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Projeto de Pesquisa

( EM NEUROCIÊNCIAS E COMPORTAMENTO)

Projeto com nota máxima dada pela banca


examinadora da PUC-RS, composta por
Professores Doutores em Neurociência e pelo
Instituto do Cérebro (InsCer).

A solução do AUTISMO
Está na primeira infância

CRIADOR: Leandro Rafer


ORIENTADOR: Prof. Dr. Samuel Greggio
Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

SUMÁRIO

1. Apresentação 02

2. Concepção 04
3. Ideação e plano de execução 06

4. Criatividade e inovação 15

01
Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

Primeiro precisamos entender que o autismo não é um transtorno único, mas sim um espectro de
transtornos que podem variar em intensidade e em características, a depender de cada indivíduo, essas
características se manifestam em dificuldades no convívio social, comportamento repetitivo e, em
alguns casos, ansiedade e transtorno de deficit de atenção com hiperatividade.

E normalmente, receber a notícia de que seu filho tem Autismo é algo de grande impacto emocional.
A chegada desta notícia costuma arrasar expectativas e expor na família, a perspectiva de que o
filho(a) com TEA terá sempre que ser conduzida, levada a várias clínicas de intervenção, tomar
medicação e estudar em escolas especiais ou que tenham sensibilidade para trabalhar com ele(a).

“Será sempre assim?” “Meu filho vai sofrer bullying?” “Não será compreendido?” “Como posso fazer
para ajudar logo?” “Quando ele vai falar?” Estas perguntas fazem com que a ansiedade sempre
esteja presente na relação da família com os profissionais. Existem situações que a família não
aceita o diagnóstico e passa a migrar para vários profissionais a fim de encontrar um que discorde
e dê uma notícia melhor. Esta atitude faz com que a criança perca tempo precioso e que a melhora
clínica seja empurrada e postergada piorando o prognóstico de boa funcionalidade desta criança.
Em nossa sociedade, ainda é comum a mulher ser a responsável pelos cuidados básicos dos filhos
e, neste caso, não é exceção. Elas que mais perdem oportunidades profissionais e tendem a se
comprometer mais com as necessidades desta criança. Muitas vezes, o marido a abandona ou se
afasta das responsabilidades exigidas pelo filho especial o que redobra as demandas deste pelos
cuidados de sua mãe.

Mas, o que os pais não sabem, é que não precisa esperar a criança dar sinais ou ser diagnosticada
para começar a estimular a sua criança, e se tiverem a compreensão do desenvolvimento do
cérebro,e o que este órgão frágil e complexo revela sobre como uma boa nutrição e cuidados com
a saúde na fase pré-natal e nos primeiros anos criam as fundações para as etapas posteriores.

Sabemos que o desenvolvimento do cérebro humano é mais do que natureza (patrimônio genético),
processo no qual o cérebro sofre influências da criação (vivências, meio ambiente, cultura) e é nessa
mistura de fatores genéticos e ambientais que surge uma intensa produção de sinapses e vias
neurais na vida uterina e no 1º ano de vida da criança, com progressivo decréscimo até a sua
puberdade.

Essa explosão de sinapses tem prazo de validade. É como se houvesse um “suicídio” programado
de neurônios, cujo mecanismo começa a ser desvendado, com períodos críticos chamados de
plasticidade cerebral que são estágios de desenvolvimento para funções específicas do cérebro.
Essas fases são consideradas “janelas de oportunidade” no início da vida, quando o cérebro da
criança está como uma esponja, suscetível às entradas de estimulação sensorial, para o
amadurecimento de sistemas neurais mais desenvolvidos, em que cores, movimento, sons e
afetividade são estímulos sensoriais básicos que definem a primeira infância principalmente nos
primeiros 1000 dias.

A fim de proporcionar um ambiente estável e rico em estímulos positivos para o desenvolvimento


do cérebro da criança desde o inicio da sua vida, os adultos precisam de um conjunto de habilidades
essenciais, que infelizmente não se aprende na escola podendo prever e se antecipar as

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características do Transtorno do Espectro Autista.

No Brasil, os dados são assustadores, pois a cada ano que passa as crianças tem menos estímulos
e os transtornos de neurodesenvolvimento só aumentam. Adicionalmente, no período de pandemia
de COVID-19, as crianças, desde os seus primeiros meses, já enfrentam o isolamento social, a
ansiedade, o aumento do estresse dos pais ou cuidadores, fazendo com que as dificuldades e os
transtornos aumentem.

Na ausência de pais e cuidadores responsivos, os sistemas de resposta ao estresse de uma criança


ficam em alerta máximo e permanecem como um motor de carro acelerando por horas, dias e até
semanas. Esse acúmulo de fatores estressores aumenta a probabilidade de atrasos no
desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento na infância, bem
como diabetes, doenças cardíacas, depressão, abuso de drogas, alcoolismo e problemas graves
de saúde na vida adulta.

Pesquisas extensivas sobre a biologia da adversidade mostram que nas famílias que sofrem
estresse intenso e contínuo, as crianças precisam de apoio consistente de adultos. Sem esse apoio,
o sistema fisiológico de resposta ao estresse permanece em alerta máximo e pode desencadear o
estresse tóxico enfraquecendo a estrutura do cérebro imaturo e sistemas orgânicos em
desenvolvimento, causando uma série de problemas de saúde, aprendizado e de comportamento
na idade adulta.
A criança com uma pré disposição genetica e com a privação social (e seu impacto em)
alguma vulnerabilidade, pode sim favorecer o AUTISMO.

Pensando em minimizar estes efeitos, quero trazer as contribuições das Neurociências para a vida
cotidiana dos pais e cuidadores nos primeiros 1000 dias de vida da criança. Desenvolvi, então, o
“Manual do Cérebro do Bebê”, inspirado nas pesquisas e descobertas mais recentes sobre o cérebro
infantil, no qual pretendo abordar o passo a passo de como fornecer os estímulos adequados para
o desenvolvimento da arquitetura cerebral infantil independente se a criança tem ou não sinais de
autismo. Nesse manual, descrevo, utilizando uma linguagem simples e de fácil acesso, alguns
pontos simples e fáceis de entender sobre como o cérebro funciona, tornando pais e/ou cuidadores
capazes de compreender melhor as crianças e responder de maneira mais eficiente à situaçoes
difíceis e, assim, construir bases sólidas para a saúde social, emocional e mental das crianças, a
partir de evidências científicas que ajudarão a construir um relacionamento enriquecedor,
propiciando fundamentação para garantir uma vida saudável, feliz e totalmente funcional até mesmo
para um AUTISTA.

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O funcionamento do cérebro ainda é desconhecido pela maior parte dos brasileiros. Para eles, o
órgão não é considerado um fator importante para a primeira infância e seu desenvolvimento é visto
apenas como crescimento físico. A população, de forma geral, acredita que as estruturas cerebrais
já estão prontas no momento do nascimento e que não há qualquer mudança no decorrer do
crescimento das crianças. O senso comum diz ainda ser muito importante evitar que as crianças
batam a cabeça, a fim de não prejudicar o cérebro. Porém, o sistema nervoso central (SNC) requer
vários outros cuidados nos primeiros anos de vida.

Deste modo, escolhi como público alvo os pais em gestação ou com bebês pequenos, uma vez que
a neurociências indica que os fundamentos da boa saúde mental são construídos no início da
vida. As primeiras experiências, incluindo o relacionamento das crianças com pais, cuidadores,
parentes, professores e colegas, interagem com a base genética para moldar a arquitetura do
cérebro em desenvolvimento.

(Hirokazu Yoshikawa, Alice J. Wuermli, Abbie Raikes, Sharon Kim e Sarah B. Kabay, Rumo a
programas e políticas de desenvolvimento de primeira infância de alta qualidade em escala nacional:
orientações para pesquisa em contextos globais, Social Policy Report, 31, 1, (1 -36), 2018)

(Rifkin-Graboi, A., Khng, KH, Cheung, P., Tsotsi, S., Sun, H., Kwok, F., Yu, Y, Y., Xie, H., Yang, Y.,
Chen, M. , Ng, CC, Hu, PL e Tan, NC (2019). O futuro SERÁ POSITIVO? Experiência de início de
vida como um sinal para o desenvolvimento cerebral pré-escolar. Aprendizagem: Pesquisa e
Prática, 5 (2), 99-125.)

As interrupções nesse processo de desenvolvimento podem prejudicar as capacidades de uma


criança para aprender e se relacionar com outras pessoas, com implicações ao longo da vida e os
pais ou cuidadores têm um papel fundamental no desenvolvimento infantil e, muitas vezes, o
desconhecem e/ou não são instruídos da sua devida importância.

(Conselho Científico Nacional da Criança em Desenvolvimento (2010). As primeiras experiências


podem alterar a expressão gênica e afetar o desenvolvimento a longo prazo: Working Paper No.
10 . Disponível em <www.developingchild.harvard.edu>)

(Nicole R. Giuliani, Kathryn G. Beauchamp, Laura K. Noll e Philip A. Fisher, um estudo preliminar
que investiga os mecanismos neurocognitivos maternos subjacentes a uma intervenção dos pais
que apoiam crianças , Fronteiras na neurociência comportamental, 10.3389 /
fnbeh.2019.00016, 13, 2019)

(Laura K Noll, Nicole R Giuliani, Kathryn G. Beauchamp e Philip A Fisher, correlatos


comportamentais e neurais da autoavaliação dos pais em mães de crianças
pequenas , Neurociência Cognitiva Social e Afetiva , 10.1093 / scan / nsy031, 13, 5, (535-
545), 2018)

(Laura K Noll, Nicole R Giuliani, Kathryn G. Beauchamp e Philip A Fisher, correlatos


comportamentais e neurais da autoavaliação dos pais em mães de crianças
pequenas , Neurociência Cognitiva Social e Afetiva , 10.1093 / scan / nsy031 , 13 , 5 , (535-
545), 2018)

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Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

Esses pais só irão se dar conta das necessidades cognitivas e emocionais dos filhos quando eles
começam apresentar atrasos significativos na comunicação, comportamentos ou quando
adentrarem no ambiente escolar e começarem a alfabetização. Especificamente no Brasil, há
informação escassa para os pais nesse tema, inclusive aos profissionais de saúde infantil, que
também têm dificuldade em ajudar e orientar os pais para o desenvolvimento cerebral infantil. Por
isso, a minha preocupação em ajudar pais e cuidadores de crianças de 0 a 2 anos motivou a
elaboração de um manual de apoio que foca nos primeiros 1000 dias de vida.

Quando chegamos à vida adulta precisamos de certas capacidades para alcançar uma vida
funcional, no relacionamento, profissional e social, e são esses recursos que nos ajudam a
conseguir e manter cuidados responsivos aos nossos filhos. Quando essas habilidades não se
desenvolvem como deveriam ou são comprometidas pelo fatores estressores ou outras fontes de
adversidades contínuas, nossas comunidades pagam o preço refletindo na saúde da população,
aumento da violência, educação e vitalidade econômica.

Se formos mais a fundo, vamos entender que tais capacidades e habilidades negligenciadas no
início da infância irão contribuir para a geração de um adulto disfuncional. Grande parte dos
comportamentos inapropriados poderiam ser evitados.
Será que pais e/ou cuidadores que acabam negligênciando estes estímulos para com as crianças
estão realmente cientes das repercussões que estão causando sem querer? Ou será que faltou a
criação de políticas publicas para disseminar conhecimento e apoio principalmente as mães?

Para explicar melhor esta temática, vou destacar a seguir algumas necessidades.Quando a criança
experimenta cuidadores responsivos e solidários repletos de imputs ( estímulos que vão de encontro
com a necessidade de cada criança), ela desenvolve mais conexões neuronais ampliando a sua
integração sensorial e ampliando a sua perspectiva social, juntamente com estratégias construtivas,
por exemplo a busca de suporte, para lidar com ameaças e regular emoções. Quando os pais são
atentos e responsivos, a criança tem mais condições de perceber o mundo ao seu redor e ser
introduzida nele, aproveitando oportunidade de aprendizado e de explorar o ambiente, podendo
assim evitar os atrasos no desenvolvimento e construir um futuro melhor.

(Rifkin-Graboi, A., Borelli, J. e Bosquet, M. (2009). A Neurobiologia na Infância. Em Zeanah,


Charles. H. (Ed.), Handbook of Infant Mental Health (3rd Edition), (PP. 59-79). Nova York: Guilford).

(Forkey, H, Szilagi, M e Griffin, JL (no prelo). Trauma na infância e resiliência: um guia prático para
pediatria . Itasca, IL: Academia Americana de Pediatria)

Em relação ao futuro, pesquisamos muito sobre os danos causados pelo isolamento social, em
decorrência da pandemia de COVID-19. Onde pudemos encontrar vários respaldos científicos de
que o confinamento social favoreceu o surgimento de sinais de alerta cada vez mais precoce de que
nossas crianças estão cada vez mais sujeitas a transtornos sócioemocionais, por conta da grande
dificuldade que os pais e/ou cuidadores têm em saber como lidar com elas no início da vida. Assim,
reforço a importância de, mesmo antes do nascimento da criança, os responsáveis pelo cuidado
delas se preparem para fornecer o devido suporte emocional e físico para o seu desenvolvimento,
mesmo em tempos difíceis como o que estamos vivendo.

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Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

3.
DE EXECUÇÃO

Este manual é resultado do trabalho de reunir o melhor e mais atual conhecimento científico sobre
desenvolvimento infantil. Nele, apresento descobertas e evidências científicas de cada fase do
desenvolvimento cerebral, do pré-natal até a criança completar 2 anos de idade

Também me apoiei na publicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) que entrega
ao público uma obra que elenca os fundamentos do desenvolvimento infantil do início da gestação
aos até os 3 anos de vida de uma criança. A FMCSV abraçou definitivamente a causa da
“Primeira Infância” e, em 2009, concebeu o “Programa Primeira Infância”. O programa
é composto por projetos de intervenção local aplicados com sucesso em seis
municípios, e que ganhou vida própria e se expandiu por novas cidades.

Infelizmente, o “Programa Primeira Infância” não chegou até os pais como deveria, por
apresentar uma linguagem muito técnica e de difícil leitura. Assim, o material acabou
sendo usado somente por profissionais da área da saúde. Pensando nisso, desenvolvi
“O Manual do Cérebro do Bebê” com uma linguagem simples e de fácil entendimento,
com imagens e fotos para ilustrar cada etapa do desenvolvimento da criança. Além
disso, utilizei dos avanços da neurociências nos últimos anos, trazendo à luz inúmeros
estudos sobre como o cérebro humano é desenvolvido no início da vida. Assim, o
investimento na primeira infância, e mais especificamente nos três primeiros anos de
vida, incluindo a gestação, vem adquirindo enorme importância em quase todos os
países e seus programas de governo.

Existe o pleno reconhecimento de que cuidar e favorecer o desenvolvimento saudável


da criança nesse período promoverá a organização de alicerces que favorecerão o
indivíduo adulto a lidar com as complexas situações que a vida venha a lhe apresentar.
Em todos os programas voltados para essa fase, sempre é enfatizado que a atenção
à criança deve ser integral e integrada. Entretanto, na realidade, verificamos com
frequência que as ações são fragmentadas e dependentes dos setores que as
desenvolvem, ora na saúde, ora na educação ou em outras áreas. Obtive um claro
entendimento de que o foco deveria centrar-se no período de gestação até o final dos
primeiros 1000 dias de vida da criança, pois as evidências indicam para a importância
dessa etapa da vida, inclusive do período de gestação.

Teste da funcionalidade do manual:

A funcionalidade do manual foi testada durante a quarentena por decorrência da


pandemia do coronavírus (COVID-19), um momento díficil, que fica ainda pior quando
se está esperando um bebê. Disponibilizei algumas cópias para 28 pais de primeira
viagem e de diferentes classes sociais cuja gestação ainda estava no inicio, e o
feedback foi muito positivo. Após 3 mêses, contatei-os novamente e foram aplicadas
algumas perguntas para verificar alguma adesão e o resultado foi extremamente
promissor.

As perguntas eram:

1. As orientações do manual são fácil de seguir?


2. Ajudou na formação da maternidade e da paternidade?

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Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

3. Já tiveram acesso a estás informações?


4. Qual informação do manual mais te ajudaram?
5. As informações do manual são importantes para o desenvolvimento da criança?

24 dos 28 pais responderam às perguntas positivamente e apenas 4 casal não


respondeu o questionário.

Entendendo a criação do Manual

Primeiro foi necessário entender o processo de desenvolvimento do sistema de nervos do feto, pois
é durante a gravidez, à medida que o bebê se desenvolve, que o corpo da mãe também muda. Os
nove meses de gestação não consistem apenas no tempo requerido para a criança se desenvolver,
ganhar peso e, assim, nascer saudável. Esse período também é uma chance da mãe e a família se
prepararem para a chegada de mais um integrante, assumirem novos papéis e, é claro, se
conectarem-se a esse ser. “O vínculo é um processo sutil, que proporciona uma troca profunda,
muito além da transmissão de nutrientes entre mãe e bebê” (Maternal sensitivity during infancy and
the regulation of startle in preschoolers. Stella Tsotsi, Jessica L. Borelli, Nurshuhadah Binte Abdulla,
Hui Min Tan, Lit Wee Sim, Shamini Sanmugam, Pages 207-224 | Received 17 Dec 2017, Accepted
28 Oct 2018, Published online: 08 Nov 2018 https://doi.org/10.1080/14616734.2018.1542737).

Ao contrário do que se pensa, essa conexão tão especial entre mãe e filho não é só natural e, sim,
algo a ser construído e desenvolvido diariamente. “Trata-se de um ato social: a mãe se associa ao
bebê colocando-o como um integrante do núcleo familiar” (Feldman, R., Ein-Dor, T. (2019). Early
environments shape neuropeptide function: The case of oxytocin and vasopressin. Frontiers in
Psychology, 10, 581) .

Tudo o que a mãe faz e sente será absorvido como memória inconsciente. Isso pode diferir um filho
do outro, dependendo do estado emocional da mãe em cada gravidez, e as crianças podem
carregar isso para o resto da vida. (Tillman, R., Gordon, I., Naples, A., Rolison, M., Leckman, J.F.,
Feldman, R., Pelphrey, K., & McPartland, J. (2019). Oxytocin enhances the neural efficiency of social
perception. Frontiers in Human Neuroscience, 13, 71).

O sistema nervoso do embrião começa a se desenvolver e é benefíciado à medida em que a mãe


e o pai estabelecem conexões saudáveis e aumentam as conexões também entre os neurônios,
provocando a libertação de neurotransmissores como a serotonina. A influência que a mãe tem é
independente dos genes que o bebê adquire do pai. Dessa forma, a serotonina materna apresenta
um papel crucial no desenvolvimento do bebê, em particular do cérebro e também reduz os níveis
do cortisol. Em torno da vigésima semana gestacional, a superfície cerebral aumenta, e os pais
poderão interagir mais com o bebê, sendo a hora ideal para explorar mais o contato e o afeto. Assim
os pais devem falar, cantar e ouvir músicas a fim de aumentar os níveis do hormônio ocitocina,
conhecido popularmente como o hormônio do amor. É esse mesmo hormônio o responsável pela
indução das contrações na hora do parto e na amamentação.

A partir disso, o manual aborda de modo integral o conteúdo para orientar as


estratégias a serem adotadas para favorecer o melhor desenvolvimento das crianças
deste a período gestacional.

O segundo passo foi colher depoimentos de pais com crianças acima de 1 ano para
detectar as falhas na educação por falta do entendimento do desenvolvimento do
cérebro da criança. Os depoimentos foram colhidos via whatsapp por
aproximadamente 36 pais de crianças com ou sem suspeita de autismo.

O terceiro passo foi fazer a junção das informações obtidas dos artigos cientificos e as
necessidades práticas de pais e cuidadores.

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Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

Entretanto, ainda assim, esse é um material aberto e passível de futuras revisões, à


medida que novas evidências sejam descobertas, principalmente considerando o
período em que ele foi desenvolvido (pandemia de COVID-19), no qual não sabemos

como será o novo normal da humanidade. Esperamos, com essa contribuição, auxiliar
os pais e cuidadores que buscam orientações e estratégias para melhorar o
desenvolvimento dos seus filhos e dar condições de serem totalmente funcionais
independente da sua condição genética.

Abaixo estão algumas páginas do manual no qual foram trabalhadas formas de


estimular o cérebro da criança desde a gestação até os primeiros anos, com dicas,
mitos e verdades:

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Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

É importante ressaltar, ainda, a dificuldade de implantanção e continuidade de


inúmeros projetos de desenvolvimento infantil, mesmo os de boa qualidade e com
condições significativas de apoio público ou privado, que, por muitas vezes, fracassam.
Acredito que, possivelmente, a falta de sucesso esteja ligada à ênfase dada
principalmente a nós, brasileiros, ao hábito de sempre procurarmos uma solução, e
não sermos a solução.

Essa será a grande questão elaborada nesse manual, no qual o cuidado inicial e a
criação têm impacto decisivo em como as pessoas formam a capacidade de
aprendizado e o controle emocional. As maneiras como os pais, as famílias e outros
cuidadores irão relacionar-se com as crianças pequenas, assim como a mediação que
fazem entre a criança e o ambiente, poderão afetar diretamente os circuitos neurais
em desenvolvimento. Um ambiente de relações estáveis, estimulantes e protetoras,
com cuidadores atentos e carinhosos tem uma função biológica protetora contra
traumas e estresse, e podem construir um terreno sólido para uma vida de aprendizado
efetivo.

Sendo assim, essa intervenção social feitas pelos pais pode ser muito mais eficiente
do que investir milhões em estruturas e profissionais para minimizar os sintomas do
AUTISMO, como disse o doutor em psicologia da universidade de OXFORD Adrian
Riane "talvez precisemos de pais melhores na sociedade”.

Também destacamos outras evidências de que a forma com que os pais apresentam o ambiente
para as crianças desde a sua gestação interfere de forma direta na formação do adulto, encontrado
nas publicações a seguir:

Depressão materna pré-natal se associa à microestrutura da amígdala direita em recémnascidos


A Rifkin - Graboi , J Bai, H Chen , WB Hameed, LW Sim… - Biológico…, 2013 – Elsevier

A depressão materna pré-natal altera a conectividade funcional da amígdala em bebês de 6 meses


de idade
A Qiu , TT Anh, Y Li, H Chen, A Rifkin - Graboi … - Tradução…, 2015 - nature.com

(A influência da ansiedade e dos sintomas depressivos durante a gravidez no tamanho do


nascimento
…, H Chen, C Chee, A Rifkin - Graboi … - Pediátrica e…, 2014 - Biblioteca Online Wiley)

Idade gestacional e microestrutura cerebral neonatal em recém- nascidos a termo: um estudo de


coorte de nascimentos.BFP Broekman, C Wang, Y Li, A Rifkin - Graboi , SM Saw … - PloS one,
2014 - ncbi.nlm.nih.gov.

(Hirokazu Yoshikawa, Alice J.Wuermli, Abbie Raikes, Sharon Kim e Sarah B.Kabay , Rumo a
programas e políticas de desenvolvimento de primeira infância de alta qualidade em escala nacional:
orientações para pesquisa em contextos globais, Social Policy Report, 31, 1, (1 -36), 2018)

(Laura K Noll, Nicole R Giuliani, Kathryn G. Beauchamp e Philip A Fisher , correlatos


comportamentais e neurais da autoavaliação dos pais em mães de crianças
pequenas , Neurociência Cognitiva Social e Afetiva , 10.1093 / scan / nsy031 , 13 , 5 , (535- 545),
2018)

(Nicole R. Giuliani, Kathryn G. Beauchamp, Laura K. Noll e Philip A. Fisher , um estudo preliminar
que investiga os mecanismos neurocognitivos maternos subjacentes a uma intervenção dos pais
que apoiam crianças, Fronteiras na neurociência comportamental , 10.3389 /

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fnbeh.2019.00016, 13, 2019)

(Rifkin-Graboi, A., Borelli, J. e Bosquet, M. (2009). A Neurobiologia do Estresse na Infância. Em


Zeanah, Charles. H. (Ed.), Handbook of Infant Mental Health (3rd Edition) (PP. 59-79). Nova York:
Guilford Press)

(Rifkin-Graboi, A., Khng, KH, Cheung, P., Tsotsi, S., Sun, H., Kwok, F., Yu, Y, Y., Xie, H., Yang, Y.,
Chen, M. , Ng, CC, Hu, PL e Tan, NC (2019). O futuro SERÁ POSITIVO? Experiência de início de
vida)

Além disso, uma pesquisa feita pela Universidade de Nevada e pela Universidade de Oklahoma,
(The Impact of Fathers on Children 1 Peter B. Gray, PhD, 2 Kermyt G. Anderson, PhD 1 University
of Nevada, Las Vegas, USA, 2 University of Oklahoma, USA), afirma que as crianças com pais
presente são mais propensas a serem emocionalmente mais seguras, mais confiantes para
explorar os arredores, e, à medida em que envelhecem, têm melhores conexões sociais, ou
seja, vivem melhor, melhoram a memória e tornam-se adultos mais inteligentes.

Preschool is a sensitive period for the influence of maternal support on the trajectory of hippocampal
development. Joan L. Luby, Andy Belden, Michael P. Harms, Rebecca Tillman, and Deanna M.
Barch

Apresentamos, então, alguns dos benefícios proporcionados pelo Manual do Cérebro do Bebê,
embasados por evidências científicas e também por pesquisas como a feita pela Enciclopédia do
Desenvolvimento da Primeira Infância da Universidade de Nevada e Oklahoma, no qual foi
aplicado um questionário em adultos e descobriram o quanto eles sofreram interferência em
suas vidas de acordo com a criação de seus pais.

O manual do cérebro do bebê, é dividido em 3 partes:

1. Onde tudo começa: trazendo uma visão mais ampla sobre o período da gestação
e como o cérebro do bebê é influenciado pelo comportamento dos pais.
2. O nascimento: o momento mais sublime e mágico, mas que requer muito cuidado
e dedicação, mostrando a necessidade do preparo dos pais ou cuidadores;
3. De 0 aos 2 anos: apresentação da importância dos estímulos para o
desenvolvimento do cérebro na primeira infância. Os seres humanos nascem com a
capacidade de aprender a partir da experiência. Os bebês aprendem com o que veem, ouvem,
cheiram, degustam e tocam, e certas capacidades neurológicas, sensoriais e motoras devem
estar presentes antes que a aprendizagem relacionada possa ocorrer. A infância é uma idade
muito importante para a formação de uma pessoa. Se os pais e cuidadores pudessem
conhecer as características e necessidades das crianças em suas diferentes fases, ficaria
mais fácil entender alguns comportamentos infantis, reforçar as atitudes positivas e dar limites
quando necessário.

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Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

INOVAÇÃO
Um estudo europeu realizado na Universitat Autonoma de Barcelona, em parceria com a Leiden
University, da Holanda, foi publicada na revista científica Nature Neuroscience (disponível em:
https://www.nature.com/articles/nn.4458) é baseado em imagens de ressonância magnética feitas do
cérebro de 25 mulheres antes, durante e dois anos após a primeira gravidez. O estudo sugere que a
gravidez reduz a massa cinzenta em áreas específicas do cérebro das mulheres para auxiliar a mãe
a criar laços com o bebê e se preparar para as demandas da maternidade. Segundo os
pesquisadores, as transformações trariam vantagens às novas mães como ajuda para identificar as
necessidades do bebê, como ficar mais atenta às potenciais ameaças sociais e se aproximar mais
do filho. A aquisição dessa capacidade tem um impacto direto sobre o desenvolvimento social das
crianças. Tal método que usei para introduzir “O Manual do Cérebro do Bebê” traz a responsabilidade
aos pais em trabalhar certos estímulos à criança deste a sua gestação.

Após o nascimento, indicamos aos pais ou cuidadores a considerarem o cérebro da criança como
uma casa, na qual na gestação é o período em que se constroem as fundações (termo usado para
estruturas que apoiam todo o peso da construção). Muitas vezes, as fundações não estão
aparentes, mas, se não forem bem feitas, toda a casa poderá ser arruinada, mantendo a premissa
de que o cérebro é como uma construção e que precisa de arquitetos e engenheiros para projetá-
lo e desenvolvê-lo. E, ao entenderem a arquitetura do cérebro, entendem a ciência do
desenvolvimento cerebral, assim como o que o promove, o que o descarrila e quais são as
consequências para a sociedade.

Assim que a criança nasce, dá continuidade a arquitetura do cérebro, ou seja, a construção da casa,
em cima das fundações feitas no período da gestação. As primeiras experiências afetam de imediato
o desenvolvimento dessa arquitetura, que fornece a base para todo aprendizado, comportamento e
saúde futuros. Assim como uma base fraca compromete a qualidade e a força de uma casa,
experiências adversas no início da vida podem prejudicar a arquitetura do cérebro, com efeitos
negativos que perduram na idade adulta.

Um “ambiente de relacionamentos” é crucial para o desenvolvimento da arquitetura cerebral de uma


criança, que estabelece as bases para resultados posteriores, como desempenho acadêmico,
saúde mental e habilidades interpessoais. No entanto, com a chegada do COVID-19, e muitas
mudanças no comportamento do brasileiro, deve-se considerar a importância das relações adultos-
crianças, para o bem-estar infantil. Os relacionamentos de promoção do crescimento baseiam-se
na interação contínua da criança como um parceiro adulto que fornece experiências individualizadas
ao estilo de personalidade único da criança, que se baseiam em seus próprios interesses,
capacidades e iniciativa, que moldam a autoconsciência da criança e isso estimula o crescimento
de seu coração e mente.

Através desse manual, portanto, pretendo despertar formuladores de políticas, líderes comunitários
e empresariais, provedores de serviços de saúde e educação na compreensão da ciência do
desenvolvimento inicial do cérebro, podendo mudar o cenário da criança autista no Brasil,o qual
atinge níveis alarmantes.

Em larga escala, tal iniciativa promove a reflexão sobre o quanto poderia influenciar na economia
pública, uma vez que diminuiria gastos com tratamentos e medicamentos, caso a sociedade
brasileira entendesse a importância de educar os pais para entender como funciona o cérebro do
bebê, a fim de formar um adulto autônomo e consciente, que poderá contribuir com o mercado de
trabalho e poder ser um contribuinte em vez de ser um benefíciário de programas como o que está
dentro da Lei 12.764/12.

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Projeto de Pesquisa em Neurociências e Comportamento

Autismo não é doença e tem solução, mas para isso precisamos dar mais condições as familias
principalmente na primeiríssima infância.

“ Não tem como ajudar o autista sem ante ajudar primeiro a sua família”.

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