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Carga horária: 25h

Formador: Ana Ramos

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Índice

Introdução ………………………………………………………………………………………………………………………………2
Objetivos ………………………………………………………………………………………………………………………………..3
Conteúdos programáticos ..………………………………………………………………………………………….…………3
1. Intervenção precoce ………………….……………………………………………………………………………………….4
1.1 – Definição …………………………………………………………………………………………………………..4
1.2 – Destinatários …………………………………………………………………………………………………….6
1.3 – Modelo de intervenção e articulação – Saúde, Educação e Segurança Social
1.3.1 – Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância – SNIPI ……………6
1.3.2 – Organização e competências …………………………………………………………….7
1.3.3 – Critérios de elegibilidade e encaminhamento …………………………………..10
1.3.4 – Metodologia de intervenção dos organismos competentes ……………..11
1.3.5 – Papel das equipas locais de intervenção (ELI) - Articulação da
intervenção multidisciplinar ……………………………………………………………………….12
2. Problemas de desenvolvimento
2.1 – Identificação de sinais de alarme - critérios de elegibilidade ……………………………14
3. Papel do profissional – Criação de condições adequadas ao desenvolvimento infantil …….17
4. Cuidados a prestar à criança ………………………………………………………………………………………….….22
5. Papel da família e da comunidade – Intervenção centrada na família ……………………………….23
Bibliografia/webgrafia ……………………………………………………………………………………………………….….28

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Introdução

Com o presente manual procura-se fornecer um documento físico elementar que sirva de fio
condutor estruturante das sessões de formação, colmatando lacunas mais teóricas,
constituindo um suporte explanatório das questões relativas à UFCD 9632 – Sistema Nacional
de Intervenção Precoce na Infância, no âmbito do setor 761Serviços de Apoio a Crianças e
Jovens, do Curso EFA de Técnico de Ação Educativa – nível 4, tipologia desempregados com o
mínimo do 9.º ano de escolaridade, 3.03.

Pretende-se dotar os formandos de conhecimentos de forma que tomem conhecimento sobre


o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância, a sua estrutura e principais funções,
assim como os problemas de desenvolvimento da criança que podem ser alvo de intervenção
no âmbito deste programa e a sua componente transversal e multidisciplinar de trabalho
contínuo com a comunidade educativa e a família da criança.

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Objetivos

 Reconhecer o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância;


 Reconhecer a importância da articulação entre as Equipas Locais de Intervenção e a
família;
 Caracterizar o modelo de intervenção e a sua articulação com os vários subsistemas;
 Identificar sinais de alarme no desenvolvimento de crianças e jovens.

Conteúdos Programáticos

1. Intervenção precoce
1.1. Definição
1.2. Destinatários
1.3. Modelo de intervenção e articulação – Saúde, Educação e Segurança
Social
1.3.1. Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância – SNIPI
1.3.2. Organização e competências

1.3.3. Critérios de elegibilidade e encaminhamento

1.3.4. Metodologia de intervenção dos organismos competentes


1.3.5. Papel das equipas locais de intervenção (ELI) - Articulação da
intervenção multidisciplinar

2. Problemas de desenvolvimento
2.1. Identificação de sinais de alarme - critérios de elegibilidade

3. Papel do profissional – Criação de condições adequadas ao desenvolvimento infantil


4. Cuidados a prestar à criança
5. Papel da família e da comunidade – Intervenção centrada na família

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1. Intervenção precoce

A Intervenção Precoce destina-se a crianças até à idade escolar (entre os 0 e 6 anos)


que estejam em risco de atraso de desenvolvimento, manifestem algum tipo de deficiência,
ou necessidades educativas especiais, consistindo num conjunto de serviços prestados pelo
Estado, articulando-se entre serviços educativos, sociais e terapêuticos, e que abrangem as
crianças sinalizadas e as suas famílias, cujo objetivo é o de minimizar os efeitos nefastos no
seu desenvolvimento e o impacto na sua vida.
Deste modo, a Intervenção Precoce pode ser de natureza preventiva primária ou
secundária: procurando contrariar a manifestação de problemas de desenvolvimento ou
prevenindo a sua ocorrência. Deve iniciar-se entre o nascimento e a idade de entrada na
escola, e, sempre que possível, deverá decorrer em ambiente familiar onde a criança viva ou
que habite durante a maioria do seu dia.
Em regra geral, a intervenção inicia-se a partir de uma sinalização que poderá ser feita
pelo hospital, creche, jardim infantil, ou pela própria família, seguindo-se depois uma
avaliação e diagnóstico por técnicos especializados que desenham e implementam um
programa de intervenção específico e focado em cada criança e no seu contexto familiar.

1.1. Definição

A Intervenção Precoce na Infância reflete-se num conjunto de medidas de apoio


integrado, dirigido à criança e à sua família, que inclui ações de natureza preventiva e
reabilitativa, atuando em três principais pilares: a educação, a saúde e a ação social.
A intervenção precoce junto de crianças até aos 6 anos de idade, com alterações ou
em risco de apresentar alterações nas estruturas ou funções do corpo, tendo em linha de
conta o seu normal desenvolvimento, constitui um instrumento político do maior alcance na
concretização do direito à participação social dessas crianças e dos jovens e adultos em que se
irão tornar. Quanto mais precocemente for desencadeado o processo de intervenção e
ativadas as políticas que afetam o crescimento e o desenvolvimento infantil, mais capazes as
crianças serão de se tornarem cidadãos competentes e autónomos, participando ativamente
na vida social da comunidade.
Depois de definidas as medidas a aplicar em cada caso e contexto, é desenhado e
implementado um Plano Individual de Intervenção Precoce (PIIP) por parte das Equipas Locais

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de Intervenção (ELI), constituídas por profissionais multidisciplinares de cada área que é
chamada a intervir (educação, saúde, ação social).
O PIIP é elaborado em função do diagnóstico de cada situação, envolvendo a
avaliação da criança nos seus diversos contextos (familiar, escolar, entre outros) e reflete-se
no documento que reúne toda a informação recolhida pelos técnicos, os registos de todos os
aspetos de intervenção e ainda a descrição do seu processo de implementação, sendo
posteriormente subscrito e assinado pelas famílias de cada criança.

OS OBJETIVOS DA INTERVENÇÃO PRECOCE NA INFÂNCIA SÃO:

 Assegurar às crianças a proteção dos seus direitos e o desenvolvimento das suas


capacidades;
 Detetar e sinalizar todas as crianças com necessidades de intervenção precoce;
 Intervir junto das crianças e famílias, em função das necessidades identificadas, de
modo a prevenir ou reduzir os riscos de atraso de desenvolvimento;
 Apoiar as famílias no acesso a serviços e recursos dos sistemas de segurança social, de
saúde e de educação;
 Envolver a comunidade através da criação de mecanismos articulados de suporte
social.

É IMPORTANTE INTERVIR PRECOCEMENTE PORQUE:

 Quanto mais cedo se iniciar a intervenção, maior será o sucesso do potencial


desenvolvimento da criança;
 É necessário proporcionar também apoio e assistência às famílias nos momentos mais
críticos;
 Quanto mais cedo se iniciar o processo de intervenção, maiores serão os benefícios
sociais prestados à criança e à família;
 A investigação científica realizada nesta área já demonstrou que grande parte das
aprendizagens e do desenvolvimento ocorre de forma mais célere na idade pré-
escolar, pelo que os resultados são potencialmente mais positivos nesta fase.

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OS ESTUDOS RECENTES REALIZADOS NA ÁREA INDICAM QUE:

 O potencial de cada criança só é completamente evidente se houver uma identificação


precoce e uma intervenção programada e individualizada;
 Os serviços de Intervenção Precoce podem ter um impacto significativo nos familiares
das crianças em risco, pois, de forma geral, estes experienciam sentimentos de
deceção, isolamento social, stress, frustração e desespero;
 O stress acrescido das dificuldades no apoio a uma criança com algum tipo de
deficiência influência negativamente o bem-estar de toda a família, perturbando esse
mesmo apoio e o desenvolvimento da criança;
 As famílias de crianças com deficiência são mais suscetíveis a viver situações como o
divórcio e o suicídio e, de igual forma, as crianças com deficiência são mais suscetíveis
ao abuso e negligência do que as crianças sem deficiência;
 A Intervenção Precoce deve resultar no desenvolvimento de melhores atitudes
parentai, proporcionando mais informação e melhores ferramentas para lidar com a
sua criança;
 A Intervenção Precoce resulta em ganhos sociais alcançados, uma vez que se verifica
uma diminuição das situações de dependência de instituições sociais e um aumento da
capacidade da família para lidar com a presença de um filho com deficiência.

1.2. Destinatários

Os destinatários da Intervenção Precoce na Infância são as famílias de crianças entre


os 0 e os 6 anos, com alterações nas funções ou estruturas do corpo que limitam a
participação nas atividades típicas para a respetiva idade e contexto social ou com risco grave
de atraso de desenvolvimento.

1.3. Modelo de intervenção e articulação – Saúde, Educação e Segurança Social

1.3.1 Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância – SNIPI

O Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI) consiste num conjunto


organizado de entidades institucionais que têm como missão garantir a Intervenção Precoce
na Infância (IPI), de forma integrada e articulada entre os vários agentes.

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A ação coordenada das várias entidades institucionais é distribuída entre o Ministério
do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, o Ministério da Educação e o da Saúde, em
conjunto com as famílias e a comunidade em que a criança se insere, tendo sido criado ao
abrigo do Decreto – Lei nº 281/2009 publicado em Diário da República, e regendo-se também
na sequência dos princípios estabelecidos na Convenção das Nações Unidas para os Direitos
da Criança e no âmbito do Plano de Ação para a Integração das Pessoas com Deficiência ou
Incapacidade (2006-2009).

A operacionalização do SNIPI pressupõe assegurar um sistema de interação entre as


famílias e as instituições e, na primeira linha, as da saúde, para que todos os casos sejam
devidamente identificados e sinalizados tão rapidamente quanto possível. Assim, devem ser
acionados os mecanismos necessários à definição de um plano individual (Plano Individual de
Intervenção Precoce – PIIP) atento às necessidades das famílias, elaborado por Equipas Locais
de Intervenção (ELI), multidisciplinares, que representem todos os serviços envolvidos.
O PIIP deve constituir-se como um instrumento de organizador para as famílias e para
os profissionais envolvidos, estabelecer um diagnostico adequado, tendo em conta não
apenas os problemas, mas também o potencial de desenvolvimento da criança, a par das
alterações a introduzir no meio ambiente para que tal potencial se possa afirmar.
Por estes motivos, SNIPI deve assentar na universalidade de acesso, na
responsabilização dos técnicos e dos organismos públicos e na correspondente capacidade de
resposta. Deste modo, é crucial integrar, tão precocemente quanto possível, nas
determinantes essenciais relativas à família, os serviços de saúde, as creches, os jardins-de-
infância e a escola.

1.3.2. Organização e competências

A) Comissão de Coordenação
Tem como principal atribuição assegurar a articulação das ações desenvolvidas ao
nível de cada ministério

Constituída por representantes do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança


Social, Ministério da Educação e Ministério da Saúde.

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Principais competências:
1. Articular as ações dos ministérios através dos departamentos designados
responsáveis para o efeito;
2. Assegurar a constituição de equipas multidisciplinares interministeriais para
apoio aos PIIP;
3. Acompanhar, regulamentar e avaliar o funcionamento do SNIPI;
4. Definir critérios de elegibilidade das crianças, instrumentos de avaliação e
procedimentos necessários à exequibilidade dos PIIP;
5. Elaborar o plano anual de ação, estabelecendo objetivos a nível nacional;
6. Sistematizar informação e elaborar um guia nacional de recursos, enquanto
registo de cobertura da rede de IPSS, de agrupamentos escolares de
referência e da rede de cuidados de saúde primários;
7. Criar uma base de dados nacional, com vista à centralização da informação
pertinente relativa às crianças acompanhadas pelo SNIPI, nos termos a definir
em portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da
solidariedade social, da saúde e da educação, sujeita a consulta à Comissão
Nacional de Proteção de Dados;
8. Promover a formação e a investigação no âmbito da IPI;
9. Apresentar aos membros do Governo responsáveis pelas áreas da
solidariedade social, da saúde e da educação, relatórios anuais de atividade;
10. Proceder a uma avaliação bianual do SNIPI.

B) Subcomissões de Coordenação Regional (SCR)

Subcomissão Regional Norte


Subcomissão Regional Centro
Subcomissão Regional Lisboa e Vale do Tejo
Subcomissão Regional Alentejo
Subcomissão Regional Algarve

Constituídas por profissionais designados pelo três Ministérios.

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Principais competências:
1. Apoiar a Comissão de Coordenação do SNIPI e transmitir as suas
orientações aos profissionais que compõem as Equipas Locais de Intervenção
(ELI);
2. Coordenar a gestão de recursos humanos, materiais e financeiros, segundo
orientações do plano nacional de ação;
3. Proceder à recolha e atualização contínua da informação disponível e ao
levantamento de necessidades da Região, contribuindo para a base de dados
nacional;
4. Planear, organizar e articular a ação desenvolvida com as equipas locais de
intervenção e os núcleos de supervisão técnica;
5. Acompanhar a implementação das equipas locais de intervenção;
6. Designar o elemento coordenador de cada ELI;
7. Integrar/acompanhar os núcleos de supervisão técnica de dimensão
distrital, constituídos por profissionais das várias áreas de intervenção das
entidades previstas no n.º 1, do artigo 1º do presente regulamento, podendo
convidar para o efeito personalidades das áreas científicas e académica.

C) Núcleos de Supervisão Técnica (NST)

Constituídos por profissionais das várias áreas de intervenção dos três ministérios
envolvidos, com formação e experiência na área da IPI, desenvolvendo a sua atuação
de acordo com os Planos de Ação das (SCR) e assumindo-se como estruturas de apoio
às SCR e às ELI.

Principais funções de apoio às (SCR):


1. Apoiar a SCR na articulação direta com as entidades locais responsáveis pelos
profissionais afetos às ELI (ACES, Agrupamentos de Escolas e Instituições com
protocolos com o ISS);
2. Planear, organizar e avaliar o funcionamento das ELI em articulação com a SCR;
3. Proceder à recolha e atualização contínua da informação disponível nas ELI e
ao levantamento das necessidades na sua área de Intervenção;
4. Identificar, em cada Distrito, personalidades das áreas científica e académica
com formação e reconhecida experiência na área da IPI, que possam colaborar
com os NST;

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5. Apoiar a formação e a investigação no âmbito da IPI em estreita colaboração
com a SCR.

Principais funções de apoio às ELI e à comunidade:


1. Análise e verificação da aplicação dos critérios de elegibilidade de crianças
referenciadas para as ELI;
2. Análise e monitorização da aplicabilidade dos conceitos de vigilância e de
encaminhamento das situações referenciadas para outros serviços;
3. Suporte e acompanhamento técnico ao trabalho desenvolvido pelas ELI,
nomeadamente no que se refere à monitorização da construção e
organização dos Processos Individuais das Crianças abrangidas, bem como
à avaliação das medidas e ações previstas no PIIP, promovendo a sua
readequação, sempre que os progressos se manifestem insuficientes;
4. Apoiar e acompanhar a capacitação dos profissionais das ELI, face ao
modelo conceptual, o qual que se traduz num modelo de intervenção
centrado na família e na comunidade, baseado nas preocupações e forças
da família e no reforço das suas competências,
5. Apoiar as ELI na adoção de um modelo de funcionamento transdisciplinar,
promovendo uma dinâmica de partilha de saberes teóricos e teórico-
práticos entre os vários profissionais;
6. Apoiar as ELI na articulação com as diferentes entidades com competência
em matéria de infância e juventude, no sentido de definir procedimentos e
circuitos de sinalização;
7. Promover com as ELI o diagnóstico de necessidades e de recursos da
comunidade, por forma a dinamizar redes de suporte formais e informais.

D) Equipas Locais de Intervenção (ELI)

Constituídas por equipas pluridisciplinares com base em parcerias institucionais


envolvendo vários profissionais (educadores de infância; enfermeiros; médicos de
família/pediatras; assistentes sociais; psicólogos; terapeutas; entre outros).

Principais funções das ELI:


1. Identificar as crianças e famílias imediatamente elegíveis para o SNIPI;
2. Assegurar a vigilância às crianças e famílias que, embora não
imediatamente elegíveis, requeiram avaliação periódica, devido à natureza
dos seus fatores de risco e probabilidade de evolução;
3. Encaminhar crianças e famílias não elegíveis, mas carenciadas de apoio
social;
4. Elaborar e executar o PIIP em função do diagnóstico da situação;

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5. Identificar necessidades e recursos das comunidades da sua área de
intervenção, dinamizando redes formais e informais de apoio social;
6. Articular, sempre que se justifique, com as comissões de proteção de
crianças e jovens, com os núcleos da saúde de crianças e jovens em risco
ou outras entidades com atividade na área da proteção infantil;
7. Assegurar, para cada criança, processos de transição adequados para
outros programas, serviços ou contextos educativos;
8. Articular com os docentes das creches e jardins-de-infância em que se
encontrem colocadas as crianças integradas em IPI.

1.3.3 Critérios de elegibilidade e encaminhamento

De acordo com o Decreto-lei 281/09 de 6 de outubro, são elegíveis para apoio no


âmbito do SNIPI, as crianças entre os 0 e os 6 anos e respetivas famílias, que apresentem:

 “Alterações nas funções ou estruturas do corpo” que limitam o normal


desenvolvimento e a participação nas atividades típicas, tendo em conta os
referenciais de desenvolvimento próprios para a respetiva idade, nível de
desenvolvimento e contexto social;
 “Risco grave de atraso de desenvolvimento” pela existência de condições biológicas,
psicoafectivas ou ambientais que implicam uma alta probabilidade de atraso
relevante no desenvolvimento da criança;

Contudo, é importante também salientar que são elegíveis para acesso ao SNIPI, todas
as crianças do incluídas no primeiro critério, e todas as do segundo que acumulem quatro ou
mais fatores de risco biológico e/ou ambiental, constituindo este facto um ponto essencial na
tomada de decisão de inclusão ou exclusão de cada casa, pois representa um aumento
substancial do efeito do risco (efeito cumulativo do risco).

Algumas definições importantes:

Funções do corpo: funções fisiológicas dos sistemas orgânicos (incluindo as funções


psicológicas ou da mente).

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Estruturas do corpo: partes anatómicas do corpo, tais como, órgãos, membros e os
seus componentes.

Participação do indivíduo ou criança: envolvimento de um indivíduo ou criança numa


situação da vida real.

1.3.4 Metodologia de intervenção dos organismos competentes

Todos os intervenientes dos locais onde a criança habita e com a qual interage são
potenciais referenciadores e indicadores para o desencadear do processo de integração no
SNIPI. Entre eles, é possível referir alguns como o hospital pediátrico, centro de saúde,
maternidade, creche e JI, IPSS, CPCJ, serviços sociais, e a própria família.
Depois de sinalizadas às ELI da área de abrangência, é iniciado o processo de avaliação
e diagnóstico de cada caso, sendo este o primeiro passo de uma intervenção centrada na
criança e na sua família. Neste sentido, é sempre dada a possibilidade de a família decidir
sobre a disponibilidade e local para os primeiros contactos com a equipa, assim como para
todo o processo de intervenção.
Este primeiro passo, o do diagnóstico pelas ELI é essencial, pois só dessa forma é
possível verificar a elegibilidade para o acompanhamento pela IPI, realizar a avaliação
diagnóstica através do levantamento de dados que permita detetar as necessidades e
potencialidades da criança e da família, e fazer o planeamento da intervenção.
No caso de haver critérios de elegibilidade e um parecer positivo para o
desencadeamento do restante processo, é indicado o membro Responsável de Caso, que,
junto com a família e restantes prestadores de cuidados, elaborará o Plano Individual de
Intervenção Precoce (PIIP), contando com a intervenção dos restantes elementos da ELI. É
decidido ainda a modalidade de acompanhamento que poderá ser domiciliário, misto
(domiciliário e institucional) ou outro.
Por fim, a intervenção pressupõe a articulação entre todos os intervenientes,
potenciando melhores resultados para o desenvolvimento da criança.

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1.3.5 Papel das equipas locais de intervenção (ELI) - Articulação da
intervenção multidisciplinar

A articulação das Equipas Locais de Intervenção – ELI, faz-se através da análise


multidisciplinar das sinalizações recebidas e da elaboração e aplicação do Plano Individual de
Intervenção Precoce (PIIP), que é simultaneamente um documento que permite organizar
toda a informação recolhida, registar todos os aspetos da intervenção bem como o processo
que conduz à sua implementação. Este documento é elaborado em função do diagnóstico da
situação, envolve a avaliação da criança nos seus contextos (familiar e outros) e define as
medidas e ações a desenvolver, sendo sempre subscrito pelas famílias.
Estas equipas multidisciplinares são constituídas por técnicos de todos os serviços
sociais que são chamados a intervir (educação, saúde e serviço social) e existe ainda a
identificação do técnico responsável por cada caso.

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2. Problemas de desenvolvimento

2.1. Identificação de sinais de alarme - critérios de elegibilidade

Crianças com alterações nas funções ou estruturas do corpo

Estão abrangidas por estes critérios todas as crianças com um atraso de


desenvolvimento sem etiologia conhecida, podendo abranger uma ou mais áreas de entre a
motora, física, cognitiva, comunicacional, emocional, social ou adaptativa; e crianças com
condições específicas de atraso no desenvolvimento, sendo todas as patologias validadas por
avaliação fundamentada, feita por um profissional competente e com formação para o efeito.

Condições Específicas – Baseiam-se num diagnóstico relacionado com situações que


se associam a atraso do desenvolvimento, podendo ser, entre outras:
 Anomalia cromossómica (p. ex. Trissomia 21, Trissomia 18, Síndrome de X- Frágil)
 Perturbação neurológica (p. ex. paralisia cerebral, neurofibromatose)
 Malformações congénitas (p. ex. sindromes polimalformativos)
 Doença metabólica (p. ex. mucopolisacaridoses, glicogenoses)
 Défice sensorial (p. ex. baixa visão/cegueira, surdez)
 Perturbações relacionadas com exposição pré-natal a agentes teratogénicos ou a
narcóticos, cocaína e outras drogas (p. ex. síndrome fetal alcoólico)
 Perturbações relacionadas com infeções severas congénitas (p. ex. HIV, grupo TORCH,
meningite)
 Doença crónica grave (p. ex. tumores do SNC, D. renal, D. hematológica)
 Desenvolvimento atípico com alterações na relação e comunicação (p. ex.
perturbações do espectro do autismo)
 Perturbações graves da vinculação e outras perturbações emocionais

Crianças com Risco Grave de Atraso de Desenvolvimento

Crianças expostas a fatores de risco biológico: Inclui crianças que estão em risco de vir
a manifestar limitações na atividade e participação na vida ativa por condições
biológicas que interfiram claramente com a prestação de cuidados básicos, com a
saúde e o desenvolvimento.

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Baseiam-se num diagnóstico relacionado com, entre outros:
 História familiar de anomalias genéticas, associadas a perturbações do
desenvolvimento
 Exposição intra-uterina a tóxicos (álcool, drogas de abuso)
 Complicações pré-natais severas (Hipertensão, toxémia, infeções,
hemorragias, etc.)
 Prematuridade < 33 semanas de gestação
 Muito baixo peso à nascença (< 1,5Kg)
 Atraso de Crescimento Intra-Uterino (ACIU): Peso de nascimento <percentil 10 para o
tempo de gestação
 Asfixia perinatal grave (Apgar ao 5º minuto <4 ou pH do sangue do cordão <7,2 ou
manifestações neurológicas ou orgânicas sistémicas neonatais)
 Complicações neonatais graves (sépsis, meningite, alterações metabólicas ou
hidroeletrolíticas, convulsões)
 Hemorragia intraventricular
 Infeções congénitas (Grupo TORCH)
 Criança HIV positiva
 Infeções graves do sistema nervoso central (Meningite bacteriana, meningoencefalite)
 Traumatismos cranianos graves
 Otite média crónica com risco de défice auditivo

Crianças expostas a fatores de risco ambiental: Consideram-se condições de risco


ambiental a existência de fatores parentais ou contextuais, que atuam como
obstáculo à atividade e à participação da criança na vida ativa, limitando as suas
oportunidades de desenvolvimento e impossibilitando ou dificultando o seu bem-
estar.

SÃO ENTENDIDOS COMO FATORES DE RISCO PARENTAIS, ENTRE OUTROS:

 Mães adolescentes < 18 anos


 Abuso de álcool ou outras substâncias aditivas
 Maus-tratos ativos (maus-tratos físicos, emocionais e abuso sexual) e passivos
(negligência nos cuidados básicos a prestar à criança (saúde, alimentação, higiene e
educação)
 Doença do foro psiquiátrico
 Doença física incapacitante ou limitativa

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CONSIDERAM-SE FATORES CONTEXTUAIS, ENTRE OUTROS:
 Isolamento (ao nível geográfico e dificuldade no acesso a recursos formais e informais;
discriminação sociocultural e étnica, racial ou sexual; discriminação religiosa;
conflitualidade na relação com a criança) e/ou Pobreza (recurso a bancos alimentares
e/ou centros de apoio social; desempregados; famílias beneficiárias de RSI ou de
apoios da ação social)
 Desorganização Familiar (conflitualidade familiar frequente; negligência da habitação a
nível da organização do espaço e da higiene)
 Preocupações acentuadas, expressas por um dos pais, pessoa que presta cuidados à
criança ou profissional de saúde, relativamente ao desenvolvimento da criança, ao
estilo parental ou interação mãe/pai-criança

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3. Papel do profissional – Criação de condições adequadas ao
desenvolvimento infantil

No trabalho desenvolvido com cada criança, este não se limita apenas por este
elemento, envolvendo sempre a família e tendo em consideração o contexto familiar e
ambiental em que a criança se desenvolve. Por esse motivo, os profissionais devem estar
conscientes das interações entre os vários atores que interagem com a criança para que
estejam aptos a avaliar se a intervenção será feita em equilíbrio ou desequilíbrio no sistema
familiar, permitindo assim melhorar o processo de mudança e de evolução de cada situação.
Uma abordagem centrada na família implica o desenvolvimento das capacidades da
família, para que elas possam por si, responder às necessidades da sua criança, sem ter que se
tornarem dependentes dos serviços de apoio. Deste modo, as fontes de stress devem ser
identificadas, no sentido serem reduzidos os seus efeitos, pois a definição de objetivos de
forma colaborativa entre pais e os profissionais pode contribuir para aliviar o stress resultante
destes comportamentos. Esta relação de proximidade e intimidade entre técnicos e familiares
só se garante se existir confiança e empatia de ambas as partes, procurando o sucesso do
programa de intervenção.
Por sua vez, os profissionais devem desenvolver capacidades de comunicação que
lhes permitam estabelecer interações positivas com as famílias, pois a sua relação com os
profissionais pode ser uma experiência agradável e gratificante e não apenas mais uma
experiência de stress igual a outras que a família inevitavelmente já enfrenta, devendo sim ser
uma fonte de apoio e suporte. Quando esta relação positiva se estabelece, as famílias sentem-
se progressivamente mais autónomas, competentes e confiantes para apoiar a criança.
Contudo, a confiança entre técnicos e família não se estabelece automaticamente
nem autonomamente, pelo que se vai construindo ao longo do tempo, acarretando muita
responsabilidade por parte das equipas no que à privacidade e confidencialidade diz respeito,
pois as informações partilhadas não poderão ser divulgadas, prevalecendo sempre o respeito
e a honra pelo compromisso feito entre ambas as partes.

Os técnicos das equipas envolvidas regem as suas funções e a sua atuação a partir de um
Código de Ética Profissional que se organiza e estrutura entre os diferentes atores.

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No Código de Ética Profissional, na relação com as crianças, o técnico:

1 – Vê cada criança, primeiramente, como uma criança, e valoriza as suas


competências únicas;
2 - Respeita o facto de cada criança ser parte de uma família e incorpora esta
compreensão em todas as suas interações com as crianças e suas famílias;
3 - Reconhece o papel fundamental do brincar no desenvolvimento e é sensível aos
direitos da criança a brincar, às suas necessidades de estimulação, diversão, escolha e
preferência;
4 - Interage com as crianças em modos que promovem o seu desenvolvimento e
valoriza as suas aquisições de desenvolvimento;
5 – Identifica, valoriza e constrói sobre as competências e forças de cada criança;
6 - Promove ambientes seguros, saudáveis e estimulantes, que otimizam o bem-estar
e desenvolvimento das crianças;
7 - Trabalha no sentido de assegurar que não há discriminação contra as crianças com
base em competências, diagnósticos, rótulos, género, religião, linguagem, cultura ou
nacionalidade de origem;
8 - Reconhece a diversidade cultural e linguística das crianças e famílias, e adapta
práticas de acordo com esse conhecimento (ex. consultadoria cultural, intérpretes
gestuais e outros);
9 - Envolve-se em práticas respeitadoras e que garantem a segurança emocional, física
e cultural das crianças, e que de forma alguma as degradam, colocam em perigo,
exploram, intimidam ou magoam;
10 - Age em benefício das crianças para proteger o seu bem-estar físico e emocional,
incluindo fazer notificações em sua proteção, quando necessário;
11 - Garante privacidade apropriada e confidencialidade (incluindo questões de saúde
e das dinâmicas do agregado familiar);
12 - Reconhece e encoraja o direito de todas as crianças a viver em território
português a aceder a educação e serviços de intervenção;
13 – Assume os princípios da parceria, participação e proteção.

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No Código de Ética Profissional, na relação com as famílias, o técnico:

1. Eleva os princípios da parceria, participação e proteção;


2. Respeita a perspetiva e prioridades de cada família para a sua criança e faz delas o
ponto de partida da intervenção;
3. Desenvolve parcerias colaborativas com as famílias, respeitando a família enquanto
especialista acerca das suas crianças, e o seu modo de prestar cuidados, e partilha o
meu conhecimento e compreensão profissional de modo sensível e respeitador;
4. Trabalha para desenvolver com as famílias relações positivas, baseadas em tomadas
de decisão partilhadas, confiança mútua e comunicação aberta;
5. Reconhece e respeito a unicidade de cada família, e o significado da sua cultura,
hábitos, linguagem, crenças, e o contexto - comunidade em que a família opera;
6. Garante que as famílias têm acesso a serviços de apoio cultural, incluindo intérpretes
gestuais, etc., quando necessário;
7. Apoia cada família no sentido de desenvolver um sentido de confiança e conexão
com os serviços em que as suas crianças participam;
8. Mantém a confidencialidade e respeita o direito de cada família à privacidade;
9. Providencia informação plena e acurada às famílias em linguagem clara e
compreensível, criando condições para a sua capacitação para que possam tomar
decisões de forma esclarecida;
10. Providencia informação para ambos os pais, a não ser que considerações legais
contrariem esse princípio.

No Código de Ética Profissional, na relação com a comunidade e sociedade, o


técnico:

1. Apoia o desenvolvimento e implementação de políticas e leis que promovem o bem-


estar de crianças e famílias;
2. Promove a cooperação entre serviços e disciplinas profissionais trabalhando no
melhor interesse de crianças e famílias;

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3. Promove o melhor interesse das crianças através da educação da comunidade e
advogando por elas;
4. Apoia a avaliação contínua do serviço e a respetiva disponibilidade para utentes e
para a comunidade.

No Código de Ética Profissional, na relação com colegas, o técnico:

1. Trabalha no sentido de comunicar com eficácia, agindo com integridade e construindo


confiança, respeito e abertura profissional;
2. Valoriza as forças pessoais e profissionais que os seus colegas trazem para a equipa;
3. Apoia os profissionais de Intervenção Precoce no acesso a suporte e desenvolvimento
profissional de alta qualidade;
4. Respeita as perspetivas que diferentes disciplinas oferecem à compreensão das
necessidades de cada criança, família, serviço e comunidade;
5. Mantém a confidencialidade apropriada;
6. Apoia ativamente um ambiente de trabalho que é espiritualmente, fisicamente,
culturalmente, emocionalmente e profissionalmente seguro.

No Código de Ética Profissional, na relação consigo mesmo, o técnico:

1. Envolve-se no seu desenvolvimento profissional contínuo e mantém-se atualizado


relativamente a novo conhecimento no campo da Intervenção Precoce;
2. Reflete consistentemente sobre a sua prática e assegura que se envolve em atividades
de revisão e supervisão apropriada;
3. Trabalha dentro das fronteiras da sua profissão e das suas qualificações;
4. Assume o papel de advogado pelas crianças, pela IP e pelos serviços que apoiam as
crianças e as suas famílias;
5. Promove o conhecimento da comunidade sobre a sua profissão;
6. Assegura que as suas práticas são culturalmente apropriadas e promove ativamente
atitudes antirracistas;

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7. Demonstra, através do seu comportamento e linguagem, que não há
discriminação contra as crianças;
8. Assegura que mantém standards profissionais em toda a documentação que utiliza e
produz;
9. Assegura que mantém a integridade pessoal, autenticidade e honestidade em todas
as atividades profissionais;
10. Compromete-se a manter intactos os standards, valores e práticas expressos no
Código de Ética do Profissional.

21
4. Cuidados a prestar à criança

Depois de identificar as crianças e famílias elegíveis para o SNIPI deve:

 Assegurar a vigilância às crianças e famílias que, embora não imediatamente elegíveis


para o SNIPI, requerem avaliação periódica, devido à natureza dos seus fatores de
risco e probabilidade de evolução;
 Encaminhar crianças e famílias não elegíveis, mas carenciadas de apoio social;
 Organizar um processo individual por criança;
 Elaborar e executar o Plano Individual de Intervenção Precoce (PIIP) em função do
diagnóstico da situação;
 Identificar necessidades e recursos da comunidade, dinamizando redes de apoio
social;
 Articular com a CPCJ e com os núcleos de saúde de crianças e jovens em risco ou
outras entidades da área da proteção infantil;
 Assegurar, para cada criança, processos de transição adequados para outros
programas, serviços ou contextos educativos;
 Articular com os educadores das creches e jardim-de-infância em que se encontram
colocadas as crianças integradas em IPI;
 Desenvolver trabalho de prevenção do risco, junto das creches e jardins-de- infância,
nomeadamente através de dinamização de ações de sensibilização de país e
qualificação de pessoal das Instituições.

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5. Papel da família e da comunidade – Intervenção centrada na
família

As práticas centradas na família são práticas que colocam o foco no desenvolvimento


de uma relação com os pais, relação essa que utiliza e se desenvolve partindo das
competências e capacidades demonstradas nos cuidados e apoios aos filhos. Quando os
programas são centrados apenas na criança, apresentam limitações, tendo o papel dos pais
sido cada vez mais valorizado.
Além dos principais elementos de cada uma das dimensões, é ainda possível
considerar as zonas de interseção entre eles, sendo também importantes na Intervenção
Precoce e na transversalidade de todo o processo de intervenção.

A mudança do alvo de intervenção da criança para a família, faz com que esta seja
percecionada como um todo que deve ser considerada simultaneamente como recetora e
agente ativo do programa, pretendendo-se que a família participe em verdadeira parceria
com os profissionais no desenrolar do programa e que lhe seja a ela dada a tomada de
decisão em tudo aquilo que tenha a ver com a criança e com a família. Assim, procura-se que
a família consiga desenvolver o sentido de pertença à comunidade através de uma maior e

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melhor inserção, nomeadamente através da utilização dos recursos disponíveis como a
constituição de uma rede social de apoio consistente, promovendo uma crescente
autonomização relativamente aos profissionais e serviços, para que, após a intervenção, a
família seja capaz de se gerir a si e aos seus recursos de forma independente.

Existem princípios fundamentais para uma abordagem verdadeiramente centrada na


família, e que, embora sejam aceites, nem sempre são simples de incorporar no trabalho
diário realizado. Esses princípios são:

1. Encarar a família como a unidade de prestação de serviços

Afirmações frequentemente proferidas por profissionais da IP, tais como "os


pais são os primeiros e os mais marcantes educadores na vida dos seus filhos", fez
com que estes tivessem uma maior perceção das suas capacidades e predisposição
para receberem formação. Os profissionais da IP eram vistos como peritos na
identificação das necessidades da criança e na definição de estratégias de
intervenção, necessárias e ajustadas ao seu desenvolvimento. Os pais recebiam
formação para poderem implementar as intervenções, mas o enfoque era a criança.
Na perspetiva da abordagem centrada na família, a unidade de intervenção não
remete só para a criança, mas para toda a família, dado que é uma abordagem que
"reconhece que o bem-estar de cada membro da família afeta todos os outros", sendo
pois o grande objetivo "melhorar o bem estar de toda a família", procurando
"minimizar o stress, manter ou melhorar os relacionamentos entre os membros de
toda a família" e permitindo à família seguir o mesmo trajeto que seguiria se a sua
criança não tivesse qualquer dificuldade. A concretização deste objetivo possibilita o
recurso a vários tipos de intervenções diferentes, não está limitado exclusivamente ao
desenvolvimento da criança e ao respeitar os modos de vida da família, crenças e
valores o sucesso do mesmo será diferente consoante a família.

2. Reconhecer os pontos fortes da criança e da família

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Atingir este princípio constitui uma tarefa facilitada quando a família em
questão tem crenças e valores semelhantes aos profissionais e por outro lado, tem
uma grande bagagem de conhecimentos, capacidades e recursos que lhe permitem
dar resposta às suas prioridades. Quando não é assim é mais difícil, mas "essas
famílias não deixam de ser capazes e competentes" e com a necessária informação,
ensino de capacidades e apoio adequado "podem demonstrar as suas capacidades e
abordar as suas prioridades de modo eficaz". Reconhecer e assumir os pontos fortes
da família constitui "o primeiro passo" para uma "abordagem otimista", em que " os
pontos fortes devem ser usados e exponenciados durante o desenvolvimento e a
implementação dos planos de intervenção". Para que tal aconteça, os pais deverão ser
ajudados a reconhecer os seus próprios pontos fortes e as suas capacidades e
encorajados a usá-los, deverão desenvolver os conhecimentos e capacidades que já
detém e deverão ainda ser ajudados a localizar e usar os recursos de que têm
necessidade.

3. Dar resposta às prioridades identificadas pela família

As prioridades da família consistem naquilo que os pais "consideram


importantes para os seus filhos e para toda a família". A identificação dessas
prioridades assegura que "as intervenções foram concebidas e serão implementadas
de forma a ajudar as famílias a conseguirem o que é importante para elas, e não o que
os profissionais julgam ser importante".

4. Individualizar a prestação de serviços

Se as famílias são únicas as suas prioridades também o são e


consequentemente tem que ser criado um plano individual de serviços, que incluam
as prioridades da família e as necessidades da criança.

5. Dar resposta às prioridades, em constante mudança, da família

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As prioridades da família "não são estáticas, pelo contrário, estão em
constante mudança", o que pode implicar a necessidade de mudanças quer nos
serviços necessários à criança/família, quer estratégias de intervenção.

6. Apoiar os valores e o modo de vida de cada família

Procurando "não perturbar ainda mais as rotinas familiares, mas antes, ajudar
as famílias a atingirem o equilíbrio que desejam". As crenças e valores não podem ser
articulados, porque fazem parte da nossa vida e por vezes nem temos a perceção da
sua influência, e quando ocorrem nem sempre as famílias querem partilhar esse
aspeto pessoal sobretudo com pessoas com pouca proximidade.

ASPETOS ESSENCIAIS PARA A EFICÁCIA DA INTERVENÇÃO PRECOCE

Após alguma investigação sobre os aspetos mais importantes na garantia da eficácia


da IP, verificou-se que existem alguns fatores predominantemente importantes,
nomeadamente:
 A idade da criança à data do início da intervenção
 O envolvimento dos pais
 A intensidade e/ou estruturação do modelo do programa de Intervenção
Precoce adotado

Os resultados da investigação científica indicam que, quanto mais cedo se iniciar a


intervenção, maior é a sua eficácia e eficiência, pois, quando a intervenção se inicia logo após
o nascimento ou depois de ter sido diagnosticada alguma deficiência ou risco, os ganhos ao
nível do desenvolvimento são maiores e a probabilidade de se manifestarem outros
problemas é menor.
Do mesmo modo, o envolvimento dos pais na intervenção é também muito
importante, uma vez que as famílias de crianças com deficiência ou em risco, necessitam de
um maior apoio social e instrumental e de desenvolver as competências necessárias para lidar

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com os filhos com necessidades especiais. Os principais resultados da Intervenção com a
família dizem respeito ao aumento da capacidade dos pais para lidarem com o problema da
criança, que leva necessariamente à redução do stress familiar. Em conjunto, estes fatores
aparentam desempenhar um papel importante no sucesso dos programas de intervenção
junto da criança.

A estruturação dos programas de Intervenção Precoce está também relacionada com


os seus resultados, independentemente do modelo curricular utilizado. Os programas de
maior sucesso são geralmente os mais estruturados. Isto significa que os casos de sucesso se
registam em programas que:
 Definem operacionalmente e monitorizam frequentemente os objetivos;
 Identificam com precisão os comportamentos a desenvolver e as atividades que serão
desenvolvidas em cada sessão;
 Utilizam procedimentos de análise de tarefas;
 Avaliam regularmente o desenvolvimento da criança e utilizam os registos de
progressão no planeamento da intervenção.

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Bibliografia / Webgrafia

Abreu, M. R. T. (1996) Intervenção Precoce. Direcção-Geral da Acção Social Lisboa, Núcleo de


Documentação Técnica e Divulgação
Aleixo, E. (2012) Práticas de Intervenção Precoce centradas nos contextos naturais e o seu
contributo para a promoção do desenvolvimento de uma criança. Tese de Mestrado em
Educação Especial, ESEC
Gronita, J. et all (2016) E Quando Atendemos Crianças… diferentes – Boas Práticas na IP.
Fundação Calouste Gulbenkian, 2º Edição, Lisboa
Gronita, J. et all. Crianças Diferentes - Intervenção Precoce - O processo de construção de
boas práticas - Relatório final. Fundação Calouste Gulbenkian

https://snipi.gov.pt/
https://www.anip.pt/

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