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APRAXIA DE FALA NA INFÂNCIA

Diagnóstico diferencial
DEL -- ATRASO DE LGG – DISTÚRBIO DE LINGUAGEM – DISTÚRBIO FONOLÓGICO

DEFINIÇÃO:
“Apraxia é um distúrbio neurológico motor da fala na infância, resultante de um déficit no planejamento e programação
da sequência de movimentos necessários à fala, na ausência de déficits neuromusculares (por exemplo, reflexos anormais,
tônus alterado);
Pode ocorrer como resultado de impedimento neurológico de origem conhecida, associada a desordens
neurodesenvolvimentais complexas, ou
Como um distúrbio neurogênico idiopático de produção dos sons da fala”.
O coração da Apraxia é: planejamento e programação espaço-temporal da sequência dos parâmetros dos movimentos para
a produção dos sons da fala.
Impacta na habilidade da criança em posicionar, temporizar a sequência dos gestos articulatórios (Ad Hoc Committee on
Apraxia of Speech in Children, ASHA 2007 )
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Check list :

Crianças com Apraxia tem histórico de atraso no desenvolvimento da fala. Pode ter histórico na família ou
pode ser o primeiro caso diagnosticado.
Ocorre mais em meninos do que em meninas: 1-2:1000. (1 a 3%)
Sintomas podem mudar no decorrer do desenvolvimento
Vocalizações e balbucio diminuídos: “Bebê quietinho!”;
-Pode ter dificuldades de alimentação: dificuldade para sugar, para coordenar movimentos de
sucção/respiração/deglutição;
-Pode ter presença de baba (sialorréia);
-Primeiras palavras aparecem mais tarde (depois dos 14 meses) ou não aparecem;
-Pode não conseguir falar “papai” e/ou “mamãe;
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Check List:
Significativo “gap” entre recepção e expressão da linguagem;
-Problemas de processamento da linguagem;
-Não consegue produzir corretamente os fonemas;
-Imitação pobre ou reduzida: não consegue imitar palavras e frases; não consegue fazer as aproximações, não progride nas imitações;
-Pode ter dificuldades na alimentação: alimento “parado” na boca. Necessita de “prompts” para mastigar, deglutir;
-Hiper ou hipossensibilidade na cavidade oral (texturas diferentes, dificuldade na escovação, dificuldade para perceber o alimento na
boca);
-Prosódia (melodia) da fala é diferente: fala monótona ou acelerada;
-Pode “perder” palavras;
-Desenvolve comunicação gestual ou não-verbal*;
-Disfluências, procura, hesitações para encontrar a palavra certa;
-Perde sons no meio das palavras (mantém apenas vogais ou parte das sílabas)
-Pode produzir frases mas são ininteligíveis = cuidado com diagnóstico diferencial de TRANSTORNO FONOLÓGICO! CASOS SEM
EVOLUÇÕES!
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Check List:
Dificuldade na imitação de movimentos orais (não-verbais): dificuldade na mobilidade, movimentação de
lábios, língua, mandíbula, bochechas. Ou pode realizar isoladamente mas não na sequencia. Dificuldade
para sorrir!
Dificuldades relacionadas ao planejamento e programação motora e não ao tônus muscular.
Dificuldade na alimentação: pobre coordenação dos movimentos, “alimento parado na boca”; “chupa o
alimento”; engole com a ajuda de líquidos; dificuldades com texturas diferentes;
APRAXIABUCO FACIAL/não-verbal (MOVIMENTOS ORAIS) x APRAXIA verbal/fala
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Check List:
Pode apresentar atraso no desenvolvimento motor (engatinhar, andar)
Pobre coordenação motora global(correr, ficar em um pé; jogar)
Pobre coordenação motora fina (escrever, desenhar, pintar, quebra-cabeça, dar laço, pentear o cabelo,
comer, tomar banho, etc.
Crianças desorganizadas; “estabanadas”; “síndrome da criança desajeitada”
Dificuldade para acompanhar ritmos: atenção! –músicas infantis!
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PRINCÍPIOS DA TERAPIA

1.Sequencialização de Fonemas (Sons).


2.Prática Repetitiva
3.Intensidade do Tratamento
4.Seleção das Palavras/Frases-Alvo
5.Pistas Multissensoriais e Feedback
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1.Sequencialização de Fonemas (Sons):


Co-articulação: é o grande desafio para as crianças com AFI.
Conseguem produzir a vogal ou fonema isoladamente, mas não combinam.
Aprendizagem motora para a fala: habilidade altamente organizada e hierarquizada. Partes de cada
componente são espacialmente e temporalmente interdependentes.
Sempre considerar fonemas que antecedem e procedem cada sílaba;
Práxis da fala: nível da sílaba
Formas silábicas: considerar níveis hierárquicos de aquisição
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1.Sequencialização de Fonemas (Sons):
Formas silábicas: hierarquia de aquisição
Vogais (oo, aa, ee)
Consoantes (mmm, ssss, chchch, etc)
CV (PA; PÉ; DÁ)
VC (AR; OS; AS)
CVC (PAR; MAR; DAR; LAR)
CCV (PRATO; CRU)
CCVC (CRIS)
CVCC (PERS-PEC-TI-VA)

SELEÇÃO DAS PALAVRAS-ALVO: SEMPRE CONSIDERAR A HIERARQUIA DA ESTRUTURA SILÁBICA


Formas de ajudar: usar fonemas que ele já possui quando for ensinar novo repertório. Se não consegue fricativos, inserir apenas
plosivos (mama, dada, bebe, nenê).
Sempre considerar forma silábica (ex. trabalhar k e G e a criança já consegue CV (CO -CV.CV –COCO)
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2. PRÁTICA REPETITIVA:
Repetição é essencial para o tratamento;
Memória motora. Formação do plano motor da palavra.
Estabelecer a memória motora é essencial: controle voluntário para o automático.
Repetir as palavras-alvo muitas vezes: (prática bloqueada) ou trabalhar em uma ordem mais aleatória (prática
aleatória) é dependente da fase da criança.
Retenção e transferência –quando um plano motor está estabilizado, uma pratica aleatória para manter a retenção e
transferência -retenção é manter a habilidade e transferência é a habilidade de generalizar a habilidade relacionada
mas não treinada.
A fase inicial requer a prática repetitiva de movimentos mas o interesse da criança deve ser sempre respeitado!
A terapeuta deve manter-se conectada a criança e prender seu interesse
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2. PRÁTICA REPETITIVA:
Fatores que influenciam a pratica repetitiva:
Idade: criança pequena tem um span de atenção pequeno e também ela não entende a importância da
repetição. Usar atividades funcionais e jogos para estimular a aprendizagem de novos planos motores.
Outros fatores neurológicos associados: pensar em atividades curtas para manter a atenção
Existem crianças que se frustram facilmente, outras são muito persistentes
Reações emocionais: muitas já receberam terapia por muito tempo, descobrir o que motiva a criança.
A motivação é reforçada quando ela sabe que está sendo bem sucedida, compreende o poder da
linguagem, compreende como as habilidades motoras afetam sua comunicação e são divertidas
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2. PRÁTICA REPETITIVA:

Atenção aos distratores: visuais, auditivos, ruídos;


Atenção é uma habilidade fundamental.
Contato visual;
Crianças com Apraxia: já tiveram muitas experiências frustrantes de comunicação.
Terapeutas: compreender a personalidade da criança.
Demonstre compreensão, disposição em ajudar; seja responsivo;
Descubra quais as motivações e interesses da criança.
Ambiente terapêutico deve ser acolhedor, a criança deve se sentir segura!
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3. INTENSIDADE DO TRATAMENTO
-Sessões mais frequentes e mais curtas (3, 4 ou 5 vezes na semana: 30 minutos).

CONSIDERAR:
Gravidade do quadro;
Idade da criança
Capacidade de tempo de atenção
Vigor/motivação da criança
Metas planejadas (fala e linguagem)
Necessidade de outros tipos de tratamento: motor global, cognitivo, médico, emocional/social;
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4. Seleção das palavras

Palavras de maior uso da criança


Seguir a sequência de aquisição
Iniciar com bilabiais , plosivas, palavras curtas, palavras com proximidade dos sons entre
as sílabas
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5. Pistas multissensoriais
Tipos primários de pistas:

Visuais ( o que a criança vê) (“face to face”: na modelagem; outras associações (sinais com as mãos,
escrita)
Auditivas (o que a criança ouve) (modelos para imitar)
Tátil/cinestésicas/proprioceptivas (o que a criança sente)
Cognitivas (o que a criança pensa sobre): ajudar a criança a pensar nos movimentos da fala (ex. levante a
parte de trás da sua língua) ou agora é som da cobra...
Tátil: sentido do toque na pele: input do contato dos articuladores –contato dos lábios, da língua no
alvéolo, etc
Cinestésicas e proprioceptivas: sentido que ajuda a pessoa reconhecer movimento do corpo, quantidade
de força, . REDUZIR velocidade de fala ou “segurar a postura dos articuladores” aumenta consciência dos
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5.Pistas multissensoriais
Ajudam a criança a focar sua atenção nos aspectos mais salientes dos movimentos da fala.
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5.Pistas multissensoriais

HandCues (pistas de mão): gestos que representem os fonemas.


Contar sílabas ou palavras nas frases.
Metáforas: som da cobra, da abelha, do silencio, trem, do urso, de uma onça, etc
Pistas dos pontos articulatórios (terapia de distúrbio articulatório).
Figuras das bocas: método das boquinhas.
Figuras/sílabas/palavras: ex. OO + VVVUU = OVO
MMMM + EU = MEU
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Visual Auditiva Tátil/Cinestésica/ Cognitiva
Pistas
Proprioceptiva

Variação de Velocidade de fala x x


Produção simultânea/coral speaking x x
Imitação direta & Imitação atrasada x x
Espelho x x
Mímica x
Pistas com as mãos x x

Sinais manuais x x
Escrita x x

Bater palmas para sílabas x x x


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Visual Auditiva Tátil/Cinestésica/ Cognitiva
Pistas
Proprioceptiva
Blocos (contar número de sílabas ou palavras ) x x
Metáforas x
Pistas dos pontos articulatórios x
Figuras das bocas x
Figuras (sílabas para formar palavras). x x
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SUGESTÃO DE PISTAS COM AS MÃOS PARA INDICAR O
PONTO ARTICULATÓRIO ( Fish, 2011 )

Fonemas Pistas
PBM COLOQUE O DEDO INDICADOR AO LONGO DA LINHA DOS LÁBIOS

TDN COLOQUE A PONTA DO INDICADOR NO CENTRO DO FILTRO NASAL

K G COLOQUE OS 4 DEDOS SOB O QUEIXO PERTO DO PESCOÇO

FV PONTA DO INDICADOR NO CENTRO DO LÁBIO INFERIOR

S Z MANTER UM SORRISO AMPLO E COLOQUE O DEDO INDICADOR E O POLEGAR NOS CANTOS DOS LÁBIOS

CH J PROTUIR OS LÁBIOS E COLOCAR O DEDO INDICADOR E O POLEGAR NAS BOCHECHAS

L COLOQUE O DEDO INDICADOR ABAIXO DO CENTRO DOS DENTES SUPERIORES

R COLOQUE O DEDO INDICADOR ABAIXO DO CENTRO DOS DENTES SUPERIORES

RR COLOCARA PALMA DA MÃO ABERTA EM FRENTE DA BOCA ABERTA


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SUGESTÃO DE PISTAS COM AS MÃOS PARA INDICAR O
MODO ARTICULATÓRIO ( Fish , 2011 )

Fonemas Pistas
PB ABRIRE FECHAR OS DEDOS AO LADO DO LÁBIO, INDICANDO A PLOSÃO DE AR

M COLOCAR O DEDO INDICADOR NA ASA DO NARIZ ENQUANTO MODELA O M

T D COLOCAR O INDICADOR E POLEGAR JUNTOS PERTO DO CENTRO DOS LÁBIOS E SOLTAR RAPIDAMENTE

FV MORDER O LÁBIO INFERIOR E MOVER O DEDO INDICADOR PARA TRÁS AO LONGO DA BORDA DO LÁBIO INFERIOR

N COLOCAR O DEDO INDICADOR NA ASA DO NARIZ ENQUANTO MODELA O N

CH J PROTUIR OS LÁBIOS E COLOCAR O DEDO INDICADOR E O POLEGAR NAS BOCHECHAS,MOVENDO-OS PARA FRENTE

S Z DESLIZAR DEDOSINDICADORES AO LONGO DO LÁBIO SUPERIOR OU INFERIOR EM TODA SUA EXTENSÃO

K G 4 DEDOS NA REGIÃO DA GARGANTA E MOVE-LOS RAPIDAMENTE ENQUANTO PRODUZ OS SONS


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MÚSICA
-Muitos benefícios para o tratamento de crianças com Apraxia.
-Oportunidades para prática repetitiva
-Entonação, prosódia;
-Velocidade reduzida, prolongamento de vogais;
-Ajuda a manter o foco atencional
-Usar a melodia e inserir sons ou palavras que estão sendo trabalhadas;
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PARTICIPAÇÃO DA ESCOLA

O Fonoaudiólogo deve orientar a Professora:

Tente criar uma comunicação interessante e um ambiente sem “tensão”.


Incentivar, mas não insista que ele/ela para fale.
Elogie seus/suas tentativas de fala, mesmo que apenas por esforço.
Entender quando o aluno:“não responder ou dizer "não sei” (desafio da comunicação)
Lembre-se: dificuldades de processamento de linguagem poderão estar presentes!
Seja paciente. Às vezes, o ritmo acelerado dos outros poderá desorganizá-lo.
Prestar atenção e até mesmo criar oportunidades para ajudá-lo a fazer amigos. Pode ser difícil para uma criança com
apraxia para “participar" da comunicação social e situações.
Apoio e carinho irão certamente ajudar. Todas as crianças precisam de um amigo.
Intervir imediatamente em todas as situações que envolvam intimidação ou provocação. Tranquilizá-lo, defende-lo.
Nenhuma provocação é aceitável.
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PARTICIPAÇÃO DA ESCOLA

O Fonoaudiólogo deve orientar a Professora:

Esteja ciente de que, às vezes, as crianças com apraxia também são fisicamente incoordenados, tornando esportes
competitivos ou mesmo desenho, recorte e outras tarefas motoras, um desafio.
Meios alternativos de comunicação poderão ser necessários.
Acima de tudo, seja parceira da família, da Fonoaudióloga.
Compartilhar informações uns com os outros, sempre trará benefícios.

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