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IMariaCoelho 15/11/2022

SHER, B. (2009). Early intervention games: fun, joyful ways to develop social and motor
skills in children with autism spectrum or sensory processing disorders. Jossey-Bass: A
Wiley Imprint.

CAP. I- ENTENDER AS ALTERAÇÕES DO PROCESSAMENTO SENSORIAL (p.9)

Considerar a integração sensorial é importante quando se trabalha com crianças com


problemas de processamento sensorial. Pesquisas mostram que a maioria das crianças
que se inscrevem no espetro do autismo também tem problemas sensoriais,
especialmente com audição, tato e visão.
O processamento sensorial é a capacidade que o cérebro tem de integrar corretamente
as informações recebidas pelos sentidos. As informações que recebemos através dos
sentidos- tato, movimento, olfato, paladar, visão e audição- são combinadas com
informações, memórias e conhecimentos já armazenados no cérebro, para dar sentido ao
nosso mundo. Nas crianças que não exibem alterações no processamento sensorial, todos
os estímulos sensoriais do ambiente e todos os estímulos do corpo trabalham em
conjunto para que saibam o que está a acontecer e o que fazer; sem que haja, no entanto,
um esforço consciente para filtrar esses estímulos.

PROCESSAMENTO SENSORIAL:
1- Registo- tomar consciência da sensação;
2- Orientação- focar a atenção na sensação;
3- Interpretação- compreender a informação que esta a ser registada;
4- Organização- usar a informação para eliciar uma resposta (comportamento
emocional, resposta cognitiva, ou uma atividade física).

ALTERAÇOES NO PROCESSAMENTO SENSORIAL (p.10-11)


A criança que manifesta alteração no processamento sensorial, como nem sempre é capaz
de processar funcionalmente as informações recebidas pelos sentidos, é incapaz de se
adaptar facilmente a uma situação. A sua neurobiologia dos sistemas sensoriais está

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desorganizada (alterada); logo, a sua capacidade de perceber o mundo de forma


adaptativa e funcional também se encontra desorganizada. A criança que manifesta
alterações/desorganizações no processamento sensorial pode ter dificuldade em “ler
pistas”, verbais ou não verbais, do ambiente. A criança deve ser capaz de perceber,
interpretar e processar informações para que possa aprender sobre o mundo ao seu
redor. Se não conseguir fazê-lo pode sentir-se desconfortável, originando a manifestação
de determinados comportamentos como afastar-se, “desligar”, ou bater as mãos. A
criança pode, também, ser hipersensível ao som ou ao toque, ou incapaz de filtrar ruídos
ou texturas de roupas que a distraiam. Como resposta a esses estímulos, pode manifestar
atividade motora impulsiva, fazer barulhos ou fugir. Essa hipersensibilidade é, também,
conhecida como híper responsividade ou defesa sensorial. A criança com esta resposta
pode sentir-se o incomodado com a sensação da roupa ou de uma etiqueta, ou com a
posição das meias; podem, igualmente, queixar-se de barulhos, cheiros, entre outras
queixas sensoriais. A criança que manifesta hipersensibilidade está em alerta para se
proteger de perigos reais ou imaginários de um mundo que se apresenta, para ela, como
imprevisível. Por isso, o seu comportamento pode parecer ansioso, egocêntrico, ou
teimoso, pois o perigo imaginado é muito real para eles.
A criança com alterações no processamento sensorial também pode ter a resposta oposta
e ser pouco responsiva. Em vez de evitar o toque, ela estará constantemente a bater nas
coisas ou a bater com os com os pés, procurando um estímulo extra. Em vez de evitar o
movimento e se cansar facilmente, a criança pode ansiar excessivamente por movimentos
intensos- girar, balançar e pular, e estar em constante movimento.
Há crianças que podem flutuar entre esses extremos. O seu nível de excitação é errático e
não necessariamente relevante para os estímulos em si. Isso significa que seria muito
difícil prever como eles podem reagir.
TIPOS DE ALTERAÇÕES NO PROCESSAMENTO SENSORIAL (p.12-13)
Jean Ayres desenvolveu a teoria da integração sensorial que levou à identificação das
alterações (ou problemas) do processamento sensorial e à sua intervenção terapêutica.
Inclui três grupos de diagnóstico primário:

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1. ALTERAÇÃO DA MODULAÇÃO SENSORIAL(SMD)


A modulação sensorial refere-se ao processo pelo qual as mensagens do sistema sensorial
transmitem informações sobre a intensidade, a frequência, a duração, a complexidade e a
novidade dos estímulos sensoriais. Nestes casos, torna-se difícil para a criança igualar a
intensidade da sua resposta à intensidade da sensação. Assume a forma de
hiperresponsividade sensorial, o que faz com que a criança fique mais alerta do que a
maioria das crianças.
2.ALTERAÇÃO SENSORIAL MOTORA
Essa disfunção ocorre quando a entrada sensorial do sistema propriocetivo e vestibular é

mal interpretada, ou a informação é processada incorretamente. Quando o sistema

nervoso central da criança tem dificuldade em utilizar as informações sensoriais desses


sistemas ela pode apresentar um subtipo de SBMD chamado dispraxia, que é a
incapacidade de realizar uma sequência de ações que são necessárias para fazer algo que
a criança deseja fazer como imitar ações, praticar desportos, andar de bicicleta ou subir
uma escada. As crianças com SBMD costumam ser “desajeitadas”, partem brinquedos sem
querer ou tropeçam em coisas.
3.ALTERAÇÃO NA DISCRIMINAÇÃO SENSORIAL
Esta é a incapacidade de distinguir entre sensações semelhantes. A discriminação
sensorial é o processo pelo qual usamos a informação que os nossos sentidos captam,
integrando-a, interpretando-a, analisando-a e associando a todos os dados que temos

armazenados, fazendo uso adequado dessa informação. Quando uma criança é tão

fortemente afetada por sensações táteis ou outras informações sensoriais, que a fazem
retrair totalmente, torna-se hiperativa ou ataca, nestas situações os problemas sensoriais
da criança são graves o suficiente para justificar a intervenção.

OS TRÊS PRINCIPAIS SISTEMAS SENSORIAIS (p.14-16)


Tátil, vestibular e propriocetivo. Embora estes três sistemas sensoriais sejam menos

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familiares que a visão e a audição, eles são importantes pois ajudam a experimentar,
interpretar e responder a diferentes estímulos do nosso ambiente.
1-SISTEMA VESTIBULAR
Localiza-se no ouvido interno, deteta o movimento e mudanças na posição da cabeça. É
através deste sistema que nos relacionamos no espaço. É uma base para o tónus
muscular, equilíbrio e coordenação bilateral. Todos os outros tipos de sensação são
processados de acordo com a informação vestibular, por isso é um sistema unificador do
cérebro.
A criança que é hipersensível à estimulação vestibular pode ter uma resposta de “luta ou
fuga”, que a deixaria muito assustada, a quere fugir ou atacar os outros. Pode ter uma
reação de medo a atividades de movimento comuns e parecer ansioso e desajeitado. Irão
evitar equipamentos de recreio e andar em elevadores ou escadas rolantes, e às vezes até
em carros. A criança com um sistema vestibular hiporreativo pode propositadamente
procurar movimentos corporais excessivos, como girar, pular, ficar de cabeça para baixo,
balançar por longos períodos, mover-se constantemente ou apenas ficar continuamente
inquieto. Tenta, continuamente, estimular o seu sistema vestibular para alcançar um
estado de alerta silencioso.
2- SISTEMA TÁTIL
O sistema tátil é o maior sistema sensorial do nosso corpo e é composto por recetores na
pele, que enviam informações ao cérebro sobre fatores como luz, toque, dor, temperatura
e pressão. dá forma à consciência corporal e espacial e desempenha um papel importante
na perceção do ambiente e no estabelecimento de comportamentos adaptativos para a
sobrevivência. Existem dois componentes no sistema: protetor, que é defensivo; e
discriminativo, que é exigente. Esses dois devem trabalhar juntos para nos permitir
funcionar e realizar as tarefas diárias.
A hiposensibilidade é observada em crianças que não têm consciência da dor, da

temperatura ou da sensação de alguns objetos. Às vezes, procuram mais estímulo e


podem mexer em brinquedos, mastigar objetos ou esbarrar contra pessoas ou móveis. A
estimulação tátil dolorosa pode não ser sentida, deixando facilmente a criança indefesa ou

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vulnerável a situações perigosas. A intervenção precisa incluir estimulação intensa do


toque para ajudá-los a processar adequadamente as informações tateis.
3-SISTEMA PROPRIOCETIVO
O sistema propriocetivo é composto por fibras musculares dos tendões e ligamentos que
fornecem à pessoa a perceção subconsciente da posição do corpo e de como ele está a
movimentar-se. Este sistema ajuda a desenvolver respostas adaptativas. Quando o
sistema propriocetivo é hipersensível há dificuldade em receber as informações dos
músculos e articulações. A criança pode colocar muita ou pouca pressão em objetos, e até
partir brinquedos sem querer. Pode, também, resistir a realizar novas atividades de
movimento motor porque não conseguiram imitar movimentos no passado. Da mesma
forma, pode haver hipo sensibilidade, na qual há um alto limiar de dor subjacente e a
pessoa afetada precisa de mais informações para obter sensação. Os comportamentos
observados podem ser bater ou esbarrar em coisas, morder ou ranger os dentes, bater a
cabeça e assim por diante.
Práxis ou planeamento motor é a capacidade de planear e executar diferentes tarefas
motoras, como imitar os movimentos de outra pessoa, subir a uma árvore ou copiar
palavras de um quadro. A criança com dispraxia tem dificuldade em usar as informações
sensoriais para planejar e organizar o que precisa ser feito e pode não aprender com
facilidade.
Outros sentidos: processamento visual e auditivo (p.17)
O sistema vestibular e a visão trabalham em colaboração para manter a postura e o

equilíbrio. Deficits de processamento visual não significam que haja ausência de visão.
Pelo contrário, significa que o cérebro não está a processar o que está a ver. É um sistema
muito complexo. Se solicitada para pegar num objeto a criança pode olhar diretamente
para ele e dizer que não consegue encontrá-lo. Também pode ter dificuldade em
encontrar as palavras para os objetos que está a ver.
O processamento auditivo também tem sido associado ao sistema vestibular. Da mesma
forma, os deficits de processamento auditivo não se referem a problemas de audição, mas
ao processamento da informação ouvida. A criança pode ouvir o que se diz, mas o cérebro

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pode não integrar e assimilar as suas palavras. Não é que a criança não entenda –
simplesmente pode levar um momento ou mais antes de o fazer.
ALTERAÇÕES NO PROCESSAMENTO SENSORIAL (p.17-18)
A criança pode manifestar problemas com a interação entre pares, com a atenção, com a
coordenação motora grossa e fina e nível de atividade, pode, também, exibir dificuldades
de desenvolvimento, baixa autoestima, e atrasos de fala ou linguagem. Os
comportamentos são quase sempre afetados e a criança pode comportar-se do forma
impulsiva, agressiva, distraída, medrosa, retraída ou “estar no próprio mundo”; pode
mostrar uma falta geral de planeamento e ter dificuldades em adaptar-se a novas
situações.
Alterações no processamento sensorial podem assumir muitas formas, mas quase sempre
aparecem em atividades sociais. O que outras crianças acham agradável pode ser
extremamente desconfortável para crianças com problemas de processamento sensorial
(jogar à bola). Se ser tocado é um problema, se os sistemas sensoriais que dão uma
sensação de equilíbrio e consciência corporal não estão alinhados, se estar na multidão
produz ansiedade, então faz sentido que situações sociais sejam difíceis.
O comportamento social da criança pode parecer “estranho”, “nerd”, “bebé” ou
“esquisito”. A criança que está a tentar proteger-se, recusando-se teimosamente a fazer
as coisas, pode ser vista como uma criança com “problemas” ou com “uma feitiozinho”.
Por exemplo, se a criança está a tentar acalmar-se batendo com a mão ou girando os
outros podem vê-la como estranha e evitar sua companhia. Ou a criança pode ser
condenada ao ostracismo porque ela não entende as regras do espaço social e, procurar
informações sensoriais, focar diretamente o rosto de outra pessoa, toca demais ou
esbarra em outras pessoas com muita frequência.
Ter problemas com as transições – passar de uma atividade para outra – torna as rotinas
escolares um problema para a criança. Nestes casos, podem observar-se comportamentos
sociais como ansiedade, retraimento, raiva, desafio e defesa, o que torna difícil para as
crianças com alterações do processamento sensorial serem aceites por outras crianças.
Quando a informação sensorial é imprevisível, é fácil ver por que algumas dessas crianças

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preferem factos e informações e colocam os objetos em ordem, pois estas coisas são
estáveis e previsíveis e não mudam de acordo com o estado de excitação da pessoa.

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