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Resumo
Compreende-se que a infância é um dos principais, se não o mais importante,
momento do desenvolvimento humano. De tal modo, pensando nas crianças
que são do Público Alvo da Educação Especial (PAEE), quanto mais precoce
houver a estimulação, melhores serão as chances de redução dos
impedimentos gerados pela deficiência. Para tanto, o objetivo do presente
artigo foi descrever o conhecimento das práticas de estimulação precoce de
crianças (de dois a cinco anos) com deficiência intelectual, segundo a opinião
dos profissionais especializados e das famílias responsáveis. Participaram sete
profissionais especializados e sete pais/responsáveis de crianças com
deficiência intelectual. Foram utilizados dois roteiros de entrevista
semiestruturado, sendo um direcionado aos profissionais que atuavam na
instituição de ensino especializado e outro aos pais/responsáveis dessas
crianças. Os dados qualitativos obtidos foram analisados por meio da análise
de conteúdo com a elaboração de subcategorias. A pesquisa serviu para
compreensão de como vem sendo feita a continuidade da estimulação precoce
nos centros especializados em um município do interior de São Paulo e
forneceu dados sobre as concepções de pais e professores nesta área de
estudo da Educação Especial.
Palavras-chave: Estimulação precoce. Famílias. Profissionais especializados.
Introdução
A infância é considerada um período de crescimento e aumento de
significações nas relações do pensamento e linguagem, por isso acredita-se
que nessa fase as crianças sejam mais ativas e curiosas (OLIVEIRA, 2002). No
entanto, quando se trata de crianças do Público Alvo da Educação Especial
(PAEE), algumas ponderações devem ser feitas a partir de programas de
estimulação precoce direcionados às particularidades de cada um, bem como
as reais necessidades educacionais e até de vida diária, como a autonomia e a
independência (BRASIL, 2006).
Ainda na infância, inicia-se o processo de individuação, no qual
desenvolve progressivamente sua personalidade, identidade, gênero e, ainda,
diferenciam-se do outro, conhecendo e afirmando suas particularidades, além
de buscar relacionar-se com outras crianças, aumentando suas habilidades de
socialização (OLIVEIRA, 1992).
De acordo com Borges (2016), com a ocorrência de diversas diferenças
no desenvolvimento humano, aumenta-se a necessidade de serviços
especializados para sujeitos com deficiências sensoriais (visuais e auditivas),
transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação e mais
especificamente, o que se trata do público da pesquisa, a deficiência intelectual
(BRASIL, 2009).
Segundo a Associação Americana de Deficiência Intelectual e
Desenvolvimento (AAIDD):
A deficiência intelectual é caracterizada pela limitação significativa
tanto no funcionamento intelectual como no comportamento
adaptativo que se expressam nas habilidades conceituais, sociais e
práticas. A deficiência origina-se antes dos 18 anos de idade (AAIDD,
2010, p. 1).
Aspectos éticos
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), atendendo a
Resolução CNS nº 510-2016 do Conselho Nacional de Saúde, visando o
desenvolvimento da pesquisa dentro dos padrões éticos (CAEE:
71491317.2.0000.5504). Todos os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Participantes
Participaram da amostra sete profissionais especializados e sete
familiares e/ou responsáveis de crianças com deficiência intelectual fizeram
parte da amostra. Assim, com a finalidade de caracterizar os entrevistados, o
Quadro 1 apresenta informações sobre idade, gênero, tempo de atuação na
área e na atual instituição, horas semanais de trabalho e alunos atendidos.
Quadro 1. Caracterização dos profissionais atuantes na Instituição de Ensino Especializado
Caracterização dos profissionais
Questões abordadas P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
Idade 59 48 51 49 34 37 35
Gênero F F F F F F F
Atuação na área da Educação
28 08 30 27 05 06 08
Especial (em anos)
Tempo de atuação na Instituição de
* 03 22 25 * 01 05
Ensino Especializado (em anos)
Horas semanais de trabalho 40 25 30 40 40 * 27
Quantidade de alunos atendidos 12 06 25 28 * 03 07
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados de pesquisa
Nota: *Não soube informar
Quanto às profissionais da instituição de ensino especializado, foram
sete participantes do gênero feminino, no qual a idade tem variação de 34 a 59
anos. Em relação à formação profissional, cinco das sete entrevistadas eram
formadas em pedagogia com especialização em Educação Especial, as outras
duas possuíam formação em fisioterapia e especialização em Educação
Especial e, a outra em fonoaudiologia com especialização, também, em e
Educação Especial. Ainda quanto à formação, ressalta-se que cinco das sete
entrevistadas possuíam duas ou três especializações/pós-graduação.
A atuação profissional das entrevistadas variou de cinco a trinta anos.
Além do mais, o tempo na instituição de ensino especializado na qual ocorreu a
coleta de dados apresentou-se com o menor período de tempo igual a um ano
e o maior igual a vinte e cinco anos, vale ressaltar que duas das sete
profissionais da instituição não souberam informar quanto tempo estavam
trabalhando na mesma instituição. A média de horas semanais de trabalho das
participantes foi de trinta e quatro horas, sendo a maior de quarenta horas e a
menor de vinte e cinco horas. Uma participante não soube informar sua carga
horária semanal.
A média de alunos em sala foi de aproximadamente treze alunos entre
dois e cinco anos, duas das sete participantes desempenhavam cargos de
supervisão/coordenação de setores na instituição, sendo assim tiveram maior
número de alunos atendidos.
Com a finalidade de caracterizar os demais participantes, o Quadro 2
apresenta informações sobre idade, gênero, tempo de atuação na área e na
atual instituição, horas semanais de trabalho e alunos atendidos.
Quadro 2. Caracterização dos pais e/ou responsáveis das crianças que frequentavam a
Instituição de Ensino Especializado
Caracterização dos pais e/ou responsáveis
Questões abordadas P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
Idade 38 34 29 41 43 34 56
Gênero F F F F M F F
Quantidade de filhos 01 02 01 01 01 01 01
Tempo de inicio da criança na
18 24 21 39 40 36 45
instituição (meses)
Trabalha fora de casa N S N S S S N
Horas diárias de trabalho * 24h * 06h 08h 10h *
A criança frequenta escola regular N S N S S S S
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados de pesquisa.
Nota: N – não; S – sim; *Não soube informar.
Instrumentos utilizados
Foram utilizados dois roteiros de entrevista semiestruturado, sendo um
direcionado aos profissionais que atuavam na instituição de ensino
especializado oferecendo estimulação precoce às crianças com deficiência
intelectual e outro destinado aos pais (mãe, pai ou responsável) dessas
crianças. Ressalta-se que as entrevistas foram realizadas na própria instituição
por preferência dos pais e da coordenação. As mesmas foram realizadas
individualmente e, em um dos dois dias disponíveis.
Resultados e discussões
Primeiramente, serão apresentados os relatos das profissionais da
instituição de ensino especializado, na qual a Tabela 1 mostra como era
realizada a estimulação precoce na Instituição de Ensino Especializado, na
qual essas participantes atuavam.
Tabela 1. Como era oferecida a estimulação precoce na Instituição de Ensino Especializado,
segundo relato dos profissionais.
Como era oferecida a estimulação
% Frase ilustrativa
precoce na Instituição?
42,8 “Eu vou dizer a minha estimulação
precoce [...] esse trabalho é
Trabalho em equipe (multifuncional)
realizado, eu, a TO e a fono e uma
psicóloga” P1
28,6 “Estimulação baseada no currículo
Currículo funcional
funcional [...]” P4
Desenvolvimento de projetos 14,3 “Trabalho com projetos específicos
individualizados de acordo com as necessidades
observadas [...]” P2
Trabalhos na perspectiva lúdica 14,3 “[...] no lúdico pra desenvolver a
autonomia [...]” P5
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados de pesquisa.
Os dados mostram que os profissionais da instituição de ensino
especializado responderam em sua maioria (42,8%) que a estimulação precoce
na mesma era realizada em uma espécie de trabalho em equipe
multidiscplinar, com instruções vindas da pedagoga, terapeuta ocupacional,
fonoaudióloga e fisioterapeuta.
Seguindo tal linha de raciocínio, a Tabela 2 aponta as estratégias que as
profissionais utilizavam com as crianças durante a estimulação precoce.
Tabela 2. As estratégias, materiais e recursos utilizados pelas profissionais durante o processo
de estimulação precoce.
Estratégias utilizadas pelas
profissinais durante a estimulação % Frases ilustrativas
precoce
42,8 “A gente trabalha muito a questão
do jogo simbólico, olho-mão, o
Trabalho lúdico
brincar que ta envolvido em tudo
[...]” P4
28,6 “Depende do diagnóstico de cada
De acordo com as especificidades
criança [...]” P3
Atividades em grupos e uso de texturas 14,3 “Trabalho com grupos [...] vários
tipos de texturas no jardim
sensorial” P1
Parceria entre as profissionais 14,3 “[...] são duas professoras em sala,
né? Aí vai uma ajudando a outra
[...]” P2
Materiais e recursos utilizados % Frases ilustrativas
28,6 “A gente trabalha muito a questão
do jogo simbólico, olho-mão, o
Brinquedos
brincar que ta envolvido em tudo
[...] brinquedos sensoriais” P4
Tecido, espuma, tinta e materiais 28,6 “[...] vários tipos de texturas,
reciclados tecidos, espuma, tinta [...]” P1
Materiais escolares (didáticos) 14,3 “[...] Histórias, livros, músicas e
jogos” P5
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados de pesquisa.
A partir dos dados notou-se que 42,8% dos pais informaram que não
conheciam exatamente a estimulação precoce que seus filhos recebiam na
Instituição de Ensino especializado, ao passo que 42,8% demonstraram
possuir uma noção geral ou superficial sobre o assunto. Nessa linha de
raciocíonio, a Tabela 7 demonstra se os pais conhecíam as estratégias
utilizadas com seus filhos durante a estimulação precoce.
Tabela 7. Conhecimento dos pais sobre as estratégias utilizadas com seus filhos na
estimulação precoce.
Conhecimento sobre as estratégias
% Frase ilustrativa
utilizadas na instituição
Não sabe 71,4 -
Figuras 14,3 -
Música 14,3 -
Fonte: Elaborado pelas autoras com base nos dados de pesquisa.
Nota: salienta-se que as profissionais responderam a essa questão diretamente, não
oferecendo justificativas. De tal modo, não há frases que ilustrem tais respostas.
Considerações finais
Sendo assim, o presente estudo aponta a importância da valorização
que deve ser dedicada à essa fase, pois a presença dos contextos familiares
protetivos atrelados ao acesso aos serviços de estimulação precoce,
desencadeia melhor desempenho escolar dos mesmos nos primeiros anos do
Ensino Fundamental. Além disso, esses sujeitos irão alcançar uma
competência interpessoal mais desenvolvida, com menos suscetibilidade aos
estressores escolares que poderão surgir (PEREIRA et al., 2011). Outra
questão que pode ser comprovada a partir disso é a maior autonomia e
independência desses sujeitos.
É importante, ressaltar a relevancia da pesquisa para o meio científico e
para a área da Educação Especial. As esferas, família, instituição e
estimulação precoce são os pontos principais para crianças na primeira e
segunda infancia e trazer a perspectiva das pessoas que vivem essa realidade
traz grande bagagem para futuras intervenções e observações de ambito
municipal, regional e/ou nacional.
Um limitador do estudo foi o número reduzido de participantes que deu-
se devido ao tempo de espera de aprovação pelo comitê de ética no ano de
2017, limitando, então, os participantes a apenas uma instituição de ensino
especializado. A continuidade da pesquisa e/ou a expansão da coleta de dados
poderia favorecer maior compreensão sobre o assunto, possibilitando ainda,
informações mais fidedignas da temática numa perspectiva territorial maior.
Contudo, a pesquisa serviu para compreensão de como vem sendo feita
a continuidade da estimulação precoce nas Instituições de Especializado em
um município do interior de São Paulo e forneceu dados sobre as concepções
de pais e professores nesta área de estudo da Educação Especial. As futuras
pesquisas podem abordar questões como: Ensino prático de estimulação
precoce para pais de crianças com deficiência; Educação Especial e
enfrentamento do modelo médico para a estimulação precoce; Conhecimento e
conscientização sobre a deficiência como forma de continuidade de serviços
especializados.
Referências
AAIDD. Intellectual disability: definition, classification and systems of supports.
11th ed. Washington (DC): American Association on Intellectual and
Developmental Disabilities, 2010.
ANDRADE, S. A. et al. Family environment and child's cognitive development:
an epidemiological approach. Revista de saúde pública, v. 39, n. 4, p. 606-611,
2005.
BENEDET, M. C.; LOPES, M. C.. A importância e significância do trabalho em
equipe interdisciplinar na educação especial–SAEDE (Serviço de Atendimento
Educacional Especializado). In: XIII Congresso Estadual das Associações de
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs). 2010.