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01 | Comunicação, Linguagem e Fala: Será tudo a
mesma coisa?
Falar é como chegar à meta! Antes disso, o teu bebé irá comunicar
e irá adquirir linguagem. Deves estar a pensar: “comunicar, como assim?”.
A comunicação é a intenção de transmitir uma informação, e o teu bebé
começa a fazer isso de diversas formas. Inicialmente, de um modo muito
inconsciente, mas depois com uma intenção clara de comunicar contigo,
sem que esteja a falar contigo. A primeira forma de comunicação é o choro,
o choro começa a tornar-se diferente nas primeiras semanas de vida do teu
bebé. Existe o choro de fome, o choro de sono, o choro de precisar de mimo…
Cada um dos tipos de choro, é uma forma de comunicação, e será uma das
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primeiras formas do teu bebé comunicar contigo. À medida, que o teu bebé
se desenvolve, começam a surgir outras formas de comunicação, o olhar
para o que quer, o apontar, o puxar-te, que se vão tornando cada vez mais
eficazes no que ele pretende dizer-te! Falar uma das formas
de comunicação que o teu bebé irá utilizar. Lembra-te sempre, primeiro o teu
bebé terá de comunicar e só depois, ele irá falar contigo com a intenção.
Um bebé que não evolui na comunicação, é um sinal de alerta! Há dois
cenários que podem acontecer, ou o teu bebé irá falar mais tarde, ou a fala
não será funcional. Comunicar é a base da fala, sem comunicação, a fala
não tem valor!
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02 | Desenvolvimento da comunicação, linguagem
e fala dos 0 aos 36 meses
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Os primeiros sons que o teu bebé irá produzir é o grito, no qual
aprende a coordenar a respiração em função da intensidade e da duração;
o que é essencial para a produção da fala.
Por volta das três ou quatro semanas, o teu bebé irá começar a sorrir
intencionalmente. Quando sorrires para ele, ele irá corresponder.
Quando chegar aos três meses, o teu bebé será capaz de vocalizar
para te responder. Tu falas para ele, paras e ele vocaliza em resposta,
começando a descobrir o que é a tomada de vez.
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Dos 3 aos 6 meses:
Nesta idade, o teu bebé começará a ser mais curioso, mais consciente
de si e do que vê. Será capaz de conhecer e antecipar algumas rotinas.
Nas rotinas é essencial que os pais falem sobre as mesmas, sobre as ações,
as emoções e aprendam a interpretá-las e nomeá-las. O choro irá diminuir,
tornando-se cada vez mais diferenciado e o sorriso intensifica-se.
O teu bebé explorará e levará objetos à boca e irás observar que ele
faz bolas de saliva, vibra os lábios, faz cliques na garganta, sopra, cospe,
tosse ou espirra quando quer chamar à atenção.
Compreensão Expressão
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Quais os sinais de alerta que deves estar atento?
● Não sorri nem ri;
● Não emite vogais nem consoantes;
● Deixa de palrar;
● Não responde quando ouve a voz do pai ou da mãe;
● Não localiza o som ao nível do ouvido;
● Não vocaliza quando falam com ele;
● Não olha ou evita o contacto ocular;
● Não segue um objeto com os olhos;
● Não faz sons consoante/vogal como “pa” ou “ma”.
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Compreensão Expressão
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Dos 10 aos 12 meses
O teu bebé irá começar a compreender progressivamente mais
palavras, responderá frequentemente à linguagem. Responderá a um
pedido do adulto, seguindo-o com o olhar ou apontará para objetos perto
ou longe de si e quando lhe dizem a palavra “gato”, compreenderá que esta
se refere a um animal de quatro patas.
Compreensão Expressão
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Quais os sinais de alerta que deves estar atento?
● Não se senta com apoio;
● Não demonstra interesse por sons;
● Não reage ao seu nome nem ao nome de familiares;
● Não balbucia;
● Não chama a atenção usando sons;
● Não usa monossilábicos “pa”, “ma”;
● Vocaliza de forma monótona ou deixa de vocalizar;
● Não dá sinais de agrado ou desagrado;
● Engasga-se facilmente.
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Compreensão Expressão
Responde a pedidos do dia-a-dia: Produz os sons “p”, “b”, “m”, “t”, “d”,
“traz as meias do pai” e “n”
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Dos 18 aos 24 meses
O teu bebé passará a ser capaz de utilizar a linguagem não só para
ter o que quer, mas para descrever e organizar experiências. Ele vai continuar
a adquirir palavras a um ritmo muito acelerado. Nem sempre a palavra vai
ser percetível.
O teu bebé gostará de imitar as pessoas que ama e que fazem parte
da sua vida, usando a brincadeira de forma intencional para encenar os
seus diálogos, expressões ou ações.
Compreensão Expressão
Compreende frases mais complexas Emite sons “k”, “b”, “m”, “t”, “d”, “n”,
como: “A menina vai comer um pão “nh”, “p”, g” e raramente “f”, “v”, “s”.
e beber um sumo”
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Quais os sinais de alerta que deves estar atento?
● Não usa palavras isoladas (média de 6);
● Não emite qualquer palavra percetível;
● Não faz várias tentativas para expressar o que quer;
● Não compreende nem obedece a pedidos simples;
● Não responde a perguntas;
● Não gosta de jogos sociais e rotinas sociais;
● Não se põe de pé, não anda.
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Compreensão Expressão
Escuta e memoriza histórias com Emite sons “p”, “b”, “m”, “t“, “d”, “n”,
imagens “nh”, “k“, “g”, “f”, “v”, “s“,
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03 | O meu filho não fala, e agora?
O teu filho já tem mais de 15 meses e ainda não diz nenhuma palavra?
Tem um palrar pouco diversificado? São, de facto, motivos para estares
alerta, mas não entres em desespero! Esta é a idade chave para perceber
o que o está a impedir de falar e intervir!
Quando te dizem que cada criança tem o seu tempo, é verdade! Mas…
não tem todo o tempo do mundo! Pensa que o desenvolvimento
da linguagem, é todo um contínuo. Não é apenas começar a falar.
A linguagem continuará a desenvolver-se ao longo da infância. Uma criança
que começa a falar mais tarde, aos seis anos, tem muitas probabilidades
de não estar ao mesmo nível das outras crianças. E, aos seis anos, já não
podemos dizer que cada criança tem o seu tempo! As aprendizagens
escolares são iguais para os que começaram a falar aos 12 meses e para
os que começaram a falar aos 36 meses. Assim, é essencial intervir o mais
precocemente possível. Lembra-te, a partir dos 15 meses não falar é motivo
de estares atento.
Por outro lado, podes achar que o teu bebé é só “preguiçoso”, será?
Será que ele controla as palavras e não fala, só porque não quer! A vida dele
não seria mais interessante se falasse? Se achas que, ele sente que não
precisa de falar, então dificulta-lhe a vida. Organiza o dia-a-dia dele, para
que ele sinta necessidade em falar. Ser preguiçoso e acomodado não
é justificação para um atraso na fala. Alguma coisa terá de mudar na vossa
rotina, para que ele sinta necessidade em falar. Falar é essencial, em todos
os contextos! Não falar, não pode ser uma opção.
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A fala está muito ligada à qualidade auditiva, por isso é importante
que o teu bebé seja avaliado em otorrinolaringologia. Deves descartar
a possibilidade de ele não estar a ouvir bem. Não ouvir bem, é diferente
de não ouvir! O teu bebé pode estar a ouvir, mas não exatamente com
a mesma qualidade que nós, os sons podem ficar distorcidos, podem haver
sons que ele não ouve. As alterações auditivas justificam, muitas vezes,
os atrasos na fala.
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Assim, nas consultas de terapia da fala, iremos olhar para o teu bebé
e tentar perceber se ele já tem estas competências: aponta para pedir, faz
atenção conjunta, compreende o que lhe dizes, vocaliza e como
é a mastigação dele. Estas 5 competências estão muito interligadas
e são pilares essenciais para a fala. Estas são as competências que devem
ser avaliadas para perceber o que está a limitar o surgimento da fala.
O teu bebé tem mais de 15 meses e ainda não fala? Não entres
em desespero, age! Quanto mais cedo agires, mais cedo surgirão
as primeiras palavras. Não estás sozinha! Estamos aqui para te ajudar
neste processo, para o facilitar, para te ouvir e compreender e sobretudo,
para ajudar o teu bebé.
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04 | As 5 melhores atividades para
potencializarmos a fala do teu filho
Estimular o teu filho não tem de ser uma dor de cabeça. Não precisas
de tirar um tempo específico para o fazer. As rotinas são ótimas para
o estimulares. O importante, não é apenas estimular, é saber exatamente
o que estimular. Uma atividade pode ter diferentes objetivos e deves ter
em mente o que queres para o teu filho. Por outro lado, não deves desistir
apenas porque não correu bem da primeira vez. Deves ser mais persistente,
deves pensar nas estratégias que utilizaste e o que podes modificar para
que ele colabore contigo. Além disso, não deves impor uma brincadeira,
deves sim ampliar as brincadeiras que o teu pequeno já faz. Terás mais
resultados, se olhares para o que ele gosta de brincar e a partir daí criares
novas oportunidades para estimular a interação, linguagem e fala.
Bolas de sabão:
As bolas de sabão são ótimas para trabalhar o contacto ocular.
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2. Esperas que o teu filho te peça. Podes validar diferentes formas de
pedidos: pegar na tua mão para a levar ao objeto, braço esticado
com a mão aberta, apontar com o dedo indicador. Em função
da forma como ele pedir, podes modelar a forma como ele pede,
aproximando do apontar com o dedo indicador.
3. Depois de soprares as bolas de sabão, podes ajudar o teu filho
a rebentá-as com o dedo indicador.
Livros:
Escolher um livro pode ser uma tarefa difícil. Mas… mais uma vez pensa
no desenvolvimento do teu filho!
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a imagem que estão a falar e os teus olhos. É muito importante, pois
estamos a falar de atenção conjunta que é uma competência
essencial para o desenvolvimento da linguagem.
Através dos livros, também, podes trabalhar o contacto ocular. Utiliza livros
com abas e poucas imagens por folha.
1. Cria um momento de suspense, através do tom de voz que utilizas.
2. Associa a abertura das abas sempre à mesma expressão, por
exemplo “cucu”.
3. Pergunta “E agora?” e aguarda em silêncio.
4. Muitas vezes a chave, é aguardar em silêncio. Se vires que o teu filho
desiste, volta a repetir de forma mais entusiasta.
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Masterchef:
A atividade Masterchef é pensada para envolveres o teu pequeno
na preparação das refeições. Podes eleger determinados momentos para
que o possas estimular, durante uma rotina diária. Existem diferentes formas
de o fazer e diferentes objetivos associados.
Outra atividade que podes fazer, é confeccionar um bolo. Nesta tarefa, podes
trabalhar a atenção conjunta do teu pequeno.
1. Coloca os ingredientes todos visíveis e de preferência pela ordem que
os vão adicionar;
2. No momento de pôr o primeiro, deita-o de forma a ser “engraçado”,
por exemplo, a uma distância maior do recipiente para que cause um
efeito visual. Durante esse momento, podes usar expressões como
“uauuu”. Espera que o teu filho olhe para ti depois de olhar para
o ingrediente.
3. Podes não deitar tudo de uma vez, assim, ele terá a necessidade de
olhar para ti.
4. Repete o procedimento em todos os ingredientes.
5. No momento de mexer, podes usar a mesma estratégia. Associa um
movimento exagerado e um som. Vai parando e mexendo de novo,
em função do teu filho intercalar o olhar entre ti e a massa do bolo.
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Quando fizeres a sopa podes estimular a capacidade de imitação do teu
pequeno.
1. Dá-lhe uma panela e uma faca (das que não cortam
verdadeiramente);
2. Tu ficas exatamente uns utensílios iguais;
3. Coloca à disposição dos legumes que irão utilizar na sopa;
4. Começa por escolher um legume, e descasca-o.
5. Não dês a ordem do teu filho fazer igual. Espera que ele tome essa
iniciativa.
6. Se ele não o fizer, ajuda-o. E diz-lhe “agora é a tua vez. Vamos
descascar a tua batata” (por exemplo).
7. Na vez seguinte, volta a repetir os passos anteriores. Tentando sempre
que ele te imite.
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Caixa Surpresa:
As caixas surpresas costumam suscitar o interesse dos mais
pequenos. Coloca numa caixa objetos e brinquedos que o teu filho goste,
não precisam de ser muitos (entre 5 a 10). Embrulha a caixa e deixa-a visível,
mas não acessível.
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Ainda, podes trabalhar a tomada de vez:
1. Retiras um objeto;
2. Dizes ao teu filho que é a vez dele e esperas;
3. Depois indicas ou questionas “quem é?”, para assumires tu a retirada
do próximo;
4. Se o teu filho tentar ocupar a tua vez, toca-lhe no peito para lhe
indicar que deve esperar. A velocidade com que tu ocupas a tua vez,
tens de gerir de acordo com a aceitação dele em seres tu a participar.
Festa de aniversário:
A maioria das crianças gosta de cantar os parabéns e do momento
soprar as velas. A forma como participa, depende do seu nível de
desenvolvimento. É uma atividade que eles costumam participar com
bastante envolvimento.
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Outra competência é o contacto ocular:
1. Utiliza o momento de cantar os parabéns para estabelecer o contacto
ocular;
2. Sempre que o teu filho deixar de estabelecer contacto ocular, pára
de cantar e espera que ele volte a olhar;
3. Se ele parecer que perde o interesse, recomeça a cantar para chamar
a sua atenção;
4. Podes utilizar a mesma estratégia, para apagar as velas, no momento
de soprar, cria a expectativa.
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05 | Histórias de sucesso
A história do João:
O João (nome fictício), tinha 2 anos e 3 meses. Era o primeiro filho.
A mãe é professora primária e o pai é assistente social. Frequentava a
creche desde os 6 meses.
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Precisamos de nos sentar várias vezes, para traçar a meta, e para
descansar o coração deles, que antes de falar havia outras competências.
Depois de algum tempo, começou a fazer sentido para a família. Um dos
pais sempre esteve presente nas consultas e por vezes, apenas fazia
consultas com os pais para ajustarmos estratégias.
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Com todo o trabalho de base que desenvolvemos, surgiram as
primeiras palavras. Não foi no final da primeira semana. Mas, no somatório
de todas as competências desenvolvidas, a fala surgiu. A partir daí,
continuamos a trabalhar para chegar às frases, ao diálogo, ao recontar…
a todas as funções comunicativas em que podemos utilizar a fala.
A História da Matilde:
A Matilde tinha 3 anos quando a mãe marcou a consulta de terapia
da fala. A Matilde é a segunda filha e, por isso, a mãe sabia que alguma
coisa não estava bem. O pediatra dizia-lhe para não se preocupar, que cada
criança tinha o seu tempo. Os familiares diziam-lhe que ela era preguiçosa,
mas o coração de mãe dizia-lhe que não podia esperar mais, que a Matilde
precisava de ajuda.
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A primeira etapa foi desmistificar estes rótulos que a Matilde tinha
“preguiçosa”, “mau feitio” e “difícil”. Pode parecer muito simples, mas aceitar
que uma criança apenas não está a fazer diferença porque não é capaz,
é um longo processo que as famílias têm de ultrapassar. Este é o primeiro
passo, para que todos estejam verdadeiramente envolvidos para ajudar
a criança. Começamos por identificar todas as tarefas que a Matilde fazia
com sucesso; quais eram as suas áreas fortes. Isso ajudou-nos
a desconstruir e a começar a trabalhar o que a Matilde precisava.
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Com o tempo, começamos a introduzir as sílabas. Necessitamos de
pistas visuais, como o movimento da mão para ajudar a Matilde a perceber
como tinha de colocar a boca para produzir as sílabas. Em paralelo, sempre
trabalhamos para diversificar as brincadeiras dela, para estimular outras
formas de brincar a partir do que ela gostava.
Hoje, a Matilde tem 6 anos e vai entrar na escola primária, no próximo
ano letivo. Ela é uma tagarela, ainda precisa de aprender dois ou três sons,
mas participa em várias atividades com agrado e já propõe fazer tarefas
diferentes. A Matilde agora ARGUMENTA, não ficou sem o rótulo de “mau
feitio”, porque ela agora diz o que pensa e os motivos dela. Ela é muito
comunicativa e nunca está calada.
A História da Leonor:
A Leonor tinha 2 anos e 9 meses, quando a mãe agendou consulta.
A Leonor tem dois irmãos mais velhos. Viveu os primeiros 2 anos de vida, com
as restrições do COVID. Havia queixas da creche que referiam que ela não
falava. Em casa, ele falava imensas palavras. Os pais, por um lado, estavam
ansiosos. Por outro lado, pensavam que seria uma questão de tempo até
que ela começasse a falar na escola.
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- O contacto ocular era pobre;
- A atenção conjunta não existia;
- Era rígida na forma como brincava;
- Usava a fala quando ela queria, e numa perspetiva muito centrada
nela própria.
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Hoje, a Leonor tem 5 anos e utiliza a fala de forma funcional. Ainda não
constrói frases de forma fluída, mas é capaz de nos responder, é capaz
de nos questionar. A fala, por repetição e centrada nela própria, diminuiu
drasticamente. A rigidez em tudo, diminuiu e consegue aceitar melhor todas
as propostas que lhe fazemos.
Tu também podes ter uma história feliz para contar sobre o teu filho!
Não precisas de te sentir desamparada no processo. Não precisas de achar
que estás sozinha e todos relativizam as tuas preocupações. Rodeia-te das
pessoas certas e aprende a interagir com o teu filho. Por mais difícil que
possa parecer, há sempre um caminho para chegarmos ao teu filho. Há
sempre uma forma de começar a interação, para chegarmos à fala.
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