Você está na página 1de 32

FCEE

TÍTULO DA PESQUISA

Intervenção Precoce e Atraso


Global do Desenvolvimento
Rana M. M. dos Santos
Psicóloga
CRP 12/11239
CENER/FCEE
“O desenvolvimento humano é concebido
como o produto de uma dupla incidência; de
um lado, incidem os processos maturativos de
ordem neurológica e genética, e do outro
lado, os processos de constituição do sujeito
psíquico. As pesquisas sobre
desenvolvimento tendem a privilegiar a
dimensão neurológica genética”
(Dargassies, 1974; Kandel et al, 1995; Rutther, 2006
apud Jerusalinsky et al. 2009)
Por onde começar?

DETECÇÃO PRECOCE:

É a perspectiva que opera com as contribuições da


neurologia e da genética, considerando os
conceitos de neuroplasticidade e epigenética,
somadas aos marcos teóricos que fazem uma
leitura do bebê e seus laços para além da biologia.

A detecção precoce é uma prática clínica de leitura


do laço mãe-bebê, pai-bebê e/ou outro-bebê,
verificando quando algo não vai bem.
(JERUSALINSKY & MELO, 2020)
Intervenção Precoce

A intervenção na primeira infância é atravessada pelo


objetivo de produzir entre o bebê/pequena criança e o
outro, um engaste. Isso porque é no encontro com o outro
que as aquisições do desenvolvimento ganham
significância, posicionando as produções do bebê
socialmente. As ações ganham sentido dentro da cultura e
do compartilhamento com o outro e, a partir disso, há uma
organização do desenvolvimento e do próprio sujeito.

(JERUSALINSKY & MELO, 2020)


Intervenção Precoce

Por exemplo, espera-se que uma pequena criança


consiga diferenciar membros e não membros de sua
família, adaptando seu comportamento. Isso denuncia que
há um sentido nos diferentes laços vividos e, de alguma
forma, a criança está inserida da cultura, haja vista que é
esperado que mudemos nossas ações de acordo com
quem está em nossa volta.

(JERUSALINSKY & MELO, 2020)


Intervenção Precoce

A organização ou desorganização das produções do


bebê e de pequenas crianças apresenta-se em seu olhar,
fala, psicomotricidade e hábitos, sendo que não está
programada biologicamente.

Isso significa que, desde os primórdios do


desenvolvimento, a organização das produções ocorre
sempre em relação.

(JERUSALINSKY & MELO, 2020)


Destaca-se isso para conceder a devida
importância ao campo social nas intervenções em
estimulação precoce, considerando inclusive o
fortalecimento do cuidado dos pais como uma das
bases do atendimento.
Intervenção Precoce

Desta forma, observamos que o atendimento de


bebês e pequenas crianças vai muito além de
estimular o desenvolvimento de habilidades. As ações
envolvem a família enquanto referência primordial, a
rede de atenção, os dispositivos culturais e
comunitários. Ademais, para intervir a tempo é preciso
chegar a tempo.

(JERUSALINSKY & MELO, 2020)


Nesse sentido, é fundamental pensar o
atendimento na perspectiva da detecção
precoce como ponto fulcral na primeira
infância. Mais uma vez se observa que
estimular apenas não é o suficiente.
Intervenção Precoce

É preciso ir além, com instrumentos de rastreio e


acompanhamento do desenvolvimento,
conscientização da rede de atenção quanto a fatores
de risco e capacitação aos profissionais que atuam na
tenra infância. Esse conjunto de ações, além da
estimulação terapêutica, compõem a intervenção
precoce.

(JERUSALINSKY & MELO, 2020)


A pré-história fazendo história
O discurso que envolve a mãe e o pai antes e
depois de seus nascimentos.

O discurso que envolve o bebê antes e depois do


seu nascimento.

A cultura e as produções humanas até aqui

Rede narrativa simbólica que envolve o bebê


Intervenção com a família

Como engajar a família?

Quais ações a equipe pode estabelecer


para o envolvimento da família?
Culturas da infância
Pela oposição de uma visão da criança pelo
que não é e pelo que lhe falta em relação ao
adulto: in-competente, i-matura, i-rracional.

Por uma visão da infância que considere a


criança um sujeito pleno, ator e autor social,
e personagem fulcral na cultura.
Os lugares da
criança

Qual é o lugar da criança?


Por que é importante
marcar esse lugar?
Como o processo
terapêutico oferece suporte
para a criança?
Quais demandas são
comuns de serem
encontradas na intervenção
na infância?
Diretrizes da Estimulação Precoce
O programa de Estimulação Precoce deve realizar

atendimentos sistemáticos, compostos pelos serviços de

fisioterapia, psicomotricidade, fonoaudiologia e

estimulação cognitiva. A criança poderá frequentar o

atendimento de fisioterapia e/ou psicomotricidade,

conforme avaliação do fisioterapeuta.

(Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especalizados, 2020)


Diretrizes da Estimulação Precoce
O programa de Estimulação Precoce pode disponibilizar

serviços suplementares de intervenção: Hidroterapia,

Estimulação Visual, Terapia Ocupacional, Equoterapia,

entre outros.

(Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especalizados, 2020)


Diretrizes da Estimulação Precoce
Esse programa também deverá contar com o apoio de

uma equipe multiprofissional composta por: psicologia,

serviço social, enfermagem e pedagogia, quando houver

na instituição da qual ele faz parte

Organização da equipe e dos atendimentos de

acordo com a singularidade do caso.


(Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especalizados, 2020)
Diretrizes da Estimulação Precoce
Os atendimentos devem ser realizados individualmente, em sessões

de 40 minutos, com frequência de duas vezes na semana. Qualquer

flexibilização desse processo deve ser definida em estudo de caso

pela equipe, justificando e registrando o período determinado, bem

como os benefícios que essa flexibilização proporcionará à criança.

Deve-se reservar carga horária semanal para realizar orientações

aos professores da educação infantil, elaborar planejamento,

registros dos atendimentos e elaborar relatórios.


(Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especalizados, 2020)
Diretrizes da Estimulação Precoce

É obrigatória a permanência dos

pais/responsáveis pela criança na instituição

durante todo o período de atendimento no

programa.

(Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especalizados, 2020)


Diretrizes da Estimulação Precoce
Referente ao desligamento do programa, no semestre em que a criança

completar 5 (cinco) anos 11 (onze) meses e 29 (vinte e nove) dias de

idade, ela passará por reavaliação e atualização diagnóstica e será

desligada do programa de Estimulação Precoce, podendo ser

encaminhada para outros serviços educacionais, como Atendimento

Educacional Especializado (AEE), para programas de reabilitação, para

atendimento ambulatorial sistemático na rede pública ou privada ou até

mesmo para serviços disponíveis na comunidade, como programas

esportivos.
(Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especalizados, 2020)
Diretrizes da Estimulação Precoce
● Acolhimento inicial (Serviço Social, Psicologia e Enfermagem);

● Estudo de caso inicial;

● Acolhimento da equipe de atendimento;

● Estudo de caso processual;

● Projeto Terapêutico Singular (PTS);

● Registros (prontuário, instrumentos de acompanhamento do

desenvolvimento);

● Intervenção;

(Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especalizados, 2020)


Diretrizes da Estimulação Precoce
● Evolução;

● Orientações à família;

● Assessoria Escolar;

● Trocas com a rede de atendimento;

● Visita domiciliar;

● Elaboração de relatórios;

● Confecção de materiais.

(Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional Especalizados, 2020)


Atraso Global do Desenvolvimento

● Restrito a crianças com 5 anos ou menos;


● Não foi possível realizar avaliação com a devida
acuidade;
● Atrasos significativos nas áreas motora, da fala e
linguagem, cognitiva, social e habilidades adaptativas;
● O atraso é impactado por fatores biopsicossociais;
● É um diagnóstico fundamental para garantia de acesso
aos serviços.

Concede o tempo necessário para o processo


diagnóstico minucioso, ao passo que garante
acesso ao atendimento
Atraso Global do Desenvolvimento

É importante acompanhar o
desenvolvimento utilizando marcos teóricos
e normativos - PEDI, Vineland, IRDI, AP3+,
Denver, Portage, entre outros.
Atraso Global do Desenvolvimento

A arquitetura e a função do cérebro são


modeladas pelas experiências de vida que
afetam a
arquitetura e a função dos circuitos
neurobiológicos. Os estímulos transmitidos
ao cérebro pelos circuitos
sensoriais nos períodos pré e pós-natal, e
também nos demais estágios da vida,
diferenciam a função dos
neurônios e dos circuitos neurais.
Atraso Global do Desenvolvimento

As experiências que promovem o


desenvolvimento do cérebro, por meio dos
circuitos sensoriais, incluem o
som, o toque, a visão, o cheiro, a
alimentação, os pensamentos, as drogas, as
contusões, as doenças e outros
fatores.

Epigênese é o processo molecular e


celular que governa a função dos genes.
Atraso Global do Desenvolvimento

A compreensão dos mecanismos que


regulam a diferenciação e a função dos
genes é um componente crítico da pesquisa
neurobiológica. As mudanças epigenéticas
na função neural afetam os circuitos
neurobiológicos que influenciam
a saúde (física e mental), o comportamento
e a aprendizagem.
Atraso Global do Desenvolvimento

Gêmeos idênticos têm o mesmo DNA em


seus neurônios (genótipo), mas não terão as
mesmas experiências, o que resulta em
diferenças por epigênese na expressão
genética (fenótipo). Gêmeos idênticos
podem ter diferenças de 20% a 30% no
comportamento quando adultos (fenótipo).

Essa diferença provavelmente está


relacionada a efeitos epigenéticos sobre a
função neural no desenvolvimento inicial.
Atraso Global do Desenvolvimento

Assim como a herança genética, os


cuidados no início da vida são importantes
para o desenvolvimento humano inicial.

Os cuidados nos primeiros anos têm efeitos


importantes sobre a aprendizagem na
escola e sobre a saúde física e mental por
todo o ciclo da vida.
REFERÊNCIAS

Fundação Catarinense de Educação Especial. Diretrizes dos Centros de Atendimento Educacional


Especializados, 2020. Disponível em
<https://www.fcee.sc.gov.br/downloads/informacoes/1274-diretrizes-dos-centros-de-atendimento-educ
acional-especializados-em-educacao-especial-do-estado-de-santa-catarina-2020>

Fundação Catarinense de Educação Especial. Caderno Técnico do Centro de Reabilitação (em


construção).

Jerusalinsky, J.; Melo, M. S. Quando algo não vai bem com o bebê: detecção e intervenções
estruturantes em estimulação precoce. Salvador: Ágalma, 2020. 260p.

Jerusalinsky, J. A criação da criança: letra e gozo nos primórdios do psiquismo. 272 f. Tese (Doutorado
em Psicologia) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009
Kupfer, M. C. M., Jerusalinsky, A. N., Bernardino, L. M. F., Wanderley, D., Rocha, P. S. F., Molina, S., &
Lerner, R. (2009). Valor preditivo de indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil: um
estudo a partir da teoria psicanalítica. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 13(1),
31-52.
Muller-Granzotto, M. J.; Muller-Granzotto R. L. . Clínicas Gestálticas - Sentido ético, político e
antropológico da teoria do self. 1. ed. São Paulo: Summus Editorial, 2012. 304p.
Lerner, R., Di Paolo, A. F, Campana, N. T., Morais, A. S., Tocchio, A. B., & Silva, R. R. (2013). A
Psicologia na articulação entre os âmbitos coletivo e psíquico: construção de uma política pública em
saúde de cuidado com o desenvolvimento. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(spe), 100-111.
REFERÊNCIAS

McCain MN, Mustard JF, Shanker S. . Toronto, ON: Council for Early Child Development;
2007.Early years study 2: Putting science into action

Gilbert SF, Epel D. Ecological developmental biology. Sunderland, MA: Sinauer Associates; 2009.

Mehler MF. Epigenetics and the nervous system. Annals of Neurology 2008;64(6):602-617.

Szyf M, McGowan P, Meaney MJ. The social environment and the epigenome. Environmental &
Molecular Mutagenesis 2008;49(1):46-60.

Gluckman PD, Hanson MA, Cooper C, Thornburg KL. Effect of in utero and early life conditions on
adult health and disease. 2008;359(1):61-73. New England Journal of Medicine

Caspi A, Moffitt TE, Morgan J, Rutter M, Taylor A, Arseneault L, Tully L, Jacobs C, Kim-Cohen J,
Polo-Tomas M. Maternal expressed emotion predicts children’s antisocial behaviour problems: using
monozygotic twin differences to identify environmental effects on behavioural development.
Developmental Psychology 2004;40(2):149-161.
Obrigada!

Contato:
atendimentorana@gmail.com
cener@fcee.sc.gov.br

Centro de Reabilitação Ana Maria Philippi

Você também pode gostar