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Acabou,

e agora?
Como seguir em frente

se ainda há sentimento
UMA NOTA SOBRE DIREITOS AUTORAIS

Este livreto foi elaborado com carinho e dedicação exclusivamente


para quem se inscreveu no curso “Acabou, e agora? Como seguir em
frente se ainda há sentimento”. Portanto, não é permitido repassar a
terceiros nem reproduzir qualquer parte do conteúdo deste material
sem autorização.

Os direitos autorais do texto são de Fred Elboni. Os direitos das obras


de arte e dos poemas selecionados para compor este material de apoio
pertencem aos artistas (ou seus herdeiros e/ou representantes).
Esperamos que eles despertem ou reforcem a sua conexão com a arte,
uma fonte inesgotável de encanto, identificação e inspiração.

CRÉDITOS DO MATERIAL

Direção

Fred Elboni

Curadoria e redação

Clarissa Oliveira

Coordenação

Victoria Quintana Rosa


Design e diagramação

Hanna Oliveira

1
Sumário
Introdução ..................................................................................................... 4

Coração atropelado: uma crônica ....................................................................... 6


1. Acalmando o coração .............................................................................. 9


2. Acolhendo os pensamentos ................................................................. 12


3. Exercitando o desapego ........................................................................ 15


4. Assumindo sua nova identidade .......................................................... 18


5. Praticando o autocuidado ..................................................................... 21


6. Voltando a sonhar .................................................................................. 24


7. Abrindo-se para a vida .......................................................................... 27


Minha mensagem final ................................................................................... 30


Dicas de filmes ........................................................................................... 32


Dicas de livros ............................................................................................ 36


Sobre os artistas e poetas .......................................................................... 40

2
Pinturas de prisão 2 – Gülsün Karamustafa (1978)

Emergência

Mário Quintana

Quem faz um poema abre uma janela.

Respira, tu que estás numa cela

abafada,

esse ar que entra por ela.

Por isso é que os poemas têm ritmo -

para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.


3
Introdução
Quando li esse poema de Mário Quintana, com sua imagem de janelas e
celas abafadas, o propósito de fazer este curso e escrever este material de
apoio ficou nítido para mim. A cela apertada e quente descreve bem a
sensação de quem está sofrendo o término de uma relação. A vida fica
pequena, dura; sentimo-nos sem ar e sem esperança. O mundo lá fora
continua, segue o seu fluxo, mas o nosso universo interno fica suspenso: lá
se vão os sonhos e planos com aquela pessoa e cá ficamos, com a dor, com
as dúvidas e com a desesperança.

Todo dia, há anos, recebo perguntas sobre como lidar com o fim de um
relacionamento. Términos são sofridos e afetam todas as esferas da vida: a
vida interior das emoções e pensamentos, a vida prática das rotinas e
relações diárias e nossas ações no mundo externo. Não existe resposta
pronta ou fórmula mágica para “superar”. Atravessar essa fase sofrida é um
processo muito individual – afinal, pessoas e relações não cabem em
caixinhas. Não posso prometer uma chave que vai te tirar da cela escura.

A promessa desse curso é abrir uma janela. Deixar um pouco de ar fresco


entrar, para que você possa vislumbrar um futuro para além do lugar da
falta e ampliar o campo de possibilidades. Quero que você se sinta mais
forte, mais apto e mais aberto para a reconstrução necessária e, muitas
vezes, difícil, que sucede o término de um relacionamento amoroso.

Embora o processo, por ser altamente individual, não se preste a fórmulas


prontas, identifiquei 7 passos que a maior parte das pessoas precisa dar para
atravessar essa fase– sempre respeitando o seu ritmo, suas possibilidades e
buscando ajuda e apoio quando necessário.

Esses passos contemplam diferentes esferas da vida e envolvem atividades


distintas, em ordem mais ou menos cronológica. São eles:

4
1. Acalmando o coração

2. Acolhendo os pensamentos

3. Exercitando o desapego

4. Assumindo sua nova identidade

5. Praticando o autocuidado

6. Voltando a sonhar

7. Abrindo-se para a vida


Busquei construir este material com base não apenas nas minhas leituras e
reflexões, mas também em expressão criativas de vários meios: pintura,
poesia, literatura, cinema.

Quem me conhece sabe que valorizo muito a Arte como forma de terapia –
de entender e ser entendido, de se aprofundar internamente e se expandir
externamente – e compartilho essa conexão com você, na esperança de que
essas imagens e palavras possam iluminar sua travessia. Incluí também duas
crônicas inéditas, dedicadas a todas e todos que precisam saber que isso
passa, que não estão só, que o sol voltará a brilhar no seu lindo e ferido
coração.

Espero que você receba esse curso e esse material de apoio como um
abraço, um ombro amigo, uma janela que se abre, uma promessa de que há
muita vida boa pela frente, apesar dos muitos pesares que podem marcar
esse seu momento.

5
Coração atropelado:

uma crônica
Sem saber o que o amanhã me reserva, o agora me atropela. Caminho pelas
ruas da cidade com todas as emoções dentro de mim, batalhando por um
lugar ao sol. E com um aperto descomunal no peito, suplico por alívio. Por
que o sofrimento insiste em me habitar se já pedi tanto para ele sair e
encontrar uma nova morada?

Não conheço todas as torturas medievais, mas esta me parece a mais sádica.
Não há remédio que a alivia.

Mantenho meus olhos abertos sempre que possível, pois não quero cair na
fatalidade de fechá-los e, acidentalmente, sonhar com o que já passou.
Muitas vezes sinto que vivi este amor sozinho. E mesmo não encontrando
explicações, sigo questionando. Por que estou sendo obrigado a me
distanciar da coisa mais bonita que me aconteceu?

De todos os silêncios que já ouvi, este é o mais ensurdecedor. Ninguém


responde.

A verdade que é a saudade brinca de doer e, injustamente, tira para dançar


quem nunca ensaiou o adeus. Ela é uma lembrança forte de que houve amor
e, rodopiando sem trégua, transporta a alma para um passado bonito, mas
cada vez mais distante.

Sentir saudade é perceber que alguém deixou em nós mais de si do que


poderíamos suportar.

O amor que sinto por você se instalou carinhosamente em algum lugar do


peito, e por infelicidade, não consigo achá-lo para arrancá-lo de mim. E
toda vez que, com medo do que irei encontrar, me aproximo, lembro de
todas histórias que contei para te fazer feliz.

6
Era uma vez. Felizes para sempre. Eu e você. Você e eu. E agora, como vai
ser?

Se confiei tanto no amor do outro, por qual motivo não confiarei na minha
força de me amar? Morro de saudade como morri de amor.

Mas, desta vez, vou aprender a morrer por mim e não pelo outro.

7
O abraço – Gustav Klimt (1909)

Artigo VIII

Thiago

de Mello

Fica decretado que a maior dor

sempre foi e será sempre

não poder dar-se amor a quem se

ama

e saber que é a água

que dá à planta o milagre da flor.

8
1. Acalmando o coração

Se eu pudesse, transformaria esse texto num abraço. Afinal, quando


estamos no estado de tristeza, separação e isolamento que caracteriza o fim
de um relacionamento, não consigo pensar em nada melhor do que o
simples abraço. Não é isso que oferecemos aos que vivenciam o luto após
uma perda?

O término é uma experiência de separação e isolamento. Há uma sensação


de que estamos separados do resto da humanidade – que segue sua vida
sem grandes altos e baixos, sem questionamentos nem movimentos
bruscos. Enquanto os outros estão lá, no campo florido, pacato, sob o sol
morno e o céu plácido, nós fomos arracandos do “paraíso” para o “inferno
pessoal”: um lugar sombrio, cheio de rochas pontiagudas, vapores tóxicos,
cantos escuros e aparentemente ninguém para nos socorrer.

O que torna um término tão doloroso é a combinação intensa de vários


ingredientes que, isolados, seriam desagradáveis, mas juntos beiram o
insuportável. Estou falando de algumas emoções ou estados emocionais
universais, que surgem com força, sempre que um relacionamente chega ao
fim: Tristeza, Solidão, Medo, Desesperança. Tudo com letra maiúscula.

Saber que isso vai passar, ou mesmo que você já esteve nesse lugar e
conseguiu sair, não é um consolo tão grande assim, porque a escuridão
consegue ser mais forte do que tudo isso, a ponto de engolir qualquer senso
de futuro, qualquer perspectiva de mudança. É preciso, antes de tudo, lidar
com esse presente esmagador: um presente marcado por tantas emoções
difíceis e indesejadas.

O abraço é o gesto perfeito porque é a prova de que não estamos sozinhos.


Há outro alguém aqui, disposto a nos segurar quando a tempestade
emocional ameaça nos derrubar. O abraço não precisa de palavras ou
promessas, porque ele se basta. O abraço é sólido e constante enquanto as
emoções são líquidas e voláteis.

9
O abraço não mente. Não tenta fingir que está tudo bem. Não tenta te

convencer a enter rar suas emoções e seguir em frente. Não tenta te

convencer a fugir da realidade com fantasias de vingança ou reconquista.

O abraço simplesmente é.

Por isso, eu espero que você possa oferecer a si mesmo um gesto

semelhante. Em vez de lutar ou fugir, fique: se abrace. Per mita-se sentir

tudo que brota, mas encontre uma âncora para não se deixar levar pelo

tsunami, nem que essa âncora seja o próprio amor – aquela energia boa e

pura e inocente, que sempre será a melhor resposta para os males do

mundo.

Pega esse amor e entregue-o a você mesmo, em for ma de abraço,

acolhimento, presença. Saiba que a tristeza e a solidão são líquidas e

transitórias, enquanto a presença e o amor são sólidos e perenes. Regue o

coração dilacerado com doses generosas de escuta, respeito, silêncio,

perdão, gentileza, bondade.

Seja generoso com suas inseguranças e medos; não julgue, não

aja, apenas escute.

Seja tolerante com as lág rimas que ousam escapar dos olhos,

manchando travesseiros e salgando o café com leite, enquanto

desaguam mág oas e desatam nós; aceite-as, elas são

necessárias

Seja doce com partes mais vulneráveis que estão se revelando

para você nessa fase; trate-as como bebês indefesos que

precisam de afeto

Seja dura com as vozes ríspidas, as cobranças, a autocrítica;

censure-as, pois não é hora de colocar sal na ferida.


Para seguir em frente com fir meza e confiança, o coração pode até estar

ferido, mas precisa de um bom curativo e muito afeto. Se não estiver se

sentindo capaz de acolhimento, busque alguém que possa te dar o abraço

que precisa.

10
Reinvenção

Cecília Meireles

A vida só é possível

reinventada.

Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vem de fundas piscinas

de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

Vem a lua, vem, retira

as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...


Automat – Edward Hopper (1927)
Só — no tempo equilibrada,

desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.

Só — na treva,

fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

11
2. Acolhendo os pensamentos

Enquanto precisamos ser ternos e permissivos com nossas emoções, não


recomendo a mesma tolerância com os pensamentos inquietantes que
teimam em assolar a mente de quem lida com o término de uma relação.

A mente humana é encantadoramente complexa e magnífica, mas nem


sempre é nossa melhor amiga e raramente está comprometida com a
verdade. A mente de quem acabou de passar por uma perda é especialmente
hiperativa, mentirosa e sedutora.

Dúvidas e questionamentos brotam dessa mente de maneira avalassadora e


torturante. Por que acabou? Onde errei? Será que tem volta?

Falas que soam como verdades, mas não passam de crenças tingidas pelo
pessimismo do presente, invadem a consciência desavisadamente. Nunca mais
serei feliz. Perdi o amor da minha vida. Nada mais faz sentido.

E não vamos esquecer dos enredos fantasiosos que criamos do passado ou


de um possível futuro, que se engancham nos nossos medos e desejos,
implacáveis como carrapatos. E se eu tivesse feito x? E se agora eu fizer y? Tudo
isso não passa de um equívoco e em breve teremos o nosso felizes para sempre.

Entreter esses pensamentos é normal. Como diz Cecília Meireles, “a vida só


é possível reinventada”, e pensar é um jeito de revisitar memórias, vivências
e fatos. Tiramos aquilo da estante, reviramos, buscamos novos ângulos, às
vezes mudamos um detalhe, e depois botamos no lugar de novo – embora
sempre um pouco diferente, um pouco adaptado.

O que não me parece interessante é se deixar iludir pelos pensamentos. As


teses e verdades que criamos podem se tornar tão opressoras quanto a
tristeza e a solidão que experimentamos nesse período – com o agravante de
que conseguem ser muito mais danosas no longo prazo.

12
“Eu só quero entender o que aconteceu”.

Sim, eu sei. Mas, às vezes, vestir o nobre chapéu daquele que “busca a
verdade” não passa de uma ilusão. Porque não existe, nos relacionamentos
ou nas pessoas, uma Verdade. Existem sentimentos, afetos, valores,
prioridades, impulsos, verdades (no plural), mentiras (que contamos a nós
mesmos) e sombras que se escondem nas águas turvas do inconsciente.

Refletir e fazer perguntas é louvável. Mas não dá para se tornar refém das
respostas, por mais brilhantes e “redondas” que sejam as teses construídas
nesse longo e rigoroso processo de pensar. Deixe os pensamentos virem,
claro, mas segure-os como se estivesse segurando um pássaro; de forma
solta, compreendendo que é algo vivo, que pode mudar ou seguir outro
rumo a qualquer momento.
Por mais que você precise de solidez nesse momento de
terremoto, evite solidificar teses e crenças. A vida real é rica e
complexa demais para caber nos compartimentos estreitos da
mente.
Por mais que você anseie por respostas que expliquem a tragédia,
não caia na tentação dos clichês e discursos prontos.
Por mais que você se sinta reconfortado por fantasias ou
realidades paralelas, não se deixe cair na toca do coelho e acabar
preso no mundo das maravilhas.

Com o coração sereno e a mente em seu devido lugar de guia, não ditadora,
você não apenas dormirá melhor, como verá que a nuvem negra que paira
sobre sua cabeça vai, aos poucos, se dissipar. E se estiver impossível
controlar a enxurrada de pensamentos ruins, saiba há muitas ferramentas
possívels para te ajudar: da meditação à escrita, da terapia da fala ao
tratamento com remédios, se for o caso. Ninguém merece ser refém dos
próprios pensamentos.

13
Menina com balão – Banksy (2002)

Em todas as ruas te encontro

Mário Cesariny

Em todas as ruas te encontro

em todas as ruas te perco

conheço tão bem o teu corpo

sonhei tanto a tua figura

que é de olhos fechados que eu ando

a limitar a tua altura

e bebo a água e sorvo o ar

que te atravessou a cintura

tanto tão perto tão real

que o meu corpo se transfigura

e toca o seu próprio elemento

num corpo que já não é seu

num rio que desapareceu

onde um braço teu me procura


Em todas as ruas te encontro

em todas as ruas te perco

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3. Exercitando o desapego
Imagina que você sofra uma queda e quebre o osso da perna. Você vai ao
pronto socorro, coloca uma tala e toma os remédios prescritos, mas, no dia
seguinte, resolve não ficar de repouso. É muito disruptivo e você tem muito
o que fazer. Então você caminha pela casa normalmente, sai para dar uma
volta no shopping e até vai à academia, correr na esteira. O que você acha
que vai sentir? Vai doer mais ou menos? E o que vai acontecer com sua
fratura? Vai sarar mais rápido ou mais devagar?

O mesmo vale para a sua rotina após o término. Por mais que você tenha
zelo sobre suas emoções e modere os pensamentos – isto é, mesmo que
você cuide muito bem do seu mundo interior –, o mundo externo tem um
enorme impacto sobre seu bem-estar. A gente sempre vai esbarrar nas
concretitudes da vida: lugares, objetos, compromissos, horários, milhares de
tarefas mundanas do cotidiano. E mesmo o coração mais calmo ou a mente
mais equilibrada não será capaz de resistir às lembranças diárias da relação
que acabou.

É por isso que praticar o desapego é essencial. Assim que você estiver em
condições de arregaçar as mangas e começar os trabalhos, faça isso – é a
melhor forma de se proteger e criar um ambiente mais propício para sua
boa recuperação.

Há muitas formas de entender o conceito de desapego, mas aqui vamos nos


concentrar na dimensão mais concreta e prática: o ato de se libertar de
coisas que te lembrem do/da ex.

Algumas precisarão descartar todas as lembranças concretas: roupas,


bilhetes, presentes, fotos. Muitas precisarão cortar laços por completo:
parar de seguir, deletar o histórico de conversas, cortar relações com os
parentes e amigos do/ da ex. Outras preferem colocar tudo numa caixa e
arquivar, preservando alguns aspectos da vida ainda ligadas à pessoa.

15
Nem sempre será possível eliminar o contato por completo. Talvez vocês
trabalhem ou estudem juntos ou tenham filhos ou pets em comum. Nesses
casos, vale a pena fazerem combinados, de preferência num momento em
que estejam ambos calmos e conseguindo conversar como adultos
civilizados. Não dá para controlar tudo, mas dá para prometer fazer o seu
melhor e se comprometer, acima de tudo, com o seu bem-estar.

Essa é a hora de se colocar em primeiro lugar, de forma absolutamente


incondicional. O que isso significa, na prática?
Se o/a seu/sua ex insiste em manter contato, mas isso te faz
mal, diz com todas as letras: “Não vou falar contigo.
Se parentes e amigos te pressionarem a fazer qualquer coisa que
você não se sinta confortável fazendo, se coloca com firmeza:
“Não vou fazer isso.
Se perceber que certos lugares ou atividades operam como
gatilhos – sempre te colocando numa espiral negativa – pare de
se expor a eles.

Para praticar o desapego com eficácia, é útil pensar nesse momento como a
hora em que você está criando um redoma de proteção para si mesmo.
Canalize a energia de um pai botando limites num filho. Pense naquela mãe
que não deixa a criança sair sem casaco no frio ou o pai que não deixa o
adolescente pegar o carro se vai beber. Nesse caso, você é ao mesmo tempo
a mãe/ o pai e também a criança. Os limites representam as bordas da sua
redoma de proteção. Você precisa dela porque ainda está num estado
fragilizado.

Não é hora de botar a perna quebrada – ou melhor, o coração partido –


para caminhar e seguir a vida “normal”. É hora de ficar sossegado num
ambiente seguro e sereno até você se recuperar plenamente. E esse
ambiente é um lugar com o mínimo de gatilhos possível. Proteja-se.

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“104” (de The sun and her flowers)

Rupi Kaur

quando atingi o fundo do poço

que fica depois do fundo do poço

e não apareceu nem corda

nem mão estendida

me perguntei

e se nada me quiser

porque eu não me quero


talvez eu seja o veneno

e também o antídoto

(Tradução de Clarissa Oliveira)

Goodbye blue sky (série Diorama) - Marlon Amaro (2020)

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4. Assumindo sua nova identidade

Uma das sensações mais difíceis de processar após o término é o vazio. Para
além da tristeza e das dúvidas, das novas rotinas e prioridades, há um
buraco enorme, que parece vir da própria alma. O vazio é do tamanho do
espaço que aquela pessoa ocupava em sua vida. Às vezes, especialmente
depois de uma relação muito longa ou muito intensa, esse buraco ameaça
nos engolir por inteiro.

“Quem sou eu, agora?”


É a pergunta que todos fazemos quando algo importante acaba: uma fase
da vida, um projeto importante, um relacionamento. Sem aquela figura tão
central ao seu lado, sem aquele papel que você desempenhava, é provável
que você se sinta irreconhecível, incompleto – talvez até mesmo “menor”
ou “inferior” à pessoa que você era antes.

A tristeza, a saudade, as dúvidas, as novas rotinas: tudo isso é fichinha


comparado aos sentimentos sombrios e assustadores que surgem quando
estamos nos sentindo no fundo do poço. Nesse lugar escuro, inóspito e
aparentemente inescapável, encontramos o que mais tememos: nossos
medos primitivos.

“Será que sou digno de amor?”


Indignidade, humilhação, vergonha, desprezo. São palavras terríveis que,


infelizmente, descrevem como nos sentimos. Se você se identifica com essa
terrível sensação, se você acha que precisa de alguém do seu lado para estar
“completo” ou que estar solteiro é algo que precisa ser “consertado”,
preciso te falar duas coisas

Não é sua culpa se sentir assim. A nossa cultura – desde os contos de


fada e desenhos da Disney até as comédias românticas e a literatura –
nos empurra o ideal de fazer parte de um casal. Por isso, muita gente
acha que estar solteiro é um defeito moral, uma marca de inferioridade
social.

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2. A cura definitiva para essa sensação de inferioridade ou incompletude
não é uma nova relação: é o autoconhecimento e o amor próprio. Quem
não se ama ou não se acha inteiro está fadado a construir relações sobre
as frágeis bases da sua insegurança ou até mesmo a ter relacionamentos
tóxicos e/ou abusivos por se recusar a estar sozinho.

O convite que faço, portanto, neste quarto passo é um convite para


preencher esse vazio com alma – a sua alma. Qual é a sua essência? Quais
são as suas paixões? Como você gosta de passar o seu tempo e com quem?
O que te faz bem? Quem te faz bem?

Olha para dentro e olha para o espelho: Quem é a pessoa que está aí
dentro? O que você ainda pode descobrir sobre ela?

Se você é jovem ou muito identificada (ainda) com os papéis que herdou do


mundo externo, talvez você tenha dificuldade de descobrir quem está, de
fato, por baixo de tudo isso – de todas as regras impostas pela sociedade,
todas as expectativas da família e do círculo de amizades, todos os sonhos e
planos que você pegou emprestado e achou que eram seus, mas que, no
fundo, você nem sabe se te interessam de verdade.

O momento de crise ou de transição pode representar uma bela


oportunidade de começar a espantar a névoa que te envolve e descobrir:
quem é essa pessoa, essa criatura única e deliciosamente imperfeita, que se
esconde aqui dentro?

Como nos provoca a poeta e best-seller Rupi Kaur: e se o antídoto para


essa dor for você mesmo? Não seria incrível?

19
Amor e depois de amor

Derek

Walcott

Vai vir o tempo

em que você, orgulhoso,

vai saudar a si mesmo chegando

à sua própria porta, em seu próprio espelho,

e vão trocar sorrisos de boas-vindas,

você vai dizer, sente-se. Coma.

Vai amar o estranho que um dia você foi.

Dê vinho. Dê pão. Devolva seu coração

pra ele mesmo, o estranho que o amou

por toda a sua vida, e a quem você ignorou

por outro alguém, que o conhece de cor.

Pegue da estante as cartas de amor,

as fotografias, as anotações desesperadas,

descasque seu reflexo do espelho.

Sente-se. Sirva-se da vida.

(Tradução de

Rodrigo Garcia Lopes)

A sopa – Pablo Picasso (1902-3)


20
5. Praticando o autocuidado

A ideia do quinto passo é bem radical: aprender a cuidar de si mesmo como


uma mãe amorosa cuida de um filho. Como no belo quadro do Picasso, é
preciso servir um caldo bem nutritivo, cheio do afeto e presença, para a sua
alma convalescida.

Mesmo quem não tem nem nunca teve um bom modelo de amor generoso
e paciente é capaz de entender que todo ser humano se desenvolve melhor
num ambiente caloroso, tolerante com nossas deficiências, disposto a nos
ensinar, sempre ciente e respeitoso da nossa individualidade, dos nossos
ritmos e necessidades.

E já que o mundo externo nem sempre consegue espelhar essa aceitação


plena de quem somos, é necessário que sejamos, em muitos momentos, essa
própria força maternal para nós mesmos.

Em última instância, isso é a verdadeira definição de autocuidado: estender


a você mesmo a mesma delicadeza, afeto e generosidade que daria a pessoa
que você mais ama no mundo. (Na verdade, se essa pessoa não for você
mesmo, algo não está certo.)

Mas não consigo me amar.


Sim, entendo. Infelizmente, somos constantemente bombardeados com


mensagens sobre como deveríamos ser em aparência, atitude, status social e
vários outros quesitos. Sendo que um desses quesitos é a pressão por ser
parte de um casal. E quando não atingimos as expectativas – que muitas
vezes nem são nossas! – ficamos com aquele peso no peito, que parece
alterar o nosso centro de gravidade a ponto de nos dobrar. Se a vontade é
se encolher e ficar deitado na cama em posição fetal é porque algo dói. E se
algo dói, o que se faz necessário é o cuidado, cuja base é o autocuidado.

Mas o que é, exatamente, autocuidado? Esse termo ganhou contornos


concretos demais, de tanto que tem sido usado para vender produtos de

21
beleza e fórmulas mágicas para combater o estresse. Não é disso que estou
falando aqui. Nada contra massagens, máscaras faciais e sessões de
meditação, mas cuidar de si é muito maior do que algo que você possa
comprar ou fazer por cinco minutos no seu dia.

Cuidar-se é sobre promover a paz e o silêncio interno, através de uma


dimuinição de cobranças e exigências e um relacionamento equilibrado
com o seu crítico interior. Suas conversas internas são pacíficas, no
geral?

Cuidar-se é sobre descobrir e adotar rotinas e práticas que expressam o


seu amor e apreço por você mesmo, que sejam prazerosas e nutritivas
para o seu corpo, sua mente e sua alma. O seu dia a dia tem amplas
doses de alegria e prazer?

Cuidar-se é sobre se relacionar de forma generosa e livre com os outros,


sem submissão nem medo de desagradar, colocando a sua própria
integridade e saúde em primeiro lugar. Você se sente bem com as
pessoas a seu redor, no geral?

A verdade é que o autocuidado é o reflexo de uma pessoa que se aceita e se


ama. E se esse amor próprio não é automático para você, bem-vindo ao
clube! A gente nasce sabendo, esquece, mas reaprende. Aos poucos, todos
nós podemos construir uma relação mais tolerante, gentil e equilibrada com
nós mesmos, diminuindo cobranças, nos permitindo experimentar a vida
com deleite e nos conectando com leveza às pessoas.

O que veio antes: o amor-próprio ou o autocuidado?


Pouco importa, na verdade. O que você precisa saber é que um promove o


outro e, às vezes, é mais simples começar com o autocuidado.

Portanto, cuide-se bem. Como diz o poeta, “dê vinho, dê pão”. Seu coração
agradece.

22
Em torno dela – Marc Chagall (1945)

Depois de tudo

Fernando

Sabino

De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre a começar…

A certeza de que é preciso continuar…

A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar.


Por isso devemos:

Fazer da interrupção um caminho novo

Da queda um passo de dança

Do medo uma escada

Do sonho uma ponte

Da procura um encontro.

23
6. Voltando a sonhar

Em Alice no País das Maravilhas, em um momento icónico da história, Alice


pergunta ao Gato qual caminho ela deve seguir. Ele responde: “Isso
depende muito do lugar para onde você quer ir”. Alice revela que, na
verdade, ela não sabe onde quer ir. E o Gato responde, sabiamente: “Se
você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”.

Depois de um término, é comum se identificar com Alice. Aliás, é natural.


Afinal, você está num lugar estranho que não estava nos seus planos. O
término da relação te arremessou na toca do coelho e você caiu num lugar
em que tudo é estranho, desconfortável.

Para onde ir se você nem sabe mais o que quer?


É provável que, com o fim do relacionamento, a gente tenha que sepultar


projetos. No entanto, não nos livramos dos nossos sonhos e desejos assim
tão facilmente. E tampouco conseguimos, apenas com a força da vontade,
descobrir novos sonhos para perseguir. Tudo isso leva tempo e se encontra,
infelizmente, fora do nosso controle. O que fazer, então?

A minha sugestão é que você use sonhos e desejos como sua estrela guia.
Tudo pode estar escuro e o terreno nada familiar. Mas há uma força motriz
dentro de cada um de nós que pode iluminar nosso caminho: são as
imagens e os anseios da nossa alma, em sonhos ou fantasias.

De todos os mistérios da humanidade, talvez o maior seja a esfera dos


sonhos. Por que sonhamos o que sonhamos? De onde vêm nossos desejos
mais íntimos e profundos?

Não tenho as respostas, mas suspeito que haja fatores internos e externos.
O que desejamos é informado por nosso ambiente – inclusive o contexto
histórico e social em que nos encontramos – mas deve haver também algo
essencialmente nosso, algo que nos ilumina por dentro.

24
Proponho, então, que você se exponha ao máximo de experiências que
desepertem em você entusiasmo, interesse ou curiosidade. Siga o seu
coração. Ao mesmo tempo, faça isso com consciência, de forma deliberada;
não apenas para preencher a agenda.

Aliás, tão importante quanto se expor a novidades é deixar um espaço para


o tédio. Isso mesmo que você ouviu: permita-se um encontro com o ócio.
Sem distrações. É justamente quando a mente irá divagar, desesperada por
alívio da falta de estímulos. E é nessa divagação que ela pode acabar
encontrando um tesouro.

Por fim, durma. Sonhe. Permita-se ser inundada pelas cores, cenas e
doideiras do seu inconsciente. Divirta-se com os enredos. Se quiser, escreva
os seus sonhos depois e veja se eles abrem alguma janela interessante para
seu desejo.

Às vezes, sonhos e desejos são como animais ariscos. Se ficarmos muito em


cima, eles não vêm. Mas, com um pouco de paciência, eles aparecerão.
Podem chegar de mansinho ou te supreender te dando um bote. Segure
firme e divirta-se!

25
Janela aberta, Collioure – Henri Matisse (1905)

Janela

Adélia

Prado

Janela, palavra linda.

Janela é o bater das asas da borboleta amarela.

Abre pra for a as duas folhas de madeira à-toa pintada,

janela jeca, de azul.

Eu pulo você pra dentro e pra for a, monto a cavalo em você,

meu pé esbarra no chão. Janela sobre o mundo aberta, por onde vi

o casamento da Anita esperando neném, a mãe

do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi

meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:

minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.

Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,

claraboia na minha alma,

olho no meu coração


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7. Abrindo-se para a vida
No livro Poética do Espaço, o filósofo francês Gaston Bachelard escreveu que
“é na solidão que as paixões se cozinham”. Quem me conhece sabe que sou
o maior defensor da introspecção – inclusive, cultivar momentos a sós é
imprescindível para o autoconhecimento e, de fato, é o que todos os outros
passos pedem. No entanto, solidão em excesso, sobretudo depois de ter
superado o período mais intenso de tristeza pós-término, pode fazer o seu
afeto passar do ponto.

Muito tempo refletindo e remoendo, mesmo que você esteja conseguindo


finalmente se sentir bem na própria pele e até voltado a sonhar com novos
projetos, não deixa de ser uma forma de se prender ao passado – ou a um
presente que envolve esquecer, ressignificar ou superar algo que está no
passado.

Por isso, o último e mais difícil passo que você pode dar é voltar a se abrir
para a vida. Eu sei que o que você está pensando:

“Tenho medo de me machucar de novo.”


Sim, o medo faz parte. Na vida, não temos garantia de nada, só da morte. O
sofrimento já está dado: não temos como escapar. Viver é perder, se
frustrar, quebrar a cara. Mas quem nem entra no jogo, quem não corre atrás
dos sonhos nem dá uma chance ao amor abre mão de uma oportunidade de
experimentar aquela misto maravihoso de emoções que fazem todo o
esforço, toda a vulnerabilidade, valer a pena:

Conexão

Alegria

Encantamento

Não estou falando que é hora de se entregar a um novo amor. Não se trata
disso. Só quem vai dizer se você está pronto para isso é o seu coração. E ele
tem o próprio tempo e a própria linguagem. Não adianta eu dizer: “Abre o
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seu coração”. Se ele não estiver pronto, ele não vai se abrir. E você só vai se
sentir inadequado, pressionado, cobrado.

O que estou sugerindo é que você abra a sua cabeça para a possibilidade de
que muitas experiências maravilhosas te aguardam para além das quatro
paredes do seu quarto. Muito além do amor romântico, de jantares a luz de
vela, beijos apaixonados e dormir de conchinha, a vida lá fora oferece:

a exuberância da fauna e da flora;

a força arrebatadora de uma bela obra de arte (seja ele um quadro, um


filme, uma canção, um livro, um espetáculo de teatro);

a pura alegria de rir, dançar, cantar, brincar;

a paz profunda de uma meditação ou outra experiência espiritual;

a surpreendente doçura de dominar uma tarefa difícil (treinar para uma


prova, tocar um instrumento, aprender um idioma);

a eletrizante energia de lutar por uma meta ou por um ideal no qual


acredita;

entre tantas outras vivências.


Não limita a sua existência à experiência do amor romântico. Como canta


Lulu Santos, “há tanta vida lá fora”. Que tal experimentá-la?

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A lista

Beau Taplin

A felicidade não se resume a uma lista.

O emprego dos sonhos,

um carro bacana,

nem mesmo o amor de outra pessoa

terá qualquer sentido

se você ainda não descobriu um jeito

te se sentir plena e feliz

dentro da própria

cabeça e coração.

(Tradução de Clarissa Oliveira)

Girassol & Alex – Aliza Nisenbaum (2020)

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Minha mensagem final

Todo mundo tem objetivos e sonhos nessa vida.


Alguns gostariam de comprar uma belíssima casa, com um jardim cheio de


pés de jabuticaba e uma piscina de borda infinita. Outros prefeririam um
apartamento aconchegante, não muito grande, de esquina, em um bairro
gostoso e arborizado, porque pretendem viajar tanto que não faria sentido
arcar com os custos de uma casa com pés de jabuticaba e piscina de borda
infinita.

Alguns desejam casar com alquém perdidamente apaixonado, mesmo sem


saber se a relação tem futuro, em uma cerimônia na praia, com roupas leves,
poucos convidados e chinelos de dedos. Outros escolheriam um parceiro
mais sensato, com igreja e festa num salão chiquérrimo, com convites
sociais irrecusáveis e bebidas das quais nem sabemos o nome, com belas e
enormes rosas modificadas geneticamente.

Alguns querem ser donos de cachorros serelepes e babões, que fazem festa
quando os donos chegam em casa. Outros teriam gatos, autossuficientes e
carinhosos.

Alguns sonham em empreender seus projetos de criança com a liberdade


que a alma pede. Outros optariam por um trabalho seguro e que não
coabite com as instabilidades do eterno tiro no escuro que é se arriscar em
um negócio próprio.

De qualquer maneira, independentemente das escolhas por cães ou gatos,


jabuticabeiras ou viagens constantes, o maior objetivo de todos nesta vida é
o amor próprio.

Não é uma conquista fácil. Dependendo de quem você é, talvez seja mais
fácil ter uma piscina de borda infinita do que gostar de você mesmo, de
verdade. Estar feliz na própria pele é algo dificílimo, ainda mais nos dias de
hoje, em que toda a sociedade parece conspirar para que nos comparemos

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uns com os outros, sempre a desejar algo que (ainda) não temos.

Um dia achei que eu precisava da casa com os pés de jabuticaba, das


viagens, do casamento na praia e de lindas fotos românticos no meu
instagram para estar feliz comigo mesmo. Achei que era só focar nessas
conquistas que eu chegaria lá: no tão sonhado amor próprio.

Hoje sei que nada disso importa. Sem a paz interior do verdadeiro amor
próprio, estaremos sempre zonzos, catando a aprovação dos outros.

Quando a gente se ama, coisas boas acontecem.

Atraímos pessoas e oportunidades diferentes (quase sempre positivas).

Passamos nosso tempo com gente legal, que nos interessa de verdade,
não por obrigação ou tradição.

Nutrimos relações saudáveis e equilibradas, com respeito mútuo.

Conversamos com franqueza sobre nossos limites e necessidades.


Portanto, ame-se como você já amou alguém. Olhe-se com a admiração que
você já olhou para esse mesmo alguém. Estenda para você aquele mesmo
abraço caloroso, o mesmo olhar generoso, a mesma tolerância
incondicional. Ame-se. Faça disso um hábito e, eu garanto, coisas boas
acontecerão.

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10 filmes para ver

... e se identificar

Como ser solteira

How to be single (2016)

Uma boa pedida para quem está no clima de uma


comédia leve e descontraída, esse filme mostra que
há mais de uma maneira de ser solteira – e muitas
formas de aproveitar a vida sem (ou entre)
parceiro(s).

Divertida mente

Inside Out (2015)

Essa animação da Pixar teve a consultoria de


psicólogos renomados para nos mostrar a vida
emocional de Riley, uma menina de 11 anos e,
especificamente, a relação entre as cinco emoções
básicas: alegria, tristeza, raiva, medo e nojo. O filme
nos ensina a dar espaço e entender o valor das
emoções – até as mais difíceis.

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Alta fidelidade

High fidelity (2000)

Rob, dono de uma loja de discos, revisita os seus


relacionamentos fracassados depois de ser largado
pelo amor de sua vida. Um clássico que virou série
em 2020 com Zoë Kravitz.

Legalmente loira

Legally blonde (2001)

Não tem como fazer uma lista de filmes sobre


términos sem incluir esse clássico, sobre a
“patricinha” que vai estudar direito em Harvard
após uma rejeição brutal do homem que achou que
iria pedi-la em casamento. Diversão garantida.

Mesmo se nada der certo

Begin Again (2013)

Gretta está sozinha em Nova York após um


término com seu namorado e também parceiro
musical. Dan é um ex-produtor musical divorciado
deprimido e alcóolatra. Ambos vão aprender,
juntos, que nunca é tarde para recomeçar. De
quebra, o filme conta com participações de Adam
Levine e James Corden, além de lindas canções
originais.

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Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Eternal sunshine of the spotless mind (2004)

E se fosse possível apagar todas as lembranças e


qualquer vestígio de um ex da nossa memória? Essa
é a premissa dessa distopia centrada em torno de
duas pessoas que, apesar de muito diferentes,
insistem em se amar.

Felicidade por um fio

Nappliy ever after (2018)

Violet é bonita, bem-sucedida e está esperando o


namorado pedi-la em casamento para sua vida ser,
enfim, perfeita. Quando isso não acontece, ela entra
numa crise de identidade, mas quem disse que isso é
ruim?

Ressaca de amor

Forgetting Sarah Marshall (2008)

Uma viagem para o paraíso parece ser a cura


perfeita para um término traumático – até você
perceber que a ex teve a mesma ideia, e levou o
novo namorado! Essa é a premissa dessa comédia
divertida, boa para afogar as mágoas.

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(500) Dias com ela

(500) Days of Summer (2009)

Aclamado pelo público e pelos críticos, esse filme


mostra quinhentos dias da vida de Tom com (e
sem) Summer, a mulher que partiu o seu coração.
Acompanhamos suas alegrias e tristezas, suas
dúvidas e inseguranças e, por fim, seu
amadurecimento.

La La Land - Cantando estações

La La Land (2016)

Às vezes, relacionamentos bons terminam por


motivos que vão muito além da personalidade do
casal. É o que mostra esse lindo musical moderno,
ambientado na cidade com a maior concentração de
estrelas no planeta.

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10 livros para ler

... e se inspirar

Não ficção

O ano do pensamento mágico, de Joan Didion

(Harper Collins)

Uma exploração honesta e profunda sobre o luto,

esse livro nar ra o primeiro ano da escritora após a

morte do marido. Embora não seja sobre tér mino, é

um relato marcante sobre as fortes emoções e

pensamentos após uma perda. Um clássico.

Comer, rezar, amar, de Elizabeth Gilbert

(Objetiva)

Nesse best-seller internacional, o fim de um

relacionamento é o estopim para Elizabeth

embarcar numa viagem de autoconhecimento em

três cantos do planeta. Uma leitura leve para quem

quer fugir um pouco dos temas difíceis.

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Mais for te do que nunca, de Brené Brown

(Sextante)

Uma das maiores especialistas em vulnerabilidade e

coragem nos mostra como o fracasso e os

desfechos indesejados – e, especialmente, como

lidamos com isso – contribuem para nossa evolução

e, em útlima instância, nossa felicidade.

Tudo sobre o amor, de bell hooks

(Elefante)

Escrito por uma respeitada intelectual, essa obra é

uma bela meditação sobre o amor como muito mais

do que um sentimento. Para muito além do amor

romântico, e per meando diversas relações, hooks

entende o amor como uma força revolucionária

para a humanidade.

Autocompaixão, de Kristin Neff

(Lúcida Letra)

Quem busca saber mais sobre a autocompaixão (e

como praticá-la) encontrará tudo o que precisa

nessa obra de Kristin Neff, uma psicóloga budista e

a maior autoridade no assunto. Um livro para ler e

reler.

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Cartas de um terapeuta para seus momentos de
crise, de Alexandre Coimbra Amaral

(Paidós)

Poético, profundo e original, essa obra é um abraço


em forma de livro – mais especificamente, em
forma de cartas escritas por nossas emoções. Um
ótimo acompanhamento para o filme Divertida
Mente!

Ficção

Dias de abandono, de Elena Ferrante

(Biblioteca Azul)

Após uma traição, Olga enfrenta o desmoro-


namento de seu casamento de 15 anos. Em um
corajoso e às vezes violento mergulho existencial, a
personagem visita memórias e luta contra a
desolação de sua nova realidade. Com maestria, a
autora escancara a dor da rejeição e explora o
processo doloroso, porém redentor, da reinvenção.
Uma leitura intensa e marcante.

Nós, de David Nicholls

(Intrínseca)

Será que é possível salvar um casamento de 25


anos? Essa é a esperança de Douglas, que embarca
numa viagem pela Europa com a esposa e o filho,
um mês depois de descobrir que a mulher quer
divorciá-lo. Alternando entre as memórias da
relação e a viagem desastrosa, esse livro delicioso
nos leva a refletir sobre as dores e as delícias dos
relacionamentos.

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Copo vazio, de Natalia Timerman

(Todavia)

Mirela, uma mulher moderna e bem-sucedida, está


num relacionamento com Pedro até que, do nada,
ele some. Não responde mensagens, não oferece
explicações. Deixa apenas um enorme vazio, no
qual Mirela precisa se debruçar. Bem escrito,
sucinto e extremamente atual.

Garota exemplar, de Gillian Flynn

(Intrínseca)

Esse thriller se tornou um best-seller e um filme


celebrado não à toa. Sem dar spoiler, o livro
acompanha Nick depois do desaparecimento de sua
esposa Amy. Ao mesmo tempo, o diário de Amy
revela uma relação nada saudável. Com mentiras e
reviravoltas, é uma leitura eletrizante e
especialmente recomendada para quem dar vazão às
fantasias sombrias pós separação.

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SOBRE OS ARTISTAS E POETAS
Acredito muito no poder da arte para curar feridas, nos transportar a
lugares interessantes e abrir nossa cabeça (e nosso coração) para novas
possibilidades. Ao preparar este material, busquei incluir artistas e
poetas diversos (mesmo de forma muito passageira), na esperança de
que algumas dessas obras possam te trazer alívio, encanto e, quem
sabe, um pouco de alegria. Aqui vai um pouquinho mais sobre cada
um deles.

ARTISTAS

Gülsün Karamustafa

Nascida em Ankara em 1946, Karamustafa é uma das mais célebres


artistas visuais contemporâneas da Turquia. Ela trabalho em vários
meios e gosta de abordar temas com nuances sociais, com é o caso do
quadro da página 3.

Gustav Klimt

Klimt foi um pintor austríaco do século XIX famoso por suas obras
pintadas em dourado de estilo art nouveau, como O beijo e a obra na
página 8.

Edward Hopper

Hopper foi um pintor americano que se destacou na primeira metade


do século XX com seu traço realista. Retratou como ninguém a
solidão da vida urbana, como podemos ver na obra da página 11.

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Banksy

Banksy é um pseudônimo de um artista urbano e ativista político


inglês, famoso por seus trabalhos em estêncil feito em paredes e
muros, como é o caso da obra na página 14.

Marlon Amaro

Nascido em 1987, Amaro é um jovem pintor brasileiro, de Niterói, Rio


de Janeiro, cujas telas coloridas exploram temas sociais como
identidade e racismo, como podemos ver na obra da página 17.

Henri Matisse

Matisse foi um dos maiores pintores franceses do século XX,


explorando cores e formas de maneira inovadora. A obra da página 26
foi feita no início de sua carreira.

Pablo Picasso

Sem dúvida um dos artistas mais influentes do século XX, Picasso foi
um pintor e escultor espanhol radicado na França. A obra da página 20
é característica do seu Período Azul.

Marc Chagall

Nascido no antigo império russo no fim do século XIX no seio de


uma família judia, Chagall se destacou na França com um grande
pintor modernista. A obra da página 23 é emblemática de sua fase
surrealista.

Aliza Nisenbaum

Nascida em 1977, Nisenbaum é uma pintora mexicana judia que hoje


vive no Brooklyn, nos Estados Unidos. Ela gosta de trabalhar com cor e
retratos do cotidiano, como podemos ver nas duas obras na página 29.

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POETAS

Mário Quintana (p. 3)

Nascido em 1906 em Alegrete, Rio Grande do Sul, Mário Quintana foi


um poeta, tradutor e jornalista. Seu estilo acessível o deram o apelido
de “poeta de coisas simples”. Simples e profundo.

Thiago de Mello (p. 8)

Nascido em Barreirinha, Amazonas, e morto em janeiro de 2022,


pouco antes da elaboração do curso, Thiago de Mello foi um
importante poeta brasileiro, além de tradutor de, entre outros, Pablo
Neruda.

Cecília Meireles (p. 11)

Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 1901 é considera a maior


poeta brasileira de todos os tempos, além de ter sido uma premiada
tradutora e professora. Seus poemos são líricos, intensos e intimistas.

Mário Cesariny (p. 14)

Mário Cesariny foi um poeta (e também pintor) português da escola


surrealista. É respeitado por seu humor e ironia.

Rupi Kaur (p. 17)

Nascida em Punjab, na Índia, em 1992, Rupi Kaur é uma poeta


canadense que se consagrou escrevendo poemas no Instagram. Seus
livros já foram traduzidos para mais de 25 idiomas e são best-sellers
internacionais.

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Derek Walcott (p. 20)

Vencedor do Nobel de Literatura (1992), Derek Walcott nasceu em


1930 na capital de Santa Lúcia, uma nação caribenha. Sua obra é
considerada exemplo da literatura pós-moderna e pós-colonial.

Fernando Sabino (p. 23)

Nascido em 1923 em Belo Horizonte, Minas Gerais, Fernando Sabino


foi um premiado escritor e jornalista pós-modernista. O humor e a
ironia são traços característicos de suas obras.

Adélia Prado (p. 26)

Nascida em Divinópolis, Minas Gerais, em 1935, Adélia Prado é uma


premiada poet a e escritora que começou a publicar após os 40 anos.
Romântica sem ser melosa, e com uma linguagem direta, seus poemas
são belos e marcantes.

Beau Taplin (p. 29)

Beau Taplin é um jovem poeta de Melbourne, Austrália, que construiu


sua base de leitores no Instagram. Infelizmente, seus livros ainda não
estão disponíveis em português.

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