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C

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 3

2 FUNCIONALISMO, BEHAVIORISMO, COGNITIVISMO E PSICOLOGIA


COGNITIVA .................................................................................................. 4

2.1 Funcionalismo .................................................................................. 4

2.2 Behaviorismo .................................................................................... 6

2.3 Cognitivismo ..................................................................................... 8

2.4 A psicologia da Gestalt e a abordagem cognitiva ........................... 10

3 COMPORTAMENTO SOB A PERSPECTIVA DA CIÊNCIA


PSICOLÓGICA ........................................................................................... 13

3.1 Behaviorismo metodológico de Watson ......................................... 17

3.2 Behaviorismo radical de Skinner .................................................... 18

3.3 Conceitos behavioristas relativos à aprendizagem comportamental


.........................................................................................................22

4 NEUROCIÊNCIA COGNITIVA .............................................................. 24

4.1 Neurociências pela história ............................................................ 24

4.2 Definindo as neurociências ............................................................ 30

4.3 Neurociência cognitiva ................................................................... 33

4.4 Técnicas para o estudo do cérebro ................................................ 36

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 39

2
1 INTRODUÇÃO

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao


da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta,
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno
faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço
virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe
convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida
e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 FUNCIONALISMO, BEHAVIORISMO, COGNITIVISMO E PSICOLOGIA
COGNITIVA

Fonte: https://saudementalatibaia.com.br/

Estudos sobre o corpo e a mente sempre estiveram presentes na história da


humanidade. Neste capítulo, trataremos da relação entre três importantes escolas
teóricas nesse processo: o funcionalismo, o behaviorismo e o cognitivismo no contexto
da psicologia cognitiva.

2.1 Funcionalismo

William James, precursor do funcionalismo, tinha como foco compreender a


consciência humana. Para tanto, ele estudou as emoções, os pensamentos, as crenças
e as religiões presentes na vida do indivíduo, chegando à conclusão de que as crenças
e os desejos pessoais interferem no processo racional e na formação de conceitos. A
partir de seus estudos, o autor publicou, em 1890, o livro Os princípios da psicologia
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Em suas pesquisas sobre a consciência humana, William James descreveu a
capacidade dos indivíduos de buscar a resolução de problemas para se adaptar melhor

4
ao meio, tendo um papel ativo e autônomo nesse processo. A consciência, então, passa
a ser compreendida como um fluxo, um movimento dos seres humanos em direção ao
mundo (GOODWIN, 2005).
Para William James, o ser humano não é totalmente racional. Apesar de ser
munido de aspectos individuais, subjetividade, e ter intencionalidade em suas ações, ele
nem sempre age de maneira consciente. Existe uma diferenciação entre a escolha e o
hábito: na primeira, há consciência e intencionalidade; no segundo, há o ato involuntário
ou automático (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

Foto 1: William James

Fonte: https://revistacienciaemdebate.org/

Nesse ponto, é possível encontrar uma importante contribuição à psicologia


cognitiva, uma vez que essa abordagem supõe a existência de pensamentos
involuntários, que invadem a mente sem uma ação reflexiva, ou seja, pensamentos
automáticos.
De acordo com Aaron Beck, precursor da psicologia cognitiva comportamental, os
pensamentos automáticos são um fluxo de pensamentos que coexiste com um fluxo de
pensamentos mais manifestos. Na maior parte do tempo, quase não temos conhecimento

5
desses pensamentos, embora, com apenas um pouco de treinamento, possamos
facilmente trazê-los à consciência (BECK, 2022).
A terapia cognitiva propõe a identificação, a avaliação e o enfrentamento dos
pensamentos automáticos. Para Judith Beck (2022, p. 372), “a habilidade de identificar
pensamentos automáticos é análoga à aprendizagem de qualquer outra habilidade.
Alguns clientes (e terapeutas) entendem isso muito facilmente e rápido. Outros precisam
de muito mais orientação e prática”.
Willian James afirmava que orientar alguém sobre a necessidade de tomar
determinadas decisões para sua adaptação ao meio, quando feito de maneira eficiente,
poderia trazer bons resultados. Considerando a teoria dos três “eus”, James afirmava que
seria possível uma pessoa tomar decisões que a prejudicassem fisicamente como forma
de reafirmar um aspecto social, ou seja, o ambiente é um fator importante nesse processo
(GOODWIN, 2005).

2.2 Behaviorismo

Para compreendermos a contribuição do behaviorismo para a psicologia social,


inicialmente vamos retomar e explorar um pouco mais o pensamento de Edward Tolman
(Figura 2).
Fonte: Edward Tolman

Fonte: https://www.researchgate.net/
6
O psicólogo norte-americano acreditava que a descrição do comportamento
deveria incluir o fator mental e, então, reformulando o que era proposto na equação E-R
(estímulo-resposta), sugeriu a fórmula E- -O-R (estímulo-organismo-resposta).
Tolman considerava a mente humana como um sistema capaz de comandar
comportamentos e aprender novos repertórios (GOODWIN, 2005). Em 1932, Tolman
afirmou que o comportamento aprendido teria como característica a intencionalidade,
objetivando uma meta, e, para ele, o comportamento que visa a uma meta é,
consequentemente, adaptativo. Assim, a adaptação do homem ao ambiente é um dos
objetos de estudo da psicologia cognitiva (GOODWIN, 2005).
Já Skinner propõe o uso de reforços positivos para “[...] controlar ou modificar o
comportamento individual ou coletivo” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 303). Para tanto,
lança-se mão da modelagem, ou método de aproximação sucessiva, em que o reforço é
dado em fases de ações (simples) que vão gradativamente aproximando o
comportamento atual do comportamento final desejado (complexo). (Figura 3).

Figura 3: Skinner

Fonte: ttps://filosoficabiblioteca.wordpress.com
7
Para Skinner, é assim que crianças aprendem a falar: primeiro elas emitem sons
aleatórios, que vão sendo reforçados pelas pessoas ao redor quando se aproximam de
uma palavra real, até que a criança consiga falar como as outras pessoas (SCHULTZ;
SCHULTZ, 2009).
Para se trabalhar com o condicionamento operante, Skinner defende o uso do
reforço na aprendizagem. O comportamento pode, então, ser controlado por meio do
reforço de suas respostas. A recompensa proporciona uma influência mais forte que a
punição na aprendizagem.
Na educação, Skinner elaborou a instrução programada, que traz os seguintes
princípios: o organismo é ativo (operante); o organismo é apresentado progressivamente,
do simples para o complexo; e as diferenças individuais são consideradas. Uma vez que
o ambiente está envolvido no processo de aprendizagem, observa-se a relação entre a
cognição e a adaptação ao meio (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).

2.3 Cognitivismo

O cognitivismo também vai considerar o ambiente um elemento essencial para o


desenvolvimento humano. A relação da pessoa com o meio em que vive se estabelecerá
de acordo com os significados que ela atribui aos objetos, às pessoas e aos eventos
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). A aprendizagem é um produto da interação entre
ambiente, indivíduo e fatores externos, que proporcionam uma rede de significados.
Moreira e Masini (1982, p. 3) definem cognição como:

[...] o processo por meio do qual o mundo de significados tem origem. À medida
que o ser se situa no mundo, estabelece relações de significação, isto é, atribui
significados à realidade em que se encontra. Esses significados não são
entidades estáticas, mas pontos de partida para a atribuição de outros
significados. Tem origem, então, a estrutura cognitiva (os primeiros significados),
constituindo-se nos pontos básicos de ancoragem dos quais derivam outros
significados.

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Um dos autores que contribuíram com a ideia de rede de significados foi David
Ausubel (1918–2008), para quem a aprendizagem pode ser significativa se os novos
conteúdos forem relacionados a conceitos relevantes disponíveis na estrutura cognitiva
do indivíduo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Ausubel (1963) define a
aprendizagem significativa como o mecanismo humano que adquire e armazena a vasta
quantidade de ideias e informações representadas em qualquer campo de conhecimento.
O funcionalismo, o behaviorismo e o cognitivismo contribuíram para a construção
de uma visão de indivíduo capaz de se desenvolver a partir da relação com o ambiente.
Para o funcionalismo, o ser humano precisa se adaptar ao meio e aprende a representá-
lo mentalmente. Já o behaviorismo compreende que fatores genéticos, associados às
tarefas atribuídas pelo ambiente, moldarão a forma como a pessoa se comporta, em uma
relação causa-efeito, sem considerar os processos mentais.
O cognitivismo, por sua vez, contribui com a ideia de que o ser humano atribui ao
ambiente, a si mesmo e aos eventos significados que vão orientar seus pensamentos e
comportamentos. Nas três abordagens, o sujeito é entendido como um organismo ativo
que, em sua interação com o meio, modifica elementos necessários à sua adaptação
para sobrevivência.
A psicologia cognitiva herdou desses pensamentos a compreensão de que os
processos de aprendizagem permitem ao indivíduo modificar a si e ao ambiente em que
vive. E esse é um ponto fundamental da abordagem. Assim, por meio da compreensão
dos processos mentais, a psicologia cognitiva fornece subsídios para os sujeitos
regularem seu comportamento, enfatizando a importância do desenvolvimento das
capacidades de identificar, manipular e adequar o comportamento a partir de informações
sociais percebidas e interpretadas.
A esse processo atribui-se o nome “cognição social”. Nesta seção, você conheceu
as contribuições do funcionalismo, do behaviorismo e do cognitivismo para a psicologia
cognitiva. A seguir, veremos um pouco mais sobre a ideia de cognição social
fundamentada pela psicologia da Gestalt.

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2.4 A psicologia da Gestalt e a abordagem cognitiva

A psicologia cognitiva social contou com contribuições de estudos desenvolvidos


por pesquisadores como Max Wertheimer (1880–1943), Kurt Lewin (1890–1947), Fritz
Heider (1896–1988) e Solomon Asch (1907–1996), que aplicaram a teoria perceptiva da
Gestalt ao estudo de processos cognitivos em contexto social. Gestalt, no que diz respeito
à percepção, pode significar organização, isto é, a forma como a percepção organiza
determinado contexto. Em outros momentos, pode significar forma, como a forma do
objeto em si, estrutura ou padrão (GOODWIN, 2005).
A teoria da Gestalt é contra a ideia de que a percepção se dá por meio da soma
de elementos. Para os pesquisadores da Gestalt, a combinação entre as coisas
percebidas é realizada pela percepção, podendo surgir algo que não pode ser encontrado
na simples acumulação dos elementos. E por que a escolha da palavra “forma”, além do
significado de organização? Os psicólogos da Gestalt elaboraram a teoria de que nós
temos tendências perceptivas que nos fazem buscar pela “boa forma”. Isso significa que
simplificamos, unimos e completamos aquilo que observamos para torná-lo mais familiar
e conhecido, de modo que faça sentido em relação ao conteúdo que já conhecemos
(GOODWIN, 2005).
Assim, é possível concluir que o mundo social percebido pelo indivíduo não é
independente de suas características, seus conhecimentos, suas atitudes e motivações,
abrindo espaço para a compreensão da relação entre os processos mentais e os sociais.
De acordo com Schultz e Schultz (2009), a Gestalt compreende as sensações dos
diferentes órgãos dos sentidos, que se misturam em um sistema complexo de
organização. Haveria, então, algumas características gerais da percepção, descritas a
seguir:

 Proximidade: temos a tendência de agrupar as partes que estejam próximas


no tempo ou no espaço.
 Continuidade: tendemos a seguir uma direção para ligar os elementos de
forma que pareçam sem interrupção.

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 Semelhança: as partes parecidas tendem a ser unidas, criando um
agrupamento.
 Preenchimento: completamos os espaços faltantes das figuras para que se
aproximem de formas mais conhecidas.
 Simplicidade, ou pregnância: buscamos a “boa Gestalt”, simétrica, simples
e estável, mesmo que ela esteja apenas sugerida e com vários detalhes ao
redor.
 Figura-fundo: o objeto observado, ou parte do objeto observado, ao receber
mais atenção e foco da percepção, é chamado “figura”. Porém, os outros
objetos, ou suas partes, não deixam de existir, tornando-se o que se
denomina “fundo”. Podemos, contudo, alternar o foco, transformando em
figura outros objetos ou partes, tornando fundo todo o restante.

Os estudos da Gestalt geraram várias figuras ambíguas (ou seja, que podem ser
diferentes a depender da parte eleita como foco), como é possível observar na Figura 4.

Figura 4: Figuras ambíguas

Fonte: Akermariano (2011)


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Por considerar a percepção do todo, a Gestalt também se opôs ao behaviorismo
e ao reducionismo em geral (STRATTON; HAYES, 2003). Essa lógica de organização
perceptiva também inclui aspectos cognitivos. A Gestalt considera que a percepção se
dá pelas relações entre os objetos, e não pela sensação individual de cada elemento. É
fácil perceber, por exemplo, que a mudança do ângulo de observação de um objeto não
nos faz acreditar que estamos diante de um objeto diferente.
O mesmo também pode ser dito sobre a alteração do tom de uma música, ou sobre
uma mudança no tamanho ou no brilho de algo. Isso se chama “constância perceptual”,
ou seja, a alteração de algumas qualidades do objeto devido ao ponto de vista não implica
a impressão de que o objeto é outro (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Os pesquisadores da Gestalt estenderam para estudos sobre a aprendizagem, a
memória, as reações motoras, etc. seu lema de que o todo é que define as partes, isto é,
de que a percepção se dá do todo para as partes. Na década de 1950, Asch aplica a
teoria da Gestalt ao estudo da percepção interpessoal, em que as impressões são
formadas como um processo de construção coletiva. Seus estudos demonstraram que
determinados aspectos importantes das informações organizam a impressão em todos
globais (GARRIDO; AZEVEDO; PALMA, 2011).
Em 1950, George Alexander Kelley (1905–1967), considerado o pai da psicologia
clínica cognitiva, lança mão da teoria da construção pessoal, na qual descreve a
influência das preconcepções na interação social, fundamentando pesquisas em
cognição social. Em 1958, Asch, Kelley e Heider reforçam a ideia de que os indivíduos
não são receptores passivos, defendendo que eles processam ativamente a informação.
Essa é uma importante contribuição da psicologia da Gestalt para a psicologia cognitiva.
Assim, entende-se que a forma como a pessoa percebe essa informação na relação com
o meio vai constituir a sua estrutura cognitiva (GOODWIN, 2005).
A psicologia cognitiva considera a percepção uma função primordial na relação do
ser humano com o ambiente. É a partir dessa relação que ocorre a identificação do
ambiente e das necessidades para a adaptação da pessoa ao meio em que vive. E as
demandas podem ser trabalhadas, pois o sujeito percebe suas emoções, seus

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comportamentos, seus pensamentos e suas reações fisiológicas. Assim, destaca-se que,
para a psicologia cognitiva, a mudança ocorre a partir de alterações na percepção, na
interpretação dos fatos. Para isso, é necessário assumir a existência de mais de um lado
em uma história, ou seja, compreender que cada um vê de acordo com os recursos de
que dispõe e a partir da perspectiva em que se encontra.

3 COMPORTAMENTO SOB A PERSPECTIVA DA CIÊNCIA PSICOLÓGICA

Fonte: https://www.psicologoeterapia.com.br/

O estudo sobre psicologia por meio de métodos experimentais contribuiu para uma
maior compreensão dos fenômenos estudados e fundamentou a criação de diversas
teorias, inclusive sobre o comportamento, transformando a psicologia em ciência. Isso
ocorreu a partir da fundação do primeiro laboratório de psicologia, na Universidade de
Leipzig, Alemanha, em 1879, que marca a redefinição do modo de estudar fenômenos e
a própria psicologia. Fenômenos antes explorados pela especulação a partir de vivências
do cotidiano seriam, então, convertidos em objeto de estudo científico (SAMPAIO, 2005
apud PIRES, 2018).
Assim, conforme Pires (2018) o desenvolvimento das teorias comportamentais
permitiu que tivéssemos conhecimento a respeito das leis gerais do comportamento,

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tornando-o previsível. Os conceitos de condicionamento clássico, de Pavlov e Watson, e,
posteriormente, o de operante, de Skinner, foram fundamentais para a Teoria
Comportamental, tal como hoje a conhecemos. Para compreender melhor o conceito de
comportamento sob a ótica de Skinner, é necessário conhecer a trajetória teórica que o
levou a determinar os conceitos de sua teoria.
No desenvolvimento da teoria de Skinner, conhecida como o behaviorismo radical,
houve uma evolução dos conceitos já estudados por outros teóricos do
comportamentalismo. Inicialmente, Skinner entendia o comportamento como uma
correlação observada entre estímulo e resposta, forma semelhante ao conceito de
Watson. Posteriormente, postulando seu conceito sobre operante, dissocia a
necessidade de identificar um evento antecedente que provoque uma ação. Para
Skinner, o que acontecia depois que um organismo se comportava desempenhava um
papel mais importante do que o que acontecia antes (SAMPAIO, 2005 apud PIRES,
2018).

Outro marco para a teoria skinneriana é a interpretação de que eventos privados


(ou conjunto de eventos e comportamentos que ocorrem sob a pele do indivíduo)
são objetos legítimos de estudo da ciência do comportamento. Além disso,
Skinner incorpora o comportamento verbal e descreve a importância do ambiente
social para o estudo comportamental (SAMPAIO, 2005 apud PIRES, 2018).

Mas o que é comportamento? Para responder essa pergunta, definiremos o


comportamento a partir dos princípios filosóficos do behaviorismo radical, pensando no
aspecto dinâmico do comportamento e articulando eventos, estados e processos
comportamentais. Para Skinner (1953 apud PIRES, 2018) “O comportamento é um
processo e não uma coisa, tendo em vista que não pode ser facilmente imobilizado para
observação, pois ele é mutável, fluido e evanescente.”. Embora pareça fácil definir
comportamento, esse é um tema complexo e que tem diversas vertentes que tentam
propor a sua definição.
Tendo em vista a pluralidade de interpretações, será descrita uma interpretação
possível da ciência do comportamento. Uma das definições propostas sobre o
comportamento é a clássica interpretação relacional, que entende que comportamento é
a relação entre o organismo e o ambiente sem nenhuma prioridade entre os elementos,

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o que é uma visão simplista, tendo em vista a complexidade do comportamento. Essa
definição defende, também, que não há estímulos fora de uma relação comportamental
e que essas relações ocorrem entre respostas ou eventos comportamentais e estímulos
ou eventos ambientais (LOPES, 2008 apud PIRES, 2018).
Essa concepção de relação defende que não existe estímulo que não esteja
relacionado à resposta nem resposta que não esteja em relação funcional com um
estímulo (TOURINHO, 2006 apud PIRES, 2018). Fala-se, dessa forma, sobre a relação
de interdependência entre comportamento e o ambiente, que é mais facilmente percebida
no comportamento respondente do que no comportamento operante. Portanto, para a
análise do comportamento, o importante é a interação.
Afinal, tudo o que acontece é considerado comportamento? Não, nem toda a
atividade é considerada comportamento, como, por exemplo, uma folha caindo de uma
árvore. Respondendo essa pergunta, Skinner (1984 apud PIRES, 2018) explica que o
primeiro comportamento de um organismo foi um simples movimento; já o sensing –
suscetibilidade de estímulos – teria surgido após esse movimento. Assim, segundo
Skinner, o primeiro movimento não foi controlado por nenhuma estimulação.
De acordo com a biologia, um organismo primitivo como a ameba pratica um tipo
de sensing como forma de obtenção de alimento. Do ponto de vista evolutivo, existe algo
anterior ao sensing, algo mais primitivo, que seria, então, a coordenação sensório-motora
(LOPES, 2008 apud PIRES, 2018). Essa explicação é mais facilmente entendida em
seres elementares como a ameba, mas é muito mais complexa nos seres humanos, pois
temos órgãos motores e órgão sensoriais especializados, além do sistema nervoso que
coordena e faz a integração esses sistemas (LOPES, 2008 apud PIRES, 2018).
Ainda que definição anterior sobre comportamento não seja totalmente satisfatória,
leva-nos a pensar sobre o seu caráter dinâmico e mutável. Considerando a fluidez da
teoria sensório-motora, teremos como ponto de partida, na análise do comportamento, o
fluxo comportamental (LOPES, 2008 apud PIRES, 2018). Para isso, foi necessário
analisar o fluxo de uma forma que pudéssemos prever e/ou mudar sua direção. Veja o
que Skinner (1953 apud PIRES, 2018) falou sobre isso: “O comportamento é atividade
contínua e coerente de um organismo integral. Embora, para propósitos teóricos e

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práticos, ele possa ser analisado em partes, devemos reconhecer a sua natureza
continua de modo a resolver certos problemas comuns”.
Nesse sentido, a análise do comportamento entende um episódio comportamental
a partir da relação entre eventos comportamentais (respostas) e eventos ambientais
(estímulos). Quando se leva em consideração a temporalidade da relação resposta-
estímulo e o padrão de comportamento, falamos de estados comportamentais. Ainda
segundo Skinner (1969 apud PIRES, 2018), uma formulação adequada entre organismo
e ambiente deve especificar a ocasião em que ocorre a resposta, a própria resposta e as
consequências reforçadoras. A inter-relação entre elas constitui as contingências de
reforço.
É preciso compreender que uma resposta que já aconteceu não pode ser prevista
e controlada, mas podemos dizer que respostas similares poderão acontecer no futuro.
Assim, a palavra operante será empregada para descrever uma classe de respostas, e
não uma única resposta.
O conceito de operante fala sobre probabilidades, ou seja, uma pessoa tem tanto
uma regularidade na resposta quanto uma tendência maior de se comportar de maneira
semelhante. Por mais que passe despercebido por nós, todos temos um padrão de
comportamento que é observável, preditivo. Para se fazer a observação desse fluxo
comportamental, o analista do comportamento vê a relação entre estímulos
antecedentes, resposta, consequência. Sobre esse assunto, Skinner afirmou, em 1969:
“A formulação adequada da relação organismo-ambiente é especificada pela
contingência que dita a organização da relação entre eventos ambientais e eventos
comportamentais” (1969, p. 7 apud PIRES, 2018).
Dessa forma, a partir da análise do comportamento, permite-se construir, manter
ou enfraquecer comportamentos a partir da contingência (operante, reflexo),
possibilitando sua compreensão e modificação. Assim, quando esse padrão de
comportamento é alterado, ou seja, há mudança no comportamento, surge outro,
chamado processo comportamental (LOPES, 2008 apud PIRES, 2018) – um exemplo
disso é a aprendizagem.

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De acordo com Pires (2018), a diferença de definição de comportamento para
Skinner em relação aos outros comportamentalistas está na existência da contingência
de reforço no conceito de comportamento. Ao coletarmos registros ao longo do tempo,
devemos comparar o sujeito consigo mesmo, sua história passada é sua linha de base.
A interpretação do behaviorista radical é sempre histórica.
O comportamento, portanto, é entendido como a relação entre organismo- -
ambiente, que pode ser compreendida do ponto de vista de sua dinâmica como uma
coordenação sensório-motora, na qual modifica e é modificado pelo ambiente. Além
disso, do ponto de vista da análise do comportamento, é compreendida como uma
relação de interdependência entre eventos ambientais, eventos comportamentais,
estados comportamentais e processos comportamentais (LOPES, 2008 apud PIRES,
2018).

3.1 Behaviorismo metodológico de Watson

O behaviorismo nasce como behaviorismo metodológico e se sustenta por uma


perspectiva realista, opondo-se à versão mentalista da época. Essa última concepção ou
perspectiva, entende que o objeto de estudo da psicologia é a consciência e, portanto,
ligada a algo interno da pessoa. Em contrapartida, a perspectiva behaviorista tem uma
compreensão diferente desta.
Assim, o behaviorismo entende o comportamento humano como objeto de estudo
da psicologia. Segundo Baum (2019), esse objeto de estudo torna-se causa real, exterior
e separada do mundo interno e subjetivo da pessoa. É, justamente, por esse motivo que
a perspectiva behaviorista recebe o nome de realista.
A partir dessa concepção realista, o behaviorismo metodológico entende que o
desenvolvimento da ciência se sustenta em métodos objetivos e, portanto, de observação
direta da pessoa. Tendo a observação como base metodológica, o behaviorismo recebeu
o nome de “psicologia do outro” (BAUM, 2019).
O desafio do método de observação behaviorista foi o surgimento de lacunas no
processo de compreensão do comportamento. Isso acontece quando alguém tenta

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explicar certos comportamentos que não são facilmente observáveis, como alguém que
sente sede ou medo, por exemplo. Para o behaviorismo metodológico, esses
comportamentos devem ser descritos da forma mais realista possível e, por isso, a
metodologia utilizada se aproximou da fisiologia, devido à dificuldade de observar alguns
dos comportamentos (MATOS, 1995).
A medida que essas lacunas foram aparecendo, o behaviorismo metodológico
começa a ficar próximo da fisiologia para tentar explicar aqueles comportamentos que
não observados por outras pessoas. Entretanto, foram muitas as lacunas que
permaneceram abertas e, essa foi uma das razões que justificaram a evolução da escola
behaviorista na busca por compreender cada vez mais o comportamento humano. Esse
processo de transformação se deu principalmente com as contribuições de Skinner e do
desenvolvimento do behaviorismo radical (BAUM 2019).

3.2 Behaviorismo radical de Skinner

Após a fundação da escola behaviorista por Watson, o behaviorista mais influente,


sem dúvida, foi Skinner (1904–1990). Em 1954, Skinner desenvolveu a linha de pesquisa
do behaviorismo radical, que influenciou muitos psicólogos ao redor do mundo,
principalmente nos Estados Unidos e em outros países fortemente influenciados pela
psicologia norte-americana, como o Brasil. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
O behaviorismo radical fundamenta-se no pragmatismo. Existem duas razões
pelas quais os behavioristas radicais preferem o pragmatismo ao realismo. Uma dessas
razões é que o realismo induze a uma dupla visão do ser humano, algo considerado
incompatível com uma ciência comportamental.
Afirmar que o mundo externo é real, levanta a seguinte questão: “Se eu estou
separado do mundo real, então, onde estou? ”. Nesse caso, a psicologia popular entende
que a resposta a essa pergunta é que as pessoas habitam um mundo interior, que é
privado e no qual experimentam-se sensações, pensamentos e sentimentos. Apenas o
corpo externo do sujeito pertence ao mundo exterior.

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Se aceitarmos o dualismo interior-exterior ou objeto-sujeito, uma ciência que se
ocupa apenas do comportamento exterior parece incompleta; na verdade, a acusação de
que os behavioristas ignoram o mundo interior dos pensamentos e sentimentos baseia-
se apenas nesse suposto dualismo. Como já explicado anteriormente, o behaviorismo
radical recusa o dualismo entre o mundo interior e o mundo exterior. Inversamente, ele
considera que a análise do comportamento está relacionada com um mundo e com
comportamento a ser encontrado naquele mundo.
Uma perspectiva mais antiga do behaviorismo metodológico sustentava-se no
realismo. Dessa forma os behavioristas metodológicos realistas diferenciam o mundo
objetivo do mundo subjetivo. A ciência é compreendida como acesso apenas ao mundo
objetivo, eles enfatizavam o uso dos métodos da ciência para estudar o mundo "fora".
Os realistas afirmam que o mesmo mundo objetivo está lá fora para todos,
enquanto que o mundo subjetivo é singular e inacessível enquanto objeto de estudo.
Assim, os behavioristas metodológicos ponderavam como único caminho para uma
psicologia científica aqueles métodos que posicionassem o comportamento no mundo
objetivo, esse seria um mundo no qual todos compartilham e sobre o qual poderiam
concordar. É, justamente, por isso que o behaviorismo é denominado de metodológico,
pois, decorre dessa ênfase no uso de métodos.
O behaviorismo radical, em comparação com o behaviorismo metodológico, não
faz diferença entre os mundos subjetivo e objetivo. Contrariamente, a focar nos métodos,
ele se concentra em conceitos e termos. Da mesma forma que a física avançou com a
criação da palavra “ar”, também a ciência que estuda o comportamento evolui com a
criação de seus próprios termos.
Ao longo do tempo, os analistas do comportamento utilizaram conceitos, tais
como: resposta, estímulo e reforço. Os usos desses termos se modificaram na medida
em que a ciência evoluiu. Se prevê que no futuro não tão distante, seu emprego pode
continuar mudando ou eles podem ser substituídos por outros termos, mais úteis.
O segundo motivo pelo qual o behaviorismo radical recusa o realismo
metodológico deve-se a que este confunde as definições de comportamento. Dentro da
perspectiva de estudos do comportamento, o realismo sustenta que existe algum

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comportamento real que acontece no mundo real e que os nossos sentidos, sejam eles
instrumentos ou observação direta, só nos providenciam informações sensoriais sobre
esse comportamento real, o qual jamais conhecemos diretamente.
Se, por exemplo, fizermos a observação objetiva de que um homem está mexendo
seus pés um na frente do outro rapidamente na rua, alguém poderia argumentar que isso
não alcança para captar o sentido da descrição de que o homem está correndo pela rua.
Outra pessoa poderia dizer que isso também não é suficiente. O homem, simplesmente,
pode estar se exercitando, escapando da polícia ou disputando uma competição. Mesmo
que determinemos que ele esteja disputando uma competição, pode-se ainda dizer que
ele está treinando para os Jogos Olímpicos ou para impressionar alguém.
Para os realistas (behaviorista metodológico), a melhor forma de lidar com essa
variedade de possíveis descrições é manter-se próximo da primeira, caracterizar a
corrida a competição em termos mecânicos (objetivos) o máximo possível, inclusive
descrevendo os músculos envolvidos, pois esses movimentos mecânicos supostamente
nos aproximariam ao do comportamento real.
Os motivos que levaram o homem a esse comportamento seriam tratadas
separadamente. No entanto, considerar o comportamento como composto de
movimentos de membros e músculos cria uma ambiguidade perturbadora. Os mesmos
movimentos de membros e músculos podem estar presentes em muitas atividades
diferentes. Em nosso exemplo, os movimentos do corredor podem fazer parte de um
exercício ou de uma fuga da polícia. Uma vez que os movimentos são iguais, o realista
tem que dizer que é o mesmo comportamento, mas, por qualquer definição razoável, não
podem ser definidos como o mesmo comportamento.
O pragmatista (behaviorista radical), não tendo nenhum compromisso com
qualquer ideia de comportamento real, apenas pergunta qual é a maneira mais útil, ou,
nos termos de Mach, mais econômica de descrever o comportamento do homem, isto é,
que nos oferece a melhor compreensão ou a descrição mais coerente. É por isso que os
behavioristas radicais favorecem definições de atividades que incluam as razões do
homem para correr, como exercitar-se e fugir da polícia. Uma descrição útil poderia ser:
“O homem está disputando uma corrida nesta rua como parte de uma tentativa de

20
participar dos Jogos Olímpicos”. De fato, podemos refinar isso ainda mais incorporando
as razões por trás da tentativa de participar dos Jogos Olímpicos e outros fatores,
igualmente.
Como o behaviorismo radical responde à pergunta: “O que é comportamento? ”. A
resposta é pragmática. Os termos que usamos para falar sobre comportamento nos
permitem não só dar-lhe sentido, mas também uma definição. O comportamento inclui
quaisquer eventos sobre os quais podemos falar com os nossos termos inventados.
O behaviorismo radical indaga sobre as melhores maneiras, as mais úteis, de falar
sobre isso, e se, por exemplo, é útil dizer que uma pessoa está em uma corrida para se
qualificar para os Jogos Olímpicos, então, disputar uma corrida para se qualificar para os
Jogos Olímpicos constitui um evento comportamental.
Essa ênfase pragmática à fala, aos termos e às descrições – em oposição aos
métodos de observação – leva a um dos notáveis contrastes entre o behaviorismo
metodológico e o behaviorismo radical. Os fenômenos conscientes, estando entre as
coisas sobre as quais podemos falar, estão incluídos no estudo do comportamento para
o behaviorista radical.
Resumindo, o behaviorismo metodológico se baseia no realismo, o behaviorismo
radical se baseia no pragmatismo. O behaviorismo radical rejeita o dualismo dos mundos
interior e exterior como hostis a uma ciência do comportamento e propõe, em seu lugar,
uma ciência baseada no comportamento em um mundo único.
Para o realista, o comportamento real ocorre no mundo real, e esse
comportamento real é acessível apenas indiretamente, por meio dos nossos sentidos.
Assim, o behaviorista metodológico tenta descrever eventos comportamentais nos
termos mais mecânicos possíveis, o mais próximo possível da fisiologia.
Já o behaviorista radical procura termos descritivos – que sejam úteis para
compreender o comportamento – e econômicos – para discutir o comportamento.
Descrições pragmáticas do comportamento incluem seus fins e o contexto em que ele
ocorre. Para o behaviorista radical, termos descritivos tanto explicam o comportamento
como definem o que ele é.

21
3.3 Conceitos behavioristas relativos à aprendizagem comportamental

A partir de agora, estudaremos os conceitos behavioristas relativos à


aprendizagem comportamental. Iniciando essa compreensão, podemos destacar duas
definições que introduzem as reflexões acerca do tema da aprendizagem.
Em primeiro lugar, para Feldman (2015) e Gazzaniga, Heatherton e Halpern
(2018), a aprendizagem pode ser compreendida, em linhas gerais, como uma mudança
relativamente permanente no comportamento humano em decorrência de uma
experiência.
Na mesma linha de entendimento, em segundo lugar, Illeris (2007), atribui à
aprendizagem o sentido de processo, que leva a uma mudança permanente nas
capacidades de um organismo, de forma que não seja decorrente simplesmente do seu
amadurecimento biológico.
Complementando essas definições, retoma-se a noção de comportamento para
que se possa relacionar ambos os conceitos (comportamento-aprendizagem). Como
você viu ao longo do texto, o comportamento, na visão behaviorista, está associado à
noção de fluxo comportamental. Essa noção prevê o caráter dinâmico do comportamento,
ou seja, entende que o comportamento não é algo fixo, mas sim algo que deve ser
analisado por meio da interação entre organismo/sujeito e ambiente/estímulos ambientais
(LOPES, 2008).
Esse caráter dinâmico está associado, em essência, ao processo de
aprendizagem comportamental. Dessa forma, fica evidente a importância da
aprendizagem na escola behaviorista, tendo em vista sua associação ao caráter dinâmico
do comportamento. Um dos princípios da aprendizagem nesse enfoque é a relação entre
estímulos e respostas comportamentais.
Por tudo que foi colocado anteriormente, pode-se afirmar que a resposta
comportamental está associada ao estímulo do ambiente. Dessa forma, quando as
respostas comportamentais são reforçadas, as chances de um novo comportamento
ocorrer aumentam. E, quando as respostas comportamentais são punidas, há menos
possibilidades de que o mesmo comportamento ocorra novamente.

22
A relação entre efeito (reforço e punição) e resposta comportamental é conhecida
como lei do efeito (BAUM, 2019; LOPES, 2008). Nesse sentido, para o behaviorismo, a
aprendizagem ocorre por meio da interação de três elementos, como destaca Feldman
(2015): o estímulo (que é a situação presente ou antecessora — relacionada ao
ambiente); a resposta (ação de fato do indivíduo); a consequência (alteração no ambiente
consequente àquela resposta, incluindo reforço e punição).
Assim, a aprendizagem comportamental ocorre em função da consequência que
determinada resposta comportamental tem no ambiente. Dessa forma, pode-se afirmar
que a aprendizagem é fruto da interação entre estímulo-resposta-consequência. Ou seja,
é a partir da relação desses três elementos que uma pessoa aprende, ou condiciona
(termo bastante usado no behaviorismo), suas respostas comportamentais para
situações futuras (FELDMAN, 2015).
O resultado da interação entre consequências (reforço ou punição) e respostas
comportamentais é conhecido como modelagem. No processo de modelagem, entende-
se que um comportamento é “moldado” a partir dos efeitos que produz no meio. Quando
um comportamento é bem-sucedido, a pessoa aprende que é interessante repetir aquele
comportamento no futuro; já quando um comportamento é malsucedido, ou punido, a
pessoa aprende que não é interessante repetir aquele comportamento no futuro.
Ou seja, na concepção behaviorista, a aprendizagem comportamental ocorre de
maneira objetiva, em função de estímulos e consequências decorrentes de uma resposta
comportamental. Essa forma de entender a aprendizagem é coerente com toda a
compreensão de objeto de estudo do behaviorismo, que, ao ser definido como o
comportamento humano, atribui um caráter objetivo à ciência psicológica, permitindo que
esta tenha a possiblidade de investigar os processos psicológicos a partir da
mensuração, da observação e da realização de experimentos (BAUM, 2019). Neste
capítulo, você estudou sobre a escola behaviorista e suas principais contribuições para o
desenvolvimento da ciência psicológica.
Como visto ao longo de todo o texto, o behaviorismo tem uma grande importância
para a psicologia em função da sua concepção pragmática, que dá um caráter prático
para a ciência. Além disso, a concepção behaviorista de comportamento, desenvolvida

23
ao longo dos anos, enfatiza seu caráter relacional e processual, sendo entendido como
um fluxo, que envolve evento, estado e processo comportamental. Por fim, você também
aprendeu a reconhecer os principais conceitos dessa escola psicológica sobre a
aprendizagem, a partir da análise dos três elementos que compõem o processo: estímulo,
resposta e consequência.

4 NEUROCIÊNCIA COGNITIVA

Fonte: http://bartmed.eu/mikropolaryzacja-mozgu/

As novas descobertas a respeito do sistema nervoso humano empolgam a maioria


das pessoas, seja em razão dos avanços na área da saúde ou da necessidade de
aprimoramento em outras tantas áreas que se beneficiam desses conhecimentos.
Atualmente, vivenciamos muitas situações problemáticas quando pensamos em
saúde e sistema nervoso, como demências, sequelas de doenças ou acidentes de
diferentes naturezas. Contudo, a aplicação das neurociências vai além da medicina; seus
achados são de grande importância para diferentes áreas, como a das ciências sociais.

4.1 Neurociências pela história

O ser humano sempre teve fascínio em saber o que o fazia humano, ou seja, o
que o diferenciava dos animais. Desde que houve uma revolução cognitiva (HARARI,
24
2011) e passamos a usar línguas estruturadas como forma de simbolizar o mundo, temos
nos perguntado o sentido das coisas e de onde vêm os pensamentos e sentimentos.
Assim, não é de se espantar que os estudos nessa área existam desde a
antiguidade, tentando dar respostas ao que nos faz humanos. Diversas disciplinas
estudaram o encéfalo, como a filosofia e a medicina e, posteriormente, a biologia, a
psicologia, entre outras. Para entender as neurociências, a princípio precisamos ver
como se estrutura o nosso sistema nervoso central (SNC) (Figura 5).

Figura 5: Estrutura do SNC

Fonte: Adaptada de Kandell et al. (2014)

O que muitas vezes chamamos de cérebro quando nos referimos ao que está
dentro de nossa cabeça é apenas uma parte de um todo denominado encéfalo. O
encéfalo é composto pelo cerebelo, a ponte, o bulbo, algumas estruturas antigas acima
da ponte, o cérebro e a medula.
A medula ainda participa do sistema que envia e recebe os sinais entre o encéfalo
e os nervos no corpo (KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013). O cérebro é uma
estrutura que participa dos processos cognitivos superiores, como pensamento e

25
linguagem. As outras estruturas do SNC estão basicamente mais ligadas à regulação dos
movimentos e dos sinais vitais dos seres humanos (KREBS; WEINBERG; AKESSON,
2013).
Agora que vimos a divisão básica do SNC, vamos dar continuidade ao histórico
das neurociências. Existem registros de estudos realizados até mesmo no Egito Antigo.
Os egípcios realizavam o procedimento de trepanação quando a pessoa apresentava
problemas encefálicos. A trepanação era a técnica de realizar buracos no crânio com a
finalidade de curar. Ainda nesse período, iniciou-se a crença de que o coração — não o
encéfalo — era o responsável pelas emoções e memórias (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2017).
De acordo com Tieppo (2019), é justificável que os egípcios e outros povos não
compreendessem a importância do encéfalo, dando prioridade ao coração. Afinal, o
encéfalo se desfaz rapidamente após a morte, adquirindo uma consistência gelatinosa,
sendo impossível de ser estudado sem materiais como o formol. Essa ideia relacionada
ao coração se perpetuou até a Grécia Antiga, quando o filósofo Aristóteles descreveu que
a função do encéfalo era a de resfriar o sangue.
A partir dos estudos de Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental,
definiu-se que o encéfalo seria um órgão de sensações e da inteligência, ampliando a
concepção de suas funções (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). É a partir dessa
concepção de uma mente no cérebro que se iniciam de fato os estudos da neurociência,
pois passam a considerar a importância do encéfalo (TIEPPO, 2019).
Em Roma, o médico Cláudio Galeno, no século II, observou encéfalos, percebendo
que havia uma parte mais mole (o cérebro) e outra mais firme (o cerebelo). Assim, Galeno
postulou que o cérebro seria o local das sensações por ser mais suave, enquanto o
cerebelo seria o local dos músculos, que são mais enrijecidos, como o próprio cerebelo.
Ele também observou que os cérebros apresentavam alguns espaços, conhecidos
hoje como ventrículos, e que por eles passavam líquidos, o que ele chamou de humores.
Dessa forma, para o médico, os humores (quatro tipos de fluidos vitais) eram levados ao
corpo pelos nervos, que ele pensava serem como fios ocos por onde passava o líquido
(BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).

26
No período do Renascimento, da metade do século XIV até o fim do século XVI,
aconteceu a maior descrição do encéfalo feita até então, pelo médico belga Andreas
Vesalius. Entretanto, ainda havia a crença dos ventrículos como centros dos humores.
Nessa época, o encéfalo foi comparado a uma máquina, bombeando os fluidos
para fora. O filósofo René Descartes, no século XVII, descreveu que, embora a teoria da
mecânica dos fluidos que acreditava nesse bombeamento de humores estivesse em
certo grau correta, não conseguia explicar os comportamentos que são apenas humanos.
A partir dessa conclusão, Descartes passa a descrever que haveria então uma
mente, algo fora do encéfalo, que daria os comportamentos unicamente humanos.
Segundo ele, a mente seria uma essência espiritual que realizava uma conexão com o
encéfalo por meio da glândula pineal, uma pequena estrutura hormonal envolvida na
regulação do sono e da reprodução. (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017; KREBS;
WEINBERG; AKESSON, 2013).
Depois do século XVII, os estudiosos rompem com a teoria dos fluidos e começam
a identificar que o cérebro é formado por uma substância branca e outra cinza (Figura 3).
De acordo com os pesquisadores da época, a substância branca servia como condutora
de informações para a massa cinzenta.

Figura 6: Substâncias brancas e cinzenta vistas em corte coronal

27
Fonte: https://mol.icb.usp.br/i
Na Figura 3 é possível notar que existe uma leve coloração diferenciada entre a
parte mais interna e a mais externa do cérebro. A substância cinzenta, mais externa, é
formada pelos corpos celulares dos neurônios, enquanto a substância branca é formada
pelos axônios, ou filamentos dos neurônios, entre outras células que auxiliam o SNC
(MARTIN, 2013).
Ao final do século XVIII, o SNC já estava detalhadamente descrito e dividido entre
encéfalo e sistema nervoso periférico (SNP), composto pela medula e pelos nervos. Além
disso, a partir desse século, o cérebro foi dividido em lobos (Figura 4), e seus giros
também foram explorados. Os giros são todas as voltas e dobras que o cérebro tem para
se acomodar dentro da caixa craniana. Os lobos apresentam funções diferentes entre si
e são divididos em quatro, nomeados de acordo com o osso mais próximo.

Figura 4: Lóbulos cerebrais

Fonte: https://www.infoescola.com/

28
Os lobos apresentam funções distintas, mas se comunicam entre si. Eles são
encontrados em ambos os hemisférios. Embora a maior parte das funções cognitivas seja
espelhada, ou seja, aconteça nos dois hemisférios, algumas se estabelecem
majoritariamente em um deles, um exemplo é a linguagem, que ocorre quase que
completamente no hemisfério esquerdo. Veja a seguir algumas funções de cada um dos
lobos (KANDELL et al., 2014; MARTIN, 2013; KREBS; WEINBERG; AKESSON, 2013).

 Lobo frontal: entre suas diversas funções estão o comportamento, a


cognição, os pensamentos, o raciocínio lógico, o planejamento, entre
outras.
 Lobo parietal: funções como dor, sensação tátil e a posição do corpo e seus
membros, entre outras.
 Lobo occipital: visão, forma, cor, reconhecimento facial, etc.
 Lobo temporal: linguagem, audição, memória, emoções, etc.
 Lobo insular: equilíbrio, dor, paladar, entre outras funções.

Como visto, por muitos séculos houve a ligação entre o encéfalo e o espírito ou a
alma. Entretanto, à medida que as pesquisas foram avançando e novas formas de ver o
SNC foram desenvolvidas, os cientistas começaram a compreender o órgão mais
complexo do corpo humano, excluindo teorias que o conectam a algo imaterial e tão
abrangente quanto o conceito de mente.
Kandell et al. (2014) afirmam que já avançamos muito. Esse avanço, em especial,
ocorreu a partir do século XIX. Segundo Bear, Connors e Paradiso (2017), os 100 anos
do século XIX representaram um avanço gigantesco em comparação a todos os séculos
anteriores, moldando as neurociências atuais.
Uma das grandes descobertas foi a existência de potenciais elétricos gerados no
sistema nervoso que percorrem os nervos, fazendo os músculos se movimentarem. Isso
acabou com a teoria dos fluidos e humores. Assim, “o novo conceito era de que os nervos
eram como ‘fios' que conduzem sinais elétricos do e para o encéfalo” (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2017, p. 9).

29
Foi também no século XIX que cientistas entenderam a localização de algumas
funções a partir de observações e experimentos com animais. Flourens descobriu as
funções motoras do cerebelo, enquanto Broca identificou a região responsável pela
expressão da linguagem, ou seja, pela produção da fala.
Outros estudiosos ainda descobriram diversas áreas envolvidas em funções
motoras e na visão. Portanto, a partir dessas pesquisas iniciais, hoje sabemos que há
diversas áreas especializadas em funções distintas. Atualmente avançamos a passos
largos na tentativa de decifrar o encéfalo, e isso só é possível com a evolução das
tecnologias, que possibilitam realizar exames mais precisos e cada vez mais detalhados.
Entretanto, além de equipamentos, são necessários investimentos em pesquisas
tanto para a produção de tais equipamentos quanto para a produção dos conhecimentos
que possibilitem o uso desses equipamentos. Ainda, é importante que existam diversas
pesquisas e experimentos que nos tragam maior luz sobre o sistema nervoso, sua
formação, seu desenvolvimento, seu funcionamento e sua capacidade de regeneração.
É muito importante lembrar dos cientistas que possibilitaram o progresso cada vez
maior nas neurociências. Entre eles, é possível citar o neurocientista naturalizado
brasileiro Ivan Izquierdo, falecido em 2021. Sua contribuição para as bases biológicas da
memória com os estudos das vias hormonais no cérebro foi extremamente importante
para muitas áreas, como a de aprendizagem.

4.2 Definindo as neurociências

Quando pensamos em neurociências, às vezes nos referimos à área no singular.


Porém, como vimos, essa área de estudos é composta por distintas disciplinas que
tentam explicar como o nosso sistema nervoso funciona. Por isso, não podemos falar em
apenas uma neurociência, já que são várias ciências que se debruçam sobre a “neuro”.
O Quadro 1 mostra a divisão das distintas neurociências.

30
Como é possível notar no Quadro 1, existem muitas disciplinas que se
complementam no estudo do sistema nervoso, pois não há como apenas uma disciplina
abordar tudo. Veja que é preciso passar pelo estudo das moléculas, as menores
partículas, para então entender as células, o conjunto de células (o sistema), o
comportamento e a cognição.
Todos esses estudos caminham juntos para a compreensão de como o ser
humano funciona a nível neurológico. Os profissionais que pesquisam todas essas áreas
podem ser chamados de neurocientistas. Eles vão realizar seus estudos a partir de uma
das visões descritas no Quadro 1.
Portanto, os neurocientistas são aqueles que fazem a ciência ligada às
descobertas nessa área, trabalhando, em sua maioria, em universidades, laboratórios e

31
centros de pesquisa. Eles tentam decifrar como o encéfalo funciona e como ajudá-lo em
suas dificuldades (LENT, 2001).
Definir as neurociências é compreender, portanto, que distintas áreas tentam
entender o funcionamento do sistema nervoso. De acordo com Kandell et al. (2014, p.
xv):

O objetivo das neurociências é a compreensão de como o fluxo de sinais elétricos


através de circuitos neurais origina a mente — como percebemos, agimos,
pensamos, aprendemos e lembramos. Embora ainda estejamos muitas décadas
distantes de alcançar tal nível de compreensão, os neurocientistas têm feito
progressos significativos na obtenção de informações acerca dos mecanismos
subjacentes ao comportamento, os sinais de saída que podem ser observados
em relação ao sistema nervoso de seres humanos e outros organismos. Estamos
também começando a compreender os transtornos do comportamento
associados a doenças neurológicas e psiquiátricas.

Portanto, compreender como somos e quem somos necessita de uma visão de


como nossos neurônios se formam e se comunicam entre si, produzindo sinais que
formam pensamentos, ações e emoções. Muitos profissionais estão envolvidos nesse
contexto por estamos ainda no início da compreensão de transtornos e comportamentos
associados a disfunções encefálicas.
Dessa forma, Lent (2001) relata que é possível identificar duas categorias para
classificarmos os profissionais que se ocupam do estudo do sistema nervoso. Uma delas
é o campo da pesquisa, com os pesquisadores que conduzem experimentos para
compreender como tudo funciona.
A outra categoria é a dos profissionais da saúde, da educação, das engenharias e
das ciências humanas e sociais, que aplicam os conhecimentos levantados pelos
cientistas. Tudo o que é descoberto sobre o cérebro exerce grande fascínio no público.
Entretanto, quando o senso comum utiliza alguns desses achados, muitas vezes faz de
maneira errônea, criando alguns mitos que a sociedade acaba perpetuando.
Um desses mitos roda há um bom tempo entre nós: o de que utilizamos apenas
10% da capacidade do nosso cérebro. Essa ideia surgiu provavelmente com os estudos
de Lahsley sobre a estimulação de partes lesionadas, na década de 1930. Outro grande

32
mito muito difundido é que há cérebros que aprendem de forma diferente, como cérebros
visuais ou auditivos (LOPES et al., 2020).
Entretanto, algumas descobertas são bem aceitas e parcialmente compreendidas
pelo senso comum, como é o caso do próprio sistema nervoso e da evolução das
espécies. A partir desse conhecimento iniciado por Darwin, os cientistas puderam aplicar
estudos comparativos entre espécies, compreendendo que há famílias comuns entre as
espécies, que apresentam semelhanças no sistema nervoso. Outra descoberta muito
importante foi a de como funcionam os neurônios, as células do sistema nervoso. Esse
conhecimento só foi possível com as melhorias nos aparelhos, principalmente o
microscópio (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
Todos esses experimentos em diferentes áreas formam o que hoje chamamos de
neurociências. Assim, ao pensarmos em uma definição para a área, a descrevemos como
um campo composto por diversas disciplinas que tentam compreender o funcionamento
do sistema nervoso em seus diversos níveis: biológico, químico, elétrico, sistêmico,
cognitivo e comportamental.

4.3 Neurociência cognitiva

A neurociência cognitiva envolve a utilização de evidências provenientes do


comportamento e do cérebro para compreender a cognição humana. O cérebro tem 100
bilhões de células nervosas, os neurônios, com muitas conexões ente si. Veja na Figura
5 a representação de um neurônio com uma sinapse (ligação entre neurônios) em
destaque.
Note a estrutura esquemática do neurônio, com suas partes — corpo celular,
dendritos e axônios —, bem como a sinapse com terminais axônicos e neurônios pós-
sinápticos. Dendritos e axônios são os prolongamentos dos neurônios. Os dendritos
recebem os estímulos, enquanto os axônios são os prolongamentos que transmitem as
informações do neurônio para as outras células. Neurônios pós-sinápticos são os que se
localizam após a sinapse, a ligação entre os neurônios.

33
Figura 5: Neurônio com sinapse em destaque

Fonte: https://escolaeducacao.com.br/sinapses/

O cérebro tem dois hemisférios: o direito e o esquerdo. Cada um dos dois


hemisférios tem quatro grandes áreas, chamadas de lobos — frontal, parietal, temporal
e occipital —, que você pode visualizar na Figura 6.

Figura 6: Hemisfério cerebral esquerdo com lóbulos e sulcos

Fonte: https://www.auladeanatomia.com/

34
Na mesma Figura, confira também os sulcos, que são estrias no cérebro: sulco
central, sulco parieto-occipital e corte pré-occipital. Enquanto as fendas são chamadas
de sulcos, as saliências são chamadas de giros.
As áreas cerebrais são divididas em dorsal (em direção ao topo), ventral (em
direção à base), frontal (em direção à frente), posterior (parte de trás), lateral (ao lado) e
medial (no meio).
Além de conhecer a anatomia básica do cérebro, é importante que você conheça
a organização cerebral. O cérebro funciona de acordo com dois princípios contraditórios
entre si: o princípio de controle de custos, que visa a diminuir as distâncias entre as
conexões, e o princípio da eficiência, para integrar as informações.
Às vezes, as informações estão distantes uma da outra e, para resolver essas
dificuldades, os neurônios se relacionam com neurônios próximos a si e com até 10 mil
neurônios. Para resolver a questão da localização, existem módulos, que são áreas de
conexão agrupadas, e centros, que são regiões com muitas conexões com outras regiões
(BULLMORE; SPORNS, 2012). Esse conhecimento não é útil apenas para psicólogos,
neurologistas e psiquiatras:

Educadores — professores e pais — […] são, de certa maneira, aqueles que mais
trabalham com o cérebro. Mais do que intervir quando ele não funciona bem, os
educadores contribuem para a organização do sistema nervoso do aprendiz e,
portanto, dos comportamentos que ele aprenderá durante a vida (COSENZA;
GUERRA, 2011, p. 6).

Agora que você já estudou a estrutura básica do cérebro, está na hora de


identificar as principais técnicas para o seu estudo. Para estudar o cérebro em
funcionamento, são necessários equipamentos bem mais complexos do que os utilizados
pelas duas outras abordagens. Às vezes, esses equipamentos são muito caros, o que
restringe a sua utilização, apesar de sua grande eficiência.

35
4.4 Técnicas para o estudo do cérebro

Fonte: https://cndl.org.br/

O estudo do cérebro post-mortem (após a morte) resultou em muitos


conhecimentos sobre a sua estrutura. No entanto, conforme Sternberg (2008, p. 43), “a
tendência nos últimos tempos tem sido a de concentrar-se em técnicas que proporcionem
informações sobre o funcionamento mental humano à medida que ele ocorre”, in vivo
(vivo).
Atualmente, é possível utilizar muitas técnicas para conhecer a estrutura e o
funcionamento do cérebro. Podemos saber quais áreas são ativadas na realização de
certas tarefas ou se elas são ativadas em sequência e em que ordem. Muitas dessas
técnicas, além de serem utilizadas em pesquisa, são também utilizadas para diagnósticos
médicos. Agora você irá conhecer algumas dessas técnicas, de acordo com Eysenck e
Keane (2017).
Registro de unidade isolada ou registro de célula única: consiste em inserir um
microeletrodo no cérebro para estudar neurônios isolados. É a mais minuciosa das
técnicas, porém é invasiva e, portanto, raramente utilizada em pesquisas com humanos.

 Potenciais relacionados a eventos (ERPs): o eletroencefalograma (EEG) é


utilizado para obter esse tipo de informação. Trata-se de um exame com baixa resolução
espacial, que não identifica as áreas específicas do cérebro envolvidas nos eventos, mas

36
tem boa precisão temporal. Por meio de eletrodos fixados no couro cabeludo, pode-se
medir a atividade cerebral diante de um estímulo repetido ou outros estímulos
semelhantes. Alterações muito pequenas de atividade cerebral podem ser captadas. É
utilizado para tarefas simples. De acordo com Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016, p. 82),
“um traçado de EEG corresponde a uma espécie de ‘pescaria’ da atividade cerebral no
momento em que foi feita. Portanto, é um exame extremamente dinâmico e pode variar
com o momento”.

 Tomografia por emissão de pósitrons (PET): tem baixa resolução temporal,


mas boa resolução espacial, medindo a atividade do cérebro após a aplicação de um
marcador que se concentra nos vasos sanguíneos do cérebro.
 Imagem por ressonância magnética (IRM): um campo magnético provoca a
movimentação dos prótons no cérebro, o que os faz liberar energia. O aparelho escaneia
as áreas mais brilhantes, aquelas que liberam mais energia. Com esse exame, é possível
verificar as estruturas do cérebro, mas não seu funcionamento.

 Imagem por ressonância magnética funcional (IRMF): tem boa resolução tanto
espacial quanto temporal. Portanto, na pesquisa, é melhor do que a PET. Mede o BOLD,
que é o “contraste dependente do nível de oxigênio no sangue” (EYSENCK; KEANE,
2017, p. 15).

 Imagem por ressonância magnética funcional relacionada a evento (IRMFE):


tem sido muito utilizada, pois permite comparar padrões de atividades relacionadas a
eventos isolados.

 Magnetoencefalografia (MEG): mede os campos magnéticos produzidos pela


atividade elétrica cerebral. Tem resoluções temporal e espacial boas, mas seu custo é
alto.

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 Estimulação elétrica transcraniana (TMS): um dispositivo emite pulsos
magnéticos breves, afetando uma área do cérebro. O efeito imita uma lesão, o que auxilia
na determinação da importância da área para o desempenho na tarefa.

 Estimulação magnética transcraniana repetitiva (RTMS): os pulsos elétricos da


TMS são aplicados rápida e repetidamente. Tem sido muito utilizada. Em geral, fala-se
somente TMS.

Após conhecer todas estas técnicas, você deve estar se perguntando qual delas é
a melhor para pesquisas sobre cognição humana. Não existe a melhor técnica, pois todas
apresentam qualidades e limitações. A escolha da técnica depende do objetivo. Uma das
grandes contribuições da neurociência cognitiva é “que existem integração e
coordenação substanciais no cérebro” (EYSENCK; KEANE, 2017, p. 20), em vez de uma
especialização funcional extrema.
As aplicações dos resultados de pesquisas da ciência cognitiva podem trazer
grandes avanços à prática médica. Mesmo que não imediatamente, representa uma
grande esperança de cura:

O desenvolvimento atual das neurociências é verdadeiramente fascinante e gera


grandes esperanças de que, em breve, tenhamos novos tratamentos para uma
grande parte dos distúrbios do sistema nervoso, que debilitam e incapacitam
milhões de pessoas todos os anos (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017, p. 21).

Nesta última seção, você conheceu mais uma abordagem da cognição humana, a
neurociência cognitiva, e aprendeu sobre a estrutura e o funcionamento cerebral, bem
como sobre as técnicas mais utilizadas para realizar as pesquisas sobre a cognição
humana.

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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