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Interface entre Afasia, Disartria e Apraxia de fala

2021
Sumário
• Inter-relação funções cognitivas e linguagem
• Caracterização, semiologia e taxonomia
• Avaliação e diagnóstico das afasias, disartria e
apraxia
• Diagnóstico diferencial: Afasia, Disartria e
Apraxia de fala
Causas das alterações de
linguagem e fala adquiridas
• AVC
• TCE
• Tumores
• Doenças infecciosas
• Doenças degenerativas (demências, p ex)
Introdução
• COGNIÇÃO: processamento que permite a
adequação das nossas respostas comportamentais
de acordo com o contexto, experiência prévia,
necessidades do momento e as consequências de
adotar um comportamento específico

• Processo da aquisição de conhecimento

• Diferentes funções cognitivas têm áreas de


processamento específicas, mas atuam em conjunto
Introdução
• Áreas especializadas, mas conectadas
Funções cognitivas

• Atenção
• Memória
• Linguagem
• Percepção / Gnosias
• Praxias
• Funções Executivas

http://www.revistadigital.com.br/2015/03/como-a-neurociencia-pode-contribuir-para-a-educacao/

• Humor e comportamento
Taxonomia da memória

(Squire et al., 1991, 1998; Baddeley, 2002


Funções cognitivas alteradas
• Atenção Desatenção
• Memória Amnésia
• Linguagem Afasia
• Percepção / Gnosias Agnosias
• Praxias Apraxias
• Funções Executivas Disexecução
categorização, flexibilidade cognitiva, controle
inibitório, planejamento e solução de problemas,
tomada de decisões, julgamento, organização,
capacidade de raciocínio

• Humor e comportamento Apatia, agressividade,


agitação....
LINGUAGEM
Habilidade que diferencia os seres humanos dos
demais seres vivos.
• Assimétrico
• 95% dos destros e 70% dos canhotos tem dominância no
hemisfério esquerdo
• Em sua organização há distribuição de etapas de
processamento em áreas específicas
• H.D. complementa H.E

https://vanzolini.org.br/weblog/2015/04/10/comunicacao-em-projetos-competencia-mais-que-conhecimento/
LINGUAGEM - Asha

“Complexo e dinâmico sistema de símbolos


convencionais que é utilizado de vários
modos para o pensamento e a
comunicação....

... é um comportamento governado por


regras, descrito por pelo menos cinco
parâmetros (fonológico, morfológico,
sintático, semântico e pragmático)”
LINGUAGEM

Fonológico

Pragmática Morfológico

Semântico Sintático
COMPREENSÃO AUDITIVA
• Compreensão de palavras:

• Análise fonológica
• identificação dos sons da fala

• Análise lexical
• identificação de palavras familiares

• Análise semântica
• ativa o significado das palavras
COMPREENSÃO AUDITIVA

• Compreensão de sentenças, discursos e


textos envolve:
– Atenção
– Memória de curto e longo prazo
– Domínio das regras gramaticais
– Conhecimento prévio de mundo
– Capacidade de realizar inferências
– Prosódia
– Contexto
Exemplificação: dificuldade de
compreensão oral

• dificuldade de atenção?
compreensão auditiva
• dificuldade de memória de alterada
trabalho?
+
• dificuldade na identificação
compreensão escrita
dos sons da fala?
preservada
• dificuldade no acesso
lexical?
• alteração no sistema
semântico? sistema semântico
preservado
PRODUÇÃO DA LINGUAGEM ORAL
• Produção de palavras:

• Análise semântica
• Parte do conceito

• Análise lexical
• Nome atribuído ao conceito

• Análise fonológica
• Sons que formam a palavra
MODELO DE NOMEAÇÃO
(Ellis e Franklin, 1998)

Representação Sistema semântico


visual/auditiva/tátil

Léxico de output de fala


Input (forma da palavra falada)
visual/auditivo/tátil

Nível do fonema
(memória operacional)

Aquilo que os Palavra falada/ onda


jogadores correm atrás sonora
no jogo de futebol
Léxico Semântico

Vocabulário Significado

Ex: músculo
deltóide
PRODUÇÃO DA LINGUAGEM ORAL

• Produção de sentenças:
– Construção da estrutura sintática
– Produção dos papéis temáticos

Mansur e Radanovic (2004)


Repetição
PROCESSAMENTO DA PALAVRA
FALADA
compreensão produção
entrada gestos
auditiva articulatórios

processamento planejamento
acústico fonético articulatório

fonemas características
sílabas fonéticas

planejamento da
acesso lexical
saída fonológica
auditivo

formas fonológicas formas fonológicas


das palavras das palavras
significado
das palavras Mansur e
acesso léxico- acesso léxico-
semântico semântico Radanovic (2004)
CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO ORAL

- Fluente X não fluente

- Tipos de palavras:
- Regulares - VILA
- Irregulares – FIXO ou FIQUISO?
- Não palavras/ logatomos - NIGLANTA
PROCESSAMENTO DE LEITURA

Palavra escrita
(entrada visual)

Reconhecimento Análise lexical


de letras

Conversão Análise
grafema-fonema semântica

leitura de não palavras e leitura de palavras


regulares irregulares
Ellis e Young (1988)
PROCESSAMENTO DE ESCRITA

Léxico de entrada Sistema


Palavra ouvida semântico
auditiva

Léxico de saída Léxico de saída


Via da fala grafêmico
perilexical

Conversão
Fonemas
grafema-fonema

Movimentos
manuais
Palavra Grafema
escrita

Ellis e Young (1988)


AFASIAS PÓS AVC
AFASIA

“Distúrbio adquirido da linguagem que se


encontrava plenamente desenvolvida e
intacta no indivíduo, decorrente de uma
lesão cerebral focal.”
(Mansur e Radanovic, 2004)
AVALIAÇÃO
• Anamnese:
– Queixa
– Duração e evolução
– História pregressa da queixa
• história médica/ clínica (medicações)
• investigação das manifestações fonoaudiológicas: fala,
degl, audição, memória
– Ambiente familiar
– Atividades
– Exames complementares
AVALIAÇÃO FUNCIONAL
Habilidades pragmáticas

Inicia tópico na comunicação?

Respeita troca de turno comunicativo?

Mantém o tópico na comunicação?

Utiliza gestos indicativos, representativos


AVALIAÇÃO FORMAL
• Fala espontânea: dirigida, não dirigida
• Compreensão oral e escrita: estímulos por entrada
auditiva e visual (fonema, grafema, palavra, frase,
texto)
• Repetição: fonema, palavra e frase
• Leitura oral: grafema, palavra, frase, texto
• Nomeação: confrontação visual e nomeação
responsiva
• Escrita: cópia, ditado e expressão escrita
AVALIAÇÃO FORMAL
pragmática
• Fala espontânea: funcional
• Compreensão oral e escrita: estímulos por entrada
auditiva e visual (fonema, grafema, palavra, frase,
semântica
texto)
• Repetição: fonema, palavra e frase fonológico
• Leitura oral: grafema, palavra, frase, texto
• Nomeação: confrontação visual e nomeação
responsiva morfológico

• Escrita: cópia, ditado e expressão escrita


sintático
AVALIAÇÃO
AVALIAÇÃO FORMAL
• Testes padronizados e normatizados:
– “entrada auditiva”
– “entrada visual”
– diferentes categorias semânticas
– crescente complexidade dos estímulos
– expressão: automática e voluntária

“Aquilo que os jogadores chutam


no jogo de futebol”
Teste de Boston para o
diagnóstico das afasias
(Goodglas e Kaplan, 1983 e 2001)

• Teste de Boston para diagnóstico das afasias (Goodglas e Kaplan, 2001)


Radanovic, M., Mansur, L.L. e Scaff, M. Normative data for the Brazilian population in the Boston
Diagnostic Aphasia Examination: influence of schooling. Braz J Med Biol Res;v.37, n.11, p. 1731-8, 2004.

- Teste de Nomeação de Boston


Mansur, L et al. Teste de nomeação de Boston: desempenho de uma população de São Paulo.
Pró-Fono, v.18, n.1, 2006.
AVALIAÇÃO

- Bateria Montreal para Avaliação da


Comunicação – MAC (Fonseca et al., 2008)

hemisfério direito
AVALIAÇÃO

- Bateria Montreal Toulouse de Avaliação da


Linguagem (Parente et al., 2016)
AVALIAÇÃO
• Teste Rio de Janeiro (Jakubovicz, 2005)
AVALIAÇÃO
• Token test: compreensão oral. Diferencia
alterações de memória de curta duração de
déficit de compreensão (De Renzi e Vignolo, 1962)
FLUÊNCIA VERBAL POR CATEGORIA
SEMÂNTICA
TESTE DE FLUÊNCIA VERBAL
CATEGÓRICA – animais

Pontuação:

Considerar “boi e vaca” como dois animais, mas “gato


e gata” como um só.
A classe (peixe, passarinho, inseto, etc) vale como 1
ponto se não houver outros nomes da mesma classe
(peixe, baleia, tubarão, sardinha).
FLUÊNCIA VERBAL POR CATEGORIA
FONÊMICA

• A pontuação final para cada letra é o resultado da soma do


número de palavras citadas pelo sujeito, com exceção de
nomes próprios e palavras derivadas. Resultado final = a soma
dos subtotais das três letras
Mini Exame do Estado Mental
(Minimental)
• TRIAGEM cognitiva!!!!

Trb pharma
Minimental

• escore total depende do nível educacional


• Pontos de corte:
- 20 para analfabetos
- 25 de 1 a 4 anos de escolaridade
- 26,5 de 5 a 8 anos de escolaridade
- 28 de 9 a 11 anos de escolaridade
- 29 escolaridade acima de 9 anos
IMPORTANTE

• Identificação precoce da alteração de


linguagem, diagnóstico e tratamento são
passos importantes para maximizar os ganhos
da reabilitação

Ferramentas com alta


sensibilidade, especificidade e
adequadas ao contexto
AVALIAÇÃO
• Testes padronizados para avaliação da afasia são
inadequados para uso em AVE agudo (são longos).
Da mesma forma, escalas globais de AVE não
detectam com segurança a afasia

• Embora testes de triagem não forneçam descrições


detalhadas dos déficits específicos de linguagem ou
não permitam um diagnóstico diferencial,
representam um meio rápido e eficiente para
determinar a presença ou ausência de déficits de
linguagem
• Screening proposto para ser utilizado em salas de
emergência
• Tem duas versões equivalentes para evitar problemas
no reteste
• Aplicada em 300 pctes 24h pós AVE + 104 pctes
crônicos que também responderam ao Teste de
Boston
• Sensibilidade de 98% e especificidade de 100%
• 5 subtestes com 15 itens
• Expressão (8 itens):
• Nomeação (5 figuras PB)
• Repetição (1 palavra longa e 1 frase simples)
• Automatismo (1 ponto)
• Compreensão (7 itens):
• Reconhecimento (4 figuras entre 4 distratores)
• Ordens (3)

• Tempo médio de aplicação: 2 minutos


• Não precisa ser aplicado por um fonoaudiólogo
AVALIAÇÃO

• Critérios quantitativos são insuficientes para


qualquer interpretação sobre a linguagem e
a comunicação

• Critérios qualitativos, considerados


isoladamente, não satisfazem a necessidade
de se verificar intensidades de alterações de
linguagem ou para medir a eficácia de
intervenções
AVALIAÇÃO

Avaliação Avaliação
quantitativa qualitativa

Avaliação ideal
DISLEXIA / DISGRAFIA

via fonológica via lexical

leitura de não palavras e leitura de palavras


regulares irregulares
SEMIOLOGIA

• Fala espontânea (fluência)


• Compreensão da linguagem falada
• Repetição de frases
• Nomeação
CLASSIFICAÇÃO
• Descrição sindrômica x lesão anatômica
• Lesões anteriores à fissura Sylviana / Afasias não-
fluentes / Afasia de expressão
• Lesões posteriores à fissura Sylviana / Afasias fluentes
/ Afasia de compreensão
CLASSIFICAÇÃO
Lesões anteriores -Afasia de Broca
-Afasia Transcortical Motora

Lesões posteriores -Afasia de Wernicke


-Afasia Transcortical Sensorial
-Afasia de Condução

Lesões combinadas -Afasia Global


-Afasia Transcortical Mista
-Afasia Anômica
TAXONOMIA
Broca Transcortical Motora

Fluência não não

Compreensão varia em fç do satisfatória


agramatismo

Repetição ruim sim

Nomeação ruim prejudicada

Característica típica agramatismo ecolalia e simplificação


gramatical

Mansur e Radanovic (2004)


TAXONOMIA

Wernicke Transcortical Condução


Sensorial

Fluência sim sim sim

Compreensão não não sim

Repetição ruim boa ruim

Nomeação ruim ruim ruim

Característica jargão parafasias parafasias


típica semânticas fonêmicas

Mansur e Radanovic (2004)


TAXONOMIA
Global Transcortical Anômica
Mista

Fluência não não sim

Compreensão ruim ruim satisfatória

Repetição não sim sim

Nomeação não não não

Característica típica estereotipia ecolalia circunlóquios

Mansur e Radanovic (2004)


AFASIA
SUBCORTICAL
AFASIA SUBCORTICAL

• Afasia talâmica: Melhor


– Anomia prognóstico
– Alteração de repetição
– Alteração de compreensão
– Redução da fluência
– Parafasia semântica
– Perseveração e ecolalia

• Afasia não talâmica:


– Alterações motoras-articulatórias
– Dificuldades lexicais
LESÃO EM HEMISFÉRIO DIREITO

• Afasia

• Alterações da comunicação (gestos, linguagem


corporal, expressão facial, prosódia..)

• Principais funções: atenção e habilidades


visuo-espaciais
Afasia cruzada
AFASIAS PROGRESSIVAS
PRIMÁRIAS
DEMÊNCIAS
• Síndrome

• Critério diagnóstico: déficit cognitivo (não necessariamente


memória) com prejuízo funcional
DEMÊNCIAS
• Causas
– doenças degenerativas primárias do SNC (demências corticais)
– Doença de Alzheimer (DA): causa mais frequente
– Demência Fronto-Temporal
– doenças vasculares: segunda maior causa
– potencialmente reversíveis (10%): alterações metabólicas, doenças
infecciosas

• Todas são progressivas?


SÍNDROME DA AFASIA
PROGRESSIVA PRIMÁRIA
• Dificuldade adquirida para lembrar ou
compreender palavras ou para construir
sentenças AFASIA
• A causa é uma doença neurodegenerativa
PROGRESSIVA
• O distúrbio de linguagem surge inicialmente
como o principal déficit PRIMÁRIA
Afasia Progressiva Primária

• Tipo de demência degenerativa, com atrofia cortical


proeminente em áreas relacionadas à linguagem. Os sintomas
iniciam com prejuízo linguístico e são as principais causas de
alteração nas AVDs (Mesulan, 2001 e 2003)
• Embora a perda progressiva de habilidades linguísticas isoladas
seja a principal causa das restrições na vida cotidiana e
continue sendo o aspecto predominante no quadro clínico da
APP, isso não significa que todos os outros domínios cognitivos
estejam intactos
• Preservação da funcionalidade e independência por um longo
período
• Prevalência estimada: cerca de três casos por 100.000 (Coyle-
Gilchrist et al., 2016)
Critérios básicos para diagnóstico clínico
de APP (Mesulan, 2001 e 2003)
• 1º: a característica clínica mais proeminente
(nos estágios iniciais da doença) deve ser a
dificuldade de comunicação; sintomas não
devem ser atribuídos a outros transtornos
neurológicos, psiquiátricos ou médicos; sem
alteração comportamental

• 2º: classificação do subtipo (variantes)


Subtipos de APP
• Variante não fluente/agramática
• Variante semântica
• Variante logopênica
Atenção
Afasia de origem vascular APP
• Início abrupto • Início insidioso
• Melhora com o tempo • Piora com o tempo
DISARTRIA E APRAXIA DE FALA
Fala
• Viabiliza a expressão da linguagem, mediada pelo
código/língua, nas trocas comunicativas

• Ato motor resultante dos movimentos da musculatura de


lábios, língua, bochechas, palato mole, mandíbula e de partes
fixas como os dentes e palato duro. Estas estruturas são
responsáveis pela articulação do som que vem das pregas
vocais (voz), formando os fonemas, as palavras, as frases

• Comportamento complexo cuja produção requer a contração


coordenada de músculos (SNC e SNP)
Linguagem X Fala
• Fala: inicia após processamento linguístico

• Processamento fonológico X planejamento e


programação motora
– Análise do tipo de erro para esta distinção

• Processamento linguístico: buffer fonológico


de saída ativa engrama de planejamento
motor
Processamento de fala
• Integração sensório-motora no controle motor:
análise do gesto enquanto está sendo feito
(monitoramento – mesmo antes do erro),
permitindo o ajuste

– Propriocepção (base de muitos processos


terapêuticos)
– Tátil
– Auditivo
Modelo de produção da fala
• Até recentemente o mais utilizado era de 3 níveis
(alto, médio e baixo) :
– Planejamento motor
– Programação motora
– Execução motora
• Para tentar explicar prejuízos na produção da fala,
avanços em modelos teóricos de controle sensório-
motor da fala foram realizados
• Comunicação oral implica também no planejamento
linguístico, antes da fase motora levou ao modelo
de 4 níveis (Van der Merwe 1997; 2007)
Modelo de 4 níveis
(Van der Merwe 1997; 2007)

• Etapa linguística
• Etapa de planejamento motor
• Etapa de programação motora
• Etapa de execução motora
Modelo de 4 níveis
(Van der Merwe 1997; 2007)

• Etapa linguística: planejamento linguístico-simbólico


• Etapa de planejamento sensório-motor: memória do
plano motor. Ativa o engrama motor de cada fonema
e a co-articulação. Atribuída aos casos graves
• Etapa de programação motora: ajustes durante a
ação motora (tônus, velocidade, direção e alcance de
movimento), por isso relacionada a pacientes que
falam, erram e tentam corrigir
• Etapa de execução motora: ação do nervo no
músculo
Modelo de 4 níveis
(Van der Merwe 1997; 2007)

• Uma mesma estrutura anatômica participa de


diferentes etapas do processamento

• AFASIA: relacionada à etapa linguística

• APRAXIA: relacionado ao planejamento


(principalmente) e programação motora

• DISARTRIA: relacionada a programação e


execução motora ou só execução motora
Sistema nervoso central e
periférico
• Cérebro
• Cerebelo
• Tronco encefálico
– mesencéfalo
– ponte
– bulbo - decussação das pirâmides)
• Cerebelo
• Núcleos da base
• Vias motoras descendentes
– neurônio motor superior (piramidal e extrapiramidal)
– neurônio motor inferior (nervo craniano)
• Junção neuromuscular / placa motora
Lesões em

• Neurônios motores • Neurônios motores


superiores: inferiores:
– Paralisia espástica ou – Alteração no controle
paresia dos músculos voluntário dos
envolvidos músculos envolvidos
– Pouca (ou nenhuma) – Hipotonia
atrofia muscular – Fraqueza muscular
– Reflexos de – Perda ou redução de
reflexos musculares
estiramento de
músculos – Atrofia dos músculos
– Fasciculações
– Reflexos patológicos
Ato motor

- Área pré-frontal: planejamento


da ação
- Área pré-motora: elaboração da
sequência de movimentos
- Córtex motor primário: inicia o
movimento

tronco e medula
Controle neuromuscular da fala

• Planejamento do ato motor (pré-frontal)


• Programação do ato motor – sequência de
movimentos (pré-motora)
• Força muscular e tônus vias motoras descendentes
• Velocidade do movimento núcleos da base
cerebelo
• Alcance do movimento
• Precisão do movimento
• Estabilidade motora

• Integração sensório-motora: ajuste do movimento


durante a realização do mesmo
DISARTRIA
DISARTROFONIA
Disartria
• Lesão: no córtex até na junção neuromuscular

• Fatores etiológicos: TCE, lesões vasculares,


Miastenia Grave, ELA, Doença de Parkinson,
Síndrome de Guillain-Barré.....
Disartria
(Darley, 1978)

• Alterações que resultam de transtornos do


controle muscular

• Como há uma lesão do SNC ou SNP, há


um certo grau de debilidade, lentidão,
incoordenação ou alteração de tônus
muscular, podendo prejudicar a
respiração, fonação, articulação,
ressonância e prosódia
Modelo de processamento de fala
• A classificação tradicional da disartria como
uma desordem de execução motora precisa
ser revista quando considerada dentro do
contexto do modelo de Van der Merwe (1997;
2007)
Modelo de processamento de fala
• Classificação tradicional da disartria:
desordem de execução motora
• Estruturas neurais como os núcleos da base
(relacionados à disartria hipocinética e
hipercinética) e o cerebelo lateral (disartria
atáxica), estão envolvidos tanto na
programação quanto na execução motora
• Áreas do cerebelo (que não lateral), assim
como o neurônio motor inferior, estão
envolvidos na execução motora
Modelo de 4 níveis
(Van der Merwe 1997; 2007)

• Etapa linguística: planejamento linguístico-simbólico


• Etapa de planejamento sensório-motor: memória do
plano motor. Ativa o engrama motor de cada fonema
e a co-articulação. Atribuída aos casos graves
• Etapa de programação motora: ajustes durante a
ação motora (tônus, velocidade, direção e alcance de
movimento), por isso relacionada a pacientes que
falam, erram e tentam corrigir
• Etapa de execução motora: ação do nervo no
músculo
AVALIAÇÃO
• Avaliação estrutural: isolada
– Postura e simetria
– Musculatura orofacial

• Avaliação funcional: contextualizada/


funcional
– Integração dos sistemas
respiração fonação articulação

ressonância prosódia
ANÁLISE PERCEPTIVA DA FALA (Murdoch,
2005)

• Respiração:
– Suporte respiratório para a fala
– CPFA
– Loudness
– Estruturação de frases e padrão respiratório
ANÁLISE PERCEPTIVA DA FALA (Murdoch,
2005)

• Fonação:
– Qualidade vocal (aspereza, tensa, estrangulada,
soprosidade, rouquidão...)
– Pitch
– Loudness
ANÁLISE PERCEPTIVA DA FALA (Murdoch,
2005)

• Ressonância:
– Hipernasalidade
– Hiponasalidade

• Articulação:
– Precisão consonantal/ inteligibilidade de fala
– Extensão do fonema
– Precisão de vogais
– Interrupção articulatória irregular
– Velocidade
ANÁLISE PERCEPTIVA DA FALA (Murdoch,
2005)

• Prosódia:
– Pitch
– Loudness
– Intervalos prolongados
– Velocidade
– Padrão geral de ênfase
– Comprimento frasal
ANÁLISE ACÚSTICA

• Determina alterações no sinal da fala

• Permite relação entre os componentes


perceptivos, acústicos e fisiológicos

• Procedimento: capturar o sinal de fala para


análise posterior

sistemas de computador e programas


ANÁLISE ACÚSTICA
• Parâmetros acústicos:
– medições de Fo
– de amplitude
– ruído
– acústicas temporais
– da capacidade articulatória
– análise dos formantes
– modo de vocalização
Tipos de disartria
Tipos Local da lesão
Disartria espástica Neurônios motores superiores

Disartria flácida Neurônios motores inferiores

Disartria hipocinética Núcleos da base e núcleos do


tronco encefálico
Disartria hipercinética Núcleos da base e núcleos do
tronco encefálico
Disartria atáxica Cerebelo e/ou conexões

Disartria mista: Neurônios motores sup e inf


-flácida-espástica Cerebelo, neurônios motores
-flácida-espástica-atáxica sup e inf
Tipos de disartria

• Cada uma delas tem um componente maior, que se destaca,


diferenciando uma da outra

• O importante não é diagnosticar um quadro disártrico e sim


saber qual dos componentes da fala está mais prejudicado

elemento que vai conduzir a terapia

• Os componentes juntos darão o grau de inteligibilidade de


fala
DISARTRIA ESPÁSTICA
• Características predominantes:
– Consoantes imprecisas Alteração em todos os
– Monopitch aspectos da fala:
– Ênfase reduzida respiração, fonação,
– Qualidade vocal áspera ressonância,
– Monoloudness articulação e prosódia
– Pitch grave
– Velocidade reduzida
– Hipernasalidade
– Qualidade vocal tensa-estrangulada
– Frases curtas
– Vogais distorcidas
– Quebras de frequência fundamental
– Voz com soprosidade contínua
Darley, Aronson e Brown (1969)
DISARTRIA FLÁCIDA

• Características predominantes:
– vedamento labial deficiente
– anormalidade labial em repouso
– anormalidade na distensão labial
– salivação
– elevação reduzida da língua
– anormalidade lingual em repouso
– alternância deficiente dos movimentos da língua
– tempo de fonação reduzido
– inteligibilidade deficiente

Enderby (1986)
DISARTRIA ATÁXICA

• Características predominantes:
– Imprecisão articulatória: nas consoantes,
desarranjos articulatórios irregulares e vogais
distorcidas

– Excesso prosódico: excesso de entonação, fonemas


prolongados, intervalos prolongados e velocidade
lenta

– Insuficiência fonatória-prosódica: aspereza,


monopitch e monoloudness
Brown, Darley e Aronson (1970)
DISARTROFONIA HIPOCINÉTICA
Características: Características:
• QV rouca-soprosa, • Articulação reduzida e imprecisa
discretamente tensa • Repetição de fonemas ou de
• Instabilidade fonatória sons -palilalia
• Intensidade reduzida • Imprecisão articulatória /
• Monointensidade e Redução de inteligibilidade
monoaltura • Fraqueza no controle muscular,
• Velocidade irregular (trechos rigidez
acelerados): aumento • ICPFA
progressivo de velocidade e
• Diminuição no uso da entonação
redução de intensidade e ênfase
• Festinação na fala
• Redução no tempo de fonação
PINTO et al., 2004; ROSEN et al., 2006; VIALLET e TESTON, 2007; DUEZ, 2007; RAMIG, FOX e SAPIR, 2008; SKODDA, RINSCHE e
SCHLEGEL, 2009; MARTNEZ-SÁNCHEZ, 2010; PINTO et al., 2010
DISARTROFONIA HIPERCINÉTICA

• Características predominantes:
– Imprecisão articulatória
– ICPFA
– Excesso prosódico: excesso de
entonação, repetição de sons, intervalos
prolongados e oscilação da velocidade
DISARTRIA MISTA

• Combinação de 2 ou mais tipos de disartria


• Duffy (1995) estudou 300 casos:
– 1/3 disartria mista
– Mais comuns:
• espástica-flácida
• espástica-atáxica
• espástica-hipocinética
• espástica-flácida-atáxica
• hipocinética-hipercinética
DISARTRIA MISTA

• Disartria na ELA (desordem nos neurônios


motor superior e inferior): pode inicialmente
apresentar-se como flácida ou espástica,
tendo predominância de um ou outro tipo
com a evolução da doença
APRAXIA DE FALA
APRAXIA
• Lesão nas vias e áreas de planejamento/ associação
motora (córtex pré-motor e área motora suplementar)

• Consideram-se também (não consensual): junção


temporoparietal, ínsula E e áreas subcorticais
APRAXIA - tipos
• Apraxia motora
• Apraxia ideomotora (apraxia de fala, apraxia
não verbal / orofacial p ex)
• Apraxia ideatória
APRAXIA
• Estáveis ou progressivas
APRAXIA DE FALA
(Darley, 1969; Wertz, LaPointe, Rosenbek, 1991)

• Desordem articulatória resultante de


prejuízo da capacidade de programar a
posição da musculatura da fala e sequen-
cialização dos movimentos musculares na
produção voluntária dos fonemas, devido
a lesão cerebral
APRAXIA DE FALA
(Duffy, 2005, McNeil et al., 2009)

• Distúrbio do planejamento motor da fala


que afeta a produção de fala
CARACTERÍSTICAS
(Darley, 1969; Wertz, LaPointe, Rosenbek, 1991)

• Erros fonêmicos: omissões, substituições,


distorções, adições, repetições...

• Erros são, aparentemente, aproximações da


produção alvo

• Inconsistência de erros

• Erros aumentam de acordo com a complexidade e


extensão da produção
CARACTERÍSTICAS
(Darley, 1969; Wertz, LaPointe, Rosenbek, 1991)

• Dissociação automático X voluntário

• Consciência dos erros

• Posição do som na palavra

• Frequência de ocorrência na linguagem

• Maior facilidade em palavras com significado


CARACTERÍSTICAS
(Darley, 1969; Wertz, LaPointe, Rosenbek, 1991)

• Disprosódia

• Fala: melhor com estímulo áudio-visual, do que com


um dos dois isolados

• A precisão é melhor na repetição que na fala


espontânea

• Tentativas repetidas de produzir um som

• Alguns pacientes melhoram na segunda tentativa


consecutiva
Linguagem X Fala
• Erros atribuídos tanto à habilidade fonológica
quanto ao plano motor:
– Substituição, omissão e adição
– Disprosódia
– Inconsistência de erros
Linguagem X Fala
• Erros atribuídos à habilidade FONOLÓGICA:
- Antecipação: acontece antes do ajuste motor. Troca
por fonema previsto naquela emissão
Ex: sapato -> tapato
- Reiteração: repete fonema anterior
Ex: sapato -> sapaso
- Metatese/ transposição: sons invertidos
Ex: sapato -> pasato
Linguagem X Fala
• Erros atribuídos ao plano MOTOR:
– prolongamento de vogais e consoantes
– duração de sílabas
– alterações de velocidade em geral (fonema
correto, mas a produção está prejudicada)
– Possibilidade de chegar mais rápido ao alvo
– Dificuldade para iniciar a fala
AVALIAÇÃO

• Fala funcional

• Produção de sons isolados e cadenciados (diadococinesia)

• Repetição de palavras com variação de frequência e extensão

• Repetição da mesma palavra em sequência

• Repetição de frases com variação de extensão

• Repetição de não palavras

• Automatismos

• Descrição de figuras
Diagnóstico diferencial
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Linguagem X Fala

súbito insidioso programação/ planejamento/


execução programação

desempenho comprometimento respiraç, fonaç, inconsistência


varia de de linguagem ress, articulaç e de erros; melhor
acordo com a isolado por pelo prosódia são desempenho
prova menos 2 anos independentes em
da prova automatismos

Afasia APP Disartria Apraxia de fala


Diagnóstico diferencial (Murdoch, 1997)
• Entre apraxia de fala, afasia e disartria é basicamente:

1 - Um conceito de produção da fala tem que ser formado e formulado


simbolicamente por expressões como a fala - rompimento a esse nível é
associado à afasia

2 - O conceito de produção da fala simbolicamente formado tem que ser


externalizado como a fala através das concorrentes funções motoras da
respiração, fonação, ressonância, articulação e prosódia - rompimento a esse
nível é associado à disartria

3 - Anterior à externalização, como a fala, um programa tem que ser


desenvolvido e determinar a sequência das contrações musculares requerida
para produzir som individual e palavras que incluam a produção da fala
intencionada - rompimento a esse nível leva à apraxia de fala
Diagnóstico diferencial

AFASIA DISARTRIA APRAXIA

Compreensão + - + +
oral
Repetição + - mesmas características das +
demais produções verbais
Nomeação + - mesmas características das -
demais produções verbais
Automatismo + - mesmas características das +
demais produções verbais
Conversa + - mesmas características das -
espontânea demais produções verbais
Diagnóstico diferencial
Disartria Apraxia de fala
• Alteração na • Alteração na
execução motora programação motora
• Distorções • Substituições,
• Articulação imprecisa adições e repetições
• Alteração na fonêmicas
respiração, fonação e • Alteração de prosódia
ressonância
• Erros de simplificação • Dificuldade em iniciar
a produção
• Erros complicados e
variados
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Chapey, R. Language intervention strategies in aphasia and related neurogenic
communication disorders. Lippincott Williams & Wilkins, 2001.

• Machado, T.H. e Mansur, L.L. Afasias: visão multidimensional da atuação do


fonoaudiólogo. In: Ferreira, L.P. et al. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca,
2004.

• Mansur, L.L. e Radanovic, M. Neurolinguística: princípios para a prática clínica. São


Paulo: edições inteligentes, 2004.

• Ortiz, K.Z. Distúrbios neurológicos adquiridos: linguagem e cognição. Manole: São


Paulo, 2005.

• Teixeira, A. e Caramelli, P. Neurologia Cognitiva e do Comportamento. Revinter: Rio de


Janeiro, 2012.

• Sohlberg MM, Mateer CA. Reabilitação Cognitiva: Uma abordagem neuropsicológica


integrada. São Paulo Editora Santos, 2011.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Nitrini, R., Caramelli, P. e Mansur, L.L. Neuropsicologia: das bases anatômicas à
reabilitação. São Paulo: clínica neurológica do Hospital das Clínicas FMUSP, 1996.

• Ortiz, K.Z. Alterações da fala: disartrias e dispraxias. In: Ferreira, L.P. et al. Tratado de
fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 2004.

• Ponzio, J. et al. O afásico – convivendo com a lesão cerebral. São Paulo: Maltese, 1995.

• Caixeta, L e Teixeira AL. Neuropsicologia geriátrica. Neuropsiquiatria cognitiva em


idosos. Artmed, 2014.

• Peña-casanova e Pamies. Reabilitação das afasias e transtornos associados. Manole,


2005.

• Caixeta L, Ferreira SB. Manual de Neuropsicologia dos Princípios à Reabilitação. São


Paulo: Atheneu, 2012.

• Radanovic M, Kato-Narita EM. Neurofisiologia Básica para Profissionais da Área da


Saúde. São Paulo: Atheneu, 2016.
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fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 2004.

• Murdoch B.E. Disartria: uma abordagem fisiológica para avaliação e tratamento. Lovise: São
Paulo, 2005.

• Robin, D.A., Yorkston, K.M. e Beukelman, D.R. Disorders of motor speech. Paul H Brookes:
London, 1996.

• Wertz, R.T., LaPointe, L.L. e Rosenbek, J.C. Apraxia of speech in adults. Singular Publishing
Group: San Diego, 1991.
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