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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2

2 PSICOMOTRICIDADE: CONCEITO E HISTÓRICO ................................... 3

3 ELEMENTOS DA PSICOMOTRICIDADE ................................................... 5

3.1 Esquema corporal ................................................................................ 6

3.2 Imagem corporal .................................................................................. 7

3.3 Tônus ................................................................................................... 8

3.4 Coordenação global ou motricidade ampla .......................................... 9

3.5 Motricidade fina .................................................................................. 10

3.6 Organização espaço-temporal ........................................................... 10

3.7 Ritmo .................................................................................................. 11

3.8 Lateralidade ........................................................................................ 12

3.9 Equilíbrio ............................................................................................ 13

4 O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA .......................................................... 13

5 PSICOMOTRICIDADE COMO ÁREA TRANSDISCIPLINAR ................... 17

6 O PAPEL DA PSICOMOTRICIDADE E SEU CAMPO DE PRÁTICA


PROFISSIONAL ........................................................................................................ 19

7 A PSICOMOTRICIDADE EM DIFERENTES ESTÁGIOS DE


DESENVOLVIMENTO INFANTIL .............................................................................. 23

8 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL


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9 APLICAÇÕES DA EDUCAÇÃO E DA REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA 29

9.1 Antes de reeducar, identificar ............................................................. 30

9.2 Aspectos essenciais ao desenvolvimento psicomotor ........................ 32

10 O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA NA EDUCAÇÃO E NA


REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA ............................................................................. 35

11 REREFRÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................... 37

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 PSICOMOTRICIDADE: CONCEITO E HISTÓRICO

Fonte: liceu.com.br

A psicomotricidade é a ciência que estuda o homem e as suas relações com


seu corpo e seus movimentos, além de considerar as relações que surgem da
interação com o outro e o ambiente. Se for analisada a etiologia da palavra (psi =
emoção, co = cognitivo, motric = movimento humano, idade = etapas de vida),
percebe-se o quão abrangente o campo de estudos da psicomotricidade pode ser. O
estudo da psicomotricidade tem forte caráter educacional, pois é aplicado em escolas
e salas de aula e de atendimento especializado, com a intenção de aprimorar o
desenvolvimento dos sujeitos que possam apresentar (ou não) dificuldades
relacionais, motoras ou de aprendizagem em tais espaços.
As pesquisas que deram origem ao campo psicomotor apresentaram
inicialmente um enfoque eminentemente neurológico. Em 1909, o neuropsiquiatra
Ernest Dupré, figura de fundamental importância na área, afirmou a independência da
debilidade motora de um possível correlato neurológico, apontando que, ainda assim,

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essa debilidade poderia causar alterações consideráveis em relação ao
desenvolvimento humano. Em 1925, o médico e psicólogo Henri Wallon estudou o
movimento humano, reconhecendo sua categoria fundante como instrumento na
construção do psiquismo. Essa diferenciação permitiu a Wallon relacionar o
movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo.
Em 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolveu um exame psicomotor
para fins de diagnóstico, indicação da terapêutica e prognóstico. Em 1947, o psiquiatra
Julian de Ajuriaguerra redefiniu o conceito de debilidade motora, considerando-a como
uma síndrome com suas próprias particularidades. Foi quem delimitou com clareza os
transtornos psicomotores que oscilam entre os âmbitos neurológico e o psiquiátrico.
Com essas novas contribuições, a psicomotricidade passou a se diferenciar de outras
disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia.
Com o entendimento de que as dificuldades motoras podem existir mesmo que
não haja uma deficiência neurológica no ser humano, o uso do termo psicomotricidade
ganhou força em 1970, explicar tais acontecimentos durante o desenvolvimento,
sobretudo o infantil. Nessa década, diferentes autores definiram a psicomotricidade
como uma motricidade de relação, considerando a íntima ligação dos aspectos
afetivos aos aspectos motores dos sujeitos.
A partir daí, começou a ser delimitada a diferença entre uma postura
reeducativa e uma postura terapêutica. Ao se desligar da técnica instrumentalista e se
ocupar do "corpo de um sujeito", a abordagem terapêutica dá, progressivamente,
maior importância à relação entre mente e coração, bem como ao entendimento do
sujeito como um todo. Tal entendimento perdura até os dias atuais.

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3 ELEMENTOS DA PSICOMOTRICIDADE

Fonte: www.gramadosite.com.br

Segundo Fonseca (2008), são inúmeras as classificações e termos utilizados


para denominar as funções psicomotoras. Independentemente disso, os conceitos são
basicamente os mesmos; o que mudou foi a forma como esses conceitos são
categorizados e agrupados. Os termos mais usados no Brasil e seus respectivos
conceitos são apresentados a seguir.

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3.1 Esquema corporal

Fonte: wordwall.net

Trata-se de um conhecimento pré-consciente sobre o próprio corpo e suas


partes, o que permite o sujeito relacionar-se com os espaços, objetos e pessoas que
o cercam. As informações proprioceptivas ou cinestésicas concebem esse
conhecimento sobre o corpo e, à medida que o corpo desenvolve, ocorrem mudanças
e ajustes no esquema corporal. Exemplo: A criança sabe que a cabeça está no
pescoço e que ambos fazem parte de um conjunto maior, o corpo.

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3.2 Imagem corporal

Fonte: www.mildicasdemae.com.br

conforme aponta Le Bouch (1992), é a representação mental inconsciente do


nosso próprio corpo, formada a partir do momento em que o corpo começa a ser
desejado e, portanto, passa a desejar também. Um exemplo é o estágio do espelho,
que se inicia aos 6-8 meses de idade, quando a criança já se reconhece no espelho e
sabe que está vendo uma imagem espelhada de si mesma. Portanto, a imagem
precede o esquema - assim, sem a imagem, não há esquema corporal.

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3.3 Tônus

Fonte: docplayer.com.br

De acordo com Sampaio (2009), O tônus fisiológico dos músculos garante o


equilíbrio estático e dinâmico, a coordenação e a postura do corpo em qualquer
postura, seja em repouso ou em movimento. Por exemplo: A maioria das pessoas com
síndrome de Down tem hipotonia, uma tensão ou tônus abaixo do normal que resulta
em aumento da mobilidade e flexibilidade e diminuição do equilíbrio, postura e
coordenação.

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3.4 Coordenação global ou motricidade ampla

Fonte: www.aprendateclado.com

De acordo com Le Bouch (1992), é a ação conjunta de distintos grupos


musculares durante a realização de movimentos voluntários, amplos e relativamente
complexos. Exemplo: Para andar, utilizamos uma ampla gama de coordenação
motora em que os membros superiores e inferiores são coordenados alternadamente
para que haja deslocamento

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3.5 Motricidade fina

Fonte: www.elo7.com.br

Conforme definido por Le Bouch (1992), é a capacidade de usar pequenos


grupos musculares nas extremidades para o movimento coordenado. Por exemplo:
escrever, costurar, digitar.

3.6 Organização espaço-temporal

Fonte: espacodeaprendizagem.com

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É a capacidade de se posicionar corretamente no espaço e no tempo. Para
tanto, devem existir os conceitos de perto, longe, em cima, em baixo, dentro, fora, ao
lado, frente e verso. Alguns autores estudam a organização espacial e temporal
separadamente. Fonseca (2008) utiliza como exemplo o jogo “Batatas Fritas 1, 2, 3”.

3.7 Ritmo

Fonte: novaescola.org.br

Conforme destaca Sampaio (2009), é uma sequência constante e periódica do


comportamento motor. Para ter ritmo é preciso que haja organização espacial. Por
exemplo: pular corda.

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3.8 Lateralidade

Fonte: www.soescola.com

É a capacidade de experimentar o movimento usando os dois lados do corpo,


às vezes o direito, às vezes o esquerdo. Por exemplo, uma criança destra pode abrir
uma porta com a mão esquerda mesmo que a mão direita esteja ocupada. Isso é
diferente da dominância lateral, que é o desenvolvimento de maiores habilidades em
um lado do corpo devido à dominância cerebral - ou seja, pessoas com dominância
do cérebro esquerdo são mais propensas a desenvolver mais habilidades no lado
direito do corpo, por isso são destros. Com os canhotos, é o oposto, pois sua
dominância cerebral é do lado direito, como destacado por Sampaio (2009).

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3.9 Equilíbrio

Fonte: novaescola.org.br

É a capacidade de ficar em pé com um suporte corporal reduzido, usando a


combinação apropriada de movimentos musculares, sejam estacionários ou em
movimento. Segundo Sampaio (2009), um exemplo de equilíbrio dinâmico é caminhar
sobre uma prancha, enquanto o equilíbrio estático é manter a postura sentada correta.

4 O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA

Fonte: projab.org.br

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Para o psicomotricista, o sujeito constitui sua unidade a partir das interações
com o mundo externo e nas ações do outro (mãe e substitutos) sobre ele. A especifi
cidade do psicomotricista se situa, assim, na compreensão da gênese do psiquismo e
dos elementos fundadores da construção da imagem e da representação de si.
Uma criança que não consegue organizar seu corpo no tempo e no espaço não
conseguirá sentar-se em uma cadeira, concentrar-se, segurar um lápis com firmeza e
reproduzir em um papel o que elaborou em pensamento. Autores como Oliveira (2015)
indicam que o primeiro dicionário é escrito no corpo, reforçando, assim, a importância
do movimento enquanto base para outras novas aquisições das etapas do
desenvolvimento humano. Corroborando com isso, Le Boulch (1985) indica que o ato
antecipa a palavra, e a fala é uma importante ferramenta psicológica organizadora,
pois é por meio da fala que a criança integra os fatos culturais ao desenvolvimento
pessoal. Logo, a partir do momento em que ocorrem falhas no desenvolvimento dos
movimentos dessa criança, podem também ocorrer falhas na capacidade de aquisição
da linguagem verbal e/ou escrita.
Com isso, o psicomotricista, primeiramente, pode atuar na educação infantil,
estimulando o desenvolvimento infantil a partir do trabalho das habilidades motoras e
das capacidades físicas, com vistas ao aprimoramento das questões sociais e
afetivas. Tanto que alguns autores sugerem a importância do trabalho do
psicomotricista nos primeiros cinco anos de idade da criança, como se houvesse uma
espécie de “janela” aberta para o melhor desenvolvimento das mesmas nesse
período.
O Quadro 1 apresenta os principais conhecimentos e aquisições psicomotoras
em cada fase de desenvolvimento infantil.

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Fonte: Fonte: Adaptado de Fonseca (2008).

De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade ([2019]), as


áreas de atuação para o psicomotricista podem ser: educacional, institucional e
clínica. Em relação aos eixos de atendimento, a associação destaca os descritos a
seguir.

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Psicomotricidade educacional: atendimento voltado ao espaço escolar,
podendo ser realizado no nível da educação infantil e dos ensinos
fundamental, médio e superior.
Psicomotricidade hospitalar: em ambulatórios, UTIs, espaços de saúde
e brinquedotecas, com vistas à reabilitação de alguma debilidade
psicomotora.
Psicomotricidade empresarial: atividades de ergopsicomotricidade, em
que se encontram formas de desenvolver aspectos motores dentro dos
espaços de trabalho.
Terapia psicomotora: destinada a indivíduos com particularidades em
saúde mental e idade avançada, como é o caso dos idosos.

5 PSICOMOTRICIDADE COMO ÁREA TRANSDISCIPLINAR

A psicomotricidade, a psicopedagogia e a educação física estão intimamente


ligadas, pois, antes de aprender a matemática, o português e os ensinamentos
formais, o corpo deve estar organizado, com todos os elementos psicomotores
estruturados, para que isso seja possível. Especifi camente em se tratando de
infância, desde o nascimento, o que salta aos olhos no desenvolvimento infantil é o
corpo em movimento, que, inicialmente, não apresenta signifi cados inscritos, mas,
aos poucos, transforma-se em expressão de desejo e, posteriormente, em linguagem,
conforme descreve Lapierre (1986).
Assim, aos poucos, esse corpo em movimento se transforma e, a partir daí, a
criança é capaz de reproduzir situações reais, fazendo imitações que se transformam
em “faz de conta”, conforme leciona Sampaio (2009). A partir daí, a criança consegue
separar o objeto de seu significado, falar daquilo que está ausente e representar
corporalmente. Esse processo nada mais é do que a vivência dos elementos

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psicomotores dentro de contextos histórico-culturais e afetivos significativos, ainda
conforme aponta Sampaio (2009).
O que garantirá a aprendizagem de conceitos formais aliados à aprendizagem
de conceitos do cotidiano são práticas como: construir textos, contar uma história, dar
um recado, fazer compras, varrer a casa, utilizar as operações matemáticas para
contar quantas pessoas vieram, quantas faltaram, etc. Além disso, para chegar a uma
coordenação motora fina, necessária à construção da escrita, a criança precisa
desenvolver a motricidade ampla, organizar seu corpo, ter experiências motoras que
estruturem sua imagem e seu esquema corporal, conforme Fonseca (2010).
De modo geral, parece evidente a função da psicomotricidade enquanto forma
de estruturar o desenvolvimento humano em diversos contextos de origem existentes.
Com isso, é possível reforçar a abordagem transdisciplinar da psicomotricidade, que
sugere a compreensão do conhecimento de forma plural, em que não se dissocia o
sujeito e os temas envolvidos no desenvol vimento humano (afetividade, motricidade,
cognição). A psicomotricidade pode representar uma peça importante no quebra-
cabeças do desenvolvimento humano, sobretudo o infantil. Todas as possibilidades
adquiridas por meio da psicomotricidade na infância vão refletir na qualidade de uma
série de processos sociocognitivos, afetivos e motores na vida adulta, promovendo,
assim, um desenvolvimento integral dos indivíduos.

Brincando e inventando histórias


Vejamos um exemplo de como aplicar a psicomotricidade
em favor do desenvolvimento infantil. Em um espaço amplo,
pode-se montar um cenário com lápis, canetas e tintas, para
exploração, e um grande caminho em papel pardo, fixado ao
chão. Deve-se explicar às crianças que será contada uma
história e que, enquanto elas estiverem percorrendo a “estrada
de papel”, elas deverão representar, da forma como julgarem, o
que está sendo contado pelo(a) professor(a). Com poucos
materiais e criatividade, por meio da prática deste exemplo,
pode-se trabalhar o diálogo tônico, a expressão corporal e a
capacidade auditiva dos pequenos.

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6 O PAPEL DA PSICOMOTRICIDADE E SEU CAMPO DE PRÁTICA
PROFISSIONAL

Quem é o psicomotricista? E qual é o seu papel na educação infantil? Esse, de


fato, é um cenário de prática profissional que ainda passa por transformações
estruturais. A psicomotricidade foi reconhecida como campo profissional somente em
2019 (BRASIL, 2019), comportando psicomotricistas de formação inicial (p. ex.,
graduação em psicomotricidade) ou continuada (p. ex., pós-graduação lato sensu).
Desse modo, a psicomotricidade é uma área de intervenção que abarca diferentes
perfis de profissionais com um amplo leque de intervenção, como médicos psiquiatras,
pedagogos, profissionais de educação física, psicopedagogos, fonoaudiólogos, entre
outros.
Todavia, o foco da psicomotricidade no trabalho pedagógico na educação
infantil é abordar a criança integralmente, não se restringindo apenas a aspectos
emocionais, cognitivos ou motores. A aposta está na sinergia entre esses elementos,
de modo que a prática docente — principalmente do profissional de educação física
no ensino infantil — poderá valer-se da sistematização do ensino tanto dos elementos
psicomotores quanto da cultura corporal de movimento, manifestada pela criança
desde a mais tenra idade.
De acordo com Cipriano e Moreira (2016), os precursores da psicomotricidade
foram o neuropsiquiatra Dupré, em 1909, o médico e psicólogo Henry Wallon, em
1925, e o neurologista Edouard Guilmain, em 1935. Portanto, na década de 70, vários
autores definiram a psicomotricidade como uma “motricidade de relação”. Atualmente,
o psicomotricista pode atuar com bebês, crianças, adultos e idosos, porém sempre
tendo em mente que, para cada público, há um alvo de desenvolvimento a ser
acertado. Desse modo, o psicomotricista aposta em um trabalho pedagógico que
englobe os aspectos emocionais, cognitivos e motores, a fim de identificar e/ou
minimizar as suas deficiências e dificuldades, de modo a estimular o desenvolvimento
integral do sujeito. Nessa empreitada, o psicomotricista deverá identificar as limitações
e potencialidades do indivíduo que está sendo atendido no que tange aos elementos
psicomotores. O Quadro 1, a seguir, apresenta os elementos psicomotores aos quais
o psicomotricista deverá estar atento e seus conceitos.

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Fonte: Adaptado de Aquino et al. (2012).

Mas, afinal, você já parou para pensar em quem é o psicomotricista? Qual é o


seu campo profissional? E a sua área de intervenção? Qual é a importância de sua
prática pedagógica na educação infantil? Pois bem, é preciso reconhecer,
primeiramente, que a psicomotricidade, como campo profissional e área de
intervenção, tem passado por estruturais transformações nos últimos anos. Há vários
anos, essa área de intervenção tem sido cooptada por diferentes perfis de
profissionais da saúde, educação e até mesmo do lazer. Muito disso está centrado no
fato de que somente recentemente a psicomotricidade foi reconhecida como campo

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profissional, o que exigiu do sujeito que usa de suas teorias e técnicas uma formação
inicial na área ou, ao menos, uma especialização comprovada (BRASIL, 2019).
Atualmente, o psicomotricista precisa ter em mãos o título de Graduação em
Psicomotricidade ou, de acordo com a Lei nº 13.794, de 3 de janeiro de 2019, ter
concluído especialização na área (BRASIL, 2019). Desse modo, a psicomotricidade
abarca diferentes perfis de profissionais, e, por conseguinte, um amplo leque de
intervenção profissional. É possível encontrar psicomotricistas que são médicos,
professores, gestores, fonoaudiólogos ou até mesmo psicopedagogos de formação
inicial. Na prática, a teoria e as técnicas psicomotoras podem marcar presença em
diferentes setores da sociedade, da saúde (p. ex., Unidades Básicas de Saúde,
hospitais, clínicas, etc.) à educação (p. ex., escolas, creches, etc.), porém sempre
direcionadas ao desenvolvimento integral do aluno e/ou paciente.
Em geral, de acordo com a atual regulamentação da área (BRASIL, 2019),
compete ao psicomotricista as seguintes incumbências:

atuar nas áreas de educação, reeducação e terapia psicomotora,


utilizando recursos para a prevenção e o desenvolvimento psicomotor;
ministrar disciplinas específicas dos cursos de Graduação e Pós-
-Graduação em Psicomotricidade;
atuar em treinamento institucional e em atividades de ensino e
pesquisa;
participar de planejamento, elaboração, programação,
implementação, direção, coordenação, análise, organização, avaliação
de atividades clínicas e parecer psicomotor em clínicas de reabilitação ou
em serviços de assistência escolar;
prestar auditoria, consultoria e assessoria no campo da
psicomotricidade;
gerenciar projetos de desenvolvimento de produtos e serviços
relacionados com a psicomotricidade;
elaborar informes e pareceres técnico-científicos, estudos,
trabalhos e pesquisas mercadológicas ou experimentais relativos à
psicomotricidade.
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Uma vez ciente desse cenário, qual é a importância da prática pedagógica do
psicomotricista na educação infantil? Confira a seguir.
Contudo, reconhecer a importância da psicomotricidade nesse setor
educacional perpassa identificar quem é o profissional que fará uso de suas teorias e
técnicas. Na educação infantil, tem-se majoritariamente a atuação de pedagogos
(COSTA et al., 2019). Em menor proporção, as instituições de ensino infantil
contratam professores especialistas para determinadas disciplinas, como, por
exemplo, educação física escolar (COSTA et al., 2019). Contudo, a figura do
psicomotricista nem sempre tem seu espaço reservado nas escolas de ensino infantil.
Em tese, o ideal seria que houvesse espaço e tempo nas escolas especificamente
para o atendimento das necessidades das crianças por intermédio da
psicomotricidade. Se, por vezes, o ideal parece utopia, em algumas instituições de
ensino, a abordagem psicomotora é tratada em outras disciplinas, caso da educação
física escolar (AQUINO et al., 2012).
Não há dúvidas de que ainda existe um abismo no setor educacional brasileiro
com relação à importância de determinadas práticas pedagógicas e sua valorização
no espaço escolar. A importância da psicomotricidade, nesta que é a primeira etapa
da Educação Básica (BRASIL, 2017), centra-se na possibilidade de identificar
precocemente as deficiências e limitações das crianças desde a mais tenra idade,
tendo pela frente tempo hábil para amenizá-las ou até mesmo revertê-las. Soma-se a
isso o fato de que o psicomotricista não enfatizará apenas um recorte da realidade,
mas sim optará por um trabalho dinâmico que englobe os aspectos emocionais,
cognitivos e motores das crianças.
Em geral, todas as crianças podem se beneficiar da prática profissional ou, ao
menos, das teorias e técnicas da psicomotricidade no ensino infantil. O psicomotricista
não precisa sempre estar voltado a um trabalho pedagógico individualizado, pois é na
dinâmica da sala de aula que o educador poderá exercer a beleza de sua profissão,
ao integrar os deficientes, identificar as limitações e potencialidades da turma, bem
como oportunizar a todos, sem exceção, o acesso a um ensino sistematizado de
qualidade direcionado ao seu desenvolvimento integral.

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7 A PSICOMOTRICIDADE EM DIFERENTES ESTÁGIOS DE
DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O trabalho psicomotor vem ganhando cada vez mais destaque no ensino


infantil. Via de regra, tal relevância está centrada no fato de que o trabalho pedagógico
pode prevenir ou até mesmo amenizar problemas atrelados à aprendizagem. Tendo-
se em vista que o desenvolvimento da criança ocorre de maneira gradativa ao longo
de seu crescimento, concomitantemente à sua capacidade de se adaptar diante das
suas necessidades básicas (AQUINO et al., 2012), cabe ao psicomotricista observar
justamente os estágios de desenvolvimento infantil e adequar a tal demanda o
trabalho pedagógico, tendo como base a psicomotricidade.
Diante desse cenário, neste capítulo, serão apresentados os estágios de
desenvolvimento infantil de acordo com a teoria de Henri Wallon, a qual o
psicomotricista poderá levar em consideração ao sistematizar o ensino, a fim de
otimizar a sua intervenção. Diferentemente de outros pensadores da educação, em
suas proposições, Wallon questionou a visão linear do desenvolvimento infantil, bem
como a abordagem psicométrica adotada. Para ele, o educador, ao mensurar,
quantificar e avaliar a inteligência infantil por meio de testes, nem sempre alcançará
um resultado fidedigno à realidade, pois esses instrumentos são limitados (FREITAS;
ALMEIDA; TALAMONI, 2020). Nesse sentido, Wallon acredita que o desenvolvimento
humano é um processo marcado por avanços, recuos e contradições (FREITAS;
ALMEIDA; TALAMONI, 2020).
Em linhas gerais, para Wallon, o desenvolvimento infantil está centrado na
afetividade, isto é, a capacidade que os seres humanos têm de ser afetados pelo
mundo externo e interno. É justamente a partir desse pressuposto que o autor
estruturou a teoria acerca dos estágios de desenvolvimento da criança. O Quadro 2,
a seguir, apresenta alguns aspectos da epistemologia de Wallon no que tange aos
estágios de desenvolvimento infantil.
Quadro 2. Estágios de desenvolvimento infantil de acordo com Henri Wallon

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Fonte: Fonte: Adaptado de Freitas, Almeida e Talamoni (2020).

Um aspecto importante a ser destacado no que tange aos estágios de


desenvolvimento infantil propostos por Wallon é que a idade não é o indicador principal
(FREITAS; ALMEIDA; TALAMONI, 2020). Adentrar uma nova faixa etária não
necessariamente implicaria afirmar que a criança aprendeu todos os pressupostos da
fase anterior, ou até mesmo que não sabe nada acerca dos novos elementos a serem
às características dos campos funcionais. Afinal, o objetivo não é meramente passar
24
de fase, mas sim oportunizar, por intermédio de um ensino diretivo e sistematizado, a
aprendizagem das crianças desde a mais tenra idade.
Agora que você já identificou quais são os estágios de desenvolvimento de
acordo com a teoria de Henri Wallon, é preciso ter em mente que:incorporados na
fase seguinte. Portanto, deve-se ter essas categorias apenas como um norte,
prestando-se especial atenção.

[...] para Wallon o desenvolvimento não se encerra no estágio da


adolescência, mas permanece em processo ao longo de toda a vida do
indivíduo. Afetividade e cognição estarão, dialeticamente, sempre em
movimento, alternando-se nas diferentes aprendizagens que o indivíduo
incorporará ao longo de sua vida (FREITAS; ALMEIDA; TALAMONI, 2020, p.
272).

Henri Wallon foi médico, filósofo e psicólogo que viveu entre os séculos XIX e
XX e se dedicou ao estudo da criança, direcionando os seus esforços para entender
a origem dos processos psicológicos. Para Wallon, é por intermédio da interação entre
as capacidades cognitivas, afetivas e motoras que ocorrerá o desenvolvimento
integral da criança.
Os pressupostos teóricos dos estágios de desenvolvimento propostos por
Wallon, ao longo do seu processo de crescimento e desenvolvimento, a criança busca
construir a sua própria identidade, e isso se dá por intermédio de avanços, regressos
e até mesmo rupturas. O que Wallon enfatiza é a predominância da afetividade nos
diversos estágios de desenvolvimento, em um contínuo movimento de internalização
(introspecção) e externalização (extroversão), rumando em direção à autonomia.
Henri Wallon é reconhecido atualmente como o psicólogo da emoção. Já outros
acreditam que ele foi principalmente o psicólogo da criança. Outros, ainda, acreditam
que ele foi o idealizador do projeto da reforma do ensino francês. De fato, ele foi tudo
isso, mas foi principalmente um psicólogo que dedicou os seus esforços a estudar o
desenvolvimento infantil.
Desse modo, no ensino infantil, o educador tem pela frente uma salutar missão.
Por um lado, ele tem de orquestrar a sua prática docente de modo a corresponder ao
que dispõem os documentos norteadores da educação nacional, como, por exemplo,
a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017). Por outro lado, ciente
dos estágios de desenvolvimento infantil, o educador precisa atrelar a
problematização dos objetivos de aprendizagem dispostos nos diferentes Campos de
Experiências da BNCC para a educação infantil às técnicas psicomotoras, a fim de
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não enfatizar apenas um aspecto do desenvolvimento, seja ele afetivo, cognitivo ou
motor. Assim, ele deve aliar a sinergia entre esses aspectos do desenvolvimento à
prática pedagógica, de modo a oportunizar o aprendizado das crianças.

8 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Fonte: recon-rj.com.br

Atualmente, a educação infantil tem sido moldada para tratar a criança como o
centro do processo de ensino-aprendizagem. Mediante essa moderna empreitada, é
preciso reconhecer que nem sempre a infância foi tratada sob esse prisma. Por vezes,
as crianças foram tidas como adultos em miniatura, ou até mesmo foram
desvalorizadas em suas expressões próprias do mundo infantil, quando, na verdade,
esses pequenos ávidos por aprender estão em contínua descoberta de si e do entorno
que os cerca.
Em contrapartida, hoje, o professor que está alocado no ensino infantil é tido
apenas como um facilitador da aprendizagem. Não seria essa uma visão reducionista
demais do seu valoroso papel de cuidar e educar as crianças? Diante desse contexto
de prática profissional, nesta seção, será apresentada a importância da
psicomotricidade para o desenvolvimento integral das crianças, bem como a preciosa
oportunidade que o profissional de educação física tem em mãos para sistematizar o
ensino por intermédio da teoria e das técnicas psicomotoras.
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Inicialmente, faz-se necessário refletir acerca do papel da psicomotricidade no
desenvolvimento integral das crianças desde a mais tenra idade. Uma vez ciente de
que diferentes grupamentos etários estão presentes na educação infantil (Figura 1), o
educador precisa direcionar a sua prática pedagógica às necessidades e etapas do
desenvolvimento do aluno. O tão falado desenvolvimento integral da criança seria,
portanto, a demonstração da difícil equação entre propostas de ensino e realidade
escolar, entre teorias e técnicas pedagógicas. Na prática, trata-se de trabalhar a
criança como um todo, sem privilegiar as partes, na busca pela sinergia no
aprendizado.
Figura 1. Grupamentos etários das crianças no ensino infantil.

Fonte: Adaptada da BNCC (BRASIL, 2017).

Eis aí o papel singular da psicomotricidade, ciência aplicada que aglutina não


somente os aspectos emocionais e cognitivos, mas também leva em consideração a
contribuição dos aspectos motores na dinâmica do processo de ensino-
aprendizagem (AQUINO et al., 2012). Nesse sentido, para o educador no ensino
infantil, a atividade psicomotora é uma ferramenta que pode ser acoplada à
engrenagem de ensino, a fim de polir a pedra preciosa da aprendizagem. Contudo,
para que a boa semente das técnicas psicomotoras possa crescer e dar frutos, é
preciso que o psicomotricista cerque a sua área de intervenção de criatividade e
ludicidade. Nesse sentido, o lúdico é a chave entre o mundo real e o imaginário para
a criança, e essa abordagem não somente desperta a criança para a aula, como
também favorece a sua espontaneidade e participação (CIPRIANO; MOREIRA,
2016).
Assim, é no mínimo questionável quando nos deparamos com práticas
educativas no ensino infantil que impõem a restrição do movimento humano sob a
prerrogativa de facilitar o aprendizado (AQUINO et al., 2012). Práticas de outrora
sublinhavam a necessidade de se manter imóvel e em silêncio por um longo período,
mas será, de fato, que esse é o caminho para o sucesso da aprendizagem escolar?
27
Há quem diga que: “A exigência de contenção motora está baseada na ideia de que
o movimento impede a concentração e a atenção da criança, prejudicando a
aprendizagem [...]” (AQUINO et al., 2012, p. 247).
É claro que uma total algazarra em sala de aula denota, no mínimo, a ausência
do docente; se porventura este estiver presente, possui nota zero de intencionalidade
pedagógica, não é mesmo? Nesse sentido, se o movimento é um aliado do
desenvolvimento dos aspectos emocionais e cognitivos, por que não o ordenar de
modo a alcançar tal êxito? É por isso que o papel do educador no ensino infantil vai
muito além de vigiar as crianças enquanto elas brincam (BORRE; REVERDITO,
2019). O trabalho pedagógico precisa ter bem claro o seu alvo a longo, médio e curto
prazo para que seja bem-sucedido, de forma que a educação infantil não seja apenas
um mero passatempo para as crianças, mas sim um investimento, cujo aprendizado
poderá contribuir sobremaneira para as demais etapas da escolarização que estão
por vir.
Nessa perspectiva, destaca-se a relevância de os educadores que atuam no
ensino infantil, desde os pedagogos até os profissionais de educação física, buscarem
aprofundar os seus conhecimentos acerca da teoria e das técnicas psicomotoras por
meio da formação continuada. De acordo com Aquino et al. (2012), a psicomotricidade
é uma valiosa ferramenta que poderá auxiliar no desenvolvimento das potencialidades
e/ou diminuir as defasagens das crianças, de modo a estimular o desenvolvimento
integral dos alunos.
Nesse sentido, pode-se concluir que a psicomotricidade é uma ferramenta que
poderá ser aplicada no ensino infantil, a fim de contribuir para o desenvolvimento
integral das crianças. O educador que atua com esse público poderá oportunizar o
desenvolvimento dos elementos psicomotores, de modo a estimular o aprendizado
não somente dos aspectos emocionais e cognitivos, mas também dos motores.
Quanto à linguagem corporal, cabe destacar o papel do profissional de
educação física no ensino infantil, uma vez que tanto a psicomotricidade quanto a
educação física escolar convergem para o mesmo objeto de trabalho: o corpo em
movimento. Sendo assim, o educador poderá valer-se da teoria e das técnicas
psicomotoras nos diferentes estágios de desenvolvimento das crianças, a fim de
adequar as propostas pedagógicas à realidade escolar, bem como às limitações e
potencialidades dos alunos.

28
9 APLICAÇÕES DA EDUCAÇÃO E DA REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA

Fonte: Brites e Brites ([2018], documento on-line).

Entende-se por educação psicomotora toda a atividade orientada e com uma


finalidade concreta realizada no período da infância, sobretudo na educação infantil.
Segundo Lebouch (1987), a partir da educação psicomotora, a criança aprende sobre
seu corpo, tomando consciência sobre ele e formando sua personalidade. A partir das
ações espontâneas da criança, realizam-se ações educativas com a finalidade de
auxiliar na experimentação dos movimentos e a consequente aquisição de novas
habilidades motoras (correr, saltar, chutar, rebater etc.), tão importantes ao
desenvolvimento.
Autores como Curtiss (1988) descrevem a educação psicomotora como uma
ferramenta importante para o desenvolvimento das questões afetivas da criança,
podendo auxiliar na expansão de sua capacidade de expressar sentimentos e
contribuir para a qualidade de sua interação com o mundo externo. Nesse sentido, é
de grande relevância educar a criança considerando-se o “todo” — ou seja, de forma
que o cognitivo (inteligência), a afetividade (sentimentos e emoções), o social
(relações pessoais com os outros) e o motor (movimentos em geral) sejam
trabalhados de modo integrado, por meio de atividades lúdicas realizadas em duplas
ou grupos, com música, materiais alternativos (balões), espelhos, entre outros
elementos.

29
Em ambientes de grande diversidade, como é o caso da escola, não é incomum
observar crianças com alterações motoras significativas em relação ao ritmo, à
marcha, à coordenação, entre outros aspectos. Tais alterações podem decorrer de
múltiplos fatores, como lesões no sistema nervoso central ou imaturidade afetiva,
cognitiva ou meramente motora, pela ausência de experimentação. Nesses casos, é
possível lançar mão da reeducação psicomotora, que é uma abordagem que utiliza o
movimento como forma de normalizar o comportamento geral da criança, conforme
Oliveira (1999). Na reeducação motora, são retomadas vivências anteriores que não
foram estimuladas de forma correta no período em que deveriam ter sido.

9.1 Antes de reeducar, identificar

Algumas crianças são apontadas pelos pais ou pelos professores como


trapalhonas, com pouco interesse ou jeito para os desportos ou com dificuldades para
adquirir uma marcha segura ou começar a andar de bicicleta. Os educadores também
destacam aquelas que se sujam muito ao comer, que fazem birras ou que não gostam
de pintar — o que, mais tarde, traduz-se em uma caligrafia disforme. Esses podem
ser alguns sinais de alerta para a existência de alguma perturbação motora, podendo
ser ela do equilíbrio, da coordenação ou de qualquer outro elemento que compõe a
psicomotricidade. A perturbação motora é uma inquietação corporal causada por uma
emoção que desorganiza o viver; ela abrange perturbações no esquema corporal, no
tônus muscular e na imagem corporal, conforme aponta Fonseca (2012).
Como sabemos, a exploração motora do ambiente é um meio de convívio
privilegiado na infância, o que significa que crianças que têm dificuldades para realizar
essa exploração podem apresentar comprometimentos sociais ou emocionais. De
acordo com Oliveira (1999), existem alguns sinais de possíveis dificuldades motoras
de aprendizagem. Cabe salientar que o paciente não necessariamente apresenta
todos os sintomas na mesma época; eles podem surgir na medida do seu
amadurecimento. Na idade pré-escolar, os seguintes sinais podem ser observados:

30
Atraso na aquisição de marcos de desenvolvimento, como rolar, sentar- -se,
andar ou falar;
Dificuldade em correr, saltar, apanhar ou chutar uma bola ao nível dos pares;
Dificuldade nos conceitos espaciais, como “em cima”, “embaixo”, “à frente”,
“atrás”, “dentro”, “fora”;
Dificuldade em se vestir sozinho;
Dificuldade em adquirir uma pega do lápis adequada ao seu nível.

Já na idade escolar e nos anos seguintes, os sinais a seguir podem ser


observados:

As dificuldades vividas na pré-escola se mantêm;


Evitar ou não gostar de educação física e jogos de grupo;
Dificuldade em apertar botões ou atar algum cadarço/fita;
Dificuldade acentuada em copiar do quadro;
Escrita muito laboriosa e imatura;
Caligrafia imatura.

Muitas vezes, esse conjunto de características toma proporções emocionais,


não sendo improvável encontrarmos crianças com baixa tolerância à frustração, falta
de motivação, baixa autoestima e evitamento de tarefas motoras. Isso se deve
essencialmente ao cansaço e ao fracasso repetido, comuns na rotina desses alunos.
A detecção dessas perturbações pode ser feita pelos professores da criança
(independentemente da área); então, elas devem ser encaminhadas a um
psicomotricista, para a reeducação das estruturas instáveis.

31
9.2 Aspectos essenciais ao desenvolvimento psicomotor

Segundo De Fontaine (1980), a reeducação tem como base de sua eficácia os


mecanismos que estão na origem da vida mental, do controle gestual e do
pensamento, que regulam as reações tônico-emocionais, o equilíbrio, a fixação, a
atenção e a correta apreensão do tempo e do espaço. Com isso, as atividades a serem
trabalhadas na educação psicomotora remetem ao aprimoramento dos aspectos
citados acima, acompanhadas pelo treino da percepção. A percepção é a capacidade
de reconhecer e compreender os estímulos recebidos por meio de brincadeiras,
atividades físicas, jogos simbólicos e interação ou, simplesmente, do ambiente em
que se vive.
De acordo com Fonseca (1985), o desenvolvimento psicomotor se divide em
sete aspectos básicos: tonicidade; equilíbrio; lateralidade; noção corporal;
estruturação espaço-temporal; praxia fina; e praxia global.
Atualmente, podemos encontrar com certa frequência na literatura o termo
“perturbação motora”. Nesse contexto, levando em conta um conjunto de
pressupostos teóricos, a Associação Americana de Psiquiatria propõe, na seção de
perturbações motoras do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 74), os critérios de diagnóstico
para a perturbação motora, ou transtorno do desenvolvimento da coordenação,
descritos a seguir:
1) A aquisição e a execução de habilidades motoras coordenadas estão
substancialmente abaixo do esperado considerando-se a idade
cronológica do indivíduo e a oportunidade de aprender e usar a
habilidade. As dificuldades manifestam-se por falta de jeito (p. ex.,
derrubar ou bater em objetos), bem como por lentidão e imprecisão no
desempenho de habilidades motoras (p. ex., apanhar um objeto, usar
tesouras ou facas, escrever à mão, andar de bicicleta ou praticar
esportes).
2) O déficit nas habilidades motoras do Critério A interfere, significativa e
persistentemente, nas atividades cotidianas apropriadas à idade
cronológica (p. ex., autocuidado e automanutenção), causando impacto

32
na produtividade acadêmica/escolar, em atividades pré-profissionais e
profissionais, no lazer e nas brincadeiras.
3) O início dos sintomas ocorre precocemente no período do
desenvolvimento.
4) Os déficits nas habilidades motoras não são mais bem explicados por
deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por
deficiência visual e não são atribuíveis a alguma condição neurológica
que afete os movimentos (p. ex., paralisia cerebral, distrofia muscular,
doença degenerativa).
O Quadro 1 apresenta a conceituação de cada um dos sete aspectos
essenciais ao desenvolvimento psicomotor, com base em Fonseca (1985).
Em função de esses aspectos servirem como uma espécie de base para o
desenvolvimento, Fonseca (1985) criou uma bateria psicomotora (BPM), com uma
série de testes capazes de avaliar os fatores descritos e, com isso, direcionar o
atendimento aos casos com alguma necessidade de reeducação psicomotora.
Quadro 1. Aspectos básicos ao desenvolvimento psicomotor.

33
Fonte: Fator Adaptado de Fonseca (1985).

34
10 O PAPEL DO PSICOMOTRICISTA NA EDUCAÇÃO E NA REEDUCAÇÃO
PSICOMOTORA

Fonte: al.se.leg.br

O psicomotricista, enquanto profissional atuante na educação e na reeducação


motora, promove a mediação entre o movimento e as descobertas do aluno sobre seu
corpo e sobre si mesmo. Esse profissional realiza uma atividade de repetição, que
deve ser disciplinada pela busca de acertos, sem que os erros sejam vistos como uma
“negativa” dentro do processo. Pelo contrário, a partir da percepção dos erros, o
psicomotricista pode adaptar as situações, desenvolvendo estratégias que possam
facilitar a aquisição motora dos alunos. A finalidade é que eles avancem em direção a
uma nova aquisição, mais complexa do que a primeira.
O educador que observa um aluno com alguma perturbação motora pode
reparar que, por vezes, algumas das suas características fazem com que os
resultados não traduzam o esforço investido por ele. A seguir, são apresentadas
estratégias que têm como principal objetivo ajudar esse aluno a progredir, sem ser
prejudicado pelas suas dificuldades, conforme Fonseca (2012).

35
1-Dê mais tempo para o aluno realizar as tarefas mais exigentes a nível
motor, como pintar, escrever, desenhar.
2-Utilize papel pautado ou quadriculado, mais facilitador a nível
perceptivo.
3- Encoraje uma boa postura de escrita.
4-Caso seja um trabalho muito exigente ao nível da velocidade, encurte
a atividade em conteúdo.
5-Permita a utilização do computador.
6-Utilize auxiliares de pega do instrumento de escrita, caso esta seja
imatura ou incorreta (variação nos lápis e canetas).
7-Permita a utilização de métodos alternativos de avaliação, como
apresentações orais.
8-Não faça comparações com outros alunos.
9-Elogie o esforço, e não a habilidade. Promova a competição consigo
mesmo, e não com os outros.
10-A participação deve ser mais importante do que a competição.
11- No caso de feedback corretivo, dê informação direta, sucinta e
positiva — por exemplo: “Levante a cabeça” ou “Agarre a bola com os
dedos afastados”. Se necessário, modifique os materiais — por exemplo,
use bolas mais leves ou de diferentes materiais.

O psicomotricista é o profissional que age na conexão da saúde, da educação


e da cultura, avaliando, prevenindo, cuidando e pesquisando o indivíduo em sua
relação com o ambiente e analisando os seus processos de desenvolvimento. O
objetivo de sua função é atuar nas dimensões do esquema e da imagem corporal
em conformidade com o movimento, a afetividade e a cognição. Esse profissional
pode lançar mão de uma série de medidas para avaliar, planejar e acompanhar o
desenvolvimento psicomotor de seus alunos/pacientes.

36
11 REREFRÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico estatístico de


transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

AQUINO, M. F. S. et al. A psicomotricidade como ferramenta da educação física na


educação infantil. Revista Brasileira de Futsal e Futebol, São Paulo, v. 4, n. 14, p.
245–257, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. O que é psicomotricidade.


[2019].

BORRE, L. M.; REVERDITO, R. S. Educação física na educação infantil: tempos,


espaços e os direitos da criança. Revista Corpoconsciência, Cuiabá, v. 23, n. 2, p. 96–
108, 2019.

BRASIL. Lei nº 13.794, de 3 de janeiro de 2019. Dispõe sobre a regulamentação da


atividade profissional de psicomotricista e autoriza a criação dos Conselhos Federal e
Regionais de Psicomotricidade. Brasília: Presidência da República, 2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC,


2017.

BRITES, C.; BRITES, L. Psicomotricidade na educação infantil. Neuro Saber, [2018].


Disponível em: https://neurosaber.com.br/psicomotricidade-na-educacao-infantil/.
Acesso em: 2 dez. 2019.

CIPRIANO, L. S.; MOREIRA, E. A importância da ludicidade para o desenvolvimento


da psicomotricidade na prática dos profissionais da educação infantil. In: PARANÁ.
Secretaria da Educação. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do
professor PDE. Curitiba: Secretaria da Educação, 2016. (Cadernos PDE, v. 1). p. 1–
16.

COSTA, C. F. et al. Professor de educação física na educação infantil na perspectiva


da Base Nacional Comum Curricular. Biomotriz, Cruz Alta, v. 13, n. 4, p. 18–26, 2019.

37
DE FONTAINE, J. A psicomotricidade em quadrinhos. São Paulo: Manole, 1980.
CURTISS, S. A alegria do movimento na pré-escola. Porto Alegre: Artes Médicas,
1988.

FONSECA, V. da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem [recurso eletrônico] /


Vitor da Fonseca. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2008.

FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed,


2008.

FONSECA, V. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos


fatores psicomotores. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012. FONSECA, V.
Psicomotricidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

FONSECA, V. Psicomotricidade: uma visão pessoal. Construção Psicopedagógica, v.


18, n. 17, p. 42-52, 2010.

FREITAS, N. A. O.; ALMEIDA, N. M. C. B.; TALAMONI, A. C. B. Educação infantil na


base nacional comum curricular: pressupostos epistemológicos em Piaget, Vigotsky e
Wallon. EDUCERE: Revista da Educação, Umuarama, v. 20, n. 2, p. 259–278, 2020.

LAPIEERE, A. A Educação psicomotora na escola maternal. Barueri: Manole, 1986.

LE BOUCH, J. O desenvolvimento psicomotor do nascimento aos 6 anos. Porto


Alegre: Artmed, 1992.

LE BOULCH, J. Educação psicomotora: psicocinética na idade escolar. Porto Alegre:


Artmed, 1985.

LEBOUCH, J. Educação psicomotora: psicocinética na idade escolar. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1987.

OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque


pedagógico. 3. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque


psicopedagógico. 20. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2015.

SAMPAIO, S. Manual prático do diagnóstico psicopedagógico clínico. Rio de Janeiro:


Wak Editora, 2009.

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