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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(ín memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
ANO XXXIV
m
M
JANEIRO

1993
fia.'

co
SUMARIO

co A Roda do Tempo
UJ
O
co
A Via Sacra: Que é? Como Teve Origem?
III

O O Celibato Sacerdotal
\
co
< O Fundamentalismo Contemporáneo
LU
_l
EG As Táticas Anti-Religiosas dos Governos Marxistas
O
a. As Financas da Santa Sé

U ■!'«*
rtHüUNTE E RESPONDEREMOS
JANEIRO 1993
Publicado mensal
N9 368

Diretor-Responsável SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia A Roda do Tempo 1
publicada nes'te periódico
Ñas proximidades da Quaresma:
Diretor-Administrador: A Via Sacra: Que á?
D. Hildebrando P. Martins OSB Como teve origem? 2

Administracao e distribuí(áo: Discute-se


Edicoes Lumen Christi O Celibato Sacerdotal 13
Dom Gerardo, 40 ■ 59 andar, s/501
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Impressao e Encadernagáo
Revelando segredos:
As táticas antireligiosas
dos governos marxistas 42

•MAR QUES3A RAÍ VA " Relatório anual sobre:


GRÁFICOS E EDITORES S.A. As Financas da Santa Sé 46
Tels.: (021) 273-9498 - 273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:
O Rosario: origem e significado. - A Igreja Católica e a Maconaria. - Mais um
livro sobre' Ñostradamus e sua verdadeira face. — A conversao de urna jovem
que se fez Claríssa na Hungría.

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

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BIBLIOTECA

A Roda do Tempo

Mais urna vez, Janeiro!. . . A historia é urna sucessao de ciclos, que se


repetem regularmente. Para os pagSos, este fato suscitava náusea e o desejo
de escapar dos grilhoes do eterno retorno, fugindo do corpo, do mundo e da
historia, para conseguir melhor vida. . . Para os cristaos, os ciclos da historia
tomam a forma de espiral ou de linha que sobe, passando pelas 'mesmas eta
pas, mas sempre em plano mais elevado, até chegar ao seu cume ou ómega.
A historia nao é monótona, porque dinámica, porque todos os anos o cristao.
passa pelas mesmas fases, mas cada vez mais maduro, mais próximo e mais
prenhe de eternidade; vé os mesmos quadros, experimenta as mesmas viven
cias, mas contempla tudo com um olhar sempre mais iluminado pela eterni
dade.

Associando idéias, verificamos que ciclo e roda eram imagens caras aos
amigos. Estes comparavam a vida a urna roda,. .. roda cheia de significado
(cf. Tg 3, 6). Com efeito,

- a roda lembra a instabilidade e a fragilidade dos bens deste mundo.


Quem hoje está em cima, desfrutando prestigio e gloria, amanhS poderá es
tar em baixo, esquecido e abandonado. O cristao reconhece isto; mas nao se
assusta, porque sabe que, através de altos e baixos, a roda da vida se move
na direcáo dos valores definitivos e se aproxima cada vez mais deles;

— a roda tem ainda outro simbolismo. Consta de um aro, que se liga a


um ponto central mediante raios. Ora é ¡nteressante notar que esses raios, ao
se aproximar do seu centro, se aproximam também, e cada vez mais, uns dos
outros; e vice-versa, ao se distanciarem do seu centro, distanciam-se uns dos
outros. Esta imagem significa, para os cristSos, algo de muito importante: os
raios que convergem para o eixo central, simbolizam os homens que, aproxi
mándose de Deus, se aproximam sempre'mais uns dos outros; a fraternidade
entre os homens está necessar¡amenté associada á paternidade de Deus; se
nao há Pai no céu, também nSo há ¡rmios na térra. A recíproca é válida: se
os homens se afastam de Deus, afastam-se uns dos outros, como acontece
com os raios da roda e como atesta sobejamente a historia contemporánea.

Que Janeiro, recordando-nos o caráter cíclico da nossa existencia,


contribua para nos fazer viver sempre mais a espiral da vida, tendente ao seu
ponto ómega! Possa a volúpia de descobrir sempre mais a Deus e seu plano
numa smtese mais profunda, mais inspirada pela eternidade, gere novo entu
siasmo naqueles que a aparente monotonía da caminhada ameaca cansar. E
que essa volúpia dinamize os passos dos caminheiros na procura do seu cen
tro, para onde convergem todos os irmá*os!

E.B.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

ANO XXXIV - N9 368 -Janeiro de 1993

Ñas proximidades da Quaresma:

A Via Sacra: Que É?


Como Teve Origem?

Em síntese: O exercicio da Via Sacra consiste em que os fiéis percor-


ram mentalmente a caminhada de Jesús a carregar a Cruz desde o pretorio
de Pilatos até o monte Calvario, meditando simultáneamente a Paixao do
Senhor. Tal exercicio, multo usual no tempo da Quaresma, teve origem na
época das Cruzadas (sáculos XI/XIII): os fiéis que entio percorriam na Térra
Santa os lugares sagrados da Paixao de Cristo, quiseram reproduzir no Oci-
dente a peregrinacao feita ao longo da Via Dolorosa em Jerusalém. O núme
ro de estacóes ou etapas dessa caminhada foi sendo definido paulatinamen
te, chegando á forma atual, de quatorze estacóes, no sáculo XVI. OPapaJoSo
Paulo II introduziu, em Roma, a mudanca de certas cenas desse percurso
nSo relatadas nos Evangelhos por outros quadros narrados pelos Evangelis
tas. A nova configurado aínda nao se tornou geral. O exercicio da Via Sacra
tem sido muito recomendado pelos Sumos Pontífices, pois ocasiona frutuo-
sa meditacSo da Paixao do Senhor Jesús.

Por "Via Sacra" entende-se um exercfcio de piedade segundo o qual


os fiéis percorrem mentalmente com Cristo o caminho que levou o Senhor
do Pretorio de Pilatos até o monte Calvario; compreende quatorze estacóos
ou etapas, cada urna das quais apresenta uma cena da Paixao a ser meditada
pelo discípulo de Cristo.

Embora semelhante exercicio seja assaz amigo na historia do Cristia


nismo, as modalidades que ele hoje em dia apresenta sao relativamente re
centes. Percorramos, portanto, rápidamente o histórico da "Via Sacra" para
entendemos o significado dessa prática.
VIASACRA:QUE É70RIGEM?

1. Peregrinacao em miniatura

Há certas devocoes do povo cristao que nada mais sao do que a forma
simplificada de exerci'cios de piedade solenemente praticados pelos cristaos
amigos ou medievais.

Tal é o caso, por exemplo, do Santo Rosario. Na antiga Igreja os asce


tas tendiam a rezar diariamente ou, ao menos, a intervalos regulares os 150
salmos da Escritura Sagrada. Com o tempo, porém, esta tarefa tornou-se ¡m-
praticável, seja porque a vida cotidiana se tornou mais complexa, seja por
que os fiéis foram perdendo o entendí mentó dos salmos; dai'a substituicao
destes por 150 "Ave Marías" distribuidas em dezenas; cada urna das quais
representa um dos misterios de nossa Redencao (por sua vez os salmos nos
falam dos misterios do Redentor e do seu Reino na térra).

Pois bem; nesta serie deve-se enumerar também a Via Sacra. Já que a
peregrinacao aos lugares santos da Palestina é um ideal para todo cristao,
ideal, porém, que nem todos conseguem realizar, a Igreja consentiu em que
os fiéis pratiquem urna peregrinacao em espirito, enriquecida de gracas
semelhantes ás que estáo anexas a urna verdadeira peregrinacao. É o que se
dá justamente no exerci'cío da Via Sacra.

A este vamos agora voltar nossa atencao.

2. O histórico da devócá~o á Via Sacra


1. Desde os primordios do Cristianismo, os fiéis dedicaram profunda
veneracáo aos lugares santificados pela vida, a morte e a glorificacao do Se-
.nhor Jesús. De longínquas regioes afluiam á Palestina, a fim de láorar, dei-
xando-nos, em conseqüéncia, suas narrativas de viagem, das quais as mais im
portantes na antigüidade sao a de Etéria e a do peregrino de Bordéus (sec.
IV). Voltando ás suas patrias, esses peregrinos nao raro procuravam reprodu-
zir, por meio de quadros ou pequeños monumentos, os veneráveis locáis que
haviam visitado.

2. A tendencia a "reproduzir" se acentuou por efeito das Cruzadas


(séc. XI/XIII), que proporcionaran! a muitos fiéis o ensejo de conhccer os
lugares santos e de se nutrir da espiritualidade dos mesmos Entao, principal
mente nos mosteiros, se foram erguendo cápelas ou monumentos que recor-
davam os diversos santuarios da Térra Santa e eram objeto de ' peregrina-
pao" espiritual dos monges e das monjas que nao podiam viajar em demanda
do Oriente.

Conta-se, por exemplo, que a bem-aventurada Eustochium (t 1491),


pobre Clarissa de Messina, construiu no interior da clausura urna capetinha
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

que lembrava a Natividade do Senhor, outra que evocava a casa de sua Máe
Santíssima, e outras mais, que significavam respectivamente o monte das
Oliveiras, o Cenáculo, as casas de Anas e Caifas, o pretorio de Pilatos. o
monte Calvario e, por fim, o Santo Sepulcro. Visitava diariamente esses mo
numentos e, "como se houvera assistido as cenas que eles representavam,
contemplava com lágrimas a bondade do Celeste Esposo e todos os feitos
deste na sua respectiva sucessao" (Wadding, Annales Minorum, ad an. 1491).

Um dos casos mais expressivos da piedade fervorosa da Idade Media é


o seguinte: no mosteiro cisterciense de Louváo (Portugal), havia, provavel-
mente no séc. XV, urna Religiosa conversa que, antes de se consagrar a Deus
no claustro, levava vida muito mortificada; entre outros atos de piedade,
emitirá o voto de peregrinar á Térra Santa. Tendo, porém, entrado para o
mosteiro, já nao podia dispor de si para empreender tal viagem; achava-se
por conseguintc, continuamente preocupada com a lembranca da promessa
feita ao Senhor; os escrúpulos a torturavam. Orava, porém, e mortif icava se
ardentemente, na esperanpa de conseguir realizar seu designio. Foi entao
que o Santo Padre o Papa promulgou um jubileu solene, concedendo aos
confessores faculdades extraordinarias, inclusive a de comutar votos. A irma,
feliz, resolveu recorrer ao confessor, ped indo-I he cornutacáo (embora nao
precisasse disto, pois sua profissao religiosa solene anulara qualquer voto de
devocáo). 0 confessor, para dar-lhea paz de alma, respondeulhe que ela po-
deria fazer no mosteiro mesmo urna peregrinacáo espiritual protraída por
tanto tempo quanto duraría a viagem á Térra Santa. Diante disto, a Religio
sa, tendo obtido o consentimento da sua Superiora, resolveu empreender o
itinerario espiritual: um belo dia des ped ¡u-se das Irmas e cessou o intercam
bio com elas; doravante pelo prazo de um ano pósse a peregrinar dentro da
clausura de um altar ou de um oratorio para outro, identificándoos com os
lugares santos que os peregrinos da Palestina costumavam percorrer; tomava
suas frugais refeicoes depois que a comunidade saia do refeitório, deixando
para os pobres a mor parte dos alimentos que Ihe eram destinados; á noite
dormía no chao, no lugar mesmo em que se encontrava quando tocava o si
no para o repouso.

Após doze meses de tal regime, na tarde em que devia encerrar a pere-
grinacao espiritual, a Irma foi para a igreja, onde entrou em oracao diante do
Santíssimo Sacramento, com as mSos erguidas; ficou nessa atitude até a ma-
nha seguinte, quando a Irmff Sacrista, tendo aberto a igreja, resolveu avisá-la
de que os fiéis iam entrar na igreja para assistir á S. Missa. Eis, porém, que a
"peregrina" estava morta, de joelhos, irradiando do seu semblante urna tumi-
nosidade extraordinaria. . .

O fato causou profunda impressao nos fiéis da localidade, que mais


tarde disseram ter obtido gratas milagrosas por intercessáo da santa Religio-
VIA SACRA. QUE É? ORIGEM?

sa.. . (cf. Frei Bernardo de Brito, Primara Parte da Chronica de Cister, I. VI


c. XXXIV fol. 463, Lisboa 1602).

Fique o episodio aqui consignado, a título de ¡lustracáo! . . .

3. De acordó com a documentagáo que nos resta, parece que até o


sáculo XII só havia, para os peregrinos da Palestina, guias e roteiros que orí-
entavam a visita dos lugares santos em geral, sem focalizar de maneira espe
cial os que diziam respeito á Paixáo do Senhor; em 1187, porém, apareceu
o primeiro itinerario que visava á via percorrida pelo Senhor Jesús ao carre-
gar a cruz: é o opúsculo francés "L'éstat de la Citéz de Jhérusalem". Somen-
te no fim do séc. XIII comecaram os fiéis a distinguir nesse itinerario etapas
ou estacóos, cada urna das quais dedicada a um episodio do carregamento da
cruz e consagrada por uma oracao especial. Por causa das restricoes ditadas
pelos maometanos que ocupavam a Palestina, foi-se registrando, entre os
cristáos, a tendencia a fixar cada vez mais um programa determinado e quase
invariável para a visita dos lugares concernen tes á Paixáo de Cristo; no fim
do séc. XIV tal roteiro comum já existia: per cor r ¡a em sentido inverso a Via
Oolorosa de Cristo, partindo da igreja do Santo Sepulcro (monte Calvario)
para ir terminar no monte das Oliveiras (donde se vé que nao havia propia
mente a intencao de acompanhar em espirito Nosso Senhor na sua caminha-
da dolorosa).

Eis aqui o itinerario que o peregrino inglés William Wey, tendo estado
duas vezes na Térra Santa (1458 e 1462), propunha sob a forma de versos
mnemotécnicos (Wey, alias, é o primeiro autor a designar como "stationes",
estacoes, as etapas da Via Dolorosa):

"Lap strat di trivium flent sudar sincopizavit


Por pis lapque schola domus her Symonis Pharisey".

A explicacao latina das abrevia- Em traducao portuguesa:


coes seria a seguinte:

1. Lapis cum crucibus super Pedra com cruzes sobre a qual


quem Christus cecidit cum cruce. Cristo caiu com a cruz.
2. Strata per quam Christus A estrada pela qual Cristo passou
transivit ad suam passionem. para padecer.
3. Domus divitis negantis mi A casa do ricaco que negava as
cas daré Lázaro. miga I has a Lázaro.
4. Trivium ubi Christus ceci A encruzilhada na qual Cristo
dit cum cruce. caiu com a cruz.
5. Locus ubi mulieres flebant O lugar onde as mulheres chora-
propter Christum. vam por causa de Cristo.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

6. Locus ubi vidu sive Verónica O lugar cm que a viúva ou Veró


posuit sudarium super faciem Christi. nica colocou o véu sobro a face de
Cristo.
7. Locus ubi beatissima María O lugar em que a muí bem-aven
sincopizavit. turada María desmaiou.
8. Porta per quam Christus A porta pela qua I Cristo passou
transibat ad passionem. para padecer.
9. Piscina ¡n qua aegroti sana A piscina onde os doentes eram
ba ntur tempore Christi. curados no tempo de Cristo.
10. Lapides super quos stetit As pedras sobre as quais Cristo
Christus quando iudicatus erat ad esteve quando o condenaram á
mortem. morte.
11. Locus ubi beata María tran- O lugar em que a bem-aventura-
sivit ad scholas. da María freqüentou a escola.
12. Domus Pílatí. A casa de Pilatos.
13. Domus Herodis. A casa de Herodes.
14. Domus Simonis Pharisey. A casa de Simao o Fariseu.

Como se vé, as estacóes desse itinerario estao longe de coincidir com as


do exerci'cio da Via Sacra moderno; apenas quatro estacóes da lista de Wey
sao aínda em nossos dias observadas, a saber:

4. Trivium ou o encontró com o Cireneu;


5. Flent ou o encontró com as santas mulheres que choravam;
6. Sudarium ou o encontró com a Verónica;
7. Sincopizavit ou o encontró com María Santfssima.

As outras estaedes do itinerario de Wey assim se explicam:

1. "Pedra com cruzes...": havia urna pedra assinalada por cruzes no


patio diante da igreja do Santo Sepulcro, pedra que designava o lugar em
que Jesús, ao carregar a cruz, cai'ra pela última vez (esta estacao do itinerario
de Wey poderia ser identificada com a estacao referente á terceira queda de
Cristo no percurso hoje em día usual).

2. "Suata": supunha-se estar pavimentada a estrada que levava ao Cal


vario.

3. Alusao á parábola narrada em Le 16.19-31.

8. Tiata-se da Porta do Julgamento da antiga cidade de Jerusalém.


9. Referencia á piscina probática mencionada em Jo 5, 2.
10. Alusao as duas pedras talhadas que constituiam o arco do "Ecce
Homo".
VIASACRA-.QUE É7 0RIGEM?

11. Referencia á escola freqüentada por María Santísima.


12. 13 e 14. Alusao a casas que remotamente se prendem á historia da
Paixao do Senhor.

Alguns autores de fins do séc. XV, entre os quais Félix Fabri (1480),
compraziam-se em afirmar que o itinerario entao adotado, do Calvario ao
monte das Oliveiras, era aquele mesmo que a Virgem Santi'ssima costumava
percorrer, recordando outrora os episodios da Paixao de seu Divino Filho;
tal assercáo, porém, era sugerida apenas pela devocao, carecendo de funda
mento na realidade histórica.

Note-se, de passagem, que os peregrinos da Térra Santa no fim da Ida-


de Media davam cortamente provas de extraordinario fervor, pois, para satis-
fazer á sua piedade, deviam submeter-se nao somente aos perigos mortais da
viagem marítima (piratas e peste), mas também a duras humilhacóes e difi-
culdades que os muculmanos ocupantes da Palestina Ihes ¡mpunham. Tal fer
vor nao podia deixar de provocar imitadores cada vez mais numerosos entre
os cristaos que estavam impedidos de empreender a viagem á Térra Santa; es
tes deviam experimentar o vivo desejo de substituir a peregrinacao local ao
Oriente por algum exerci'cio de piedade que pudesse ser realizado ñas igrejas
ou nos mosteiros mesmos do Ocidente. É a esse desejo crescente que se deve
o ulterior desenvolvimento do exerci'cio do Caminho da Cruz.

4. O fervor levou, sim, os fiéis a querer percorrer o Caminho Doloroso


do Senhor Jesús nao na ordem inversa (do Calvario ao monte das Oliveiras),
mas observando a sucessao mesma dos lugares e dos episodios que tecem a
historia da Paixao: urna narrativa de viagem devida ao sacerdote inglés Ri
chard Torkington e datada de 1517 mostra que já nesta data os fiéis seguiam
o Caminho da Cruz em demanda do Calvario, isto é, na direcao mesma que
Nosso Senhor tomara — o que Ihes possibilitava reviver mais intensa e férvi
damente as etapas dolorosas da Paixao. A partir de 1517, nao se registra
mais nenhum documento que ref ira as estacSes sagradas a partir do Calvario.

No Ocidente as reproducoes, em pintura ou escultura, das estacSes da


Via Dolorosa eram variadas. Algumas se contentavam com a enumeracao de
sete etapas, também ditas "Sete quedas de Jesús", porque em cada urna de-
las Cristo aparecia ou prostrado por térra ou ao menos vacilante sob o peso
da cruz e desejoso de se reerguer.

Assim, por exemplo, em fins do séc. XV se enumeravam:

1) o encontró de Jesús com sua Mae Santi'ssima;


2) o encontró de Jesús com o Cireneu;
3) o encontró de Jesús com as mulheres de Jerusalém;
8 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

4) o encontró de Jesús com Verónica;


5) a queda de Jesús sob a cruz, a 780 passos da casa de Pilatos;
6) a prostragao do Senhor sob a cruz, a 1000 passos da casa de Pilatos;
7) a deposicao de Jesús nos bracos da sua Mae Santíssima.

Podiam-se enumerar na iconografía e na devocao dos Ocidentais oito


estacóos assim concebidas:

1} Jesús é condenado á morte;


2) Jesús cai pela primeira vez;
3) Simáo, o Cireneu, ajuda o Senhor a carregar a cruz;
4) a Verónica enxuga a face de Jesús;
5) o Senhor cai pela segunda vez;
6) Cristo encontrase com as filhas de Jerusalém;
7) Jesús cai pela terceira vez;
8) Jesús é despojado das suas vestes.

(Serie devida a Pedro Steckx ou Petrus Potens, de Lovaina, depois que


voltou de Jerusalém em 1505).

Também no século XV alguns devotos tendiam a venerar, juntamente


com as sete quedas de Jesús, as sete dores de Nossa Senhora, ou as tristezas
da Virgem Santíssima por contemplar, de cada vez, o seu Filho prostrado ou
padecente sob a cruz.

Alguns autores ocidentais de livros de piedade ou de obras de arte sa


cra enumeravam por vezes 19 ou 25 ou até 37 estacoes na Via Dolorosa de
Jesús. Parece aquí merecer especial mencío o fato de que foi na Alemanha e
na Holanda que nos séc. XV/XVI mais floresceu a devocao á Via Sacra do
Senhor, ocasionando naturalmente grande número de monumentos literarios
e arti'sticos dedicados a tal tema.

5. Finalmente, entrou em cena na literatura ocidental um livrinho que


devia por remate á evolucao do santo exercício do Caminho da Cruz: era o
opúsculo do carmelita flamengo Jan Pascha (ou Jan van Paesschen), intitula
do "A peregrinacáo espiritual" (1563).

A viagem espiritual ai descrita devia durar um ano, sendo assinalada


para cada dia urna parte determinada do roteiro "Lovaina — Térra Santa";
essa parte cotidiana era acompanhada de um tema de meditacáo e de exercí-
cios de piedade. No primeiro dia, por exemplo, o peregrino ¡maginava que ia
viajar de Lovaina a Tirlemont, e devia meditar sobre o tema "Deus, último
Fim de todas as criaturas"; no segundo dia, "viajava" de Tirlemont a Ton-

8
VÍA SACRA: QUE É? ORIGEM? j|_

gres, e meditava sobre a criacao dos anjos, etc. No 188° día, porém, estando
o "peregrino" no horto das Oliveiras a contemplar a agonía de Jesús, adver
tía Jan Pascha:

"Aquí comeca a primeira prece da longa camínhada da cruz.

As preces deste caminho sao em número de quinze..."

A segunda esta gao fazia-se na casa de Anas, ao 193° día;

a terceira estacao, ao 196° día, no lugar em que Jesús fora encarcera-


do e submetido ao escarnio da soldadesca;

a quarta estacao, ao 206° dia, se fazia no tribunal de Pilatos, onde Je


sús fora condenado;

a quinta estacao se detinha no lugar em que Jesús tomara a cruz;

a sexta estacao considera va o encontró de Jesús com sua Mae Santísi


ma, assim como a segunda queda do Salvador (a primeira queda, nao explíci
tamente venerada, se dera logo após a tomada de cruz por parte do Senhor);

a sétima estacao se dava no lugar em que o Cireneu auxiliara Jesús a


carregar a cruz, tendo o Divino Mestre ai' caído mais urna vez;

a oitava estacao assinalava o encontró de Jesús com Verónica e a quar


ta queda do Senhor;

a nona estacao cultuava o encontró de Jesús com as filhas de Jeru-


salém;

a décima estacao venerava a última queda do Senhor;

a undécima estacao considerava o despojamento de Jesús;

a duodécima estacao, a crucifixáo;

a décima terceira estacao, a morte de Jesús sobre a cruz;

a décima quarta estacao, a deposigao da cruz;

a décima quinta estacao, por fim, venerava o sepultamento do Senhor.

Observe-se que as diversas etapas ácima sao acompanhadas de tantas


minucias topográficas e arqueológicas que certamente a obra de Jan Pascha

9
JO "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

deve ter causado a ¡mpressáo de estar baseada em documentapáo sólida e


abundante.

Em 1584 outro autor, Adríchomius, retomava o itinerario espiritual


de Jan Pascha, e dava-lhe a forma que ele hoje tem: fez, sim, comecar o Ca
minho da Cruz no pretorio de Pilatos, onde Jesús foi condenado á morte, e,
para atingir o número de quatorze estapoes. dedicou especial veneracao a
mais duas pressupostas quedas do Senhor. Por obra de Pascha e Adricho-
mius, portanto, o exercfcio do Caminho da Cruz recebeu no sáculo XVI a
sua confíguracáo atual.

6. Urna verificarlo interessante se impoe agora ao estudioso:a escolha


das etapas do Caminho da Cruz, hoje usual entre os cristaos, se deve á pieda-
de dos autores de livros de devopao escritos no Ocidente, e nao á prática ob
servada na própria Cidade Santa, ou seja, em Jerusalém (Adríchomius mes-
mo nunca esteve na Palestina).

O curioso fenómeno explica-se muito bem: na cidade de Jerusalém dos


séc. XV/XVI nao se podia pensar em assinalar aos peregrinos estapoes ou pa
radas para cultuarem as diversas fases da Vía Dolorosa de Jesús. Com efeito,
os cronistas da época referem que o ánimo pouco amigo dos turcos ocupan
tes da Térra Santa nao permitía que os fiéis cristaos se detivessem diante das
localidades sagradas do interior da Cidade de Jerusalém; deviam transitar
com a máxima sobriedade pela estrada que o Senhor percorrera com a cruz,
contentando-se com urna prece ou meditacao puramente interna. Sendo as-
si m, entende-se que em Lovaina e Nürnberg, ou na Flándria e na Alemanha
em geral, o exercfcio da Via Sacra fosse celebrado com muito mais aparato
e minucias do que na própria Cidade Santa; foi, pois, nestas regioes, e nao
no Oriente, que a referida devopáo tomou sua forma hodierna.

Estas circunstancias sxplicam outrossim que as cenas atualmente co-


memoradas ñas estapoes do Caminho da Cruz em parte sejam conjeturáis:
principalmente o que se refere ás quedas de Jesús fica sujeito a dúvidas
(lembramo-nos de que a principio se assinalavam sete quedas, quatro das
quais estavam associadas aos encontros de Jesús respectivamente com María
Santíssima, com o Cireneu, com as piedosas mulheres de Jerusalém, com
Verónica). 0 próprío encontró de Jesús com Verónica nao é atestado pelos
documentos escritos senáo a partir do séc. XV; também nao se tem certeza
de um encontró de Jesús com sua Mae Santíssima. É preciso observar aínda
que a serie na qual se sucedem os diversos episodios do Caminho da Cruz é,
por sua vez, hipotética.

7. Tais afirmapoes talvez suscitem perplexidade em um ou outro dos


fiéis cristaos. A perplexidade, porém, se díssipará sem demora após urna re-
flexáo serena sobre o assunto.

10
VÍA SACRA: QUE É7 0RIGEM?

O cenário do Caminho da Cruz é proposto aos fiéis ná"o á guisa de ensi-


namento histórico, para que os cristáos, mediante esse documento, enrique-
cam o seu cabedal de cultura e saber. Nao; as estacóes da Via Sacra sao pro-
postas únicamente para mover a piedade, fomentar o amor a Oeus e a chama
da oracSo. Por conseguinte, nao queira o discípulo de Cristo deduzir conclu-
soes de historiografía ao folhear o seu manual de Via Sacra; procure, antes,
prorromper em atos de fé, esperanca e caridade, mediante o percurso do Ca
minho da Cruz.

É de notar que na Sexta-feira Santa de 1991 e 1992 o S.Padre Joáo


Paulo II, ao realizar o exercício da Via Sacra no Coliseu de Roma, quis alte
rar o conteúdo das respectivas estagdes, substituindo as cenas nao incluidas
no Evangelho por outras, tiradas do texto sagrado. Eis a seqüéncia entao
adotada:

1. Jesús no Horto das Oliveiras


2. Jesús, traído por Judas, é aprisionado
3. A condenacao de Jesús
4. A negacao de Pedro
5. Jesús diante de Pi latos
6. A flagelacao e a coroacao de espinhos
7. Jesús carrega a Cruz
8. Jesús e o Cirineu
9. O encontró com as mulheres de Jerusalém
10. A crucif ¡cacao
11. Jesús e o Bom Ladrao
12. Maria e JoSo ao pé da Cruz
13. A morte de Jesús
14. Jesús deposto no sepulcro

Esta nova ordem é certamente bela e apta a inspirar a meditacao dos


fiéis. Nao consta que tenha sido promulgada pela autoridade da Igreja para
o roteiro da Via Sacra realizada fora de Roma. Como quer que seja, fica a
criterio de cada fiel ou cada grupo de fiéis assumir a nova seqüéncia no exer
cício da sua devocao, pois, como dito, o que importa na Via Sacra é meditar
a Paixao do Senhor Jesús. Tem sido costume acrescentar ás quatorze esta-
c6es urna décima quinta, destinada a contemplar a ressurreicao de Cristo,
visto que Paixao, Morte e Ressurreicao constituem um so Misterio de Páscoa.

8. Por fim, deve ser realcado o papel importante dos Franciscanos na


difusSo do exercício da Via Sacra. Desde o secuto XIV os filhos de SSo
Francisco sao os guardiSes oficiáis dos lugares santos da Palestina; entende-se,
pois, que de modo especial se tenham dedicado á propagacSo da veneracao á
Via Oolorosa do Senhor; em suas igrejas e junto aos seus conventos, desde

11
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

fins da Idade Media tomaram o hábito de erguer as estagoes da Via Sacra;


adotando a serie sugerida por Jan Pascha e Adrichornius, fizeram que esta
prevalecesse sobre todas as congéneres; foram também os filhos de Sao Fran
cisco que obtiveram dos Papas a concessao das numerosas indulgencias ane
xas a tal exercício de piedade. - Grandemente benemérito da devogáo á Via
Sacra é Sao Leonardo de Porto Mauricio OFM, que, por ocasiao de sua ativi-
dade missionária em toda a Italia, de 1731 a 1751, conseguiu erguer 572
"Vías Sacras".

Atualmente a Igrpja concede indulgencia plenária a quem pratique o


exercício da Via Sacra. Para que este possa ser efetuado, requer-se urna serie
de quatorze cruzes (com alguma imagem ou ¡nscricáo, se possi'vel) devida-
mente bentas. O cristio deve perrorrer essas cruzes meditando a Paixao e a
Morte do Senhor (nao é necessário que siga as cenas das quatorze clássicas
estacSes; pode servir-se de algum livro de meditacao). Caso o exercício da
Via Sacra se faca na igreja, com grande afluencia de fiéis, de modo a impos-
sibilitar a locomocao de todos, basta que o dirigente do sagrado exercício
se locomova de estagao em estagáo.

Quem nao possa realizar a Via Sacra ñas condicoes ácima, lucra indul
gencia plenária lendo e meditando a Paixao do Senhor pelo espago de meia-
hora ao menos.1

CURSOS POR CORRESPONDENCIA


ALÉM DOS CURSOS JÁ LANCADOS (S. ESCRITURA, INICIACÁO
TEOLÓGICA, TEOLOGÍA MORAL, HISTORIA DA IGREJA, LITURGIA,
ECUMENISMO, PARÁBOLAS E PÁGINAS DIFlCEIS DO EVANGELHO,
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, OCULTISMO), A ESCOLA "MATER
ECCLESIAE" ESTÁ OFERECENDO NOVO CURSO POR CORRESPON
DENCIA, DESTA VEZ SOBRE OS NOVÍSIMOS (ESGATOLOGIA); VER
SA SOBRE OS ACONTECIMENTOS FINÁIS DO INDIVIDUO E DO UNI
VERSO: MORTE, JUIZO PARTICULAR, CEU, INFERNO, PURGATO
RIO, LIMBO DAS CRIANQAS, SALVAgAO FORA DA IGREJA VISI-
VEL, SEGUNDA VINDA DE CRISTO (PARUSIA), RESSURREICAO DA
CARNE. JUIZO UNIVERSAL, CÉUS NOVOS E TÉRRA NOVA, HABI
TANTES EM OUTROS PLANETAS. A TEMÁTICA É DE GRANDE
ATUALIDADE, POIS OS NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS A ABOR-
DAM COM FREQÜÉNCIA, DESPERTANDO FANTASÍA E EMOCÓES.
ENCOMENDAS E PEDIDOS DE INFORMACOES SEJAM DIRIGI
DOS A ESCOLA "MATER ECCLESIAE", CAIXA POSTAL 1362, 20001-
970 - RIO DE JANEIRO (RJ).

10 que sSo as indulgencias, e o modo preciso de lucrá-las, sSo explica


dos em PP 309/1988, pp. 9Ss.

12
Discute-se

O Celibato Sacerdotal

O celibato sacerdotal é objeto de acalorados debates nos meios de co-


municacáo social e ñas escolas. A insistencia em discutir o assunto provém
do fato de que só pode ser bem entendido a partir dos valores da fé, valores
que ultrapassam a compreensao meramente natural do homem. -A fim de
elucidar a questáo, vai, a seguir, publicado um belo estudo do Pe. Geraldo
Luiz Borges Hackmann, da arquidiocese de Porto Alegre (RS); abrange a
questáo de modo ampio, percorrendo a historia e a motivacao teológica do
celibato. O leitor certamente sentir-se-á feliz por ler as valiosas considerares
do autor, ao qual a Redacto de PR exprime a sua profunda gratidao.

O Celibato Presbiteral: Historia e Motivacoes

1. Introducto

O celibato dos presbíteros está em pauta hovamente. Diversas publica-


poes recentes sobre o assunto expSem argumentos favoráveis ou contrarios.

O clima que envolve hoje o debate em torno do celibato presbiteral, é


o da reivindicacáo: o desejo é o da abolicáo da lei canónica que atualmente
une presbiterato e celibato. O motivo da opiniao pela escolha livre do celi
bato é a falta de vinculacáo teológica entre o carisma presbiteral e o do celi
bato. Também fazem parte deste panorama a reivindicacáo da ordenacSo de
homens casados e a readmissao ao exerci'cio do ministerio daqueles presbíte
ros que o deixaram e se casaram.

Este artigo tem um objetivo bem preciso. Deseja refletir sobre a histo
ria da lei canónica do celibato presbiteral e os motivos que levaram a tórna
lo obrigatório na Igreja Latina.

13
J4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

2. A historia do celibato na Igreja Latina

A apresentacao histórica do celibato é milito variada, seguindo o pon


to de vista dos autores.1 No entanto, é possível buscar coordenadas sobre as
origens históricas da lei canónica do celibato.

a) Os tres primeiros séculos

É inegável a existencia de ministros casados e nao casados desde as ori


gens do cristianismo. O Novo Testamento traz diversos textos que compro-
vam este eos turne. Ainda nao há nenhuma lei canónica, particular ou geral,
que proíba a ordenacáo de homens casados oü que exija a separacao entre o
presbítero casado e sua esposa ou a observancia da continencia no matri
monio.

A única legislacáo existente neste período parece ser a proibica*o de


presbíteros viúvos contrairem novo casamento e viúvos receberem a imposi-
cao das maos para o ministerio presbiteral. O motivo apóia-se em ITm 3,2 e
Tt 1,6: o bispo deve ser homem de urna só mulher ("vir unius uxoris"}. Nes-
se período ainda nao havia distincfo entre o presbítero e o episcopo.1

No entanto, ao lado dos ministros casados, conforme atestam no sácu


lo III Clemente de Alexandria, Orígenes e Cipriano3, paulatinamente cresce
o desejo e a motivacfo para o celibato, sem imposicao de nenhuma lei canó
nica. Assim, a Igreja dos dois primeiros séculos descobre o valor da virginda-
de crista e tem grande apreco por aquelas pessoas ás quais Deus concedeu es-
se dom. Diversos Santos Padres da Igreja assim testemunham. Tertuliano
(aproximadamente 155-220} na obra De exhortatione castitatis recomenda a

1A respeto, ver observacao de H. Crouzet. que toma os argumentos de


fíoger Gryson CLes origines du célibat ecclésiastique: Ou premier au septié-
me siécle, Gembloux 1970) para extrair outras conclusoes: H. CROUZEL,
"II celibato nella Chiesa primitiva" in Sacerdozio e celibato (ed. J. COP-
PENS), Roma 1975. p. 452. O mesmo contra Schillebeeckx; cfr. H. CROU
ZEL, "Le ministére: II • Témoignages de l'Eglise ancienne" in Nouvelle Re-
vue Théologique 104(1982) p. 746.

2. Cfr. A LEMAIRE, "Les ¿pitres pastorales: B. Les ministeres dans


l'Eglise" in Le ministére et les ministéres selon le Nouveau Testament (ed.
J. DELORMEJ, París 1974, pp. 109112.

3. A. VILELA, La condition collégiale des pretres au lile, siécle (Théo-


logie Historique 14), París 1981, p. 41.

14
CELIBATO SACERDOTAL 15

castidade a um seu amigo que havia perdido a esposa.4 S. Cipriano5 V, Cle


mente de Alexandria (este na obra Stromateis ouStromata) recomendam viva
mente o celibato em vista de uma maior liberdade de espirito, baseado no
exemplo de Sao Paulo6.

Orígenes aponta as seguintes razóes para o celibato: paternidade espiri


tual dos presbíteros para os cristaos; a disponibilidade apostólica; um sacrifi
cio como hostia viva e santa oferecida a Deus na própria carne; a virgindade
é uma preparagao para o estado paradisíaco do corpo glorificado, que se dei-
xa assumir totalmente pelo Espirito; as impurezas das relacoes conjugáis7.

O século III apresenta uma mudanca na prática em relacao aos minis


tros. As igrejas do Egito, África e Sfria ¡ntroduzem o costume de preferir or
denar os celibatários. Tertuliano e Orígenes sao defensores deste costume,
por verem maior perfeicao no celibato, além de aconselhar os presbíteros ca
sados a viverem como irmSos com sua esposa. Os motivos elencados sao os
seguintes: com a continencia, o presbítero restabelece a carne em sua dig-
nidade originaria; a continencia permite pertencer ao Senhor sem divisao e
torna o presbítero mais disponível para sua tarefa pastoral ' Assim, come
ta a surgir a idéia de uma certa incompatibilidade entre sacerdocio e matri
monio.10

b) Os sáculos IV e V

Estes dois sáculos apresentam uma mudanpa radical no costume até


aqui existente. Os concilios vao adotando uma legislagao clara sobre o celi
bato sacerdotal. Essa legislacao proibe ao presbítero ordenado celibatário

4. Cfr. J. QUASTEN. Patrología. I primi due secoli (I-MI), Cásale 1983


pp. 543s; C. COCHINI. Origines apóstol iques du célibat sacerdotal, París
1981, pp. 167-171.

s. A. VILELA, op. cit, pp. 328s.


6. C COCHINI, op. cit.,pp. 171-176; A. VILELA. op. cit, pp. 41s.
7. A. VILELA, op. cit, pp. 118-120.
8. TERTULIANO, De exhortadora catitatis 13,4.
9. ORÍGENES, PG 13, 1595; ID.. Fragments sur la Premien aux corin-
thiens, 34.

10. M. DORTEL-CLAUDOT, "IIcelibatoneisecoli"in II pretepergli


uomini d'oggi, (ed. G. CONCETTI), Roma 1975, pp. 737s.

15
H5 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

contrair matrimonio posteriormente e ao presbítero casado continuar a ter


relacoes conjugáis com a sua esposa.

0 concilio espanhol de Elvira (por volta de 305) é o primeiro conci


lio da Igreja no qual se encontram cánones disciplinares sobre o celibato.
Os 81 cánones tratam de questoes muito diversas. O canon 33 proibe aos
bispos, presbíteros e diáconos, ocupados com o altar, terem relacoes sexuais
com a esposa. Portanto, é urna lei de continencia para os ministros casados
antes da admissáo ás ordens. Há referencia a urna tradicao anterior, embora
a lei seja nova.1'

O primeiro concilio de Arles, em 314, adota igual prescricáo do con


cilio anterior, quando, no canon 29, proibe as relacóes sexuais por causa do
servico quotidiano do ministerio sacerdotal. A nao observancia implica na
perda da "honra de clérigo". Como na prescricao do concilio de Elvira, aquí
há urna lei de pureza ritual: a continencia em vista do servico ao altar.13

O concilio de Ancira, também de 314, reunindo bispos da Asia Menor


e da Si'ria, propóe, no canon 10, urna verdadeira lei de celibato sacerdotal,
diferenciándose, por isso, dos dois concilios anteriores. O canon 10 pres-
creve a proibicSo do casamento para o diácono ordenado célibe'3.

O concilio de Neo-Cesaréia (entre 314 e 325) estabelece a mesma proi-


bicáo para o presbítero. O canon 1 prescreve a exclusao da ordem clerical
para um presbítero que se casa.14

Assim, esses dois últimos cánones estabelecem urna verdadeira lei de


celibato, ao lado da lei de pureza ritual, como a formularam osdoisprimeiros
concilios. É possível concordar, emcertosentido.com Schillebeeckx, quando
ele afirma que a lei da continencia ou da pureza ritual está presente na origem
da lei do celibato, mas é necessárío discordar dele quando ele diz ser essa a
única causa.1 s

1'. C. COCHINI. op. cit., pp. 183-186.


12. C COCHINI, op. cit, pp. 186-194.
13. C. COCHINI. op. cit.pp. 194-202; J. LECUYER, Le sacrament
de l'ordination (Theologie Historique 65), París, 1983, p. 56.

1". C COCHINI, op. cit, pp. 202s.


1 \ E. SCHILLEBEECKX, Por urna Igreja mais humana, Paulinas, Sao
Paulo 1989. p. 333.

16
CELIBATO SACERDOTAL V7_

O concilio de Nicéia (325), primeiro ecuménico, defende, no canon 3,


a possibilidade do bispo, presbitero e diácono ter urna ' irmS" consigo, de
acordó com os primeiros séculos da Igreja.16

As razSes para tal legislacáo mostram que a idéia, nascida no sáculo


III, da ligacao do sacerdocio com o celibato foi sendo aceita cada vez mais.
Os argumentos também foram-se impondo e sendo aceitos, tendo em vista a
idéia de que a continencia faz crescer no presbítero a presenca do Espirito
Santo (Joio Crisóstomo), a continencia torna o presbítero mais disponfvel
para o seu oficio apostólico (Eusébio de Cesaréia, Epifánio de Salamina e
Joao Crisóstomo) e propicia a fecundidade espiritual da castidade sacerdotal
(Eusébio de Cesaréia).

c) Do século VI ao final do século X

A legislacáo, no ocidente, permanece imutável. A Igreja continua a or


denar homens casados, embora com a obrigacáo da continencia, apesar de
poder manter a esposa consigo. O Concilio de Clermont, de 535, ensina que o
sacerdocio deverá renunciar á comunidade conjugal após a ordenacao e trans
formar a relacao conjugal em amor fraterno. A Igreja urge a observancia de
tal legislacáo por meio de diversos meios e sancoes17, sinal de que muitas ve-
zes nao foi observada.

A proibigáo, aos ministros célibes, de contrair matrimonio apresenta di-


versidade. Antes de Carlos Magno parece ter sido habitualmente observada.
O problema surge quando Carlos Magno abre escolas para clérigos jovens e é
introduzido o costume de ordenar os presbíteros cada vez mais jovens e edu
cados em vista do sacerdocio desde a infancia. A partir daí, há casos de casa-
memos após a ordenacao, que eram considerados gravemente ilícitos, mas
ná"o inválidos.

Apesar das transgressóes á lei do celibato, motivadas pelas condicóes


sociais ñas quais o clero se vé forcado a vi ver por causa dos beneficios, da si-
tuagáo de muitas igrejas locáis e das investiduras, que fazem chegar ao minis
terio presbiteral pessoas desprovidas de atitudes e de qualidades moráis e re-

. C COCHINI, op. cit.. p.211. Ver interpretafao diferente, no sen


tido de Nicéia nSo querer estabelecer urna leigeraide celibato, conforme El
vira: A. J. ALMEIDA, "O celibato dos presbíteros e dos bispos", in Revista
Eclesiástica Brasileira 197(1990/1) p. 148.

17. Ver exposicaoa respeito:M. DORTEL-CLAUDOT, op. cit.,p. 744

17
J8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

liijiosas adequadas ao ministerio assumido18, a lei se mantém como norma


para a auténtica disciplina sacerdotal. As sancoes nao depoem contra o celi
bato, mas sao sinal do comprovado reconhecimento da unidade entre o sa
cerdocio e o celibato. Os livros penitenciáis consideram a nao observancia do
celibato dos clérigos como um "adulterium", pois o celibato foi prometido
aDous. "

A Reforma Gregoriana no século XI procura atacar o mal pela raíz e.


assim, urge a observancia do celibato para concretizar a finalidade da restau
rado da disciplina do clero. Para atacar a simonía, onicolai'smo e as investi
duras, por parte dos leigos, apela para a Tradicáo e para os Santos Padres,
com a finalidade de restaurar a disciplina amiga e auténtica da Igreja. Apesar
de tudo, a "vita canonialis", incentivada por Gregorio Magno, nao teve o su-
cesso almejado.20

Assim, a situacao do clero no final do século X pode ser dividida em


tres grupos: o primeiro, padres ordenados já casados, que podiam coabitar
com a esposa, mas obrigados á continencia; o segundo, ministros ordenados
jovens que permanecem fiéis e poucos praticando a "vida canonialis"; o ter-
ceiro, o grupo dos ordenados jovens que contraem matrimonio apósa orde
nacao, apesar de ser considerado inválido.

d) Os sáculos XI e XII

Dois concilios tornaram universal e obrigatória a lei do celibato: o pri


meiro concilio de Latráo (1123) e. explícitamente, o segundo concilio de
Latrao (1139), nos cánones 6 e 7. Esse último concilio, ao declarar nulo o
matrimonio contraído após a ordenacao, concluí urna historia iniciada no
século IV e que se estende até o século XII. No entanto, o que importa é ver
as motivacoes para a decretacao dessa lei que proibe a ordenacao de padres
casados ou que exige a identidade entre o carisma do ministerio presbiteral
e o carisma do celibato. A partir daí, o matrimonio passa a ser um impedi
mento para a ordenacao sacerdotal.

e) Do século XIII em diante

Após esses dois concilios, nao há novidade na legislacao canónica so


bre o celibato.

18. A M. STICKLER. "Evoluzione delta.disciplina del celibato nella


Chiesa d'occidente dalla fine dell'etá patrística al concilio di Trento" in Sa-
cerdozio e celibato, op. cit., pp. 508-512.

19. A M. STICKLER. op. cit.. p. 517.


20. A. M. STICKLER, op. cit.. pp. 535s.

18
CELIBATO SACERDOTAL

O papa Inocencio III, empenhado incansavelmente pela reforma do


clero, reconfirma as decisoes dos concilios anteriores no IV concilio de |_a.
tráo (1215) e decreta a deposicSo dos clérigos que nSo observam a lei do ce
libato e continuam a celebrar a Missa, apesar de previamente censurados (cf.
DS 817). Os papas Alexandre III, Clemente III, Honorio III, Gregorio IX e
Bonifacio VIII continuam no mesmo caminho..Igualmente os concilios de
Constanca (1414-1418) e de Basiléia (1431-1437).

O concilio de Trento. ñas sessóes XXIV (11 de novembro de 1563} e-


XXV (3 de dezembro), confirma a disciplina vigente (cf. DS 1809), procu
rando coibir a nova observancia do celibato e a oposicao proveniente da Re
forma.21

A partir da metade do sáculo XVII, nao há serios problemas na obser


vancia do celibato, como era desejado pelos reformadores desde a época
gregoriana. A formacao recebida nos seminarios e a valorizacao da espiritua-
lidade contribu iram para chegar a esse resultado.12

Recentemente, o concilio ecuménico Vaticano II confirma a legislacao


sobre o celibato sacerdotal: "O Sacrossanto Sínodo torna a reconhecer e a
confirmar esta legislacSo para os que se destinam ao Presbiterato, confiando
no Espirito que o dom do celibato, tao coerente com o sacerdocio do Novo
Testamento, seja outorgado com liberalidade pelo Pai (. . .)" (Presbyterorum
Ordinis 16).

f) Conclusao

Esta breve exposicio histórica pode ser concluida com algumas obser-
vacoes, decorrentes da mesma:

1. A lei do celibato foi nascendo espontáneamente, a partir da consci-


éncia do valor do celibato como dom de Deus e conseqüente af inidade entre
esse e o sacerdocio;

2. Apesar de toda a pressao contra a lei do celibato e a falta de obser


vancia do mesmo em varios períodos de sua historia, contudo, a Igreja nun
ca colocou em questáo o fundamento e a aplicacSo da lei, aceitando-os;

3. Quanto mais brilha a fidelidade da Igreja a Cristo, tanto mais o celi


bato é aceito e vivenciado. A reforma da vida da Igreja sempre caminhou
junto com a reforma do clero, chamado a ser sinal de seguimento de Jesús
Cristo.

2 '. P. PALASSINI, "Celibato ecclesiastíco" ¡n Dizionario storico reli


gioso (ed. P. CHIOCCHETTA). Roma 1966, p. 110.

22. M. DORTEL-CLAUDOT.op. c¡t.,p. 752.

19
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

3. As motivagoes da lei canónica do celibato

As opinioes acerca dos motivos que conduziram á formulacao do caris-


ma do celibato como urna lei obrigatória para a Igreja latina sao muito diver
sas. Há os que defendem a motivacao económica como a predominante, pois
o celibato dos presbíteros evitaría a dispersao dos bens eclesiásticos por nao
haver heranca a ser repartida entre filhos, manteado, deste modo, a concen
tra-pao dos bens ñas maos da Igreja e contribuindo para aumentar seu po
der2 3. Outros opinam que na origem está a lei de continencia ou de pureza
ritual, tendo por base a visao negativa da sexualidade c do matrimonio.24
Outros defendem a opiniao de que a lei do celibato eclesiástico está liga
da á sacrali'.acáo progressiva do servir.o pastoral. A razao fundamental dista
posicao é o aumento do número de presbíteros nue, sem se ¡mportarem com
a lei de pureza ritual, preferem manter-se celibatários por motivos espirituais
e para poderem, assim, melhor desempenhar o servico sacerdotal, que pro-
gressivamente adquire um caráter sacra I pelo afastamento do presbítero da
esfera secular. Há ¡números testemunhos dos Santos Padres que confirman*!
esta opiniao.25

Isto levou a constatar a presenca de urna profunda motivacao espiritual


para o celibato desde o inicio, aue va i predominando até chegar a estabele-
cer-se como urna lei canónica. Esta posicao parece estar mais de acordó com
o núcleo central da ligacáo entre sacerdocio e celibato e mostra mais clara
mente a harmonía entre ambos, pois destaca a novidade da ¡nspiracao crista
sempre presente, apesar da variacao das razoes explícitas (Sacerdotalis caeli-
batus 18). É o que será exposto a seguir.
a) O fundamento evangélico do celibato (dímensío cristológica e es-
catolbgica):

Refletir como cristao sobre o celibato implica, necessariamente, buscar


as razoes do mesmo ñas palavras e no exemplo de Jesús Cristo, origem inspi-

23. E. SCHILLEBEECKX, Por urna Igreja mais humana, Paulinas. Sao


Paulo 1989, p. 334.

2\ IBIO..pp. 329-334.
ls. J. AUDET, Matrimonio e celibato nal servizio pastorale dalla Chie-
sa, Brescia 1977. pp. 31-47; A. VILELA. La conditión collégiale des prétres
au lile siécle, París 1971, p. 400; H. CROUZEL, "Celibato e continenza
ecclesiastica nella Chiesa primitiva" in Celibato e Sacerdozio (ed. J. COP-
PENS), Roma 1975. pp. 451-304; ID.. "Le ministére dans L'Eglise. fíéfle-
xions á propos d'un ouvrage récent. II. Témoignages de L'Eglise ancienne"
in Nouvelle Revue Théologique 104 (1992) pp. 745-747.

20
CELIBATO SACERDOTAL 21_

radora do seguimentc cristáo, e reconhccé-lo como um dom do Espirito á


Igreja.

A fascinacáo exercida por Jesús Cristo em alguns levaram-nos a abando


nar tudo e assumir o estilo de sua vida, inclusive o celibato. Jesús foi celiba-
'ario, embora esta condicao nao estivesse de acordó com os costumes he
braicos, e o propoe a outros como urna forma de viver.2 6

O texto onde claramente aparece a proposta específicamente celibatária


é o de Mt 19,11 -12.J 7 Jesús explica que a razao para nao contrair matrimonio
é "por causa do Reino dos céus". Isto significa que o "Reino dos céus tor-
nou-se o maior de todos os valores para varios seguidores de Jesús, que, por
isso, abandonaram tudo e renunciaram á familia. Seguir Jesús nao implica
apenas acnlher a s.ua mensagem, mas unir-se a Ele no anuncio escatolóqico
da proximidade do Reino de Deus.28

Nesta passagem do evangelista Mateus, encontra-se um preceito de Jesús


sobre o modo prático de viver daqueles que o seguem como norma de vi
da. D. Marzotto opina que é o servico ao Reino que ao mesmo tempo con-
duz á opcao celibatária e á consciéncia da própria vida como um sinal des-
te.29

Por isso, o celibato supoe urna profunda atitude interior de fé em Dei>s


e de abertura aos dons do Espirito, que dá a cada pessoa um dom particular,

: 6. G. GRESHAKE, Essere pretj, Brescia 1984. p. 166.


17. NSo se abordará aquí a questSo se o seguimento de Jesús exige ne-
cessariamente o celibato, conforme poderte sugerir Le 14J26 e 18,29 (com
paralelos}. Sobre esta questfio ver D. MARZOTTO. Celibato sacerdotale e
celibato di Gesü, PIEMME, Cásale Monferrato 1987, pp. 63-115. O texto de
Mt 19, 11-12 nao suscita dúvidas quanto é proposta celiba tíria eé aceito e
usado como tal pelo Magisterio (p. ex., declaracSo Ad Catholici Sacerdotii
(20/12/1935} de fío XI, n. 49; Menti Nostrae (23/09/1950} de. fío XII, n.
17; Prrebyterorum Ordinis 18} e pelos teólogos (p. ex., £ SCHILLEBE-
ECKX, op. cit., pp. 327ss.}; A. PENNA, "II carima del celibato nel Nuovo
Testamento" in II prete per gli uomini d'oggi (ed. G. CONCETTI), Roma
1975, pp. 707-734.

2 8. Esta é também a opiniSo de J. Sobrino: "O celibato 6, portanto,


urna traducSo histórica de que o reino de Deus é, na verdade, algo último e
possibilita um tipo de seguimento pelo reino" (J. SOBRINO, RessurreicSo
da verdadeira Igreja, Sao Paulo, Loycla 1982. p. 327}.

2'. D. MARZOTTO, op. cit., pp. 72 e 74.

21
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

confnrme Paulo express.i em 1 Cor 7,7 ("Quisera que todos os homens fos-
sem como eu; mas rada um recebe de Deus o seu dom particular; . . ."). O
homem que acolhe o dom do celibato se aprosenta diante de Deus numa
pobreza radical: sem nonhum apolo em coisas e em pessoas.É o caso dos Do-
ze ("Eis que deixamos nossos bens e te seguimos! Jesús Ihes rlisse:em verda-
de eu vos digo, nao há quem tenha deixado casa, mulher, irmaos, pais ou fi-
Ihos por causa do Reino de Deus . .." Le 18. 28-30). Oeste modo, o presbí
tero celibatário poderá crescer pessoalmente na fé e gerá-la em outras pes-
soas.30

Assim se estabelece urna relacáo essencial entre a vida do presbítero e a


missao de Jesús e seu projeto existencial: a plena submissáo á vontade do
Pai para a edificacao do Reino de Deus. Paulo VI também vé nesta relacao
pessoal mais íntima e mais completa ao misterio de Cristo o motivo profun
do do celibato (Sacerdotalis caelibatus 54). Eis ai a possibilidade de encon
trar o verdadeiro significado da vida celibatária de Jesús, concebido num
matrimonio virginal, e a de seus seguidores: para consagrar-se ¡nteiramente
ao amor de Deus e das pessoas através do anuncio do Reino de Deus. Jesús
nao só anuncia o Reino, mas é sinal dele por meio de sua própria vida.31 Ai
também se verifica a dimensáo escatolónica do celibato, enquanto sinal do
Reino futuro, que vira quando Deus for tudo em todos (1 Cor 15,28).

b) O celibato e o sacerdocio sSo dois carismas diferentes, mas ligados


entre si por razoes de conveniencia:

Este ponto é o alvo da maioria das críticas contra a obrigatoriedade do


celibato para os presbíteros. No entanto, o ministerio presbiteral e o celiba
to sao duas vocacóes, ou dois carismas diferentes Apesar de nao haver ne-
nhuma fundamentacSo teológica que justifique a ligacáo entre ambos,32
contudo estío associados. Mas nao únicamente por urna imposicao legal,
fruto de urna lei canónica. Se esta aconteceu, foi por urna descoberta pro-
gressiva, como já está claro tanto pelo aspecto histórico quanto pelo cristo-
lógico e escatológico. Por que nao afirmar que esta descoberta é fruto da ilu-
minacao divina, agindo na vida da Igreja?

A razáo apresentada pelo Vaticano II para a ligacáo entre ambos é que


"o celibato se ajusta de mil modos ao sacerdocio" (Presbyterorum Ordinis

30. Cfr. J. SOBRINO, op. cit., pp. 326s.


31. A. FAVALE, II ministerio presbiterato, Roma 1989,p. 353.
32. A Presbyterorum Ordinis afirma, no n. 16, que o celibato nao é
exigido pelo sacerdocio "por sua natureza".

22
CELIBATO SACERDOTAL

16). O Papa Joao Paulo II. na carta aos sacerdotes por oc?siáo da quinta-fei-
ra santa de 1979. volta a reafirmar o mesmo. pois vé o celibato como um
dom do Espirito intrínsecamente ligado ao sacerdocio.33

A ligac?o entre estes dois carismas nao se encontra no campo da racio-


nalidade, mas no da sabedoria crista.34 Por isso, as razoes aduzídas a favor
da supressao da obrigatoriedade do celibato da Igreja latina (motivos de or-
dem sociológica, antropológica, teológica ou pastoral} n?o atingem o cerne
rio problema. Antes, abordam o sacerdocio únicamente numa perspectiva
funcional, esquecendo. portanto. a motivacio espiritual.35

Estes dois carismas estao em perfeita harmonía com as exigencias ma<s


radicáis do Fvangelho e sao assumidos por aqueles que se sentem chamados,
pelo impulso do Espirito, a viver estas duas vocacoes. Evidente que o celiba
to, assim como o ministerio presbiteral, deve ser objeto de urna opcao livre
e responsável, após madura reflexao e abertura á mocao do Espirito. Desta
forma, a lei do celibato se acrescentará como urna conseqüéncia natural da
acto divina na vida do homem disposto a seguir radicalmente a Cristo.36 Is-
to nao significa isencao de dificuldades humanas, mas comporta a necessida-
de de cultivar o carismaquotidianamente, tornando cnvel seu testemunho.37

K. Rahner, ao concluir sua carta aberta sobre o celibato, expressa a


correspondencia positiva entre sacerdocio e celibato, possfvel de ser aínda
hoje experimentada.38

3 3. Carta de Joá*o Paulo II a todos os sacerdotes da Igreja (08/04/1979)


n. 8.

34. Cfr. A. FA VALE, op. cit., p. 343.


35. Éa opiniao de M. MARINI, "Celibato e fraternitá"¡n Sacerdocioe
celibato, op. cit., p. 895.

3 6. Segunda visita de JoSo Paulo II ao Brasil, Discurso aos representan


tes de todo o clero do Brasil, n. 4, in L'Osservatore Romano, edicSo sema
nal em portugués. XXII(42),20/10/1991,p. 8;A. FAVALE.op. cit..p.345

37. Favale nao nega a humanidade da pessoa do presbítero, mas ao


mesmo tempo afirma a necessidaríe de cultivar o dom do celibato permanen
temente (cfr. A. FA VALE. oo. cit., p. 346). Por isso, a Presbyterorum Ordi-
nis indica diversos meios para o presbítero cultivar o dom da própria voca-
(So e "implorar a graca da fidelidade" ^Presbyterorum Ordinis n. 16; 12 e
13). Paulo VI também reconhece o mesmo, acrecentando que a graca de
Deus acompunha aqnele que opta pelo celibato: Sacerdotales caelibatus 48e
50-52

38. Cfr. K. RAHNER, Novo sacerdocio, Herder, Sao Paulo 1968, p. 141

23
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

Nao é a lei do celibato responsável pela falta de vocacóes para o sacer


docio. A experiencia das Igrejas protestantes o confirma, porque entre eles
também faltam vocacSes para o ministerio de pastor, apesar de poderem-se
casar.39 A vocarao ao presbiterato é um dom dado á Igreja e, por isso, esta
tem o direito e o dever de fixar as condicóes para o acesso a ele. E a Igreja
Latina prefere correr o risco de perder aqueles que sentem vocacao para o
sacerdocio e nao para o celibato, a fim de nao renunciar ás vantagens espiri-
tuais e p^storais que derivam do ministerio presbiteral celibatário.40

Diante disto, deve ser frisado que a Igreja, ao unir o ministerio presbi
teral ao celibato, nao está obrigando o candidato ao sacerdocio a renunciar
ao matrimonio, porque sao duas vocacoes, ou seja, dois chamados diferentes
assumidos dentro do misterio da Igreja, cada um com um significado pro-
prio. Optar pelo celibato por causa do Reino de Deus.é urna graca r«cebida
de Deus, e nüo simplesmente urna lei imposta pela Igreja latina.4'

c) O celibato proporciona maior disponibilidade para o servico pasto


ral e éfonte de caridade pastoral e fecundidade espiritual (dimensa'oeclesial):

O documento do Vaticano 11 sobre os presbíteros justifica o celibato


apontando-o "ao mesmo tempo como sinal e estímulo da caridade pastoral e
fonte peculiar da fecundidade espiritual no mundo" (Presbyteromm Ordinis
16). Outro documento, do mesmo Concilio, aponta-o como meio de servico
aos ¡rmáfos com um "coracao indiviso", pois o consagra somente a Deus (Lu
men Gentium 42).

0 Vaticano II encontra urna fundamentacao, ao mesmo tempo, pasto


ral e mística para o celibato. E. Schillebeeckx é de opin'áo de que a mística
e o apostolado sa*o "dois aspectos ou duas dimensoes, recíproca e intrínseca
mente ligadas, da única vida de fé crista"".42 Isto justifica alguém nSo casar
para poder ficar plenamente livre para o trabalho eclesial. Mas motivacao

39. Ver, p. ex.. G. GRESHAKE. op. cit, pp. 179s.;A. FAVALE, op.
tít.. p. 348; Sacerdotal» caelibatus 49.

40. A. FAVALE, op. cit., pp. 345e348; O sacerdocio ministerial. Si-


nodo dos Bispos, 81.

4'. Assim pensa o Carde?) Hóffner, ñas suas conhecidas dez teses so
bre o celibato; cfr. J. Card. HOFFNER. "Per ilregno deicie/i. Dieci fes/su/1
celibato dei preti" in Sacerdozio e celibato (a cura de J. COPPENS), pp.
788-790. 0 mesmo pensa J. LAPLACE, O padre á procura de si mesmo, £.0-
yola, SSo Paulo 1971, pp. 62s.

42. Cfr. E. SCHILLEBEECKX, op. cit., p. 335.

24
CELIBATO SACERDOTAL 25_

nao pode ser apenas o "nSo casar", pois o celibato é a efetivacao de urna
consagrarán plena ao Reino de Deus.

O celibato assim vivido possibilita ao presbítero uma generosa disponi-


bilidade para as pessoas. Uma familia limita as possibilidades de doacáo ás
pessoas. É urna disponibilidade nao apenas física, mas afet'va e prática.
Quem nao conhece a atencSo que uma familia requer, o cuidado necessário
a ser dispensado á esposa e aos f ilhos? Também nao se pode exigir que a es
posa e os filhos compartíIhem os mesmos ideáis de doacao a Deus e aos ir-
mios próprios de quem faz uma opcáo para o sacerdocio celibatário. Assim,
o presbítero exerce outro tipo de paternidade e maternidade: o do Bom Pas-

O celibato nSo incapacita a pessoa do presbítero para reconhecer as


necessidades humanas nem o torna insensfvel ao próximo, mas o celibato,
assumido com amor e como fruto da consagracao a Deus, torna-o mais pró
ximo dos outros e sensível aos seus problemas e dificuldades (Sacerdotalis
caelibatus 57; O sacerdocio ministerial, Sínodo dos Bispos, 78).

0 presbítero celibatário, chamado a uma íntima relacáo com a pessoa


de Cristo, porque é continuador da missSo de Jesús, poderá contribuir para
a construcao da nova humanidade, que encontra na Igreja o lugar de inspira-
cao e concretizacao. Ele poderá dedicar todas as suas energías e capacidades
ao anuncio do Evangelho, aos sacramentos e a tornar a comunidade centro
de comunháo, respondendo ás suas necessidades espirituais e materiais. Ele
congregará a comunidade pela dimensao construtiva do amor, crendo e tes-
temunhando o Deus que é amor.44

43. "O sacerdote, mediante o seu celibato, tornase um homem "para


os outros", de maneira diversa de como se torna tal aquele que, ligando-se
em unidade conjugal com a muiher, se torna também ele, enguanto esposo e
pai, homem "para os outros". sobretudo no ámbito da própria familia; para
a esposa, é, juntamente com ela, para os filhos, aos quais dáa vida. O sacer
dote, ao renunciar a esta paternidade que é própria dos esposos, procura
uma outra paternidade e rea/mente como que uma outra maternidade, se re
cordamos as palavras do Apostólo acerca dos filhos que ele gera com o sofri-
mentó. Esses assim sSo filhos do seu espirito, homens confiados pelo Bom
Pastor á sua solicitude. E tais homens sá~o muitos, mais numerosos do que
quantos possa abranger uma familia humana" (Cana do Papa Joa"o Paulo II
a todos os sacerdotes da Igruja. 08 de abril de 1979. n. 8).

*4. A. FA VALE. op. cit., p. 354; J. SOBRINO, op. cit.,p. 327; Pros-
byterorum ordinis 4-6.

25
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

d) O celibato nao é, em primeiro lugar, renuncia ao matrimonio, mas


vocacao para o amor:

O celibato nao pode ser definido negativamente, como se fosse mera


renuncia ao matrimonio. Ele nao é, em primeiro lugar, renuncia ao amor ou
medo da sexualidade e do casamento, muito menos incapacidade para cons
tituir urna familia, mas a opcao por urna forma de amar diferente da do ma
trimonio. Jesús Cristo foi celiba'.ário e nao renunciou ao amor. Por isso, o
presbítero descobre outro amor e assim estrutura o seu projeto existencial,
nao constituindo familia (O sacerdocio ministerial, Si'nodo dos Bispos, 73).4 5

O presbítero celibatário opta por amar com radicalidade o Reino de


Deus, assumindo com empenho total o estilo de vida celibatária de Jesús, pa
ra assim, como Ele, poder dedicar-se exclusivamente ao anuncio do Reino de
Deus. Este torna'-se o único amor, ou o "amor maior" da vida do presbíte
ro.46 É por isso que a Presbyterorum Ordinis, no n. 16, apresenta o "por
causa do Reino dos céus" como a razao para o celibato, evitando, desta for
ma, qualquer motivagao negativa. Portanto, celibato e matrimonio sao dois
chamados diferentes, que exigem a descoberta e o reconhecimento do dom
dado a cada pessoa e a vivencia com igual empenho na busca da perfeicao.

O celibato só pode ser entendido e vivenciado como fruto de urna es-


col ha por Deus, ou seja, pela difusáo de seu Reino e pela comunicarlo dos
frutos da Redengao aos irmá'os, por meio de urna dédicagáo indivisa. A op-

4S. K. fíahnerassim escreve na sua carta aberta sobre n celibato: "Pes-


soalmente. estou descontente com esta carta, que nSo esclarece bastante o
que existe de fé, esperanca, amor a Deus (que é mais do que urna cifra a ser
valorizada pelos homens) e aos homens no misterio da renuncia ao matrimo
nio" (K. RAHNER, op. cit,, p. 135).

A6. Assim J. I aplace expressa a vivencia deste amor; "Seria necessário


provar que o celibato nao é um valor de ordem específicamente sobrenatu
ral. É de ordem humana, na medida em que urna pessoa dirige para fim di
verso das relacoes sexuais ou conjugáis as energías afetívas que possui. Ha
causas que cativam a tal ponto a atencSo e o coracSo do homem que, entre
gándose a elas, ele se expande inteiramente. Nao é a renuncia ao casamento
que está em primeiro lugar em seu projeto; é a riqueza e a importancia de
um amor diferente rio amor da muiher que polariza toda a capacidade que o
homem tem de amar. É um amor que unifica e dá sentido á existencia, dife
rente do amor sexual e conjugal" (¡n J. LAPLACE, op cit., p. 62). G. Gres-
hake nao concorda com o emprego da palavra "renuncia" para o celibato,
porque nSo exprnssa o verdadeiro sentido do celibato enquanto descoberta
e opcSo por outra forma de amar (cfr. G. GRESHAKE, op. cit., p. 168).

26
CELIBATO SACERDOTAL _27_

Cao celibatária é feita por causa dos valores importantes que comporta es
te estilo de vida. A lei se acrescenta como resultado e como estímulo á fide-
lidade nos momentos difíceis, nao como ponto de partida. Portanto, como
já está dito anteriormente, a opcáo nao é simplesmente pelo celibato em si,
mas os valores que ele comporta conduzem á opcáo celibatária. Para tal
acontecer, o presbítero deverá viver numa constante abertura a graca, da
qual ele sempre necessitará para poder ser fiel.41

Nao há oposicao entre matrimonio e celibato, mas, ao contrario, enri-


quecimento recíproco e complementariedade. Celibatários e casados podem
ser de estímulo mutuo por meio de urna vocacao bem assumida e viven-
ciada. O celibatário nao desconhece os problemas matrimoniáis, pois ele,
pelo constante contato com casáis, adquire condicoes de ajudá-los. I numeras
ve'zes e chamado para tal. O celibatário exerce um servico ao matrimonio co
mo sinal do amor a Deus, dimensao última do amor humano, ao qual mesmo
o amor entre duas pessoas nao pode deixar de estar referido. O presbítero,
por isso, permanece sinal e testemunho do amor de Deus.48

e) O celibato tem um valor perene:

O celibato tem um valor que permanece atual. O testemunho dado pe


lo celibatário continua vál'do para os dias de hoje. O Papa Joáo Paulo II afir
ma que o celibato tem também um grande significado social pelo servico que
presta ao Povo de Deus, pois o presbítero se torna um "homem para os ou-
tros". Mas de maneira diversa daquela que ocorre quando alguém se liga pelo
matrimonio a urna mulher. O presbítero é "homem para os outros" no ám
bito do Espirito e sua paternidade é universal, pois orientada para toda a
Igreja.4'

J. Sobrino assim entende esta dimensá'o: "O celibato é, portanto, a tra-


ducao histórica de que o Reino de Deus é, na verdade, algo último e possibi-

. Cfr. A. FA VALE, op. r.it., p. 345. Joáo Paulo II assim se exp'essa:


"Fruto de equívoco — se nSo precisamente de má fé — éa opiniSo, com i're-
qüéncia difundida, segundo a qual o celibato sacerdotal na Igreja Católica se
ría simplesmente urna instituició imposta por lei aqueles que recebem o sa
cramento da Ordem" fin Carta de Joáo Paulo II a todos os sacerdotes, n. 9).

48. G. GRESHAKE.op. cit.,pp. 169-171.


4Í. Cfr. Carta de Jo3o Paulo II a todos os sacerdotes da Igreja, 08de
abril de 1979, n. 8. J. Sobrino aponía o celibato como um exerctcio da fé
que impede a manipulacao de Deus e, por isso, tem repercussSo social (cfr.
X SOBRINO, op. cit., p. 326).

27
28 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

lita um tipo de seguimento pelo reino. Possibiüta um tipo de liberdade estru-


tural ao servico do Reino, pois propicia a desinstalacao da sociedade; possi-
bilita urna entrega quantitativa aos outros através do vazio efetivo; possibili-
ta viver naquilo que chamamos deserto, a periferia e a fronteira".so

0 celibato tem um grande potencial de solidariedade, sinal do qual a


sociedade técnico-científica de hoje tem necessidade. Esta mesma sociedade
nroduz pessoas incapazes de amar, pois impregnadas de egoísmo ou sem
condicoes afetivas para assumir sua condicao e dignidade humana; filhos
abandonados, pois há tantos pa¡s incapacitados e impedidos de concretizar
sua missao de paternidade e maternidade. Assim, o presbítero celibatário
torna-se um testemunho de verdadeiro amor cristao e de esperanca para os
que nao creem mais que o amor é redentor. Por meio do celibato, ele solí-
dariza-se com todos os que perderam a capacidade de amar ou estSo sendo
impedidos de urna verdadeira realizacao afetiva, porque testemunha o amor
de Deus como o amor maior e fonte de todo amor humano.

A leí canónica do celibato ná"o abafa a beleza do carisma, pois este é


um dom dado pelo Espirito. Aínda mais, porque a p»ssoa pode renunciar li-
vremente a um direito seu, que no caso é o de casar. Importa, outrossim,
que este dom seja assumido com total liberdade e. plena consciéncia, após va
rios anos de preparacao, ref lexao e oracao.5 '

4. Conclusao

Estas reflexóes levam a tirar as seguintes conclusoes:

a) O celibato só será bem compreendido dentro do misterio total da


Igreja. Isnlado, torna-se incompreensível. Alguém poderá achar ultrapassa-
dos ou inválidos os motivos alegados pela Igreja a favor da lei do celibato. A
Igreja latina considera-o válido ainda hoje e náb tem a intencao de mudá-lo,
conforme declara o Vaticano II (cfr. Presbyterorum ordinis 16) e Paulo VI
(cfr. Sacerdotalis caelibatus 14 e 43).5J

so. J. SOBRINO, op. cit, pp. 328s.


s'. JoSo Paula II afirma o seguir) te: "Todo cristao que recebe o sacra
mento da Ordem se compromete ao celibato com plena consciéncia e liber
dade, depois de urna preparacao de varios anos, urna profunda reflexSo e
urna assfdua oracao" (in Carta de JoSo Paulo 11 a todos os sacerdotes, 08 de
abril de 1979. n. 9).

5 3. A Favale opina parecer pouco realista a opiniao de que o celibato


opcional nao prejudicaria o ministerio presbiteral (A. FA VALE, op. cit., p.
348).

28
CELIBATO SACERDOTAL 29

b) É necessário promover a formacáo para o celibato. Sem esta, o ce


libato permanecerá sendo sempre um empecilho para o desenvolvimento
harmónico da personal¡dade e para o exercfcio da liberdade pessoal, além de
possibilitar o contra-test emunho, o que deporta contra o dom de Deus e
contra aqueles que assumem este dom com fidelidade. Nao é suficiente pre
parar o candidato ao sacerdocio apenas para o ministerio presbiteral. É pre
ciso prepará-lo para urna opcao livre e madura pelo celibato e educá-lo para
vivé-lo responsavelmente (cfr. O sacerdocio ministerial. Sinodo dos Bispos,
83; Sacerdotalis caelibatus 69). Uto inclui urna verdadeira formacao afetiva,
pela qual o candidato ao sacerdocio alcance verdadeira capacidade de amor
oblativo, encontrando auténtica realizacSo humana e crista53, além do
equilibrio fi'sico e psicológico.54 A recente Exortacao Apostólica pós-sino-
dal Pastores dabo vobis faz a mesma afirmacáo: "Ora, a educacSo para o
amor responsável e a maturidade afetiva da pessoa tornam-se absulutamente
necessárias para quem, como o presbítero, é chamado ao celibato, ou seja, a
oferecer, pela graca do Espirito e com a resposta livre da própria vontade, a
totalidade de seu amor e de sua solicitude a Jesús Cristo e á Igreja" {cf. Pasto-
ris dabo vobis 44).

c) 0 celibato continuará sendo sempre urna questao de opcao pessoal.


0 desenvolvimento histórico mostra claramente que nem todos tém capaci
dade para entender este dom nem optar por ele. Já Cristo, de acordó com o

53. "O padre ou o futuro padre corre o risco de acreditar que está re-
solvida, para ele, a questSo do celibato, porque aprendeu a falar, a respeito
de Deus e dos outros, a Hnguagem do amor" (J. LAPLACE, op. cit.,p. 67).
"Em que estado é mais fácil amar? No celibato ou no casamento? Tem pou-
ca importancia a resposta. O que se deve saber é que o celibato, tanto quan-
to o casamento, exige fio/e ser vivido cristSmente numa maturidade humana
maior que antigamente. Impoe-se, nos dois casos, urna educacSo" ¡IBID., p.
70). Favale opina que aquele que é dotado de suficiente maturidade afetiva
e de normal equilibrio físico e psíquico, se é chamado á vida celibatária,
com a ajuda da graca, conseguirá dominar as forjas das instintos do corpo,
os impulsos do coracSo e se encontrará em condicSes de valorizar as suas
melhores capacidades (cfr. A. FA VALE, op. cit., p. 347). Por isso a Santa
Sé recomenda a necessária formacao para a maturidade afetiva e sexual em
vista do celibato (cfr. SAGRADA CONGREGAQÁO PARA A EDUCACÁO
CATÓLICA, Orientacoes para a educacSb no celibato sacerdotal, 11 de abril
de 1974, 29-33).

54. Sobre isto ver: T. GOFFI, L'integrazione affetiva del sacerdote,


Brescia 1968; P. CHAUCHARD, "Celibato ed equilibrio psicológico" in
Sacerdozio e celibato, op. cit.. pp. 836-867; S. CRUCHON, "Celibato e ma-
turitá. L'ora delta scelta" in Sacerdozio e celibato, op. cit., pp. 801-831.

29
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

texto de Mt 19,12, previne: "Quem tiver capacidade para compreender,


compreenda". Por isso, antes de perguntar sobre as razoes da Igreja ligar mi
nisterio presbiteral e celibato, o candidato ao sacerdocio deve questionar-se
para ver se reconhece em si próprio, na humanidade e na Igreja, o valor deste
carisma.ss A orientacao prudente e sabia do Diretor Espiritual favorecerá a
escolha livre feita por amor de Cristo, sem pressao de ¡mposicao exterior
(cfr. O sacerdocio ministerial, Si'nodo dos Bispos, 82; Sacerdotalis caelibatus
72). As críticas e objecdes atuais sao mais históricas do que existenciais e
teológicas, nao apresentando alguma novidade.5 *

d) O celibato é também questao de vida espiritual, pois a motivacao


última será sempre religiosa. O celibato é um carisma dado pelo Espirito e
acolhido na fé. Jesús Cristo torna-se, por isso, a fonte na qual o presbítero
poderá alcancar o equilibrio de vida no celibato e o modelo de integracáo de
todas as energías afetivas, enquanto conteúdo do amor presbiteral.57 K.
Demmer afirma que o presbítero, exatamente por isso, deve ter urna "perso-
nalidade religiosa".5 B

Por isso. a Igreja recomenda diversos meios favorecedores da vivencia


e da f idelidade ao celibato. Entre esses estao a oracio, a ascese, o cultivo de
profunda vida espiritual, a disciplina, os sacramentos, a fraternidade sacer
dotal, o desenvolvimento integrado da personalidade. Isto, sem esquecer que
o celibato é urna conquista permanente, fruto de um trabalho progressivo e
incessante, em busca da maturidade humana ecrista".5'

5 s. J. LAPLACE, op. cit., p. 66.


56. Sacerdozioe celibato, op. cit, pp. 733s.
. "Esse amor só se desenvolve na fé. Se esta desaparece ou diminuí,
o amor desmorona. Produz-se o desequilibrio ateos fundamentos do ser hu
mano. Os remedios que se procuran», claudicar» enquanto vacila a fé. Na rea-
lidade é de dois lados, ao mesmo tempo, que se devem considerar as coisas:
o da maturidade humana e o da fé. Sem a prímeira, a fé vivida no amor do
celibato pode ser frágil. Sem a segunda, o desabrochamento do homem no
celibato pelo Reino é impossi'vel" (J. LAPLACE. op. cit., p. 84).

58. "0 sacerdote... deve dar conta de si mesmo; por isso requer-se
sua competencia teo/ógico-espirítual, unida á sua perspicacia no aqui e ago
ra, o quanto possfvel" (cf. K. DEMMER, "Puede vivirse hoy el celibato?" Se
lecciones de teología 120 (1991/30) 319).

5*. Presbyterorum Ordinis 16 e 18; Sacerdotalis caelibatus 73-82; SA


GRADA CONGREGACÁO PARA A EDUCACAO CATÓLICA, "Orienta-
coes para a EducacSo no Celibato Sacerdotal", 11 de abril de 1974.

30
Ainda os Novos Movimentos Religiosos:

O Fundamentalismo
Contemporáneo

Em símese: O Fundamentalismo é a atitude do homem religioso que,


amedrontado por avancos da ciencia e da cultura contemporánea, se fecha
em verdades de sua fé tidas como fundamentáis. Tal atitude ocorre nSo so-
mente entre crístSos, mas também entre judeus e muculmanos. O fundamen-
alista cristSo se apega a um livro sagrado (a Biblia ou um código de Revé-
lagoes, como existe entre os mórmons e os adventistas do 79 día); a Biblia é.
muitas vezes, interpretada ao pé da letra, sem se levar em conta os aspectos
lingüísticos, históricos e geográficos que podem ajudar a compreender o tex
to. Um chefe espiritual, dotado de grande autoridade, é tido como mestre
seguro dos discípulos fundamentalistas; estes costumam ser pouco intelec-
tuais e muito dados ás emocoes (pessimismo em relacSo ao mundo e á his
toria).

Devese reconhecer que o Fundamentalismo procede do desejo muito


nobre de guardar valores sagrados ameacados pelo secularismo e o hedonis
mo de nossos días. Todavía assume atitude exageradamenteagressiva e som
bría em relacio ás expressoes da ciencia e da cultura contemporánea. 0 Cris
tianismo nao é primeiramente combate ao erro, mas, é, antes de mais, pro-
fissio da verdade; esta ¡á tem forca defensiva e atraente em si mesma; so-
mente em funció da verdade o cristSo combate o erro. Ademáis o apavora-
mentó do Fundamentalismo resulta, nao raro, de inseguranca em materia de
fé. Quem sabe nítidamente o que éeo que nSo é de fé, pode enfrentar com
destemor as proposicoes da ciencia moderna, pois tem argumentos para dis
tinguir da verdade os erros neta existentes.

Em suma, é preciso guardar os dois aspectos do ser humano: homo re-


ligiosus, sim, mas também animal rationale. A razio bem conduzida nSo se
opoe a urna fé lúcida e adulta, mas, ao contrario, é apta a corroborá-la.

ú-tt-d

O fenómeno dos Novos Movimentos Religiosos — impropriamente di


tos "seitas" — preocupa a sociedade ocidental, por ser caráter proselitista e po-

31
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

lemico, que, nao raro, explora a credulidade popular e tem acarretado pro
blemas diversos. Ora na base de varios desses movimentos religiosos de ori
gem crista, está urna atitude chamada "Fundamentalismo"; os seus adeptos
querem conservar o que há de fundamental na fé dentro, porém, de catego
rías de pensamento fechado e agressivo.

O Fundamentalismo nao é urna atitude exclusivamente protestante e


norte-americana, embora tenha tido origem entre os protestantes dos Esta
dos Unidos. Com o passar do tempo, foi afetando também outras crencas
religiosas e novas regiSes. Atualmente existem fundamentalistas católicos,
protestantes e anglicanos, judeus e muculmanos; quase todas as seitas de ori
gem crista podem ser tidas como fundamentalistas.

1. Origem e historia do Fundamentalismo

O fundamentalismo surgiu no Sul e no Centro dos Estados Unidos da


América, no chamado Bible belt (cinturSo da Biblia) em meados do sáculo
XIX. Apresentava-se como a corrente fiel ao pensamento cristSo.

— frente ao pensamento científico e cientificista representado por


Darwin e a teoría evolucionista mecanicista;

— frente ao pensamento liberal, que punha em xeque ou em dúvida as


verdades fundamentáis do Cristianismo, como a concepcao virginal de Maria
Santíssima, a realidade do inferno, a existencia da ordem de coisas sobre
natural. . .;

— frente ás ciencias históricas, que, aplicadas á S. Escritura, pareciam


desmentir a mensagem bíblica, reduzindo-a a lendas.

O ambiente de origem dessa corrente eram pequeñas cidades da zona


rural dos Estados Unidos, onde o conservadurismo encontra mais clima pro
picio do que na zona industrial e ñas grandes metrópoles.'

No final do sáculo XIX o Fundamentalismo exerceu influencia notável


sobre a cultura norte-americana, influencia que se protrairia pelas décadas
do sáculo XX. O núcleo (hard core) de sua doutrina foi formulado nos fa
mosos Five Points da Niágara Bible Conference em 1895; tais eram:

1) a inspiracao divina de toda a S. Escritura e a conseqüente inerrancia


desta;

2) a Divindade de Jesús Cristo;

32
FUNDAMENTALÍSIMO CONTEMPORÁNEO 33_

3) o nascimento virginal de Jesús;

4) a expiacáo dos pecados mediante o sangue de Cristo;

5) a ressurreicao corporal e a segunda vinda de Jesús Cristo.

Em virtude do primeiro ponto, os fundamentalistas contestavam a le-


gitimidade do estudo científico (ou histórico-critico) da Biblia. Queriam ig
norar que a Biblia nao foi ditada mecánicamente pelo Senhor Oeus; sabe-se
que o pensamento de Deus passou por cabecas e máos humanas, que o trans-
mitiram com plena fidelidade, dando-lhe, porém, as marcas da sua cultura
arcaica oriental. Ao mesmo tempo, os fundamentalista estabeleciam urna
autoridade indiscutível ao alcance de todos os homens, fonte de certeza e
fundamento seguro da fé.

O quinto ponto apregoava o milenarismo, ou seja, a segunda vinda de


Cristo para instaurar, sobre a térra, um reino milenar de paz e bonanca. Esta
concepcao, já professada por cristaos dos primeiros séculos (S. Justino, S.
Ireneu, Tertuliano...), cairia em descrédito, mas fora restaurada na Inglater
ra em principio do sáculo XIX. Grande arauto de tal doutrina foi Cyrus Seo-
field, autor da Scofield Reference Bible (1909), que quis mostrar como se
podia interpretar toda a mensagem bíblica em chave milenarista. Assim iner
rancia bíblica e milenarismo vieram a ser os ingredientes básicos do Funda-
mentalismo norte-americano.

O Manifestó dos Cinco Pontos de 1895 seria apenas um documento de


circulacáTo limitada a teólogos conservadores, se, entre 1909 e 1915, as suas
idéias nao se tivessem difundido mediante um instrumento de comunicacáo
de massa: o folheto. Em 1909 apareceu o primeiro de doze folhetos intitula
dos The Fundamentáis: a Testimony to the Truth (Os Fundamentalistas:
um testemunho dado á Verdade); resultavam da colaboracao de protestan
tes filiados a denominaedes diversas: presbiterianos, anglicanos, luteranos,
metodistas, congregacionalistas, batistas. .. Tais impressos, patrocinados pe
los irmábs milionários de Los Angeles Lipman e Milton Steward, foram en
viados gratuitamente a pastores, misionarios, estudantes de Teología e agen
tes de Pastoral dos Estados Unidos e da Gra-Bretanha, alcancando a tiragem
aproximada de tres milhóes de exemplares. Assim o debate, que originaria
mente era apenas de nt'vel teológico, veio a ser assunto para mobilizar as
consciéncias, convite para tomar partido e lutar contra os avanpos do pensa
mento liberal.

Contribuiram para a expansSo do movimento fundamentalista alguns


acontecimentos de ressonáncia nacional e internacional:

33
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

1) a fundacáo de Institutos e AssociacSes Bi'blicas nacionais (norte


americanas) e internacionais, tais como o Los Angeles Bible Institute, o
Moody Bible Institute de Chicago, a Baptist Bible Unión of América. Em
1919 constituiu-se a World Christian Fundamentáis Association, propugnan
do um projeto de reconquista do mundo ameacado pela cultura libertina
moderna; tendía outrossim a assumir posicdes de influencia dentro das diver
sas denominacoes protestantes.

2) A batalha para que as leis do Estado proibissem o ensino das teorias


evolucionistas de Darwin ñas escolas públicas. Tal luta foi vitoriosa em qua-
tro Estados: Tennessee (1925), Mississipi (1926), Arkansas (1928), e Texas
(1929). Tornou-se famoso o caso de John T. Scopes, professor de Biología
numa Escola Superior de Dayton (Tennessee): acusado de ensinar o darwi-
nismo, foi levado a tribunal. O jornal New York Times divulgou o processo,
motivando o público a participar do julgamento, fosse pro, fosse contra o
darwinismo. Scopes acabou sendo condenado.

3) 0 movimento fundamentalista viveu seus anos de gloria entre 1910


e 1920, época em que a poh'tica internacional se preocupou com o aumen
to da potencia armada da Alemanha e o triunfo da revolucao comunista na
Rússia. A mentalidade milenarista identificou o Imperio Alemáo com a Bes
ta do Apocalipse (cap. 13) e a ideologia marxista com o Anticristo, precur
sor do iminente jui'zo final. De um lado, estaría o Reino do Mal e de Sata
nás; do outro lado, uma grande nacao chamada por Deus para defender a li-
berdade e a fé do mundo; os Estados Unidos apareciam assim como o novo
Israel da historia da salvacáb. Inflamava-se o patriotismo norte-americano
em nome da Biblia!

2. O Fundamentalismo hoje

A córreme fundamentalista sobreviveu ao longo dos decenios até nos-


sos dias e ná*o parece estar peno de se dissipar. A atitude básica do Funda
mentalismo penetrou, segundo proporedes diversas, em correntes religiosas
nao protestantes e mesmo nao cristas. Donde as perguntas: como se apresen-
ta atualmente o Fundamentalismo? Qual a sua influencia na mentalidade
dos homens religiosos de hoje?

- Na verdade, a resposta é complexa, visto que o fenómeno funda


mentalista admite varios matizes. Como quer que seja, eis alguns dados se
guros:

1) Em nossos dias nao existe um Movimento Fundamentalista, mas es-


tao presentes em certos grupos religiosos um estilo e uma concepcSo de vida

34
FUNDAMENTALÍSIMO CONTEMPORÁNEO 35

fundamentalista. O Prof. H. L. Mencken, em frase exagerada e burlesca, es-


crevia: "Heave an egg out of a Pullman window and you will hit a Funda-
mentalist almost anywhere in the United States (Lance um ovo para fora de
urna janela de um ónibus e vocé golpeará um fundamentalista quase em toda
parte nos Estados Unidos)".1 0 mesmo se poderia dizer, cada vez mais acer
tadamente, a respeito de outros pai'ses.

2) Embora o Fundamentalismo tenha sido bercado pelo Protestantis


mo norte-americano, ele integra hoje outros grupos com nomes variados: ¡h-
tegrismo, neoconservadorismo, new orthodoxy. Moral Mayority, Adventis
tas do 79 día, Testemunhas de Jeová, Meninos de Deus, assim como corren-
tes do islamismo e do judaismo. Pode existir também dentro do mundo ca
tólico, como ocorreu no caso dos discípulos de D. Marcel Lefébvre. '

3) O Fundamentalismo está-se tornando também urna forca política,


que invade outros setores da vida da sociedade contemporánea. Na política
norte-americana o voto dos fundamentalistas foi decisivo para a eleicáo de
Jimmy Cárter e a de Roña Id Reagan, Presidentes dos Estados Unidos. Tam
bém na Guatemala o Presidente protestante Rios Montt foi beneficiado pe
los sufragios dos fundamentalistas. No Ira e no traque, sabe-se que existe
urna maioria de populacSo muculmana fundamentalista. Na Algéria, o Parti
do dos Fundamentalistas islámicos conseguiu maioria ñas últimas eleicoes
embora nfo haja assumido o poder. Na Franca, o Fundamentalismo mucul-
mano está suscitando graves problemas.sociais, educativos e políticos. Adi-
fusSo de novos movimentos religiosos na América Latina é, em boa parte,
devida á atuacao de fundamentalistas.

4) O Fundamentalismo tem-se revelado muito sagaz na difusao de


suas concepcoes. Utiliza o marketing publicitario, os meios sofisticados de
recolher dinheiro, inclusive o mailing por computador, os recursos da tele-
visao que caracterizam as "igrejas eletrónicas" com seus telepregadores (fa
mosos sSo nos Estados Unidos Jim Bakker, Jimmy Swaggart. Pat Robertson,
Jerry Falwell, Robert Schuller...).

5) Em suma, a ficha de identidade (identikit) do fundamentalista de


nossos días poderia compreender os seguintes traeos:

— Na política, conservador

— Na religiao, tradicionalista e integrista, contrario ao ecumenismo e


ao diálogo inter-religioso

1 Citado por Daniéle Hervieu-Léger. Les fondamentalistes américaint


en politique, in Lumiére et Vie, 186 (1988). p. 19.

35
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

- Em Moral, intransigente e n'gido

- Na sociedade, intolerante e legalista

- Em seu modo de pensar, tendente ao antüntelectualismo e antipro-


gressismo, pois propenso á emocao e á exploracio dos sentimentos (o que
ocorre, por excelencia, nos mass media)

- Sociológicamente, pertencente a diversas classes, com predominan


cia da classe media

- Frente á historia, pessimista quanto ao presente e portador de ex


pectativas sinistras para o futuro.

Esta análise nao significa que todo individuo conservador, amigo da


Tradicao, fiel ás leis, firme em materia de Moral. .. seja fundamentalista. O
fundamentalista é aquele que associa em si as notas atrás recenseadas numa
atitude pessimista, obcecada, fanática. . .

Dentre as modalidades do Fundamentalismo, urna se destaca por sua


projecao nos países latino-americanos: o Fundamentalismo bíblico. Exami-
nemo-lo de perto.

3. O Fundamentalismo bíblico

Eis as características principáis deste movimento:

1} O Livro, a letra, o chefe espiritual

Todo fundamentalista baseia sua vida sobre um livro de importancia


capital, no qual procura as verdades que alimentam a sua inteligencia, os
principios que norteiem o seu comportamento e as diretrizes para a sua vida
espiritual. Tal livro, para os judeus, é a Torah; para os muculmanos, o Corlo;
para muitos crista os, a Biblia; para outros grupos religiosos, é o l'tvro dei xa-
do pelo fundador tido como pessoa profundamente sabia ou altamente ins
pirada para interpretar a Biblia.1

1 Recordemos, por exemplo, que, para os Adventistas do 79 Día, a


obra "O Grande Confuto", de Ellen Gould White, é quase tao inspirada por
Deus quanto a Biblia. — Para os mórmons, o "Livro de Mormon"é fruto de
"revelacoes" feitas ao fundador Joseph Smith "a respeito da pienitude do
Evangelho eterno"; é quase tSo sagrado quanto a Biblia, pois vem a ser a tra-
dufSo de urnas placas de ouro, ñas quais se apresen tava urna mensagem em
idioma egfpcio antigo /reformado), mensagem que Smith terá decifrado com
a ajuda do anjo Moroni.

36
FUNDAMENTALÍSIMO CONTEMPORÁNEO 37

Tal livro básico é interpretado ao pé da letra. Nao se requerem ciencias


exegéticas (lingüistica, arqueología, historia e geografía antigás) para decifrá-
lo corretamente. O fundamentalista vé em cada palavra e em cada sentenca
da Bi'blia a Palavra e a linguagem de Deus, sem levar em conta o instrumento
ou o canal humano do qual Deus se ten ha servido para comunicarse aos
homens; o estudo da personalidade do autor humano de um livro sagrado
(Isaías, Jeremías, Sao Joao. . .) tornase desnecessário e desprez ível.

Apenas urna autoridade é reconhecida na ¡nterpretacáb do texto


sagrado: a do mestre ou chefe espiritual. A este os discípulos atríbuem
um prestigio ¡ndiscutível, de modo que as interpretacóes da Biblia por ele
formuladas tém quase a mesma autoridade que a Palavra de Deus.' Tal
mestre pode ser urna pessoa ou um colegiado de estudiosos (andaos), como
ocorre entre as Testemunhas de Jeová. Em conseqüéncia, prevalece entre os
fundamentalistas o argumento de autoridade: "A Biblia diz... O Mestre as-
sim entende a Biblia...".

Com outras palavras diga-se:

A Biblia tem seus géneros literarios (narrativas históricas, tradicoes de


familia, parábolas, alegorias, profecías, partes apocalípticas. . .). Estes cons-
tituem um desafío para o leitor: tomar todo e qualquer texto ao pé da letra
implica, nao raro, trair o pensamento do autor sagrado, pois, se este teve em
mira urna parábola ou urna alegoría, nao deve ser entendido literalmente.
Como entao interpretar adequadamente as páginas bíblicas, redigidas entre o
sáculo XIII a.C.e o sáculo I d. C?

Os grupos fundamentalistas atribuem ao seu chefe ou mestre a autori


dade segura para expor o sentido da Biblia. Muitas vezes, porém, tem-se a
impressao de que tal mestre, em vez de deduzir da Biblia a respectiva men-
sagem, nela ¡ntroduz o que ele pensa de maneira simplista e arbitraria. Te-
nha-se em vista o que ocorre com os relatos da criacao em Gn 1-2: os líderes
fundamentalistas valem-se destes textos para rejeitar as teses da ciencia sobre
a origem do mundo e do homem; nao levam em conta nem o género literario

1É de notar que, entre os Adventistas, o fundador William Millar pro-


pos os anos de 1843 e 1844 (em duas interpretacoes sucessivas) como datas
de fim do mundo. Os discípulos se prepararam fervorosamente para o even
to. Visto, porém, que nada aconteceu do que esperavam. William Miller for-
mulou urna explicacao que todos aceitaram tranquilamente: "Na verdade,
em 1844 ocorreram fatos muito importantes, mas no mundo invistvel ou
no céu, onde Cristo se encontra, oficiando na parte superior do Santuario
em favor dos homens".

37
38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

nem a finalidade estritamente religiosa do texto sagrado.1 Algo de semelhan-


te se dá com o Apocalipse de Sao Joao, tido como repertorio de profecías
relativas a catástrofes e fim do mundo, por parte de milenaristas, adventis
tas, testemunhas de Jeová. ..

2) O mundo como inimigo

Os fundamentalistas professam geralmente a tese de que o mundo mo


derno é regido por Satanás, o "Príncipe deste mundo" (cf. Jo 12, 31). Aos
crentes tocaría a tarefa de reconquistar o mundo, arrancando-o das garras de
Satanás. Tenha-se em vista o significativo título do livro de Susan Rosa:
Keeping them out of the hands of Satán2 (New York 1988): esta autora
aponta, como sinais evidentes do dominio de Satanás no mundo, o materia
lismo que degrada o homem ao nivel dos animáis irracionais, o libertinismo
sexual, a prática do aborto, da eutanasia, a criminalidade em alta escala. ..
De modo geral, a cultura moderna é rejeitada pelo Fundamentalismo, que a
tem freqüentemente na conta de diabólica.

3) Dogmatismo

O fundamentalista difícilmente admite o diálogo religioso ou a análise


objetiva de suas idéias. A verdade está com ele, e somente com ele. Interessa-
Ihe, sim, ganhar adeptos para seu modo de pensar, inspirado pela Bfblía en
tendida segundo as diretrizes do mestre de sua denominado. Daf também a
recusa do pluralismo teológico ou exegético.3 Na obra Lettreaux Eglisesde
F. Bluche e P. Chaunu (París, Ed. Fayard, 1977, p. 59), lé-se:

"Que é o pluralismo? É um slogan hipócrita que permite introduzir ao


menos um ateu em cada redil de ovelhas".

1 Paradoxalmente, pode ocorrer também o inverso: diante de conclu-


soes muito evidentes das ciencias naturais, o fundamentalista pode procurar
adaptar o texto da Biblia ás proposicoes da ciencia, como se Moisés, por
exemplo, no secuto XIII a. C. Jé tivesse descrito a origem do mundo como ela
é concebida pela ciencia contemporánea. A essa tentativa de concordia (pre
concebida e artificial) entre a ciencia e a fé dá-se o nome de concordismo.
Este faina, pois supoe que a Biblia quería ensinar o que as ciencias naturais
ensinam; nao se leva em conta a finalidade estritamente religiosa do texto
sagrado.

7 Defendé-los das míos de Satanás.

3Por pluralismo entendem-se duas ou mais maneiras de formularas


verdades da fé, ressalvada sempre a ortodoxia; assim Tomismo e Molinismo
em questdes de grapa e livre arbitrio humano; Tomismo e Escotismo, em
questoes crístológicas. ..

38
FUNDAMENTALÍSIMO CONTEMPORÁNEO 39_

Por conseguinte, dentro dos quadros do Fundamentalismo há pouco


lugar para levantar dúvidas ou questionamentos. Existe, antes, a certeza ab
soluta e a conviecáo de que cada adepto do grupo pertenes á élite dos verda-
deiros cristaos. Esta aparente seguranza nao raro esconde o medo... medo
da liberdade e do dinamismo do pensar e do progresso, medo que produz
certo esclerosamento e imobilismo como se estes fossem exigidos pela pro-
pria Palavra de Oeus.

Os fundamentalistas se fortalecem em suas posicoes rígidas, conside


rando casos infelizes e desastrosos que no plano da fé e da Moral ocorreram
e ocorrem entre aqueles cristaos que se dao ao estudo e procuram beneficiar
sua fé com os subsi'dios oferecidos pela ciencia e a cultura moderna. Apon-
tam discordancias entre os pesquisadores, das quais resulta confusao para a
fé do povo simples; consideram abusos intelectuais e moráis para condenar
tudo o que seja abertura ao mundo contemporáneo.

Passemos agora a urna

4. Avaliaqáo

Proporemos tres pontos relativos ao Fundamentalismo entre cristaos.

4.1. Fidelidade aos valores da Fé

O Fundamentalismo parte, sem dúvida, de urna premissa muito válida:


o Cristianismo implica fidelidade á Palavra de Deus, que pode parecer loucu-
ra e escándalo ao homem moderno (cf. ICor 1,23). É preciso nao ceder á
tentacao de esvaziar a Palavra de Deus, adaptando-a arbitrariamente ás diré-
trizes do pensamento racionalista ou hedonista. O fiel católico é conservador
na medida em que se mantém fiel á TradicSo de vinte sáculos através da qual
recebeu a mensagem do Evangelho; tal fidelidade na"o vem a ser motivo de
vergonha, mas, antes, de louvor e estímulo. É certo que muitas das tentati
vas de adaptar o Evangelho ao mundo contemporáneo fracassaram, redun
dando em erros doutrinários e desvíos moráis.

4.2. Apavoramento

Acontece que o Fundamentalismo, querendo guardar os valores funda


mentáis da fé, se deixa tomar de pavor pelas expressoes doutrinárias do
mundo atual e pela acao do demonio. Este medo, que por vezes é agressivo,
resulta, em parte, de inseguranca na profissSo de fé: sem saber exatamente
o que possa ou nSo possa ser adaptado ou atualizado, o fundamenta lista
prefere guardar cegamente as clássicas expressoes religiosas do passado. O

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40 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

pavor Ihe sugere outrossim uma Moral de preceitos negativos ou proibicSes


e a suposícáo de que poucos se salvaráo. Deus aparece entao como Julz jus-
ticeiro e temível, cujo julgamento se aproxima, em vez de se ver em Deus o
Amor que criou benévolamente o homem e morreu na Cruz para salvá-lo.

Ora o Cristianismo é, antes do mais, uma mensagem positiva e alvissa-


reira. Professa a verdade do Evangelho e, somente em funcáo da verdade, de
nuncia o erro. A verdade bem explanada entusiasma e nobilita o homem;
ela possui em si mesma uma forca defensiva. Para dissipar o erro, muitas ve-
zes vasta expor com clareza e firmeza o teor da verdade. - É certo que, em
muitos momentos da sua historia, o cristao tem que refutar erros doutriná-
rios, cultivando a Apologética da fé; mas a sua missao é, antes do mais, vol-
tada para a verdade de Cristo, e nao para os erros dos hereges.

0 Cristianismo reconhece a existencia do pecado no mundo; reconhe-


ce também Satanás e sua acáo sedutora. Mas nao considera o mundo inteiro
como presa do demonio. O cristao sabe que Deus amou o mundo a ponto de
Ihe dar seu Filho único (cf. Jo 3,14s); sabe igualmente que Satanás é um cao
acorrentado, que pode latir fortemente, mas só morde a quem se Ihe chega
perto.

O apavora'mento pode levar muitos fundamentalistas ao desequilibrio


mental. Tem-se verificado, especialmente nos Estados Unidos, que nao pou
cos daqueles que abandonam uma faccao fundamenta lista sofrem de proble
mas psico-afetivos, e difícilmente se readaptam a um modo de vida mais oti-
mista, confiante e aberto ao mundo de hoje (no que este tem de sadio).

4.3. Antiintelectualismo

O estudo sereno e objetivo nao perturba a fé. Ao contrario, diz-se sa


biamente que a pouca ciencia afasta de Deus, ao passo que a muita ciencia
leva a Deus. Em nossos dias, o fiel católico deve procurar conhecer nítida
mente as verdades do seu Credo, pois é interpelado por diversas proposites
aparentemente verídicas e atraentes. 0 estudo realizado dentro da caudal da
Tradicao da Igreja só o pode beneficiar.

Em particular, o entendimento da S. Escritura nao deve depender de


um líder "iluminado" subjetivamente, mas, sim, de pesquisa científica reali
zada em consonancia com a S. Igreja, que bercou a Biblia e goza de especial
assísténcia do Senhor para a entregar genuinamente aos seus fílhos.

O Concilio do Vaticano II enunciou os criterios de ínter pretacao da S.


Escritura, que conciliam entre si análise científica eatitude de fé. Ei-los, re-
produzidos com palavras da ConstituicSo Dei Verbum (sobre a Palavra de
Deus>n9 12:

40
FUNDAMENTALÍSIMO CONTEMPORÁNEO 41_

1. Intencao do autor sagrado: "O intérprete da Escritura deve estudar


com atencao o que os autores sagrados querem dizer e Deus queria manifes
tar mediante tais Palavras".

2. Géneros literarios: "Para descobrir a intencao dos autores sagrados,


é preciso levar em conta. entre outras coisas, os géneros literarios".

3. A cultura do autor sagrado: "Faz se mister considerar atentamente


os modos de pensar, exprimir-se e narrar que estavam em voga na época do
escritor sagrado e também as express5es que entao eram mais habituáis no
coloquio ordinario dos homens".

4. A funcáo do Espirito: "A S. Escritura há de ser lida e interpretada


segundo o mesmo Espirito pelo qual foi escrita".

5. Escritura-TradicSo-Fé: "Para descobrir o verdadeiro sentido do tex


to sagrado, é necessário dar muita atencao ao conteúdo e á unidade de toda
a Escritura, á Tradicao viva da Igreja e á analogia da fé".'

Em suma, o Fundamentalísmo se apresenta aos fiéis como urna alerta


contra tentativas de acomodacSo e concessóes ao secularismo2 de nossos
dias, mas ressente-se de perspectivas unilaterais e exageradas que disseminam
o pánico e certo irracionalismo. É, sem dúvida, necessário preservar os valo
res do homo religiosus, sem, porém, esquecer que este também é animal ra-
tionale (vívente racional).

Este artigo muito deve ao de Antonio Izquierdo: El Furtdamentalismo,


in Ecclesia VI2 (1992). pp. 367-378.

1 Analogia da fé é expressSo paulina (cf. Rm 12,6). Significa a conso


nancia ou a harmonía e a complementado mutua que caracterizam as ver
dades da fé, de modo que a interpretado dada a algum texto bíblico deve
estar em acordó com o conjunto das verdades da fé ou, ao menos, nSo deve
destoar do mesmo.

7Por "secularismo" entenda-se a tendencia a apagar o sagrado dentre


as expressoes do ser humano.

41
Revelando segredos:

As Táticas Anti-Religíosas dos


Governos Marxistas

Em síntese: O artigo refere o teor de treze normas estabelecidas pelos


regimes comunistas do Leste Europeu para sufocar os cristSos, especialmen
te os católicos, nos anos de vigencia do marxismo. Tratava-se de erradicar a
fé religiosa e substitui-la pela ideología marxista, concebida como uma quase
religiao, dadas as suas exigencias radicáis. — Tais normas foram estipuladas
pelos representantes de nove Partidos Comunistas da Europa reunidos em
1947 na cidade de Varsóvia e, pouco depois, em Sofía na Bulgaria.

■üti-ü

Após a queda do comunismo no Leste Europeu, tém vjndo á tona va


rios documentos que informam sobre fatos secretos, planos estratégicos e
táticas peculiares dos Governos marxistas desejosos de extirpar a Religiao.
Esta era tida como um dos principáis fatores de resistencia á plena implanta-
cao do marxismo real. Especialmente renitente era a Igreja Católica, majori-
tária na Polonia, na Hungría, na Lituánia, na Croacia, na Eslovénia e na Eslo-
váquia, sem deixar de ser muito influente nos outros países comunistas. Em
conseqüéncia, os católicos eram alvo de primeira linha da repressao marxis
ta, que os quería abater ou, ao menos, amordacar.

Em vista disto, pouco depois da segunda guerra mundial, ou seja, em


fins de setembro de 1947, reuniram-se em Varsóvia os delegados de nove
Partidos Comunistas Europeus soba presidencia do Sr. Jdanov, mentor ideo
lógico do Partido Comunista da URSS; fundaram o Comité Central de Infor-
macoes, destinado a servir á perseguido religiosa, indicando métodos e coor
denando atividades. Tinha sede oficial em Belgrado, mas o pessoal de servicq
constava de soviéticos.

O Kominform, assim fundado, reuniu-se posteriormente em Sofía


(Bulgaria), resultando daí um plano estratégico anti-religioso a ser aplicado
em todas as "Democracias Populares", feitas as adaptagoes necessáriasa ca-

42
TÁTICAS ANTIRELIGIOSAS DO MARXISMO 43_

da pai's. Duas grandes etapas foram previstas: 1) desbaratar as hierarquias


cristas, únicas organizacdes sólidas e firmes que haviam sobrevivido á segun
da guerra mundial; 2) extirpar das consciéncias a fé crista, substituindo-a
pela ideología comunista atéia, elevada á categoría de novo sistema "reli
gioso".

Seguem-se as diversas medidas que deviam ser executadas em vista de


tais finalidades.1

I. O Plano Estratégico

1. Separar dos seus 'aliados estrangeiros' as comunidades protestan


tes, e desvincular do seu centro romano as instituicoes católicas. Em vista
disto, deveriam ser dispensados todos os Nuncios Apostólicos (representan
tes do Papa) acreditados nos países comunistas. A razao oficial para tanto
era que esses Nuncios haviam sido acreditados junto a Governos anteriores
aos comunistas. As Nunciaturas fícaram abenas, como de costume em tais
casos, durante certo tempo, mantidas por diplomatas subalternos; mas fo
ram finalmente fechadas, visto que nenhum outro credenciamento de Nun
cio Apostólico era possível.

2. Decapitar as comunidades locáis, caluniando, ao máximo, os seus


chefes: entre os católicos, eram assim considerados os Cardeais, os Arcebis-
pos e os Presidentes das Conferencias Episcopais; entre os protestantes, tal
ou tal Bispo calvinista ou luterano, cujo prestigio tivesse repercussáo nacio
nal. A campan ha de calúnias seguiram-se processos e sentencas condenato
rias, baseadas em acusacóes mentirosas. Em certos casos, por motivos táti-
cos, os comunistas se contentavam com a prisao domiciliar da autoridade
religiosa, com proibicao de receber visitas e de intervir em atividades pasto
ra is. A coordenacao bem planejada desses ataques aparece com muita evi
dencia a quem considera as datas dos processos e das sentencas condena
torias.

3. Destruir a unidade do clero, suscitando o "Movimento dos Padres


para a Paz", aos quais as autoridades civis reservavam as melhores paróquias.
Tais sacerdotes eram enviados a todo tipo de reuniSes ou manifestacoes em
prol da paz tanto no interior do pai's quanto no estrangeiro. Seguiam as ori-
entacSes do Governo, e nao as da Santa Sé.

4. Dividir entre si os Bispos privados de seu chefe, sendo entao a berta-


mente favorecidos alguns tidos como 'compreensivos', e atacadossem treguas
os 'duróes' e os 'reacionários'.

1 Estes dados sSo extraídos da revista franciscana "Evangile Aujourd'


hui",nP 152, pp. 15-17.

43
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 368/1993

5. Romper todos os vínculos que aínda pudessem existir entre os sa


cerdotes e os fiéis leigos, decretando a dissolucao de todas as agremiacoes re
ligiosas, paroquiais ou de juventude, inclusive as Ordens Terceiras das gran
des familias religiosas: franciscana, dominicana, carmelita, agostiniana.'

6. Para evitar todas as modalidades de réplica da Igreja, foram nacio


nalizados todos os seus bens: térras, propiedades, edificios, etc.

7. Para melhor ensinar a nova ordem social e a compreensao do socia


lismo em construcao, os diversos governos fecharam os Seminarios diocesa
nos e organizaran! Grandes Seminarios regionais, cujos professores deviam
pedir o Beneplácito das autoridades estatais. A admissao nos Grandes Semi
narios foi limitada por um numerus clausus (número fechado); a autoridade
civil encarregada dos assuntos religiosos é que definia o número exato de Se
minaristas que poderiam ser aceitos para cada diocese. Antes da ordenacao
sacerdotal, o candidato devia pedir o Beneplácito do Governo para tanto.
Antes de assumir urna funga o pastoral (de Vigário até Bispo), todo eclesiásti
co devia prestar juramento de fidelidade ao regime.

8. Para controlar a fidelidade dos eclesiásticos, em cada República Po


pular foi criado um Comité governamental de Assuntos Eclesiásticos, cujos
funcionarios tinham pleno poder de controle, indo até a revogacao da auto-
rizacao de servico pastoral quando o interessado caia na desgraca dos funcio
narios.

9. Para evitar toda influencia religiosa sobre a juventude, o ensino do


Catecismo foi proibido ñas escolas e severamente regulamentado ñas paró-
quias. Era o Comité de Assuntos Religiosos que definia o número de aulas e
o número de alunos matriculados no Catecismo. Ao contrario, o materialis
mo científico e ateu tornou-se disciplina obrigatória no ensino público desde
o grau maternal até as Universidades.

10. Para quebrar o dinamismo do pensamento cristao, Congregagoes


e Ordens Religiosas foram extintas, com excecao das da Polonia e da lugos-
lávia em virtude de razoes políticas. Na Polonia, durante a ocupacáo alema,
as Religiosas e os Religiosos, assim como os presbíteros, pagaram pesado tri
buto por causa da sua fidelidade á patria. Cerca de seis mil sacerdotes polo
neses foram internados em campos de concentracao nazistas. Seja menciona
do, entre outros, o Pe. Maximiliano Kolbe. - Nalugoslavia.se o Marechal Tito
tivesse fechado as Ordens Religiosas, teria sido acusado de hostilidade para

fAs quatro grandes Ordens medie vais ditas "mendicantes" compreen-


dem o que se chama: a Ordem Primeira (que consta de frades), a Ordem Se
gunda (que consta de freirás), a Ordem Terceira (que consta de leigos).

44
TÁTICAS ANTI RELIGIOSAS DO MARXISMO 45

com os croatas - coisa que ele quería evitar a todo preco, pois Tito tinha
bom número de problemas com 'os seus' croatas. . . Por conseguinte, con-
tentou-se com o exterminio de certo número de Religiosos, enquanto outros
foram encarcerados. sempre, porém, 'por motivos pessoais'. . .

11. Paralelamente á destruicao das Ordens Religiosas, as escolas, os


hospitais e os pensionatos cristáos foram estatizados. Sob a nova direcao, to
do o espirito cristao desapareceu dessas instituicSes. Todo professor que
quisesse praticar a sua religiao, foi ¡mediatamente dispensado. Também na
Policía e no Exército a prática da religiao era severamente proibida; o mes-
mo ocorria ñas repartieses públicas, quaisquer que fossem.

12. A fim de que ninguém pudesse protestar contra essas medidas ve-
xatórias ou contra as calúnias, nao raro, muito grosseiras, disseminadas con
tra a fé, a imprensa escrita, radiofónica e televisionada foi estatizada e posta
sob o constante controle do Departamento de Ideología e de Propaganda do
respectivo Partido Comunista. Todas as tipografías e editoras sofreram a
mesma sorte. Qualquer infrator dessas disposicoes - autor de folhas volantes
clandestinas — era sujeito á pena de dez a vinte anos de trabalhos forcados.
Cada máquina datilográfica pessoal era registrada no Departamento de Polí-
cia; antes de poder comprar um mimeógrafo, era preciso que o interessado
obtivesse a permissSo escrita da Policía política até 1960; em varios paí-
ses... até o fim da década de 70.

13. Toda crítica ao regime ou ao Governo era passiva de pena. A Poli


cía política controlava a observancia das suas 'dísposicoes legáis'. Até certos
vocábulos e certas historias eram classificadas em categorías sujeitas a penas
de um, tres, cinco ou até dez anos de prísao ou de campo de concentracao.

II. Refletindo...

As tátícas atrás elencadas revelam bem a intencao hostil e destruidora


do Comunismo frente á Religiao, especialmente ao Catolicismo, que se mos-
trou muito resistente nos países do Leste Europeu. Nao se pode dizer que
tenham perdido sua vigencia após a queda do Comunismo europeu, poís aín
da há países sob duro regime marxista.. . . países onde a religiao até hoje é
duramente reprimida, embora se diga que há liberdade religiosa.

Incumbe aos católicos dos países democráticos ¡nteressar-se por seus


irmaos perseguidos, orando por eles e esforcando-se, na medida do possível,
por levar-lhes alivio e preparar-lhes melhores dias.

45
Relatório anual sobre

As Finan9as da Santa Sé

Periódicamente reúne-se urna Comissáo Internacional de Cardeais


encarregados das finangas da Santa Sé, para fazer o bataneo de receitas e
despesas do exerefeio findo. Ao término da sessáo é publicada urna Co-
municacáo sobre a situac§o financeira do governo central da Igreja.

Aos 22-23/06/92 ocorreu mais urnadessas reunióes, da qual foi dado


ao público o seguinte relatório, que é extraído da edigáo portuguesa de
L'Osservatore Romano datada de 5/7/92, p. 11:

"Nos días 22 a 23 do mes de junbo, realizou-se no Vaticano, sob a pre


sidencia do Cardeal Angelo Sodano, Secretario de Estado, a reuniáo do Con-
selho de Cardeais para o estudo dos problemas organizativos e económicos
da Santa Sé.

Nela tomaram parte os Cardeais Paúl Zoungrana, Eugenio de Araújo


Sales, Jaime L Sin, Ernesto Corripio Ahumada, Joachim Meisner, Ángel Su-
quia Goicoechea, Paulo Tzadua, Albert Decourtray, John Joseph O'Connor,
EdwardBede Clancy, RogerMichael Mahony e Camillo Ruin!.

Também eslavam presentes o Cardeal Edmund Casimir Szoka, Presi


dente da Prefeitura dos Assuntos Económicos, e o Cardeal RosaBo José
Castillo Lara, Presidente da Administracáo do Patrimonio da Sé Apostólica e
da Pontificia Comissáo para o Estado da Cidade do Vaticano.

O Cardeal Szoka apresentou o bataneo da Santa Sé relativo a 1991.

O déficit foi de 100.747.536.372 liras (equivalentes a US$


87.526.257,54, ao cambio de HU 1.151,55 por dólar), derivante da éferenca
entre as despesas: 226.025.997.615 liras (US$ 196.364.202,94), e as entra
das: 125276.461£43 (US$ 108.837.945,40).

46
AS FINANgASDASANTASÉ 47

O mencionado déficit, inferior ás previsóes, granas ao aumento das


entradas loi coberto com as ofertas do Óbulo de Sao Pedro e com as entra
das segurdo o can. 1.271, do Código de Direito Canónico,' que no ano de
1991 air.onlaram a um total de US$ 62.355.495,21, com urna parte do excesso
de exercfcio do Governadorato da Cidade do Vaticano, igual a liras 4.170 mi-
Ihoes, e com os contributos especiáis dados por Instituicóes e Fundacóes.

O balanco aínda nao prevé reservas para o Fundo de Pensóes para o.


Pessoal da Santa Sé, cujo amontar reentra ñas despesas do ano. A 31 de de-
zembro estavam em servico 2.330 pessoas. Os pensionados eram 900.

Reconheceu-se com satisfacáo o constante aumento do Óbulo de Sao


Pedro e das ofertas que os Bispos enviaram á Santa Sé, em ccnlormidade
com o can. 1.271 ("Em razio do vinculo da unidade e da caridade, os Bispos,
segundo as possibitidades da sua diocese, ajudem a fomecer os recursos de
que a Sé Apostólica necessita, de acordó com as condicóes dos lempos, para
que ela possa prestar o devido servico á Igreja universal").

A reuniáo encerrou-se com urna caña aos Bispos de todo o mundo, na


qual se agradece, por intermedio deles, a quantos contribufram com o seu au
xilio económico para o sustento das Reparticóes centráis que colaboram com
o Santo Padre na sua missáo de Pastor da Igreja universai".

Como se vé, a Santa Sé é deficitaria. Compete-lhe enfrentar despe


sas de vulto para convocar e realizar encontros dos membros de suas
numerosas Corr.issóes Internacionais dedicadas ao estudo de diversos
problemas e desafíos da hora presente. Além disto, as exigencias da vida
contemporánea sao cada vez rna¡s minuciosas, impondo sempre a qual-
quer sociedade atualizada a necessldade de grandes recursos. Em conse-
qüéncia, a Santa Sé tem sido sustentada pelos fiéis esparsos pelo mundo
inteiro e solidario com as intencóes apostólicas da Igreja.

Estéváo Bettencourt O.S.B.

1Reza o canon 1271: "Em razio do vínculo da unidade e da caridade, os Bis


pos, segundo as possibilidades de sua diocese, ajudem a fomecer os recur
sos de que a Sé Apostólica necessita, de acordó com as condicóes dos lem
pos, para que ela possa prestar o devido servico é Igreja universal" (Nota da
Redacáo).

47
CORRESPONDENCIA MIÜDA

M.F.L. (Guaraí, Tocantins): O amigo nos apresen.ta um artigo intitula


do "Tem a Igreja o que aprender com Lutero?", e sugere urna análise do res
pectivo texto.

— 0 artigo reproduz numerosas declaracSes de Lutero, que revelam o


seu íntimo modo de pensar a respeito de si como "iluminado de Deus" e da
religiSo. Tais afirmacdes sSo auténticas, porque diretamente retiradas das
obras de Lutero; especialmente as Tischreden (Coloquios de Mesa), proferi
das no fim da vida de Lutero e ná"o raro sob o efeito do vinho, sao significa
tivas, como se depreende da seguinte citacSo:
"Quem nSo eré como eu, é destinado ao inferno. Mínha doutrina e a
doutrina de Deus sSo a mesma coisa. Meujufzo é o ¡ufzo de Deus". 'Tenho
certeza de que meus dogmas vém do céu" (extraído da obra de Funck Bren-
taño. Martinho Lutero, Casa Editora Vecchi. Rio de Janeiro, 3a ed. 1968).
Pode-se crer que Lutero tenha tido o zelo de Deus, mas teve-o dentro
de urna personalidade vítima da educacSo severa que recebeu, e tendente á
morbidez; foi, sim, educado por um pai rígido, que mais Ihe incutia o temor
de Deus do que o amor; estudou a Filosofía de Occam, que dava predominio
á vontade sobre o intelecto; isto implicava que, para Deus, nao haveria lógi
ca; Deus poderia fazer do irracional e ilógico algo de lógico {poderia fazer
um círculo quadrado). Isto contribuiu para incutir mais pavor a Lutero, que
julgava nffo poder contar com a lógica do amor misericordioso de Deus. En-
trou no convento por efeito de urna promessa feita a Santa Ana, quando,
certa vez, escapou de ser fulminado por um raio ao voltar da Universidade.
Por conseguinte, fez-se frade sem vocacáfo, por motivos emocionáis, mais do
que por amor. Procurou viver segundo a Regra de S. Agostinho no convento.
Mas verificava a distancia existente entre o ideal e a sua realidade. A situacSo
se Ihe tornou cada vez mais angustiante, até o dia em que julgou descobrir
em SSo Paulo a solucSo dó problema, solucSo que ele assim formulou: o que
importa á nossa salvacáb, nao é aquilo que fazemos ou deixamos de fazer,
mas é a nossa fé. Donde as palavras escritas ao seu amigo Melanchton a 1?
de agosto de 1521:
"Sé pecador e peca firmemente, mas com mais firmeza aínda eré e ale
gra-te em Cristo, vencedor do pecado, da morte e do mundo. Durante a vida
devemos pecar bastante. Basta que pela misericordia de Deus conhepamos o
cordeiro que tira os pecados do mundo. Dele nao nos há de separar o peca
do, aínda que, em um día, cometéssemos mil fbrnicacoes e mil homicidios".
É Lutero, sim, que está na origem de todo o movimento protestante,
movimento que pretende ser o genuino Cristianismo!... Infelizmente os
protestantes nffo conhecem suficientemente a historia; se a conhecessem,
protestantes nem caluniariam a Santa MSe Igreja!
E. B.

48
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Mosteiro de Sffo Bcnto do Rio de Janairo, destina-se a Oblatos beneditlnos •
pessoas intaressadas em assuntos de «spiritualldade bíblica e monástica.
Alím de um artigo do Pe. ErtívSo Bettencourt OSB, contém traducdet e
comentarios bíblicos e monásticos, e, ainda, a crónica do mosteiro.
O núnwro 94'foi todo ele dedicado a D. Abada Inácio Aceioly, podtndo
ser adquirido atreves da "Lumen Christi", pelo Servfco de Reembolso Postal.
Para 1993, a assinatura ou renovacfo. se ftlta até 31 de Janeiro flearé por
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plicativo documentado, de autoría de D. Mateus Rocha O.S.B.
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