.

Há milhares de conversóes inesperadas, como foi a minha. Em tor


no de mim muitas pessoas setornaram cristas; descobriram o Evangelho
e a sua vitalidade aos 20, 30..., 60 anos de idade; o corpo inteiro treme
quando se lé o Evangelho. Hoje o Evangelho e os Padres da Igreja cons-
tituem a literatura mais importante na Rússia. A oracáo, para nos, vale
mais do que o ar; é ela que nos dá forca para transformar o mundo. Num
Estado totalitario, vivemos sob cerco constante, mas, quando rezamos,
sentimo-nos livres. A experiencia da prisáo é pavorosa, mas os nossos
prisioneiros se julgam ainda muito feiizes porque sao perseguidos por
amor a Cristo... Voc&s nao podem imaginar a forca que Deus dá ás pes
soas em extrema necessidade".

"O cristianismo tornou-se quase moda na URSS; ser intelectual e


ser cristáo é praticamente a mesma coisa. É curioso como se encontra li-
berdade na Igreja, onde nao há riqueza, nem poder, mas onde existe a
forca dos valores místicos. A Igreja quase nao existe como instituicao,
mas sim como um corpo vivo, purificado pelo sofrimento e o martirio. É
por isto que ela atrai tanto. - Nao podemos dizer quantos cristáos exis-
tem na URSS: trinta milhóes, ou mesmo, segundo o Patriarcado de Mos
cou, cinqüenta milhóes... O número nao importa; o fato é que nem todos
os convertidos se dizem cristáos, pois tém medo das represalias; fre-

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

qüentam a ¡greja, mas nao se mostram dissidentes em relagao ao regime


soviético. Há outros, como eu, que se tornam dissidentes, porque nao
podem ocultar a alegría de ser cristáo; é preciso levar o Evangelho ao
resto do povo russo. Perdemos todo medo; organizamo-nos em peque-
nos grupos; verdade é que temos poucos padres; menor aínda é o nú
mero dos sacerdotes que tém a coragem de liderar a juventude; o padre
que se destaque, é encancerado e os seus filhos sao enviados para edu-
candários do Estado ou para prisóes de enancas. Em Leningrado temos
cinco padres que trabalham com a juventude convertida; correm grande
risco.

Organízei um clube de mulheres, ao qual dei o nome de María


(nem podía ser outro, oois queríamos honrar a Rain ha do céu e da Rús-
sia). Este clube tinha por objetivo ajudar-nos a perseverar na fé, já que
¡sto é difícil. Em nossas reunióes falávamos de Cristianismo, já que quase
ninguém sabe o que é isto: ...Cristianismo e Cultura, Cristianismo e His
toria... Éramos 50 ou até 200 pessoas no meu apartamento, sempre na
espreita de que a Policía interviesse para nos prender; muitos amigos nos
abandonaram por medo; outros se admiraram de que nao éramos encar-
ceradas, pois nos Jhes parecíamos loucas. Na verdade, o nosso grupo era
vigiado pela KGB dia e noite, finalmente alguns dos seus membros aca-
baram presos, e outros expulsos da URSS".

Alexandre e Vladimir

"Désejo falar do meu amigo Alexandre. Este levava vida livre e ni-
ilista, mas tornou-se cristáo. Em conseqüencía, foi enviado para a Sibé-
ría, onde se acha há oito anos. Em sua última carta escreveu-me: 'Vivi a
vida inteira como bandido, mas quero morrer como cristáo'. Na verdade,
está morrendo aos poucos, sem dentes, sem cábelos, meio-cego, com 35
anos de idade; e isto porque na prisáo continua firme no Cristianismo e
ajuda muitos colegas; dal ter sido sempre reprimido nesses oito anos;
para ele, a experiencia do cárcere tornou-se a experiencia da cruz e da
alegría.

Outro caso importante é o de Vladimir... Quando foi julgado no tri


bunal de Leningrado, os seus amigos nao puderam entrar na sala do jul-
gamento, porque esta se achava cheía de agentes da KGB. Éramos urna
centena de cristáos e ateus que queriam entrar, mas tivemos que ficar
fora, no corredor. Vladimir foi condenado. Quando os soldados o fizeram

Tatjana se refere ao clero ortodoxo oriental, que tem autorizapao para se casar.

2KGB é a sigla da Policía Secreta Russa.

534
DO NADA A CRISTO

sair da sala, todos nos cantamos: "Cristo ressuscitou!", e Vladimir res-


pondeu: "Ressuscitou realmente!". Naquela casa de lágrimas, houve en-
táo festa e sentímentos de vitória para nos. Assim é que temos sucessi-
vamente a experiencia da derrota e da vitória.

Expulsáo

Finalmente expulsaram-me da URSS; a causa próxima deste gesto


foi o nosso Moví mentó María. Com efeito, após tres meses de prisáo,
propuseram-me ou ser deportada para a Sibéria ou autoexilar-me no
Ocidente. Tal tratamento muito brando e raro se explica pelo fato de que
o nosso Movimento Maña era conhecido no Ocidente; qualquer brutali-
dade maíor repercutiría mal na opiniáo internacional. Éramos feministas,
alias o único movimento de mulheres na URSS...; nao, oorém, feministas
no sentido ocidental. A muiher soviética é heroína como muiher ou na
sua feminilidade. Sim, o salario que o marido ganha, é insuficiente para
sustentar a familia; por isto a esposa deve trabalhar fora de casa; visto
que a vida é ardua, o homem se entrega freqüentemente ao alcoolismo
(temos 40 milhóes de alcoólatras registrados na URSS); em conseqüén-
cia, a muiher arca quase sozinha com todo o trabalho da casa, além de ter
seu emprego fora do lar. O marido pouco ajuda.

Na URSS existe grande estima pelo povo brasíleíro. Verdade é que


os russos o conhecem pouco por falta de informacoes. Para estabelecer
contato pessoal com eles, voces tem que ir lá, porque eles nao podem vir
ao Brasil. Precisamos de encontrar cristaos; precisamos de livros e de
propaganda religiosa crista; precisamos de sacerdotes (sao 6000 apenas
na URSS; em algumas regióes, há sacerdotes ordenados clandestina
mente)".

Terminada a palestra, a Professora Tatjana Goritcheva respondeu a


indagacóes que Irte foram propostas por membros da assembléia. Váo
abaixo apresentados os principáis tragos dessas respostas.

Respondértelo as perguntas

1) Nao será que na Rússia a grande massa da populacao se aco-


modou ao estado de coisas vigente e nao levanta as objecóes que a
classe intelectual levanta?

- "Nao posso falar por todos os russos. Apenas posso dizer que
ninguém gosta do poder soviético totalitario; principalmente sao horrori
zados o Kremlin e a KGB, que é cínica. A populacáo simples sofre e leva
dura vida. Um russo sobre quatro vive na URSS como em favelas. So-

535
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

mente a classe alta dos dirigentes, a chamada Nomenklatura. vive muito


bem. 0 povo, porém, está exausto.

0 grande número de alcoólatras do pafs bem mostra que a popula


cho está descontente. A pesar disto, nada diz porque tem medo; sabe que
o primeiro passo em demanda de mudanga talvez também seja o último.
O medo pode tornar-se a segunda natureza da pessoa. A ideología so
viética tem apoio no medo; é este que explica nao haja movimentos dis-
sidentes na URSS; todos foram esmagados. Há, porém, personalidades
corajosas que despertam para um novo ideal e se póem a fazer algo; tra-
balham, muitas vezes, a sos, porque faltam tempo e tranqüitidade para se
reunirem".

2) Por que o marxismo tanto atrai os ocidentais?

- "Nao o posso explicar com poucas palavras. Alias, trata-se do


misterio da iniqüidade dentro do misterio da historia. Entre os ocidentais,
existem cristáos que precisam de experimentar a oposito e a dramatíci-
dade; querem luta, e encontram no marxismo a ocasiáo de se satisfazer.
A Igreja no Ocidente é calma ou normal demais.

Na Franga e na Alemanha o marxismo está derrotado. De um lado,


isto acontece porque lá nao há problemas sociais graves; de outro lado,
estSo perto da URSS para poder apreciar o que lá acontece. No Brasil, a
populacáo está longe da URSS, de modo que aínda se arrisca a fazer bo-
bagens."

3) Como repercute na URSS o fenómeno de Medjugorje com as


suas mensagens mañanas?

- "Na Rússia nada se sabe sobre Medjugorje. Mas lá ocorrem apa-


ricóes... A diferervja é que lá os sacerdotes e bispos nao realizam inqué-
ritos para averiguar a autenticidade das visóes e mensagens, ao passo
que no Ocidente a Igreja se interessa por tal tipo de indagapóes.

Em Fátima Nossa Senhora disse que a Rússia espalharia a sua


ideología sobre o mundo, mas finalmente o Corafáo de María triunfaría.
Ora vemos que no Ocidente o comunismo se expande; há marxistas con
victos no mundo inteiro, exceto na Rússia; esta se vaí convertendo ao
"ristianismo por apáo da grapa nos corapóes".

4) Como se desenrola a propaganda soviética no interior da URSS?

- "Ñas escolas existe urna vez por semana o que se chama a aula
e "conhecimentos da comunidade humana" (em alemáo, Gemein-

536
DO NADA A CRISTO

schaftskunde). Consiste em dizer que na Rússia a populacáo vive bem,


tem direito a casa, alimentagáo, trabalho, assisténcia médica... ao passo
que, se isto existe no estrangeiro, é pago a elevados pregos. Há severas
críticas contra as nacóes estrangeiras do Primeiro Mundo, ou seja, contra
o imperialismo norte-americano, o revanchismo alemáo... Em conse-
qüéncia, a populacho simples é levada a crer que a Rússia é seriamente
ameacada por inimigos que a querem invadir ou destruir. Embora muitos
desconfiem de tais noticias, há sempre aqueles que Ihes dio crédito.

Existem dois cañáis de televisio na URSS: o telejornal é sempre re-


digido segundo a ótica do Governo; os demais programas (filmes, con-
certos, teatro...) se equiparam aos da tevé francesa ou alema.

É perigoso ouvir emíssóes radiofónicas ou televisivas do estran


geiro.

Os jornalistas sao os soldados da ideología; devem formar o povo


na filosofía política e antropológica do Estado. Este apregoa a democra
cia no sentido de que todos sao iguais na Rússia, mas alguns sao mais
iguais!"

5) Existem favelas na URSS, como no Brasil?

- "Existe a sub-habitagáo na URSS, que é algo que se aproxima


das favelas. Assim, por exemplo, urna quarta parte da populacho dispde
de um apartamento, no qual há um pequeño quarto para quatro ou mais
pessoas, um corredor, um banheiro e urna cozinha... Quando os jovens
se casam, ficam normalmente em casa dos pais do rapaz ou da moga; é
em grande parte por isto que o divorcio se tornou realidade táo freqüente
na URSS.

Em toda parte há filas na Rússia. Sao o sinal de que faltam os ele


mentos primordiais para a sobrevivencia dos cidadáos. Para escapar das
filas ou para ser mais bem aquinhoado, é preciso ter boas relagóes com
os funcionarios do Governo".

6) Como se acham os estrangeiros na URSS?

- "Há estudantes que v8o estudar na URSS alimentando simpatía


pelo regime; sao marxistas enquanto estao na Faculdade; todavía, quan
do deixam a Rússia, freqüentemente se revelam antimarxistas.

Sao muitos os turistas, sempre acompanhados por guías do Go


verno, que nao Ihes permitem ¡r aonde querem; por exemplo, nao podem

537
10 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

visitar urna aldeia russa. Verdade é que quem tem o enderego de amigos
na URSS, pode obter a autorizacáo de visitá-los".

7) Como se acha o recrutamento do clero na URSS?

- "Temos lá tres Seminarios e duas Faculdades de Teología. A


quantidade de vocacóes é muito grande. Quando deixei Leningrado, ha-
via cinqüenta candidatos para cada vaga na Faculdade. A concorréncia
para entrar no curso de Teología é mais intensa do que nos outros cur
sos. O Estado dificulta a entrada de um rapaz no Seminario porque tem
medo de nos. Quem tem formacao universitaria, nunca obterá licenca
para fazer-se sacerdote. Esta perspectiva se torna mais fácil para os filhos
de sacerdotes e os filhos das aldeias. Em geral, os sacerdotes sao homens
de fé e de zelo; há, porém, aqueles que se deixam manipular pela KGB".

Mensagem final

"Os cristáos devem sempre procurar viver o impossfvel do Evan-


gelho. No Ocidente vé-se que as pessoas sao demasiado 'normáis',
alheias a loucura do Evangelho. Ora é preciso que vivamos este com toda
a coragem. Na URSS os cristáos sao reconhecidos pelo semblante. No
Ocidente é mais difícil reconhecé-los. Pactuam mais fácilmente com as
ideologias; só no último instante, quando é tarde demais, reconhecem o
erro político que cometeram; lamentam-se, mas a situacáo é irreversível.

Urna tristeza existe em mim: a de nao ter conseguido o martirio.


Mas excerco, com a béncao do meu diretor espiritual, o apostolado que
Deus me deu; quero viver a grande aventura de ser amada por Deus e de
amara Deus".

Tal é o impressionante depoimento de Tatjana Goritcheva. Revela


rara tenacidade unida a profunda fé em Cristo... Fé que nao Ihe foi suge
rida pela educacáo nem pelo ambiente de vida, mas pelo Espirito de
Deus, que fala no Intimo de cada coracio humano... Fé que é sustentada
pela conviccáo de que realmente fora dos pardmetros da Palavra de Deus
nao há esperaga para o homem nem sentido para a vida. Quem ouve ou
lé tal testemunho, nao pode deixar de pedir ao Senhor Deus que continué
a falar nao só no Intimo dos cidadios da URSS, mas também no coracio
dos ocidentais e, específicamente, dos cristáos do Ocidente, para que se
lembrem de que tém urna missáo honrosa a cumprir: "Sois o sal da tér
ra... Se o sal perder o seu sabor, com que se há de salgar?" (Mt 5,13).

538
Testemunhos vivos:

Feminismo e Marxismo

Em slntese: Segue-se o depoimento de mulheres russas, membros do


Clube Feminista María, extinto pela Policía Soviética e sobrevivente no exilio.
Tais pessoas dizem o que a experiencia concreta do marxismo Ihes sugere.

O Clube Feminista María foi criado em Leningrado por Tatjana Go-


ritcheva, loulia Voznessenskaia, Natalia Malakhovskaia, Sofía Sokolova e
outras mulheres. Fundaram um periódico ou boletim secreto como tam-
bém o jornal María (ambos transmitidos pela rede clandestina samizdat}.
0 Clube foi dissolvido, suas sócias expulsas ou para a Sibéria ou para o
Ocidente. Na Alemanha e na Franca, essas corajosas mulheres tém edita
do os textos de suas palestras e reflexóes realizadas outrora (1980-1981)
na Rússia. Temos em máos o livro intitulado "María. Journal du Club
Féministe María. Leníngrad", editado em Paris na sede do Clube em exi
lio: 2 Rué de la Roquette, 75011 Paris (Franca). Desse volume extraímos
algumas secóes, que váo, a seguir, publicadas em tradugio portuguesa.

Eis o texto de um debate ocorrido em Leningrado sobre o tema


"Feminismo e Marxismo":

Tatiana Gontcheva: No Ocidente, os movimentos feministas estáo


ligados a diversas correntes de esquerda, inclusive á corrente marxista.
Vi jomáis franceses reproduzirem as fotografías dos autores do alma
naque "Mulheres e Rússia" (Femmes el Russie) ao lado de retratos de
Lenine. Hoje, portante, vamos tentar precisar nossa concepcáo do
mundo, nossa relacáo com o marxismo e definir as características que,
segundo nos, deve ter um movimento feminista na Rússia.

Sofia, por favor, dize-nos qual é para ti a significacáo do movi


mento feminista.

539
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

S. Sokolova: Imagino o movimento feminino como urna fraterni-


dade baseada no amor cristáo.

T. Gorilcheva: E que responderías á questáo do teu relacionamen-


to com o marxismo?

S. Sokolova: Respondería que tenho um relacionamento muito ne


gativo. Por que no marxismo nio há lugar para os valores espirítuais,
nao há principio de amor... O cinismo existe em alta escala... O marxis
mo é urna teoría que nao conhece o amor. Oucam apenas o seu voca
bulario: "Classe, Partido, Vamos!, Batamos!, Venceremos!" No Ociden-
te, os movimentos feministas podem estar freqOentemente ligados ao
marxismo; aqui, porém, isto é imposslvel.

I. Voznessenskaia: Quero guardar fidelidade aos principios pura


mente democráticos... Eu considero todas as manifestares extremistas
como um crime. Nao julgo as pessoas segundo a teoría que professam,
mas segundo o seu comportamento em relacáo ao próximo. Nao sou
contraria as teorías, mas contraria ás acdes criminosas, ao bolchevismo
e á violencia. A teoría nada decide; quanto mais teorías houver, tanto
menos haverá perigo de que urna predomine. É indispensável sermos
tolerantes para com o homem, mas devemos ser intolerantes para com
o crime...

M. Tchelnokova: Os ocidentais nao tém, como nos, a experiencia


do marxismo. No marxismo nao há nem Moral nem moralidade. Lenine
disse: "Nao devemos lutar contra os adversarios, mas aniquilá-los".

/. Voznessenskaia: Lenine nao pregava o marxismo, mas o bandi


tismo bolchevista... Sou contraria ao bolchevismo, pois é banditismo...

T. Goritcheva: Na Rússia o marxismo nao pode ser vivo e inspira


dor. Ele conseguiu enterrar-se e sobre o seu túmulo levanta-se um gi
gantesco Gulag;1 nada mais se move. Os únicos a pregar o marxismo
na Rússia sao carreiristas, vendidos e malvados. Mas também nao creio
no marxismo de rosto humano, que é apregoado no Ocidente, pois a
base do marxismo é o cinismo, o odio nao dissimulado do homem. Em
nossas circunstancias, o marxismo tornou-se urna forca evidentemente
satánica...

L Vassitieva: O marxismo é grave doenca da consciéncia de aue


sofreram milhóes de seres humanos, mas nao haverá recaída. Mesmo

Campo de concentragáo na URSS.

540
FEMINISMO E MARXISMO 13.

que a realidade se projete sobre nos com suas leis, seus slogans, seu
modo de vida marxista, mesmo que ela nos oprima e nos esmague, tu-
do será inútil. Pois a consciéncia de muitos já se libertou dessa mentira
e se abriu aos valores esplrituais. É muito lamentável que a ilusáo rio
marxismo continué a existir no Ocidente, apesar da nossa terrivel expe
riencia, apesar dos apelos de Soljentisyne e de outros progressistas. Eu
nao quisera que a Europa atravesse a provacáo do marxismo...

NMalakhovskaia: ... Entre nos, tudo é feito "para o bem do ho-


mem, para o cidadáo de Estado abstrato" de Marx, para o bem de al-
guém que nao existe, as custas do bem dos que vivem. Os eurocomu-
nistas deveriam pensar nisto e indagar se nao devem revisar os seus
sentimentos marxistas antes que seja tarde demais. A meu ver, o mar
xismo é popular no Ocidente apenas por causa do estilo cansativo de
Marx, que faz que as massas nao possam ler suas obras imortais na
forma original; as pessoas preferem dar crédito aos vulgarizadores, que
nao sao sempre imparciais. Poderlamos também refletir sobre o fato de
que o nosso Governo assinou a DeclaracSo dos Oireitos do Homem,
mas esta Declaracáo é sempre confiscada, quando a Policía faz suas
perquisicoes; além do qué, nunca é encontrada ñas bibliotecas.

T. Mikhailova: Para mim, a muiher é, antes de tudo, máe; por isto é


que ela tem urna funcao protetora; ela protege o lar contra a desgraca.
Mas hoje a muiher nao é apenas a míe de seus filhos; ela é também a
máe do seu marido. Parece-me que nosso Movimento deve trabalhar
em prol do renascimento dos homens; as mulheres estáo cansadas de
ter que carregar tudo sobre os seus ombros. Nos queremos, sem dúvi
da, ser máes; mas queremos também ser esposas. Outrora os país con-
fiavam a sua flor querida (a sua filha) a um marido para que ele a amas-
se e acariciasse; hoje os homens é que sao confiados a urna esposa, pa
ra que ela os ame e os acaricie...

Existem na Rússia mulheres notáveis, que tém o direito de plei


tear a felicidade. O movimento feminino deve lutar pela plenitude da
vida, em favor das fontes feminina e masculina, reunidas numa familia
normal.

L Vassilieva: O movimento feminista foi suscitado pela nossa épo


ca. Em nosso país, as mulheres se encontram em situacio extremamen
te aflitiva, acabrunhadas pelo modo de viver, dobrando a nuca sob o
jugo social e sexual (os homens infelizes se descarregam da sua fraque-
za e do seu medo da realidade sobre a muiher). Aínda nao vejo clara
mente urna solucáo concreta; ela há de se esbocar com o tempo. Mas as
mulheres devem unir-se para mostrar os seus problemas ao mundo e,
antes do mais, a si mesmas, a fim de os resolver ¡untas no amor e na

541
14 "PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 295/1986

colaborado. Na hora atual, nao será o homem que ajudará a mulher a


se encontrar. N6s, porém, as mulheres, apesar do biologismo do reba-
nho feminino, podemos e devemos ajudar-nos urnas ás outras. Isto s6
será posslvel na perspectiva de um aperfeicoamento espiritual, para ca
da urna em particular e para todas conjuntamente.

Os depoimentos aqui transcritos corroboran* os dizeres de Tatja-


na Goritcheva quando falou no Brasil. É para desejar que a experiencia
das pessoas que assim se exprimem, sirva de referencial e baliza para se
interpretaren) as sedutoras teorías do marxismo.

Continuado da pag. 48

conversar com um estrangeiro em sua intimidade, as limitacóes impostas,


camufladamente, a quem entra na ilha, tudo isso me provocou o desejo incon-
tido de levantar um pouco a cortina da repressáo e dar urna pequeña espiada
no que existe por tras dos bastidores" (p. 21). Daísurgiu o livro, resultante de
observacóes, inadgacóes e conversas por parte do autor frente á realidade e
á populagao de Cuba. Os títulos dos diversos capítulos já dizem, de algum
modo, qual o conteúdo da obra: "Os Estados Unidos, nao; seus dólares, sim";
"A discriminacáo racial"; "O fanatismo político"; "A pressao dos problemas
económicos"; "O culto aos ditadores"; "Exemptos da ineficiéncia e dos ardis
do sistema"; "As restricóes que o regime impbe"; "O anseio de liberdade"... A
esta primeira parte do livro, segue-se outra parte, que aprésenla os depoi
mentos de dois cubanos dissidentes: o ex-vice-ministro Manuel Sánchez Pé
rez e o escritor Carlos Alberto Montaner. Após haver falado sobre "os tortura
dos, os mutilados, os assassinados nos cárceres sombríos da Cuba de Fidel
Castro, idealista que nao soube manter-se fielao seu ideal", o livro se encerra
com a reflexáo seguinte: "É preciso comovera consciéncia do mundo em face
de regimos que, á esquerda ou á direita, esmagam os direitos humanos, e fa-
zem da liberdade um sonho impossfvel na áspera caminhada do homem sobre
a face da Ierra" (p. 160).

Pena de Morte Já, peto Pe. EmSio Silva. - Revista Continente Editorial
Ltda., Avenida 13 de Mato 23/209 andar, sala 2025, Rio de Janeiro (RJ), 160 x
245 mm, 218 pp.

O Pe. EmíSo Silva é prolessor de diversas Universidades do Brasil e do


estrangeiro. Acaba de publicar em portugués um livrojá editado na Espanha e
no México, cuja traducáo italiana está sendo preparada. O texto portugués
traz o Prólogo do Des. ¡talo Galli. As páginas da obra sao densas em docu-
mentagáo e argumentos que tendem a incutir a necessidade de se introduzir
sem demora a pena de morte no Brasil e, em geral, ñas legisfacóes civis. "A
pena de morte é exigencia de milhóes de brasileims que choram hoje as vñi-
mas da impunidade" (faixa de rosto do livro).
Continua na pág. 23

542
Nao foi aprovado

0 divorcio na Irlanda

Em símese: Aos 26/06/86 reaSzou-se um plebiscito na Irlanda referente


ao divorcio, com os seguintes resultados: 63,1% de sufragios contrarios á
dissolugao do casamento;.36,6% favoráveis, e 0,3% de votos nulos. O Go-
verno Szera certa pressáo em favor da dissolugao do matrimonio tencionando
assim equiparar a Irlanda aos demais países do Mercado Comum Europeu,
que sSo divorcistas. A tempera católica da populagáo fez-se assim sentir nu-
ma atitude de coeréncia, que o episcopado irlandés havia preconizado enfáti
camente. Os bispos, rejeitando o évórcio, nSo se véem menos obrigados a
interessar-se pela sorte dos casáis infelizes ou mesmo fracassados; tém pro
curado dar-lhes a devida assisténcia para minorar seus sofrimentos e man-
tó-tos em contato com as fontes da grapa de Deus. - Alias, em 1983 outro
plesbiscito ocorreu na Irlanda a respeito do aborto, redundando em rejeicio de
tal prática. Desta maneira o povo irlandés oferece ao mundo um testemunho
de corajosa coeréncia nao só com o Evangelho, mas também comadignlda'
de humana.

Aos 26/06/1986 realizou-se um plebiscito na Irlanda a respeito da


aceitacáo ou nao do divorcio na Constítuicao nacional. O resultado reve-
lou a vontade popular de nao modificar a Constituicio vigente desde 1937
no país..., Constituicáo que nao incluí a prática do divorcio, á diferenca do
que se dá em todos os países europeus.

A imprensa leiga européia comentou pejorativamente o fato, ta-


chando-o de "vitória da intolerancia" (Le Monde,29-30/06/86). Os bispos
irlandeses foram tidos como "agentes da Inquisicáo e da guerra santa",
como é costume dizer-se sempre que reafirmam a pureza da ménsagem
do Evangelho num mundo carente de Deus. Alias, nota-se que a ¡mpren-
sa sabe elogiar os bispos quando se opdem a injusticas sociais, mas nao
os compreende quando se pronunciam a respeito de problemas de cons-
ciénda ou de foro interno; isto se explica pelo fato de que os observado
res léem a realidade preponderantemente em chave política ou como

543
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

teatro de interesses partidarios que se defrontam; ao contrario, os bispos


tém em vista as consciéncias e propugnam a dignidade da pessoa huma
na, desde que é concebida no seio materno, ¡ndependentemente do que
ela produza ou nao produza no plano da eficiencia ou do pragmatismo.

Ñas páginas subseqúentes examinaremos de perto o curso dos


acontecimentos recentes na Irlanda. Antes do mais, porém, ¡mpóe-se
breve elucidario a respeito da situacao política daquele país.

Habitada por celtas, e nao por anglo-saxdes, a Irlanda esteve inte


gralmente sujeita ao dominio británico até 1921. Nesta data, a ilha foi
partida pelo "Government of Ireland Act": 80% do territorio tornou-se
independente, tendo o seu Parlamento em Dublin (é a atual República da
Irlanda, 95% católica), ao passo que 20% do territorio setentrional da ilha
ficaram ligados a GrS-Bretanha; constHuem o Estado de Ulster, com ca
pital em Belfast, governado por um Partido protestante, dito "de Oran-
ge"; este conserva até hoje a antiga legislagáo discriminatoria em materia
de religiáo, favorecendo a populacSo protestante com prejufzo de 500.000
católicos que lá residem. Daf os constantes choques entre católicos e
protestantes registrados na Irlanda do Norte ou em Ulster.

1. O problema divorcista

A Irlanda é atualmente governada pelo Primeiro Ministro Garret


FitzGerald do Partido Fine Gael (Partido Unido), membro da Democracia
Crista Internacional; é faccáo política de centro-esquerda. Governa em
coalisáo com outros Partidos, entre os quais o Hanna Fail (Soldados do
Destino) e o Labour Party (Partido Trabalhista). Embora o Governo ir
landés seja de inspiracáo católica, tem tomado atitudes de abertura ao di
vorcio e ao aborto, talvez por pressao dos Partidos Trabalhista e Socia
lista; estes desejam que a Irlanda, tendo entrado no Mercado Comum
Europeu, se equipare aos demais países desta ¡nstituicáo, que sao todos
divorcistas e abortistas.

É o que explica na Irlanda a campanha pro-aborto, que teve o seu


desfecho mal sucedido em 1983 (ver o Apéndice anexo a este artigo) e a
campanha pró-divórcio, diretamente considerada nestas páginas.

Em marco de 1986, o Primeiro-Ministro Garret FitzGerald convidou


representantes do Catolicismo, do Anglicanismo, do Presbiterianismo, do
Metodismo, do Judaismo e dos Quakers para participarem de urna as-
sembléia que discutirla o divorcio. Á frente dos delegados católicos esta-
vam o arcebispo de Armagh, Primaz da Irlanda, Cardeal Thomas Ó Fiaich,
e o arcebispo de Dublin, Mons. Kevin McNamara; estes, embora opostos

544
O DIVORCIO NA IRLANDA 17

á tese divorcista, nao se opuseram a proposta de um plebiscito nacional


referente ao assunto.

0 plebiscito foi realmente anunciado aos 23/04 para se realizar aos


26/06/86. Propor-se-ia ao povo irlandés o seguinte:

- emenda do artigo 41 da Constituicáo de 1937, que exclui o divor


cio, de modo que este seria legítimo em poucos casos bem definidos;

- reconhecimento da legitimidade de filhos nascidos dos casa-


mentos até entáo considerados ¡legítimos. Na verdade, a legislacáo irlan
desa só concede a separacáo legal dos cónjuges sem a possibilidade de
novas nupcias; em conseqüéncia, muitos irlandeses desquitados se ca-
sam de novo no exterior, principalmente na Grá-Bretanha, ou vivem em
unióes nao legitimadas; tais cidadáos seriam 30.000 aproximadamente,
segundo as informacóes do Governo, mais de 70.000 conforme os cálcu
los de instituicóes particulares.

O Primeiro-Ministro, apresentando tal projeto de lei, observou: "A


sociedade será beneficiada pela abolicáo do banimento do divorcio".

Diante de tal situacáo, os bispos irlandeses se reuniram em Mai-


nouth aos 11/06/86, reafirmando a condenacáo do divorcio, pois este en-
fraquece a familia e o casamento; enfatizavam a necessidade de acompa-
nhar os casáis ameacados pela discordia, devendo a Igreja e o Estado dar
mais atencáo a tal problema; cada fiel católico era, por fim, convidado a
votar segundo a sua consciéncia.

Mais explícito foi o arcebispo de Dublin, Mons. McNamara, numa


carta que foi lida em todas as igrejas da arquidiocese aos 22/06. Mesmo
que aplicada só em casos ¡r recuperaveis, dizia o prelado, a ¡nstituicáo do
divorcio solapa a estabilidade do casamento e pode ter serias conseqüén-
cias moráis e sociais:

"Nao resta dúvida, nao será para o bem da nossa sociedade a ¡n-
sercáo de urna cláusula divorcista em nossa Constituicáo. Nao vejo co
mo a legislacáo divorcista possa ser compatfvel com a existencia de ca-
samentos bons e estáveis; nao vejo como possa ser compatlvel com os
direitos fundamentáis dos cónjuges e da prole. A quanto me parece, tal

Mais precisamente: o divorcio seria concedido se cumprídas tres exigen


cias: 1) verificagáo do absoluto fracasso do casamento em pauta; 2) separa
cáo previa dos cónjuges durante cinco anos: 3) acordos adequados em favor
do conjuga mais carente e dos filhos.

545
1g "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

legislacáo há de multiplicar os traumas e as desgrapas das rupturas ma


trimoniáis. Também muito me preocupam as conseqüéncias moráis que
o divorcio pode acarretar... Receto que, urna vez introduzido o divorcio,
as pessoas nao se interessaráo, do mesmo modo, por viver em uniáo
com Deus, nesta vida e na outra. Por estes motivos direi Nao á propos
ta de emenda da Constituicáo".

Entre outras vozes que se fizeram ouvir, convém assinalar também


a do bispo de Killala, Mons. Thomas McDonnell; este observava que o
Govjrno "teria procedido melhor se tivesse procurado dar todo apoio
posslvel a instituicáo do matrimonio, em vez de pensar em introduzir o
divorcio na Irlanda". Fez eco aos bispos o Anti-Divorce Action Group,
movimento de leigos que proclamou: "Os trabalhadores precisam de
em prego, e nao de divorcio; as criancas necessitam de seguranca, e nao
de divorcio". - Alguns deputados do próprio Partido do Governo, o Fine
Gael, se pronunciaram em termos semelhantes; em nome de mulheres
irlandesas, a Sra. Alice Glee declarou que, "para qualquer mulher, votar
em favor do divorcio seria como se um perú votasse em favor do Natal
para acabar morto na panela".

As previsóes do resultado do plebiscito a principio indicavam a


grande vitória da proposta de emenda da Constituicáo, a tal ponto que
o Divorce Action Group, movimento divorcista, comecou a proclamar a
próxima introducáo do divorcio no pais. Com o passar do tempo, porém,
o entusiasmo arrefeceu diante das ¡mpressóes causadas na populacáo
pelas ponderales dos bispos. Como quer que fosse, os prognósticos
eram de vitória por pequeña margem para qualquer das duas opcóes.
Muito diversos, porém, foram os resultados: 63,1% dos votantes se pro
nunciaram contra o divorcio; 36,6% a favor, enquanto 0,37o votaram nulo.
O comparecimento ás urnas foi de 62,7%, um percentual pouco mais ele
vado do que o de outras votacóes.

Evidenciou-se assim, mais urna vez, a vitalidade religiosa do povo


irlandés, que conta 95% de católicos convictos e se pode gloriar de haver
difundido e fortalecido o Catolicismo nos Estados Unidos mediante os
seus ¡migrantes. A fibra católica do povo irlandés está muito ligada a
identidade mesma da nacáo, pois, afirmando a sua fé católica, os irlande
ses durante mais de quatro sáculos, tém afirmado a sua nacionalidade
frente aos dominadores ingleses, que sao protestantes. O principal Parti
do de oposicáo na Irlanda, o Fianna Fail, é faccáo de centro-direita, for-
temente nacionalista; ao mesmo tempo propugna a tradicáo cultural celta
da populacáo e o Catolicismo, que consolidou a coesáo dos irlandeses
diante dos colonizadores ingleses.

O Primeiro-Ministro FitzGerald viu bloqueadas as suas intencóes


de "modernizar" a Irlanda, adaptando-a ao pensamento e aos hábitos do

546
O DIVORCIO NA IRLANDA

continente europeu. Outros problemas Ihe aflorariam em lugar da ques-


táo divorcista:

- o desemprego, que atinge a cota de 17%; dissemina a pobreza em


ampias carnadas da populacáo e faz que mais de um milháo de irlandeses
(numa populacáo de pouco mais de tres milhóes) dependam de subsidios
públicos;

- o longo confuto do Ulster ou da Irlanda do Norte, em vista do


qual foi assinado o acordó de Hillsborough entre os Governos da Irlanda
e da Grá-Bretanha; a um ano de distancia (a partir de 15/11/85), tal pacto
nao está dando os frutos esperados;

- a mais alta taxa de inflacáo da,Europa;

- as drogas e o alcoolismo.

A coalisáo de Partidos que governa atualmente a Irlanda, está fran


camente abalada pelos resultados do plebiscito. O Gabinete do Primeiro-
Mínistro por pouco nao caiu; falta-lhe atualmente o apoio da populacáo
para desenvolver o seu programa administrativo. As próximas eleicóes
para o Parlamento ocorreráo em 1987.

2. Um comentario do arcebispo de Dublin

Aos 12/07/86 o jornal italiano Awenire publicou urna entrevista do


arcebispo de Dublin a respeito do plebiscito. Eis alguns de seus tópicos
principáis:

O jornalista tendo perguntado ao pastor se os irlandeses nao ti-


nham rejeitado o divorcio por medo, Mons. McNamara respondeu que,
em parte, sim, houvera medo "dos danos reais que o divorcio acarreta.
Tal medo, que havia influenciado a populacáo, nao era medo de fantas
mas, e sim de perigos concretos. Com efeito; as conseqüéncias do divor
cio haviam sido longamente explanadas pela Anti-Divorce Campaign.
Por conseguinte, a populacáo foi movida por um temor sadio. Como se
compreende, os adeptos do divorcio alegam que receios totalmente in
fundados foram suscitados nos ánimos da populagáo - o que nao é ver-
dade".

No inicio da campanha, notava ainda o prelado, os irlandeses pro-


vavelmente julgaram que o divorcio diria respeito apenas a pequeño nú
mero de pessoas e nao acarretaria mudancas para a instituicáo matrimo
nial. Aos poucos, porém, tomaram consciéncia de que a emenda da

547
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

Constituicáo mudaría realmente a sociedade irlandesa, modificando os


conceitos de casamento e familia; além do qué, teria repercussáo negati
va ñas condigóes económicas dos cidadáos, especialmente das mulheres:
"A mulher repudiada pelo divorcio poderia tornar-se vítima de grave
empobrecimento do seu quadro de vida, o que a tornaría dependente de
subsidios estatais".

Indagou o repórter a respeito dos elementos que influenciaram a


opgáo negativa da populagáo, colocando em foco a atitude dos bispos, e,
particularmente, o NSo de Mons. McNamara. - O prelado respondeu que
muitos fatores foram levados em conta pelos votantes e que seria inte-
ressante fazer urna análise dos mesmos; reconhecia, porém, que o seu
Nao encontrara grande acolhida porque equivalia a um testemunho...
conciso, mas claro, que pode ser compreendido por todos. O arcebispo
observou outrossim que nenhuma noticia de reacio contraria chegara ao
seu conhecimento. Acrescentou Mons. McNamara:

"Sem dúvida, foram os teigos que asseguraram o sucesso desta cam-


panha antídivorcista... Creio que nos acontecimentos deste referendum po
demos ver os sinais do amadurecimento do laicato católico, do crescimento,
entre os teigos, da consciéncia de que eles sao responsáveis pelo bem da
lamilla..., pelos valores sociais e moráis que eles herdaram e guardaran) cio-
samenle e que eles agora estáo defendendo. Sabem que esta tárela nao
compete apenas aos presbíteros e aos bispos. Creio que muitos aprenderam
esta licáo por ocasiáo do outro referendum em 1983 concemente ao aborto.
Estes dois plebiscitos foram duas etapas importantes na caminhada do laicato
católico irlandés em direcáo da mais profunda compreensáo do seu papel na
Igreja e da sua responsabilidade dentro da sociedade".

0 repórter quis ainda interrogar se a Irlanda pode ser considerada


um modelo, para o mundo ocidental, daquele retorno as raizes cristas da
Europa, de que freqüentemente fala Joáo Paulo II. - Mons. McNamara
respondeu que o divorcio nao é urna solucao para o problema das crises
conjugáis, mas, ao contrario, gera "muito mais problemas do que os re-
solve". "Assim também deve ficar claro que o aborto é um grande crime,
é urna tremenda mancha sobre a consciéncia da civilizapáo ocidental...
Creio que os cidadáos de outras nagóes já se dao conta disto. Tal vez se
sintam incapazes julgando que nada podem fazer para remediar-lhe. Mas
o fato de ver que num país como a Irlanda o povo, em maioria esmaga-
dora, rejeita o divorcio á revelia mesmo da forte pressáo que sofreu,
acompanhada de argumentos varios..., ver também o que aconteceu em
1983... isto tudo dá esperanza a outros povos".

O jornalista indagou outrossim se a insistencia na indissolubilidade


conjugal e no respeito a vida do nascituro nao sao valores superados...

548
O DIVORCIO NA IRLANDA

Ao que o arcebispo respondeu que o menosprezo de tais valores se deve


a preconceitos. Na verdade, trata-se de "valores perenes... arraigados no
próprio significado do homem, na verdade... e na dignidade mesma da
pessoa humana tal como ela proveio do Criador".

Mais: um jornal inglés definiu como "vitória de Pirro" a dos antidi-


vorcistas irlandeses... - Observou entáo Mon. McNamara que tal expres-
sáo devia significar, para quem a formulara, que a Igreja no futuro estava
fadada a perder a sua capacidade de influencia sobre os povos. Mas -
continuou - a Igreja certamente nao perde a sua influencia por tomar po-
sicáo em favor da verdade. A Igreja existe para ¡sto. A Igreja nao racioci
na em fungió daquilo que é conveniente para o seu poder ou prestigio;
Ela pensa, antes do mais, em servir á verdade. E, se Ela serve á verdade,
certamente Ela nao perde terreno aos olhos dos seus fiéis; antes, o
ganha a longo prazo.

O resultado do plebiscito, porém, obriga-nos a pensar "ñas pessoas


que sofrem crises conjugáis e se encontram em perigo de ver fracassar o
seu casamento ou mesmo já nao vivem o seu matrimonio". E preciso
ir-lhes ao encontró. Como também é necessário contrabalancar a cul
tura materialista e individualista, projetada pelos meios de comunicacáo
social, numa nació que fica entre os Estados Unidos, de um lado, e a
Grá-Bretanha e a Europa Ocidental, de outro lado. É mister, portento,
defender e reforgar a inspiragáo crista dos irlandeses, dando sempre
maior responsabilidade aos leigos; há longa caminhada a percorrer, es
pecialmente no tocante á cultura.

"Por exemplo. a Igreja como tal nao tem acesso á televisio e ás


emissoras radiofónicas; nao temos imprensa católica forte, nem um co
tidiano católico; temos dois jomáis semanais, que deveriam ser reforca-
dos e desenvolvidos de maneira significativa. Temos um periódico quin-
zenal, de bom nivel intelectual, que escreve sobre questóes políticas,
sociais, educativas, do ponto de vista católico, e tenho boas esperanzas
de que para o futuro se possa tomar influente. Estamos também na si-
tuacáo de quem possui Universidades, mas sem Faculdades de Teolo
gía".

A última parte da entrevista versava sobre o problema da Irlanda


do Norte, espinhoso para o Governo da República Irlandesa; a sua solu-
cáo nao pode ser entregue apenas aos governantes, mas requer a partici
pado de todos os irlandeses numa atitude de paciencia a clarividencia.
Mons. McNamara frisou a importancia da apio da Igreja no caso; me
diante os seus sacerdotes, Ela tem estado próxima dos cidadáos sujeitos
a perseguicáo. Digna de mencáo é também a atividade ecuménica, fre-
qüentemente mais intensa da parte dos católicos do que do lado dos

549
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

protestantes, pois os ministros protestantes sao nao raro detldos pelos


seus fiéis para que nao partícípem do diálogo ecuménico. "Por certo, a
Igreja Católica tem trabalhado, pedindo sempre a paz e condenando os
ultrajes, solicitando justica e solucóes políticas para a Irlanda do Norte".

Eis, em poucas páginas, o relato e os ecos de urna facanha digna de


nota pela sua coeréncia e coragem dentro do contexto da nació irlande
sa. Possa servir de sinal e estímulo para a populacáo católica do Brasil e
do mundo inteiro!

APÉNDICE

A CAMPANHA PRO-ABORTO NA IRLANDA

Na Irlanda urna leí datada de 1861 proibe o abortamento. Todavía,


como era amplamente praticado, apesar das advertencias do episcopado
irlandés, em 1980 iníciou-se urna campanha em favor do aborto, encabe-
cada por alguns políticos e urna parle minoritaria da opíniáo pública,
sustentada pela imprensa. Frente a tal movimento, um grupo de leigos,
especialmente médicos, ginecologistas e juristas, com o apoio do episco
pado, prepararam um projeto de emenda ao artigo 40 da Constituidlo,
a fim de consolidar a posicáo antiabortista do mesmo.

Aos 27/04/1983 a Cámara dos Deputados aprovou, por 87 contra 65,


urna proposta de plebiscito sobre o assunto, proposta que foi ratificada
pelo Senado. - O referendum ocorreu realmente aos 07/09/83, com urna
porcentagem de votantes pouco superior a 50%. Registraram-se entáo
841.233 votos (65%) favo reveis a emenda da Constituigáo no sentido de
corroborar a sua atitude antiabortista, contra 416.136 votos (35%) contra
rios ao fortalecimento do artigo antiabortista. Estava, pois, evitada a
ameaca de legaüzagio do aborto. A emenda vitoríosa no plebiscito reco-
nhecía tanto o direito do nascituro como o da máe á vida.

O Governo fizera forte pressáo em favor do aborto; todavía mais


fortes foram os clamores em defesa do nascituro. Mu ¡tos católicos vota-
ram contra a emenda antiabortista ou porque nao estavam satisfeitos
com a sua formulacáo ou porque a consideravam um novo obstáculo á
uniáo de Norte e Sul do país ou ainda porque supunham que ela acabaría
favorecendo o abortamento ilegal já praticado na Irlanda.

Dentre os protestantes houve os que aprovaram a proposta de


emenda, enquanto outros a rejeitaram.

550
O DIVORCIO NA IRLANDA 23

Como se vé, o plebiscito nao versava diretamente sobre a introdu


cto do aborto na Irlanda. Tal proposta teria sido rejeitada pela grande
maioria da populacáo. Após o resultado do referendum, o episcopado
desenvolveu forte atividade em prol da fundagáo de centros de assistén-
cia a máes e enancas postas em dificuldades.

Assim é que a Irlanda fica sendo o único pafs da Comunidade Eu


ro péi a em que o abortamento é proibido. É um testemunho de coeréncia
nao só com o Evangelho, mas também com a própria dignidade humana.

A propósito muito nos valemos do artigo de G. Rulti: Referendum nella


Repubblica d'lrlanda: un popólo unito contra il divorcio, em La Clvilta
Cattolica, n*3270, 20/09/86, pp. 528-535.

ContinuafJo da pég. 14

A tese do Pe. Emitió Silva éade urna correrte de pensadores. Mas nao
representa a posigáo oficial da Igreja. Esta nao condena a pena de morte, pois
ela pode ser a legitima defesa da sociedade contra um criminoso, injusto
agressor. Com efeito; pode acontecer que a onda de crimes se/a talnuma so
ciedade que a execucSo de um ou majs criminosos intimide os restantes; em
tais casos, a pena de morte 6 medicinal, pois concorre para sanar o ambiente
no qual vivem os cidadáos. A própria S. Escritura fundamenta a pena de mor
te, prescrevendo-a em diversos casos; ver Lv 20,1-18. - Na prática, porém, a
aplicagáo da pena de morte suscita dúvidas: Será que talpunícéo é realmente
medicinal? É meto apto a conter os criminosos? Nos pafses que aboliram a
pena de morte, o índice de crimes nao é maior do que naqueles que a conser-
vam. - Conclusao: A pena de morte é, em principio, moralmente licito. Todavía
feto nSo quer dizer que deva ser aplicada. A aplicagáo da mesma depende de
saberse é realmente medicinal para a sociedade.

Psicoterapia e Sentido da Vida, por Viktor Frankl - Ed. Quadrante,


Rúa Iperoig 604, 05016 Sao Paulo (SP) 1986.

Este livro já foi tongamente comentado em PR 281/1985, pp. 329-340;


278/1985, pp. 61-65. Saudamos a sua reedigSo, que veio atender aos pedidos
de muitos dos nossos leitores.

E.B.

551
Seráverdado?

"Origem dos dogmas e inovacóes da


Igreja Romana"

Em sfntaso: Os protestantes espalham no grande público panfíetos que


pretendem apontar desvíos cometidos pela Igreja Católica em retaceo á pure
za do Evangelho. Quem analisa tais escritos, concebe de pronto a impressáo
de que sSo inspirados por grande desconhecimento dos assuntos abordados,
assim como por urna animosidade preconceituosa. Apresentam erros de his
toria, tormulagóes vagas, contraécóes..., que só corttribuem para depor con
tra o valor desses impressos. Dado, porém, que perturbam os leitores, pro
pomos, a seguir, atguns comentarios sobre um de tais panfletos.

A propaganda protestante faz-nos freqüentemente chegar as


máos folhetos que acusam a S. Igreja Católica de haver deturpado a
mensagem do Evangelho; em conseqüfincia, os católicos deveriam tor-
nar-se protestantes, na lógica de tais impressos.

Seria de bom alvitre nao fazer caso desses panfletos, se eles nao ti-
vessem repercussao no povo de Deus. Acontece, porém, que nSo poucas
pessoas, impressionadas pelo que leram, vfim pedir-nos explicacóes a
respeito das objac&es protestantes. Eis por que n&o nos fuñaremos a le
var em conta mais um desses panfletos*, atendendo a pedidos dos leito
res. Intitula-se "Slntese Histórica por Ordem Cronológica da Origem dos
Dogmas e Inovacóes da Igreja Romana" sob a responsabilidade de
Christian Trtumph Company,Texas, USA.

Já em PR 264/1962, pp. 378-401 foi abordado urn, folheto seme-


Ihante.

1. Consideracóes gerals

A primeira impressfio que se tem ao ler tais folhetos e, em especial,


o que atrás foi citado, é a de que sSo inspirados por preconceitos apaixo-

552
"ORIGEM DOS DOGMAS..." 25

nados e cegos, que querem destruir (se possível fosse) a S. Igreja de


Cristo. Para tanto, fazem afirmares (acusacóes) em materia grave sem a
mínima documentado ou comprovacáo. Trocam nomes, dates; usam de
expressóes vagas, imprecisas... e de mau portugués (que decorre de im-
perfeitas traducóes do inglés). Eis alguns exemplos típicos dessa levian-
dade preconceituosa:

1) No folheto em foco lemos:

"Em 998. É estabelecida a festa aos mortos, dia de finados, por


Odilon.

Em 1003 o Papa Joio XÍV aprova a festa das almas 'fiéis defun-
tos', que Odilon creara primeiro".

Ora quem entende um poucqda linguagem e da prática litúrgica da


Igreja, observa logo que nunca houve "festa aos mortos" na Igreja, mas,
sim, "comemoragSo" dos fiéis defuntos. - O que o santo abade Odilon,
de Cluny, reatizou, foi dedicar um dia do ano (2 de novembro) aos sufra
gios ou ás oracdes em favor dos fiéis defuntos. Como há um dia do ano
(19 de novembro, este instituido no secuto IX pelo Papa Gregorio IV, 827-
844), em que se celebra a festa de Todos os Santos, haveria também um
dia do ano em que os cristáos pensariam em todos os irmáos falecidos
a fim de pedir a Deus que Ihes dé o'repouso eterno. Tal prática se prende
á nocáo de purgatorio, da qual trata PR 200/1976, pp. 359-365.

2) O teor de ignorancia da temática do folheto se evidencia espe


cialmente na seguinte afirmacáo:

"Em 670. Comeca a falar-se em latim á missa, llngua morta para o


povo, pelo Papa Vitélio".

A propósito observamos:

a) de 657 a 672 foi Papa S. Vitaliano, e nao Vitélio (Vitélio foi Im


perador Romano de 68 a 69 d.C);

b) a Ifngua grega era a língua do Imperio greco-romano. O latim


era, a principio, o dialeto do Lacio (provincia de Roma); com o crescer da
importancia de Roma, o latim foi tomando vulto e substituiu o grego na
liturgia da Igreja. Esta substituicao deve ter sido efetuada paulatinamente
a partir do século III; nao há documentacáo muito precisa a tal respeito.
Aos poucos a linguagem popular foi deformando o latim, de modo a
produzir as línguas neo-latinas (italiano, espanhol, portugués, francés...),
mas até o comeqo da Idade Media o latim era a única Ifngua que se es-

553
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

crevia (táo rudes que eram as Ifnguas neo-latinas). Em conseqüéncia, a


Liturgia da Igreja continuou a ser celebrada em latim por toda a Idade
Media, visto que nao havia outro instrumento adequado de expressáo
culta e escrita.

Donde se vé que nao foi em 670 que se comecou a celebrar a Missa


em latim, nem naquela época o latim era "Ifngua morta para o povo".

3) É significativo também o seguinte tópico:

"Em 370. Principia o uso dos altares e velas pelo fim do século
III".

Há nesta noticia urna incoeréncia: o ano de 370 nSo pertence ao sé-


culo III, mas 80 século IV. Além disto, é de notar que o uso de altares e
velas comecou nos tempos do Antigo Testamento; ver Gn 12,7; 13;18;
22,9 (textos da vida de AbraSo); Ex 17,15; 27,1; 29,13 (textos da vida de
Moisés); Nm 7,1 (Moisés ungiu o altar por ordem do Senhor); Mt 5,23
(Jesús diz que, se alguém se aproxima do altar para oferecer os seus
dons e se lembra de que tem urna contenda com seu irmáo, deve pri-
meiramente reconciliar-se); Hb 13,10 (diz o Apostólo: "Temos um altar");
Ap 63; 8,3 (mencSo de altares no céu).

Quanto ás velas, basta lembrar o candelabro confeccionado por or


dem do Senhor, conforme Ex 25,31.37. O Senhor se refere á luz que br¡-
Iha sobre um candelabro em Mt 5,15; Cristo aparece entre candelabros
em Ap 1,13; 2,1.

4) Diz ainda o panfleto:

"Em 1200. O Concilio de Latráo impóe a transubstanciacáo e


conflssio auricular".

Seja licito lembrar que houve cinco Concilios ecuménicos do La


tráo. Em 1200 nenhum deles se realizou. O autor do panfleto parece ter
em vista o quarto Concilio (1215). Quanto á transubstanciacao e é confis-
sáo auricular, ver o livro de E. Bettencourt: Diálogo Ecuménico, Ed. Lu
men Chrísti, Caixa Postal 2666,20001 - Rio (RJ).

Examinemos agora mais detidarnente aiguns dos muitos pontos


abordados pelo folheto como sendo deturpacóes da mensagem crista.

554
"ORIGEM DOS DOGMAS..." 27

2. Os pontos principáis

2.1. O culto dos Santos

Segundo o panfleto, "em 370, o culto dos santos foi introduzido por
Basilio de Cesaréia e Gregorio Nazianzeno. Também apareced pela pri-
meira vez o uso do incensó e turíbulo na I g reja, pela influencia dos pro
sélitos vindos do paganismo".

Ora o uso do incensó é profundamente bíblico: os sacerdotes o


ofereciam no culto do Antigo Testamento, conforme Lv 21,6; Ex 29,13;
30,7; Zacarías o oferecia também, conforme Le 1,9-11; no Apocalípse, as
oragóes sao comparadas ao incensó que sobe ao céu (cf. Ap 8,3s).

Quanto ao culto dos Santos, tem suas rafzes também na tradigáo


do Antigo Testamento. Com efeito; Judas Macabeu (no século II a.C.) viu
o profeta Jeremías, falecido quatro séculos antes, interceder pelos justos
que lutavam na térra (cf. 2Mc 15,11-16). Desde o século I da nossa era, os
cristáos invocavam os mártires, tidos como heróis da fé e valiosos inter-
cessores em favor de seus irmáos; é o que atestam as escavacóes feitas
junto ao túmulo de S. Pedro na colina do Vaticano (cf. PR 252/1980, pp.
487ss), como também as numerosas inscricoes encontradas ñas cata
cumbas (cemitérios, que os cristáos visitavam, especialmente no aniver
sario do martirio de seus heróis}. É espontáneo ao cristáo pedir as preces
dos grandes amigos de Deus, que gozam da visáo face-a-face do Senhor;
a morte nao interrompe a comunháo existente entre os membros do
Corpo de Cristo; na térra, na gloria ou no purgatorio, os cristáos sao soli
darios entre si, inseridos como estáo na "comunháo dos Santos". De
resto, o culto aos Santos nao é o de adoracáo, que so a Deus compete,
mas o de veneracáo (que também aos amigos muito caros é tributado).

Lé-se ainda no mesmo folheto:

"Em 609. O culto á Virgem María é obra de Bonifacio IV. E a in


vocado dos Santos e Anjos é posta como lei da Igreja".

Estes dizeres revelam certa contradicáo com os que anteriormente


citamos. Com efeito; a Virgem Maria é urna Santa, e a mais venerável
dentre todas. Se, pois, o culto dos Santos foi introduzido em 370 (como
afirmava um item anterior do panfleto), o da Virgem María nao fez exce-
cáo. Alias, em 431 o Concilio de Éfeso, fazendo eco á antiga crenga dos
cristáos, proclamou Maria Santíssima Theotokos (= Máe de Deus); a ve
neracáo a Maria entáo era corrente na Igreja. Já no século II os escritores
cristáos lancaram os fundamentos da piedade a María, deduzidos da pró-
pria S. Escritura. Assim, por exemplo, escrevia S. Justino (f ca. de 165):

555
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

"Entendemos que o Filho de Deus se fez homem por meio da Vir


gem; assim p6s fim & desobediencia oriunda da serpente pela mesma
via que introduzira a desobediencia no mundo. Eva era virgem e incor
rupta; concebendo a palavra da serpente, gerou a desobediencia e a
morte. A Virgem María, porém, concebeu fé e alegría quando o anjo
Gabriel Ihe anunciou a Boa Nova de que 6 Espirito do Senhor viria so
bre ela... e déla nasceria o Filho de Deus. Portento da Virgem nasceu
Jesús, de quem falam tantas Escrituras... "(Diálogo com Trifáo n- 100).

S. Ireneu (t ca. de 202), por sua vez, escreve:

"A seducao de que Eva fora vltima, quando ainda virgem destina
da ao seu marido, foi dissipada pela Boe Nova da verdade magnifica-
mente anunciada pelo anjo a María, também virgem desposada. Assim
como Eva foi seduzida pela palavra de um anjo, a ponto de se afastar
de Deus e transgredir sua palavra, também María foi instruida sobre a
Boa Nova pela palavra de um anj'o e, por obediencia a esta palavra,
chegou a ser portadora de Deus. Assim como Eva foi seduzida para de
sobedecer a Deus, María se deixou persuadir para obedecer a Deus, de
sorte que ela - a Virgem María - se tornou a advogada de Eva...; foi
contrabalancada a desobediencia de urna virgem pela obediencia de ou-
tra" {Contra as Heresias V 2,19).

Como se vé, o primeiro titulo da grande estima de Maña por parte


dos cristáos está no fato bíblico de que ela é a nova Eva, aquela que reali
za com fé e fidelidade o papel que Eva renegou dando atencio ás pala-
vras do anjo tentador. Oeste predicado de Nova Eva, importante na his
toria da salvacáo, decorrem todos os outros tftulos de veneracio a María
SS.

Quanto ao Papa Bonifacio IV (608-615), foi Pontífice DÍedoso e dili


gente. Obteve do Imperador Foca de Constantinopla o antigo Panteón de
Agripa, que fora templo da deusa Cibele até 399 em Roma; dedicou-o
como ¡greja católica ao Senhor Oeus em honra da Virgem SS. e de todos
os mártires. Por conseguirle, nao introduziu entre os cristáos a venera-
ció a María, mas encontrou-a já vigente na Igreja.

2.3. O primado do Papa

Reza o folheto em pauta:

"Em 607. O assassino imperador Phocas d¿ ao bispo de Roma o


direito de primazia universal sobre a cristandade, depois do II Concilio
de Constantinopla".

5S6
"ORIGEM DOS DOGMAS..." 29

Para comegar, é oportuno observar que o Concilio de Constantino-


pla II ocorreu em 553, ao passo que o Imperador Focas reinou em Cons-
tantinopla de 602 a 610.0 seu reinado muito distava do Concflio, como se
pode perceber.

O que o Imperador Focas fez, foi reconhecer á sé episcopal de Ro


ma o titulo de caput omnium ecclesiarum, ou seja, diocese capital (lite
ralmente: cabeca de todas as Igrejas). O reconhetimento do tftulo nao
deve ser confundido com outorga ou concessáo do tftulo: a funcáo de
diocese primacial foi sendo exercida por Roma desde os primeiros sécu-
los da Igreja, como ¡á foi demonstrado em PR 264/1982, pp. 396-400.

2.4.0 purgatorio

Lé-se no folheto em foco:

"Em 400. Paulino de Ñola ordena que se reze pelos defuntos...

Em 590. Gregorio o Grande origina o purgatorio...

Em 1438. O Concflio de Florenca abre a porta ao purgatorio/que


Gregorio o Grande havia anunciado".

Quem lé estes dizeres, pode.perguntar: afinal de contas, quantas


vezes "teve origem" o purgatorio? Em 400? Em 590? Em 1438? - Na ver-
dade, a oracáo pelos defuntos supóe estejam num estado postumo cha
mado '.'purgatorio". A incoeréncia das afirmacóes do panfleto bem mos-
tra que se trata de escrito destituido de objetividade e criterios científicos.

O Papa Gregorio Magno (f 604), conforme o panfleto, ora "origi


na", ora "anuncia" o Purgatorio. Nao sao estas duas coisas distintas?
Anunciar é proclamar algo que aínda é futuro. Entre 590 e 1438 o purga
torio esteve fechado...? Foi b Concilio de Florenca que em 1438 Ihe abriu
a porta? - Talvez o proprio autor do panfleto nao soubesse responder,
pois parece nao entender da vida da Igreja; fala sem conhecimento de
causa, repetindo noticias que ele mal assimilou e mal formulou.

Na verdade, a crenca na existencia do purgatorio tem suas primei-


ras expressóes na tradicáo judaica pré-cristá. Com efeito, o texto de 2Mc
12,39-45 nos diz que Judas Macabeu mandou fazer urna coleta a fim de
se oferecerem sacrificios em Jerusalém em favor de soldados judeus que
haviam falecido em campo de batalha, lutando pelas suas tradicóes religio
sas, mas tinham cometido a incoeréncia de trazer pequeños ídolos em
suas vestes. Este pecado, que nao Ihes havia tirado o amor a Deus e as
suas observancias religiosas, deveria ser expiado após a morte no estado

557
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

que chamamos "purgatorio". Os cristáos receberam da tradigáo bíblica


veterotestamentária a crenc.a no purgatorio, que se exprimiu desde cedo
nos monumentos da Igreja. - Os fundamentos bíblicos e teológicos dos
sufragios pelos morios já foram explanados em PR 264/1982, pp.
381 -386. Ver também os livros de Estéváo Bettencourt: "Diálogo Ecuméni
co" (Ed. Lumen Christi, Rio de Janeiro) e "Conversando sobre 15 ques-
tóes de fé" (Ed. Santuario, R. Pe. Claro Monteiro 342,12570 Aparecida,
SP).

2.5.0 Cdnon bíblico

Lemos aínda o seguinte parágrafo:

"Em 1563. O Concilio de T rento... aceitou os livros apócrifos co


mo canónicos".

Trata-se dos seté livros deuterocanónicos do Antigo Testamento:


Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1/2 Macabeus e dos
fragmentos Est 10,4-16,24; Dn 3,24-80; 13,1 -14,42.

Brevemente o valor destes livros foi outrora discutido pelos se-


guintes motivos:

Até o fim do século I a.C. os judeus nao se preocupavam com a ca


talogado dos seus livros sagrados. Todavía no século I da era crista,
deu-se um fato importante: comegaram a aparecer os livros cristaos
(cartas de S. Paulo, Evangelhos...), que se apresentavam como a continua-
(3o dos livros sagrados dos judeus. Estes, porém, nao tendo aceito o
Cristo, trataram de impedir que se fizesse a aglutinagáo de livros judeus e
livros cristaos. Por isto reuniram-se no sínodo de Jámnia ou Jabnes ao
sul da Palestina, por volta do ano 100 d.C, a fim de estabelecer as exigen
cias que deveriam caracterizar os livros sagrados ou inspirados por Deus.
Foram estipulados os seguintes criterios:

1) o livro sagrado nao pode ter sido escrito fora da térra de Israel;

2) ... nao em língua aramaica ou grega, mas somente em hebraico;

3) ... nao depois de Esdras (458-428 a.C);

4) ...nao em contradicho com a Tora ou a Lei de Moisés.

Em conseqüéncia, os judeus da Palestina fecharam o seu canon sa


grado sem reconhecer livros e escritos que nao obedeciam a tais criterios.
Acontece, porém, que em Alexandria (Egito) havia próspera colonia ju-

558
"ORIGEM DOS DOGMAS..." 31

daica, que, vivendo em térra estrangeira e falando lingua sstrangeira (o


grego), nao adotou os criterios nacionalistas estipulados pelos judeus de
Jámnia. Os Judeus de Alexandria chegaram a traduzir os livros sagrados
hebraicos para o grego entre 250 e 100 a.C, dando assim origem á versáo
grega dita "Alexandrina" ou "dos Setenta Intérpretes". Esta edigao grega
bíblica encerra livros que os judeus de Jámnia nao aceitaram, mas que os
de Alexandria Mam como palavra de Deus; assim os livros de Tobías, Ju-
dite, Sabedoria, Baruque, Eclesiástico (ou Siracides), 1/2 Macabeus, além
de Est 10,4-16,24; Dn 3,24-90; Dan 13-14.

Podemos, pois, dizer que havia dois cánones entre os judeus no ini
cio da era crista: o restrito da Palestina, e o ampio de Alexandria.

Ora acontece que os Apostólos e Evangelistas, ao escreverem o


Novo Testamento em grego, citavam o Antigo Testamento, usando a
tradugáo grega de Alexandria, mesmo quando esta diferia do texto he
braico; tenham-se em vista Mt 1,23 (Is 7,14); Hb 10,5 (SI 39,7). Esta tornou-
se a forma comum entre os cristáos; em conseqiiéncia, o canon ampio,
incluindo os sete livros atrás citados, passou para o uso dos cristáos.

Nos sáculos II/IV houve dúvidas entre os escritores cristáos com


referencia aos sete livros, pois alguns se valiam da autoridade dos judeus
de Jerusalém para hesitar. Finalmente, porém, prevaleceu na Igreja a
consciéncia de que o canon do Antigo Testamento deveria ser o de Ale
xandria, adotado pelos Apostólos. Em conseqüéncia, os Concilios regio-
nais de Hipona (393), Cartago III (397), Cartago IV (419), Trulos (692) de-
finiram sucessivamente o canon ampio como sendo o da Igreja. Esta de-
finicáo foi repetida pelos Concilios ecuménicos de Florenca (1442), Trento
<1546), Vaticano I (1870).

No século XVI, porém, Martinho Lutero (1483-1546), querendo


contestar a Igreja, resolveu adotar o canon dos judeus da Palestina, dei-
xando de lado os sete livros deuterocanónicos que a Igreja recebera dos
judeus de Alexandria. É esta a razio pela qual a Biblia dos protestantes
nao tem os sete livros e os fragmentos que a Biblia dos católicos incluí.

Vé-se, poís, que o Concilio de Trento nada ¡novou quando em


08/04/1546 reafirmou o canon já promulgado desde o século IV. Os pro
testantes poderiam convencer-se disto se se lembrassem de que até o sé-
culo XIX as Sociedades Bíblicas protestantes ¡ncluiam os livros deutero
canónicos em suas edicóes da Biblia; assim a Sociedade Bíblica de Lon
dres, combatida na Inglaterra por estar publicando os livros deuteroca
nónicos, insistiu em seu procedimento e, para assegurá-lo, fundou a
"Sociedade Bíblica Francesa e Estrangeira", que continuou a editar os
sete livros impugnados pelos protestantes, mas que finalmente cedeu ás
pressóes contrarias.

559
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

O próprio Lutero traduziu os deuterocandnicos para o alemáo; com


efeito, na sua edigio completa da Biblia datada de 1534 encontram-seos
textos de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque e 1/2 Maca-
beus, assim como os fragmentos de Ester, Daniel e aínda a "Oragio de
Manassés" (oracáo que a tradigáo crista nao incluiu no seu canon). A per
sistencia dos livros deuterocandnicos ñas edicóes protestantes de Lutero
e de seus seguidores durante séculos bem mostra que nao foi o Concilio
dé Trento que introduziu esses escritos no catálogo bíblico, mas Lutero e
a tradicáo protestante os receberam da tradigáo crista medieval e antiga
ou mesmo dos próprios judeus de Alexandria.

2.6. A transubstanciacáo e a Missa

No folheto analisado l§-se o seguinte:

"Em 818. Aparece pela primeira vez nos escritos de Pascásio


Radberto a doutrina da transubstanciacáo e a Missa".

1. A doutrina da transubstanciacáo é a que ensina a conversio da


substancia (ou da realidade Intima) do pao na substancia (ou na realidade
Intima) do corpo de Cristo. Tal doutrina é táo antiga quanto os Evange-
Ihos ou quanto o próprio Cristianismo, pois ela decorre das palavras
mesmas de Jesús na última ceia; ver Mt 26,26-28; Me 14,22-24; Le 22,19s;
1Cor 11,23-26. Nestes quatro textos, através de fórmulas sinónimas, Je
sús quer dizer que o pao se torna seu corpo e o vinho seu sangue..., cor
po e sangue imolados em sacrificio para a remissáo dos pecados. Mais:
Jesús mandou que a sua última ceia, com as palavras da consagragáo do
pao e do vinho, fosse repetida "em memoria dele" (cf. 1Cor 11,24s; Le
22,19). Desta ordem os Apostólos e as geracóes seguintes concluiram
que, todas as vezes que renovavam a ceia do Senhor, realizavam a oferta
de urna vltima (Cristo) ou de um sacrificio. Este, porém, nao pode ser a
repeticáo do sacrificio da Cruz, pois Jesús se imolou urna vez por todas,
conforme Hb 7,27; 9,12.25s.28; 10,12.14. A ceia, por conseguinte, nao po
de ser senáo o ato de "tornar presente" (sem multiplicar) através dos
tempos o único sacrificio do Calvario oferecido há vinte séculos atrás.

2. O que houve de especial no século IX, foi a controversia entre


Ratramno e Pascásio Radberto. Contradizendo a Tradicáo, Ratramno ne-
gava a real conversáo do pao no corpo e do vinho no sangue de Cristo;
Pascásio entáo escreveu o "Líber de Corpore et Sanguine Domini" (Livro
do Corpo e do Sangue do Senhor), cuja segunda ediejo saiu em 844;
opunha-se a Ratramno, defendendo a identidade do Corpo Eucarlstico
com o Corpo histórico de Jesús, nascido de María Virgem, ou seja, de
fendendo a real presenta. Assim procedendo, Pascásio nada inovava.

560
"ORIGEM DOS DOGMAS..." 33

O vocábulo "transubstanciagao", apto a designar tal conversáo


professada pelos cristáos até entáo, aparece pela primeira vez no século
XII (quase tres séculos após Pascásio Radberto) e foi assumido nos docu
mentos oficiáis da Igreja a partir do Concilio do Latráo IV (1215). O pri-
meiro a usá-lo parece ter sido o jurista Ronaldo Bandinelli (depois Papa
Alexandre III t 1181) na frase: "Verumtamen si, necessitate eminente,
sub alterius pañis specie consecraretur, profecto fieret transubstantiatio"
(Sententiae), o que quer dizer: "Mas, se em caso de necessidade ¡minen -
te, se fizesse a consagracáo de outro pao, havería transubstanciacáo".
Por conseguinte, nao foi Pascásio Radberto quem introduziu o vocábulo
na linguagem teológica.

Em 818 (data indicada pelo folheto) Pascásio Radberto, nascido em


790, tinha 28 anos - idade que nao corresponde á de sua controversia
teológica (que se deu a partir de 840). - Donde se vé que outro erro afeta
o folheto em pauta.

Quanto á Missa, é realidade ocorrente desde a última ceia de Jesús


Cristo. Os livros do Novo Testamento atestam a sua celebracáo desde os
tempos apostólicos; cf. At 2,42; 20,7-11; ICor 10,14-22; 11,23-29; 16,1s.

3. O nome "Missa" nao se deve a Pascásio Radberto. É palavra lati


na equivalente a missio (missao ou envió); significava a despedida ou o
envió dos catecúmenos para fora de igreja, quando terminava a homilia
ou a liturgia da Palavra. Aos catecúmenos nao era lícito participar da Eu
caristía propriamente dita. O nome Missa, que designava tal momento da
Liturgia, foi no século IV aplicado todo o rito eucarfstico, de modo
que este hoje se chama Missa. O primeiro a usar a palavra Missa no sen
tido atual foi provavelmente S. Ambrosio (t 397) na epístola 20,4. S.
Agostinho (t 430) escrevia: "Eis que após o sermáo faz-se a missa
(= despedida) dos catecúmenos; ficaráo apenas os fiéis (batizados)"
(serm. 49,8).

2.7. A retitacao da "Ave Marra"

Reza o folheto:

"Em 1317. Joáo XXII ordena a reza 'Ave María' ".

Algumas confusóes estáo subjacentes a esta afirmacáo, como se


verá a seguir: A primeira parte da "Ave María" tem sua origem no pró-
prio texto bíblico, onde se léem as palavras do arcanjo Gabriel: "Ave,
cheia de grapa, o Senhor está contigo; és bendita entre as mulheres" (Le
1,28) e as de Elisabete: "E bendito é o fruto do teu ventre" (Le 1,42). Vé-
se, pois, que é a oracio mais nobre do Novo Testamento após o Pai Nos-
so, que nos é ensinado pelo próprio Cristo.

561
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

Os primeiros testemunhos que demonstrem o uso de tal fórmula


na piedade crista, datam dos sáculos IV/V: trata-se de duas conchas ou
placas de argila (ostraka) encontradas no Egito e portadoras do texto
grego da "Ave María" (primeira parte). Também as fórmulas litúrgicas
(ou as Liturgias) atribuidas a S. Tiago, S. Marcos e S. Basilio dáo teste-
munho do uso de tal prece nos séculos IV/V.

Em latim a saudacáo angélica ocorre na Liturgia do IV domingo do


Advento, que data dos tempos de S. Gregorio Magno (t 604). No fim do
século XII aparecem as primeiras prescricóes relativas á recitacáo da Ave
Maria na Liturgia das Horas e na devocáo popular.

A segunda parte de tal oracáo ("Santa Maria, Máe de Deus, rogai


por nos...) aparece em uso num Breviario (Liturgia das Horas) dos sécu
los XIV/XV; foi a partir de entáo que se tornou habitual na devocáo dos
fiéis.

O que se atribui ao Papa Joáo XXII, nao é a ordem de rezar a "Ave


Maria", mas a recomendacáo de se reverenciar a Encarnacáo do Verbo
de Deus mediante a recitacáo do Pai Nosso e da Ave María ao toque do
sino no fim do dia. Tal recomendagao data de 1327 e nao de 1317, como
afirma o folheto em pauta.

Outros pontos importantes abordados pelo panfleto já foram estu-


dados em PR. Assim, por exemplo,

- a confissáo auricular: ver PR 264/1982, pp. 300-6;

- a infalibilidade pontificia: ver ibd., pp. 396-400;

- as indulgencias; ver ibd., pp. 389s;

- o celibato do clero; ver ibd., p. 400;

- a Igreja e a leitura da Biblia; ver PR 282/1985, pp. 385-401.

Passamos agora a urna

3. Conclusáo

Verifica-se que o folheto analisado é de baixo nivel científico e teo


lógico; está prenhe de erros e imprecisóes. Nao é assim que se promove
a causa de Cristo, que disse: "Eu sou... a Verdade e a Vida" (Jo 14,16).

562
"ORIGEM DOS DOGMAS..." 35

Nao é com animosidade preconcebida e obcecada que se dá testemunho


de Cristo, que nos ensinou a praticar o amor fraterno e a compreensáo
mutua.

Infelizmente, porém, a mentira sempre cala no ánimo do grande


público, como dizia Voltaire: "Mentí, menti! Porque sempre fica alguma
coisa!"

É de notar que, ao lado de pretensas ¡novagóes dogmáticas (que


nunca existiram), o folheto aponta outras, de caráter disciplinar. Estas, de
fato, ocorreram (nem sempre segundo as fórmulas do panfleto). Era na
tural e necessário que ocorressem (desde que se conservasse a integrida-
de da fé e da Moral), pois a Igreja é um corpo vivo, animado pelo Espirito
de Cristo, que do seu tesouro de vitalidade sabe tirar "coisas novas e ve-
Ihas" (Mt 13,52); urna Igreja que hoje se apresentasse com a face exterior
que tinha no século I, seria urna "múmia" e nao urna sociedade viva; no-
vos tempos exigem novas respostas da parte de Cristo, que vive na Igre
ja. O próprio Jesús no Evangelho assemelhou a sua Igreja á sementé de
mostarda que, de pequenina, se torna enorme árvore, desdobrando e ex-
pandindo as suas virtualidades no decorrer dos tempos.

É, pois, lamentável que a ignorancia religiosa, alimentada por pai-


xóes desregradas, lance ao público panfletos de tal tndole. Queira o Espi
rito de Deus iluminar aqueles que pcofessam a fé em Cristo, para que o
conhecimento da verdade Ihes mostré o rebanho do Bom Pastor!

A propósito serviráo de instrumento para ulterior esludo os seguintes l¡-


vros:

E. Bettencourt, "Diálogo Ecuménico". Ed. Lumen Christi, C. p. 2666,


20001 - Rio (RJ).

ídem, "Conversando sobre quinze quesíóes de fé". Ed. Santuario, Rúa


Pe. Claro Monteiro 342, 12570-Aparecida (SP).

Serie de folhetos "Nos e Nos" sobre as diversas denominacóes pro


testantes. Ed. Santuario, endereco ácima.

A respeito de urna noticia publicada pela revista VEJA, ed. de


05/11/86, p. 99, referente ao Cardeal Jean Daniélou, observamos que a au
téntica versio dos fatos se acha exposta em PR 178/74, pp. 405-408.

563
Quem pode celebrar a Eucaristía?

Sacerdocio comum dos fiéis e


sacerdocio ministerial

Em slntese: Vai, a seguir, transcrita a Notificado da Congregacáo para


a Doutrina da Fé a respeito da teoría do teólogo holandés Bdward Schille-
beeckx O. P., que ¡ende a apagar a distíngáo entre o sacerdocio comum dos
fíéis e o sacerdocio ministerial. A Igreja foi por Cristo incumbida de guardar e
transmitir incólumes as verdades da fé (cf. Mt 28,18-20).

Sabe-se que todos os cristáos, pelo fato mesmo de serem batiza


dos, tém participado no sacerdocio de Jesús Cristo; por isto estáo habi
litados a oferecer o Santo Sacrificio da Missa na qualidade de povo sa
cerdotal; cf. 1 Pd 2,5.

Cristo, porém, além da forma batismal, instaurou outra maneira de


participado no seu sacerdocio, instituindo o sacramento da Ordem. Com
efeito; na última ceia, quando consagrou o páo.e o vinho eucarlsticos em
presenta dos Apostólos (e táo-somente dos Apostólos), Jesús preceituou
aos mesmos: "Fazei isto em memoria de mim" (cf. Le 22,19; 1Cor
11,23-25). Em conseqüéncia, aos Apostólos e aos ministros que deles re-
cebem, direta ou indiretamente, a ordenacao sacramental, compete con
sagrar a Eucaristía e exercer outras fungóes sacerdotais; esta competen
cia está estritamente ligada ao sacramento da Ordem,'de modo que nao
pode ser exercida por quem nao tenha sido validamente ordenado. Em
conseqüéncia, a teologia católica distingue o sacerdocio comum dos fiéis
(derivado do sacramento do Batísmo, ao qual se associa em muítos cris
táos o sacramento da Confirmapáo ou da Crisma) e o sacerdocio ministe
rial (decorrente do sacramento da Ordem). O Concilio do Vaticano II pro-
pós mais urna vez, de modo explícito, esta clássica doutrina:

"Cristo Senhor... fez do novo povo 'um reino e sacerdotes para


Deus Pai' (Ap 1,6; cf. 5,9s). Pois os batizados, pela regenerado e uncSo
do Espirito Santo, sao consagrados como casa espiritual e sacerdocio

564
SACERDOCIO COMUM E S. MINISTERIAL 37

santo, para que por todas as obras do homem cristáo oferecam sacrifi
cios espirituais e anuncien* os poderes daquele que das trevas os cha-
mou a sua admirável luz (cf. IPd 2,4-10). Por isto todos os discípulos
de Cristo, perseverando em oracáo e louvando juntos a Deus (cf. At
2,42-47), oferecam-se como hostia viva, santa, agradável a Deus (cf.
Rm12,1). Por toda parte déem testemunho de Cristo. E aos que o pedi-
rem, déem as razóes da sua esperance da vida eterna (cf. 1Pd 3,15).

O sacerdocio comum dos fiéis e o sacerdocio ministerial ou hJe


rárquico ordenam-se um ao outro, embora se diferencien! na esséncia e
nao apenas em grau. Pois ambos participam, cada qual a seu modo, do
único sacerdocio de Cristo. O sacerdote ministerial, pelo poder sagrado
de que goza, forma e rege o povo sacerdotal, realiza o sacrificio eucarls-
tico na pessoa de Cristo e o oferece a Deus em non» de todo o povo.
Os fiéis, no entanto, em virtude do seu sacerdocio regio, concorrem na
oblacio da Eucaristía e o exercem na recepcáo dos sacramentos, na
oracáo e na acáo de gracas, pelo testemunho de urna vida santa, pela
abnegacáo e pela caridade ativa" (Constituicio Lumen Gentium n« 10).

Acontece, porém, que nos últimos decenios alguns teólogos católi


cos tém procurado apagar a diferenca entre sacerdocio comum e sacer
docio ministerial. Isto se deve talvez ao desejo de remediar á penuria de
vocacóes sacerdotais na Igreja contemporánea; afirmam, pois, que, se al-
guma comunidade de fiéis católicos* carece da presenca de um ministro
validamente ordenado, é lícito escolher dentre os membros desse grupo
alguém que celebre a Eucaristía; receberá da comunidade a delegacáo
para consagrar validamente o pao e o vinho eucarfsticos. Assim estaría
extinta a distincáo esséncia I entre sacerdocio comum e sacerdocio mi
nisterial: qualquer fiel batizado poderia celebrar a Missa desde que para
tanto recebesse a incumbencia da parte de seus ¡rmáos.

Ora esta doutrina contradiz frontalmente a quanto até hoje ensinou


a Tradicáo católica, Tradicáo que bercou e que acompanha a Escritura do
Novo Testamento durante quase vinte séculos. Nota-se a( um traco de
Protestantismo; com efeito, Lutero nao quis reconhecer o sacerdocio mi
nisterial, apregoando apenas o sacerdocio comum dos fiéis.

Entre os teólogos católicos ¡novadores neste setor, está o domini


cano holandés Edward Schillebeeckx, que há anos vem defendendo a te
se contraria aos ensinamentos da Igreja. A propósito a Santa Sé já piibli-
cou urna Carta transcrita em PR 272/1984, pp. 28-48. Como desfecho de
conversares havidas entre o teólogo e a Congregacáo para a Doutrina
da Fé, esta houve por bem, em setembro pp., publicar urna Notificapáo,
que aponta o grave erro teológico existente nos últimos escritos de

565
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

Schillebeeckx. Segue-se o texto deste documento da Santa Sé, devida-


mente aprovado pelo S. Padre o Papa Joáo Paulo II:

NOTtFICAgÁO

Depois de ter examinado o livro "Pleidooi voor Mensen in de Kerk.


Chrístalijke Identíleit em Amblen in de Kerk", do Proi. Edward Schillebeeckx,
O.P., a Congregagáo para a Doutrina da Féjulga necessárío tomar pública a
seguirte Notificagáo:

1. O Professor Edward Schillebeeckx, O.P., nos anos 1979-1980,


publicava dois estudos sobre o ministerio na Igreja: primeiro, urna con-
tribuicáo ao volunte coletivo Basls en Ambt (Nelissen, Bloemen-
dal, 1979, pp. 43-90), depois, um livro intitulado Kerkelijk Ambt (mesmo
editor, 1980). N estes dois escritos ele julgava ter estabelecido a "pos-
sibilidade dogmática" de um "ministro extraordinario" da Eucaristía, no
sentido de que comunidades cristas sem sacerdotes poderiam escoiher
de entre os seus membros um presidente, que estaría, por este fato
mesmo, plenamente habilitado a presidir á vida destas comunidades e,
portante-, a consagrar a Eucaristía ali, sem contudo ter recebido a orde
nado sacramental na sucessáo apostólica.

2. A 13 de junho de 1984, a Congregado para a Doutrina da Fé


enviava ao Professor Schillebeeckx urna carta em que se Ihe observava
que as posicóes sobre o ministerio, por ele desenvolvidas nos dois es
tudos em questüo, nao eram conciliáveis com o ensinamento da Igreja
recordado de maneira autorizada pela Carta Sacerdotium Ministeriate de
6 de agosto de 1983 (cf. AAS 7S/2,1983,1003-1009). Por conseguinte,
a Congregacao notificava ao Professor Schillebeeckx que a sua posteáo
sobre o "ministro extraordinario" da Eucaristía nao podía ser conside
rada como urna "questao livre", e pedia-lhe que acertasse publicamente
sobre este ponto a doutrina da Igreja, manifestando a sua adesáo pes-
soal ao conteúdo daquele Documento.

3. Na sua resposta de 5 de outubro de 1984, o Professor Schille


beeckx anunciava a próxima publicacio de um novo livro sobre a ques
tao; assegurava que nesse livro nada contradiría á Carta Sacerdotium
Ministeriate, que nao se falaria mais de um "ministro extraordinario" da
Eucaristía, e enfim que, para evitar qualquer mal-entendido, o tema da
sucessáo apostólica seria analisado com maior amplitude.

4. Ao publicar - contemporáneamente com a sua própria carta -


o parágrafo essencial desta resposta (cf. L'Osservatore Romano, edicáo

566
SACERDOCIO COMUM E S. MINISTERIAL 39

quotidiana, de 11 de Janeiro de 1985, p. 2), a Congregado para a


Doutrina da Fé fazia presente que se reservava fazer conhecer ulterior
mente o seu parecer sobre a obra anunciada e publicada pouco depois
com o titulo Pletdooi voormensen in de Kerk (Nelissen, Baarn, 1986).

5. A propósito deste livro a Congregacáo julga fazer agora, quan-


to ¿ questáo do ministerio, as seguintes observacdes:

a) Efetivamente, a questio do "ministro extraordinario" da Euca


ristía nao é mais tocada. Todavía, se é verdade que a Carta Sacerdotium
Ministeriale nao constituí o objeto de urna rejeicáo formal, ela nem se-
quer é o objeto dé urna declaracio de adesáo, mas sim de urna análise
critica.

b) Sobre o problema de fundo, deve-se constatar com tristeza


que o Autor continua a conceber e a apresentar de tal modo a aposto-
licidade da Igreja que a sucessáo apostólica, por meio da ordenacáo sa
cramental, representa um dado nao essencial para o exerclcio do minis
terio, e por conseguinte para o ato de conferir o poder de consagrar a
Eucaristía - isto em oposicáo com a doutrina da Igreja.

c) Quanto ao método seguido na obra, e em particular ao recurso


aos argumentos históricos tirados da Escritura, limitar-nos-emos aqui a
recordar o ensinamento da Constituidlo Dei Verbum (n. 12, parág. 3),
segundo o qual, depois de ter aplicado com atencao todos os recursos
da exegese e da historia, "deve-se atender com nao menor diligencia ao
conteúdo e á unidade de toda a Escritura, levadas em conta a Tradicio
viva da Igreja toda e a analogía da fé. É dever dos exegetas esforcar-se
dentro destas diretrízes para entender e expor com maior aprofunda-
mentó o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho
como que preparatorio, amadureca o julgamento da Igreja. Pois todas
estas coisas que concernem á maneira de interpretar a Escritura, estáo
sujeitas em última instancia ao juizo da Igreja, que exerce o divino
mandato e ministerio de guardar e interpretar a Palavra de Deus".

6. Por estas razóes, a Congregacáo para a Doutrina da Fé vé-se


obrigada a concluir que a concepcSo do ministerio, tal como é exposta
pelo Professor Schillebeeckx, continua em desacordó com o ensinamen
to da Igreja sobre pontos importantes. A sua missao em relacáo aos
fiéis obriga-a, portanto, a tornar público este julgamento.

Durante audiencia concedida ao subscrito Prefeito, Sua Santidade


o Papa Joao Paulo II aprovou esta Notificacáo decidida numa reuniáo
ordinaria da Congregacáo para a Doutrina da Fé, e determinou que a
mesma fosse publicada.

567
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

Roma, na sede da Congregarlo para a Doutrina da Fé, 15 de se-


tembro de 1986.

Joseph Card. Ratzinger


Prefeito

+ A. Bovone
Secretario

E sempre doloroso para o magisterio da Igreja intervir no trabalho


dos teólogos. A Santa Sé, porém, o faz por fidelidade a Cristo e ao povo
de Deus. A doutrina da fé nao é urna filosofía humana, que possa ser jul-
gada e adaptada segundo criterios da razáo, mas é a própria Palavra de
Deus revelada por Jesús Cristo e confiada aos Apostólos - especialmente
a Pedro - para que fosse guardada e transmitida incólume a todas as
geracóes. Por conseguinte, toca á Igreja a dura missáo de apontar os
desvios cometidos contra essa Palavra todas asvezes que ocorrem. O
magisterio da Igreja nao intervém em discussóesque nao afetem as ver
dades da fé, mas nao pode deixar de se pronunciar quando estas correm
risco de deterioracao. Os fiéis católicos sao gratos á Sé de Pedro por
exercer essa ardua funcáo com a coragem que o Espirito Santo Ihe ins
pira.

i CURSOS POR CORRESPONDENCIA

1) Curso Bíblico, em 45 Módulos: Introducao Geral á S. Escritura,


Introducáo ao Novo Testamento, Introducáo ao Antigo Testamento
(sempre o estudo de livro por livro), Exegese de Textos seletos (Génesis
1-11);
2) Curso de Inidacáo Teológica, em 35 Módulos, que percorrem
todos os tratados da Teología, desde a T. Fundamental ("Por que
creio..."} até o estudo da consumacao do homem e do universo.
3) Curso de Teología Moral, em 28 Módulos: Moral Fundamental e
Moral Especial.
Os cursos podem ser iniciados em qualquer época do ano. Nao há
prazo para terminá-los, ficando o cursista á vontade para realizar seus
estudos dentro do ritmo que Ihe convém.
Informagóes e pedidos de inscricáo sejam dirigidos ao seguinte en-
derego:
ESCOLA "MATER ECCLESIAE"
Rúa Benjamín Constant, 23 - Caixa Postal 1362
20241 - Rio de Janeiro (RJ)

568
Um livro veemente:

"Horizonte de Esperanza. Teología


da Libertario"
por Juvenal Arduini

O livro recente de Juvenal Arduini vem a ser urna apología da


Teologia da Libertacáo escrita por um teólogo de cabedal cultural. Infe
lizmente nao menciona nem utiliza a Segunda Instrucáo da Congregacáo
para a Doutrina da Fé sobre Liberdade e Libertacáo, embora seja datado
de 1986.

A impressáo que se tem ao ler tal obra, é a de que nao há outra al


ternativa para o cristáo senáo a de se fazer adepto da Teologia da liberta-
cao de Leonardo e Clodovis Boff, Gustavo Gutiérrez, Jon Sobrino... (au
tores freqüentemente citados).1 Quem nao aceita tal corrente, é filiado ao
capitalismo opressor e a interesses políticos norte-americanos. A argu-
mentacáo do autor é erudita e aparentemente persuasiva. A respeito se-
jam feitas algumas observacóes:

1) O autor nao diz urna palavra sobre a Doutrina Social da Igreja


(DSI); parece ignorá-la ou querer ignorá-la. Como entender isto, se J.
Arduini é táo cioso de abertura a todos os sistemas, até ao marxismo? Cf.
pp. 151-159. Especialmente, se tivesse utilizado a Segunda Instrucáo so
bre Liberdade e Libertacáo, teria percebido que o magisterio da Igreja
está perleramente a par das situacóes injustas do continente latino-ame
ricano, que J. Arduini denuncia, e tem urna resposta para as mesmas: a
doutrina contida ñas Encíclicas papáis e nos demais documentos oficiáis
da Igreja. Paulo VI, Joáo XXIII e Joáo Paulo II tém sido muito concretos
e exigentes ao formular as normas de acáo social dos fiéis católicos. Por
que entáo ignorar a DSI? Será por preconceitos, isto é, porque a DSI nao
aceita a utilizacáo do marxismo, a luta de classes, a politizacáo da pasto
ral, a divisáo da Igreja segundo as posses económicas dos seus mem-
bros, o secularismo...? Será que só se pode atender ao problema social
recorrendo aos principios da Teologia da Libertacáo extremada? - A

ASás, o autor acha que nao se devem distinguir diversas "Teologías da


Libertagáo", de modo que prefere empregar tal expressáo sempre no singular.
Cf. pp. 8s.

569
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

Igreja responde que nao; Ela deduz do Evangelho, sem mésela de siste
ma político, as diretrizes do comportamento social cristáo; estas, postas
em prática, seriam mais eficientes do que as da Teologia da Libertacáo,
pois nao levariam a ditaduras e ao totalitarismo, como ocorre na Nicara
gua e em Cuba.

O silencio mantido sobre a DSI nao significa que a Teologia da Li


bertacáo só aceita reformas de estilo totalitario, ditatorial, marxista, jul-
gando que outras sao ineficientes?

Alias, a bandeira da promocáo dos pobres nao é própria nem ex


clusiva da Teologia da Libertacáo, como dáo a entender, em geral, os
adeptos desta. A Igreja, antes de Gustavo Gutiérrez, iniciador da TL em
1968 (cf. p. 13), tinha publicado varios documentos sobre o assunto. Para
dissipar o impasse dos debates sobre TL, seria preciso que nao se julgas-
se que a TL tem a patente dos interesses pelo problema social. A ambi-
güidade que geralmente reina sobre o assunto, faz que muitos entendam
o problema como se se tratasse do dilema: "ou TL ou capitalismo opres-
sor dos pobres". É sobre essa ambigüidade que muitos defensores da TL
constroem as suas apologías.

2) O livro de Arduini explana longamente a maneira de elaborar


teologia (cf. pp. 7-17). Todavía parece só levar em conta a formutacao da
Teologia Moral ou da Etica Social Crista; esta, sim, parte da realidade
concreta socio-económica e projeta sobre ela a luz da fé (cf. pp. 41 s). Mas
pergunta-se: essa fé que ilumina a realidade social, como deve ser enten
dida? Quais sao os artigos da fé? - É a Teologia Sistemática que os explí
cita e elabora após recebé-los da S. Escritura e da Tradicáo. Ora no livro
de J. Arduini nao há urna palavra sobre a Teologia Sistemática ou sobre
o aprofundamento das verdades da fé consideradas em si mesmas ou
como tais. E isto se deve ao fato de que a TL nao estuda os artigos da fé
em si mesmos, mas á luz da própria praxis ou da acáo transformadora da
sociedade; com efeito, Jesús a! é tido como o Modelo do Revolucionario
polftico, a Igreja como a sociedade democrática cujos pastores sao insti
tuidos pelo povo e para o povo, as fórmulas de fé sao verídicas na medi
da em que tém forca para transformar a sociedade... A praxis é anterior
ao logos ou á doutrina como tal. Por conseguinte, quando J. Arduini nos
diz que a fé, na TL, ilumina a realidade social latino-americana, entenda-
se:... a fé já repensada em funcao de criterios sócio-polltico-econdmicos.

A igreja, porém, ensina que as verdades da fé devem ser estudadas


na sua identidade perene ou eterna (Teologia Sistemática ou Dogmática)
para poderem orientar a agáo ética dos cristáos (Teologia Moral).

570
"TEOLOGÍA DA LIBERTACÁO" 43

3) A fé, na TL, é nao raro secularizada ou esvaziada de seu conteú-


do transcendental. O transcendental vem a ser urna dimensáo relativa
mente secundaria para os agentes de transformado social da TL; Deus já
está implícito no homem, de modo que servir ao homem já é servir a
Deus (era assim, alias, que se exprimiam os teólogos da morte de Deus,
da qual a TL é, consciente ou inconscientemente, herdeira). Tenha-se em
vista o seguinte diálogo extraído do livro "Da Libertacáo. O teológico das
libertacóes socio-históricas" de Leonardo e Clodovis Boff:

"Lufz (militante): Eu acho que a coisa mais importante da fé crista nao


é a parte religiosa: oragSo, missa, sacramentos, etc. Coisas assim os fariseus
também faziam. E muitos fariseus de neje continuam fazendo. Para Jesús, o
que contava mesmo era o amor, ajustiga, a sinceridade. Cristianismo é práti-
ca. Isso ele o deu a entender mais dé urna vez. 'Quero a misericordia e nao o
sacrificio'. E depois: 'NSo é o que diz: Senhor, Senhor, que entrará no Reino
dos Céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai'.

Vicente (Vigário):... Só quero dizer que um movimento de libertacáo só


tem peso sobrenatural, de salvagáo, quando é vivido com a consciéncia dis-
so. Pois há muitos movimentos de libertacSo que nao tém nenhuma dimensáo
maior - a dimensáo religiosa. Sao fenómenos meramente profanos. Tome, por
exemplo, a revolucáo russa, chinesa ou cubana. Sao revolugóes feitas sob o
signo do ateísmo marxista. Desse ponto de vista, nao só nao tém dimensáo
nenhuma de transcendencia, como se-podem dizer propriamente anti-huma-
nas.

Carlos (teólogo):... Tal é o plano de Deus: que quando futamos pelos


homens, sobretudo petos oprimidos, luíamos por Ele, quer o saibamos, quer
nao. Entáo nao é a presenca dos cristáos que confere a um movimento histó
rico o seu caráter sobrenatural. Depende da retidáo ética de seus agentes...
A participagao dos cristáos na lula do povo se baseia no valor intrínseco des-
sa htta, que, como vimos, tem para um cristáo dimensáo divina objetiva... A fé
é um potencial de luz e torga de primeira grandeza. Ela pode se investir sobre
as práticas da luta popular, sob a forma de inspiragáo, de ettios, de mística
poderosa.... Nao é ela que confere um sentido sobrenatural ou divino á futa. É
o inverso que ocorre: é esse sentido objetivo intrínseco que confere á fé sua
torga. Nao é porque o cristáo vai é luta animado pela fé sobrenatural. É o con
trario que acontece: é porque a própria luta já é em si mesma urna grandeza
sobrenatural que o cristáo vai a ela animado pela fé" (pp. 102-107).

Notemos que o secularismo nao nega Deus, mas o oculta dentro do


humano e o torna funcáo do humano.

4) Infelizmente, J. Arduini (como, alias, varios teólogos da Li berta-


gao) opóe entre si o Cardeal Joseph Ratzinger e o Papa, insinuando que a

571
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

sua posicáo é concorde com os ensinamentos pontificios (cf. pp.


117.148s) e discorde apenas de um Cardeal conservador, suscetível de se
veras criticas (ver pp. 168-172).

- Na verdade, o Cardeal Joseph Ratzinger é o Prefeito da Congre


gado para a Doutrina da Fé e pessoa de confianca do Papa; os docu
mentos emanados desta Congregagáo nao sao artigos de revista publica
dos pelo Cardeal Ratzinger, mas sao pronunciamentos do magisterio da
Igreja, caso por caso aprovados pelo Sumo Pontífice. Sao, pois, merece
dores de pleno respeito. Por isto nao se entende que o livro censure táo
acerbamente a Instrucáo Libertatis Nuntius, que nao foi escrita leviana-
mente, mas representa o pensamento oficial da Igreja; menos ainda se
entende que um arcebispo, especialmente quando colocado em funcáo
de tanta responsabilidade na Igreja do Brasil, tenha escrito táo calorosa
Apresentacáo recomendando o livro de J. Arduini (pp. 5-6). Onde está a
colegialidade epi xopal? Onde está o respeito ao magisterio da Igreja?

É a contragosto que fazemos tais observacóes. Muito mais agradá-


vel é exaltar e elogiar... Todavia trata-se de coeréncia; atacar o magisterio
da Igreja em nome de lucidez mais esclarecida é ousado, temerario e
agressivo a toda a Igreja. As proposicóes teológicas nao se elucidam
apenas mediante argumentacao racional (que no livro em foco nem sem-
pre é ¡mpecavel, como vimos atrás), mas estao sujeitas a criterios de fé
ou a referenciais transcendentes. Possa o público estudioso perceber as la-
cunas do livro, lendo-o em profundidade, sem se deixar impressionar
pela veeméncia de certas de suas afirmacóes!

Estéváo Bettencourt, O.S.B

Lívros em estante
Génesis 1 a 11 na Catequese, por Inés Broshuis e Irma Oazir da Rocha
Campos. Colecáo "Encontró com a Biblia". - Ed. Paulinas, Seo Paulo 1986,
155 x 225 mm, 67 pp.

Este livro se destina é catequese de changas de 10 a 13 anos de idade.


Procura expor o conteúdo dos onze primeiros capítulos do Génesis (com ex-
cegáo deGnSe 10) em termos simples, tecendo comparacóes com a época
moderna. A Parte I (pp. 7-32) é um "cursinho de iniciagSo bíblica"; a Parte II
(pp. 33-67) oterece subsidios catequélicos (gráficos, historia do Antigo Tes
tamento, sugestóes de atividades, cantos...).

A intengáo das duas autoras é pedagógica. Infelizmente, porém, o con


teúdo deixa a desejar em pontos de importancia essencial:

572
___ LIVROS EM ESTANTE 45

1) Repetidamente está dito que Gn 1-11 "nao pretende relatar fatos


históricos" (pp. 12.24). Ora, se nao há crónicas em Gn 1-11, há todavía o que
se chama "a historia religiosa da humanidade primitiva " " (ver Carta da Pontifi
cia Comissáo Bíblica de 16/01/1948 dirigida ao Cardeal Suhard de París), ou
seja. urna trama histórica apresentada de modo a transmitir urna mensagem
religiosa. - As autoras equiparam Génesis 1-11 a parábolas (p. 12); ora urna
parábola nada tem de histórico; nao se diga o mesmo a respeito de Gn 1-11,
onde se lé a historia da etevacao do homem é fíliagáo divina logo depois de
criado, o convite a se manter nesse estado de "¡ustiga original", a perda da
graga por causa do pecado dos primeiros país, o fratricidio...

2) Graveé o silencio a respeito da elevagáo dos primeiros homens á


santidade original ou á ordem sobrenatural. Tudo é narrado como se o género
humano estivesse vivendo simplesmente a ordem natural. Verdade é que va
rios autores hoje querem apagar a distingáo entre "natural" e "sobrenatural",
sob a falsa alegagao de que seja dualismo. Ora "sobrenatural" e "natural" nao
constituem dualismo (antRese), mas dualidade (realidades complementares).
Com efelto: o sobrenatural é a participagáo do ser humano na vida do próprio
Deus, condigáo esta que excede as exigencias da natureza humana. Écerto
que Deus quis, no inicio, dar ao homem mais do que o que ele podía esperar;
este designio de Deus, violado pelo pecado, é, de novo, restaurado pelo Se-
ríhor Jesús Redentor.

3) Os demais tópicos de Gn 1-1] sao expostos de maneira vaga, como


se fossem tentativas de explicar situacóes das épocas de Salomáo ou poste
nores, sem admitir um passado real ou a pré-história bíblica. Tal posigáo é
inspirada por obras recentes relativas ao paraíso terrestre (saudade ou espe
ranza?).

É pena que tal obra, de aprimorada didática, seja táo deficiente em seu
conieúdo.

A orafáo ao Deus da Biblia, por Luis Carlos Araujo e outros autores.


Colegio "Estudos Bíblicos" n9 10. - Ed. Vozes, Petrópolis 1986,
160 x 130mm, 80 pp.

1. A colegio "Estudos Bíblicos" obedece aos principios da Teología da


Libertagao. Contém cortamente páginas de grande valor exegético e teológico,
como as pp. 8-57 deste volume n910, mas nao delxa de manifestar cá e lá as
teses incompativeis com a té da Igreja. É o que ocorre ás pp. 6-7 do mencio
nado volume, onde se lé:

"Primordialmente nao se chega á prática através de Deus e sim a


Deus mediante a prática. Porque é al que Deus se revela e, de algum
modo, se alcatifa.

573
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

Assim também nao é Oeus que primordialmente justifica a prática


dos que o seguem, mas vice-versa a vida dos crentes da razáo de
Deus...

Para o Deus da Biblia, a religiio e suas expressoes nao sao consi


deradas práticas que, de per si, Ihe sao agradáveis. A prática agradável
a Yaweh diz respeito á construcáo da sociedade; ela é necessariamente
social e política. A religiáo so Ihe é agradável na medida em que for ex-
pressáo dessa vida... O culto e a oracio, em seu conteúdo e em suas
expressoes, devem-se alimentar da própria prática dos crentes, trazen-
do para o diálogo com Deus a experiencia de sua presenca no coráceo
da luta" (Luis Carlos Araujo, pp. 6-7).

Com outras palavras, feto quer dizer que a praxis "libertadora" ou a


agáo social e política é o primeiro dever do homem; mesmo aqueles que nao
tém té, se lutampela reforma da sociedade, estáo dando gloria a Deus: "o seu
Deus é Yaweh nao porque nele creiam ou professem alguma religiáo, mas
porque a sua prática coincide com o mandamento do Senhor" (p. 6). Quem
assim procede, pode dar ulterior dímensáo é sua praxis: a dimensáo da ora-
gao, a qual será válida se incluir em suas fórmulas a temática da luta política.
Acontece, porém, que a agáo sócio-polltíca, mesmo sem té, já é culto a Deus.
Tem-se assim o secularismo ou a fé reduzida ás expressoes seculares socio-
políticas: "Deus passou todo inteiro para o homem", segundo Roger Garaudy
em "Parole d'Homme", p. 236. A proñssáo de fé e de amor a Deus vém a ser
algo de adventicio; nao éafé que dé valora agio dos cristáos, mas é a agáo
secular, leiga, sócio-polftica que dá valor á fé dos cristáos. Desta maneira é
professado o primado da praxis sobre o Logos, consoante o principio estaba-
leddo por Kart Marx: "Os filósofos até agora pensaram o mundo; chegou o
momento em que teremos de transformá-b".

2. Ora a doutrina da Igreja ensina que afee sua mensagem tém a pri-
mazia sobre a praxis ou a Ética do homem; a verdade é a luz dos oassos
concretos do ser humano. A praxis sócio-politica é mesmo algo de ambiguo
em si; pode ser realizada por Deus e para Deus, como também pode ser efe-
tuada contra Deus; neste caso ela carece de todo valor. Em conseqüéncia,
nao é lícito fazer da agáo sócio-polilica um absoluto; ela só tem sentido se é
desenvolvida em fungió do Reino de Deus (imánente e transcendente), que,
este sim, é um vator absoluto.

Verdade é que podem alguns cristáos professar a fé sem a traduzir em


atos ou podem fazer da fé a falsa cobertura de seu pmcedimento iniquo. 7o-
davia estes casos sao caricaturáis e nao representam a auténtica posigáo da
Igreja; esta professa a primazia da fé ou do culto a Deus estritamente inspira
do por verdades eternas (a consciéncia de que Deus é trino e nos envolve na
comunhao da sua vida, mediante Jesús Cristo e os sacramentos); afirma, po-

574
LIVROS EM ESTANTE 47

rém, que a religiáo se deve manifestar em obras de amor e justica para com o
próximo (cf. Tg 1,27).

É de lamentar que o livro em foco se abra com tais ponderacóes extre


madas e inaceitáveis á fé católica. O restante da obra é, com excecáo de al-
guns poucos trechos, aceita vel.

A mulher faz teología, por Ivone Gebara e María Clara Lucchetti Bin-
gemer. Colegáo "Teotogia Orgánica" ns 18. - Ed. Vozes, Petrópolis 1986,
115 x 160mm, 79 pp.

O livro é escrito por duas teólogas, que propóem o papel da mulher e


dos valores femininos na Igreja de nossos días. Oprimeiro trabalho (pp. 7-27),
de Ivone Gebara, salienta o estudo da teología por parte de mutheres, que as-
sim se habilitam a exercer nova influencia sobre a face humana da tgreja.re-
modelarño "formulacóes teológicas marcadamente machistas e dissiparáo
a necessidade de legitimacáo masculina para que as coisas acontecam ñas
Igrejas" (p. 27). Tais dizeres sao ambiguos; precisaríam de ser explanados
um pouco mais, a fím de que nao se confunda o misterio da Igreja com urna
sociedade fundada e regida únicamente por homens e mulheres.

O segundo estudo, de María Clara (pp. 31-79), recothe dados bíblicos e


patiisticos que valorizam a mulher como símbolo de Deus e, de modo espe
cial, do Espirito Santo; as suas consideracóes merecem respeito, embora cá
e lá sejam sutis e discutiveis ou toreadas. Muito chama a atengSo a freqüente
referencia ao "dualismo" corpo x alma, que María Clara impugna e deseja
eliminar da teotogia (verpp. 35.73-78). Na verdade, porém, nao há teólogo que
possa discordar de María Clara, pois nenhum admite o "dualismo" cor
po x alma; este significada antagonismo entre alma (espiritual) como se esta
fosse boa por si ou ontologicamente, e o corpo (materia) como se este fósse
mau por si ou ontotogicamente. Ora dizemos que o corpo e a alma sao criatu
ras de Deus, que os fez ontologicamente bons. Negando, porém, o dualismo
entre corpo e alma, o católico nao caí no monismo (como Mana Clara insinúa),
mas afirma a dualidade de corpo e alma, ou se/a, a real distincáo de um e ou-
tro; corpo e alma neo se identifícam entre si, mas foram feitos para se com
pletar mutuamente.

Atgumas das consideragóés de María Clara que tendem a identificar


corpo e alma entre si, carecem de veracidade e oportunidade; pretenden/ ex
cluir um eno prolessando outro erro. É o que faz que seu estudo perca muito
do valor que poderia ter.

575
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

Espiritismo. Orientacáo para os Católicos, por Frei Boaventura Klop-


penburg O.F.M. - Ed. Loyola, Sao Paulo 1980, 140 x 210 mm, 203 pp.

O grande perito em Espiritismo, Frei Boaventura Kloppenburg (hoje Bis-


po de Novo Hamburgo, RS), aprésenla um manual elucidativo do Espiritismo e
de certas práticas mediúnicas. Aborda a origem e a doutrina do Espiritismo, a
evocagSo dos morios, a reencamagáo, o curandeirismo, a psicografia, aposi-
gáo da Igreja Católica perante o Esplritualismo e, por fím, a doutrina crista re
ferente ao Além.

É obra de valor, que vem preencher urna ¡acuna em nossa bibliografía,


pois as obras anteriores de Frei Boaventura, datadas da década de 1950, já
estavam esgotadas. Especialmente interessantes sao as páginas em que o
autor analisa a psicografia ou a escrita automática, que tem em Chico Xavier a
sua figura mais expressiva: Frei Boaventura faz minuciosa análise de urna
mensagem psicografada, mostrando que, "á luz dos atuais conhecimentos,
cada um dos seus elementos constitutivos está perfeitamente dentro do ám
bito das potencias e facuidades naturais da alma humana, sem precisar, para
a sua realizacáo, do concurso de espiritas ou almas desencamadas" (p. 145).
Chama-nos a atengáo também a explicagio dada para os fenómenos de cura
mediante passes, agua flutdica e ritos do kardecismo: o olhar do parapsicólo-
go e dentísta descobre nesses fenómenos a ibsSo, geralmente alimentada
pela boa fé, mas prejudicial á saúde dos pacientes (pp. 121-134).
Desejamos salientar outrossim as páginas referentes aos "efeitos nega
tivos da evocagSo dos mortos": esta prática nao somente nao póe os vivos
em comunicacao com os falecidos, mas, por ser ilusoria, é apta a desenca-
dear obsessáo nervosa e graves males psíquicos: "A treqüéncia ás sessóes
esputas se encontra amiúde entre os fatores predisponentes e desenca-
deantes das psicoses e das reacoes psicopatokigicas" (Dr. José Lema Lo
pes, citado á p. 59). O exercfcb da mediunidade é, pois, segundo o parecer de
numerosos médicos citados ás pp. 50-62, poderoso elemento geradorde dis
turbios mentáis.

Saudamos o livro como precioso subsidio para o esclarecimento das


questóes ¡angadas pelo Espiritismo; além do que, vem a ser manual de ca-
tequese sobre a maneira como os católicos entendem céu, inferno, limbo, pur
gatorio, arijos bons e maus...

Cuba num retrato sem retoques, por Luciano Bivar. - Ed. Barristeis,
Rúa Sao José, 46, s. 1105 - Rio de Janeiro 1986, 135x210mm, 167 pp.

O autor é um brasileiro que, aos 05/02/86, desembarcou em Havana


(Cuba) na qualidade de turista como outro qualquer. Aospoucos, porém, con-
cebeu intencóes mais "curiosas": "a mitifícacáo política, o temor do povo de
Continua na pág. 14

576
ERGUNTE

Responderemos

ÍNDICE de 1 986
ÍNDICE 1986 51

ÍNDICE

(Os números á direita indicam, respectivamente, fascículo,


ano de edicáo e página)

"A ARTE DO ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO"


por Rollo May 289/1986, p.274.
ABORTO: discussáo filosófica 284/1986, pp.26 e 40;
na Irlanda 295/1986, p. 550.
ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO 289/1986, p. 274.
ACULTURACÁO 294/1986, P. 526.
ÁFRICA DO SUL E "APARTHEID" 293/1986, p. 464.
"A IGREJA DA LIBERTACÁO"- filme 289/1986, p. 286.
ALMA HUMANA: realidade 286/1986, p. 128.
"A MEMORIA DO POVO CRISTAO" - por Eduardo
Hoornaert 290/1986, p. 311.
AMIZADE ENTRE SEXOS 286/1986, p. 119.
ANIMÁIS IRRACIONAIS E HOMEM: diferencas . . . 287/1986, p. 170.
ANTROPOCENTRISMO: crítica 286/1986, p. 130.
"ANTROPOLOGÍA DO SOFRIMENTO" - por Hubcrt
Lepargneur 289/1986, p. 252.
"APARTHEID" E COMUNISMO 293/1986, p. 464.
ARTES NA IDADE MEDIA 289/1986, p. 264.
ATRIBUigÁO DO NOME-rito soviético 292/1986, p. 420.
"AVE MARÍA" - origem da prece 295/1986, p. 561.

BELLI, HUMBERTO, E NICARAGUA 287/1986, p. 157.


BATISMO - efeitos 285/1986, p. 77.
BETTO, FREÍ, E FIDEL 286/1986, p. 98.
BOTAS, PAULO, E IGREJA 286/1986, p. 144.
BÍBLIA - como interpretar 287/1986, p. 153.

BÍBLIAS TRANSFORMADAS EM PAPEL HIGIÉ- 291/1986, p. 379.


NICO
BIOÉTICA, PROBLEMAS DE 284/1986, p. 25.

CANON BÍBLICO: discussáo 295/1986, p. 558.


"CARNIS RESURRECTIONEM": traducao 292/1986, p. 387.

579
52 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

CARISMA E INSTITUICÁO 290/1986, P. 315:


292/1986, p. 431.

CASAMENTO E CONTROLE DA NATALIDADE . . 286/1986, p. 122


NO RITO SOVIÉTICO 292/1986, p. 422.
CATECUMENATO: movimento eclesiai 290/1986, p. 306.
CATEQUESE HOJE: crise 284/1986, p. 4.
CATÓLICO E MACÓN? 291/1986, p. 347.
CEMITÉRIOS: jardins de lazer? 293/1986, p. 475.
CHARBONNEAU, PAUL-EUGÉNE, E LIBERTACÁO 288/1986, P. 217.
CLERO NA URSS - recrutamento 295/1986, p. 538.
CLONAGEM: experiencias 284/1986, p. 31.
CLUBE FEMINISTA "MARÍA", NA RÚSSIA 295/1986, p. 539.
COMUNICACÁO DOS IRRACIONAIS 287/1986, p. 175.
COMUNISMO, BEM-ESTAR E LIBERDADE 286/1986, p. 102.
CONCÍLIO VATICANO II: Eclesiologia 293/1986, p. 460.
CONFISSÓES - por que há menos? 284/1986, p. 12.
CONSCIÉNCIA DE JESÚS 294/1986, p. 482.
SI MESMO 287/1986, p. 180.
DO DIREITO Á PRIVACIDADE ... 291/1986, p. 370.
"CONTRA TODA ESPERANCA" - por Armando Va-
ladares 288/1986, p. 201.
CREDO SANDINISTA 287/1986, p. 163.
CRISE NA CATEQUESE 284/1986, p. 2.
"CRISTÁOS SOB FOGO" -por Humberto Belli 287/1986, p. 157.
CRISTIANISMO E MARXISMO: convergem? 286/1986, p. 99.
CUBA: presos políticos 288/1986, p. 201;
293/1986, p. 446.
CULTO DOS SANTOS: origem 295/1986, p. 555.
CURRAN, CHARLES: censura 294/1986, p.498.

"DA TEOLOGÍA AO HOMEM" - por Paul-Eugéne


Charbonneau 288/1986, p. 217.
DEMOCRACIA E ESCOLA PARTICULAR 284/1986, p. 36.
DEMONIO ADVERSARIO (= SATA) 285/1986, p. 88;
- EXISTENCIA E ACÁO 294/1986, p. 502.
DEMONIOS E CONSORCIO CARNAL 286/1986, p. 111.
DEPÓSITO DA FÉ: imutável 284/1986, p. 8.
DIREITO Á PRIVACIDADE 291/1986, p. 366;
VERDADE INTEGRAL 284/1986, p. 3.
DIREITOS DO HOMEM E DIGNIDADE HUMANA . 286/1986, p. 125.
DISCRIMINACÁO ANTICRISTÁ 291/1986, p. 379.
DIVORCIO NA IRLANDA 295/1986, p. 543.
DOADOR-CADÁVER 284/1986, p. 32.
-VIVO 284/1986, p. 33.
"DOMINUM ET VIVIFICANTEM" 293/1986, p. 434.

580
ÍNDICE 1986 53

DONS E CARISMAS 285/1986,p. 52.


DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA E LIBERTACÁO . 289/1986, p. 247.

EDUCACÁO - direito de todos 284/1986, p. 36.


NA NICARAGUA 288/1986,p. 227.
SEXUAL ADAPTADA A CRIANCA 284/1986, p. 7.
"EM CUBA NAO HÁ TORTURA" 293/1986, p. 446.
ENGENHARIA GENÉTICA 284/1986, p. 29.
ENSINO DOS MANDAMENTOS 284/1986, p. 6;
RELIGIOSO INTERCONFESSIONAL 289/1986, p. 285.
"ENTRE HOMEM E MULHER" - por Dietrich von
Hüdebrand 286/1986, p. 115.
"ESCATOLOGIA CRISTA" - por J.B. Libánio e M.C.
Bingemer 291/1986, p. 338.
ESCOLA PARTICULAR E E. ESTATAL 284/1986, p. 37.
ESCRITURA - autentica interpretado 284/1986, p. 10.
ESPÍRITO SANTO: encíclica 293/1986, p. 434.
ESTADO DO VATICANO 292/1986, p. 402;
E EDUCAQÁO 284/1986,p. 37.
ESTRANGEIROS NA URSS 295/1986, p. 537.
EVANGELHO DE MARCOS ANTES DE 50? 288/1986, p. 194.
EVANGELIZACÁO RECONCILIADORA 290/1986, p. 295.
EXIGÉNCJAS EVANGÉLICAS DE TRANSFOR-
MACÁO 289/1986, p. 249.
EXORCISMO HOJE : 285/1986, p. 91;
294/1986, p. 502.

FALCÁO, JOSÉ CABRAL 290/1986, p. 334.


FAMfLIA E EDUCACÁO 284/1986, p. 37.
FÁTIMA: segredo 292/1986, p. 410;
295/1986, p. 536.
"FATOS E MITOS SOBRE A VIRGEM MARÍA"? . . . 294/1986, p. 510.
FAVELAS NA URSS 295/1986, p. 537.
FÉ: imutável 284/1986, p. 8.
FEMINISMO E MARXISMO 295/1986, p. 539.
FEUDALISMO: que é? 289/1986, p. 265.
"FIDEL E A RELIGIÁO"- conversas com Freí Betto . . 286/1986, p. 98.
FINANCAS DA SANTA SÉ 292/1986, p. 401.
FREUD E RELIGIÁO 289/1986, p. 278.
FUNERAIS NO RITO SOVIÉTICO 292/1986, p. 424.
G

GORETTI, MARÍA: canonizagáo 292/1986, p. 398.


GORITCHEVA, TATIANA: depoimento 295/1986, p. 530.
GRACA DIVINA - conceito 285/1986, p. 76.

581
54 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

HELENIZACÁO DO CRISTIANISMO 290/1986, p. 319.


HISTORICIDADE DO PARAÍSO 285/1986, p. 72.
HOMEM E ANIMÁIS IRRACIONAIS: diferencas . . . 287/1986, p. 170.
"HOMOSSEXUALIDADE: CIENCIA E CONSCIÉN-
CIA" - por Marciano Vidal e outros 288/1986, p. 233.
HOORNAERT, EDUARDO, E HISTORIA 290/1986, p. 311.
"HORIZONTE DE ESPERANCA. TEOLOGÍA DA LI-
BERTACÁO" - por Juvenal Arduini 295/1986, p. 569.
HUMANISMO NA NICARAGUA 287/1986, p. 167.

IDADE MEDIA: aspectos 289/1986, p. 262.


IGREJA CATÓLICA LIBERAL 293/1986, p. 468.
DE JESÚS CRISTO: única 293/1986, p. 458.
QUE SOFRE 291/1986, p. 378.
- seus títulos 292/1986, p. 402.
"IGREJA DA LIBERTACÁO" 289/1986, p. 286.
IGREJA E TESTES PSICOLÓGICOS 291/1986, p. 366.
INCRÉDULO E MENSAGEM DE FÉ 289/1986, p. 258.
ÍNCUBOS: demonios e sexualidade 286/1986, p. 110.
INDEPENDENCIA DO CRISTÁO 291/1986, P. 380.
INQUISICÁO: por qué? 289/1986, p. 271.
INSEMINAC.ÁO ARTIFICIAL: moralidade 284/1986, p. 30.
INSTITUICAO E CARISMA 292/1986, p. 431.
INSTITUTO PARA AS OBRAS DE RELIGIÁO 292/1986, p. 407.
INSTRUCÁO "SOBRE A LIBERDADE CRISTA E A
LIBERTACÁO" 291/1986, p. 357.
"INVITATION Á LA VIE": movimento 291/1986, p. 382.

JAIR PEREIRA E MISSÓES 294/1986, p. 497.


JESÚS E A FUNDACÁO DA IGREJA 294/1986, p. 489.
"JE VOUS SALUE, MARIE" - filme de Jean-Luc
Godard 287/1986, p. 183.
JOÁO PAULO II E NICARAGUA 287/1986, p. 165.
JOVENS NA NICARAGUA 287/1986, p. 166.
NA URSS 292/1986, p. 422.
JUBILEU DO ANO 2000 293/1986, p. 441.

KLOPPENBURG, BOAVENTURA: Eclesiologia 293/1986, p. 458.

582
ÍNDICE 1986 55

"LA RELIGIÓN EN LA URSS" - por Alexéi Puzin . . . 291/1986, p. 376.


LEÍ DE DEUS E CONSCIÉNCIA 284/1986, p. 10.
LIBERDADE DE ENSINO 284/1986, p. 38;
AMEACADA NA NICARAGUA 288/1986, p. 228.
LIBERTAgÁO CRISTA E LIBERDADE 289/1986, p. 243.

MACONARIA E RELIGIÁO 291/1986, p. 350;


284/1986, p. 20.
"MÁE MENININHA" 294/1986, p. 522.
MARCOS: EVANGELHO ANTERIOR A 50? 288/1986, p. 194.
MARÍA GORETTI: canonizagSo 292/1986, p. 398.
MARÍA VIRGEM E MÁE 294/1986, p. 510.
MARXISMO OU DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA? 286/1986, p. 103.
MEDICINA CRIÓNICA 284/1986, p. 33.
MEDJUGORJE 295/1986, p. 536.
MENTIRA E MORTE - oulrora e hoje 293/1986, p. 438.
METODISTAS E MAQONARIA 284/1986, P. 20.
MILAGRES: SIM OU NAO? 292/1986, p. 393.
MISSA EM LATIM 295/1986, p. 553.
MISSAO LIBERTADORA DA IGREJA 289/1986, p. 246.
MISSÓES EVANGELIZADORAS: valor 292/1986, p. 429.
MITOLOGÍA E DEUSA-MÁE 294/1986, p. 514.
MORAL CATÓLICA E CH. CURRAN 294/1986, p. 498.
MORIBUNDOS: assisténcia aos 284/1986, p. 34.
MORTE: quando ocorre? 287/1986, p. 189.
- sua "origem" 285/1986, p. 85.
MULHER MEDIEVAL 289/1986, p. 268.

NEOCATECUMENATO: movimento eclesial 290/1986, p. 300.


NICARAGUA E EDUCACÁO 288/1986, p. 228;
situasao geral 287/1986, p. 157.
NEUROSE E RELIGIÁO 289/1986, p. 277.
"NOSSOS PAÍS NOS CONTARAM" - por Marcelo
de Barros Souza 287/1986, p. 146.

ÓBULO DE SAO PEDRO: que é? 292/1986, p. 407.


O'CALLAGHAN E DATA DE Me . 288/1986, p. 194.

583
56 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

ODDI, SÍLVIO, Card., E CATEQUESE 284/1986, p. 2.


"O MITO DA IDADE MEDIA" - por Régine Pernbud 289/1986, p. 261.
ORACÁO CARISMÁTICA 285/1986, p. 50.
ORDEM DOS PADRES EXORCISTAS DO BRASIL . 294/1986, p. 497.
"ORIGEM DOS DOGMAS E INOVACÓES DA IGRE-
JA ROMANA" 295/1986, p. 552.
"O SEGREDO DE FÁTIMA" - por José Geraldes Freiré 292/1986, p. 410.

PADRE FALCÁO 290/1986, p. 334.


PAPAS E RENOVACÁO CARISMÁTICA CATÓLICA 285/1986, p. 55.
"PARAÍSO TERRESTRE: SAUDADE OU ESPERAN-
CA?" - por Carlos Mesters 285/1986, p. 66.
PATRIMONIO DA SANTA SÉ 292/1986, p. 405.
PAULO BOTAS, E IGREJA 286/1986, p. 144.
PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO 293/1986, p. 440.
- conseqüéncias 285/1986, p. 82.
DO MUNDO 285/1986, p. 75.
MORTAL - possibilidade e freqüéncia 284/1986, p. 14.
ORIGINAL: como entender? 293/1986, p. 438.
285/1986, p. 79.
PERNOUD, REGINE, E IDADE MEDIA 289/1986, p. 262
PERSONALIDADE E RELIGIÁO 289/1986, p. 275.
PLURALISMO SOMENTE FORA DO DEPÓSITO DA
FÉ 284/1986, p. 6.
POBREZA E COMUNHÁO DE BENS 290/1986, p. 317.
POSESSÁO DIABÓLICA 294/1986, p. 506.
POVO DE ISRAEL E A MULHER 294/1986, p. 511.
POVOS PRIMITIVOS 285/1986, p. 85.
PRIMADO DO PAPA 295/1986, p. 556.
PRIMEIRO PECADO 285/1986, p. 75.
PRISIONEIROS EM CUBA 293/1986, p. 446;
288/1986, p. 201.
PRIVACIDADE: direito da pessoa 291/1986, p. 370.
"PROBLEMAS DE BIOÉTICA" - por Andrew C. Varga 284/1986, p. 25.
PROLONGAMENTO ARTIFICIAL DA VIDA 287/1986, p. 189.
PROPAGANDA SOVIÉTICA 295/1986, p. 536.
PROTESTANTISMO: obje?5es a Igreja 295/1986, p. 552.
PURGATORIO E PROTESTANTES 295/1986, p. 557.

RATZINGER, JOSEPH, Card., E LIBERTACÁO 291/1986, p. 357;


E MORAL CATÓLICA 294/1986, p. 498;
E SACERDOCIO 295/1986, p. 564.

584
ÍNDICE 1986 57

RECONCILIAgÁO E EVANGELIZACÁO 290/1986, p. 299.


RECRUTAMENTO E DOUTRINACÁO ÑAS SEITAS 290/1986, p. 327.
REDENCÁO - necessidade 284/1986, p. 15.
RELIGIÁO NA URSS 291/1986, p. 376.
RELIGIÓES AFRO-BRASILEIRAS E CATOLICISMO 294/1986, p. 522.
RENOVACÁO CARISMÁTICA CATÓLICA: que é? . 285/1986, p. 50.
RESPEITO AO CORPO HUMANO 293/1986, p. 476.
RESSURREICÁO DA CARNE 284/1986, p. 4;
292/1986, p. 397.
RITOS SOVIÉTICOS 292/1986, p. 419.
ROSA-CRUZ E CRENCAS RELIGIOSAS 286/1986, p. 136.

SACERDOCIO COMUM DOS FIÉIS E SACERDOCIO


MINISTERIAL 295/1986, p. 564.
SALVACÁO - falsa noc.So 284/1986, p. 16.
levada a todos 284/1986, p. 16.
SANDINISTAS E CRISTÁOS 287/1986, p. 160.
- quem sao? 287/1986, p. 158.
SANTA SÉ - tarefas 292/1986, p. 403.
SANTIDADE DA VERDADE 284/1986, p. 7.
SAÚDE PSÍQUICA E FÉ 289/1986, p. 277.
SEGREDO DE FÁTIMA .- 292/1986, p. 411.
SEITAS - tragos característicos 290/1986, p. 324.
"SENHOR E FONTE DE VIDA" - Carta-Encíclica 293/1986, p. 434.
SER HUMANO 287/1986, p. 172.
SERVO DA GLEBA 289/1986, p. 266.
SEXO - significado 286/I986,p. 116.
SILENCIAR A VERDADE PARA PRESERVAR A
PAZ? 285/1986,p. 59.
SINCRETISMO 294/1986, p. 524.
"SOBRE A LIBERDADE CRISTA E A LIBERTA-
CÁO" - instrucáo da Santa Sé 289/1986, p. 242.
SOFRIMENTO: antropología do 289/1986, p. 252.

TAREFAS CULTURÁIS E EDUCATIVAS 289/1986, p. 250.


TATJANA GORITCHEVA: depoimento 295/1986, p. 532.
TEOLOGÍA - conceito 288/1986, p. 220;
DA CRUZ 286/1986 p. 114;
LIBERTACÁO 288/1986, p. 219.
RECONCILIACÁO 290/1986, p. 291;
DO SOFRIMENTO 289/1986,p. 253.

585
58 . "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 295/1986

"THÉRÉSE" - filme de.Alain Cavalier 293/1986, p. 479.


TORTURA ÑAS PRISÓES EM CUBA 288/1986, p. 206.
TRANSPLANTE DE ÓRGÁOS E ÉTICA 284/1986, p. 32.
TRANSUBSTANCIAQÁO: origem da palavra 295/1986, p. 560.
TÚMULOS PARA ENCERRAR MORTOS VIVOS EM
CUBA : 288/1986, p. 211.

UMBANDA E SINCRETISMO 294/1986, p. 523.


VALLADARES, ARMANDO, E CUBA 288/1986, p. 201.
VALORES MORÁIS E RELIGIOSOS 287/1986, p. 181.
VARGA, ANDREW, E BIOÉTICA 284/1986, p. 25.
VATICANO: finangas 292/1986, p. 401.
VATICANO II: Edesiologia 293/1986, p. 460.
VELHICE 284/1986, p. 33.
VERDADE E CATEQUESE 284/1986, p. 4;
PAZ 285/1986, p. 59.
"VERDADES CIENTÍFICAS": teorías 284/1986, p. 8.
VIDA HUMANA - QUANDO COMEgA? 284/1986, p. 26.
NA RÚSSIA 295/1986, p. 535.
VIDAL, MARCIANO, E HOMOSSEXUALIDADE . . 288/1986, p. 535.
VIRGEM-MÁE NO CRISTIANISMO 294/1986, p. 515.
VIRGINDADE PERPETUA DE MARÍA 294/1986, p. 517.
VON HILDEBRAND, DIETRICH, E SEXUALIDADE 286/1986, p. 115.

ZELO MISSIONÁRIO: valor 292/1986, p. 429.


ZEN-BUDISMO: que é? 292/1986, p. 425.

EDITORI AIS
BENEVOLENCIA E VERDADE 288/1986, p. 193.
"O ESPÍRITO VOS ENSINARÁ TUDO" 291/1986, p. 337.
O FELIZ INCÓMODO DA FÉ 290/1986, p. 289.
O PARADOXO CRISTÁO 295/1986, p. 529.
O TEMPO OPORTUNO 285/1986, p. 49.
PÁSCOA E O ENIGMA DA HISTORIA 287/1986, p. 145.
PASSAGEIRA E, POR ISTO, PRECIOSA 294/1986, p. 481.
PECADO E SANTIDADE NA IGREJA 293/1986, p. 433.
QUE HÁ DE NOVO? •. 289/1986, p. 241.
RITMO VITAL 292/1986, p. 385.
TRABALHAR, ORAR E SOFRER 284/1986, p. 1.
VOCACÁO Á SANTIDADE 286/1986, p. 97.

586
ÍNDICE 1986 59

LIVROS APRECIADOS
ALBERTON, Valerio. Eficacia do Rosario ern nosso
século XX 284/1986, p. 47.
BATTISTINI, Freí. Apocalipse 292/1986, p. 397.
Reencontró com Deus no Espirito 286/1986, p. 142.
BETTO, Freí. Cristianismo e Marxismo 293/1986, p. 467.
BROSHUIS, Inés e Dazir da Rocha Campos. Génesis
1 a II na Catequese 295/1986, p. 573.
COMBLIN, José. Antropología Crista 286/1986, p. 141.
Epfstoia aos Filipenses. Comentario bíblico do
Novo Testamento 287/1986, p. 191.
CONFERENCIA EPISCOPAL ITALIANA.O Caminho
do Senhor-Catecismo para Adultos 285/1986, p. 94.
DIVERSOS AUTORES. Ministerios e Teología 294/1986, p. 509.
FEITOSA, Antonio. Falta um Defensor para o Padre
Cicero 286/1986, p. 143.
FOLLMANN, José Ivo. Igreja, Ideología e Classes So-
dais 289/1986, p. 261.
FREDERICHS, Edvino Augusto. Despacho de Macum-
ba contra um casal feliz 292/1986, p. 432.
Qualé o seu Problema? 287/1986,p. 188.
GEBARA, Ivone e Mana Clara Luchetti Bingemer.
A mulher faz Teología 295/1986, p. 575.
GOLLARTE, Paulo. Quando dizer NÁÍ> é preciso . . . 292/1986, p. 39.
HARRINGTON, Walfrid. Chave para a Biblia. A Re
velado, a Promessa, a Realizarlo 285/1986, p. 94.
HOPPENOT, Marguerite Ph.A caminho do Reino 290/1986, p. 333.
LIBÁNIO, Joáo B. e María Clara L. Bingemer. Escatolo-
gia Crista 286/1986, p. 140.
MANNUCCI, Valerio. Biblia. Palavra de Deus. Curso
de Introducáo a Sagrada Escritura 287/1986, p. 192.
MESTERS, Carlos.Rute. Urna historia da Biblia .... 284/1986, p. 48.
MOHANA, JoSo. Descubra o valor do terco 284/1986, p. 47.
MORAES, Renate Jost de. As chaves do Inconsciente . 286/1986, p. 142.
MUÑOZ, Ronaldo.A Igreja no Povo. Para urna Ecle-
siologia Latinoamericana 289/1986, p. 288.
TEIXEIRA, Luiz Monteiro. A crianca e a telcvisáo.
Amigos ou Inimigos? 288/1986, p. 232.
VIDIGAL DE CARVALHO, José Geraldo.A Igreja e a
Escravidio. Urna Análise Documental 285/1986, p. 95.
VIEIRA, Mons. Primo. Cónego José Amoral Mello. Um
exemplo de Vida Sacerdotal 292/1986, p. 400.
WEIL, Fierre. Amar e Ser Amado. Comunicando do
Amor 290/1986, p. 336.
ZEZINHO, Padre. Desculpa, Deus, aínda nao sei rezar. 288/1986, p. 226.

587
PRÓXIMO LANCAMENTO DAS EDICÓES "LUMEN CHRISTI":

D. PEDRO MARÍA DE LACERDA


ÚLTIMO BISPO DO RIO DE JANEIRO NO IMPERIO
(1868-1890)

Para elaborar o presente livro, o autor, D. Jerónimo de Lemos


O.S.B., além de consultar ampia bibliografía, viu também o arquivo de D.
Lacerda, lendo sua correspondencia, escritos, e preciosa documentacáo
até hoje inédita, bem como ¡ornáis daquele tempo, gracas ao que pode
contribuir para urna perspectiva inteiramente nova sobre a pessoa e
acontecimentos da época em que viveu esse bispo, que, durante mais de
vinte anos dirigiu espiritualmente os destinos da extensa diocese de Sao
Sebastiáo do Rio de Janeiro, a qual, naquela época, nao e restringía ao
assim chamado Municipio Neutro, mas abrangia todo o Estado do Rio e
Espirito Santo, e territorios das provincias de Santa Catarina e Minas
Gerais. - 600 páqinas.

2? Edicáo de:
DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.

Em 18 capítulos, sendo acrescentados nesta edicáo:


"Capítulo IV: A Santissima Trindade: Fórmula paga?"
"Capítulo XVIII: Seita e espirito sectario".
Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pontos
da clássica controversia entre Católicos e Protestantes, procurando mos
trar que a dtscussáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo, de ser,
pois nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou pro-
postcóes.-380 páginas- Cz$ 120,00

RIQUEZAS OA MENSAGEM CRISTA (2? edicáo), por D. Cirilo Folch


Gomes O.S.B. - Continua sendo muito procurado este "manual" de
Teologia que estuda de maneira completa e extensa todo o conteú-
do do "Credo do povo de Oeus". O autor, falecido a 2/12/1983, de-
dicou sua vida de estudos ao aprofundamento das mais variadas
questóes teológicas. 690 páginas CzS 73,80.

EM COMUNHÁO
Revista bimestral, editada pelo Mosteiro de Sao Bento, destina-se
aos Oblatos e as pessoas interessadas em assuntos de espiritualídade
monástica. Além da conferencia espiritual mensal de D. Estéváo Betten
court para os Oblatos, contém traducóes de comentarios sobre a Regra
beneditina e outros assuntos monásticos. - Assinatura anual em 1987:
CzS 50.00.

Para assinatura dirija-se ao Armando Rezende Filho


(Caixa Postal 3608 - 20001 Rio de Janeiro - RJ) ou as Edicóes "Lumen
Christi" (Caixa Postal 2666 - 20001 Rio de Janeiro - R J).

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TOMBO

Fornulo 28» 19,5

niosli denlo

Leitura, introducáo e índices pelo Prof. Deoclécio Leite Macedo.


Apresentacáo por D. Inácio Accioly, Abade do Mosteiro de Sao Bento.
I vol. (destruido pelos invasores franceses); II vol. (1688-1793); III
vol. (1793-1829); IV vol. (1829-1906); V vol. (1906-1924); VI vol.
(1924.-1943).
O Mosteiro de Sao Bento, fundado em 1586-1593, é das mais anti
gás e tradicionais instituicóes do Rio.
Colonia, Monarquía, República se sucederam, e os monges benedi-
tinos continuam sua vida monástica dedicada á Oracáo e ao Trabalho
(Ora et Labora) no alto da colina de Sao Bento, onde se situam a histórica
igreja no estilo barroco, inaugurada a 21 de marco de 1641 e seu Colegio
fundado por Frei Luis da Conceicáo Saraiva, monge e Bispo do Mara-
nháo, em 1858.
Obra enriquecida com reproducóes de textos antigos, em sua orto
grafía original, plantas e gráficos da época e ampios índices que muito
facilitaráo as pesquisas dos estudiosos (índice: cronológico, onomástico,
de Oficios, toponímico, de assuntos) - 5 Volumes - Cz$ 15.000

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rador da Conqregacáo Beneditina do Brasil, por Michael Emilio Scherer
OSB.

O Autor estuda o período de 1890, desde o final do Imperio até os


primeiros anos da República. Frei Domingos foi o último Abade Geral da
antiga Congregacáo Brasileira: solicitou ao Papa Leáo XIII ajuda de
mosteiros da Europa para povoar os mosteiros do Brasil, proibidos de
admitir novicos brasileiros por ordem do regime macónico que antece-
deu a República.
Publicado em 1980,185 páginas - Cz$ 48,00.

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Rúa Dom Gerardo 40, — 5<? andar — Sala 501

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