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APOSTILA CURSO IRDI/ FEVEREIRO 2021

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Sumário

- Apresentação dos princípios e práxis dentro da qual se realiza o curso.


Carta de fundação REDE-BEBÊ página 03

- Parte I: Conceitos e Definições da pesquisa IRDI página 06

1.Introdução
2.Neuroplasticidade
3.Formação da subjetividade
4.O protocolo IRDI
5.Os quatro eixos fundamentais na relação mãe-filho

Parte II: Pressupostos Clínicos página 12


1.Indicadores
2.Prevenção
3.Interdisciplinaridade
4.Psicossomática na primeira infância
5.Prevenção dos quadros psicopatológicos graves

Parte III: Prática Clínica e Educativa página 15

Parte IV: Metodologia página 17


1.Método
2.Indicadores associados à fundamentação teórica página 18

Parte V: Agrupamento de Indicadores por página 22


V.1 eixos de operações constituintes do sujeito
V.2 modos de comparecimento das operações constituintes dadas a ver
na produção do bebê e no exercício da função materna

Parte VI: Instruções para aplicação do Instrumento página 26


Padronização do procedimento página 28

Parte VII: planilha de aplicação do instrumento página 31

conduta clínica após aplicação do instrumento página 34

Parte VIII: dados iniciais de avaliação AP3 página 35

Referências Bibliográficas de apostilas e do curso página 39

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Ata de fundação da REDE-BEBÊ
A REDE-BEBÊ é uma rede horizontal, interdisciplinar e interinstitucional composta por
profissionais implicados nos cuidados da primeira infância que partilham do princípio de considerar
prioritária a realização da detecção precoce do sofrimento psíquico de forma atrelada aos problemas
do desenvolvimento de bebês, assim como a subsequente intervenção precoce quando um bebê
encontra dificuldades – desde um marco no qual as aquisições de linguagem, psicomotricidade, hábitos
e aprendizagem ocorra de forma articulada à constituição do bebê como um sujeito que possa
apropriar-se das mesmas em nome de seu desejo.
Assim a REDE-BEBÊ propõe um trabalho de difusão, transmissão e discussão coletiva de
temas centrais relativos à primeira infância, ampliando a interlocução e propiciando apoio recíproco
na inscrição social de práticas que primem pela detecção precoce do sofrimento psíquico e intervenção
clínica com bebês quando e onde ela se faz necessária - considerando a especificidade lógica do
momento de ser bebê (cronologicamente relacionado ao período que vai dos 0 aos 3 anos) como
diferente do da criança pequena (de 3 a 6 anos).
Sua convocatória inicial se deu como um modo de formalizar uma rede de trabalho já existente,
na medida em que a prática clínica e a formação de profissionais no campo dos problemas do
desenvolvimento infantil e clínica de bebês ocorridas ao longo de 40 anos junto ao Centro Lydia Coriat,
produziu uma interlocução permanente com colegas que, desde diversas instituições (clínicas
dedicadas à infância, consultórios, Rede SUS, educação infantil na rede pública e particular, clínicas
universitárias, fundações, associações, terceiro setor, e todas as formas do sistema educacional) e,
desde diferentes especialidades profissionais (especialistas em estimulação precoce, psicanalistas,
psicólogos, médicos, pedagogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas,
fonoaudiólogos, enfermeiros, assistentes sociais, educadores), sustentam a intervenção com a primeira
infância partilhando dos mesmos princípios éticos norteadores de tal práxis:
- a articulação interdisciplinar no trabalho em equipe; o estabelecimento da direção da cura a
partir de tal discussão clínica; a constituição do sujeito como decisiva para que o funcionamento das
funções ocorra de modo subordinado ao sujeito de desejo; a transferência como reconhecimento do
laço entre clínico e paciente; o brincar como produção constituinte do sujeito na infância.
A psicanálise produziu importantes contribuições à clínica de bebês: ao transmitir referenciais
acerca dos modos em que o bebê dá a ver sua constituição é possível levantar um alerta de risco quando
algo que era de se esperar que comparecesse na produção espontânea do bebê não ocorre. Tal modo
de operar se opõe à lógica positivista desde a qual a detecção se fixa na busca de traços
psicopatológicos causando os efeitos iatrogênicos de multiplicação de diagnósticos precoces que criam
falsas epidemias e acabam funcionando como profecias autorrealizáveis.
O risco de patologização, medicalização e criminalização da infância, ancorados em grandes e
falsas epidemias diagnósticas contemporâneas, redobra a importância de nos mantermos em diálogo,
sustentando práticas de aposta nos processos de estruturação do sujeito e difundindo o conhecimento
adquirido sobre o que já se sabe ser necessário para essa estruturação. Nessa direção a REDE-BEBÊ
propõe ampliar e dar respaldo a essa interlocução coletiva.
As leis 13.257 (de 6.3.2016) e 13.438 (26 de abril de 2017) do E.C.A. que versam sobre a
detecção de sinais de risco para o desenvolvimento psíquico na primeira infância, podem dar
retaguarda legal a ações de detecção precoce, mas não garantem que as mesmas venham a ocorrer
dentro de uma lógica não patologizante e de aposta na estruturação.
Por isso, apesar de todo o trabalho feito, ainda há muito a fazer na direção de inscrever
socialmente uma prática de detecção e intervenção precoce que considere os modos de
comparecimento do sofrimento e do risco psíquico na primeira infância em lugar de que se continue a
deixar o tempo passar, em conduta expectante, à espera de fechamentos diagnósticos. Para tanto é
preciso que os profissionais que intervêm com todo e qualquer bebê - na saúde pelo acompanhamento

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do desenvolvimento, na educação pelo cuidado nas creches, no judiciário e assistência social - possam
conhecer os modos de comparecimento do sofrimento e risco psíquico na primeira infância.
A REDE-BEBÊ propõe trabalhar conjuntamente sustentando e difundindo o que a
especificidade da clínica de bebês nos ensinou ser prioritário:
1- DIFUNDIR INSTRUMENTOS E METODOLOGIAS QUE PRIMAM PELA
TRANSMISSIBILIDADE DE CRITÉRIOS DE RISCO PSÍQUICO DE BEBÊS E
CRIANÇAS PEQUENAS, INSCREVENDO SOCIALMENTE PRÁTICAS DE DETECÇÃO
PRECOCE DE SOFRIMENTO PSÍQUICO QUE PERMEIEM O ACOMPANHAMENTO
DO DESENVOLVIMENTO a fim de que o mesmo não fique reduzido a critérios orgânicos.
Para tanto, partimos do princípio que o desenvolvimento não é autônomo e sim atrelado, tanto
aos aspectos orgânicos (de crescimento e maturação), quanto aos psíquicos (de constituição do
bebê produzida na relação com seu Outro materno, familiar, escolar e cultural). Nessa medida,
detectar risco psíquico não é algo superficial ou secundário, pois tem consequências diretas
para o desenvolvimento, sendo necessário tornar acessível aos profissionais que intervém com
todo e qualquer bebê (na saúde, educação e assistência) o conhecimento produzido durante
anos de clínica com bebês e transmissível por meio de tais instrumentos ou metodologias.
2- DAR VISIBILIDADE AO SOFRIMENTO PSÍQUICO NA PRIMEIRA INFÂNCIA,
APOIANDO A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS PARA DETECTAR TAL
SOFRIMENTO, considerando que o mesmo não é inefável, e sim que se dá a ver na produção
do bebê, desde que saibamos lê-lo, considerando que o comportamento do bebê, como todo
comportamento humano, tem um valor polissêmico e não fixo ou invariante e que, portanto,
depende do contexto de sua produção para assumir sua significação. Na atualidade a
segregação dos que apresentam sofrimento psíquico na primeira infância ocorre pela falta de
visibilidade de tal sofrimento em tempos precoces, o que faz com que muitos bebês e seus
familiares sejam deixados à margem do atendimento até caírem em largas categorias
diagnosticas. Por isso é preciso qualificar para detectar e intervir diante do risco psíquico como
modo de evitar a patologização da infância.
3- FAVORECER AS INTERVENÇÕES A TEMPO QUANDO ALGO NÃO VAI BEM com um
bebê, sustentando a produção de inscrições estruturantes, partindo do princípio de que a
estrutura não está decidida na infância, nem orgânica nem psiquicamente e que, portanto, se
conhecemos os passos da estruturação é possível intervir precocemente quando algo não vai
bem, em lugar de esperar o tempo passar em conduta expectante até fechamentos diagnósticos,
ou fecha-los precipitadamente induzindo iatrogenicamente a realização de tais patologias.
4- SUSTENTAR A INTERVENÇÃO COM BEBÊS DENTRO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
DA PRIMEIRA INFÂNCIA, ZELANDO PELA INTERDISCIPLINARIEDADE E
INTERSETORIALIDADE necessária a inscrição do tratamento da primeiríssima infância,
partindo do princípio de que A ESPECIFICIDADE APRESENTADA PELO BEBÊ ESTÁ
ACIMA DA DIVISÃO POR ÁREAS OU PATOLOGIAS – o que torna necessário dispositivos
de formação para os profissionais centrados na especificidade desse momento da vida que vai
dos zero aos três, a fim de que a intervenção ocorra evitando os efeitos fragmentadores das
múltiplas intervenções que recortam no bebê déficits esparsos e destituem o saber parental.
5- CONHECER E SUSTENTAR O APOIO À LEGISLAÇÃO QUE DÁ VISIBILIDADE OU
RESPALDO LEGAL PARA A INSCRIÇÃO SOCIAL DE PRÁTICAS COM A PRIMEIRA
INFÂNCIA, considerando que, sob essas mesmas leis, podem se produzir práticas que levem
a caminhos muito diversos, sendo preciso zelar pela detecção precoce para favorecer a
estruturação do bebê a fim de romper com a lógica da conduta expectante que deixa o tempo
passar e com práticas patologizantes da primeira infância.
6- SUSTENTAR QUE, PARA FAVORECER A ESTRUTURAÇÃO DE UM BEBÊ, É
PRECISO CUIDAR DE QUEM CUIDA, partindo do princípio de que o exercício da função

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materna e paterna não são uma competência nem inata, nem natural, nem individual e sim
funções que dependem de uma rede de sustentação familiar, social e cultural.
7- DIFUNDIR AS CONTRIBUIÇÕES PRODUZIDAS PELA PSICANÁLISE À CLINICA DA
ESTIMULAÇÃO PRECOCE revelam o quanto as aquisições de psicomotricidade,
aprendizagem, hábitos e linguagem precisam de estímulos constituintes que se produzem por
meio do brincar e da vida cotidiana na relação do bebê com o Outro primordial e não por meio
de tecnicismos descontextualizados ou indução de comportamentos padronizados.

Esses são os princípios e os objetivos de trabalho dos que participam da REDE-BEBÊ estando
a mesma aberta à participação de colegas que também os compartilhem e desejem compor esse
coletivo.
Porto Alegre, 20 de abril de 2018.

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IRDI Parte I : Conceitos e Definições
1. Introdução
As experiências infantis precoces adquirem hoje extrema relevância em decorrência das
descobertas sobre a maturação, o desenvolvimento, os processos psíquicos1 e seus correlatos genéticos
e neuroquímicos que ocorrem no 1º ano de vida. Se antes prevaleciam os pressupostos de um
determinismo orgânico, hoje se impõe a concepção segundo a qual a influência dos processos psíquicos
iniciais é decisiva na determinação das configurações nervosas e na estruturação do sistema mental.
Essa articulação indissociável entre o orgânico e o psíquico, verificada hoje de modo experimental, dá
conteúdo preciso e rigoroso ao conceito psicanalítico de “originário”, conceito que até há pouco tempo
designava o conjunto das lembranças tidas como irrecuperáveis na memória e no entanto sempre
presentes na vida do sujeito. Um tipo de memória que, embora hipotética no campo neurobiológico,
verifica-se na clínica por meio dos efeitos de reminiscência que produz e pelas reconstruções a
posteriori que delas podem ser feitas.
Atualmente, existem duas concepções que orientam as discussões sobre a psicopatologia nos
primeiros anos. Podem-se resumir essas concepções em duas grandes proposições:
1º.Os primeiros anos têm papel preponderante na constituição da vida psíquica.
2º.Até a puberdade, as formações psicopatológicas têm alto grau de mobilidade e, quanto mais
cedo na vida, maior é essa mobilidade. É por isso que, nas idades mais precoces, obtém-se alto
índice de remissão dessas formações.
São várias as pesquisas atuais que ajudam a fundamentar essas concepções, a partir de um novo
conceito em neurologia: o de Neuroplasticidade.

2. Neuroplasticidade
Até há pouco tempo, a neuropsiquiatria das primeiras idades se apoiava firmemente na idéia
de que os processos maturativos tinham um ritmo automático e inato, definido pela conformação
genética. Para firmar essa opinião utilizava-se, como prova definitiva, o fato de que nas síndromes
genéticas a maturação aparecia transformada ou retardada. Essa concepção levava a separar
completamente os quadros de transtornos de desenvolvimento de qualquer transtorno psíquico, ou se
considerava que estes últimos eram derivados de alterações genéticas. Tendia-se a negar a influência
dos fenômenos psicopatológicos na maturação inicial do Sistema Nervoso Central (SNC). As
considerações sobre a resiliência apontavam então na direção do controle genético e da maturação
neurológica e desconsideravam os aspectos psíquicos. Por isso, os manuais de pediatria raramente
continham esses indicadores, quer de risco, quer de resiliência.
As pesquisas de Minkowski em 1948 já evidenciavam as diferenças nos graus de mielinização
entre as vias nervosas utilizadas e as não utilizadas no feto e em crianças no período perinatal.
Confirmadas por Igor Essente (1956) em seu estudo sobre vias ópticas (primeiro em filhotinhos de
gatos e depois comparando bebês prematuros com recém-nascidos a termo nos primeiros 30 dias de
vida), esses achados encaminharam os estudos de Kretchmer (1957) sobre diferenciação nos níveis de
densidade das ramificações vasculares cerebrais que se encontram nas regiões mais estimuladas ou
menos estimuladas do cérebro.
As pesquisas de John Suomi (1970) com macacos rhesus praticando o isolamento e a
continuação das pesquisas de Harlow com as mães de arame (Klaus e Kennell, 1978) revelaram a
possibilidade de “autistização” secundária.
A persistência ou incurabilidade do autismo artificialmente produzido demonstrou depender
do tempo de isolamento contínuo. A anatomia patológica mostrou diferenças imprecisas e variáveis

1
Ver os estudos sobre a memória, de Ivan Izsquierdo, UFRGS,1992 – reatualizados em 1999, por Diana
Jerusalinsky, UBA, 1999, e Alberto Epstein, Universidade de Lyon, 2000.

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entre indivíduos e significativas nas comparações com indivíduos “normais” (não submetidos ao
processo de isolamento) das mesmas ninhadas.
Durante a década de 80 avançou-se nas pesquisas sobre “migração neuronal”. Descobriu-se
que a diferenciação das extensões axônicas e a morte seletiva de neurônios cerebrais para dar lugar à
substituição por células nervosas mais especializadas ocorrem após o nascimento e até
aproximadamente os 18 meses de idade. Aos poucos, foi-se percebendo como esses processos,
chamados de “migração neuronal”, ocorriam sob a influência do meio externo. Por exemplo: o córtex
occipital é mais grosso nas crianças cegas congênitas do que nas crianças videntes, se comparadas nas
mesmas idades.
A partir dessas descobertas, mudou o conceito sobre o desenvolvimento e a instalação das
funções cerebrais. As descobertas de Kendell (Prêmio Nobel de Medicina, 1999) sobre a multiplicação
dos pontos apicais no eixo axônico de acordo com a configuração dos estímulos externos e a
modificação da rede neuronal conforme a modulação afetiva deram lugar ao conceito de
neuroplasticidade2. Esse conceito, que de fato engloba o conjunto de descobertas até aqui referidas,
modifica completamente os critérios psicopatológicos dos tempos iniciais da vida e os leva a uma
notável coincidência com aqueles sustentados pela psicanálise freudiana no campo clínico desde o
início do século XX.
Assim, aliada à noção de neuroplasticidade, a psicanálise servirá de apoio para a construção da
noção de subjetividade que será desenvolvida a seguir.

3. Formação da subjetividade
A noção de subjetividade se relaciona de modo solidário e interdependente com as noções de
maturação, crescimento e desenvolvimento. Qualquer elemento de uma delas pode ser fator de
limitação para as demais. Portanto, é incontornável, na semiologia pediátrica, a necessidade de
investigar todas essas noções.
Ora, se o saber pediátrico avançou razoavelmente no que diz respeito às três primeiras, o
mesmo não aconteceu com os sinais que indicam a formação da subjetividade do indivíduo.
As informações sobre a maturação e o desenvolvimento tendem a ser cada vez mais afinadas e
em quantidade crescente. As diversas áreas – neurológica, motora, cognitiva, foniátrica, etc. – avançam
em sua instrumentação e buscam dados cada vez mais precoces, incluindo aqueles sobre o crescimento
e o desenvolvimento fetal. A investigação de todas essas áreas, porém, não garante que a vida psíquica
propriamente dita esteja sendo examinada.
Será necessário, então, apresentar cada uma dessas definições para mostrar que, embora
interdependentes, são distintas uma da outra e apresentam especificidades.
A noção de maturação compreende os processos de evolução das estruturas nervosas, tanto
centrais quanto periféricas. Esse aperfeiçoamento permite, progressivamente, a instalação de funções
e a aquisição de habilidades, embora o processo maturativo não venha a garantir por si só o
aparecimento dessas funções e aquisições. O que esse processo oferece é a base material para que se
produzam nela as configurações de funcionamento e as aprendizagens que o meio circundante propicia
à criança.
Já a noção de crescimento refere-se à evolução, harmônica e no ritmo adequado, das medidas
pondo-estaturais do indivíduo. Inclui a densidade dos tecidos de suporte (ósseos, cartilaginosos,
conjuntivos, etc.) e também a aquisição de funções específicas caracterizadas pelo seu aparecimento
em idades determinadas (por exemplo, funções sexuais e reprodutivas).
A noção de desenvolvimento descreve a expressão funcional, assimilante e adaptativa ao mundo
social e ao mundo real que a criança conquista apoiada nos recursos maturativos. Essa noção inclui
tanto a conquista das habilidades mentais quanto físicas, mas também abrange os processos que
organizam a personalidade e dão significação a essas conquistas.

2
Veja-se ainda o conceito de “flexibilidade neuronal” proposto por Coriat-Jerusalinsky em 1976.

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3.1. A noção de subjetividade
A maturação, o crescimento e especialmente o desenvolvimento dependem dos processos de
formação da vida psíquica, ou são extremamente sensíveis a eles. Essa formação opera governada
pelos outros que rodeiam a criança e são os responsáveis pelos seus cuidados e pela sua evolução. Por
isso, a formação do sujeito ocorre por meio de identificações e pela transmissão de significações
afetivas, morais e sexuais, as quais se originam nas épocas mais primitivas da relação mãe-filho.

O saber advindo do senso comum e da psicanálise indica que a vida psíquica não se esgota na
consciência e no conhecimento do eu. O indivíduo humano é constituído por uma história, uma
memória, um repertório de marcas que recebe ao longo da vida. Na clínica psicanalítica esse
inconsciente se revela nos sintomas, nos atos falhos, nos lapsos, etc.
Pode-se exemplificar a ideia de apreensão do inconsciente quando algum elemento ou
experiência vividos pelo sujeito ficam às vezes ‘sem sentido’, dando a impressão de que aquilo não se
encaixa na história ainda que tenha se produzido. No entanto, existem novas situações/experiências
que nos ajudam a re-situar as informações em jogo naquela experiência anterior agindo assim
retroativamente.
Uma espécie de quebra-cabeça em que estão todas as peças disponíveis, mas algumas nos dão
a impressão que não cabem na cena até um momento que a peça se ‘encaixa’ produzindo aí um sentido.
Nesse instante, ele se deu conta de que algo havia ficado em um nível inconsciente.
Em torno dessa noção do inconsciente, a psicanálise entende que se organiza a vida psíquica,
que, por sua vez, organizará as conquistas da criança nas diversas áreas mencionadas: maturação,
crescimento e desenvolvimento.
A formação da subjetividade se inicia com a entrada da criança no mundo simbólico da
linguagem: essa entrada humaniza a criança e permite que ela se situe numa cultura com uma
identidade particular. As variáveis presentes na formação da subjetividade da criança não dependem
somente dela e de seus dotes inatos, mas, sobretudo, do outro que administra os cuidados. A
constituição da subjetividade. Inicia-se logo nas primeiras experiências de satisfação de necessidades
do bebê. Nesse sentido, para o bebê, os 18 primeiros meses de vida são particularmente importantes.
O primeiro momento da formação da subjetividade corresponde cronologicamente aos 6
primeiros meses. A criança, mesmo nascida a termo, é prematura do ponto de vista da formação da
subjetividade. Sua prematuridade confere uma plasticidade fundamental para o processo evolutivo.
Ela nasce com urgências vitais e a expressão para essas urgências é o grito desarticulado. Esse grito
não remete a nada de preciso a não ser pelo fato de vir a ser tomado por alguém como um apelo
dirigido. Esse alguém é o outro que realiza a maternagem. O outro, nesse momento, tem a função, por
meio da interpretação desse grito, de inserir o bebê no mundo simbólico.
A repetição dessa experiência no próprio seio da maternagem é que permitirá a inscrição das
necessidades do bebê no universo da linguagem, pois é somente por meio da inscrição em um código
de linguagem que essas necessidades se transformam em demandas com uma significação dirigidas a
um outro. A demanda, que é diferente do apelo, não visa somente à satisfação da necessidade, mas
visa também ao estabelecimento de uma relação com o outro. O outro que realiza a maternagem deve,
entre a interpretação do grito e a ação específica, alternar-se em presença e ausência simbólica, o que
permitirá ao bebê colocar-se, no intervalo assim oferecido, como sujeito.
O segundo momento de formação da subjetividade corresponde ao período que vai do 6º ao
18º mês. Nesse período, quem faz a maternagem adquire uma consistência real para o bebê. No
primeiro momento, a criança não reconhece o outro, que, para ela estará muito mais ligado ao ritmo
de suas necessidades e demandas e da alternância presença/ausência. Em seguida, quando o outro pode
ser reconhecido, os objetos da satisfação da necessidade passam a adquirir um sentido simbólico, pois
representam as dádivas da mãe. Os objetos da necessidade passam a ser objetos de demanda dirigida
a um outro e simbolizam, por isso mesmo, o amor desse outro. Como tais, esses objetos são

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insatisfatórios, pois eles representam o amor do outro, mas não são esse amor. Isso introduz para o
bebê algo que será daqui para a frente uma experiência que o acompanhará a vida toda: o fato de que
o objeto de desejo sempre remete a outra coisa “e nunca é em si mesmo”. Esse deslocamento incessante
do objeto do desejo traz a experiência da insatisfação, necessária para a separação do outro. Há uma
farta sintomatologia possível em torno das funções corporais tomadas aqui como representantes de
problematizações na relação com o outro e não ligadas às necessidades biológicas.
No segundo momento, ocorre também o que chamamos de “estado do espelho”. Esse estado
consiste no processo que culminará com a integração, por parte da criança, de sua imagem corporal.
O júbilo que a criança manifesta frente à própria imagem é resultado da integração antecipatória que
essa imagem oferece de um corpo cuja experiência real é ainda de incoordenação e impotência. A
experiência do olhar a partir dessa integração da Gestalt corporal manifesta-se, sobretudo, na busca de
reconhecimento entre mãe e criança. Esse reconhecimento não está garantido, podendo ocorrer em
graus variados, ou mesmo não ocorrer.
Há toda uma dialética na qual, como já foi visto anteriormente, a insatisfação se introduz
inevitavelmente. Quando os objetos de dom, as dádivas da mãe falham como garantia de amor e
quando o acesso à imagem corporal é um júbilo, mas o reconhecimento dessa imagem não está
garantido. A experiência de insatisfação gera angústia, que em psicanálise se chama angústia de
castração.
É, portanto, a experiência de insatisfação que coloca para a criança uma questão fundamental:
o que sou para o desejo do outro? O desejo da mãe torna-se um enigma para a criança. Mãe e criança
tentam, num jogo de enganos e subterfúgios, ludibriar a insatisfação, tentando se colocar como sendo
ou tendo o que o outro deseja ou pede. Esse jogo torna suportável a falta introduzida pela experiência
de insatisfação.
O terceiro momento da formação da subjetividade ocorre aproximadamente a partir dos 18
meses e consiste na solução dada aos impasses gerados no jogo descrito acima, entre a mãe e a criança.
É o momento em que ocorre a separação necessária entre elas: a criança percebe que não é nem tem o
que a mãe deseja; por sua vez, a mãe reconhece que não pode ser o único objeto do desejo da criança.
Segundo a teoria psicanalítica, efetiva-se aqui a presença de um terceiro na relação mãe/bebê, operando
o que se denomina função paterna. Assim, a função paterna dá um lugar à criança na estrutura familiar,
nomeando-a e identificando-a no sexo e nas gerações. A clínica permite constatar como é importante
que haja o outro do desejo materno (função paterna). Ela permitirá que a criança e a mãe sejam
preservadas do perigo de uma “fusão”.

4. O protocolo IRDI
Do que foi exposto observa-se que uso de indicadores clínicos de risco pode encontrar uma
aplicação significativa no campo da saúde mental, especialmente como um auxiliar precioso na
detecção de problemas de desenvolvimento em crianças.
Neste sentido é que surge o instrumento IRDI. O IRDI foi construído por um grupo de pesquisa3
e foi validado para uso pediátrico a partir de uma longa e inovadora pesquisa intitulada: “Pesquisa
Multicêntrica de Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil” realizada no período
de 1999 a 2008 cujos resultados foram relatados em Kupfer et all, 2009.

3
O GNP (Grupo Nacional de Pesquisa), grupo de experts convidados pela Profa. Dra. Maria Cristina Machado Kupfer,
do IPUSP, para construir o protocolo de indicadores e conduzir a pesquisa multicêntrica em diversos centros. O grupo foi
constituído pela Profa. Dra. Leda M. Fischer Bernardino, da PUC de Curitiba; Paula Rocha e Elizabeth Cavalcante, do
CPPL de Recife; Domingos Paulo Infante, Lina G. Martins de Oliveira e M. Cecília Casagrande, de São Paulo; Daniele
Wanderley, de Salvador; Profa. Lea M. Sales, da Universidade Federal do Pará; Profa. Regina M. R. Stellin, da UNIFOR
de Fortaleza; Flávia Dutra, de Brasília; Prof. Dr. Otavio Souza, do Rio de Janeiro; Silvia Molina, de Porto Alegre, com
coordenação técnica de M. Eugênia Pesaro, coordenação científica do Dr. Alfredo Jerusalinsky e coordenação científica
nacional de Maria Cristina M.Kupfer. A pesquisa teve financiamento do Ministério da Saúde, da FAPESP e do CNPq.

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Considera-se que os indicadores são de “saúde” ou de “desenvolvimento” porque, quando
presentes, dizem respeito a fenômenos que indicam que o desenvolvimento psíquico do bebê está
ocorrendo a contento e quando ausentes são indicadores de risco para a constituição psíquica.
Foram selecionados os indicadores que se referem aos eixos de leitura de uma estruturação
psíquica. Ou seja, que indicam que há condições de dizer que o bebê que se está acompanhado
apresenta respostas de um sujeito. Um indicador jamais terá valor isolado e dependerá de sua
articulação com outros, esta é uma função importante do profissional que se propõe a utilizar os
indicadores: ele precisa se colocar na posição de um leitor do bebê e da relação do bebê com seu
cuidador.
O instrumento IRDI, composto por 31 indicadores demonstrou ter valor preditivo de problemas
de desenvolvimento ulteriores e um conjunto de 15 indicadores com maior poder de predição de risco
psíquico, considerado como detenção significativa na constituição do sujeito (Kupfer et al., 2009).
Segundo Mariotto (2016) o propósito inicial desta pesquisa foi de que os IRDIs pudessem ser
utilizados por pediatras a fim de avaliar a presença de um risco psíquico para o desenvolvimento
infantil, sobretudo porque quanto mais precoce for a intervenção maiores são as chances de uma
evolução favorável. Observou-se, porém, que outros profissionais de saúde e da atenção básica
poderiam se beneficiar deste instrumento, contudo, muitos ainda desconhecem esses indicadores e,
principalmente, acabam não lançando um olhar mais atento para os aspectos psíquicos do bebê.
Os indicadores IRDI (Anexo 1) foram construídos a partir de quatro eixos teóricos, oriundos da
teoria psicanalítica, considerados fundamentais para a constituição do psiquismo e é deles considerado
uma expressão fenomênica. Esses eixos foram chamados de suposição do sujeito, estabelecimento da
demanda, alternância presença/ausência e função paterna. Os indicadores são apreendidos por meio
da observação direta da relação do cuidador com o bebê ou por meio de inquérito. O pressuposto que
norteia os indicadores é o de que as bases da saúde mental se estabelecem nos primeiros anos de vida
e são dependentes das relações corporais, afetivas e simbólicas que se estabelecem entre o bebê e sua
mãe (ou substituto). Por isso, trata-se de investigar, por meio dos IRDI o desenvolvimento da criança
de modo articulado à constituição psíquica.

5. Os quatro eixos fundamentais na relação mãe-filho


Os quatro eixos que serão representados a seguir balizam a constituição da subjetividade. Sustenta-
se aqui a hipótese de que a ausência destes aponta para problematizações na estruturação dessa
subjetividade.

- Supor um sujeito: trata-se de uma antecipação realizada pelo agente materno, pois o bebê não se
encontra ainda constituído como sujeito. Tal constituição depende justamente de que ele seja
inicialmente suposto ou antecipado pela mãe (ou cuidador). É a partir dessa suposição, por
exemplo, que o grito do bebê poderá ser tomado como um apelo pela mãe e, sendo assim
interpretado por ela, abrir para o bebê a possibilidade de esse apelo revestir-se de significação
para ele e para a mãe.

- Estabelecer a demanda da criança: as primeiras reações involuntárias que um bebê apresenta ao


nascer, tais como o choro, precisam ser reconhecidas pela mãe como um pedido que a criança
dirige a ela, e diante do qual a mãe se coloca em posição de responder. Isso inicialmente implica
uma interpretação em que a mãe usa linguagem, “traduz” em palavras as ações da criança, e
“traduz” em ações suas próprias palavras.

- Alternar presença-ausência: implica que a mãe ou o cuidador não responda ao bebê apenas com
presença ou apenas com ausência, mas que produza uma alternância, não apenas física, mas,
sobretudo, simbólica. Por exemplo, entre a demanda da criança e a experiência de satisfação,

12
proporcionada pela mãe, espera-se que haja um intervalo diante no qual venha a surgir a resposta
da criança. Nesse momento, a criança pode então experimentar-se como sujeito. Se quisermos que
um bebê se torne um ser desejante (o que equivale a ser autônomo e singular) é necessário que ele
possa ter essa experiência de descontinuidade.

- Função paterna (alterização): para que a função paterna se instale é preciso que a mãe tenha a
criança numa posição de referência a um terceiro (geralmente o pai) em seu laço com ele, não
fazendo dessa criança um objeto que se presta unicamente à sua satisfação. Quando essa função se
instala, a criança renuncia às satisfações imediatas que antes advinham da relação com o próprio
corpo e com o corpo da mãe ou de seu cuidador, identificando a criança na sexualidade, nas
gerações e nomeando-a culturalmente. É graças à função paterna que uma criança poderá
distanciar-se do outro e utilizar então a linguagem em sua função simbólica, como substituto da
presença do outro. Ao mesmo tempo, isso a empurra na direção de procurar novas formas de
satisfação.

Esses diferentes eixos – suposição de sujeito, estabelecimento da demanda, alternância de


presença-ausência e função paterna – não comparecem separadamente no decorrer do
desenvolvimento, mas se entrelaçam nos cuidados que a mãe dirige à criança e também nas produções
que a criança realiza, dando testemunho dos efeitos de inscrição de tais marcas. Não aparecem, então,
como funções separadas ou autônomas, mas fazendo parte e orientando as funções tanto físicas como
psicológicas.

13
Parte II: Pressupostos Clínicos

1. Indicadores

Os indicadores de risco são propostos a partir de um determinado conceito de desenvolvimento.


Nas escalas de avaliação do desenvolvimento existentes, os indicadores são separados por área
funcional (psicomotora, perceptiva, psicológica, cognitiva, social, etc.), resultando numa concepção
fragmentadora da criança, além de equívoca, quando se sabe da interligação das funções nesses
momentos precoces da vida. Dispor de um aparelho perceptivo que funcione bem, ter uma evolução
postural psicomotora adequada ou ter uma mãe carinhosa que brinca com ela, nenhuma dessas coisas,
isoladamente, determina como uma criança possa estar psiquicamente se constituindo.
Alguns indicadores permitem a leitura diferenciada das incidências psíquicas das
manifestações da criança no sistema de relações que se estabelece entre ela e sua mãe.
Esses indicadores provêm de dados colhidos por psicanalistas durante os últimos cinquenta
anos, em experiências clínicas no atendimento de crianças com patologias graves já instaladas. O
histórico dessas crianças permite reconstituir – na primeira infância – os primeiros sinais do que mais
tarde veio a se constituir como psicopatologia.
Esses indicadores têm como referência uma concepção da criança como fazendo parte de um
mundo essencialmente simbólico. Participar desse mundo requer uma estrutura psíquica para organizar
as funções e os sistemas de relação. Como essa estrutura se funda a partir da mãe ou do cuidador
colocado em certa posição, nos primeiros anos de vida, é necessário averiguar se no estabelecimento
desse laço entre a mãe e o bebê estão presentes ou não as condições necessárias para que daí resulte
essa estrutura.
Qual o valor preditivo de indicadores de risco à luz desses conceitos acima referidos? Eles
indicam uma posição psicopatológica provisória cuja efetivação depende do curso evolutivo. Porém,
sua presença introduz as condições necessárias, embora não suficientes, para o surgimento de um
quadro psicopatológico num futuro variavelmente distante. O momento mais clássico de
desencadeamento de um quadro formado na infância é o início da adolescência, embora se registrem
manifestações críticas frequentes no início da escolaridade.

2. Prevenção

A experiência clínica demonstra que as alterações nas formas de apresentação das relações
subjetivas iniciais coincidem, de um modo diretamente proporcional à sua intensidade e persistência,
com os níveis de gravidade das perturbações psíquicas. Demonstra ainda que a rapidez de apresentação
dessas manifestações críticas está correlacionada com a uniformidade, a regularidade, e a intensidade
dessas alterações psíquicas. Por outro lado, em concordância com as pesquisas de John Suomi, acima
citadas, o nível de remissão depende da precocidade da abordagem.
Isso coloca uma posição paradoxal no diagnóstico e na intervenção clínica: o diagnóstico
aponta para uma possível doença ainda não efetivada. A ética exige a intervenção imediata, ainda não
aparentemente justificada. Entretanto, essa detecção (a do indicador) ou mesmo a intervenção precoce
anula o efeito que viria comprovar a pertinência do indicador.
Porém, nos quadros psíquicos já manifestos nas idades precoces ou na reconstrução histórica a
partir das anamneses retrospectivas de sujeitos com psicopatologias severas em idades mais próximas
à puberdade, encontra-se a presença significativa desses indicadores nas etapas precoces da vida desses
sujeitos, e, correlativamente, ausência notória de signos resilientes.

14
3. Interdisciplinaridade
Considerando que na primeira infância a semiologia médica se confronta com a dificuldade de
fazer uma leitura clínica a partir de manifestações de caráter polimorfo, por parte de crianças que ainda
não falam, muitas vezes o referencial clínico do profissional que acompanha bebês é insuficiente para
um entendimento mais amplo do que está acontecendo com o pequeno paciente.
Regurgitações, cólicas, quedas imunológicas no sistema respiratório, espasmos de soluço,
alterações de sono e alimentares são exemplos de quadros que tipicamente colocam os profissionais
da saúde mais atentos numa situação de perplexidade diante da evidência de um fator que escapa à
leitura puramente objetiva: o fator psíquico. Eles podem perceber que, nessa clínica, uma manifestação
sintomática não é apenas expressão de que algo não vai bem no organismo, mas também expressão
emocional e significativa da relação da criança com os outros em geral e com o meio.
Nesse período, adquire especial importância a prática da interdisciplinaridade. O fato de poder
dialogar com outras disciplinas clínicas pode representar, para os diversos profissionais do campo da
saúde e da educação, um grande passo no trabalho preventivo.
Um diálogo com a psicanálise, em particular, permite considerar o sujeito que aí se encontra
em jogo e não só a expressão do organismo.

4. Psicossomática na primeira infância


A psicossomática se propõe a investigar as relações de causalidade entre o psíquico e o
somático. Ela tem, como tal, um objetivo que parte do pressuposto de que o saber inconsciente tem
efeitos sobre o organismo. As clínicas médica e psicanalítica evidenciam esses efeitos, embora o
estabelecimento das relações de causalidade possa levar a equívocos de toda ordem.
Quando se faz referência a uma psicossomática da primeira infância, porém, não se trata das
doenças hoje reconhecidas – tanto pela clínica médica como pela psicanálise – como psicossomáticas.
É na primeira infância, já nos primeiros cuidados dispensados pelo outro materno, que se efetua a
instalação da vida psíquica, como se viu na discussão sobre a formação da subjetividade, na parte I-3
deste texto. Foi visto como essa instalação depende de uma operação que envolve a suposição de
sujeito, a interpretação e a alternância em presença e ausência do outro materno, além da higidez do
bebê. Ora, as vicissitudes que podem ocorrer no acionamento dessas operações podem facilitar ou
dificultar a instalação do psiquismo, com consequentes alterações das funções corporais. Este estudo
inclui várias manifestações do bebê, como os refluxos gastro-esofágicos, vômitos, inapetência, cólicas
persistentes, distúrbios respiratórios, distúrbios de sono, etc. Esses fenômenos estão na encruzilhada
das inter-relações entre maturação, desenvolvimento e instalação do funcionamento psíquico. Uma
mãe “só ausência” ou “só presença” pode ter uma ação privadora ou intrusiva que dificulta a
constituição psíquica. Os dados psicossomáticos não estão incluídos como indicadores, pois, como
tais, eles seriam sensíveis demais, mas pretende-se, a partir da pesquisa, verificar objetivamente aquilo
que a clínica já revela: a relação de causalidade entre esses fenômenos.

5. Prevenção de quadros psicopatológicos graves


Os cuidados com o desenvolvimento psíquico fazem parte do atendimento integral à saúde da
criança, propostos pelos programas de assistência materno-infantil da saúde pública. A atenção para
com o desenvolvimento psíquico é, pois, parte da função do pediatra nas consultas dos primeiros anos
de vida. Sua avaliação e acompanhamento são essenciais para o cumprimento destes programas.
A prática psicanalítica é testemunha de que as crianças psicóticas, autistas ou com graves
transtornos neuróticos raramente são encaminhadas para o atendimento antes dos 2, 3 anos de idade.
Entretanto, dispõe-se atualmente de duas evidências clínicas:

1) Pesquisas recentes apontam para a possibilidade de detecção de transtornos psíquicos aos 18 meses
(Baron-Cohen e outros, 1992) e até mesmo mais cedo, aos 4 meses (Laznik, 1999);

15
2) Os efeitos alentadores e rápidos de uma intervenção psicanalítica precoce vêm sendo descritos pela
literatura há 70 anos (Klein,1930; Mahler, 1952; Mannoni, 1967; Bettelheim,1987); Lefort, 1991;
Laznik, 1991; Jerusalinsky, 1993).
Assim, a prática clínica ensina que as instaurações do aparelho psíquico se fazem cedo, que a
plasticidade do aparelho psíquico para fazer suplências existe, mas a idade da intervenção é um dado
central, pois é necessário intervir para que a estrutura que dá suporte ao desenvolvimento possa se
instaurar antes da organização de uma futura deficiência ou transtorno.
O pediatra, o psicólogo, o educador, enfim, todo profissional de referência na primeira infância
é, primordial na detecção dos sinais precoces de problemas graves e no encaminhamento das famílias
para consultas de especialistas em clínica de bebês, ou mesmo no manejo de certas situações clínicas
que permitem aos pais, por identificação ao olhar desse profissional sobre seu filho, reposicionar-se
diante dele.

16
Parte III: Prática Clínica e educativa
1. Possíveis enfoques nas consultas e/ou encontros com o bebê
As consultas e/ou convívio nas creches e abrigos podem ser vistas como um momento
privilegiado para conhecer o modo como está se estruturando a vida do bebê e sua mãe ou cuidador,
desde que o profissional se coloque na posição de entendê-lo dessa forma.
No exemplo de uma consulta pediátrica, caso se suponha que o clínico pode ser, desde o
princípio, um importante parceiro da mãe nos cuidados com o bebê, o ato médico ganha uma
abrangência que transcende a pura observação do estado físico do bebê e do seu desenvolvimento
orgânico e neurofisiológico. O ato médico, por definição, abrangeria uma atenção, uma escuta atenta
para algumas situações estruturantes da vida dessas duas pessoas – mãe e bebê –, que, guardando as
devidas proporções, estão iniciando uma forma de conviver. Isso porque o bebê está iniciando sua
existência, sua primeira relação, e a mãe iniciando um convívio com aquele bebê, com um novo filho
que chega naquele momento em sua vida.
Quais seriam então os possíveis enfoques em um atendimento clínico?

a) A relação mãe-bebê.
O bebê jamais chegaria sozinho a um atendimento. Isso significa que não é possível abordá-lo,
compreendê-lo sem um contexto e um discurso trazido pelo acompanhante, que é, em geral, a mãe.
Nesse sentido, tudo o que se passa entre os dois na presença do profissional deve ser levado em
consideração quando se quer saber sobre um bebê.
E o que pode ser levado em consideração?
- o modo como a mãe sustenta, maneja o bebê e o modo como ele responde; (aconchega-se em
seu corpo, amolece ou enrijece);
- a forma como ela entende os seus gestos ou sua movimentação, seus gritos, balbucios, choros
e o modo como ele corresponde às suas interpretações;
- a forma como lhe apresenta os objetos e a própria situação da consulta; a solução encontrada
pela mãe para lidar com as situações de angústia do bebê, suas tristezas, raivas, desesperos, provocados
por incômodos físicos ou outros menos identificáveis;
- o modo como se dá a comunicação entre eles; como o bebê busca o olhar da mãe para se
certificar da sua presença e da sua aceitação;
- o tempo que um dá ao outro para as trocas entre eles e, ainda, entre um deles e o agente de
saúde presente;
- os momentos de troca prazerosa e de intimidade que se apresentam nas brincadeiras que
utilizam;
- o modo como essas brincadeiras serão utilizadas pelos dois para incluir o agente de saúde
presente, de tal forma que a consulta possa ser bem-sucedida;
- o modo como a mãe antecipa os acontecimentos e como o bebê parece compreender, aceita e
confia nos indícios dados pela mãe.
Enfocar a relação mãe-bebê permite oferecer para a mãe, o bebê e o agente de saúde um
caminho para entenderem que a saúde é muito mais do que evitar doença, que ela é a busca contínua
de crescimento e de enriquecimento. Dito de outro modo, uma vida saudável não é apenas uma vida
sem doença e desconforto, mas uma vida com sentido, que sempre aponta para um futuro.

b) O bebê
Ao nascer, o bebê não é apenas um corpo, mas uma pessoa necessitando ser conhecida por
alguém. Antes de nascer, geralmente, ele é pensado, sonhado e falado pelos seus familiares como
“alguém” que será conhecido. A mãe estabelece gradualmente as bases para a capacidade que o bebê
terá para desfrutar das experiências do mundo sem precipitação, concedendo a ele tempo necessário
para a dúvida e a hesitação perante algo que interessa a ele. Na medida em que se identifica com ele,

17
protege-o e permite-lhe explorar o ambiente. É assim que ela lhe apresenta o mundo e muito do futuro
de um ser humano depende da maneira como o mundo lhe é apresentado ao longo de sua existência.
O bebê, por sua vez, através de suas respostas, poderá levar a mãe a sentir-se reconhecida nos
seus investimentos, sentindo-se mais apreciada por ele do que qualquer outra pessoa. Durante uma
consulta, é possível observar as respostas do bebê às solicitações da mãe e do agente de saúde, pois
sua presença já se torna perceptível para o bebê entre três e quatro meses. Pode-se ainda observar o
interesse que a presença de uma pessoa diferente suscita nele e suas reações de agrado ou desagrado,
como olha para a mãe, como procura a fonte sonora com o olhar, como expressa o desagrado ou a
necessidade dos cuidados.

c) a relação bebê-educadora: o uso da metodologia IRDI


As creches são uma realidade na vida dos bebês contemporâneos e não se pode desse modo
negligenciar sua responsabilidade no desenvolvimento físico e mental das crianças.
Assim, considera-se ser essencial que o bebê encontre no ambiente da creche uma continuidade
dos cuidados maternos que permitem a instalação de seu aparelho psíquico, ao lado de laços
significativos que deem sequência às construções mentais do mundo no bebê. Nesse sentido, e
apoiados em pesquisas anteriores, como a de Bernardino e Mariotto (2010), um novo grupo de
pesquisadores, sob a coordenação da Profa. Cristina Kupfer, propôs uma adaptação do instrumento
IRDI para uso nas creches chamada de Metodologia IRDI (Kupfer et al., 2012; 2015).
Se, para os pediatras, o IRDI é um roteiro para acompanhar a relação do bebê com seu cuidador,
na creche trata-se de usar o IRDI como acompanhamento da relação que um professor estabelece com
o bebê sob seus cuidados. E nesse modelo, é o próprio professor que está implicado nessa relação; ele
não estará colocado em uma posição de observador, como está o pediatra.
Mas, pode haver o acompanhamento de uma terceira pessoa que ajude o professor a tomar certa
distância perante o que ele próprio está acompanhando, nesse seu contato diário, constante e próximo
com o bebê.
Pode-se dizer que a metodologia IRDI é um acompanhamento, orientado pelos IRDIs, dos
encontros e desencontros da professora no exercício da continuidade da função exercida pela mãe.
Sem exercer propriamente função materna, tal como ela é definida no interior da teoria psicanalítica
(Kupfer e col, 2009), a professora trabalhará contudo na direção de manter em andamento alguns eixos
dessa função, de modo a impedir que se rompa o laço mãe-bebê de forma precoce e antecipada.

18
Parte IV. Metodologia:

O estudo utilizou um desenho de corte transversal seguido por estudo longitudinal. A amostra
foi composta por 727 crianças nas faixas etárias de 0 a 4 meses incompletos, 4 a 8 meses, incompletos,
8 a 12 meses incompletos e 12 a 18 meses, randomicamente selecionadas entre aquelas que procuram
as consultas pediátricas de rotina em 11 serviços de saúde de nove cidades brasileiras (Belém do Pará,
Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). Os pediatras
que aplicaram o protocolo IRDI foram treinados para esse fim.
Durante os exames de rotina, foram anotados os indicadores clínicos (IRDI) presente, ausentes
e não verificados. Nesta pesquisa, é a ausência de indicadores que sugere um risco para o
desenvolvimento da criança. Assim os IRDIs, quando presentes, são indicadores de desenvolvimento,
e quando ausentes, são indicadores de risco para o desenvolvimento. Ao final dos 18 meses, 287
crianças apresentaram dois ou mais indicadores ausentes (consideradas casos) e 440 apresentaram um
ou nenhum indicador ausente (crianças controle). Dentre os casos, foram sorteadas 183 crianças (64%);
destas, 158 completaram o estudo (perda de 13,7%). Dentre as crianças controle, 132 (30%) foram
sorteadas; destas 122 (perda 7,5%) completaram o estudo.
Ao completar 3 anos de idade, as crianças dessa sub-amostra foram submetidas a um
diagnostico psiquiátrico e psicanalítico, por meio de dois protocolos criados para esse fim: o roteiro
para a Avaliação Psicanalítica – AP3 – e o roteiro para a Avaliação Psiquiátrica. No presente artigo,
serão abordados apenas os resultados obtidos por meio da avaliação psicanalítica, estando os da
avaliação psiquiátrica destinados a um artigo futuro.
A partir dos resultados da avaliação psicanalítica foi montada uma tabela de sintomas clínicos.
Definiu-se em seguida o desfecho clinico da pesquisa: a) presença ou ausência de problemas de
desenvolvimento para a criança, ou b) presença ou ausência de riscos para constituição do sujeito. Por
se tratar de instrumentos novos, expõem-se a seguir os fundamentos teóricos que justificam a escolha
dos indicadores, dos eixos e dos instrumentos de avaliação dos desfechos clínicos utilizados na
pesquisa IRDI.

19
Indicadores IRDI associados à fundamentação teórica

• Eixos constituintes do sujeito: SS- suposição de um sujeito


ED- estabelecimento da demanda
PA- alternância presença- ausência
FP- Função paterna

Indicadores Eixos Descrição teórica

(0 a 4 meses
incompletos)
1-Quando a criança ED/SS Inaugura a relação mãe-bebê: a mãe toma as manifestações do
chora ou grita, a mãe bebê como algo a ser lido. Lugar de leitor do bebê (de
sabe o que ela quer atribuição de sentido). Grito com estatuto de mensagem – a
mãe atribui sentido ao grito do bebê e reconhece que ele é um
pedido dirigido à ela.

2-A mãe fala com a SS Expressa o circuito do prazer e do desejo. Picos prosódicos:
criança num estilo Surpresa/admiração e reencontro/descoberta(alegria). Poder
particularmente invocante (ritmo, entonação).
dirigido a ela
(mamanhês)
3-A criança reage ao ED A criança dá mostras que está deixando-se capturar pelo
mamanhês circuito do prazer e do desejo.

4-A mãe propõe algo à PA Antecipação imaginária (a partir de ideais familiares e sociais)
criança e aguarda a sua da mãe que antecipa a função: A mãe aposta na capacidade da
reação criança de efetuar uma nova realização (implicação do desejo
materno) e a criança se lança a fazer tal realização por causa
dessa aposta materna.

5- Há troca de olhares ED Passagem do funcionamento do órgão (visão) para o campo


entre a mãe e a criança das trocas visuais (olhar) ou campo escópico (pulsão
escópica). Traços visuais do próximo assegurador.
Criança vê refletida sua imagem – captura (alienação) ao
desejo do Outro.

Indicadores Eixos Descrição

20
(4 a 8 meses
incompletos)

6- A criança começa a PA/ED Instalação de um ritmo que indica a inscrição da criança no


diferenciar o dia da registro do simbólico.
noite
7- A criança utiliza ED Indica que a criança já transforma o grito em demanda.
sinais diferentes para
expressar suas
diferentes necessidades
8- A criança solicita a PA/ED A criança se põe a fazer aquilo em que a mãe apostou. A
mãe e faz um intervalo criança dá lugar ao outro.
para aguardar sua
resposta
9- A mãe fala com a SS Nomeação que permite o reconhecimento e a permanência do
criança dirigindo-lhe objeto colocado em uma função que ultrapassa a de satisfação
pequenas frases da necessidade.

10- A criança reage ED Indica que está em curso a montagem pulsional (pulsão
(sorri, vocaliza) quando invocante e escópica – jogo prazeroso olhar e ser-visto
a mãe ou outra pessoa articulado com a prosódia).
está se dirigindo a ela.
11- a criança procura ED Atenção compartilhada. Jogo prazeroso de olhar e ser-visto
ativamente o olhar da (pulsão escópica).
mãe
12- A mãe dá suporte PA Capacidade materna de segurar e conter fisicamente a criança
às iniciativas da criança (holding) e de dar lugar às produções dela.
sem poupar-lhe
esforços
13-A criança pede PA A criança está respondendo à “insuficiência” da mãe para
ajuda de outra pessoa adaptar-se perfeitamente a ela, criando com isso intervalos em
sem ficar passiva que a criança pode “aparecer”.

Indicadores Eixos Descrição

(8 a 12 meses
incompletos)
14- A mãe percebe que ED A mãe percebe que a criança está demandando amor.
alguns pedidos da
criança podem ser uma
forma de chamar sua
atenção

21
15- Durante os ED Indica a presença do terceiro tempo do circuito pulsional.
cuidados corporais, a
criança busca
ativamente jogos e
brincadeiras amorosas
com a mãe
16- A criança ED Aponta a emergência de um sujeito que fala de si.
demonstra gostar ou
não de alguma coisa

17-Mãe e criança SS Reconhecimento do lugar de sujeito.


compartilham uma
linguagem particular

18- A criança estranha PA/FP Resultado do processo de simbolização da função materna; é


pessoas desconhecidas quando a criança reconhece a importância do seu cuidador
para ela primordial.

19- A criança possui PA Objeto transicional. A criança mostra possuir a capacidade de


objetos prediletos substituir a presença dos outros pela simbolização.

20- A criança faz ED A criança já faz uso de um corpo erógeno com o objetivo de
gracinhas enlaçar o olhar dos outros (para chamar a atenção dos outros).
O outro já se tornou fonte de prazer para a criança.

21-A criança busca o FP Aponta a importância do Outro para a criança e sua submissão
olhar de aprovação do à função simbólica.
adulto

22- A criança aceita FP Entrada no campo do Outro cultural. Busca ativa e de procura.
alimentação semi- Do lado da mãe, incompletude.
sólida, sólida e variada

Indicadores Eixos Descrição

(12 a 18 meses)

23- A mãe alterna PA/ FP A mãe instala uma hiância entre ela e a criança - A ausência
momentos de (ou a falta materna) indica para a criança que há um desejo
dedicação à criança outro para a mãe que não a criança.
com outros interesses
24-A criança reage PA/FP A criança já não entende a ausência do objeto como
bem às breve ausências desaparecimento, mas a presença simbólica da mãe ainda não
da mãe e reage às está consolidada.
ausências prolongadas

22
25-A mãe oferece FP Depois de erogenizar o funcionamento do corpo da criança
brinquedos como (15), a mãe também precisa colocar uma interdição para essa
alternativas para o erogenização.
interesse da criança A dosagem da erogenização só é possível se houver a
pelo corpo materno mediatização do interdito entre o corpo materno e o corpo do
bebê. Se a interdição se dá, a criança pode entrar na língua do
desejo.
26-A mãe já não se FP A mãe apresenta-se como “faltante” e ao mesmo tempo dá
sente mais obrigada a abertura às produções de um sujeito.
satisfazer tudo que a
criança pede
27- A criança olha com FP Expressão da triangulação edípica - a mãe deseja outras coisas
curiosidade para o que (a mãe vê outra coisa que não só a criança) e a criança percebe
interessa à mãe que não é e nem tem o que a mãe deseja. Efetiva-se a presença
de um terceiro na relação mãe/criança.
28-A criança gosta de FP A criança se identifica ora com o que vem da mãe, ora com o
brincar com objetos que vem do pai.
usados pela mãe e pelo
pai
29- A mãe começa a FP A mãe introduz a criança no pacto simbólico.
pedir à criança que A nomeação como possibilidade de lidar com a falta e com a
nomeie o que deseja, representação: os objetos podem desaparecer e que é a
não se contentando nomeação que faz com que eles perdurem.
apenas com pequenos
gestos
30- Os pais colocam FP A criança está sendo inserida na cultura. Neste momento,
pequenas regras de pode-se ter um sujeito do desejo e da cultura. Aponta a
comportamento à separação em relação ao Outro.
criança
31-A criança FP Aponta para uma estruturação da noção de Outro para a
diferencia objetos criança.
maternos, paternos e
próprios

*FORAM DESTACADOS EM ITÁLICO CORREÇÕES INTRODUZINDAS NA ÚLTIMA


REVISÃO DESSA APOSTILA REALIZADAS NO CENTRO LYDIA CORIAT

23
V.1 Agrupamento de IRDI por OPERAÇÕES CONSTITUINTES DO SUJEITO
Indicadores do eixo 1: SUPOSIÇÃO DO SUJEITO

(período de 0 a 4 meses incompletos)


2. A mãe fala com a criança num estilo particularmente dirigido a ela (“mamanhês”). (IRDI-20).

(período de 4 a 8 meses incompletos)


9. A mãe fala com a criança dirigindo-lhe pequenas frases. (IRDI-20).

(período de 8 a 12 meses incompletos)


17-Mãe e criança compartilham uma linguagem particular

Indicadores do eixo 2: ESTABELECIMENTO DA DEMANDA

(período de 0 a 4 meses incompletos)


1. Quando a criança chora ou grita, a mãe sabe o que ela quer. (IRDI-20).
3. A criança reage ao “mamanhês”. (IRDI-20).
5. Há trocas de olhares entre a criança e a mãe. (IRDI-20).

(período de 4 a 8 meses incompletos)


7. A criança utiliza sinais diferentes para expressar suas diferentes necessidades. (IRDI-20).
10. A criança reage (sorri, vocaliza) quando a mãe ou outra pessoa está se dirigindo a ela. (IRDI-20).
11. A criança procura ativamente o olhar da mãe. (IRDI-20).

(período de 8 a 12 meses incompletos)


14- A mãe percebe que alguns pedidos da criança podem ser uma forma de chamar sua atenção
15.Durante os cuidados corporais, a criança busca ativamente jogos e brincadeiras amorosas com a mãe. (IRDI-
20).
16. A criança demonstra gostar ou não de alguma coisa. (IRDI-20).
20. A criança faz gracinhas. (IRDI-20).

Indicadores do eixo 3: ALTERNÂNCIA PRESENÇA E AUSÊNCIA

(período de 0 a 4 meses incompletos)


4. A mãe propõe algo à criança e aguarda a sua reação. (IRDI-20).

(período de 4 a 8 meses incompletos)


6. A criança começa a diferenciar o dia da noite. (TB ED) (IRDI-20).
8. A criança solicita a mãe e faz um intervalo para aguardar sua resposta. (TB ED) (IRDI-20).
12- A mãe dá suporte às iniciativas da criança sem poupar-lhe esforços
13-A criança pede ajuda de outra pessoa sem ficar passiva

(período de 8 a 12 meses incompletos)


18- A criança estranha pessoas desconhecidas para ela
19- A criança possui objetos prediletos

(período de 12 a 18 meses incompletos)


23- A mãe alterna momentos de dedicação à criança com outros interesses
24-A criança reage bem às breve ausências da mãe e reage às ausências prolongadas

24
Indicadores do eixo 4: INSTALAÇÃO DA FUNÇÃO PATERNA

(período de 8 a 12 meses incompletos)


21-A criança busca o olhar de aprovação do adulto
22. A criança aceita alimentação semi-sólida, sólida e variada. (IRDI-20).

(período de 12 a 18 meses incompletos)


23. A mãe alterna momentos de dedicação à criança com outros interesses. (IRDI-20).
24. A criança suporta bem as breves ausências da mãe e reage às ausências prolongadas. (IRDI-20).
25-A mãe oferece brinquedos como alternativas para o interesse da criança pelo corpo materno
26. A mãe já não se sente mais obrigada a satisfazer tudo o que a criança pede. (IRDI-20).
27- A criança olha com curiosidade para o que interessa à mãe
28-A criança gosta de brincar com objetos usados pela mãe e pelo pai
29.A mãe começa a pedir à criança que nomeie o que deseja, não se contentando apenas com gestos (IRDI-20).
30. Os pais colocam pequenas regras de comportamento para a criança. (IRDI-20).
31-A criança diferencia objetos maternos, paternos e próprios
*FORAM DESTACADOS EM ITÁLICO CORREÇÕES E ACRESCIMOS INTRODUZINDOS NA
ÚLTIMA REVISÃO DESSA APOSTILA REALIZADAS NO CENTRO LYDIA CORIAT

V.2. Agrupamento de IRDI por EIXOS PULSIONAIS


(OLHAR, VOZ, PSICOMOTRICIDADE E HÁBITOS)
OLHAR
(período de 0 a 4 meses incompletos)
5.Há trocas de olhares entre a criança e a mãe.
(período de 4 a 8 meses incompletos)
11.A criança procura ativamente o olhar da mãe
14. A mãe percebe que os pedidos da criança podem ser uma forma de chamar a sua atenção(O, H, V)
(período de 8 a 12 meses incompletos)
16. A criança demonstra gostar ou não de alguma coisa. (O,V,P, H)
18. A criança estranha pessoas desconhecidas para ela.
20.A criança faz gracinhas. (Tb H,O,P)
21. A criança busca o olhar de aprovação do adulto.
(período de 12 a 18 meses incompletos)
27.A criança olha com curiosidade para o que interessa à mãe.

VOZ-COMUNICAÇÃO
(período de 0 a 4 meses incompletos)
1.Quando a criança chora ou grita, a mãe sabe o que ela quer.
2.A mãe fala com a criança num estilo particularmente dirigido a ela (mamanhês).
3.A criança reage ao mamanhês
(período de 4 a 8 meses incompletos)
7.A criança utiliza sinais diferentes para expressar suas diferentes necessidades
8. A criança solicita a mãe e faz um intervalo para aguardar sua resposta. (V, H)
9. A mãe fala com a criança dirigindo-lhe pequenas frases.
10.A criança reage (sorri, vocaliza) quando a mãe ou outra pessoa está se dirigindo a ela.
14. A mãe percebe que os pedidos da criança podem ser uma forma de chamar a sua atenção(O, H, V)

25
(período de 8 a 12 meses incompletos)
16. A criança demonstra gostar ou não de alguma coisa. (8 a 12 m O,V,P, H)
17. Mãe e criança compartilham uma linguagem particular.
(período de 12 a 18 meses incompletos)
26. A mãe já não se sente mais obrigada a satisfazer tudo que a criança pede.(H, V, P)
29. A mãe começa a pedir à criança que nomeie o que deseja, não se contentando apenas com gestos.
30. Os pais colocam pequenas regras de comportamento à criança. (H, V, P)
31. A criança diferencia objetos maternos, paternos e próprios.(H,V)

PSICOMOTRICIDADE
(período de 0 a 4 meses incompletos)
3.A criança reage ao mamanhês
4. A mãe propõe algo à criança e aguarda a sua reação (tb H)
(período de 4 a 8 meses incompletos)
10.A criança reage (sorri, vocaliza) quando a mãe ou outra pessoa está se dirigindo a ela.
12. A mãe dá suporte às iniciativas da criança sem poupar-lhe o esforço.
13.A criança pede a ajuda de outra pessoa sem ficar passiva.

(período de 8 a 12 meses incompletos)


15. Durante os cuidados corporais, a criança busca ativamente jogos e brincadeiras amorosas com a
mãe.(tb H)
16. A criança demonstra gostar ou não de alguma coisa. (tb O,V,H)
20.A criança faz gracinhas. (Tb H,O,P)

(período de 12 a 18 meses incompletos)


26. A mãe já não se sente mais obrigada a satisfazer tudo que a criança pede.(H, V, P)
30. Os pais colocam pequenas regras de comportamento à criança. (H, V, P)

HÁBITOS
(período de 0 a 4 meses incompletos)
4. A mãe propõe algo à criança e aguarda a sua reação (tb P)

(período de 4 a 8 meses incompletos)


6. A criança começa a diferenciar o dia da noite.
8.A criança solicita a mãe e faz um intervalo para aguardar sua resposta. (tb V)
(8 a 12 m)
14.A mãe percebe que os pedidos da criança podem ser uma forma de chamar a sua atenção (O, H, V)
15. Durante os cuidados corporais, a criança busca ativamente jogos e brincadeiras amorosas com a
mãe.(tb P).
16. A criança demonstra gostar ou não de alguma coisa. (tb O,V,P, H)
19. A criança possui objetos prediletos.
20.A criança faz gracinhas. (Tb H,O,P)
22.A criança aceita alimentação semi-sólida, sólida e variada.

26
(período de 12 a 18 meses incompletos)
23.A mãe alterna momentos de dedicação à criança com outros interesses.
24 A criança suporta bem as breves ausências da mãe e reage às ausências prolongadas.
25. A mãe oferece brinquedos como alternativas para o interesse da criança pelo corpo materno.
26. A mãe já não se sente mais obrigada a satisfazer tudo que a criança pede.(H, V, P)
28. A criança gosta de brincar com objetos usados pela mãe e pelo pai.
30. Os pais colocam pequenas regras de comportamento à criança. (H, V, P)
31. A criança diferencia objetos maternos, paternos e próprios.(H,O,V)
Fazemos notar que os indicadores não pretendem isolar apenas um âmbito de
comparecimento, simplesmente colocam algum em relevo de forma articulada com os
outros, tal como ocorre na vida espontânea do bebê.

As notações são tb= também


O = olhar
V= voz
H = hábitos
P= psicomotricidade

27
VI. INSTRUÇÕES PARA APLICAÇÃO DO PROTOCOLO
A) Com quem aplicar o Instrumento:
Em diferentes itens do instrumento, consta a referência à “mãe da criança”, que deverá ser
entendida não apenas como a mãe biológica, mas como aquela/aquele que fala com e da criança, cuida
dela e sustenta um projeto de vida para ela. Caso a criança não seja levada à consulta por este cuidador
principal, deve-se colocar uma observação a respeito no item acompanhante.

B) Procedimentos para Aplicação:

1– Pretende-se que a observação dos indicadores apresentados seja uma tarefa simples e rápida,
para ser realizada durante a consulta pediátrica de rotina. O preenchimento da grade do protocolo
deve ser realizado imediatamente após o término da consulta. Sugere-se a leitura dos indicadores
relativos à faixa etária do paciente logo antes da consulta, para tê-los mais presentes durante o
transcurso da mesma.

2– Não são necessários materiais especiais para a aplicação do protocolo. Podem ser utilizados
brinquedos disponíveis – presentes no consultório ou trazidos pela mãe –, assim como objetos
que normalmente estão presentes na consulta: caneta, fita métrica, chaves, espátula de madeira,
folha, caneta, etc.

3– As informações de rotina colhidas pelo agente de saúde a partir do relato do cuidador da criança
podem, junto com o que foi observado, ser utilizadas para complementar a verificação dos
indicadores. Se o agente de saúde, para complementar sua observação e leitura acerca das
produções do bebê ou para certificar-se delas, tiver necessidade de perguntar à mãe sobre algum
indicador, recomenda-se que isso seja feito de forma ampla e indireta para não induzir respostas
simplesmente afirmativas ou negativas. Pode-se, por exemplo, pedir à mãe que fale sobre como
a criança está ou o que ela pensa do seu desenvolvimento.

4– O pesquisador utilizará o seguinte código para registro no protocolo:


P = Indicador Presente
*A = Indicador Ausente (o indicador encontra-se ausente quando, durante a consulta,
tem-se claro os momentos (as cenas) que o desencadeariam, mas não se observa reação por parte da
criança ou por parte do cuidador)
NV = Indicador Não verificado (o indicador não pode ser verificado quando não aparece
durante a consulta o momento/cena responsável pelo seu desencadeamento)

• Ao marcar Ausente, incluir na coluna “observações” nota que justifique tal escolha.

5– O pesquisador deverá fazer o registro no protocolo do seguinte modo:

• Registrar Presença (P), Ausência (A) ou Não Verificação (NV) dos indicadores relativos à faixa
etária da criança. O espaço da primeira coluna, logo após a coluna “indicadores”, será utilizado
para a primeira consulta da criança, a segunda coluna, para a consulta subsequente da criança
na mesma faixa etária. A terceira coluna se refere à faixa etária imediatamente anterior à idade
cronológica da criança e também deve ser preenchida. Existe ainda uma quarta coluna para o
caso de haver uma observação extra.

28
6– Na coluna “observações”, o pesquisador deverá preencher os itens Data de Aplicação, Idade,
Acompanhante (da criança), que constam no início de cada nova faixa etária.
O espaço livre na coluna “observações” ao lado de cada indicador pode ser utilizado para
anotação dos resultados que o pesquisador considera oportunos ou interessantes. O
preenchimento da coluna não é obrigatório, a menos que um indicador esteja ausente na criança.

De modo geral, importa destacar que não se trata de marcar presença ou ausência dos
indicadores por uma única atitude, mas de que o protocolo possibilite ao agente de saúde realizar
uma leitura e um registro clínico do estilo da mãe em relação à criança e, no caso da criança,
quanto ao modo de realizar aquilo que lhe interessa.

7– Como se trata de um instrumento de acompanhamento (monitoramento) do desenvolvimento


psíquico, o profissional deverá observar a criança no mínimo duas vezes em cada faixa etária.
Ou seja, a criança deve ter duas observações na faixa de 0 a 4 meses incompletos; duas
observações na faixa de 4 a 8 meses incompletos; duas observações na faixa de 8 a 12 meses
incompletos e duas observações na faixa de 12 a 18 meses.

A observação e/ou o preenchimento do instrumento IRDI pode ser iniciado em qualquer uma
das quatro faixas etárias. No caso da primeira aplicação ocorrer quando a criança já completou
4 meses, o agente de saúde também preencher (aplicar) os indicadores da faixa pregressa (faixa
de 0 a 4 meses). E, assim, sucessivamente. Ou seja, o agente de saúde, na primeira aplicação
deve sempre preencher os indicadores da faixa imediatamente anterior ou pregressa.

29
C) Padronização do Procedimento: RELATIVO AO IRDI 20

Indicador Como verificar Descritor


0 a 4 meses incompletos
1. Quando a criança Dar preferência à Durante a consulta, o profissional deve ficar atento à forma
chora ou grita a mãe observação direta, como a mãe responde quando a criança chora ou vocaliza.
sabe o que ela quer obter por Essas manifestações da criança podem, então, ser
interrogatório acompanhadas por verbalizações da mãe (por exemplo: “O
somente se que foi? O que você quer? Você está com fome? A fralda está
necessário incomodando?”) ou pelo oferecimento de algo à criança (seio,
chupeta, mudança de posição etc).
Essas reações por parte da mãe demonstram que ela
entendeu que as manifestações da criança representam um
pedido ou uma demanda.
2. A mãe fala com a Observação O “mamanhês” é um estilo particularmente afetivo e
criança num estilo direta aparentemente “infantilizado” que os adultos, principalmente a
particularmente Se necessário, mãe, usam para falar com bebês. Ele se caracteriza pelo tom
dirigido a ela solicitar à mãe que de voz alto e agudo, pela entonação exagerada, por frases
(mamanhês) fale com a criança curtas, com a presença de repetição silábica como (papá,
como faz nenê, mamá, babá etc) e uso de palavras no diminutivo.
habitualmente O “mamanhês” pode não aparecer com facilidade na fala da
mãe durante a consulta, pois a formalidade da consulta pode
inibi-la. Diante dessa situação, e da importância de tal
indicador, o profissional pode falar em “mamanhês” com o
bebê, como forma de provocar um relaxamento no ambiente
de formalidade. Se preferir, o profissional pode pedir à mãe que
converse com o bebê, dizendo-lhe que gostaria de ver a reação
da criança.
3. A criança reage ao O profissional deve ficar atento ao modo como a criança
mamanhês. Observação direta responde nos momentos em que a mãe se comunica com ela
por meio do “mamanhês”.
4. A mãe propõe algo à O profissional deve observar se a mãe, depois de atender a
criança e aguarda a Observação direta uma solicitação da criança, espera pela reação desta, “dando
sua reação um tempo” para ela manifestar satisfação ou insatisfação com
a oferta materna. Por exemplo, após a criança chorar ou
vocalizar a mãe faz uma oferta determinada: muda a postura
da criança, dá-lhe a chupeta, o peito, a mamadeira, oferece-
lhe um brinquedo etc e espera a resposta da criança.
Desse modo, observa-se que no “diálogo” entre a mãe e a
criança há espaços para “perguntas” e “respostas”. Ao criar
intervalos de ação, a mãe está se certificando de que supôs
adequadamente o que a criança estaria demandando.
5. Há troca de olhares Observar se a mãe e a criança, em algum momento, se olham
entre a criança e a Observação direta “ olho no olho” . Ou então se, durante momentos como
mãe alimentação, troca higiênica, diálogo entre mãe e bebê, um
procura pelo olhar do outro, obtendo êxito em tais tentativas.

4 a 8 meses incompletos
6. A criança começa a Este indicador pode ser colhido pelo relato espontâneo da
diferenciar o dia da Interrogatório mãe ou pode ser a ela perguntado dentro da rotina da consulta.
noite Importa observar se a criança já está começando a definir
ritmos em seus hábitos de sono.
7. A criança utiliza A mãe identifica diferentes formas de expressão do bebe tanto
sinais diferentes para Observação direta através das variações sonoras, quanto mimicas e gestuais.
expressar suas e interrogatório
diferentes
necessidades

30
8. A criança solicita a Prestar atenção aos momentos em que a criança chorar, emitir
mãe e faz um Observação direta sons ou reagir corporalmente, e observar se tais manifestações
intervalo para são contínuas ou se aparecem com pausas e oscilações de
aguardar sua intensidade.
resposta. A queixa não deve ser contínua, pois, ao funcionar como um
chamado, a criança já deve ter “aprendido” que depois de
reclamar acontece a resposta materna.
9. A mãe fala com a Cabe observar, no transcorrer da consulta, se a mãe se dirige
criança dirigindo-lhe Observação direta à criança, ou seja, falando, perguntando, contando o que está
pequenas frases. acontecendo, dizendo algo para acalmá-la, chamando a sua
atenção etc. Por exemplo: usando você/tu: “Você está ficando
muito levado, não é? ou usando a terceira pessoa: “o nenê
quer...” ou usando o nome próprio da criança: “Vamos, Paulo.
A consulta já acabou”.
10. A criança reage Observação e, se Deve-se ficar atento às reações da criança quando a mãe e
(sorri, vocaliza) necessário, outras pessoas se dirigirem a ela. Geralmente, o bebê não fica
quando a mãe ou solicitar à mãe que indiferente – ele responde com olhares, vocalizações, sorrisos
outra pessoa está se se dirija a criança e com manifestações sensório-motoras.
dirigindo a ela. ou dirigir-se à
criança
11. A criança procura É importante prestar atenção se, em alguns momentos, a
ativamente o olhar da Observação direta criança, ao olhar, sorrir, vocalizar, se movimentar, busca o
mãe. olhar da mãe. Esse olhar é para ela, de certo modo,
privilegiado em relação ao dos outros, pois é através dele que
a criança obtém reconhecimento de suas manifestações.

8 a 12 meses incompletos
12- (INDICADOR 15 NO Observação direta Estar atento, sobretudo no momento da consulta em que a
IRDI 31) mãe for despir ou vestir a criança para o exame físico,
Durante os cuidados verificando se entre elas se estabelecem jogos e brincadeiras
corporais, a criança busca nos quais a criança oferece à mãe os pés, as mãos ou a barriga
ativamente jogos e e, a mãe responde, por exemplo, beijando, cheirando etc.
brincadeiras amorosas
com a mãe.
13- Observar as manifestações de prazer (aceitação) e desprazer
(INDICADOR 16 NO IRDI Observação direta (rejeição) da criança frente às coisas que lhe são propostas
31) e, se necessário, durante a consulta. Por exemplo, o profissional oferece um
A criança demonstra interrogatório brinquedo e a criança estende a mão para pegá-lo, sorri ou
gostar ou não de alguma então manifesta interesse em pegar os óculos da mãe ou
coisa. mesmo do profissional e, ao ser impedida, reage com raiva.
Caso isso não aconteça, o profissional pode perguntar à mãe
como a criança demonstra sua alegria, tristeza ou raiva frente
aos acontecimentos. Por exemplo, o profissional pode
perguntar à mãe como a criança reage ao banho, ao ser
colocada na cama, ao passear, se manifesta preferências ou
rejeições por certos alimentos etc.

14-(INDICADOR 20 NO Observação direta Durante a consulta, verificar se criança faz espontaneamente,


IRDI 31) e interrogatório ou mesmo imita, “gracinhas” (tais como franzir o nariz, piscar,
fazer biquinho, bater palminhas, dizer “oi”, dar tchau, entre
A criança faz gracinhas. outras), buscando ser olhada e, assim, chamando a atenção
dos outros. Se estes não aparecerem espontaneamente, pode-
se fazer tais gestos, para ver se, diante disso, a criança os
repete.
15-(INDICADOR 22 NO Interrogatório ou Este item pode ser completado a partir das perguntas que
IRDI 31) observação direta fazem parte da rotina pediátrica durante a anamese alimentar.
A criança aceita
alimentação semi-sólida,
sólida e variada.

31
12 a 18 meses
16- (INDICADOR 23 NO Interrogatório e, Caso este indicador não apareça espontaneamente, o
IRDI 31) se possível, profissional pode fazer perguntas diretas a respeito do modo
observação direta como a mãe distribui seu tempo entre os cuidados com o bebê,
A mãe alterna momentos as tarefas domésticas, a atenção com o seu parceiro etc.
de dedicação à criança Perguntar também o que propõe para a criança como
com outros interesses alternativa nos momentos em que não lhe pode dar atenção
direta. Investigar os projetos que a mãe tem além do filho:
estudar, trabalhar etc. Se a mãe não consegue interessar-se
por mais nada além de cuidar da criança, marcar “ausente”.
17- (INDICADOR 24 NO Interrogatório Este item pode ser completado a partir do relato espontâneo
IRDI 31) da mãe ou pode-se perguntar à mãe como a criança reage
quando ela tem de resolver outras coisas e ausentar-se por
A criança suporta bem curto tempo. Chora e se acalma? Não chora? Como é quando
as breves ausências da volta? E também como a criança reage nas situações de
mãe e reage às ausência prolongada: viagens, estadas em hospital, ausências
ausências prolongadas. não habituais ou inesperadas para a criança.
E esperado que a criança suporte bem as breves ausências e
manifeste insatisfação ou sofrimento com as ausências
prolongadas.
18-(INDICADOR 26 NO Observação direta Observar se a mãe percebe e entende as solicitações do
IRDI 31) ou interrogatório bebê, sem, no entanto, sentir-se obrigada a satisfazer todas as
suas vontades, tente mexer em objetos particulares de outros,
A mãe já não se sente em objetos perigosos ou que quebrem com facilidade. Notar se
mais obrigada a satisfazer a mãe tem uma ação interditiva, dizendo, por exemplo, “não
tudo que a criança pede. faça isso”, “aí não pode”, “isso não é seu”, ou compensatória,
oferecendo outros objetos (mais adequados) como alternativa.
19- (INDICADOR 29 NO Observação direta Notar se quando a criança quer algo, ela chora, aponta ou grita
IRDI 31) ou interrogatório e se, diante de tal atitude, a mãe vai logo “adivinhando” e
A mãe começa a pedir à dando o que supõe que a criança quer ou lhe pergunta o que
criança que nomeie o que quer e pede que esta fale alguma coisa. Pode-se também
deseja, não se observar se a criança, para conseguir o que quer, utiliza a fala
contentando apenas com acompanhada ou não de gestos. Isto também pode ser
gestos. perguntado caso não apareça espontaneamente durante a
consulta. Caso a mãe demonstre tendência maior a oferecer
os objetos sem intermediação da linguagem, permanecendo
no lugar de intérprete de tudo que a criança quer, marcar
ausente.
20-(INDICADOR 30 NO Observação direta Observar se a criança pode fazer tudo o que quer ou se a mãe
IRDI 31) ou interrogatório faz, em algum momento, referência ao modo como ela deve se
Os pais colocam comportar. Verificar também se a mãe se preocupa com que a
pequenas regras de criança atenda ao que lhe foi dito. Aparecem ordens simples e
comportamento para a proibições “não” dirigidas à criança. Observar também se a
criança. criança efetivamente obedece.

32
VII- PLANILHA DE APLICAÇÃO -
(primeira avaliação)

Data de nascimento: ____/____/______


Idade: ______ meses
Sexo: _____ (1 - masculino 2 - feminino)

Idade gestacional: _________semanas

Peso ao nascer: ____________g

Posição da criança na família :_______

Duração da amamentação:____meses

Número de consultas pré-natal:_____

Idade materna : _________ anos

APGAR 5 : ___________

Escolaridade Materna : _______


0 -analfabeta
1 - 1 ano
2 - 2 anos
3 - 3 anos
4 - 4 anos
5 - 5 anos
6 - 6 anos

33
FOLHA DE APLICAÇÃO E REGISTRO IRDI -
(INDICADORES DE ALERTA PARA A DETECÇÃO PRECOCE DE RISCO NA
CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA NO ACOMPANHAMENTO DO DESENVOLVIMENTO DO BEBÊ)

NOME DA CRIANÇA: Data de nascimento:


Data da consulta: Data da consulta:
Observações
__ / __ / __ __ / __ / __
(0 a 4 meses incompletos) Acompanhante: Acompanhante:
_____________ _____________

1- (IRDI 15) Quando a criança chora ou


grita, a mãe sabe o que ela quer.
2- (IRDI 15) A mãe fala com a criança
num estilo particularmente dirigido a ela
(mamanhês).
3- (IRDI 15) A criança reage ao
mamanhês
4- (IRDI 15) A mãe propõe algo à criança
e aguarda a sua reação.
5- (IRDI 15) Há trocas de olhares entre a
criança e a mãe.
Data da consulta: Data da consulta: Observações:
__ / __ / __ __ / __ / __
(4 a 8 meses incompletos) Acompanhante: Acompanhante:
_____________ _____________

6- (IRDI 15) A criança começa a


diferenciar o dia da noite.
7- (IRDI 15) A criança utiliza sinais
diferentes para expressar suas diferentes
necessidades
8- (IRDI 15) A criança solicita a mãe e
faz um intervalo para aguardar sua
resposta
9- (IRDI 20) A mãe fala com a criança
dirigindo-lhe pequenas frases.
10- (IRDI 20) A criança reage (sorri,
vocaliza) quando a mãe ou outra pessoa está
se dirigindo a ela.
11- (IRDI 20) A criança procura ativamente
o olhar da mãe.
12 - A mãe dá suporte às iniciativas da
criança sem poupar-lhe o esforço.
13- A criança pede a ajuda de outra pessoa
sem ficar passiva.
Data da consulta: Data da consulta:
__ / __ / __ __ / __ / __
(8 a 12 meses incompletos) Acompanhante: Acompanhante:
_____________ _____________
Observações:
14- A mãe percebe que os pedidos da criança
podem ser uma forma de chamar a sua
atenção.
15- (IRDI 20) Durante os cuidados
corporais, a criança busca ativamente

34
jogos e brincadeiras amorosas com a
mãe.
16- (IRDI 15) A criança demonstra gostar
ou não de alguma coisa.
17- Mãe e criança compartilham uma
linguagem particular.
18- (IRDI 15) A criança estranha pessoas
desconhecidas para ela.
19- A criança possui objetos prediletos.

20- (IRDI 20)A criança faz gracinhas.

21- A criança busca o olhar de aprovação do


adulto.
22- (IRDI 15) A criança aceita
alimentação semi-sólida, sólida e variada.
Data da consulta: Data da consulta:
__ / __ / __ __ / __ / __
(12 a 18 meses incompletos) Acompanhante: Acompanhante: Observações:

23-(IRDI 15) A mãe alterna momentos de


dedicação à criança com outros interesses.
24- (IRDI 15)A criança suporta bem as
breves ausências da mãe e reage às
ausências prolongadas.
25- A mãe oferece brinquedos como
alternativas para o interesse da criança pelo
corpo materno.
26- (IRDI 15) A mãe já não se sente mais
obrigada a satisfazer tudo que a criança
pede.
27- A criança olha com curiosidade para o
que interessa à mãe.
28- A criança gosta de brincar com objetos
usados pela mãe e pelo pai.
29- (IRDI 20) A mãe começa a pedir à
criança que nomeie o que deseja, não se
contentando apenas com gestos.
30- (IRDI 15) Os pais colocam pequenas
regras de comportamento à criança.
31- A criança diferencia objetos maternos,
paternos e próprios.

O pesquisador utilizara o seguinte código para registro no protocolo:


P = Indicador Presente A= Indicador Ausente * Neste caso justificar a escolha incluindo nota na coluna “observações”
NV = Indicador Não Verificado.

35
(IRDI 15) - Foram destacados em negrito os 15 indicadores com mais valor de
predictibilidade.

(IRDI 20) -Aos 15 indicadores IRDI enunciados acima agregaram-se + 5 também


verificados de alta sensibilidade no registro do Desenvolvimento Psíquico. Constitui-se
assim o IRDI – 20 que é uma versão simplificada da original para facilitar sua aplicação.

(IRDI 31) Os indicadores inicialmente formulados

Condutas possíveis frente aos resultados verificados na aplicação do


IRDI
Resultado Interpretação Conduta
Todos os indicadores Desenvolvimento Manter a rotina de seguimento.
presentes psíquico em curso ou em
andamento
Um a quatro dos IRDI-20 Desenvolvimento Marcar retorno em espaço curto de tempo
ausentes psíquico com sinais de (15 dias a um mês) e realizar anamnese
sofrimento ampliada. Reavaliar em no mínimo dois
retornos se os indicadores ausentes se
tornaram presentes. Caso os indicadores se
mantenham ausentes por mais de dois meses,
encaminhar para avaliação com psicólogo
especialista em intervenção precoce.

Cinco ou mais IRDI-20 Risco de detenção do Encaminhar para avaliação com psicólogo
ausentes desenvolvimento especialista em intervenção precoce e para
psíquico neuropediatra.*
*a indicação acima foi feita pelos pesquisadores do
irdi-20. no trabalho com a rede sampa em curso de
“detecção precoce” consideramos aqui a
imprescindível importância da articulação do trabalho
interdisciplinar e intersetorial da rede na avaliação e
encaminhamento!!!! para se ter em conta os aspectos
orgânicos e psíquicos implicados no desenvolvimento
assim como a especificidade do bebê a fim de não
lança-lo a multiplos tratamentos fragmentadores de
sua constituição e do exercício da função materna.
Isso tendo em conta que, nem em todas as localidades
contamos com a possibilidade de especialistas em
estimulação precoce compondo a equipe
interdisciplinar. (*nota nossa).

36
Parte VIII: AP3-
AVALIAÇÃO PSICANALÍTICA A PARTIR DOS 3 ANOS

Tabela 2: Sintomas Clínicos obtidos na AP3


Legenda: SIRP = Sintoma Indicador de Risco Psíquico
Eixo de avaliação Sintomas

I. O brincar e a fantasia

1. Violência no brincar
2. Ausência de enredo
3. Inibição
4. Inconstância
5. Emergência de angústia ou medo durante o brincar
6. Falta de iniciativa, passividade e falta de curiosidade
7. Manipulação mecânica dos brinquedos (SIRP)
8. Pobreza simbólica
9. Atividade ou movimentos repetitivos (SIRP)
10. Recusa no brincar
11. Ausência de faz-de-conta

II. O corpo e sua imagem


1. Dificuldade no controle esfincteriano
2. Agitação motora
3. Atuações agressivas
4. Ausência do reconhecimento de si como menino ou menina
5. Colagem no corpo da mãe
6. Dificuldades alimentares:
a. Alimentação seletiva
b. Recusa de alimentação sólida (SIRP)
c. Dificuldade alimentar não especificada
d. Obesidade
e. Recusa do alimento

7. Dificuldades motoras
8. Dificuldade de separação
9. Doenças de repetição (amidalite. Otite, bronquite)
10. Doenças Psicossomáticas (alergias, asma, dores
inespecíficas)
11. Exposição a perigos
12. Demanda insistente do olhar do outro
13. Passividade
14. Falhas no reconhecimento de si no espelho
15. Impossibilidade de suportar o olhar do outro (SIRP)
16. Preocupação excessiva com a sujeira
17. Alterações do sono
18. Auto-agressão (SIRP)
19. Interrupção no crescimento
20. Inibição diante do olhar do outro

37
III. Manifestação diante das normas e posição frente à Lei
1. Birras prolongadas
2. Criança tem que ser castigada para obedecer
3. Confusão e angústia frente à lei
4. Desobediência desafiadora
5. Conhece os limites mas não os respeita
6. Recusa da presença do terceiro (SIRP)
7. Recusa do não (SIRP)
8. Submissão excessiva à lei (SIRP)
9. Criação de medos substitutivos da lei (SIRP)
10. Negativismo

IV. Fala e posição na Linguagem


1. Ausência de pronomes pessoais (SIRP)
2. Repetição ecolálica (SIRP)
3. Troca de letras ou sílabas na fala
4. Fala infantilizada
5. Linguagem incompreensível com tentativa de interlocução
6. Linguagem incompreensível sem busca de interlocução (SIRP)
7. Pobreza expressiva
8. Pobreza de vocabulário
9. Uso da terceira pessoa para referir-se a si mesmo (SIRP)

10. Fala traduzida pelo cuidador


11. Inibição
12. Não forma frases (pobreza simbólica) H

INSTRUÇÕES DE INTERPRETAÇÃO AP3


AP3 (AVALIAÇÃO PSICANALÍTICA A PARTIR DOS 3 ANOS DE IDADE)
A presença de dois indicadores seja em duas diferentes categorias de análise (O brincar e a fantasia,
O corpo e sua imagem, Manifestação diante das normas e a posição frente a lei, A fala e a posição na
linguagem) ou na mesma categoria é indicadora de risco psíquico para o desenvolvimento. Já a
presença de um único indicador incluso na série dos Sintomas Conclusivos é suficiente para concluir
que essa criança se encontra em curso de constituir uma patologia grave na sua estruturação como
sujeito com os consequentes transtornos no seu desenvolvimento.

38
Resultados estatísticos
Com base nos resultados obtidos na AP3, procedeu-se a análise de avaliação do IRDI para
predição de risco e de problemas de desenvolvimento, estabelecendo os respectivos riscos relativos
com cálculo dos intervalos de confiança a 95%. Essa análise de validação foi feita de duas formas:
considerando o instrumento como um todo e tomando cada um dos 31 indicadores isoladamente.
Foram extraídos conjuntos de indicadores (Fatores), em cada período por meio de uma análise
de Componentes Principais (ACP) e, posteriormente foram estudados segundo a sua capacidade
preditiva de risco psíquico e de problemas de desenvolvimento. Para ser considerado caso, a
criança teria de ter pelo menos um indicador ausente entre aqueles que compunham o fator.
Analise de componentes principais (ACP) estudou a interdependência entre as variáveis
investigadas.
As matrizes de correlação contendo as respostas às questões de cada período de avaliação foram
utilizadas para a ACP. Para a determinação do número de fatores da ACP, foi utilizado o critério
de manter os fatores correspondentes aos “eigenvalues” da matriz maiores do que a unidade.
Depois de encontradas a matrizes cargas fatoriais, foi utilizado o método de rotação Varimax. A
matriz de cargas fatoriais rodadas foi utilizada para a interpretação dos fatores, e foram
consideradas apenas as que tiveram valores acima de 0,40.
A análise estatística apontou que o IRDI como um todo possui uma capacidade maior de
predizer problemas de desenvolvimento do que a capacidade de predizer o risco psíquico. Alem
disso, apontou alguns indicadores, isoladamente ou em grupos, com capacidade de predição de
risco psíquico ou de problemas de desenvolvimento, apresentados na tabela abaixo.

Análise preditiva dos casos identificados no IRDI (dois indicadores ausentes até 18 meses)
que podem apresentar risco psíquico ou problemas de desenvolvimento aos 3 anos de idade.

Proporção de positivos IRDI corte ½ indicadores atuais


Avaliação clínica psicanalítica Casos Controles Total
Riso Psíquico 19% 11,5 % 16,1%
Problemas de desenvolvimento 70,3% 57,4% 64,6%
Total 158 122 280

A tabela seguinte apresenta os quatro indicadores que tiveram capacidade de predição de risco
psíquico estatisticamente significante. Apresenta, ainda, dois indicadores que mostram capacidade de
predição de risco e também de problemas de desenvolvimento.

Indicador Risco relativo Intervalo de confiança 95%

Risco psíquico
7. A criança utiliza sinais diferentes para 3,46 1,19 – 10,07
expressar suas diferentes necessidades
18. A criança estranha pessoas
desconhecidas para ela 2,93 1049 – 5,73
22. A criança aceita alimentação semi-
solida, solida e variada 3,75 1,37 – 10,28
30. Os pais colocam pequenas regras de
comportamento para a criança 4,19 1,74 – 10,06
Problemas de desenvolvimento

39
24. A criança suporta bem as breves
ausências da mãe e reage às prolongadas 2,83 1,26 – 6,35

26. A mãe já não se sente mais obrigada a


satisfazer tudo que acriança pede 3,01 1,11 – 8,14

Os seguintes conjuntos de indicadores, após análise estatística fatorial, tiveram correlação


significante para predizer risco psíquico:
• na faixa de 0 a 4 meses; todos os cinco indicadores formam um fator só, que é significante
para predizer riscos psíquicos;
• na faixa de 4 a 8 meses: há um fator formado pelos indicadores 6, 7, 8 e 9 que é significante
para predizer risco psíquico;
• na faixa de 8 a 12 meses: há um fator formado pelos indicadores 16 e 22 que é significante
para predizer risco psíquico;
• na faixa de 12 a 18 meses; há um fator formado pelos indicadores 23, 24, 26 e 30 que é
significante para predizer risco psíquico e também para predizer risco para o
desenvolvimento.

A pesquisa IRDI teve também os objetivos de descrever o perfil epidemiológico dos usuários da
rede publica de atenção à criança em relação aos IRDs, e verificar a possível associação com as
características clínica de crianças atendidas nessa rede. Os resultados mostraram que não há associação
entre características clínicas específicas das crianças atendidas na rede pública e risco psíquico.
A partir desses resultados, um novo IRDI foi construído, no qual figuram os 15 indicadores de
poder preditivo para risco psíquico.

Idade em meses Indicadores


1- Quando a criança chora ou grita, a mãe sabe o que ela quer.
2- A mãe fala com a criança num estilo particularmente dirigido a ela
0 a 4 incompletos (mamanhês).
3- A criança reage ao mamanhês.
4- A mãe propõe algo à criança e aguarda a sua reação.
5- Há trocas de olhares entre a criança e a mãe.
6- A criança começa a diferenciar o dia da noite.
7- A criança utiliza sinais diferentes para expressar suas diferentes
4 a 8 incompletos necessidades.
8- A criança solicita a mãe e faz um intervalo para aguardar sua resposta.
9- A criança demonstra gostar ou não de alguma coisa.
8 a 12 incompletos 10- A criança estranha pessoas desconhecidas para ela.
11- A criança aceita alimentação semi-sólida, sólida e variada.
12- A mãe alterna momentos de dedicação à criança com outros interesses.
13- A criança suporta bem as breves ausências da mãe e reage às ausências
prolongadas.
12 a 18 14- A mãe já não se sente mais obrigada a satisfazer
incompletos tudo que a criança pede.
15- Os pais colocam pequenas regras de comportamento para a criança.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA APOSTILA IRDI INICIAL:

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Distúrbios Mentais (DSM-IV). 3a ed., São Paulo, Manole.
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Infantil no Brasil in Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 48 (10) 449-452.
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partir de uma pesquisa. Revista da Associação Psicanalítica de Curitiba, n.20, 131-46.
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Uma intervenção com educadores de creche a partir da psicanálise. In: KUPFER, M.C.M.;

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WANDERLEY, D. Palavras em Torno do Berço. Salvador, Ágalma.
- MARIOTTO, R. M.M. O instrumento IRDI no campo da saúde: aplicações, implicações e reflexões.
IN: In: KAMERS, M.; MARCON, H. H. & MORETTO, M. L.T. (orgs). Desafios Atuais das Práticas
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In FLAKNER, F. Desarrollo humano. Vol. I. Ed. Salvat, Barcelona, 1969.
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- PESARO, M. E. (2010). Alcance e limites teórico-metodológicos da pesquisa multicêntrica de
indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil. São Paulo (SP): Universidade de São
Paulo.

TEXTOS DE REFERÊNCIA UTILIZADOS PARA ESTE CURSO:

- JERUSALINSKY, Alfredo. Para proteger os bebês. In: Mente e Cérebro nº 249, 2013, São Paulo.
- _______________. Haveria um quarto momento do estádio do espelho, In: Maria Cristina Kupfer e
Myriam Szejer (Org.). Luzes sobre a clínica e desenvolvimento de bebês: novas pesquisas, saberes e
intervenções. Instituto Langage, 2016;
- _________________________. A criança de 1 a 3 anos: indicadores de risco para seu
desenvolvimento. In: Guilherme Vanoni Polanczyk e Maria Teresa Martins Ramos Lamberte. (Org.).
Psiquiatria da infância e Adolescência. Manole, 2012;
- JERUSALINSKY, Julieta. Estimulação precoce. Um olhar que faz diferença. A mente do bebê: o
fascinante processo de formação do cérebro e da personalidade. Vol. 3. 3. ed. rev. e atual. São Paulo:
Duetto, 2011. p. 86-91.
- _______________. (2011). Leitura de bebês. In: a criação da criança, brincar, gozo e fala entre a
mãe e o bebê. Salvador: Àgalma.
-_________ (2015). Detecção precoce de sofrimento e psicopatologia na primeira infância - A
desobediência dos bebês aos critérios nosográficos deve ser considerada -. In: por uma (nova)
psicopatologia da infância. Org: Michele Kamers, São Paulo: Escuta, 2015, p. 103-115.
-Melo, M.S.; Almeida C. Considerações sobre a intervenção em dupla de terapeutas na formação do
clínico em E.P. (2013) in: Encontro nacional/internacional sobre o bebê, 2013, São Paulo.

- TEXTOS E VIDEOS DE REFERÊNCIA E DE FUNDAMENTAÇÃO PARA


ESTE CURSO, ALÉM DOS APONTADOS ACIMA, ACESSÍVEIS NA
INTERNET:
- Jerusalinsky, J. Aera da palmatória clínica: responsabilidade social e medicalização da infância, in:
Blog Criança em desenvolvimento, Estadão on-line, 7 de agosto de 2014. Disponível em:
https://emais.estadao.com.br/blogs/crianca-em-desenvolvimento/a-era-da-palmatoria-quimica-
responsabilidade-social-e-medicalizacao-da-infancia/

42
-_____________(2016, 4 de abril). Qual é o lugar para os pequenos na rede SUS? in: Blog Criança
em desenvolvimento, Estadão on-line, 7 de agosto de 2014, disponível em:
https://emais.estadao.com.br/blogs/crianca-em-desenvolvimento/qual-o-lugar-para-os-pequenos-na-
rede-sus/

_________(2017) atenção: nem todo sofrimento na primeira infância é autismo. Comunicação oral
em encontro do MPASP, Porto Alegre, 11 de abril de 2017, Colégio IPA. Publicado em correio da
APPOA disponível em:
http://www.appoa.com.br/correio/edicao/266/atencao_nem_todo_sofrimento_na_primeira_infancia_
e_autismo_mas_precisa_ser_tratado_favorecendo_a_constituicao/455

________________ detecção de risco psíquico em bebês. Texto de opinião no Jornal Folha de São
Paulo, 29 de setembro de 2017 disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/09/1922734-deteccao-de-risco-psiquico-em-
bebes.shtml
_________. (2018). Detecção de sofrimento psíquico versus patologização da primeira infância: face
à Lei Nº 13.438/17 do ECA. In: Estilos da Clínica,V.23 N.1: Dossiê os psicanalistas e a Polis. Instituto
de Psicologia da USP: São Paulo, p. 83-99. Disponível em:
http:/www.revistas.usp.br/estic/article/view/144671

Kupfer, M. C. M. et al. (2009). Valor preditivo de indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento
infantil: um estudo a partir da teoria psicanalítica. Latin American Journal of Fundamental
Psychopathology Online, 6(1), 48-68.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142010000100003

- link de mesa no CEP acerca da detecção precoce de risco psíquico ocorrida em 18 de maio de 2018
com participação de Julieta e Alfredo Jerusalinsky https://www.youtube.com/watch?v=zAEKT7t4ZjU

-Link de palestra de Julieta Jerusalinsky, aberta ao público realizada pelo Grupo Jaime Câmara,
Goiânia, julho de 2017, como parte integrante das atividades de formação no curso de especialização
do Centro Lydia Coriat em Clínica da Estimulação Precoce, contando com a organização de Denise
Carneiro, Marla Moreira Avelar e Marcela Haik Malland Fonseca
https://www.youtube.com/watch?v=hsqiQzC0Chk&t=1695s

OUTROS TEXTOS E VIDEOS DE FUNDAMENTAÇÃO PARA ESTE CURSO disponíveis


no site do Instituto Travessias da Infância: Centro de Estudos Lydia Coriat São Paulo.
https://www.travessiasdainfancia.com/

REALIZAÇÃO DA PRIMEIRA APOSTILA UTILIZADA DURANTE A PESQUISA:


Grupo Nacional de Pesquisa (GNP):Alfredo N. Jerusalinsky (coordenação científica); Danielle de
Brito Wanderley; Domingos Paulo Infante; Flavia Gomes Dutra; Léa Martins Salles; Leda M.
Fischer Bernardino; Maria Cecília Casagrande; Maria Cristina Machado Kupfer (coordenação geral);
Maria Eugênia Pesaro (coordenação técnico-administrativa); Octavio Almeida de Souza; Paulina S.
Rocha. Colaboraram na elaboração dessa apostila todos os monitores envolvidos na Pesquisa

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REVISÃO E ELABORAÇÃO DA APOSTILA UTILIZADA NESTE CURSO (incluindo o
cruzamento os indicadores com operações constituintes do sujeito e com eixos de
comparecimento no olhar, voz, hábitos e psicomotricidade) – Julieta Jerusalinsky, Alfredo
Jerusalinsky, Maribel de Salles Melo (fevereiro 2021).

ÚLTIMA BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA PAR ESTE CURSO:


JERUSALINSKY E MELO. Quando algo não vai bem com o bebê: detecção e intervenções
estruturantes em Estimulação Precoce, Salvador: Ágalma, 2020.

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