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SUMÁRIO

1 TERAPIA OCUPACIONAL E O TRABALHO COM CRIANÇAS ................. 3

2 O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ................................... 9

2.1 A utilização do brincar como recurso terapêutico na prática dos


terapeutas ocupacionais ........................................................................................ 11

3 TERAPIA OCUPACIONAL NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM. 16

4 SÍNDROME DE DOWN E A TERAPIA OCUPACIONAL .......................... 19

5 TERAPIA OCUPACIONAL E PARALISIA CEREBRAL............................. 23

5.1 Técnicas de Terapia Ocupacional para Paralisia Cerebral................. 25

6 TERAPIA OCUPACIONAL NO AUTISMO ................................................ 28

7 INTEGRAÇÃO SENSORIAL PARA CRIANÇAS AUTISTAS .................... 34

8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 37

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1 TERAPIA OCUPACIONAL E O TRABALHO COM CRIANÇAS

Fonte:neurosaber.com.br

Os primeiros anos de vida são importantes porque tudo que acontece na


primeira infância pode influir na vida inteira. Do nascimento até os 5 anos de idade, as
crianças crescem e se desenvolvem de maneira acelerada. Os cuidados e a atenção
que recebem durante esse período crucial do desenvolvimento terão um efeito
decisivo sobre seu futuro (Shonkoff, 2011).
O crescimento e o desenvolvimento infantil são determinados por fatores
biológicos, fisiológicos, psicológicos e ambientais e compostos pelas áreas motora,
cognitiva, sensorial, emocional e social que são interdependentes e responsáveis pelo
desempenho ocupacional de excelência na vida adulta. Todas essas áreas são
permeadas e dependentes de diversos contextos nos quais o indivíduo está incluído.
Estes contextos são definidos por uma variabilidade de condições inter-relacionadas
ao cliente e ao redor do mesmo que influenciam seu desempenho ocupacional.
O contexto onde o indivíduo se insere é um fator determinante para a
participação com sucesso nas atividades diárias. Profissionais da área da saúde
precisam conhecer as diversas áreas do desenvolvimento infantil para que assim
possa determinar, precocemente, possíveis alterações, intervir e evitar
comprometimentos e condições crônicas na vida adulta. O terapeuta ocupacional é
um profissional de saúde habilitado para recuperar e reabilitar indivíduos com

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condições temporárias e crônicas e para trabalhar na prevenção de incapacidades em
todo seu ciclo vital.
Quando se trabalha na área motora, se preconiza entender o crescimento
ósseo, muscular, de órgãos, o tônus muscular, o grau de movimento das articulações,
a coordenação motora ampla e fina e a coordenação visuo-motora, entre outros
fatores.
A área cognitiva é aquela que permite ao indivíduo desenvolver um grau de
inteligência, uma boa capacidade de resolução de problemas e tomada de decisões,
a capacidade de fazer escolhas e ainda a habilidade de realizar e reconhecer a
cognição social. As habilidades sensoriais (visual, auditiva, olfativa, gustatória, tátil,
vestibular e proprioceptiva) são aquelas que permitem ao indivíduo perceber o mundo
através da interpretação das sensações permitindo assim o uso motor funcional no
dia a dia. As habilidades emocionais e sociais permitirão ao indivíduo entender suas
próprias emoções, manter o humor e equilíbrio emocional, que farão com que o
indivíduo mantenha interação com pares permitindo assim uma boa participação e
desempenho social. Todas essas áreas e sua evolução normal devem ser bem
compreendidas pelos profissionais pois assim eles se tornam aptos a identificar
possíveis alterações e a intervir a prior a cronicidade da condição nas fases
desenvolvimentais subsequentes
As principais ocupações de uma criança são brincar e aprender. É o papel do
terapeuta ocupacional, em parceria com os pais, intervir sobre as competências
motoras, cognitivas, sensoriais e sociais que limitam o sucesso da criança no
desempenho destas ocupações para que possa participar com o seu potencial
máximo nos contextos onde está envolvida (casa, escola).
O terapeuta ocupacional ajuda ainda os pais e educadores na seleção de
materiais e na adaptação do ambiente de forma a favorecer a aquisição de novas
competências. O objetivo do Terapeuta Ocupacional é ajudar a criança a alcançar a
sua independência em todas as atividades da vida diária. A ajuda da terapia
ocupacional infantil se faz necessário quando o desenvolvimento na infância não
acontece de maneira adequada. As causas podem ter origem no período do pré-natal,
no perinatal ou pós-natal. Mas, independentemente disso, a técnica poderá contribuir
no desempenho motor, cognitivo, sensorial, social e emocional da criança.

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A terapia ocupacional dá ênfase ao desenvolvimento das competências que
permitem à criança brincar, comunicar e relacionar-se com os outros de uma maneira
eficaz, cuidar de si mesmo e aprender utilizando, se necessário, dispositivos e
estratégias adequadas às suas necessidades especiais. A criança aprende sobre o
mundo quando interage com ele usando as informações que lhe chegam pelos
sentidos. Essas interações dão-se sob forma de brincadeiras. É através do brincar e
de atividades lúdicas que a Terapia Ocupacional, atua na área de Reabilitação,
Estimulação e Desenvolvimento com crianças e jovens.
O brincar oferece um meio terapêutico muito rico, proporcionando
oportunidades para que a criança desenvolva habilidades novas sem ter de se expor
em situações que considere de risco. As atividades lúdicas servem de treino para
atividades diárias, escolares e atividades de coordenação, atenção e concentração
em geral.
A intervenção de um terapeuta ocupacional em Pediatria, pode abranger
problemas diversos nos componentes sensório-motores, cognitivos, psicológicos e
psicossociais, revelando-se na criança em dificuldades nas diferentes áreas de
desempenho (Atividades da Vida Diária, Produtivas e de Lazer). Através do
conhecimento sobre o desenvolvimento psicomotor da criança, o terapeuta
ocupacional pode simular experiências de aprendizagem que conduzam à aquisição
de competências que estejam em déficit, tendo em conta as aquisições emergentes
em cada fase do desenvolvimento da criança, o terapeuta identifica quais as
capacidades que ela deve adquirir em determinada idade e quais os componentes
que devem ser estimulados.
Todas as crianças podem se beneficiar de uma intervenção em que
apresentam alguma limitação, dificuldade, problema ou necessidade, algum apoio
para participação nessas atividades em relação ao esperado para a faixa etária a que
pertencem.Terapeutas ocupacionais pediátricos trabalham para descobrir e
maximizar as capacidades de cada criança.
Na infância o desenvolvimento pode não acontecer dentro dos padrões normais
por vários motivos. As causas podem ser de origem pré-natal, perinatal ou pós-natal.
O mais importante é conseguir que o bebê ou criança receba as estimulações de que
necessite o mais precocemente possível. Assim poderá aprender e se desenvolver

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melhor em todos os níveis de desempenho (motor, sensorial, cognitivo, social e
emocional).

Fonte: www.projectoeuconsigo.pt

A criança cresce, se desenvolve, aprende, se relaciona, constrói conceitos e


sua personalidade por meio do vínculo mãe e filho (a) e por meio do brincar. Portanto,
brincar é algo muito sério para criança! Experimentar e explorar brinquedos,
ambientes, objetos, texturas, posturas, sons, sabores diferentes faz com que se
desenvolva de maneira saudável, preparando-a para conviver em sociedade e para a
fase escolar.
As atividades de vida diária englobam tarefas de desempenho ocupacional que
as pessoas precisam fazer em seu cotidiano. No atendimento à criança em Terapia
Ocupacional é preciso que sejam oferecidas atividades para que experimente e treine
o vestir e despir roupas, alimentar-se com colher, garfo e faca, tomar banho, controlar
os esfíncteres, pentear-se, calçar sapatos e escovar os dentes.
Algumas vezes é necessário muito treino, orientações familiares, escolares e
adaptações nos utensílios e materiais diversos para que a criança consiga “fazer
sozinha” ou com o máximo de autonomia e independência possíveis.

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Fonte: www.espacoelabora.com.br

Estimulações do esquema corporal durante trocas de roupas e banho dentro


de uma interação lúdica auxilia na aquisição das noções corporais e posteriormente
nas habilidades de vestir e despir. Orientações quanto a movimentação adequada das
crianças com alterações motoras para que se evite o desencadeamento de reflexos
patológicos e facilitar a dissociação de cinturas escapular e pélvica são muito
importantes nos cuidados diários.
Normalmente essas crianças são mais lentas e precisam de colaboração e
paciência para permitir um tempo de latência entre o que foi solicitado e a ação ou a
intenção de ação e se não houver essa espera, não haverá interesse em participar. É
comum os pais não incentivarem a criança nessa independência por acharem que
leva-se tempo demais e se elas não exercitarem essas habilidades serão
sempre dependentes de seus cuidadores.
O Terapeuta Ocupacional é indicado para auxiliar essas crianças, pais e
educadores. Sua prática não pode se restringir às sessões, pois a criança passa a
maior parte do tempo com os pais e educadores. Orientá-los para os manuseios
adequados e que esses sejam inseridos na rotina da criança é de suma importância.

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Fonte: topediatrica.blogspot.com

Em alguns casos são necessárias adaptações no ambiente escolar, no material


escolar, nos brinquedos, na casa e nos utensílios pessoais da criança para promover
o desempenho funcional com o máximo de autonomia a independência possível.
Havendo necessidade, o Terapeuta Ocupacional poderá prescrever e confeccionar,
sob medida, uma órtese para o membro superior.
Esse dispositivo possui várias indicações e um modelo para cada caso
podendo ser usado em atividades ou não e algumas vezes para o uso noturno.
Avaliações do brincar e outras como PEDI – Inventário de Avaliação Pediátrica de
Incapacidade, PEC, Knox Revisada entre são realizadas no atendimento terapêutico
ocupacional e que auxiliam ao profissional estruturar seu plano de tratamento e a
escolha de atividades e intervenções necessárias em cada caso.

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2 O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Fonte: www.espacomotivar.com.br

O brincar é tema de diversas pesquisas e estudos envolvendo diferentes


disciplinas, como Psicologia, Antropologia, Sociologia, Terapia Ocupacional e outras
profissões da saúde. Alguns estudos trazem contribuições acerca da relação entre o
brincar e o desenvolvimento infantil, sob a perspectiva das intervenções no campo da
Terapia Ocupacional. Pfeiffer e Mitre afirmam que o brincar é uma atividade
espontânea e prazerosa, que envolve oportunidades de descoberta, mistério,
criatividade e auto expressão, que possibilita o desenvolvimento da coordenação
motora, da cognição, da linguagem e das interações sociais, contribuindo assim com
o desenvolvimento infantil.
O brincar além de favorecer a socialização, o desenvolvimento cognitivo, a
interpretação de conteúdos inconscientes ou o desenvolvimento físico, evidencia uma
forma pessoal de a criança se colocar no mundo, na medida em que, quando o adulto
observa a criança brincando, encontra o fazer de um ser criativo e sua singularidade.
Ao brincar a criança expõe seus sentimentos, preferências, receios e hábitos,
podendo elaborar experiências desconhecidas ou desagradáveis. Além de promover
a autonomia o brincar permite que a criança desenvolva a linguagem, o pensamento,
a socialização e a autoestima, sendo considerado indispensável à saúde física,
emocional e intelectual do ser humano. Quando brinca a criança decide como e
quando começar, quando parar, e assim controla as situações. Não há regras precisas
a seguir, qualquer de suas tentativas é válida: ela pode tomar as iniciativas que quiser.

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Esta experiência é gratificante e contribui para desenvolver a autoestima. Finalmente,
considera-se que o brincar é um processo essencial a ser vivido durante a infância,
no qual a criança se constitui no mundo e o mundo se constitui para ela, numa relação
mútua.
Na fase de 0 a 1 ano, o objeto de maior atenção da criança, é o corpo e suas
brincadeiras com ele, a descoberta de partes deste corpo, seu calor, equilíbrio e
segurança. Somente com o tempo é que a criança utiliza-se de regras em seus jogos,
onde começa a denominar objetos e suas funções. Para as crianças nesta fase, os
brinquedos servem de estímulos visuais (percebe cores, movimentos e formas),
gustativos (leva os objetos à boca reconhecendo-os), táteis (percebe materiais e
texturas). Com estes estímulos ela aprimora sua coordenação motora ampla e fina,
onde irá segurar, balançar, jogar. Com a exploração dos brinquedos, ela aprende
sobre as qualidades dos objetos um em relação ao outro, sendo capaz de fazer
escolhas e desenvolver habilidades intelectuais, emocionais e de comunicação.
A aprendizagem do mundo, para a criança torna-se possível através do que ela
ouve, vê, toca e prova, dependendo de alguém que interaja com ela, fornecendo ajuda
quando necessário.
Através dos marcos do desenvolvimento normal da criança iremos observar o quanto
a criança irá adquirindo movimentos e posturas que facilitaram a exploração dos
objetos (brinquedos), que lhes são oferecidos. Para que isso ocorra é fundamental a
colaboração dos pais estimulando esta criança.

Fonte:terapiaocupacional-bethprado.blogspot.com

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2.1 A utilização do brincar como recurso terapêutico na prática dos terapeutas
ocupacionais

Fonte:www.espacoelabora.com.br

Desde o início do século XX, estudos apontam que o brincar contribui para o
bem-estar da criança doente e previne o aparecimento de outros problemas. No
campo da terapia ocupacional o brincar é valorizado por apoiar e embasar suas
intervenções em teorias e pesquisas interdisciplinares, o que inclui as teorias do
desenvolvimento. Rezende afirma que quando o terapeuta ocupacional utiliza o
brincar em sua prática profissional, precisa ter clareza da perspectiva que fundamenta
sua intervenção.
Uma das perspectivas é a utilização do brincar enquanto recurso terapêutico,
comum nos casos de crianças com deficiência grave, na qual o terapeuta ocupacional
utiliza o brinquedo como recurso para a criança manusear o objeto, para chamar sua
atenção, para distraí-la ou motivá-la. Muitos componentes de desempenho podem ser
trabalhados nesta situação, como postura, concentração, coordenação motora,
interação com objetos humanos e não humanos, entre outros. Entretanto, tais ações
não representam o brincar de fato, pois a criança torna-se um ser passivo quando o
brincar é utilizado para se conseguir algo da criança, ou até como forma de
recompensa.

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Rezende apresenta outra perspectiva, na qual a intervenção é focada na
habilidade de brincar, sendo utilizada com crianças que apresentam um repertório
pobre de habilidades que podem comprometer seu desempenho. Nesta perspectiva,
o brincar é associado às habilidades motoras, psicossociais, capacidade de escolha,
resolução de problemas, criatividades, auto expressão, cognição, entre outros. Desse
modo, o brincar é utilizado de forma a estimular habilidades da criança, que de certa
forma vão favorecer também a ação da criança ao brincar.

Fonte: terapiaocupacional-bethprado.blogspot.com

Bundy apresenta uma terceira perspectiva, na qual o terapeuta ocupacional


deve facilitar o brincar da criança, favorecendo que este seja uma atitude
intrinsecamente motivada, internamente controlada e com suspensão da realidade.
Desta forma, a criança deve iniciar o brincar, buscando o brinquedo ou o objeto
substituto, criar um contexto e de fato adentrar na sua ação.
O Modelo Lúdico proposto por Ferland é congruente com esta última
perspectiva, nele o brincar pode ser definido como uma atitude subjetiva na qual o
prazer, o interesse e a espontaneidade são combinados e expressos pela criança
através do seu comportamento de livre escolha, sem que nenhum desempenho
específico seja esperado.
Caldeira e Oliver citam que recentes discussões e pesquisas têm trazido a ideia
de que o brincar deve ser valorizado tendo um fim em si mesmo, não apenas como

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meio para a criança adquirir habilidades para o futuro, mas como algo que dá
significado e prazer no presente.

Fonte:johannaterapeutaocupacional.blogspot.com

Nessa perspectiva, o brincar é utilizado como um fim legítimo em si mesmo,


sendo o objetivo principal de intervenção da terapia ocupacional, a promoção do
brincar. Acredita-se que as práticas cotidianas dos terapeutas ocupacionais na área
da infância apresentam transformações quanto à utilização do brincar. Portanto,
sistematizar e analisar essas práticas pode contribuir para a produção de
conhecimento na área e reflexão sobre o brincar na atenção à população infantil.
A criança, objeto de estudo da psiquiatria infantil, é um ser em desenvolvimento
e constantes transformações, frente a isso o processo de adoecimento pode causar
rupturas e alterações desse processo desenvolvimentista. Esses desvios do
desenvolvimento podem causar prejuízos e influenciarem no rendimento escolar,
comportamento na escola, relacionamentos interpessoais em casa, com os pares, na
comunidade, o lazer, o brincar, o desenvolvimento de um senso de self e identidade.

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Fonte: www.institutobebe.com.br

Segundo Matsukura (2001), nota-se que a intervenção da Terapia Ocupacional


em psiquiatria infantil vem sendo cada vez mais solicitada e esperada pelos
profissionais que atuam na área.
Para Silva e Martinez (apud JOSUÉ; OLIVEIRA; BALDO, 2009) quando os
terapeutas ocupacionais se propõem a atuar com esta população em constante
desenvolvimento, seu objetivo maior será estimular e integrar as várias áreas de
desenvolvimento – cognitiva, perceptual, motora, social e emocional e orientar os
responsáveis, dentre eles destacando-se os pais.
Para Matsukura (apud JOSUÉ; OLIVEIRA; BALDO, 2009) os princípios básicos
da Terapia Ocupacional psicodinâmica podem ser trabalhados durante a intervenção
de terapeutas ocupacionais em psiquiatria infantil, onde são abordados tanto os
aspectos afetivos e emocionais como aspectos cognitivos, tudo isto de maneira
integrada e através da relação triádica (paciente-terapeuta-atividades) estabelecida,
bem como através da realização de atividades, componente desta relação.

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Fonte:silaineterapeuta.blogspot.com

O processo terapêutico ocupacional ocorre numa relação intermediada pelo


brincar e busca o vínculo, bem como o estabelecimento de uma comunicação, verbal
ou não verbal. Neste processo há uma busca pela integralidade das funções
psíquicas, sociais, cognitivas e sensório-motora. Esse brincar engloba inúmeras
atividades e materiais, desde papel, tintas, bonecos, jogos, até o próprio corpo, o
ambiente e seus elementos.
Para Matsukura (2001), o terapeuta ocupacional busca reconhecer as
especificidades da infância e da criança, em termos de atividades, comunicação,
pensamento, cognição, etc. Estabelece que os aspectos mais importantes no
tratamento de crianças do espectro autista é abordar tantos os aspectos afetivos como
também os aspectos cognitivos de forma integrada; as informações e compreensões
observadas pelo terapeuta em relação à criança devem ser contextualizadas nas
ações que são estabelecidas na realização das atividades e da relação terapêutica
que se estabelece; o terapeuta deve reconhecer a forma que a criança é capaz de se
mostrar através da rotina que se estabelece, dos materiais que explora e do contato
que realiza ou não com terapeuta; há necessidade de clareza dos limites e espaços
que podem ser utilizados pela criança e pelo terapeuta e o terapeuta deve buscar de
qualquer aproximação ou possibilidade de uma situação de “brincar”.

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3 TERAPIA OCUPACIONAL NAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Fonte:www.uninassau.edu.br

A ocupação é concebida como um elo de retorno à


vida, visando engajar as pessoas nas ações que as
ajudem a construir ou reconstruir seu cotidiano e,
dessa forma, suas próprias vidas... (LEMOS, 2005)

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais conhecido como


TDAH, é caracterizado por desatenção, inquietude acentuada e impulsividade. É um
quadro relativamente frequente sendo predominante em meninos. Não há uma causa
definida para o TDAH, mas há alguns fatores que podem ser considerados como a
hereditariedade, traumas durante o parto, problemas intrauterinos, ingestão de
substâncias tóxicas na gravidez, problemas familiares e psicossociais, anomalias
físicas e alterações neuroquímicas.
Todas as crianças, dependendo da faixa de desenvolvimento na qual estas se
encontram, podem apresentar ocasionalmente certa inquietude exploratória, de
descoberta a respeito do mundo ou uma reação temporária a um evento vivenciado
como estressante, por exemplo, mudança de casa, falecimento de alguém importante
para a criança. E isso não vai significar que a criança seja portadora do TDAH.
Nas crianças com TDAH, os sintomas são mais graves e abrangentes,
estando presentes por, pelo menos, 06 meses, acarretando prejuízos no
funcionamento escolar, familiar e social, tendo iniciado antes dos 07 anos de idade.
A dificuldade em manter a atenção que as crianças com TDAH apresentam causam
alterações nas áreas auditiva, visual e perceptivo-motora, acarretando problemas na
aquisição, retenção e explicitação de novos conhecimentos e habilidades,
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coordenação motora global, relacionamentos interpessoais, comunicação, linguagem,
escrita, instabilidade emocional (irritabilidade, choro fácil), ambidestria e não
discriminação de situações de perigo. Possuem um comportamento bastante
incômodo e perturbador, com baixo rendimento escolar, baixa autoestima, distraem-
se facilmente, nas brincadeiras com outras crianças são impopulares, pois têm
dificuldades em seguir regras, dificilmente terminam a atividade iniciada, mas, às
vezes, comportam-se como crianças sem problemas, conseguindo manter a atenção
em atividades de seu interesse. Em gera, são as crianças mais novas ou com
dificuldades semelhantes que se dispõem a brincar com crianças hipercinéticas.

Fonte: terapiaocupacionaleparalisiacerebral.blogspot.com

O que pode ser desenvolvido pelo Terapeuta Ocupacional junto à criança com
TDAH? A Terapia Ocupacional é um processo de tratamento no qual o terapeuta
utiliza a atividade como recurso técnico e está habilitado para prescrever atividades e
aplicá-las na busca de saúde, uma vez que a atividade é seu objeto de estudo e
análise.
Desta forma, o Terapeuta Ocupacional propõe uma atuação ampla,
oferecendo recursos para uma intervenção física, psíquica, social e sensorial que
podem ser: lúdicas, corporais, artísticas, criação de objetos e conhecimentos,
organização dos espaços e o cuidado com o cotidiano, os cuidados pessoais, os
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passeios, as viagens, as festas, as diversas formas produtivas, a vida cultural, entre
outras. Pois as características apresentadas pelas crianças com o TDAH, como a
agitação, desatenção, impulsividade, emotividade e o baixo limiar a frustrações afetam
a integração das mesmas com todo o seu mundo social, seja ele na escola, em casa
ou na comunidade. O relacionamento com pais, professores e amigos, muitas vezes
é prejudicado devido ao comportamento inconstante e imprevisível, interferindo no
desenvolvimento pessoal e social da criança.
O tratamento terapêutico ocupacional com crianças com o Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade deve oferecer um espaço protegido, atenuando os
sintomas. Como o comportamento inconstante e imprevisível interfere no
desenvolvimento pessoal e social, na desatenção, na impulsividade, na inquietação e
na baixa autoestima, o tratamento aumenta as capacidades sociais e previne futuros
desajustes sociais.
O terapeuta ocupacional oferece recursos para uma intervenção na esfera
física, psíquica, social e sensorial, sendo um espaço acolhedor, protegido que
compreende e auxilia a criança durante todo o processo terapêutico a atenuar os
sintomas do TDAH utilizando-se de atividades lúdicas, corporais, artísticas e de
criação. Essas atividades auxiliam na organização do indivíduo, atuando na
independência, na estruturação emocional, percepção cognitiva (regras/limites,
atenção, concentração), nas atividades de vida diária (alimentação, vestuário,
autocuidado), nas atividades de vida de trabalho (escola), nas atividades de vida de
lazer (brincar) e socialização.

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4 SÍNDROME DE DOWN E A TERAPIA OCUPACIONAL

Fonte: www.europapress.es

O terapeuta ocupacional avalia o estado mental, físico, social e o histórico


familiar, identificando os limites de cada paciente, suas deficiências e reais
necessidades, para iniciar as intervenções. Portadores da Síndrome de Down são um
exemplo de pessoas que necessitam desta, e de outras, intervenções terapêuticas.
A Síndrome de Down é uma doença genética e crônica, associada a uma
divisão anormal no cromossomo 21. Esta alteração afeta o indivíduo manifestando
características físicas especificas, como a cabeça arredondada e pequena, face
levemente achatada, boca pequena e constantemente aberta com a língua projetada
para fora, mãos pequenas e gordinhas, dentre outras características.
A síndrome também pode estar associada a alguns problemas de saúde, como
por exemplo o atraso no desenvolvimento cognitivo, hipotonia muscular, atraso na
articulação da fala, surdez, problemas respiratórios, problemas cardíacos, transtorno
visual e doenças da tireoide. Estas possíveis complicação os condicionam a
intervenções terapêuticas com profissionais ou com uma equipe multidisciplinar na
qual o terapeuta ocupacional pode estar envolvido.
As intervenções com crianças são realizadas por meio de atividades lúdicas
que desenvolvem o processo de aprendizagem sobre a vida e sobre si mesmo. Em
casos de atraso no desenvolvimento cognitivo como aprendizagem, compreensão e
raciocínio, as atividades têm por objetivo o estímulo da atenção, concentração e
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memória da criança. Por isso são utilizados jogos de memória, caça palavras, caça
figuras, noção e pareamento de cor, noção de quantidade, organização espaço-
temporal, esquema corporal, auxilio de alfabetização, comunicação alternativa, dentre
outros.
Em caso de Hipotonia, o terapeuta utiliza jogos que estimulam a coordenação
motora, visomotora, preensão de objetos, lateralidade e até integração sensorial.
Geralmente, estas crianças também necessitam de uma intervenção voltada para a
socialização com jogos em grupos, intervenção no comportamento (trabalhando a
permanência na atividade, autonomia e internalização de regras e limites) e
comunicação alternativa.

Fonte: johannaterapeutaocupacional.blogspot.com

Sendo assim, as intervenções da terapia ocupacional em crianças com


Síndrome de Down são fundamentais para aprimorar as atividades diárias e práticas
da vida, promovendo de forma cognitiva, motora e psíquica as potencialidades e
trazendo o bem-estar e a qualidade de vida destas crianças para viver e conviver em
sociedade.
Alguns recursos estão sendo utilizados para estimular crianças com Down,
desenvolvendo a aptidão física e também as habilidades motoras. Vamos conhecê-
los a seguir:

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Atividades artesanais

Atividades manuais, como artesanato, reciclagem e pintura ajudam no


desenvolvimento motor fino das pessoas com Down, melhorando também sua
coordenação, criatividade e concentração. Integrar estas atividades ao cotidiano das
pessoas com Down oferece estímulos que facilitam a sua interação social, e a
descoberta de novas habilidades.

Atividades físicas orientadas

A prática de exercícios físicos vem demonstrando resultados positivos no


desenvolvimento motor de pessoas com Down, principalmente quando estas
atividades são iniciadas já na infância, respeitando as particularidades da criança, e
avançando conforme ela vai se desenvolvendo. Atividades lúdicas que possibilitem o
fortalecimento muscular são os mais indicados para auxiliar na melhora postural e no
conhecimento do próprio corpo. Além disso, a participação em jogos de grupos
também facilita o desenvolvimento social e afetivo da criança.

Fonte: nossoanjodavi.blogspot.com

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Fisioterapia

A fisioterapia ajuda no fortalecimento muscular das pessoas com Down.


Quando as crianças com Down realizam esses exercícios desde o nascimento,
desenvolvem, progressivamente, a capacidade de sustentar o pescoço, rolar, sentar-
se, engatinhar e ficar em pé. Este procedimento também é importante na fase em que
a criança com Down começa a dar os primeiros passos, pois ajuda a estabelecer o
equilíbrio motor, de forma ela se torne capaz de caminhar sozinha. Só é importante
destacar a necessidade de autorização do médico que acompanha a criança, pois em
alguns casos, a síndrome de Down está associada a algum tipo de cardiopatia,
tornando necessário primeiro o tratamento deste problema, para só então iniciar a
fisioterapia.

Terapia ocupacional

Realizada quando a criança com Down já está mais crescida, a terapia


ocupacional ajuda a desenvolver habilidades que ela precisa para realizar as
atividades diárias, como beber no copo, comer com a colher, usar o banheiro e ainda
brincar com os brinquedos que são apropriados para sua idade. Dessa forma, a
criança com Síndrome de Down aprende a se relacionar com o ambiente em que vive
e sua família descobre como adaptar este ambiente para ajudá-la a se integrar e
conquistar confiança.

Fonte: www.clinicasentidos.com.br
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5 TERAPIA OCUPACIONAL E PARALISIA CEREBRAL

Fonte:www.criancaesaude.com.br

O profissional da terapia ocupacional (T.O.) tem um papel importante junto à


criança com PC, por fornecer condições para o estabelecimento e efetivação de
programas de tratamento que visam a facilitação do movimento, favorecendo assim
as experiências e aprendizado sensório motores, estimulando aspectos cognitivos,
auxiliando na adaptação e execução das AVDs, incentivando o brincar e o lazer,
tornando a criança agente em seu processo de desenvolvimento.
O primeiro passo para o ingresso a qualquer terapia é a avaliação, no caso da
PC, alguns aspectos particulares devem ser observados como: alterações no tônus
muscular, capacidade de estabelecer controle seletivo de movimentos, manutenção
de posturas, realização de mudanças posturais, desempenho funcional de membros
superiores e coordenação visomotora, habilidades cognitivas, desempenho e
integração das funções sensoriais. É importante para o terapeuta ocupacional
conhecer o contexto em que a criança está inserida, a condição econômica, social e
emocional da família, a fim de possibilitar que o tratamento seja traçado em conjunto
com a família, que é parte fundamental da equipe de trabalho.
A avaliação inicia com a coleta de dados com o familiar e/ ou cuidador, onde
são questionadas situações de rotina (AVDs), comportamento, interação com
pessoas, objetos, lazer, relacionamentos sociais, além de observar, desde a chegada,
como essa criança é tratada, se necessita auxílio, que tipo de auxílio e de que forma

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este auxílio é prestado. Posteriormente faz-se a análise da criança executando as
atividades, como o aspecto motor atua na sua realização, quais as dificuldades
encontradas, a fim de avaliar a necessidade de adaptações para facilitar o “fazer”.
É importante que a família compreenda que a proposta de tratamento é
baseada em um trabalho motivador, que buscará evidenciar o potencial da criança. O
trabalho da terapia ocupacional com a criança com paralisia cerebral é caracterizado
pela busca de soluções para os aspectos do comprometimento motor que interferem
na realização das atividades funcionais, além do estímulo às demais áreas deficitárias.
Uma habilidade fundamental ao T.O., em se tratando de PC, é a sensibilidade, pois
assim poderemos perceber as respostas do indivíduo e modificar nosso toque de
acordo com o “feedback” recebido.
Outro fator importante é a intervenção precoce, ou seja, deve-se iniciar o processo de
reabilitação o quanto antes.
Com bebês paralisados cerebrais, a proposta básica de atividades é a
descoberta de si e do meio pelo movimento, e do fazer ganhando aquisições da fase
sensório motora, além das orientações à família, relacionadas à posicionamento
adequado, conduta e manejo. Muito importante também é a estimulação visual, ema
vez que a visão tem influência no fortalecimento do controle cervical e ativação das
reações de retificação e endireitamento, levando a cabeça para a posição vertical.
Não é raro encontrar deficiência visual associada à PC, decorrente dos distúrbios do
tônus, também encontrados nos músculos oculares.
O estímulo visual apresentado “de frente”, favorece o alinhamento da cabeça e
olhos na linha média, proporcionando a movimentação dos membros superiores na
tentativa de exploração manual e oral dos objetos. Em relação ao déficit motor nos
membros superiores, pode-se desenvolver dispositivos que facilitem o manuseio de
utensílios, materiais escolares, vestuário, além da confecção de órteses, a fim de
evitar deformidades, ou até mesmo substituir alguma função.

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Fonte: www.universozn.com.br
Enfim, a T.O. tem muito a contribuir para o desenvolvimento da criança com
paralisia cerebral, mas é importante ressaltar que o trabalho deve ser de uma equipe
multidisciplinar com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional e
em muitos casos psicopedagogo para auxiliar questões escolares, todos trabalhando
juntos para o melhor desenvolvimento possível da criança em questão, além de dar
suporte especializado à família.

5.1 Técnicas de Terapia Ocupacional para Paralisia Cerebral

Fonte: meuanjogabriela.com.br
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Abordagem Bobath (controle motor)

Esta técnica é uma das mais usadas no tratamento do paralisado cerebral.

Utiliza o posicionamento, a transferência de peso, a inibição reflexa, a facilitação


sensorial e tem como objetivos:

 Posicionar a criança para inibir o desenvolvimento dos reflexos e das


 Sinergias anormais e reduzir o tônus muscular anormal, capacitando-a
 Reaprender os padrões normais de movimentos;
 Facilitar o movimento correto pelo posicionamento, através de manuseios
que são chamados pontos chaves;
 Proporcionar posturas e movimentos corretos para serem assimilados através
da neuroplasticidade;
 Fortalecer músculos que estão fracos para melhorar o movimento.

A técnica Bobath

Tem como propósito a melhora e a prevenção das disfunções sensório-motoras


do paciente, as quais decorrem decorrente de situações que caracterizam alteração
no desenvolvimento.
Segundo Bartalotti e De Carlo (2001), quando se usa esta técnica na
assistência em terapia ocupacional, não se deve ficar atento somente ao
desenvolvimento motor e sensorial da criança, mas à função que ela realiza, nas suas
atividades do dia-dia.

Abordagem do Kabat

A técnica do Kabat, com base neurofisiológica, apóia-se nos mecanismos de


facilitação neuromuscular proprioceptiva. O princípio neurofisiológico utilizado é a
excitação repetida de uma via do sistema nervoso central a qual aumenta e facilita
gradualmente a transmissão do impulso nervoso o que produz, assim uma diminuição
das resistências sinápticas e cria condições para a realização de movimentos

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voluntários. A técnica utiliza o posicionamento e os padrões diagonais do movimento
em uma sequência do desenvolvimento e enfatiza o
input (entrada) sensorial. O input sensorial estimula e facilita o output (saída) motor,
ou seja, o estímulo sensorial está relacionado ao motor, e o motor ao sensorial. O
terapeuta ocupacional usa, como complemento para a terapia essa técnica que é a
mais recomendada, mas, quando utilizada, seu objetivo é alcançar a função do
paciente.

Técnica de Peto

Trata-se de um sistema altamente estruturado e formal de tratamento, usado


principalmente com crianças, baseado em um programa planejado e intensivo para
cada pessoa, objetivando alcançar metas seguindo uma mistura de princípios
cognitivos e neurodesenvolvimentistas. O terapeuta atua como "condutor", planejando
tarefas, facilitando o movimento e utilizando verbalizações formalizadas para ajudar
nas ações. Portanto esta técnica, também, não é muito utilizada pelo terapeuta
ocupacional.

Técnica de Rood

A técnica de Rood fundamenta-se na estimulação dos receptores cutâneos e


músculo-tendinosos para ativar as respostas musculares, para obter contração e
relaxamento muscular. São utilizados estímulos táteis e térmicos, além de estímulos
profundos nos receptores cutâneos e proprioceptivos. O terapeuta ocupacional usa
esta técnica, como auxílio nas terapias, e utiliza como recursos, escovas, estimular
com gelo, bater leve – tapping e pressão.

Estimulação Sensorial

Esta é uma abordagem usada para fornecer um input ricamente estimulador de


um ou vários sentidos. Para promover reações, utilizam-se as cores, odores, sons,
texturas, movimentos, vibrações, luzes e diferentes tipos de toques. A qualidade das

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reações depende da integração das entradas sensoriais, que podem apresentar uma
resposta de relaxamento ou estimular o estado de alerta e a atenção da criança.
O terapeuta ocupacional, além de realizar o toque na criança com a mão e com
texturas, também, realiza todos os estímulos sensoriais com objetivo de favorecer a
propriocepção e formar a imagem corporal da mesma. O objetivo principal do
terapeuta ocupacional é preparar a criança para suas funções, assim ela passará por
todos os estímulos, inclusive o brincar. Para que esses estímulos sejam ainda mais
adequados, é essencial, para o tratamento da criança, a presença da mãe.

6 TERAPIA OCUPACIONAL NO AUTISMO

Fonte: espacodomquixote.com.br

O autismo é uma disfunção global do desenvolvimento, que afeta a capacidade


de comunicação do indivíduo, de socialização e de comportamento. Não se conhece
a causa do autismo, mas, estudos em gêmeos monozigóticos indicam que a desordem
pode ser em parte, genética, porque tende a acontecer em ambos os indivíduos.
Em muitos casos, já existe possibilidade de detectar esta disfunção antes dos
dois anos de idade.
Segundo a ASA (Autism Society of American), indivíduos com autismo
usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a seguir:

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 Dificuldade de relacionamento com outras pessoas;
 Riso inapropriado;
 Pouco ou nenhum contato visual;
 Aparente insensibilidade à dor;
 Preferência pela solidão; modos arredios;
 Rotação de objetos;
 Inapropriada fixação em objetos;
 Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade;
 Ausência de resposta aos métodos normais de ensino;
 Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina;
 Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam
perigo);
 Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal) e
estereotipias;
 Recusa colo ou afagos;
 Age como se estivesse surdo;
 Dificuldade em expressar necessidades - usa gesticulação e apontar no
lugar de palavras;
 Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente;
 Irregular habilidade motora - pode não querer chutar uma bola, mas pode
arrumar blocos.

Fonte: johannaterapeutaocupacional.blogspot.com
29
É importante salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam
todos estes sintomas, porém a maioria dos sintomas pode estar presente nos
primeiros anos de vida da criança, estes variam de leve a grave e em intensidade de
sintoma para sintoma. Vale lembrar que a ocorrência desses sintomas não é
determinista no diagnóstico do autismo, para tal, se faz necessário acompanhamento
com psiquiatra infantil ou neuropediatra. Não existem exames laboratoriais ou de
imagem que diagnostiquem o autismo, o diagnóstico é clínico, apenas através de
observação.
Quando falamos em Terapia Ocupacional Infantil, nos remetemos a três
grandes áreas nas quais são de extrema importância na infância: AVDs (atividades
da vida diária), atividades relacionadas ao trabalho escolar e o brincar. A criança
aprende sobre o mundo quando interage com ele, usando as informações que lhe
chegam pelos sentidos, essas interações se dão através do brincar, sendo este o
principal recurso utilizado pela Terapeuta Ocupacional.
O objetivo global da terapia ocupacional é ajudar a pessoa com autismo a
melhorar a qualidade de vida em casa e na escola. O terapeuta ajuda a introduzir,
manter e melhorar as habilidades para que as pessoas com autismo possam chegar
à independência.
Estas são algumas das habilidades que a terapia ocupacional pode promover:

 Habilidades da vida diária, tais como o treinamento do toalete, vestir-se,


escovar os dentes, pentear cabelos, calçar sapatos, e outras habilidades
de preparação;
 Habilidades motoras finas necessárias para a realização de caligrafia ou
cortar com uma tesoura;
 Habilidades motoras utilizadas para andar de bicicleta;
 O sentar adequado, percepção de competências, tais como dizer as
diferenças entre cores, formas e tamanhos;
 Consciência corporal e sua relação com os outros;
 Habilidades visuais para leitura e escrita;
 Brincar funcional, resolução de problemas e habilidades sociais;
 Integração dos sentidos, realizado através da abordagem de integração
sensorial com objetivo de diminuição de estereotipias;

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Ao trabalhar sobre essas habilidades durante a terapia ocupacional, uma
criança com autismo pode ser capaz de:

 Desenvolver relacionamentos com seus pares e adultos;


 Aprender a se concentrar em tarefas;
 Expressar sentimentos em formas mais adequadas;
 Envolver-se em jogo com os pares;
 Aprender a se autorregular;
 Realizar atividades mais refinadas como: escovar dentes, lar laço, vestir-
se etc.
 Independência;
 Aprendizagem;
 Autoconfiança;

A gravidade das repercussões no desenvolvimento das crianças, em áreas


como a socialização, a comunicação e a aprendizagem, bem como as incertezas
relativamente à etiopatogenia, diagnóstico e prognóstico, fazem deste tipo de
perturbação uma área de grande estudo, debate e preocupação tanto para os clínicos
como para os investigadores.

Fonte: cliapsicologia.com.br
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O modelo D.I.R (Modelo baseado no Desenvolvimento, nas Diferenças
Individuais e na Relação) é um modelo de intervenção que tem vindo a ser
desenvolvido pelo Interdisciplinary Council on Developmental and Learning Disorders,
dirigido por Stanley Greenspan e Serena Wieder, nos EUA. É um modelo de avaliação
e intervenção que associa a abordagem Floortime com o envolvimento e participação
da família, com diferentes especialidades terapêuticas (terapia ocupacional,
fonoaudiologia) e a articulação e integração nas estruturas educacionais. Existe um
grande número de investigações e de observações clínicas que contribuem para a
conceitualização de uma abordagem compreensiva do desenvolvimento de crianças
com PEA (Perturbações do Espectro do Autismo) e outras perturbações de
desenvolvimento nas relações interpessoais e na comunicação. Estes determinam
como avaliar e intervir:

Capacidades desenvolvimentais de funcionalidade


A partilha da atenção e a regulação;
O envolvimento nas interações;
Afeto recíproco e comunicação gestual;
Jogo pré-simbólico complexo, comunicação social e resolução de problemas,
incluindo imitação e atenção conjunta;
Uso simbólico e criativo de ideias, incluindo jogo simbólico e uso pragmático da
linguagem;
Uso lógico e abstrato de ideias, incluindo capacidade para expressar sentimentos.

Diferenças individuais
-Modulação sensorial (por exemplo, em que medida a criança é hiper ou hipo-
responsiva às sensações);
-Processamento Auditivo e Visuo-espacial;
-Planejamento Motor.

Relacionamentos e padrões de interação


-Padrões de interação com o cuidador, pais e família;
-Padrões educacionais;

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-Padrões de interação com os pares.
A intervenção baseada na abordagem DIR pode ser conceitualizada como uma
pirâmide, em que cada um dos seus componentes constituintes é construído sob o
outro.

Floortime

Floortime, desenvolvido pelo psiquiatra infantil Stanley Greenspan, é um método de


tratamento que tem em conta a filosofia de interagir com uma criança autista. Floortime
é baseado na premissa de que a criança pode melhorar e construir um grande círculo
de interesses e de interação com um adulto que vá ao encontro da criança.Esta
abordagem tem como objetivo ajudar a criança autista a tornar-se mais alerta, ter mais
iniciativa, tornar-se mais flexível, tolerar a frustração, planejar e executar sequências,
comunicar usando o seu corpo, gestos e verbalização.
Note-se que floortime não é um momento para ensinar, mas sim, explorar a
espontaneidade, iniciativa da criança e suas verbalizações, uma vez que o mais
importante é despertar na criança o prazer de aprender.

Fonte: autism.wikia.com

No floortime, os pais iniciam uma brincadeira que a criança goste ou se


interesse e seguem os comandos da criança. A partir dessa interação, os pais ou o
adulto envolvido na terapia, são instruídos em como levar a criança para atividades
de interação mais complexa, processo conhecido como "abrindo e fechando círculos

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de comunicação". Floortime não separa as diferentes habilidades da fala, habilidades
motoras ou cognitivas, mas guia essas habilidades, enfatizando o desenvolvimento
emocional. A intervenção é chamada floortime, porque os adultos vão para o chão
para uma melhor interação com a criança.
Assim, a abordagem floortime é um modo de intervenção interativa não dirigida,
que tem como princípios básicos: seguir a atividade da criança; entrar na sua atividade
e apoiar as suas intenções, tendo sempre em conta as diferenças individuais e os
estágios de desenvolvimento emocional da criança; através da nossa própria
expressão afetiva e das nossas ações, levar a criança a envolver-se e a interagir
conosco; abrir e fechar ciclos de comunicação (comunicação recíproca); alargar a
gama de experiências interativas da criança através do jogo; alargar a gama de
competências motoras e de processamento sensorial; adaptar as intervenções às
diferenças individuais de processamento auditivo e visuo - espacial, planejamento
motor e modulação sensorial; tentar mobilizar em simultâneo os seis níveis funcionais
de desenvolvimento emocional (atenção, envolvimento, reciprocidade, comunicação,
utilização de sequências de ideias e pensamento lógico emocional).

7 INTEGRAÇÃO SENSORIAL PARA CRIANÇAS AUTISTAS

Fonte: www.neurofisiointensiva.com

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Conhecidos por poucos a integração sensorial tem sido uma grande ferramenta
terapêutica no tratamento de crianças com autismo. Em regra, os autistas possuem
uma hipersensibilidade sensorial que provoca inúmeras reações negativas em seu
comportamento diário. Essas reações podem ser interpretadas de forma equivocadas
e, por isso, não são devidamente tratadas.
Por exemplo, crianças relatam serem capazes de ouvir conversas ou o som de
móveis sendo arrastados em outros prédios. Outras crianças são tão sensíveis ao
estímulo táctil (toque) que não toleram a sensação da etiqueta em suas camisetas.
Por outro lado, algumas crianças aparentam ser hipossensíveis a estímulos
sensoriais, ou seja, são pouco sensíveis e necessitam de uma maior intensidade de
estímulo para que este seja percebido. Como exemplo, algumas crianças buscam a
sensação de intensa pressão ao serem massageadas ou ao serem firmemente
enroladas em pesados cobertores. Muitas crianças no espectro aparentam ter
complexos padrões de sensibilidades sensoriais. Por exemplo, uma criança pode ser
hipersensível a sons e cheiros, mas hiposensível ao toque. Em outros casos, as
sensibilidades das crianças parecem mudar de um momento para o outro, ou dentro
de períodos de dias ou semanas. Elas podem ser hipersensíveis à luz em um dia e
parecer hiposensíveis ou não afetadas pela luz em um outro dia. A ciência de hoje
ainda não consegue explicar completamente por que isto acontece.

Fonte:umolhardiferente-to.blogspot.com

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Integração sensorial refere-se ao processo de organização cerebral para
eficientemente processar a recepção de informação sensorial e apresentar respostas
apropriadas ao conjunto de estímulos. As crianças neurotípicas aprendem a integrar
seus sentidos nos primeiros anos. Elas o fazem através de interações com as pessoas
próximas e através de brincadeiras exploratórias.
Na verdade, toda e qualquer ação da criança resulta em informação sensorial
para o cérebro, o que contribui para o processo de organização e integração. Quando
você vê um bebê colocando objetos na boca ou batendo objetos no chão você está
testemunhando os métodos naturais do cérebro para a integração sensorial. Quando
sua criança de 4 anos pula na cama, roda em torno do próprio eixo até ficar tonta ou
quer que você a segure de cabeça para baixo, ela está integrando seus sentidos. O
sistema vestibular (que controla o equilíbrio) continua a amadurecer até a
adolescência, o que explica o porquê dos adolescentes buscarem experiências
intensas como as das montanhas-russas, enquanto que os adultos geralmente não as
toleram fisicamente.
Crianças com autismo não são diferentes em relação a isto. Elas também
recebem a informação sensorial que ajuda o cérebro a se organizar através de
atividades como rodar, balançar, correr, pular, bater, tocar, mastigar, apertar e cheirar!
A diferença é que crianças com autismo geralmente necessitam fazer estas atividades
por períodos maiores e de forma mais intensa do que outras crianças. Algumas delas
também continuam a precisar destes tipos de estímulos engajando-se em
comportamentos auto estimulatórios que não seriam considerados “apropriados” para
suas idades em nossa sociedade. Devido a comportamentos desta natureza, crianças
com autismo são amplamente incompreendidas.
Abordagens comportamentais tradicionais ao autismo têm visto estas
atividades de auto estimulação sensorial como “ruins” ou “inapropriadas”, e buscam
eliminá-las. Diversas estratégias foram utilizadas no passado para eliminar estes
comportamentos, desde o amarrar as mãos das crianças em suas cadeiras até a
“terapia” de eletrochoque. Versões mais modernas tendem a não ser tão extremas,
apesar da filosofia continuar a ser a mesma, a de eliminar (ou pelo menos interromper
e redirecionar) estes comportamentos em nome de uma “normalidade social” ou
habilidade de se concentrar durante as aulas.

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