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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDipÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
ÉL vista cristáo a fim de que as dúvidas se
. dissipem e a vivencia católica se fortaleca
" no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
responderemos
SUMARIO

Adao e Eva

"ADignidadedaMuIher"
co

q Cristianismo e Catolicismo

M Que devemos Crer?


tu

3 O Catolicismo através da Historia


O
-^ O Santo Sudario e a Ciencia
V)
< O Chintoísmo
S
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Q.

ANO XXX JANEIRO - 1989 320


OUNTE E RESPONDEREMOS JANEIRO- 1989
Publicacao mensal N? 320

SUMARIO
r-Responsável:
Adío e Eva 1
§vao Bettencourt OSB
:or e Redator de toda a materia
ilicada neste periódico Fala Joao Paulo II:
"A Dignidade da Mulher" 2

r-Administrador:
Hildebrando P. Martins OSB Visao Panorámica (I):
Cristianismo e Catolicismo 16

listracáb e distribuicáb:
Visao Panorámica (II):
coes Lumen Christi
Que Devemos Crer? 22
n Gerardo, 40 - 5? andar, S/501
:(021) 291-7122
Visao Panorámica (III):
xa Postal 2666
O Catolicismo Através da Historia .... 27
101 - Rio de Janeiro - RJ

Sui presa!
O Santo Sudario e a Ciencia 32
I "MARQVESSARAJVA"
caÁfcos i tonofxs &*

(«ico « 54 - CE» »í*0


As Grandes Religioes da Humanidade:
}rj-M4t • 0*9 M MAMra (AJÍ O Chintoísmo 41

lo leitor, NO PRÓXIMO NÚMERO:

nicamos-lhe que o preco da assina- 321 - Fevereiro - 1989


e nossa revista PR 1989 foi estipula
mo segué, em vista dos constantes Aínda a origem dos Evangelhos. — Jesús vi
:es de papel, Correios, mao-de-obra... ve u na India? - Liberdade Religiosa é Indife
sso país. rentismo Religioso? - As Aparicoes da Vir-
gem de Guadalupe (crónica).

ento efetuado até

/89: CzS 10.000,00 COM A PROVAQÁO ECLESIÁSTICA


'89: Cz$ 13.200,00

i da compreensáo de V.S. subscrevemo-nos atenciosamente

A ADMINISTRACAO

iento (á escolha)

.LE POSTAL a Agencia Central dos 3. No Banco do Brasil, para crédito na Con-
rreios do Rio de Janeiro. ta Corrente n° 0031, 304-1 em nome do
EQUE BANCÁRIO MosteirodeS. Bentodo Rio de Janeiro, pá-
gável na Agencia da Praga Mauá (n? 0435).
Adáo e Eva
Cometamos novo ano pouco depois que a ¡mprensa chamou a atenca"o
do público para a criacSo do mundo e de AdSo e Eva (ver JB, 29/11/88,
p. 5, 1? Cad.).
Os relatos bíblicos da origem do mundo (Gn 1-3) nao pretendem ser
narracSes científicas, mas querem ensinar, em estilo primitivo, que tudo o
que existe é criatura de um só Deus (nao há astros nem animáis nem bosques
divinos!). Tal mensagem se compatibiliza bem com a tese da evolucao; Oeus
pode ter criado a materia inicial dando-lhe as leis de sua evolucao até o nivel
do primata superior. Quando este se achava suficientemente organizado,
Deus terá infundido a alma (principio vital intelectivo, que nao é material,
mas espiritual) a esse organismo. Assim terá tido origem a criatura humana.
Esta hipótese (que realmente nao passa de hipótese) já foi aceita pelo S. Pa
dre Pió XII em sua Encíclica Humani Generis (1950).

Quando a Biblia diz que Oeus criou o homem a partir do barro e nele
soprou o principio de vida, está recorrendo a urna ¡magem literaria freqüen-
te entre os antigos. Ela quer dizer o seguinte: como o oleiro está para o bar
ro, assim Deus para o homem; donde se segué que a sabedoria, o carinho, o
dominio, a providencia... que todo oleiro exerce para com o seu barro, Deus
os exerce, de maneira infinitamente perfeita, para com o homem. Tal modo
de falar nao exclui o evolucionismo indicado nos termos ácima; ao contra
rio, críacao e evolucao se conciliam muito bem na concepcáo crista da ori
gem do mundo e do homem.

Á luz destas verdades, vemos que nao se pode dizer que Adao e Eva
nunca existiram ou sao mito e lenda. Existiram de modo tao real quantoé
real a existencia do género humano, cuja origem é abordada em Gn 1-3. A
Biblia quer precisamente narrar o que se deu com o homem nos primordios
da sua historia: logo depois de criado por Deus, foi elevado a dignidade de
filho de Deus (com os dons da chamada "justica original"); submetido a
urna prova para que se confirmasse na filiacao divina, o homem disse Nao
a Deus num ato de soberba e desobediencia, cujo teor é descrito figurada
mente pela Biblia ("fruta proibida"). A elevacao inicial e a queda (o pecado
original) do homem sao proposicoes essenciais da fé crista. S. Paulo desenvol-
ve soDre elas a doutrina do segundo Adao, Jesús Cristo, novo Cabeca do gé
nero humano: como por Adao entrou no mundo o pecado e, pelo pecado, a
morte, por Jesús Cristo (novo Adao; cf. Rm 5,12-14) nos foram devolvidas a
graca e a vida. Por conseguinte, nao é lícito a um cristlo volatizar os primei-
ros capítulos do Génesis como se fossem historias ficticias. Ao contrario,
a Biblia, já no séc. IX a.C, professava a verdade da criacao do mundo e do
homem (sem excluir a evolucío), ultrapassando todas as concepcoes filosó
ficas e religiosas da época pré-cristá!
PUC R
SIU1-T E.B.

r, ;.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXX - N? 320 - Janeiro de 1989

Fala Joao Paulo II:

"A Dignidade da Mulher"

Em síntese: A Carta Apostólica de Joao Paulo II sobre a Dignidade da


Mulher, assinada aos 15/08/88 por ocasiao do encerramento do Ano Maria
no, póe em relevo o significado específico que a Palavra de Deus atribuí á
mulher: por sua feminilidade mesma, ela está especialmente vinculada á vi
da,... á conceicao e á formacSo da vida. Em conseqüéncia, ela é a primeira
mestra de todo ser humano ou do próprio vario, que déla aprende as nocoes
básicas para a estruturacSo de sua personalidade. Tal missio equivale a um
auténtico sacerdocio real (cf. Ex i9,6), que Deus confiou á mulher, ao lado
dos ministerios que Ele quis entregar ao homem na sua especificidade mas
culina.

* * *

Aos 15/08/88, encerrando o Ano Mariano, o Papa Joao Paulo II quis


assinar a Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, sobre a Dignidade e a Voca-
c5o da Mulher por ocasiao do Ano Mariano. Este documento responde ás
justas tendencias, da sociedade atual, de reconhecer o valor insubstituível
da mulher, apontando a exata maneira como o Cristianismo considera a fe
minilidade a partir das fontes da fé. A Carta compreende nove Partes, lógi
camente concatenadas entre si: 1) Introdupao; 2) Mulher-Mae de Deus
(Theotókos); 3) Imagem e Semelhanca de Deus; 4) Eva-María; 5} Jesús Cris
to; 6) Maternidade e Virgindade; 7) A Igreja Esposa de Cristo; 8) Maior
é a Caridade; 9) Conclusao ("Se conhecesses o Dom de Deus").

Percorreremos sucessivamente essas Partes, realcando os seus traeos


principáis.
"A DIGNIDADE DA MULHER"

1. Introdupáo n? 1-2

O Papa Joao Paulo II comeca por observar que a dignidade e a vocacao


da mulher, sempre presentes ao pensamento cristao, tém sido recentemente
consideradas com especial a ten cao. Entre outros testemunhos, cita a Mensa-
gem Final do Concilio do Vaticano II.

"A hora chegou em que a vocacao da mulher se realiza em plenitude,


a hora em que a mulher adquire no mundo urna influencia, um alcance, um
poder ¡amáis alcanzados até agora. Por isto, no momento em que a humani-
dade conhece urna mudanca tao profunda, as muiheres iluminadas pelo espi
rito do Evangelho muito podem a/udar a que a humanidade nao decaía"
(Acta Apostolicae Sedis 58, 1966, 13s).'

Dentro dessa linha de estima que a Igreja vem consagrando á mulher,


está a Declaracáo de Santa Teresa de Jesús e Santa Catarina de Sena como
Doutoras da Igreja em 1970 por parte de Paulo VI. Mais recentes documen
tos da Igreja tém manifestado o desejo de que se aprof undem as premissas
antropológicas e teológicas da dignidade da mulher. Ora precisamente fa-
zendo eco a tais anseios é que se sitúa a presente Carta Apostólica.

2. Mulher-Mae de Deus (Theotókos) (n? 3-5)

Na plenitude dos tempos, diz o Apostólo, Deus enviou o seu Filho ao


mundo nascido de urna mulher (cf. Gl 4,4). Isto nos mostra que no ponto-
chave da historia da salvacáo se dá um acontecimento capital em que entra a
figura de urna mulher. 0 Apostólo nao diz o nome "María", mas, sim, "mu
lher", lembrando as palavras do Proto-Evangelho: "Porei inimizade entre a
serpente e a mulher. .." (Gn 3,15). "Precisamente essa mulher está presente
no evento salvífico central, que decide da plenitude dos tempos; esse evento
realiza-se nela e por meio déla" (n? 3).

Esta mesma Mensagem prossegue nos seguintes termos nSo citados por
Joao Paulo II:
"Vos, muiheres, vos tendes sempre, como responsabilidade, a guarda do
lar, o amor das fontes, o sentido da maturldade. Vos estáis presentes ao mis
terio da vida que comeca. Vos consoláis na partida da morte. Nossa técnica
corre o risco de se tornar desumana. Reconciliai os homens com a vida. E,
sobretudo, velai, nos vos suplicamos,, sobre o futuro da nossa especie. Segu-
rai a mió do homem que, num momento de loucura, tentasse destruir a ci-
vilizaeao humana" (ib.).
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

É de notar que a vinda de Deus ao mundo e a revelado do plano eter


no de salvacSo dizem respeito a toda a humanidade. Sim; todos os homens.
qualquer que seja a sua crenca religiosa, procuram urna resposta para as suas
questdes fundamentáis ("Que é o homem? Qual o sentido da vida?... do so-
frimento?... da morte?..."). Ora a mulher acha-se no coracao da auto-revela-
cao de Deus, que vem ao encontró do homem para responder as indagapoes
deste. Na plenitude dos tempos, portante manifestou-se a extraordinaria
dignidade da mulher. Esta entao assumiu urna forma de uniao com Deus que
é típica e exclusiva da mulher; sim, tornou-se a Theotókos, a Mae de Deus
feito homem; este título significa o ponto culminante da grandeza da mu
lher e, conseqüentemente, do género humano. Com efeito; a dignidade de
todo homem tem a sua medida definitiva na uniao com Deus; ora María é a
expressao mais acabada de tal uniao.

3. Imagem e Semelhanca de Deus (n? 6-8)

A grandeza da mulher tem sua base mais remota no fato de que ela e
o homem foram criados a imagem e semelhanca de Deus; por sua racionali-
dade a criatura humana espelha o Criador e participa do dominio que Este
tem sobre os seres infra-humanos. Assim homem e mulher aparecem, desde
o inicio, dotados da mesma dignidade e natureza; existe urna igualdade es-
sencial entre o varao e a mulher. Mais: um é feito para o outro, de modo que
através do consorcio marital constituem "urna só carne" e transmitem a vida
aos seus descendentes.

"O homem nao pode existir só (cf. Gn 2.18); pode existir somente co
mo unidade dos dois, e portanto em relacao a urna outra pessoa humana..,
retalio recíproca do homem para com a mulher e da mulher para com o
homem" (n? 7).

A reciprocidade existente entre o homem e a mulher deve manifestarse


em auxilio mutuo, comunhao interpessoal e dom de um ao outro. "O ser
pessoa significa tender a própria realizapao, que nao se pode alcancar se nao
por um dom sincero de si mesmo" (n? 7).

A semelhanca do ser humano com Deus é ocasiao para que Deus se re


vele ao homem utilizando nocoes e imagens humanas. Por isto a Biblia atri
buí a Deus predicados masculinos e femininos; Deus aparece nao só como
Paie Esposo (cf. Os 11,1-4; Jr 3,4-19), mastambém como Mae (cf. Is49,14s;
66,13; SI 130, 2s). "Em diversos trechos, o amor de Deus, solícito para com
seu povo, é apresentado como semelhante ao amor de urna mae: tal como
urna míe, Deus carregou no próprío regapo a humanidade e, particularmen
te, o seu povo escolhido, deu-o a luz na dor, nutríu-o e consolou-o (cf. Is
42,14;46,3s)"(n?8).
"A DIGNIDADE DA MULHER"

Ao usar tais imagens, os autores sagrados nao esquecem as limitacSes


da semelhanpa ou da analogía existente entre Deus e o homem: "Deus nao é
homem para que mima, nem filho de Adao para que se retrate. Por acaso
Ele diz e nao o faz, fala e nao realiza?" (Nm 23,19; cf. Os 11,9; Is 40,18;
46,5). Afinal há mais dissemelhancas do que semelhancas entre Deus e o
homem: Deus é "o Diverso" por esséncia, "o totalmente Outro", "Aquele
que habita urna luz inacessi'vel" (1Tm 6,16). Estas dissemelhancas se apli-
cam especialmente á paternidade divina comparada a paternidade humana:
embora se derive de Deus toda paternidade nos céus e na térra. (Ef 3,14s), a
paternidade divina nao implica as características corpóreas (masculinas ou
femininas) que marcam o gerar humano.

4. Eva-María (n9 9-11)

4.1. O principio e o pecado (n? 9)

Ao criar o homem á sua imagem e semelhanca, Deus quis fazer o varao


e a mulher consortes da vida e felicidade do próprio Criador. O homem, po-
rém, abusou da sua liberdade de arbitrio, dizendo Náb ao dom de Deus; a
soberba o moveu a autosuficiencia. O pecado assim cometido foi causa da
ruptura:... ruptura da criatura humana com Deus,... do vario com a mu
lher,... do homem consigo mesmo (ou no seu íntimo) e com o mundo ex
terior... Tal é o pecado da origem ou original; contrapóe-se á justica origi
nal, com que fora prendado o primeiro casal.

Ao descrever estes fatos, a Biblia refere que o inicio do pecado se deu


na mulher: "Nao foi Adao o seduzido, mas a mulher" (1Tm 2,4). Com isto,
porém, o texto sagrado nao exime de culpa o homem. "O primeiro pecado é
o pecado do homem, criado por Deus varao e mulher". É o pecado dos pri-
meiros pais, que por isto tem conseqüéncias hereditarias: os pósteros nasce-
ram, e nascem até hoje, destituidos da grapa santificante e dos demais dons
que os primeiros pais receberam de Deus para os transmitir, mas perderam
pelo pecado (de modo que nao os puderam transmitir).

O pecado dos primeiros pais teve ainda outras seqüelas:

- introduziu a nao semelhanca dentro da imagem e semelhanca de


Deus existente no homem; sim, o--pecado é a antítese da santidade, que se
identifica com o próprio Deus. A ¡magem e semelhanca de Deus nao foram
destruidas, mas ofuscadas e empalidecidas;

— a dor e a morte entraram no mundo (Gn 3,15-19):o homem se afa-


diga para ganhar o pao, a mulher sofre as dores da maternidade tanto no
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

parto como na educacao dos filhos. E ambos, "tirados do pó, voltam ao


pó"(Gn3,19).

4.2. "Ele te dominará" (n? 10)

O ser humano — tanto o homem como a mulher - foi feito para viver
em comunhao,... comunhao que faz a unidade dos dois e a dignidade pessoal
tanto do homem como da mulher. Acontece, porém, que o pecado original
acarretou urna ruptura dessa unidade harmoniosa e complementar, pois dele
decorreu a tendencia do homem a dominar a mulher: "Ele te dominará"
(Gn 3,16). A violacao da auténtica comunhao ou da igual dignidade resulta
em desfavor nao só da mulher, mas também do homem, pois é ofensa á or-
dem instituida pelo Criador.

"A mulher nao pode tornar-se objeto de dominio e de posse do ho


mem" {n? 10), nao só no matrimonio, mas também nao na vida civil. Verda-
de é que o relacionamento entre o homem e a mulher, no curso dos sáculos,
é sempre ameacado pela tríplice concupiscencia dos olhos, da carne e do
fausto da vida (cf. Uo 2,16). Mas será sempre reprovável qualquer situacáo
em que a mulher seja discriminada pelo fato de ser mulher; quando a Escri
tura se refere a tais situacóes, chama o homem a conversáo. Foi precisamen
te fazendo apelo a Lei divina que os escritores cristaos do sáculo IV reagiram
fortemente contra a discriminacao ainda em vigor, a respe¡to da mulher, nos
costumes e na legislacSo civil do seu tempo.

Em nossos dias, a questao dos direitos da mulher tem adquirido novo


significado. É de notar, porém, que a réplica a discriminacao da mulher nao
deve levar á masculinizacao das mulheres; "a mulher - em nome da sua li-
bertacao — nao deve tender a apropriar a si as características masculinas con
trariando a sua originalidade própria; caso ceda a esta tentacao, a mulher
perde a sua riqueza essencial, que é ¡mensa. As prendas femininas nao sao
menos valiosas do que as masculinas, mas safo diversas. A mulher (como tam
bém o homem} deve conceber a sua realizapao na linha de suas prendas tí
picas ou características. Somente por este caminho pode ser superada a he-
ranea do pecado sugerida pelas palavras da Biblia: "Sentir-te-ás atraída para
o teu marido, e ele te dominará" (Gn 3,16).

4.3. O Proto-Evangelho (n? 11)

Ao referir a sentenca sobre a criatura pecadora, o livro do Génesis


anuncia também a salvacao no chamado "Proto-Evangelho": "Porei inimi-
zade entre ti (serpente) e a mulher, entre a tua descendencia e a déla; esta te
esmagará a cabeca, enquanto tu te I ancas contra o seu calcanhar" (Gn 3,15).
É significativa a mencSo da mulher neste contexto; ela, representando o gé-

6
"A DIGNIDADE DA MULHER"

ñero humano, é mencionada em primeiro lugar; é ela que inicia a inimizade


contra a serpente. Nesta funcao de protagonistas da luta contra o mal emer-
gem duas figuras femininas: Eva e María.

Com efeito; as palavras do Proto-Evangelho realcam tao fortemente a


mulher porque com ela tem principio a nova e definitiva Alianca de Deus
com a humanidade, Alianca selada pelo sangue do Redentor. Assim a primei-
ra Eva prenuncia a segunda Eva, a Mae da Vida por excelencia, que é María.
Alias, no decorrer da historia da salvagáo, Deus quis servir-se de algumas mu-
Iheres, como a mae de Sansao e a de Samuel; na plenitude dos tempos quis
servir-se de Maria, significando que a nova Alianca quer precisamente realcar
a dignidade da mulher.

O ti'tulo de "nova Eva" quer dizer, entre outras coisas, que "Maria é o
novo princi'pio da dignidade e da vocacao da mulher, de todas e de cada uma
das mulheres". "Grandes coisas fez em mim o Todo-Poderoso", exclamou
Maria (Le 1,49), insinuando toda a riqueza, todos os recursos da feminilidade.

"Em María, Eva redescubre a verdadeira dignidade da mulher, da hu


manidade feminina. Esta descoberta deve chegar continuamente ao coracio
de cada mulher e plasmar a sua vocacao e a sua vida" (n? 11).

5. Jesús Cristo (n? 12-16)

5.1. "Jesús conversava com uma mulher" (n? 12)

0 reconhecimento da dignidade da mulher foi manifestado por Jesús


Cristo, cujo modo de tratar as mulheres era surpreendente no seu tempo.
Sim; Jesús causou estranheza aos Apostólos pelo fato de estar conversando
a sos com a Samaritana (Jo 4,27); escandalizou o fariseu por permitir que
uma mulher pecadora Ihe ungisse os pés com óleo perfumado (cf. Le 7,39).
Deve ter provocado indignacao nos ouvintes ao exclamar: "Os publícanos
e as meretrizes vos precede rao no reino de Deus" (Mt 21,31). Mais: o Se-
nhor extinguiu o direito de repudiar a esposa que, conforme a Lei de Moi
sés, tocava ao homem (cf. Mt 19,3-8); tratou com deferencias as "filhasde
Jerusalém" que sobre Ele choravam (cf. Le 23,28). Isto tudo evidencia que
Jesús quis romper os preconceitos que havia em detrimento da mulher, para
afirmar o valor próprio da feminilidade.

5.2. As Mulheres do Evangelho (n? 13)

Quem folheia os Evangelhos, verifica outrossim o papel saliente que


as mulheres ai' ocupam. Ora trata-se de mulheres que acompanhavam Jesús
viandante por cidades e aldeias, assistindo-lhe com os seus bens (cf. Le 8,
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

1-3). Ora vemos mulheres beneficiadas de maneiras diversas, como aquela


encurvada pela doenca e chamada por Jesús "filha de AbraSo" (Le 13,11-
16), título que na Biblia só é dado aos homens; a sogra de Simio (Me 1,
30); a mulher que sofría de um flu'xo de sangue e que foi louvada por sua
fé (cf. Me 5,25-34); a filha de Jairo ressuscitada (cf. Me 5,41), a viúva de
Nafm, cujo filho voltou á vida (cf. Le 7,13), a cananéia que pedia a cura de
sua filha (Mt 15, 28), a viúva cujo óbolo generoso mereceu especial elogio,
conforme Le 21,1-4 (a viúva era totalmente indefesa no sistema socio-jurí
dico da época, cf. Le 18,1-7).

As parábolas tambám p5em ante os olhos do leitor diversos tipos fe-


mininos: a mulher que perdeu a dracma (cr. Le 15,8-10), a que langou fer
mento na massa (cf. Mt 13,33), as virgens prudentes e as insensatas (cf. Mt
25,1-13).

As mulheres desprezadas pela opiniáfo pública foram benignamente


acolhidas por Jesús: a Samaritana junto ao poco de Jaco (cf. Jo 4,7-27), a
pecadora pública em casa do fariseu (cf. Le 7,37-47), a mulher surpreendi-
da em adulterio e pelos fariseus condenada ao apedrejamento (cf. Jo 8,3-
11)...

Ora "o comportamento de Jesús a respeito das mulheres que Ele en-
contra ao longo do camintio do seu servico messianico, é o reflexo do de
signio eterno de Deus, o qual, criando cada urna délas, a escolhe e ama em
Cristo (Ef 1,1-5)".

5.3. A mulher surpreendida em adulterio (n? 14)

É muito eloqüente a maneira como Jesús tratou a mulher adúltera,


conforme Jo 8,3-11: antes de a despedir, quis despertar a consciéncia do
pecado nos homens que a acusavam, como se dissesse: "Esta mulher, com
todo o seu pecado ná"o é talvez o testemunho dos vossos abusos masculi
nos e da vossa ¡njustica?"

Tal fato era paradigmático, pois em todas as épocas da historia hou-


ve mulheres expostas como pecadoras, enquanto por tras do seu pecado
se escondía um homem co-responsável pelo mesmo. Muitas vezes a mu
lher é abandonada na sua maternidade, dado que o pai da crianpa nao
quer assumir a sua responsabilidade. Quantas tambám ná"o sao pressiona-
das pelo homem culpado para se livrar da crianpa abrigada no seio mater
no? As que cedem a tal pressSo, ná"o escapam do duro trauma de ver tira
da a vida ao seu filho, pois nao conseguem apagar o senso de maternidade
inscrito no rfíais íntimo do coracSo da mulher.

8
"A DIGNIDADE DA MULHER"

Jesús também fala do adulterio que o homem pode cometer em seu


coracao olhando para urna mulher com mau desejo (cf. Mt 5,28). Com
¡sto o Senhor quer lembrar ao homem que ele pode agredir a mulher, mes-
mo sem a violentar físicamente. É claro, porém, que a própria mulher deve
comportar-se á altura de sua dignidade, pois ela também pode agredir a si
mesma e expor-se á agressáfo do homem se nSo sabe manter urna conduta
de vida condizente com a sua nobreza feminina.

5.4. Custodias da Mensagem Evangélica (n? 15)

Cristo chega a fazer da mulher a destinatária da Boa-Nova: falou-lhe


de questoes sobre as quais, naquele tempo, nao se discutía com urna mu
lher, tornando-a discfpula do Divino Mestre. O exemplo mais típico é o da
Samaritana, que se tornou também mensageira do Evangelho {cf. Jo 4,39-
42). Sejam lembradas outrossim as irmSs de Lázaro, das quais María escu-
tava a Palavra do Mestre (cf. Le 10, 38-42) e María recebeu a mensagem da
ressurreicá"o de Lázaro e dos mortos (cf. Jo 11,21-27). Instruidas por Jesús,
as mu I rieres deram-lhe a sua resposta de fé, que o Senhor elogiou mais de
urna vez: vejam-se o caso da cananéia (Mt 15,28), o da pecadora convertida
em Le 7,47, o da mulher que ungiu os pés de Jesús na presenca de Judas
(Mt 26,6-13).

Por ocasiSo da Paixáo de Cristo, as mulheres se mostraram seguidoras


fiéis e perseverantes: assim as que ficaram intrépidas ao pé da Cruz ou do
Calvario (cf. Jo 19,25; Mt 27,55), aquelas que na via dolorosa se lamenta-
vam por Jesús (cf. Le 23,27)... Além destas, pode-se referir também a mu
lher de Pilatos, que admoestou o marido a que nao se envolvesse no proces-
sode Jesús (cf. Mt 27,19).

5.5. Primeiras testemunhas da Ressurreicáb (n? 16)

NSo s6 no momento da Cruz, mas também na manha da RessurreicSb,


as mulheres desempenharam papel significativo: foram as primeiras junto a
sepultura, as primeiras a ouvir: "Ressuscitou comodisse" (Mt 28,6); as primei
ras a abracar os pés de Jesús (Mt 28,9), as primeiras chamadas a anunciar a
Ressurreicao aos Apostólos (cf. Mt 28,1-10; Le 24,8-11). Especialmente
Maria Madalena se destacou como "apóstola dos Apostólos" (cf. Jo 20,16-
18). Disto tudo se deduz que a mulher recebeu, como o homem, o dom de
acolher e transmitir a verdade de Deus, gozando, para ¡sto, do carisma da
profecia concedido pelo Espirito Santo.

A mulher foi feita, assim, sujeito e testemunha insubstituível das


grandes obras de Deus.

9
10 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

6. Maternidade e Virgindade (n9 17-22)

6.1. Duas dimeruSes da vocacáb da muiher (n? 17}

A personalidade feminina se realiza segundo duas modalidades: a


virgindade e a maternidade. María realizou-as plenamente, de modo que se
completaram nela urna e outra.

6.2. A Maternidade {n? 18)

A maternidade é fruto da uniao matrimonial, ou seja, da doagSo mu


tua do homem e da muiher; o dom recíproco se abre para urna nova vida,
um novo homem, que também é pessoa á semelhanca de seus pais. Assim
os esposos participam da obra grandiosa do Criador.
Os aspectos genéticos, biológicos e psíquicos da maternidade tém sido
estudados com grande afinco nos últimos tempos; verifica-se cada vez mais
que todo o ser da muiher se dispoe para a geracao de urna nova vida. Toda
vía essa face fisiológica da maternidade, embora muito importante, nao esgo-
ta o significado da mesma. A maternidade transcende tais aspectos na medi
da em que é obra de urna pessoa que se dá. Mais: verdade é que nao há ma
ternidade sem paternidade ou sem a colaboraca*o do varao, mas deve-se re-
conhecer que a mufher está mais associada do que o homem ao processo ge
nerativo. "É sobre a muiher que recaí diretamente o peso desse comum ge-
rar, que absorve literalmente as energías do seu corpo e da alma. É preciso,
portanto, que o homem seja plenamente consciente de que contraí, neste
seu comum 'ser genitores', um débito especial para com a muiher. Nenhum
programa de paridade de direitos das muiheres e dos homens é válido se nSo
tem presente isto de modo todo essencial".

Leve-se em conta outrossim que a muiher, mais do que o homem, é


capaz de atenca"o a pessoa concreta e a vida que desabrocha ou definha. "O
homem... encontra-se sempre fora do processo de gestacá"o e do nascimento
da enanca; por isto deve, sob muitos aspectos, aprender da má*e a sua pro-
pria paternidade". A educacáo do filho exige, sem dúvída, a colaboracao de
pai e mSe; "todavía a maternidade é decisiva para as bases de urna nova per
sonalidade humana". A muiher é a primeíra educadora do homem.

6.3. Maternidade e Alianca (n? 19)

A funca"o materna da muiher tem seu paradigma na Santa Mae de


Deus, Maria.-a qual, mediante o seu consentimento (Fiat), deu inicio a nova
Alian9a.de QejuV.com.a humanidade. María exerceu seu papel compartíIhan-

'■■'■'' ' ■'■■ 10


"A DIGNIDADE DA MULHER"

do as dores de seu Filho, que foram transfiguradas pela Páscoa ou pela vitó-
ria da vida sobre a morte.

"Contemplando esta Mae, cu/o coracao foi transpassado por urna espa
da (cf. Le 2,35), o pensamento vo/ta-se a todas as mufheres que sofrem no
mundo, tanto no sentido físico como no moral. Neste sofrimento, urna par
te é devida á sensibilidade própria da mulher; mesmo que efa, com freqüén-
da, saiba resistir ao sofrimento mais do que o homem. É difícil enumerar
estes sofrimentos, é difícil nomeá-los todos:podem ser recordados o desvelo
maternal pelos filhos, especialmente quando estao doentes ou andam por
maus caminhos, a morte das pessoas mais queridas, a solidio'das mies esque-
cidas pelos filhos adultos ou a das viuvas, os sofrimentos das mufheres que
lutam sozinhas pela sobrevivencia e os das mulheres que sofreram urna in/us-
tica ou sao exploradas. Existem, enfim, os sofrimentos das consciéncias por
causa do pecado, que atingiu a dignidade humana ou materna da mulher, as
feridas das consciéncias que nSo cicatrizam fácilmente. Também com estes
sofrimentos é preciso pór-se aos pés da Cruz de Cristo" (n? 19).

A alegría de Páscoa seguir-se-á a tal com-paixao.

6.4. A Virgindade (n? 20s)

0 ideal da virgindade ou da vida una, totalmente dedicada á causa do


Reino de Deus, tem seu fundamento no próprio Evangelho (cf. Mt 19,12);
vem a ser urna das expressoes típicas da vida crista, dado que no Antigo Tes
tamento toda mulher tendía a maternidade para preparar a vinda do Messias.
María é o prototipo da virgindade que é fecunda ao se consagrar totalmente
a Deus.

Na virgindade espontáneamente abracada existe um grande amor es-


ponsal a Cristo e, conseqüentemente, a todos aqueles que Cristo redimiu
com o seu sangue. Donde se vé que virgindade nSo é simplesmente um Náb,
mas contém um profundo Sim ao amor; é doacSb de amor total e indiviso ao
Senhor Jesús e ao seu Reino aqui na térra.

A renuncia á maternidade física abre para a experiencia da maternida


de segundo o Espirito (cf. Rm 8,4). De fato, a virgindade nSo priva a mulher
das suas prerrogativas. Urna mulher consagrada encontra o Esposo na pessoa
dos homens que precisam de sua solícitude: os doentes, os abandonados, os
órfaos, os encarcerados, os marginalizados...; a estes todas as Religiosas de-
dicam seu trabalho ou, se levam vida contemplativa, a sua fidelidade especí
fica á oracSo e á renuncia. Também no mundo ou em familia é possível vi-
ver-se a vida una em beneficio dos irmSos. É tal fecundidad? que permite
aproximar entre sí a mulher nlo casada e a casada.

11
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

6.5. "Filhinhoi mmif..." (Gl 4,19) (n? 22)

Sao Pauto escrevia aos Calatas: "Filhinhos meus, por quem sofro no-
vamente as dores do parto" (Gl 4,19). Vd-se assim que o Apóstolo-homem
sentiu necessidade de recorrer a urna ¡magem fe minina para significar o seu
servico apostólico. A fim de ilustrar o misterio fundamental da Igreja, Sao
Paulo ná*o encontrou melhor expressá*o do que a matemidade. Alias, o Con
cilio do Vaticano II reafirmou que na"o se pode compreender o misterio da
Igreja se ná"o se contempla a Má"e de Deus, figura e prototipo consumado da
realidade eclesiat.

Recapitulando, pois, o que foi dito até aqui, podemos observar:

"A Biblia convence-nos do fato de que nSo se pode ter urna adequada
hermenéutica do homem, ou seja, daquilo que é humano, sem um recurso
adequado ¿quilo que é feminino. Análogamente acontece na economía sali
fica de Deus: se queremos compreendé-la plenamente em relacao a toda a
historia do homem, nSo podemos deixar de lado, na ótica de nossa fé, o mis
terio da mulher: virgem-mSé-esposa" (n? 22).

7. A Igreja, Esposa de Cristo (n? 23-27)

7.1. O Grande Misterio (n? 23-25)

SSo Paulo compara o amor esponsal existente entre o homem e a mu


lher com o misterio de Cristo e da Igreja (cf. Ef 5,25-32): Cristo é o Esposo
da Igreja, a Igreja é a Esposa de Cristo, alias, em consonancia com quanto já
haviam anunciado os Profetas (cf. Is 54,4-8.10; Os 1,2; 2,16-18; Jr 2,2;
Ez 17,8; Is 50,1; 54,5-8).

O Apostólo exorta os maridos a amar as esposas como Cristo ama a


Igreja, a fim de torná-la resplandecente de gloria. SSo Paulo nao ve contra
di cao entre essa exortacá*o e a observacSo de que "as mulheres sejam submis-
sas aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeca da mulher"
(Ef 5,22s); o autor sagrado sabe que a posica*o da mulher na sociedade anti-
ga há de ser entendida de modo novo, pois o próprio Apostólo admoesta:
"Submetei-vos uns aos outros no temor de Cristo" (Ef 5,21); vé-se, pois, que
na relapáfo marido-mulher a submissá*o ná*o é unilateral, mas recíproca. Tal é
a novidade evangélica, fruto da RedencSo. A consciéncia desta norma deve
penetrar o comportamento do marido e da mulher; esta, alias, há de se lem-
brar de que também o Apostólo escreveu: "Em Cristo Jesús nao há escravo
nem livre, nffo há homem nem mulher, pois vos todos sois um so em Cristo
Jesús" (Gl 3V27s).

12
"ADIGNIDADEDAMULHER" 13

Outro trapo importante se deduz do texto de Ef 5,24-32: a Esposa é a


Igreja. Este sujeito, porém, é coletivo; significa urna comunidade composta
de homens e mulheres. Nesta concepcá*o, por meio da Igreja, todos os seres
humanos — tanto homens como mulheres — sá*o chamados a ser a Esposa de
Cristo, Redentor do mundo. Assim ser esposa, portanto o feminino, torna-se
símbolo de todo o humano, segundo as palavras do Apostólo; como mem-
bros da Igreja, também os homens estilo compreendidos no conceitode Es
posa. Na Igreja todo ser humano — homem e muiher — é a esposa, enquanto
acolhe o amor de Cristo e procura corresponder-lhe com o dom da própria
pessoa.

7.2. A Eucaristía (n? 26)

É de notar que Cristo so chamou homens para serem seus Apostólos.


Fazendo ¡sto, o Senhor agiu de mane ira livre e soberana; nao se creia que
Jesús, assim procedendo, tenha apenas procurado conformar-se a mentalida-
de discriminatoria dominante em sua época; Ele náfo fazia accepcao de pes-
soas (cf. Mt 22,16). Em conseqüéncia somente os doze Apostólos receberam
o mandato: "Fazei isto em memoria de mim" (Le 22,19; 1Cor 11, 24). So-
mente eles na tarde da Ressurreicao receberam o Espirito Santo para per-
doar os pecados (cf. Jo 20,22s). Daf se pode deduzir que o sacramento da
Ordem, que perpetua a acao redentora de Cristo mediante seus ministros, é
destinado aos homens apenas, como alias já observou a Congregacao para a
Doutrina da Fé na Declaracao ínter Insigniores de 15/10/76.

7.3. O Dom da Esposa (n? 27)

A muiher participa do sacerdocio universal de todos os fiéis, derivado


dos sacramentos do Batismo e da Crisma. Assim todos tém parte na grande
oblaclo que Cristo fez de Si mesmo ao Pai no Calvario e que Ele perpetua na
Eucaristía.

Na Igreja o que valoriza alguém nao é o seu grau hJerárquico (embora


tenha significado importante), mas é a santidade. O Concilio do Vaticano II
recordou que na linha da santidade precisamente a muiher María de Nazaré é
figura da Igreja. Contemporáneamente a María e depois déla, numerosas
mulheres - ao lado dos homens - se destacaram por sua santidade ou por
seu amor esponsal a Cristo. Tais foram, entre outras: as mulheres que acom-
panhavam Jesús durante a sua vida mortal e estiveram presentes no Cenáculo
de Pentecostés (cf. Le 8,1-3; At 1,14; 2,1-3); as mulheres que tiveram parte
na vida da Igreja nascente (a diaconisa Febe, de Céncreas, cf. Rm 16,1;
Prísca, cf. 2Tm 4,19; Evódia e Síntique, cf. Fl 4,2; María, Trífena, Pér-
side, Trifosa, cf. Rm 16,6-12)... Em todas as épocas houve mulheres perfei-
tas (Pr 31,10), que corajosamente participaram da missáo da Igreja: Mdnica,

13
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

mié de Agostinho; Macrina, Olga de Kiev, Matilde da Toscana, Edviges da


Silesia, Edviges de Cracovia, Elisabete da Turfngia, Brígida da Suécia, Joana
d'Arc, Rosa de Lima, Elisabete Seato'n, Mary Ward... além das doutoras San
ta Catarina de Sena e Santa Teresa de Ávila.
Tarnbém em nossos dias a Igreja ná*o cessa de enriquecer-se com o tes-
temunho de numerosas mulheres que realizam a sua vocapao a santidade. As
mulheres santas sao urna personificacáto do ideal feminino e um modelo para
todos os cristfos.

8. Maior é a Caridade (r>9 28-30)

Os relatos da criacSo do homem e da mulher no Génesis, re I ¡dos á luz


da carta aos Efésios, permitem intuir urna verdade que parece decidir a
questáo da dignidade da mulher e da sua vocacáfo: a dignidade da mulher é
medida pela ordem do amor. A mulher é a pessoa que manifesta ao mundo o
amor que Deus tem aos homens e que os homens devem entreter uns com os
outros. Isto implica para ela urna missSo: Deus Ihe confia de maneira espe
cial o homem, o ser humano. A mulher é forte pela consciéncia dessa mis-
sao, forte pelo fato de que Deus Ihe confia o homem, até ñas condipoes de
discriminacao social em que ela se possa encontrar. Deste modo a mulher
perfeita (Pr 31,10) torna-se um amparo ¡nsubstitufvel e umafonte de forga
espiritual para os outros, que percebem as grandes energías do seu espfrito.
A tais mulheres perfeitas muito devem as suas familias e, por vezes, inteiras
nacóes.

Nossa época de consumismo e bem-estar material ameapa a sociedade


de perder gradativamente a sensibilidade pelo homem ou pelos valores es-
sencialmente humanos. Dar se deduz o papel particularmente importante
daquele genio da mulher que assegura a sensibilidade pelo homem em todas
as circunstancias pelo fato mesmo de ser homem. E porque "a maior das vir
tudes é a caridade" (1 Cor 13,13).

"Se o homem é por Deus confiado de modo especial á mulher, isto


nSo significará talvez que Cristo espera déla a realizacao do sacerdocio real
(cf. IPd 2$) que é a riqueza que ele deu aos homens? Esta mesma heranca
Cristo, sumo e único Sacerdote da nova e eterna Alianca e Esposo da Igreja,
nao cessa de submeter ao Pai, mediante o Espfrito Santo, para que Deus se/a
tudo em todos (iCor 15¿8¡".

9. Conclusáo(n?31)

As ref lexdes desenvolvidas nestas páginas permitem-nos contemplar o


dom que Deús fez á mulher outorgando-lhe a feminilidade e o papel que ela
tem desenvolvido e ainda há de exercer na historia da humanidade. "Em úl-

14
"ADIGNIOADE DA MULHER" 15

tima análise, nao foi nela e por meio déla que se operou o que há de maior
na historia do homem sobre a térra: o evento pelo qual Deus mesmo se fez
homem?"

A Igreja, portanto, rende grapas a Deus por todas as muiheres e por


cada uma délas, quer vivam no mundo, quer se tenham consagrado a Deus
na Vida Religiosa... A Igreja agradece todas as manifestacoes do genio femi-
nino ocorridas na historia. Agradece todos os carismas que o Espirito Santo
concede ás muiheres na historia do Povo de Deus, todas as Vitorias que deve
á fé, á esperanca e á caridade das mesmas; agradece todos os frutos de santi-
dade feminina. - Ao mesmo tempo pede que tais manifestacoes do Espirito
sejam reconhecidas e valorizadas e que todas as muiheres encontrem na men-
sagem bíblica a sua identidade e a sua suprema vocacao. María obtenha tais
frutos para a toda a Igreja no limiar do terceiro milenio da vinda de Cristo!

* * *

Como se vé, o texto p5e em relevo o significado especifico que a Pala-


vra de Deus atribuí á mulher: por sua feminilidade mesma, ela está especial
mente vinculada a vida, a conceicao e á formacáo da vida. Em conseqüéncia
ela é a mestra de todo ser humano ou do próprio homem; este deve aprender
da mulher as nocdes básicas que formam a sua personalidade. Tal missao
equivale a um auténtico sacerdocio, que Deus Ihe confiou ao lado dos minis
terios que Ele quis entregar ao homem na sua especificidade masculina.

* * *

(continuafio dapág. 48)

b) Motivar para o engajamento numa comunidade de fé e a ¡nsercáb


no mundo;

c) Transmitir as verdades fundamentáis da fé;

d) Ajudar a desenvolver o senso crítico e a responder ás questóes


existenciais no desenvolvimento psico-sócio-poli'tico e cultural numa dimen-
sao libertadora da fé;

e) Fazer a síntese entre fé, vida, conhecimentos e valores transmiti


dos na Escola;

f) Promover a integracáo do Ensino Religioso no conjunto do pro-


cesso escolar.

(continua na pág. 21)

15
VisSo Panorámica (I):

Cristianismo e Catolicismo

0 presente artigo e os dois subseqüentes serio dedicados a apresentar


sintéticamente o Catolicismo: II o Catolicismo dentro do conjunto das de-
nominacoes cristas, ligado diretamente a Jesús Cristo mediante os Apostó
los; 2) o Catolicismo e sua profissao de fé, derivada da Palavra de Deus oral
e escrita; 3) o Catolicismo e sua historia, pondo-se em relevo os principáis
quadros da historia da Igreja. - Desta maneira PR tenciona oferecer em pou-
cas páginas um subsidio a quem procure conhecer a identidade ou as linhas
essenciais do Catolicismo.

* * *

Chamamos "cr¡stá"os" o conjunto de pessoas que no mundo acreditam


em Deus Uno e Trino (Pai, Filho e Espirito Santo) e em Jesús Cristo como
Deus e Homem. S3o cerca de 1,64 bilhá*o de fiéis', o maior bloco religioso
da humanidade.

Quem considera o panorama do Cristianismo no mundo, verifica que


nele há diversas denominacoes: a Católica, as Protestantes, as Ortodoxas...
Daf a necessidade de procurarmos compreender essa variedade, que está li
gada a fatos históricos.

1. Igreja Católica

Jesús Cristo fundou a sua Igreja, e confiou-a a Pedro e seus sucessores,


como narram os Evangelhos:

Mt 16,17-19: "Jesús disse a Pedro: 'Bem-aventurado és tu, SimSo, fi


lho de JoSo, porque nSo foi carne ou sangue que te revelou isso, e sim ó meu
Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pe-

1 Os números aquí publicados sio fomecidos pelo Conselho Mundial das


tgre/as e referem-se ao ano de 1987.

16
CRISTIANISMO E CATOLICISMO

dra edificare'! a minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevaleceráo con


tra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na térra será
ligado nos céus, e o que desligares na térra, será desligado nos céus' ".

Le 22,31 s: "Disse Jesús a Pedro: 'Simio, Simio, eis que Satanás pediu
insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, rezei por ti a fim
de que a tua fé nSo desfaleca. £ tu. voltando-te, confirma teus irmSos' ".

Jo 21,15-17: "Disse Jesús a Pedro: 'Simio, filho de Joio, tu me amas


mais do que estes?' Ele Ihe respondeu: 'Sim, Senhor, tu sabes que te amo'.
Jesús Ihe disse: 'Apascenta os meus cordeiros'. Urna segunda vez Ihe disse:
'Simio, filho de Joio, tu me amas?' - 'Sim, Senhor', disse ele, 'tu sabes
que te amo'. Disse-lhe Jesús: 'Apascenta as minhas ovelhas'. Pela terceira
vez disse-lhe: 'Simio, filho de Joio, tu me amas?' Pedro respondeu...:
'Tu sabes tudo; tu sabes que te amo'. Jesús Ihe disse: 'Apascenta as minhas
ovelhas'".

A Igreja, que deve durar até o fim dos tempos, precisará sempre do
fundamento visfvel instituido por Cristo; este fundamento sao os Papas,
os sucessores de Sao Pedro e Bispos de Roma (pois Pedro morreu em Roma
como Bispo da comunidade local).

A Igreja fundada por Jesús se chama:

a) Católica, porque é universal ou destinada a todos os homens, como


já anunciavam os Profetas (Is 2,2-5; 56, 6-8) e Sao Paulo confirmou (Cl 3,11;
Gl 3,27s; 1Cor 12,13). A palavra "católica" vem do grego kath'holon, que
significa "por toda parte" (universal).

b) Apostólica. A Igreja de Cristo é apostólica nao só porque exerce o


apostolado ou a missao no mundo, mas também porque a mensagem de Cris
to passa necessariamente pelos Apostólos; sao estes que representam as doze
tribos de Israel (cf. Mt 19,28) e se tornaram pilastras da Igreja {cf.Ap 21,14).

c) Romana, porque o Chefe visível da Igreja de Cristo é o Bispo de


Roma (-o Papa). O título romana nao significa nacionalismo ou particula
rismo, pois a Igreja nao tem nacionalidade, mas precisa de urna sede central
localizada em algum ponto da terja. Assim também Jesús era o Salvador de
todos, mas tomou o título de Nazareno (= Jesús de Nazaré), porque ele pre-
cisava de ter urna residencia ou urna localizacáo na térra.

A Igreja fundada por Cristo e entregue ao pastoreio dos Apostólos e


seus sucessores desenvolveu-se através dos séculos. Em nossos dias, conta
cerca de 907 milhSes de fiéis, espalhados por todo o mundo.

17
18 'ERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

No decorrer dos tempos, separaram-se aiguns biocos do tronco central


da Igreja Vejamos quais sá*o.

2. Monof¡sitas e Nestorianos

No sáculo V os teólogos procuraram exprimir em fórmulas precisas o


misterio da EncamacSo do Filho de Oeus.

Houve entao uma corrente dita Nestoriana (porque encabecada por


Nestório, patriarca de Constantinopla desde 428); afirmava que em Jesús
havia dois Eu ou duas pessoas: uma divina, com a sua natureza divina, e ou-
tra, humana, com a sua natureza humana. Esta doutrina foi rejeitada pelo
Concilio de Éfeso em 431, pois nao ressalvava devidamente a nocao de En-
carnacao. Todavia muitos seguidores de Nestório na"o aceitaram a decisao do
Concilio e separaram-se da Igreja, formando o bloco nestoriano. Espalha-
ram-se até a China e a India, mas em nossos dias estao reduzidos a pequeño
número, pois nos últimos quatro sáculos a maioria voltou á comúnhao cató
lica.

Pouco depois, uma corrente de teólogos propos doutrina contraria á


de Nestório: em Jesús haveria um só Eu e uma só natureza (a divina), pois a
humanidade teria sido absorvida pela Divindade. Eram os chamados "Mono-
fisitas", chefiados por Oióscoro de Alexandria. A sua tese foi rejeitada pelo
Concilio de Calcedonia em 451, que afirmou haver em Jesús uma só Pessoa
(Divina) ou um só Eu e duas naturezas (a divina e a humana). Muitos mono-
fisitas nao aceitaram a definicao de Calcedonia e separaram-se da Igreja Ca
tólica; sSo hoje cerca de 5 milhoes no Egito, na Etiopia, na Siria e na Arme
nia; já nao professam a doutrina de Dióscoro, de modo que a sua volta á co-
munhá"o católica está facilitada.

3. Os Ortodoxos orientáis

No decorrer dos sáculos os cristáos do Oriente e os do Ocidente foram


sendo caracterizados por culturas diferentes: a grega no Oriente, cuja capital
era Bizáncio ou Constantinopla (= Istambul na Turquía de hoje); e a latina
no Ocidente, cuja capital era Roma. Falavam uns o grego, outros o latim; os
costumes litúrgicos e a disciplina iam-se diferenciando aos poucos. Ora isto
causou mal-entendidos e rivalidades entre cristaos bizantinos e cristáos lati
nos. Finalmente essas divergencias deram ocasiSo a um cisma ou uma ruptu
ra em 1054, por obra do Patriarca Miguel Cerulário de Constantinopla. Por
motivos teológicos secundarios, os cristSos de Bizáncio separaram-se de Ro-

18
CRISTIANISMO E CATOLICISMO 19

ma, e, com eles, outros orientáis (rumenos, búlgaros, russos, etc.). Consti-
tuem hoje um bloco de cerca de 173 milhSes de fiéis. Chamam-se "ortodo
xos", porque na época das controversias teológicas sobre a SS. Trindade e
Jesús Cristo {séc. IV-VIII) sempre mantiveram a reta doutrina (ortodoxia),
nao cedendo ao arianismo, ao nestorianismo ou ao monofisismo...

Houve tentativas de reuniao dos ortodoxos com os católicos através


dos séculos, principalmente por ocasiá'o dos Concilios de Liao II (1274) e
Florenca (1438-45). Todavía os resultados positivos foram de curta dura-
gá"o. Em nossos dias, há grande aproximaclo entre Roma e Constantínopla,
pois na verdade sao poucas as diferencas doutrinárias que separam do Cato
licismo os ortodoxos orientáis.

4. Protestantismo

No sáculo XVI Martinho Lutero, a partir de 1517, resolveu reformar a


Igreja, que passava por urna fase difícil: a teología ná*o alimentava a piedade
dos fiéis, que era exuberante, mas mal orientada; além disto, o Renascimen-
to ou o interesse pelas artes e a cultura antigás, desentulhadas nos arquivos
e bibliotecas, fazia que o clero se deixasse penetrar por espirito mundano.

Lutero, levando em conta esta situacao e atendendo a um problema


pessoal, proclamou que a fé sem as obras boas nos faz amigos de Deus; ten-
cionava assim interpretar Sao Paulo, rejeitando a epístola de S. Tiago...
Além disto, recusou a TradicSo oral, ficando só com a Biblia. Lutero apre-
goava o "livre exame" da Biblia, isto é, quería que cada crente lesse a Bi
blia sem levar em conta alguma orientacifo ou o magisterio da Igreja; cada
qual poderia interpretara Biblia segundo o que a sua consciéncia Ihe dissesse.
A ruptura com a Igreja deu-se definitivamente em 1521 na Alemanha.

O exemplo de Lutero foi seguido por Jólo Calvino, de Genebra (Suí-


ca), que proclamou doutrinas semelhantes ás de Lutero.

As proposicoes desses reformadores se espalharam rápidamente pelo


centro e o Norte da Europa. Dentro de cada denominacao foram surgindo
novas e novas "reformas". Isto era lógico, pois, o que Lutero tinha feito
com a Igreja Católica, cada crente poderia fazé-lo em relacSo á sua comuni-
dade; o principio do "livre exame" colocava (e coloca) o crente ácima de
qualquer magisterio, de modo que, se alguém discorda do que a sua comu
ni dade ensina, pode separar-se déla e fundar outra "igreja".

O bloco protestante hoje compreende 322 milhoes de crentes apro


ximadamente.

19
20 PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

5. Anglicanismo

Na Inglaterra reinou Henrique VIII de 1509 a 1547. O reí quis sepa-


rar-se de sua esposa Catarina de Araga"o para unir-se á cortesa Ana de Bo-
leyn. Todavia o Papa nao Ihe concedeu o divorcio. Em conseqüéncia, o mo
narca separou de Roma os cristSos da Inglaterra; foi proclamado pelo Par
lamento Chefe Supremo da Igreja Anglicana em 1534. Assim teve origem
o que hoje se chama "a ComunhSo Anglicana", espalhada pelo mundo, com
cerca de 51,6 milhoes de crentes. A principio o Anglicanismo visava apenas
a independencia frente a Roma; mas aos poucos houve infiltrapao doutriná-
ria dos reformadores do continente na Inglaterra. Com efeito; os sucessores
de Henrique VIII chamaram teólogos calvinistas para reestruturar a Igreja na
Inglaterra. Em conseqüéncia, originou-se entre os anglicanos urna mentalida-
de protestante: muitos cristSos julgavam que a ruptura com Roma nao fora
bastante profunda, pois a Igreja oficial anglicana conservava diversos elemen
tos do Catolicismo. Aos poucos fez-se a primeira divisao entre os anglicanos:
os mais fiéis á Tradicao constituiram a High Church (a Alta Igreja), regida
pelo Parlamento e a Coroa; e os dissidentes, a Low Church (a Baixa Igreja),
de índole mais radical protestante, que nao obedecía á reforma oficial. Os
crentes rebeldes, em grande parte, emigraram para os Estados Unidos (a No
va Inglaterra) no sáculo XVII, e lá gozaram de plena liberdade para interpre
tar a Biblia segundo o principio do livre exame. Isto deu origem ás numero
sas divisSes e subdivisoes do protestantismo norte-americano, que muito
afetam o Brasil.

6. Os "Velhos-Católicos"

Em 1870 o Concilio do Vaticano I proclamou a infalibilidade do Papa


quando define proposicóes de fé ou de Moral. Esta definicao do Concilio,
que nlo era mais do que a expressafo de quanto já se acreditava e vivia na
Igreja, nao foi aceita pelo sacerdote Inácio Dbllinger de Munique (Alema-
nha). Isto o levou a sair da Igreja Católica juntamente com alguns adeptos
para fundar o ramo dos "Velhos-Católicos" (1872). Em 1889, estes se uni-
ram aos Jansenistas, pequeño grupo de CristSos que se haviam separado da
Igreja em 1723 e viviam na Holanda; formaram assim a "Uniáto de Utrecht",
que conta aproximadamente 100.000 fiéis.

7. Conclusao: A Igreja de Cristo

A quem pergunte agora qual é o concertó de Igreja de Cristo diante


deste conjunto de denominacSes cristas, respondemos: a Igreja de Cristo
compreende-todas essas denominacñes, porque cada urna délas possui ele
mentos da Igreja (a Biblia, a Tradicao, alguns Sacramentos, a prática da ora-

20
CRISTIANISMO E CATOLICISMO 21

pao, o martirio...). Mas a Igreja de Cristo só subsiste plenamente na Igreja


Católica Apostólica Romana, governada pelo Papa e os Bispos em comunhao
com ele, pois somente nesta se encontram todos os elementos que, por ins
tituido divina, devem integrar a Igreja; ver Constituido Lumen Gentium
nP 8; Decreto Unitatis Redintegratio n? 4, do Concilio do Vaticano II. As
denominacoes nao católicas estáo em comunhao imperfeita ou incompleta
com a Igreja de Cristo. Todos os cristáos devem esforcar-se para que tal co
munhao se torne completa mediante a oracSo e a fidelidade de cada um á
sua vocapao; o Espirito Santo fará que descubram o caminho de volta á co
munhao integral.

* * *

(continuado da pág. 15)

7. Quanto ao Ensino Religioso ñas Escolas, 'compete á Conferencia


dos Bispos tracar normas gerais nesse campo de acáb, e ao 3ispo Diocesano
compete organizá-lo e supervisioná-lo' (Código de Direito Canónico, canon
804, § 1). É de competencia dos Regionais a conducho do processo e da po
lítica do Ensino Religioso conforme a legislacáb estadual e o contexto reli
gioso de cada Regional.

8. A questao do Ensino Religioso nao se esgota na def inicao da ¡den-


tidade. É necessário que a Igreja acompanhe com interesse o processo do
Ensino Religioso, sua legislacao e sobretudo a formacao, remuneracáo e esta-
bilidade dos professores do Ensino Religioso. Visto o relacionamento que o
Ensino Religioso tem com as outras materias, náb se relaxe a formacab crista"
dos professores dos outros componentes curriculares".

Como se vé, o texto formula as seguintes respostas ás questoes atrás


elencadas:

1) O Ensino Religioso ñas Escolas públicas nao á favor prestado pelo


Governo ás familias brasileiras, mas é respe i to do direito que toca a estas de
ter, na educacao ministrada a seus filhos, também a instrucfo religiosa;

2) 0 Ensino Religioso há de ser confessional, atendendo ás ConfissSes


religiosas credenciadas ñas respectivas Secretarias de Educacao, e naoacon-
fessional (meramente humanista) nem "ecuménico" (no sentido de construir
urna nova crenca religiosa que seja denominador comum de católicos e pro
testantes).

Tais normas sao de enorme importancia na atual conjuntura brasileira.


Possam encontrar a devida ressonancia junto a quem compete legislar!

Estéváb Bettencourt O.S.B.

21
Visío Panorámica (II):

Que devemos Crer?

Por vezes ouve-se o cristSo perguntar se esta ou aquela proposito (a


existencia do purgatorio, dos anjos...) é ou nlo ó de fé. - Eis por que passa-
mos a apresentar urna sfntese do Credo da Igreja Católica.

1. A Fonte da Mensagem de Fó

Deus fala aos homens por meio da natureza que Elecriou (ver Rm 1,
19*21) e por meio da consciéncia bem formada. Sabemos que Ele também
nos falou por meio dos Patriarcas e Profetas, chegando a se revelar ao máxi
mo por Jesús Cristo.

O Senhor Deus nada escreveu, de modo que a sua Palavra ficou viva
no que se chama "a TradicSo oral". Os homens de Deus (profetas, Apostó
los) escreveram ocasionalmente os livros sagrados como eco da Palavra oral
de Deus, dando assim origem a Biblia (Antigo e Novo Testamento).

A fé é a adesfo a essa Palavra de Deus que nos vem pela TradicSo oral
e pela TradicSo escrita (Biblia Sagrada). Esta nunca poderá ser separada da-
quela, pois a Biblia supo*e a pregacSo oral dos Profetas, de Jesús e dos Apos
tólos. O próprio Sá*o Joao declarou que Jesús fez muitas coisas que nSo fo-
ram escritas no Livro Sagrado (ver Jo 20,30s; 21,25).

A Tradiclo oral ressoa ainda hoje na Igreja, que goza da assisténcia es


pecial do Espirito Santo para interpretá-la auténticamente aos fiéis (ver Le
22,31s;Jo 14,26; 16,13-15).

É portanto, da Palavra de Deus oral e escrita que a Igreja recebe e


transmite a mensagem da fó. Concluimos, pois, que pode haver verdades de
fé contidas implicitamente na S. Escritura e desenvolvidas no decorrer dos
tempos por acSo do Espirito Santo entre os fiéis (assim a Imaculada Concei-
cao de María "cheia de graca". Le 1,28).

E que é que a fé ensina propriamente?

22
QUE DEVENIOS CRER? 23

2. Deus Uno e Trino

Em primeiro lugar, a fé nos diz que há um so Deus... l'-n só Deus, cuja


vida é táo rica que ela se afirma trds vezes ou em tres Pessoas; estas ná*o reta-
Iham nem dividem a Divindade, de modo que adoramos um só Deus, que é
Pai, Filho e Espirito Santo. Aimagem do triángulo representa bem a unidade
na trindade e vice-versa.

A comunhao existente entre as tres Pessoas Divinas envolve cada cris-


tao fiel, chamado a compartilhar o conhecimento e o amor de Deus. É Sao
Paulo quem no-lo diz em Gl 4,6: "Porque sois filhos, Deus enviou aos nossos
coracóeso Espirito do seu Filho, que clama: Abba, Pai!" (ver Rm 8,15).

3. Criapáo e Pecado

Deus quis criar por bondade e amor ou para fazer que outros seres, ti
rados do nada, ccmpartilhassem a felicidade do própric Deus. Por conse-
guinte, na raiz da existencia de cada um de nos há um ato de amor gratuito
e irreversfvel da parte de Deus. Só existimos porque Ele nos ama e nlo pode
retirar de nos o seu amor.

O homem é um composto de corpo (materia) e alma (espiritual). - A


Igreja náío se opoe á hipótese de que o corpo humano tenha vindo por evolu-
cao da materia viva preexistente. A alma, porém, é sempre criada por Deus
diretamente para cada criatura humana que comeca a existir; ela é espiritual,
portanto nao pode vir da materia. — De modo geral, pode-se admitir que
Deus tenha dado a materia nebulosa inicial as leis para que fosse evoluindo
aos poucos dentro das potencialidades da materia.

Tendo criado os primeiros pais, Deus os elevou a filiacao divina e Ihes


concedeu dons especiáis (preternatural): a imortalidade, a ausencia de so-
frimento e de tendencias desregradas, como também urna consciencia res-
ponsável por seus atos. Esta ¡mensa riqueza interior do homem devia ser
confirmada pelo Sim da criatura. Por isto Deus a submeteu a urna prova
(simbolizada pela proibicSo da fruta...); todavía os primeiros pais, movidos
pelo orgulho, recusaram obediencia ao Criador; cometeram assim o pecado
original. Este repercute nos descendentes, pois todo homem nasce privado
da graga e dos dons que os primeiros pais receberam para transmiti-los a
nos; essa ausencia dos dons iniciáis, que é causa da nossa desordem interior
(concupiscencia desregrada), é o que se chama "pecado original" ñas crian-
cas; este nao é um pecado voluntario, como os outros, mas é a falta de urna
riqueza interior, que deveria estar em cada criancinha. - Por isto, pouco
depois de nascer, toda enanca tem que ser levada ao Batismo, que confere
a graca santificante (a filiacSo divina), mas nao restituí os dons pretematu-

23
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

rais. O cristao batizado pode entSo encaminhar-se para o Pa¡, mantendo fide-
lidade á grapa do Batismo.

Sabemos que Deus também criou os anjos. Sao espfritos sem corpo.
Deus também os elevou a filiacffo divina e os submeteu a urna prova. Muitos
nSo se sujeitaram; tornaram-se anjos maus ou demonios, aos quais Deus con-
cedeu o poder de tentar os homens, a fim de consolidar a virtude destes -
(ver ICor 10,13).

4. Jesús Cristo e a Igreja

Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho feito homem para sal
var a humanidade das conseqüéncias do pecado original. Jesús Cristo é ver-
dadeiro Deus e verdadeiro homem. Por amor ao Pai e aos homens, assumiu
as nossas dores e a nossa morte e ressuscitou, para fazer de nosso sofrimento
o caminho de volta ao Pai. Em conseqüencia, o cristao que hoje carrega a
sua cruz e morre com Cristo, sabe que nao está sendo objeto de justica ape
nas, mas está-se configurando á Páscoa de Cristo, que foi Cruz e Ressurrei-
Cao.

Deus Filho, fazendo-se homem, nada perdeu daquilo que compete á


Divindade (o poder de ressuscitar os mortos e multiplicar os paes..., como
também o saber ou a ciencia do próprio Deus). Ele nao era como os Profe
tas, que só aos poucos e por experiencia iam descobrindo o plano de Deus e
só faziam prodigios invocando o poder de Deus.

Ao terminar sua missá*o na térra, Jesús, como homem, foi elevado á


gloria do céu. Mas nSo nos quis deixar órflos: enviou o Espirito Santo para
reunir todos os homens num só Corpo, do qual Cristo é a Cabeca; esse Cor
po dito "Místico" (ná"o físico, nem meramente figurado) á a Igreja. Cada
cristao inserido na Igreja torna-se membro do Corpo de Cristo e passa a viver
a vida da Cabeca ou urna comunhSo de vida com o Pai, o Filho e o Espirito
Santo. Para ilustrar esta verdade, Jesús dizia que Ele ó o tronco da verdadei-
ra videira e nos somos seus ramos; ora entre os ramos e o tronco corre a
mesma seiva (ver Jo 15,1-6; ICor 12,12-27).

A Igreja, portanto, ná*o é apenas urna assembtéia de pessoas que procu-


ram viver dignamente; Ela á o Cristo presente e atuante de maneira mística
(sacramental, encoberta, mas real). Por conseguinte, mesmo quando os ho
mens falham, nao se pode dizer, sem mais, que a Igreja falha, pois o Cristo
nela vivo nffo falha e ó fonte de reerguimento para aqueles que caem, desde
que procurem essa mesma Santa MSe Igreja (ás vezes desfigurada pelo peca
do de seus filhos). Nffo se pode recomecar a Igreja, pois quem a recomecasse
faria obra humana, separada da sua Cabeca, que é Jesús Cristo, o único Fun
dador da Igreja.

24
QUEDEVEMOSCRER? 25

María Santfssima, a criatura que Jesús escolheu como MSe na térra, é o


membro da Igreja mais rico de grapa. É aquela que já realizou em si a cami-
nhada que a Igreja está percorrendo; preservada de todo pecado, ela obteve a
vitória sobre a morte, e hoje, em corpo e alma, está na gloria do cóu, como
Mié e Advogada nossa.

5. Os Sacramentos

Chama-se "sacramento" um sinal instituido por Cristo para significar e


transmitir-nos a graca santificante. SSo sete os sacramentos. Eles acompa-
nham a vida do homem desde o nascimentó até a morte, fazendo de cada fa
se importante urna ocasiao de crescimento espiritual. Com efeito,

- o nascimento físico é recoberto pelo Batismo, que é um re-nascer da


agua e do Espirito Santo para a vida eterna;

- o crescimento físico é recoberto pelo sacramento da Confirmacao


ou Crisma, que confirma e fortalece a vida dos filhos de Oeus, fazendo-os
adultos e militantes em Cristo;

- a aliméntamelo física é recoberta pelo sacramento da Eucaristía, que


coloca em nossos corpos mortais o Corpo glorioso e ¡mortal de Cristo como
penhor da nossa ressurreicao gloriosa;

- a medicina corporal é recoberta pelo sacramento da Penitencia ou


da Reconciliando, que cura nossas chagas interiores e nos restaura ou forta
lece na vida espiritual;

- a escolha de um estado de vida é santificada pelo sacramento do


Matrimonio, que faz o lar cristao ou a "igreja doméstica", e pelo da Ordem,
que instituí os ministros de Deus, participantes do único sacerdocio de
Cristo;

- a fase final da vida é santificada pelo sacramento da Unció dos En


fermos, que corrobora o cristao nos momentos decisivos da sua vida terres
tre a fim de que compareca puro e sereno diante do Pai.

Dos sacramentos o principal é o da Eucaristía, que também é sacrifi


cio, ou seja, a perpetuacao ou o tornar-presente o sacrificio da Cruz. No Cal
vario, Jesús se ofereceu sozinho ao Pai como Sacerdote e Hostia; na Missa
Ele se oferece conosco, participantes da sua qualidade de Sacerdote e Hos
tia, para que possamos voltar definitivamente com Ele ao Pai, após urna vida
consagrada e transfigurada pela comunhSo com a Páscoa de Cristo.

25
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

É por causa da enorme importancia da S. Missa que a Igreja manda


que participemos da S. Missa ao menos no sábado de tarde ou no domingo,
que á o dia da RessurreicSo ou da Páscoa de Cristo.

A vida sacramental é essencial ao fiel católico. Podemos dizer que o


Primeiro e Grande Sacramento ó a humanidade de Cristo, pois por ela pas-
sava o dom de Deus que ressuscitava os mortos, curava os doentes e apagava
os pecados. A continuacSo deste Primeiro Sacramento é a Igreja, realidade
visível que é portadora e transmissora da vida da grapa. Por último, o Gran
de Sacramento nos atinge na Igreja mediante os filetes sacramentáis ou os
sete sacramentos propriamente ditos. Esta perspectiva e a comunhao com
esta santa realidade á central para o fiel católico, que nSo pode deixar de
ser "praticante".

6. A ConsumacSo

O cristáo é chamado a ver Deus face-a-face no fim da sua peregrinacao


terrestre; cf. Uo 3,1-3; ICor 13,12. Esta é a suma felicidade a que possa as
pirar urna criatura: ver a face da Beleza Infinita. Deus é sempre novo para
aqueles que O contemplam; em Deus reencontraremos nossos familiares e
amigos. Tal bem-aventuranpa nao será mais do que o desabrochamento total
da sementé da grapa que já existe em nos, e que se deve abrir sempre mais
mediante a nossa fidelidade de cada dia, dando-nos assim um antegozo do
céu.

Se o cristSo morre em estado de grapa, mas com restos de pecado aín


da nSo eliminados, deverá purificarse disto num estado postumo chamado
"purgatorio". Este é objeto de fé (cf. 2Mc 12,38-45; 1Cor 3,10-15). NSo
consiste em chamas, mas é a ocasiao, oferecida pela Misericordia Divina,
para que repudiemos o pecado leve que as vezes negligentemente o cristao
vai tolerando em sua vida cotidiana. Podemos e devemos rezar pelas almas
do purgatorio. Procuremos viver de modo a fazer nosso purgatorio aqui na
térra e nao depois da morte.

Para quem morre voluntariamente avesso a Deus, ficará a separacSo de


Deus para sempre; é o que se chama "o inferno". Só Deus sabe o que acon
tece no íntimo do mais endurecido dos pecadores que agonizam. Por isto
nio podemos condenar ninguém ao inferno.

A ressurreiplo dos corpos é um dom que Deus nos reserva para o dia
do jufzo final, quando Cristo vier em sua gloria para rematar a historia e por
as claras todas as tramas que a percorrem. A reencamapao nSo se compa-
tibiliza com a fé católica; ela supSe que a materia seja má e que, por isto, o
homem deve voltar ao corpo para expiar os seus pecadcs. Dizemos que Deus

26
QUEDEVEMOSCRER? 27

fez a materia boa e que no decorrer desta caminhada Ele nos dá as gracas
necessárias (visteis e ¡nvisfveis) para chegarmos á plenitude da vida. Confi
antes nisto, caminhamos animados por fé viva dentro da Santa Igreja, pro
curando ser sinal que aos homens de hoje fale de Deus, que "primeiro nos
amou" (Uo 4,19), e desperté neles a esperance da Verdadeira Vida.

* * *

O Plano de Deus, por J. Ribólla, C.SS.R. - Ed. Santuario, Apareada


(SP), 1987, 157x226mm,326pp.

Bste livro vem a ser urna Súmula de Doutrina Católica redigida para
movímentos leigos. Tem seccdes muito valiosas, em que o leitor pode apren
der com facilidade e vantagem verdades da fé. Mas infelizmente "escorrega"
em pontos importantes: assim a distincao entre pecado grave e pecado mor
tal (sendo este nio apenas um ato, mas "urna vida de pecado, um hábito
constante de pecado ), proposta és pp.75s, nSo se sustenta ¿ luz da doutrina
da Igreja (ver DeclaracSo Persona Humana, da CongregacSo para a Doutrina
da Fé, de 29/12/75). A ressurreicSo se dará no fim dos tempos, e nio logo
após a morte do individuo, como o autor insinúa é p. 194 (ver a DeclaracSo
sobre alguns Pontos de Escatologia, da mesma CongregacSo, com a data de
17/05/79). A linguagem do autor, concebida para causar impacto, nem sem-
pre exprime bem tudo o que deveria exprimir. — Cremos que o Pe. Ribólla,
zeloso missionário como ó, nSo se fuñará a rever estes e outros pontos á luz
dos recentes documentos da Igreja.
* * *

CURSOS POR CORRESPONDENCIA


"Estai sempre prontos a dar razao da vossa esperanza a todo
aquele que vola pedir" (1Pd 3,15).
A fim de facilitar aos cristSos o testemunho mais convicto
da sua fó e da sua esperance, todos tém á sua disposic&o seis Cur
sos por Correspondencia:
1) Curso de S. Escritura; 2) Curso de Iniciacfo Teológica; 3)
Curso de Teología Moral; 4) Curso de Historia da Igreja; 5) Curso
de Liturgia e Espiritualidade e... NOVIDAOE: 6) CURSO DE
DIALOGO ECUMÉNICO (abordando os temas controvertidos
entre católicos e protestantes).

ESCOLA "MATER ECCLESIAE"


Rúa Benjamín Constant, 23, 3? andar
20241 Rio (RJ)

27
Visao Panorámica (III):

O Catolicismo
através da Historia

A historia da Igreja é a historia do Corpo de Cristo prolongado através


dos sáculos; traz as características desse Corpo dilacerado pelos homens, mas
vencedor pela forca do Pa¡. — Dividimo-la em quatro per Todos:

1) a Idade Antiga, que vai desde Pentecostés até 692 (Concilio de Tru-
los II, em Constantinopla). Nessa data as ¡nvasSes bárbaras na Europa ha-
viam terminado; novo cenário e nova cultura se formaram, dando cunho no
vo ás atividades da Igreja;

2) a Idade Media (692-1450), apoca que termina com o Renascimento


da cultura greco-romana. Este e a Reforma protestante, assim como a deseo-
berta de novos continentes, mudam o quadro da historia da Igreja, dando
origem a nova fase;

3) a Idade Moderna (1450-1929), marcada pelo racionalismo e o surto


de outras correntes de pensamento alheias á fé católica, mas também carac
terizada pela expansao missionária nos novos continentes;

4) a Idade Contemporánea (1929 até nossos dias): o Tratado do La-


trSo em 1929, restaurando o Estado Pontificio (que caira em 1870), assim
como o intercambio entre a Igreja e o mundo atual, ¡mprímem nova confi-
guracSo á marcha do Catolicismo.

Estudemos brevemente cada urna destas quatro fases.

1. A Idade Antiga (- 692)

Divide-se em duas sub-fases:

a) das origens a 313; a Igreja dos mártires perseguidos pelo Imperio


Romano. "O sangue dos mártires é a sementé de novos cirstSos" (Tertuliano
t220);

28
HISTORIA DA IGREJA 29

b) de 313 a 692. Em 313 o Imperador Constantino resolve dar paz a


Igreja mediante o Edito de MilSo. Os cristaos entffo se multiplicam e evange-
lizam as instituicdes do Imperio Romano assim como os bárbaros invasores.

Eis os pontos salientes da historia da Igreja Antiga:

1) As perseguicoes. Comecaram em 64 sob o Imperador Ñero. Eram


inevitáveis, pois os cristaos professavam um so Deus dentro de um mundo
em que todas as instituicoes (até mesmo as do lar e da familia) eram marca
das pelo paganismo. Os cristaos, heroicos pela grapa de Oeus, foram mais
fortes do que os adversarios nao porque tivessem armas ou dinheiro, mas
porque possuiam em seu favor a verdade do Evangelho, que eles traduziam
corajosamente em vida fiel e coerente.

2) A época de Constantino (306-337), após o Edito de Milao, permitiu


a acao missionária mais dilatada. A Igreja se manteve sempre alheia ás práti-
cas pagas; um dos exemplos mais típicos é o do Bispo S. Ambrosio, de Mi
lao, que em 390 censurou enérgicamente os desmandos do Imperador Teo-
dósio, levando-o a penitencia.

3) A elaborado das grandes verdades da fé referentes a SS. Trindade,


a Jesús Cristo, á Igreja, ao pecado e a grapa foi realizada pelos grandes Bispos
e teólogos dos séculos IV-VII. Houve heresias, que desviavam a fé do seu
curso auténtico e que foram rejeitadas pelos Concilios Ecuménicos (assem-
bléias de Bispos de toda a Igreja) em Nicéia I (325), Constantinopla I (381),
Éfeso (431), Calcedonia (451), Constantinopla II (553), Constantinopla III
(680/1).

4) A fundacao do Estado Pontificio. Em 330 Constantino transferiu a


capital do Imperio de Roma para Bizancio no Oriente (Istambul, na Turquía
de hoje). 0 Ocidente da Europa foi entao entregue aos bárbaros invasores,
que causavam grandes desordens. Nesse cenário confuso, ia sendo cada vez
mais respeitada e solicitada a autorídade do Bispo de Roma (o Papa), pois
este exercia a funció de protetor das populacSes devastadas pela guerra.
Também acontecía que muitos nobres, ao morrer, doavam suas térras ao
Pontífice. Isto tudo deu ocasiao a que se formasse em tomo da Sé de Roma
um territorio governado pelo Papa a título de Pastor dos fiéis. Tal estado de
coisas foi-se consolidando, visto que os bizantinos se desinteressavam sem
pre mais pelos ocidentais. Diante destes fatos, Pepino o Breve, mordomo do
palacio do re i dos Francos, mas na realidade chefe do reino, que se ia impon
do no Ocidente, resolveu reconhecer o Papa como soberano do Estado Pon
tificio (Patrimonio de Sao Pedro, como se chamava) em 756; em resposta,
o Papa Estévao II o reconheceu nao mais como mordomo da casa do Rei,
mas como Rei dos Francos.

29
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

Vfi-se assim que o Estado Pontificio resulta das doacdes de cristfos


fervorosos feitas ao Papa, assim como de urna s¡tuaca*o política que dava na
turalmente ao Papa o governo de numerosas populagdes abandonadas.

2. A Idade Media (692-1450)

Subdivide-se em:

a) Idade Media Ascendente (692-1054): reconstrucSo após as ¡nvasSes.


O poder civil vai-se ingerindo excessivamente nos assuntos da Igreja, sufo
cando a liberdade desta, principalmente pela nomeacfo de Bispos (investi
dura leiga);

b) a Idade Media Alta (1054-1294). A Igreja se emancipa da intromis-


sSo do poder civil e atinge o máximo de sua projecSo tanto no plano religio
so como no civil;

c) Idade Media Decadente (1294-1450). A Igreja foi perdendo influen


cia no foro civil; houve o empobrecimento da teología e da piedade.

Eis os pontos salientes da Idade Media:

1) O Papa S. Gregorio Vil (1073-85) insurgiu-se contra o costume, dos


nobres, de nomear os Bispos1. Opós-se especialmente ao Imperador Henri-
que IV, da Alemanha, que, excomungado, no ano de 1077 fez penitencia
em Canossa na Italia do Norte. A Igreja assim readquiriu a liberdade que o
Cesaropapismo dos Imperadores Ihe quería confiscar.

2) O ponto alto da Idade Media foi o século XIII, no qual viveram

- o grande Papa Inocencio III (1198-1216), prestigiado por eclesiásti


cos e leigos;

- os Santos Domingos, Francisco e Clara de Assis, pioneiros da po


breza dentro da Igreja, provocando o seguimento de numerosos filhos e fi-
Ihas espirituais;

- os grandes doutores das Universidades de Ñapóles, París, Bolonha,


Oxford: S. Alberto Magno, S. Boaventura, S. Tomás de Aquino, Alexandre
de Hales..., que deixaram famosas "Sumas de Teología".

1 0$ nobres nomeam os Bispos. A Igreja aceitava as nomeacoes e conferia a


sagrada Ordem do Episcopado.

30
HISTORIA DA IGREJA 31

3) Ai Cruzadas foram expedicSes dos cristáos ocidentais destinadas a


libertar o Santo Sepulcro de Cristo em Jerusalóm, que estava em poder dos
muculmanos. Foram inspiradas pelo vigor da fé medieval, mas nem sempre
os respectivos chefes militares mantiveram a intencfo inicial estritamente re
ligiosa (fazer "a viagem da Cruz"); cederam a interesses políticos, que muito
prejudicaram a acato dos homens de fé, seus soldados. Sao Luís IX, rei de
Franca, empreendeu a sétima e oitava Cruzadas. - Estas expedicSes todas
hao de ser entendidas á luz da mentalidade da época, que era profundamen
te marcada pela fé e que via no ideal dos cavale¡ros postos a servico de Deus
em Ordens Religiosas urna de suas expressSes mais típicas e caras.

4) A Inquisícao surgiu no século XII como tribunal misto (eclesiástico


e civil), destinado a combater os hereges cataros. Estes eram contrarios ná"o
só ás verdades da fé, mas também as ¡nstítuicSes civis (matrimonio, autorida-
de do Governo, servico militar...), de modo que causavam serias desordens
entre as populacees urbanas e camponesas. - Do século XIV em diante, a
Inquisicao foi sendo mais e mais utilizada pelo poder dos reis para favorecer
seus interesses políticos sob título religioso. Esta característica se acentuou
em Espanha e Portugal a partir do século XVI, quando os reis quiseram uni
ficar as populacoes dos seus territorios, combatendo judeus e muculmanos.
Esta ingerencia preponderante do poder civil desvirtuou a Inquisicao, que
a principio era urna expressao da fé encarnada dentro dos moldes e costu-
mes da Idade Media. - S. Joana d'Arc foi vítima do reino da Inglaterra, que
queria livrar-se dessa jovem heroína, acusando-a calurosamente diante da
Inquisicao. Em síntese, a Idade Media nao foi um período obscurantista,
mas, sim, o traco entre a antigüidade e a época moderna; teve suas realiza-
cSes culturáis e científicas, sem as quais nSo se explicaría a continuidade da
historia.

3. Idade Moderna (1450-1929)

No fim da Idade Media deu-se a descoberta de documentos da cultura


paga greco-romana, que deu origem a nova mentalidade, conhecida como
"renascentista". O ideal da Cidade de Deus, em que o Papado e o Imperio
colaborariam (tío acariciado por Gregorio Vil e Inocencio III), foi cedendo
a tendencias individualistas dos reis dos séculos XVI e seguintes, os quais
procuraram mesmo formar Igrejas nacionais, emancipadas de Roma. Isto fez
que a Idade Moderna seja caracterizada por tres grandes negativas:

a) o Náb á Igreja Católica dito pela Reforma protestante (século XVI).

b) o Náb á Religiáb revelada (Cristianismo) dito pela filosofía raciona


lista, que teve sua expressao máxima na Revolucao Francesa de 1789.

31
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

c) o Nao ao próprio Deut, proferido pelo ateísmo em suas diversas


modalidades {positivismo, socialismo, marxismo).

Em nossos dias, já na Idade Contemporánea, dá-se um retorno aos


valores perenes, que a Igreja guardou fielmente através da tempestada. A
guiñada para o ateísmo cede lugar de novo á consciéncia do misterio de
Deus e da vida espiritual, sem os quais o homem se autodestrói.

Eis os traeos mais salientes da Idade Moderna:

1) O protestantismo. Já foi abordado as pp. 19s deste fascículo.

2) O processo de Galileu. Este tinha razao. Todavía as circunstancias


da época dificultavam que isto fosse reconhecido; Galileu parecia contradi-
zer á Escritura Sagrada (cf. Josué 10,12-14) e, além disso, ainda nao tinha
argumentos plenamente claros em prol da sua tese. - Nao foi condenado
por um Concilio Ecuménico nem por um pronunciamento dogmático do
Papa, mas por urna Congregacao da Santa Sé - o que ná"o compromete o
magisterio infalível da Igreja.

3} A Revolucáb Francesa em 1789 pos termo ao absolutismo dos reis,


favorecendo idóias democráticas. Contudo foi movida por menta lidade ra
cionalista, em conseqüéncia da qual a "Oeusa Razá*o" foi entronizada no al-
tar-mor da catedral de París. Muitos fiéis católicos morreram mártires sob a
pressáo de revolucionarios extremados. Aos poucos a onda de ¡mpiedade
recuou.

4) O Estado Pontificio cedeu ao movimento de unificacao da penín


sula itálica sob a hegemonía do reino do Piernónte-Sardenha em 1870. O Pa
pa Pió IX nao quis opor resistencia as tropas que cercavam Roma. Doravante
o Pontífice e seus sucessores ficariam prisioneiros no Vaticano. A extinpSo
do Estado Pontificio, grande como era, teve suas vantagens para a Igreja,
pois o Papa foi dispensado das preocupaedes ligadas á administracao de um
Estado; pode sobressair mais na grandeza da sua missfo espiritual.

5) É de notar que, no mesmo ano em que a Igreja perdeu seu poder


temporal, foi realizado o Concilio do Vaticano I. Este, fazendo eco á fé dos
cristios, definiu o primado do Pontífice Romano e a infalibilidade de que
goza quando define proposiedes de fé ou de Moral. Cristo nao podía deixar
sua Igreja sem a assisténcia neoassária para que o patrimonio do Evangelho
nao fosse dilapidado pelos homens.

6) Os -Papas posteriores a Pió IX insistiram na restauracao do Estado


Pontificio, ainda que de pequeñas dimensSes. Com efeito; a independencia

32
HISTORIA DA IGREJA _33

do Papa em relacao ao Governo da Italia era necessária para que o Pontífice


pudesse (e possa) exercer Hvremente a sua missao espiritual, que atinge as
consciéncias de fiéis esparsos pelo mundo inteiro. - Finalmente o Tratado
do Latrao em 1929 fez ressurgir o Estado Pontificio, que mede 0,44 km2
(o menor Estado independente do mundo), mas é suficiente para garantir ao
Papa a isencao de qualquer interferencia estrangeira nos assuntos da Igreja.

Em nossos dias, a Igreja, desafiada por novas situacSes, tira da sua vi-
talidade novas expressSes de fé e zelo apostólico.

* * *

Jesús de Nazaré. Historia e Interpretacáb, por Rinaldo Fabrís. Tradu-


cao do Pe. Mauricio ñuffier S.J. Colecao "Jesús e Jesús Cristo", 1? volume.
- Ed. Loyola, Sao Paulo 1988, 135x 208 mm, 372 pp.

O autor é doutor em Ciencias Bíblicas pelo Instituto Bíblico de Roma.


Especialista em estudo do Novo Testamento, procura reconstituir, no livro
ácima identificado, os fatos históricos e as idéias que explicam o texto atual
dos Evangelhos; aplica assim o chamado "Método da Historia das Formas".
O autor nao nega a ressurreicao de Jesús nem outras verdades capitais da
mensagem crista, mas traba/ha na base de numerosas hipóteses acerca do que
Jesús deve ter dito e feito, e a maneira como os Apostólos entenderam e
transmitiram as palavras e as facanhas do Senhor;na verdade, é obra arbitra
ria e subjetiva reconstituir uma historia sem ter dados suficientes para tanto
(pouco se sabe a respeito dos anos que medeiam entre a AscensSo de Jesús e
a redacao final dos Evangelhos). Por isto o autor assume posicóes discutí-
veis: por exemplo, 1) segundo Fabris, Jesús parece ter tido um saber limita
do no tocante ao sentido da sua morte e é sua ressurreicao (pp. 235-242);
2) a realidade das aparicoes corpóreas de Jesús Ressuscitado é tída como
algo sujeito a dúvidas. embora Fabris aceite a ressurreicSo do Senhor (pp.
313s). ..

Muito interessantes sSo as informacoes que o livro oferece a respeito


das pesquisas exegéticas sobre Jesús e sobre a historia da critica (pp. 5-58);
valiosos sao também os dados sobre o ambiente, a origem e o estado civil de
Jesús (pp. 59-88). Em suma, o autor tenciona ser um dentista, que quer res-
peitar os dados da fé, mas ás vezes se deixa guiar por conjeturas e suposi-
coes que podem reduzir Jesús ao nivel de um profeta. Por isto o livro talvez
desconcerté os leitores pouco afeitos a esse trabalho, que nao deixa de ser
arbitrario e, por vezes, engañador, pois pode esquecer os parámetros da fé.
O exegeta saberá discutir as páginas mais ousadas do livro.

E. B.

33
Surpresa!

O Santo Sudario e a Ciencia

Em tíntese: 0 Sudario de Turím foi tido até data recente como prová-
vel mortalha que envolveu o corpo de Jesús logo depois de mono; principal
mente a ¡magem fotográfica faz pensar na autenticidade desse lencol, pois
difícilmente um pintor medieval tena produzido tal tragado sem conhecer a
arte moderna da fotografía. Todavía o teste do Carbono-14 aplicado em
1988 a tal lencol dá a crer que á de origem medieval ou da faixa de 1260 a
1390. A Igreja aceita tranquilamente os resultados das pesquisas científicas,
visto que a fé em Jesús morto e ressuscitado nSo está ligada a reliquia algu-
ma. — Mesmo assim no plano científico nSo está esclarecido o misterio da
origem da ¡magem ¡mpressa no Sudario; restam varias facetas do problema a
ser examinadas; alám do qué, se pode perguntar se o teste do Carbono-14
podía ser fidedigno, dado que a qualidade de carbono da mortalha terá sofri-
do varias alteracdes no decorrer dos sáculos, exposta ao calor, ao sol, á agua,
i umidade, ao contato de maos suadas... Em conseqüéncia, aínda nao se tem
umjufzo definitivo sobre a origem do Sudario de Turím.

* * *

Registrou-se nos países cristSos certa surpresa diante dos resultados do


teste de Carbono-14 a que foi submetido o Santo Sudario de Turim em se-
tembro pp. Em conseqüéncia da noticia de que o Sudario nao é peca
do sáculo I, mas da Idade Media, espalharam-se rumores infundados: a Igreja
teña tido medo da ciencia, a fé haveria sido debilitada pela descoberta da
nao autenticidade do Sudario... Na verdade, nenhuma dessas conjeturas é ve
rídica. Para dissipá-las, o Cardeal Anastasio Ballestrero, de Turim, cidade on
de é guardado o S. Sudario, aos 13/10/88 emitiu urna Nota oficial á impren
sa, na qual expde a posicáfo da Igreja diante dos acontecímentos.

A seguir, publicaremos esse texto', ao qual se seguirlo alguns comen


tarios.

1 Traduzido a partir do francés publicado pelo Boletim SNOP, da Conferen


cia dos Bisóos da Franca, edícSo de 21/10/88, p. 8.

34
OS. SUDARIO E A CIENCIA 35

I. O COMUNICADO

"Por urna missiva que chegou á Custodia Pontificia do Santo Sudario


em 28 de setembro, comunicaram os resultados de seus trabalhos os Labora-
torios da Univarsidade de Arizona, da Universidade do Oxford e do Instituto
Politécnico de Zurique, que procsderam á datacáb, pelo Carbono radioativo,
do tecido do Santo Sudario, tendo por Coordenador do projeto o Dr. Mi-
chael Tite, do Museu Británico.

O relatório afirma que se pode, com 95%de probabilidade, estimar


que o tecido do Sudario pode ser datado do período compreendido entre
1260 e 1390 após Jesús Cristo. Informacoes mais precisas e minuciosas so
bre este resultado serio publicadas pelos Laboratorios e pelo Doutor Tite
numa revista científica, cujo texto está em fase de elaboracáb.

Do seu lado, o Professor Bray, do Instituto de Metrología 6. Colon-


netti de Turim, encarregado de rever o relatório recapitulativo apresentado
pelo Doutor Tite, confirmou a compatibilidade dos resultados obtidos pelos
tras Laboratorios; a certeza desses resultados entra nos limites previstos pelo
método adotado.

Após ter informado a Santa Sé, proprietária do Santo Sudario, eu vos


informo a respeito do que me foi comunicado.

Enquanto entrega á ciencia a avaliacao desses resultados, a Igreja con


firma seu respeito e sua veneracfo para com essa venerável imagem de Cris
to, que fica sendo objeto do culto dos fiéis, conforme a atitude sempre ex-
pressa frente ao Santo Sudario. O valor de imagem que este possui, prepon
dera sobre o eventual valor de peca histórica. Assim a Igreja quer dissipar as
conclusóes gratuitas, de caráter teológico, que foram formuladas num clima
de pesquisa levada única e rigorosamente no plano científico.1

Entrementas os problemas concernentes á origem dessa imagem e á


sua conservacáb permanecem aínda, em grande parte, náb resolvidos. Exigi
rlo pesquisas e estudos ulteriores; frente a estes a Igreja manifestará a mes-
ma abertura, inspirada pelo amor á verdade, abertura da qual ela deu provas
ao permitir a datacáb pelo Carbono radioativo, que Ihe foi sugerida em
termos operacionais aceitáveis.

Muitas noticias referentes a essa pesquisa científica, principalmente


em Ifngua inglesa, causaram dissabores, antecipando a publicacáb na ¡rtv

1 O texto se refere provavelmente a conjeturas de ordem teológica ou refe


rentes á fé, proferidas em ambientes nio teológicos. (N. d. Tradutor).

35
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

prensa. Lamento-o pessoalmente, pois isto favoreceu a insinuado, um tanto


passional, de que a Igreja tinha medo da ciencia, tentando ocultar os resulta
dos desta. Tal acusacib está em contradicho manifesta com as atitudes que a
Igreja, mais uma vez nesta ocasiáb, adotou com toda a firmeza".

II. COMENTARIO

Proporemos cinco pontos:

1. Que é o Sudario?

O S. Sudario é um lencol de linho de 4,36 x 1,10 m, que, segundo se


pensava (e ainda se pode pensar), terá envolvido o corpo de Jesús antes que
José de Arimatéia o colocasse no sepulcro; cf. Jo 20, 6s.

Sobre o paño acham-se duas imagens desmaiadas, cor de palha: uma


representa a frente, a outro o dorso de um homem nu, que foi flagelado, co-
roado de espinhos e crucificado segundo o costume dos romanos e que tem
as míos cruzadas sobre a bacia ou pelve. Essas imagens se sobrepoem cabeca
sobre cabeca, tórax sobre tórax..., como se um corpo tivesse sido deitado de
costas numa das metades do lencol; este terá sido dobrado para cobrir de-
pois a parte da frente do cadáver.

Há no Sudario diversos buracos resultantes de um incendio que se deu


em Chambéry no ano de 1532. A peca estava dobrada e guardada num cofre
de prata; o fogo fez derreter a prata, que derramou suas gotas sobre o paño,
perfurando-o; véem-se tambám marcas da agua com que procuraram apagar
o fogo; aparecam outrossim remendos em forma de triangulo feitos no len
col pelas Religiosas Clarissas, que tinham a guarda dessa pepa.

Desde 14 de setembro de 1578, após uma historia assaz acidentada, o


Sudario se acha em Turim na Cápela de Guarini, construida sobre a catedral
de SSo Joto de Turim. O lencol está enrolado ao redor de um cilindro de
madeira e encerrado numa urna de prata. Esta, por sua vez, se acha dentro
de uma caixa de madeira protegida por grades de ferro que se abrem com
tres chaves: uma destas está com o ex-rei da Italia (hoje exilado), outra com
o arcebispo de Turim, e a terceira com o curador (ou guarda) do S. Sudario.

2. O S. Sudario e a Fotografía

Aos 28 de maio de 1898 deu-se impressionante fato na historia do Su


dario, fato que desencadearia uma serie de outros acontecimentos altamente
significativos.

36
O S. SUDARIO E A CIENCIA 37

Celebravam-se entSo as bodas do futuro reí Vítor Emanuel III. Para


solenizá-las, resolveram os organizadores da festa exibir publicamente o len-
col sagrado durante oito dias. No sáculo XIX seria aquela a sexta apresenta-
cao da venerave I peca ao público. Entre os promotores do evento, estava o
advogado Secondo Pia, que era também o Presidente da Sociedade dos Afi
cionados da Fotografía em Turim, tendo ganho numerosos premios pelos
seus trabalhos fotográficos; este benemérito amador quis entáo fotografar
o Sudario para formar a documentacáo respectiva.

Conseguiu a necessária licenca, e tirou duas fotografías do paño es


tendido sobre um tablado de 4 m de altura. Tirou enormes chapas de
50 x 60 cm de tamanho. Ao revelá-las, esperava ter primeiro os negativos,
como em todo processo de revelacfo. Todavía experímentou enorme surpre-
sa ao verificar que a ¡magem tirada da solucao de oxalato de ferro, em vez
de ser um negativo pior do que o original, era, ao contrario, um be lo positi
vo. O fenómeno era e seria inédito em toda a historia da arte fotográfica.
Em vez dos trapos esmaecidos ou mesmo repelentes do Sudario ao natural,
deparava-se com um rosto sereno e majestoso. Secondo Pia tinha entre as
maos urna auténtica fotografía, do tamanho natural de um corpo morto,
com cerca de 1,80 m de altura, apresentando muitos pormenores que ja
máis se descobriri am na observacao direta do lenco I. A ¡magem existente
no Sudario, diziam os entendidos, nao poderia ter sido pintada por um
medieval, pois na Idade Media nao se conhecia a arte fotográfica com suas
imagens negativas e positivas.

De entáo por diante o Sudario foi sendo objeto de estudos cada vez
mais precisos por parte de cientistas especializados em diversos ramos do
saber; em 1977 os técnicos especiáis da NASA se transferiram para Turim
a fim de proceder aos mais sofisticados exames da mortalha; conseguiram
os sabios urna fotografía tridimensional da imagem do Sudario; analisaram
o tipo do paño respectivo; descobriram os vestigios de duas moedas romanas
(leptos) cunhadas por Pilatos, que parecíam ter sido colocadas sobre as pal-
pebras de Jesús morto a fim de Ihe manter os olhos fechados. Em suma, to
dos os resultados das pesquisas pareciam convergir para atestar a autentíci-
dade do Sudario.

Faltava, porém, até 1988 o teste do Carbono-14.

3. O Carbono-14

O Carbono-14 é um isótopo radioativo do Carbono, que tem a massa


atómica 14; geralmente origina-se na atmosfera por efeito das radiacdes cós
micas. Produzido no ar, o C-14 penetra, por fotossfntese e metabolismo, nos
vegetáis e animáis; tal processo perdura ao longo da vida desses corpos, e

37
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

cessa logo após a morte dos mesmos; entSo o teor de Carbono-14 vai dimi
tí uindo nos organismos mortos segundo a leí de desintegrando radioativa. As-
si m se pode com certa verossimilhanca determinar a idade de um corpo or
gánico morto, como é, por exemplo, o linho de que é feito o lencol de Turim.

A Santa Sé hesitou sobre a conveniencia de se fa¿er tal teste porque,


quando se comecou a pensar no assunto, era preciso queimar cerca de um
sexto da superficie total do Sudario e se devena repetir por duas a tres vezes
a experiencia para chegar a um resultado fidedigno. Ademáis é tao grande a
quantidade de materia orgánica heterogénea depositada sobre o linho no de-
correr dos sáculos que forzosamente ela haveria de prejudicar os resultados
da datacáo (a eliminacao mesma de tais impurezas ñas fibras do Sudario aca
baría por destruir as próprias fibras). Mais: a mortalha sofreu dois ou tres in
cendios; o de Chambéry em 1532 chegou a fundir a caixa de prata que o
continha, chamuscando e queimando boa parte do paño. Para apagar o fogo,
jogou-se agua sobre o cofre, a qual terá arrastado muitas partículas de Car
bono. Mais: diz-se que o lencol foi férvido em azeite para se pro va r a sua
autenticidade. Além disto, a mortalha permaneceu muitas horas ao ar livre
recebando o sol da Italia e o vento possivelmente carregado de poeira. Em
outras ocasioes, o mesmo paño esteve estendido por muitos dias em igrejas
úmidas e frías, em locáis fechados, ocupados por multidóes de fiéis, ou seja,
em ambientes carregados de dióxido de Carbono; recebeu também a fu ma
ca de cirios acesos postos ao seu lado. Outrossim note-se que esse paño foi
tocado por centenas de maos, que o seguraram para as exibicoes públicas,
podendo essas mSos estar suadas; beijaram-no enfermos e devotos, deixando
sobre ele alguns vestigios do seu organismo.

É de se observar também que o pleno éxito da datacao pelo método


do Carbono-14 requer nao tenha havido alteracao no Carbono comido ñas
moléculas do objeto analisado; nem se deve ter mesclado qualquer materia
orgánica alheia a tal objeto.

Foram todos estes fatores que levaram a Santa Sé a hesitar diante da


proposta da api ¡cacao do método do C-14.

A oscilacao, porém, foi superada, de modo que em 1988 procederam


ao referido exame tres Laboratorios distantes e independentes um do outro,
a saber: na Inglaterra, na Su fea e nos Estados Unidos. Os peritos receberam
pedacos da mortalha misturados com outras tiras, também de tecidos anti-
gos. Nenhuma das equipes sabia se estava avaliando a idade do Sudario ou
se datava panos antigos de idade já conhecida. Ao fim das experiencias, as
tres tiras do Sudario foram unánimemente consideradas como tendo idade
nao superior a 728 anos, e as tiras dos outros tecidos também foram datadas
corretamente.

Ver ulteriores consideracoes sobre o teste no Apéndice a este artigo.

38
OS. SUDARIO E A CIENCIA 39

4. E a Fé?

A fé na Paixáo, Mortee Ressurreicaosalvfficasde Jesús Cristo nao está


ligada a alguma reliquia, nem mesmo ao Sudario. Ela se funda na Palavra de
Deus oral e escrita, corroborada pelos frutos de coragem e santidade que tais
acontecimentos tém despertado na historia da humanidade. Em conse-
qüéncia, nada muda no plano da Religiao em virtude dos recentes testes...
Durante dezenove sáculos os cristaos professaram heroicamente a sua féem
Jesús Cristo morto e ressucitado, e poderao continuar a fazé-lo, sem levar
em conta o Sudario, para o futuro.

5. Resultados definitivos?

Embora muitos pesquisadores tenham como firmes as conclusdes do


teste do Carbono-14 no Sudario de Turim, outros julgam que aínda há muitas
facetas da questáo a explicar, de modo que nao se podem considerar defini
tivos tais resultados. A propósito transcrevemos em Apéndice a este artigo as
ponderales do Dr. Eurípides Cardoso de Meneses,' autor do livro"OSanto
Sudario á Luz da Ciencia", Ed. Loyola, Sao Paulo 1987.

Em conseqüéncia de tao sabias consideracoes, o estudioso mantém-se


sobrio, na expectativa de ulteriores pesquisas, ciente de que a verdade cien
tífica nunca prejudicará a fé.

APÉNDICE

O SUDARIO DE TURIM, O TESTE DO TESTE

"Á página 51 do meu livro O Santo Sudario á luz da Ciencia salientei a


inconveniencia e a inoportunidade da prova do carbono-14 por um processo
ainda em vias de aperfeicoamento. Se se utilizasse o sistema até agora usado,
seria necessário incinerar urna sexta parte do Sudario, e até mesmo repetir
duas ou tres vezes o processo (?!) para maior confiabilidade, o que seria sim-
plesmente ¡mpensável.

Ademáis nao se costuma datar pelo teste do carbono-14 com a desejá-


vel precisao: um objeto de 2.000 anos é datado como sendo de 1.800 ou
2.200 anos, portanto com urna aproximacao para mais ou para menos de
200 anos; logo com urna margem de 'seguranca' de 400 anos...

1 Eurfpedes Cardoso de Meneses é ex-deputado federal e magistrado.

39
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

Outro problema que um dentista digno desse nome nao poderia igno
rar, segundo o próprio dr. Willard Libby — premio Nobel 1960, a quem se
deve a adocSo do método -, é que, levando-se em conta as perdas inevitáveis
na operacSo, é necessário contar para a prova, no mínimo, com uns lOg de
carbono puro. É tal, entretanto, a quantidade de materia orgánica existente
no Sudario que forcosamente haveria de prejudicar os resultados da sua da-
taclo, mesmo porque a eliminacá*o de tais impurezas ñas fibras do Sudario
acabaría por destruir essas fibras também. Algo parecido acontece, alias,
com muitos panos achados ñas antigás múmias egipcias.

Outros entraves dificultarían) outrossim a objetividade dos resultados


da prova: as vicissitudes sofridas pelo Sudario ao longo dos sáculos, capazes
de alterar a composieao química do carbono nele contido.

Como é sabido, sofreu o Sudario dois ou tres incendios, notadamente


o de Chambéry em 1532, com temperatura de 900°, que chegou a fundir a
caixa de prata que o continha, chamuscando e queimando mesmo boa parte
do paño. E ainda para apagar o fogo jogou-se sobre o cofre grande quantida
de de agua, que terá arrastado certamente muitas partículas de carbono;
nem falemos, se é verdade o que consta, em haver sido o Lencol férvido em
azeite para se provar a sua autenticidade.

Também permaneceu o Sudario estendido muitos dias em igrejas úmi-


das e frías, em locáis fechados, ocupados por multidóes de fiéis, portanto em
ambientes carregados de dióxido de carbono, e perto de cirios acesos, com
a conseqüente producSo de fumaca.

Foi tocado o Sudario por centenas de má*os que o seguraram para exi-
bicoes públicas, maos que podiam estar suadas... e posto em contato com
tantos enfermos, esperanzosos de urna cura; e beijado ¡numeras vezes, o
que tornou bem duvidosos os resultados que se obtivessem da prova.

É de se levar em conta ainda ser fundamental para o éxito do método


o fato de nao ter havido nenhuma alteracá*o no carbono contido ñas molé
culas do objeto analisado, e o de nao se Ihe haver mesclado qualquer materia
orgánica alheia ao Sudario, de difícil eliminacao.

Por tudo isto propós o prof. Cesare Codegone, diretor do Instituto


Técnico do Politécnico de Turim, que se fizesse primeiro urna prova com os
lencóis de linho egipcios, de data já conhecida; ou melhor, que se esperasse
pelo aperfeicoamento do método ou por sua substituicSo por outros mais
dignos de confianca.

Recentemente, porém, com permissáo da Santa Sé, que se tornou, por


doacao testamentaria do rei Umberto II, proprietária do Sudario desde 19

40
OS. SUDARIO E A CIENCIA 41

de outubro de 1983, obtiveram lícenca as Universidades de Arizona, Oxford


e Zurich para realizarem nova prava de carbono-14 substituindo-se o tradi
cional processo feito por meio de contador proporcional, mais confiável, pe
lo de datacao por aceleradores, ainda nao suficientemente testado. Para tal
se subtraiu do paño do Sudario, de 4,30 x 1,10, urna amostra de 1 cm x 7,
que foi dividida pelos laboratorios daquelas Universidades, de mistura com
tres pedacinhos de linho antigo de outras procedencias.

Cabe aqui urna consideracao prática de um engenheiro especialista em


construcoes, para quem seria técnicamente perigoso, na verificacao da natu-
reza do subsolo de um terreno em que se vai construir um edificio, fazer-se
urna sondagem em um so ponto do solo. Poderia, disse ele, haver dúvidas so
bre a validado estatCstica de urna só amostragem, pois quanto menor a amos-
tragem, menor a probabilidade de ser ela deveras representativa do 'univer
so' em estudo. Nao se deveria fazer para a construcá*o de um predio apenas
urna pequeña sondagem num só buraco do terreno, mas sim em vinte ou
mais buracos em locáis diferentes.

Em se tratando, portanto, de um paño, quanto maior a amostra, maior


a probabilidade de que ela seria representativa do 'universo' em estudo;
quanto menor, menor... disse o engenheiro aludindo ao minúsculo pedaci-
nho de tecido examinado pelos técnicos de Oxford.

Ora, se se tirou dum paño de 4,30 x 1,10 apenas um pedacinho de


1 cm x 7, poderemos estar certos de que o que se verificou naquela única e
minúscula amostragem seria deveras representativo da realidade existente
em toda a extensao do Sudario?

Na reuniao havia em Londres para se decidir da conveniencia de se


fazer a prova de que foram encarregadas as tres Universidades, eu teria vota
do favoravelmente á proposta do prof. Codegone. Mais: á vista das peripecias
por que passou, no decorrer de tantos sáculos, o Santo Sudario, e enquanto
nao houver garantía absoluta de credibilidade das conclusoes a que se possa
chegar pelo exame proposto, através de aceleradores, eu declararía o Santo
Sudario um objeto inadequado para a prova do carbono-14 já que nao se sa-
tisfez á exigencia do próprio dr. Willard Libby: a comprovada existencia de
10 gr. de carbono puro, condicSo sine qua non da validade de prova.

Como era de esperar-se, já está sendo contestada a valídade da 'prova'


dos tres pedacinhos. Alias, escrevendo ao cardeal Ballestrero, na qualidade
de autor de um livro sobre o assunto, manifesté i-Ihe a 'minha estranheza pe
la acodada divulgacáo do resultado do exame, a meu ver desnecessariamente
secreto, das supostas amostras do Santo Sudario, desacompanhado do res-

41
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

pectivo relatório cienti'fico, que se esperava assinado pelo representante do


Museu Británico ou pelos até agora desconhecidos investigadores'.

O Estado de S. Paulo a 2 do corrente divulgou também judiciosas de-


claracoes do dentista brasileiro dr. Walter Demetrio González Alarcon, do
Departamento de Geofísica e Aeronomia do Instituto de Pesquisas Espaciáis
(o Inpe) e da Assist (Associacao Internacional de Estudiosos do Sudario de
Turim), que espera seja contestado por numerosos dentistas o recente pro-
nunciamento sobre a 'datacáo' de Oxford.

Alias, fosse tido mesmo como válido esse veredictum, maior se teria
tornado o misterio do Sudario. Perguntaríamos, no caso, aos sabios anóni
mos: e a prova do polen, com a qual Max Frei reconstituiu científicamente
o itinerario do Santo Sudario de Jerusalém a Turim? E a prova das moedas
descobertas nos olhos do Homem do Sudario, que o prof. Francis Filas, da
Universidade de Loyola, de Chicago, identificou com o lepto cunhado por
Póncio Pilatos nos anos 31-32 da era crista? E aquele outro acontecimento
fantástico e único de 24 de maio de 1898 que se deu ao revelar Secondo Pia
a primeira fotografía do Sudario, cujo negativo surpreendentemente se cons-
tatou ser um negativo-positivo? E, para aumentar o misterio, como se
explicará, se fosse verdadeira a 'datacáV de Oxford, a tridimensionalidade
da imagem do Homem do Sudario?

De resto esses dois fenómenos, — o do negativo-positivo e o da tridi


mensionalidade, - só se dáo, única e exclusivamente, com o Sudario. Qual-
quer outra fotografía posta no VP-8 — analisador de ¡magens — mandada
pelos planetas para a NASA, sai horrivelmente distorcida, como aconteceu
com a de Pió XI. E qualquer copia que se fizesse do Sudario de Turim reve
laría no laboratorio fotográfico aquele borrao grotesco que lembra um es
pectro, um verdadeiro fantasma e nao aqueta figura atlética, magnífica do
Homem do Sudario, aquele semblante sereno e majestoso do negativo-posi
tivo, até agora considerado como o auto-retrato de Jesús.

Razao tinha de sobra o grande Pierre Barbet para afirmar a autentici-


dade intrínseca do Santo Sudario. Alias, nao havia na Idade Media tao per-
feito conhecimento da anatomía para que mesmo um genio muitíssimo su
perior ao de Da Vinci pudesse produzir urna obra tao perfeita como o Santo
Sudario.

Falharam, pois, os anónimos pesquisadores de Oxford: nao merece


crédito o laudo que, alias, nem assinaram. Urge, como disse um jovem arqui-
teto: fazer o teste do teste".

* * *

42
As Grandes Religioes da Humanidade:

O Chintoísmo

Em síntese: O Chintoísmo é urna religiao e um modo de vida que im-


pregnam profundamente a cultura japonesa. Cultua a deusa suprema Amate-
rasu-Omikami (deusa do Sol) e os Kami, divindadessubordinadas ou.melhor,
manifestares da deusa suprema. O culto de Amaterasu é próprio da familia
imperial, que descende diretamente da deusa. como se diz. Os kami sSo seres
superiores que tutelam as familias, os povos, as cidades, os trabalhos, os do-
entes, os sofredores... Importa ao japonés chintoista viverem harmonía com
os seus kami, com a Natureza trios, lagos, vegetacao...) e com os demais ho-
mens; disto resulta a felicidade, favorecida pelo culto dos antepassados e as
festas de familia ou da nació, sem que haja no Chintoismo algum especial
interesse pela vida postuma.

Há 2.600 anos os japoneses sao fiéis a um conjunto de eren gas, ritos e


costumes, que constituem o Chinto (Shinto) e que dao sentido a cerca de
cem mil templos esparsos por todo o Japáo, com os seus sacerdotes. O Chin
to, juntamente com o culto do Imperador e o amor á natureza, tornou-se
um elemento característico do Japao. A religiáo chintoi'sta vem a ser um
marco profundo do estilo de vida japonés. — Examinemo-la de perto.

1. Chintoísmo: notas gerais

0 Chintoísmo nao tem fundador nem Escrituras Sagradas nem dogmas


precisos nem intérpretes autenticados. Possui, porém, seus traeos caracterís
ticos, que se manifestam em ritos e símbolos.

Chinto significa "caminho dos deuses". Mais precisamente, é o cami-


nho dos kami ou, melhor, o caminho aos kami.

Kami quer dizer Deus nao no sentido bíblico, mas no sentido de mani-
festaedes da Divindade Suprema, chamada Amaterasu-Omikami, Deusa do

43
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

Sol. - Oeus, no Chintoísmo, é tido como urna forca vital cósmica, que cria
e sustenta, dá a vida e faz crescer e multiplicar; garante harmonia e prosperi-
dade a todo o universo.

O Chintofsmo tem sua origem nos mitos e ritos dos varios cISs que for-
mavam a antiga populacSo do Japá*o. Essas tribos foram-se unificando sob o
predominio do cIS Yamato, que cultuava a deusa Amaterasu. Esta tornou-se
a deusa suprema do JapSo, ao passo que os kami titulares dos outros clá"s se
tornaram kami subordinados, tidos como derivados de Amaterasu. Assim a
populacSo do Japá*o se unificou sob o regime do seu Soberano (Imperador);
a familia imperial é tida como fiiha da deusa-ma"e e, por conseguinte, de to
do o povo japonSs. O Imperador é o símbolo e o vínculo da unidade nacio
nal; ñas grandes festas de sua familia ou da nacao, reza pelo bem-estar de
todo o povo japonés, celebrando a deusa Amaterasu-Omikami.

Assim vé-se que o Chintoísmo pode ser definido como o conjunto de


conviccóes, atitudes e comportamentos religiosos e cívicos que integram a
vida e a cultura do Japao no decorrer de vinte e seis séculos de historia.

Atualmente o Chinto se apresenta sob quatro formas:

1) o Chinto da Casa Imperial, que consiste nos ritos celebrados pelo


Imperador ñas grandes datas da naca*o e no contexto das idéias atrás ex
postas;

2) o Chinto dos Templos: é a corrente principal. Consiste ñas crencas e


nos ritos celebrados nos numerosos templos do Japao pelos respectivos sa
cerdotes. Os japoneses freqüentam esse culto, orando aos kami e oferecen-
do-lhes principalmente arroz e saké (vinho de arroz) por ocasiSo das festas e
romanas;

3) o Chinto popular. Compreende todos os elementos da religiosidade


popular, com práticas mágicas, em voga no povo mais simples, É esta a ca
rnada mais profunda da religiosidade japonesa, que atualmente está marcada
por influencias do Budismo e do Confucionismo;

4) o Chinto das Seitas. No sáculo XVI derivaram-se da tradigao chin-


tofsta treze grupos religiosos, dos quais doze foram fundados por pessoas ca-
rismáticas, que muito enfatizaram o valor da fé pessoal. A mais conhecida
dessas novas seccóes é o Tenrikyo, que hoje em dia já nao pode mais ser tido
como urna seita chintofsta, mas é urna nova religiao.

2. A evolucSo do Chintoísmo

Vimos'que o Chintofsmo resulta da fusao de crencas e ritos professa-


dos pelos antigos clás do Japáfo seis séculos antes de Cristo.

44
OCHINTOfSMO 45

No sáculo VI d.C. o Budismo foi introduzido no Japfo, a partir da


India e da China. Criou-se entao a palavra Chin-to para distinguir a religiao
japonesa da religiao estrangeira invasora, chamada Butsu-do (via de Buda,
e nao via dos deuses). Aconteceu, porém, que, no decorrer dos tempos, o
Chintoísmo foi-se fundindo com o Budismo, originando um amalgama com
predominio ora de Chintofsmo, ora de Budismo. Para os budistas, os kami
chintoístas eram apenas manifestacSes do Buda eterno; e, para os chintoís-
tas, o Buda e os boddhisattva (imitadores de Buda) eram meros nomes dos
diversos kami do Japao. Em conseqüéncia, apareceram lado a lado no Im
perio Japonés templos chintoístas e templos budistas.

No sáculo XIII deu-se urna reacSo contra o sincretismo religioso. Va


rias correntes nacionais reivindicaram o Chinto puro, procurando eliminar os
elementos religiosos estrangeiros. O Budismo foi assim ameacado de desapa
recer.

Todavía no período de Governo militar feudal da familia Tokugawa


(1615-1867) o Budismo recuperou sua voga, tornando-se, por assím dizer,
quase a ReligiSo do Estado. Na mesma época, porém, foi-se esbocando um
movimento nacionalista, ¡nteressado em favorecer a cultura ctássica do Ja-
pao e, por conseguinte, o retorno as fontes religiosas do país, ou seja, ao
Chinto. Este empenho deu seu pleno fruto em 1868, quando Mutsuhito (ou
Meiji Termo) promoveu a restauracao do regí me imperial e a instituido do
Chinto do Estado. De entáo por diante, foi-se fortalecendo o nacionalismo
japonés, que tomou atitudes extremadas de imperialismo em diversas guer
ras; todavía foi vencido em 1945 e oficialmente abolido pelo próprio Impe
rador Hirohito; o Chinto foí reduzido a urna organizado religiosa, semelhan-
te ás de outras religides; contudo o nacionalismo japonés nlo pode prescin
dir, por completo, do Chinto como corrente religiosa nacional.

3. Os diversos "Kami"

Muitos sSo os kami (manifestacoes da Divindade) do Chintofsmo; hi


perbólicamente diz-se que se contam oito milhóes. Apresentam-se em tres
categorías distintas:

1) Os "kami" da nacáb e das familias. Sao os deuses nacionais e fami


liares, todos descendentes de Amaterasu, cultuados com os antepassados na
familia imperial e em todas as familias japonesas;

2) os "kami" das comunidades locáis. Cada povoado, aldeia ou cidade


tem um kami próprio, que une e protege todos os respectivos habitantes.
Tém os mais diversos nomes;

45
46 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

3) os "kami" tutores da natureza, de atividades e circunstancias espe


ciáis. 0$ mais antigos sSo os tutores da natureza:... do mar e das montanhas,
por exemplo, ñas épocas de pesca e caca;... dos campos e dos arrozais, ñas
épocas de semeadura e colheita... Cada atividade importante tem seu kami
protetor: o trabalho, a guerra, o comercio, a industria... Também certos mo
mentos da existencia humana sSo assim tutelados: há o kami protetor do
matrimonio, do nascimento, o dos doentes, o dos sofredores... Por^conse
guirte, sempre e em toda parte o japonés se encontra com um kami, que é
fonte de energía e harmonia e que assegura aos devotos um bom relaciona-
mento com tudo o que o cerca.

Entre os atributos dos kami, destaca-se a beleza. Os japoneses nao sao


táo contemplativos quanto os indianos, nem táo pragmáticos quanto os chi-
neses, mas safo cultores da beleza e procuram perceber a Divindade dentro
das categorías da estética; alias, a própria Ifngua japonesa é assaz poética e
simbolista; sao penetradas de estética a arquitetura, a jardinagem, as vestes...
dos japoneses.

Um lugar belo e bem ornamentado pode tornar-se templo de um kami,


desde que este seja ritualmente invocado. 0 mesmo se dá com urna pessoa
cuja vida ou cuja morte seja bela; um herói nacional, vivo ou morto, se torna
mansáo de um kami.

4. A Moral Chintofsta

Todos os homens tém sua origem na mesma Divindade, que se mani-


festa nos kami. Por isto todos os homens s§o filhos dos kami e ¡rmá*os entre
si. Mais: também a natureza provém dos kami, de modo que homens e natu
reza (rios, plantas, montanhas, mares...) sao aparentados entre si e devem vi-
ver em harmonia, na harmonia da mesma beleza.

O pecado (tsumi) consiste na falta de beleza e pureza. Urna e outra se


adquirem mediante purificacao dos costumes. Diante das culpas cometidas,
os japoneses nao preconizam o arrependimento no sentido cristao; sao pro
pensos, de certo modo, a adotar urna "Ética da Situacao", segundo a qual as
circunstancias contingentes é que definem provavelmente o que é bom e o
que é mau no plano ético. Importa aos chintofstas praticar a ascese, que pu
rifica o coracá'o, tornando-o belo e reto. Este esfórpo é sustentado por uma
cerimónia própria: matsuri (festa); esta implica o culto dos kami com seus
ritos; implica também as festas que p3em os homens e os kami em comu-
nhao' entre si; incluí outrossim todo tipo de conduta que ponha os homens
em relacionamento mutuo para bem administrar e governar a socíedade. V§-
se assim que ó Chintofsmo ná*o é somente religiáo, mas vem a ser também
um estilo de vida. Este estilo de vida parece satisfazer plenamente as necessi-

46
OCHINTOfSMO 47

dades espiritual e religiosas dos japoneses, que, frente ao Cristianismo, se


julgam auto-suficientes. Do Ocidente interessa-lhes muito mais a técnica do
que a filosofía crista.

Ademáis os japoneses parecem propensos ao relativismo religioso ou


ao sincretismo; 70% deles declaram-se chintoistas e budistas ao mesmo tem-
po 1o Chintofsmo se manifesta ñas comemoracSes de acontecí mentos dos in
dividuos, das familias e da naca"o, ao passo que o Budismo realiza os ritos re
ferentes á morte). Alguns japoneses aceitam também ser cristSos, ao menos
em algumas ocasiSes da vida. Assim os japoneses aceitam a coexistencia das
religioes, mas nao parecem interessados num diálogo serio e profundo, como
aquele que a Igreja Católica tem em vista.

Aínda é de notar que a mentalidade chintoCsta valoriza a familia e a


nacao mais do que a pessoa humana, ao passo que o Cristianismo muito en-
fatiza a pessoa (sem menosprezar a familia). Para os chintofstas, qualquer
comunidade é vista como extensá*o da familia: a escola é a familia que estu-
da; a fábrica e o escritorio perfazem a familia que trabalha; a nacáo é a fami
lia global. O fato de que o Chintofsmo penetra toda a vida do Japá"o, explica
que o Chintoismo seja tido como a mais auténtica expressao da "japonesei-
dade". É um tronco robusto que nos seus ramos pode acolher expressSes re
ligiosas de outra origem, ou seja, budistas e confucionistas.

O Cristianismo na"o pode aceitar esta especie de fusáo. É o que torna


diffcil o diálogo entre Chintoismo e Igreja Católica.

0 Chintofsmo n2o se preocupa muito com a vida postuma; propoe e


espera a felicidade para a existencia terrestre; esta resulta, como dito, da har
monía do homem com a natureza, com os demais homens e com os seres di
vinos ou kami.

A propósito:

JAN SWYNGE DOUW, Shirito, em "Dictionnaire des Religión* sous la


Direction de Paúl Poupard". París 1984.
JOHN BOSCO SHIRIEDA, Shintoismo, una Chiave per capire il Giap-
pone, in JESÚS, ottobre 1986, pp. 70-73.

* * *

ENSINO RELIGIOSO ÑAS ESCOLAS OFICIÁIS

Neste momento em que as Legislacóes estaduais e municipais estío


sendo revistas á luz da nova Constituicao Federal, poe-se naturalmente a te
mática do Ensino Religioso ñas Escolas públicas. Especialmente tres ques-

47
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 320/1989

toes se agitam a respeito: 1) o Ensino Religioso tem ou nao tem lugar ñas
Escolas de um Estado que se diz arreligioso ou leigo? 2) Caso exista, o Ensi
no Religioso deye limitar-se á formapío humana e moral dos alunos, ficando
o Catecismo propriamente dito para as paróquias? 3) Caso se ministre um
ensino típicamente religioso, deve ser ele confessional (católico, protestan
te...) ou "ecuménico" (transmitido apenas as proposicoes básicas do Cristi
anismo que satisfacam a católicos e protestantes)?

Ora a propósito a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, mediante


o seu Conselho Permanente reunido na sua 20? Reuniáo Ordinaria em 1988,
emitiu a seguinte DeclaracSo de Principios (publicada no boletim "Noticias"
da CNBB, n? 34, de 25/08/88):

"1. A Escola deve tornar possfvel o Ensino Religioso Escolar de acor-


do com a confissío religiosa dos país dos alunos (Doc. 36 'Por urna nova Or-
dem Constitucional', n? 140).
2. A educacáb religiosa nao decorre da confessionalidade do Estado,
mas do direito dos pais de querer dar aos seusfilhos urna formacáb integral,
na qual se deve incluir a religiáo (Declaracío Dignitatis Humanae, n? 5).

3. O Ensino Religioso desenvolverá atitudes ecuménicas entre os cris-


tíos e o diálogo com as religióes ná"o-cristís, evitando, porém, o perigo de
indiferentismo religioso ou de proselitismo, que desrespeita a identidade reli
giosa específica dos alunos.

4. Depois destas premissas, pode-se considerar o Ensino Religioso co


mo processo de educacío da dimensfo religiosa de educadores, pais, mestres
e educandos, no pluralismo da Escola Oficial, para ajudá-los a dar urna res-
posta pessoal a Deus, no quadro da sua comunidade religiosa, e encontrar o
sentido último da sua existencia.

5 O quadro de referencia do Ensino Religioso consiste nos valores


fundamentáis da vida humana, iluminados pelos Livros Sagrados e pela Tra-
dicao religiosa dos alunos, o que, para os católicos, implica a Verdade sobre
Jesús Cristo, a Igreja e o Homem.

6. A f inalidade do Ensino Religioso aprésente os seguintes aspectos:

a) O Ensino Religioso pode ser considerado tanto como qualificado


preámbulo para a Catequese quanto como reflexáb posterior sobre os con-
teúdos da Catequese ja adquiridos (Joáb Paulo II, 5 de marco de 1981, aos
sacerdotes da diocese de Roma);

48
EDIQOES LUMEN CHRIST!
SAGRADA ESCRITURA:

ENCONTRÓ COM A BÍBLIA, Pe Louis Monloubou e Ir.


Dominique Boyssou, 1988
Pontos de referencia para urna primeira leitura da Biblia:
1? vol., Antigo Testamento, 130p Cz$ 900,00
2° vol., Novo Testamento, 104p Cz$ 900,00
GUIA DE LEITURA BÍBLICA, toda a Escritura, exceto Sal
mos e Evangelhos.
O. Estéváo Bettencourt, OSB. - 15 cartóes, breves instru-
góes. 1982 Cz$ 350,00
TEOLOGÍA:
RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA, D. Cirilo Folch Go
mes, OSB. Comentario ao "Credo do povo de Deus", á luz
do Vaticano II. 1981. 2? ed. 692p Cz$ 7.180,00
O MISTERIO DO DEUS VIVO, Pe. Albert Patfoort, OP.,
traducáo e notas de D. Cirilo Folch Gomes, OSB. Tratado
de "DEUS UNO E TRINO", de orientacáo tomista e de ín
dole dídática. 230p CzS 2.780,00
DIÁLOGO ECUMÉNICO, temas controvertidos. Dom Esté
váo Bettencourt, OSB. 3- ed., ampliada e revista. 1989,
304p CzS 3.880,00
LITURGIA:
A MISSA SEGUNDO O CONCILIO, normas pastorais e
documentado. 133p CzS 1300,00
GRANDE ENCONTRÓ, Dom Hildebrando P. Martins, OSB.
"Semana da Missa na Paróquia, para melhor compreensáo
do povo. 109p CzS 1.100,00
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portas de Igreja e salóes Paroquiais. Em cores.
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24a. ed., contendo as 10 Oracóes Eucaristicas. Preto e ver-
melho, 72p CzS 420,00
Com capa plástica CzS 1.050,00
A MISSA EM LATIM PARA OS FIÉIS, 50p. 1980 CzS 420,00
LITURGIA PARA O POVO DE DEUS, D. Cario Fiore. A
Constituigáo Litúrgica, explicada ao povo. Tradugáo e
notas de D. Hildebrando P. Martins CzS 2.000,00
RITO DO BATISMO DE CRIANCA, livro do Celebrante, 88p. CzS 900,00
RITO DO MATRIMONIO, sem Missa CzS 140,00
Livro do Celebrante CzS 900,00
RITOS DE COMUNHÁO, para Ministros Extraordinarios da
Eucaristía. Normas, ritos, leituras e investidura. 68p CzS 450,00
BODAS DE PRATA E DE OURO, ritos e textos para Missa.
15a. ed. 1987 CzS 210,00
MEUS QUINZE ANOS. Ritos e textos para Missa. 16a.ed.
1989 CzS 310,00
UNCÁO DOS ENFERMOS, ritual de urgencia, sagrada un-
gáo e viático CzS 210,00
MISSA DA ESPERANCA, para 7? e 30? dias. Folheto 4p.
10a.ed. 1987 CzS 20,00
DOCUMENTOS PONTIFICIOS:

A PALAVRA DO PAPA:
Vol. I Joáo Paulo Meo espirito beneditino. Carta apostó
lica, homilías e alocugóes. 111p Cz$ 840,00
Vol. II O corpo humano e a vida, escatologia é eutanasia.
Comentarios de D. Estéváo Bettencourt, OSB Cz$ 750,00
Vol. III Vida e missáo dos religiosos: agáo e contem-
placáo . . . '. Cz$ 840,00
Vol. IV Joáo Paulo II aos jovens. Alocucóes. 78p Cz$ 840,00
Vol. V A Liturgia das Horas. Texto completo da instrucáo
geral sobre a Oracáo do Povo de Deus CzS 880,00
Vol. VI Constituido Sacrossanctum Concilíum. Bilin
güe CzS 1.400,00
VIDA MONÁSTICA
A REGRA DE SAO BENTO, edicáo em portugués. Traducáo
de D. Joáo Evangelista CzS 500,00
VIDA MONÁSTICA, elementos básicos. Agustín Roberts.
192p. 1980 CzS 1.800,00
O HUMILDE E NOBRE SERVICO DO MONGE, TRECHOS
ESCOLHIDOS das cartas aos Mosteiros da congregacáo de
Subiáco. D. Gabriel Braso. Traduzido por Alceu Amoroso
Lima e suas filhas. 1983, 232p CzS 2.500,00
SENTIDO E ESPÍRITO DA REGRA DE SAO BENTO,
D. Ildefonso Herwegen. 1953 CzS 4.500,00
APOFTEGMAS, a sabedoria dos antigos monges do deser
to. Breves sentencas sobre a oracáo e ascese. Traduzido e
anotado por D. Estéváo Bettencourt. 1972 CzS 2.500,00
HISTORIA:
OS MONGES BENEDITINOS NO BRASIL, esbogo histórico.
Dom Joaquim Grangeiro de Luna OSB. 1947, 162p .... CzS 2.500,00
A ORDEM DE SAO BENTO NO BRASIL QUANDO PRO
VINCIA, (1582-1827), 240p CzS 3.800,00
FREÍ DOMINGOS DA TRANSFIGURACÁO MACHADO, o
restaurador da congregacáo. 1980 CzS 3.500,00
HISTORIA DE SAO BENTO E SEU TEMPO, D. Alfredo Car-
deal Schuster. 468p. 1956 CzS 6.200,00
LIVRO DO TOMBO DO MOSTEIRO, CONTENDO PLAN
TAS e informacóeSi cada vol CzS 13.500,00
O MOSTEIRO DE SAO BENTO, Texto de D. Marcos Barbo
sa e desenhos em bico de pena por Bruno Pedrosa
(Álbum) CzS 1.350,00
O MOSTEIRO DE SAO BENTO, texto de D. Marcos Barbosa
e desenhos com fotografías de HUGO LEAL (Álbum) for
mato grande CzS 13.500,00
LIVROS MONÁSTICOS:
Conferencias de Joáo Cassiano, 1? e 2? CzS 840,00
Conferencias de Joáo Cassiano, 11? a 13* CzS 840,00
Conferencias de Joáo Cassiano, 14? a 17? CzS 1.350,00
Conferencias de Joáo Cassíano, 215 e 22? CzS 1.350,00
Conferencias de Joáo Cassiano, 23? e 24? CzS 1.350,00
Historia Lausiáca CzS 1.350,00
A Vida do Pequeño Sao Plácido CzS 1.350,00
O Jejum á luz da Psicanálise Cz$ 1.350,00
Misterio da Salvagáo CzS 1.350,00
Conferencias de Joáo Cassiano 18? a 20? CzS 1.350,00
Salterio meu CzS 1.260,00
Vida de Santo Honorato CzS 1.350,00

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