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DIFICULDADES E
TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
CONTEXTUALIZANDO
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sentir dor de dente. Nesse caso, podemos dizer que aprendemos a escovar os
dentes pelo fato de que esse ato previne a cárie.
Surge a pergunta, então. Não fui ensinado quando criança a escovar os
dentes? Qual a razão de não ter aprendido a escovar os dentes para evitar a
cárie? A partir de quando eu aprendi a escovar os dentes?
Essas perguntas norteiam o que vamos estudar, que é a compreensão de
aprendizagem.
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• Cognitivo – relacionado às capacidades intelectuais. Nesse domínio, o
sujeito tem a condição de uso da cognição para compreender, memorizar,
aplicar, sintetizar, analisar e avaliar as situações de forma intelectual.
• Afetivo – relacionado às produções afetivas, como o sentimento e a
emoção. É nesse domínio que surge a capacidade social do sujeito. É
nessa condição que o indivíduo manifesta condições de reação,
valorização, respostas, organização e caracterização da sua condição de
responder de forma interna ao ambiente externo;
• Psicomotor – é a condição do controle muscular. Nesse domínio, o sujeito
adquire habilidades aos movimentos do corpo. Entretanto, estão
relacionadas também à nossa linguagem não verbal e à percepção.
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Diante dessa teoria mediacional, estão a Gestalt, a genética e o
cognitivismo. Em todas essas teorias, temos a condição de que o sujeito é o
agente; não apenas o modificador do ambiente, pois também se relaciona com
ele de forma subjetiva, de modo que os elementos não precisam estar
apresentados no ambiente.
Sendo assim, a aprendizagem é concebida como o processo de
conhecimento e de compreensão das relações nas quais as condições externas
atuam mediadas pelas condições internas, em que sofrem uma reorganização
cognitiva. É um processamento interno de informações externas que resultarão
em uma relação com o ambiente externo.
TEMA 2 – BEHAVIORISMO
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Segundo o condicionamento clássico, um comportamento é aprendido ao
ser executado em um outro ambiente parecido com o que ocorreu pela primeira
vez. Isso é denominado generalização. Entretanto, esse comportamento
diferenciado de outros, para ele, não vem a ocorrer por um estímulo diferente;
nesse caso, temos a discriminação. O sujeito, diante de um estímulo não eliciador,
não manifesta o comportamento; isso é a inibição. À medida que não é manifesto
ou estimulado, o comportamento tende a se extinguir.
O condicionamento pavloviano descreve que todo aprendizado ocorre por
meio de interações com o meio ambiente. O ambiente forma o comportamento, o
qual considera apenas os estímulos que podem ser observáveis, desprezando
assim qualquer condição mental.
A segunda grande contribuição do comportamentalismo é o behaviorismo
propriamente dito. Hoje, nós costumamos a classificá-lo como metodológico e
radical (Bock; Furtado; Teixeira, 2002). O behaviorismo metodológico tem sua
fundação em Watson, cujo pensamento estabeleceu uma relação entre o que o
organismo faz e o que pode ser observável. A isso, ele denomina de conduta, que
estabelece o comportamento respondente.
O behaviorismo radical, que tem em F. B. Skinner seu maior nome,
estabelece um divisor de águas no processo de compreender a aprendizagem.
Skinner estabelece a sua teoria do comportamento operante, na qual focou seus
estudos no controle das relações variáveis que originam o comportamento –
estímulos, reforços e contingência – e nas variáveis que resultam do
comportamento – que são as respostas.
Dessa forma, Skinner conseguiu explicar o condicionamento operante, que
nada mais é do um comportamento mantido por um reforço positivo após uma
resposta esperada. O conceito básico aqui estabelecido é o de aumento na
frequência da resposta. Isso só é possível a partir da associação com um
reforçador condicionado (Moreira, 1999).
Segundo Skinner, o processo de aprendizagem se dá pela compressão da
tríade comportamental antecedentes, respostas e consequência, a qual é mantida
por uma estrutura que permite a probabilidade de um comportamento vir a ocorrer
ou não por reforço ou punição. No conceito de Skinner, o indivíduo altera o
ambiente, que por ele é modificado.
Observando o behaviorismo em sua estrutura de aprendizagem, Sacristán
e Gómez (2000) dissertam que “a educação, e de modo concreto o ensino,
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transforma-se numa tecnologia que prepara as contingências, as características
do contexto e as peculiaridades de cada situação e regula a administração de
reforços”. Esse é um pensamento estruturado por Skinner, em que o
comportamento pode aos poucos ser modelado.
Termos filosóficos não conceituam o comportamento para o Behaviorismo.
O que o behaviorismo denomina de mentalismo é a condição de tentar explicar
algo sem que ele possa ser observado. Dessa forma, o behaviorismo compreende
a motivação como sendo produzida pela concentração da atenção e na
estimulação do interesse do sujeito diante do ambiente.
O behaviorismo enfatiza a aplicação das técnicas com eficácia. Ou seja, a
aprendizagem não considera variantes internas, bem como a dinâmica como ela
ocorre. Considera-se a aprendizagem como uma ação tecnológica. Sendo assim,
utiliza-se programas de reforço, instrução programada, fichas de aula, máquinas
de ensinar. Isso tudo são instrumento de aprendizagem que promovem um
condicionamento de respostas operantes.
TEMA 3 – GESTALT
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da Gestalt é diferente do que a soma de elementos. A Gestalt, então, vem a ser a
divisão das suas partes, ou seja, o que vem anterior à existência das partes
(Engelmann, 2002).
A Gestalt tem sua estrutura teórica fundamentada sobre dois pilares: o
desenvolvimento humano e a aprendizagem. O desenvolvimento humano é
explicado pela maturação do sistema nervoso. Isso significa que as estruturas
perceptivas do indivíduo se desenvolvem com o passar do tempo. Assim sendo,
o sujeito nasce com elas e, com o passar do tempo, essa estrutura perceptiva
ganha a capacidade de atuar de forma interpretativa e de juízo.
Já a aprendizagem ocorre em razão da percepção. Explicar de forma
simples o que é aprendizagem para Gestalt é conceituar a condição do sujeito ter
um insight. Ou seja, o sujeito tem um ato de organização súbita do campo
perceptivo a fim de configurar uma totalidade. Só há condições de insight quando
se percebe a relação entre o estímulo e o campo perceptivo (Engelmann, 2002).
A percepção no sujeito se dá de forma unificada. A Gestalt trabalha sobre
alguns princípios que permitem compreender essa percepção: proximidade,
semelhança, fechamento e continuidade.
Agora, podemos, então, definir que a Gestalt consiste em um conjunto de
conceitos relacionados à percepção que o ser humano possui sobre as formas
apresentadas durante sua vivência diária. Na aprendizagem, é posta como a
capacidade de o sujeito perceber os objetos e as formas no seu todo; a isso
determinamos uma estrutura holística.
A Gestalt deixa claro que o processo de aprendizagem tende a variar de
pessoa para a pessoa. Todavia, há regras perceptivas que são comuns e que são
postas segundo a maturação do sujeito. Considera-se, para isso, aspectos
fisiológicos que compõe o desenvolvimento de cada um.
Não se pode desconsiderar os principais elementos motrizes da
aprendizagem para a Gestalt. O primeiro é a motivação interna que cada sujeito
tem de ver o mundo a partir de espectro maior. O segundo é o desejo, em que o
sujeito transcende a condição local e temporal que se encontra. O terceiro é a
necessidade, em que o sujeito se apresenta como algo a ser alcançado e que faz
falta.
Segundo a Gestalt, a interpretação de cada um tende a ser individualizada.
Entretanto, há princípios na Gestalt que são importantes ferramentas para o
nivelamento do processo de aprendizagem. Nesse caso, considera-se que os
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estímulos são criados a partir de percepção comum originada em quem
estabeleceu o início do processo. Normalmente, esse sujeito é o professor.
TEMA 4 – COGNITIVISMO
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4.1 Jean Piaget
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4.2.1 Estágio sensório-motor
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4.2.3 Estágio operatório concreto
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TEMA 5 – TEORIAS PSICOSSOCIAIS
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dos signos permitirá uma mudança qualitativa no processo de internalização e a
utilização de sistemas simbólicos (Basso, 2018).
Os fundamentos da teoria objetam o trabalho. Isso significa o que a criança
vem a fazer. Dela, compreende-se que o pensamento e a linguagem associam-se
devido à necessidade de intercâmbio, levando a criança a ter a capacidade de
resolver problemas práticos utilizando-se de instrumentos objetivos.
Segundo Vygotsky (1989), a aprendizagem tem um papel fundamental para
o desenvolvimento do saber e do conhecimento, havendo sempre uma relação de
ensino-aprendizagem. Isso é um modelo social de aprendizagem. Sua teoria
define uma zona de relação chamada zona de desenvolvimento proximal – ZDP,
na qual há uma distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial em
que as interações sociais são desenvolvidas. Estas não são iguais para todos, por
isso, no processo de ensino e aprendizagem, o mediador deve identificar a ZDP
para saber como atuar.
Henri Paul Hyacinthe Wallon apresentou uma teoria inovadora, que tem
como elemento diferencial a afetividade. Para ele, a aprendizagem sofre a ação
de fatores afetivos, como a emoção. É uma compreensão mais complexa do
funcionamento do cérebro e da relação ambiental.
Segundo Wallon (Galvão, 2000), a criança é essencialmente emocional e
gradualmente vai constituindo-se como um ser sociocognitivo. Ela vive em um
ambiente contextualizado, no qual há uma realidade viva na amplitude dos seus
comportamentos e na sua condição de existência.
Wallon descreve que toda criança nasce em um mundo simbólico e
relacionada dentro de um “sincretismo subjetivo” nos seus primeiros três anos.
Nesse período, ela depende da ação do outro. Sua linguagem expressiva é a
emoção, que é designada antes da linguagem falada e a qual é observada em
trocas sociais como a imitação.
Para Wallon, a criança não possui um desenvolvimento linear. Ele designa
estágios de desenvolvimento que sofrem variações na medida em que ocorre o
desenvolvimento. Ele chama essas variações de crise.
As fases do desenvolvimento, para Wallon, são:
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• Estágio impulsivo-emocional – Vai do nascimento até aproximadamente o
primeiro ano de vida. Nesse estágio, há uma caracterização pela condição
afetiva. A criança vive uma condição de não saber distinguir o mundo dela
mesma.
• Estágio sensório-motor e projetivo – Vai dos três meses de idade até
aproximadamente o terceiro ano de vida. Nesse período, a inteligência
começa a ser gerente e o mundo passa pelo processo de interpretação. A
inteligência passa a ter uma divisão entre a inteligência prática, obtida na
relação com os objetos e o próprio corpo, e a inteligência discursiva, que é
adquirida pela imitação e apropriação da linguagem. Nesse período, o
pensamento é observado pelos atos motores.
• Estágio do personalismo – Vai dos 3 aos 6 anos de idade. O fator a ser
estabelecido é a personalidade e a autoconsciência. Nessa fase, ocorrem
as crises negativistas, em que há uma oposição da criança ao adulto.
• Estágio categorial – Vai de 6 a 12 anos. É um período em que ocorre a
preponderância da inteligência sobre as emoções. Há o desenvolvimento
das capacidades de memória e atenção voluntária e “seletiva”. A criança
começa a abstrair conceitos concretos e começa o processo de
categorização mental. Ocorre uma evolução muito grande no
desenvolvimento humano.
• Estágio da adolescência – Inicia-se entre 11 ou 12 anos de idade. Há
mudanças físicas e psicológicas produzidas pela maturação do sistema
endócrino. Nesse estágio, o adolescente passa a desenvolver sua
afetividade de forma abrangente, observando sua autoafirmação e
maturação sexual. É uma fase marcada pelos conflitos internos e externos.
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FINALIZANDO
Saiba mais
Texto de abordagem teórica
NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre
os pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. 2. ed revisada e ampliada.
Curitiba: InterSaberes, 2015. v. 1. 270p. Disponível em: <http://uninter.bv3.
digitalpages.com.br/users/publications/9788544301593>. Acesso em: 24 jun.
2018.
Este texto apresenta uma descrição mais detalhada das teorias abordadas
nesta aula. A leitura desse texto esclarecerá dúvidas sobre a exposição das
teorias da aprendizagem. Leia os seguintes capítulos:
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udesc.br/index.php/linhas/article/viewFile/1984723813022012181/2125>. Acesso
em: 24 jun. 2018.
O texto informa como as teorias da aprendizagem contribuem e podem ser
utilizadas na prática docente.
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REFERÊNCIAS
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PIAGET, J. O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas
cognitivas. Lisboa: Dom Quixote, 1977.
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LEITURA OBRIGATÓRIA DA DISCIPLINA:
Este texto apresenta uma descrição mais detalhada das teorias abordadas nesta aula. A
leitura desse texto esclarecerá dúvidas sobre a exposição das teorias da aprendizagem.
Leia os seguintes capítulos:
Saiba mais
Esse vídeo apresenta uma animação na qual ocorre um diálogo entre o pensamento de
Piaget e Vygotski, deixando explícito o fundamento das duas teorias.
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AULA 2
DIFICULDADES E
TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
1. Termos designativos;
2. Dificuldade de aprendizagem;
3. Problema de aprendizagem;
4. Distúrbios de aprendizagem;
5. Transtornos de aprendizagem.
CONTEXTUALIZANDO
2
para olhar para o computador. Já se passaram 60 minutos e só então você volta
a estudar.
Não sei o quanto isso é realístico para você, mas há impeditivos que não
permitem que você avance no seu processo de estudar, como consequência,
aprender. Não é simplesmente dizer que você não tem vontade.
Talvez você precise se perguntar sobre o que aconteceu para que você
ficasse 60 minutos longe do processo de estudar. O que houve? Você tem
problemas de aprendizagem? Ou você tem dificuldade de aprendizagem? Ou
transtorno ou distúrbios de aprendizagem?
Não se apavore. Nesta aula, vamos desvendar esses termos que,
decifrados, podem nos ajudar no processo de aprender.
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quadro avaliativo, pode mascarar ou menosprezar o que realmente esteja a
acontecer.
Quando nos deparamos das abordagens teóricas, verificamos que elas se
atribuem de determinados termos de acordo com suas inclinações teóricas. Os
comportamentalistas preferem utilizar o termo distúrbio. Os construtivistas já
adotam o termo dificuldade. Quem atua na área mais médica já se apropria do
termo distúrbio. Atualmente, o Manual de Transtornos Mentais – DSM 5 utiliza o
termo transtorno.
A grande questão é se os profissionais estão falando da mesma coisa. Ou,
se estão utilizando nomenclaturas para designar elementos diferentes. Não
podemos acreditar que seja apenas uma questão de termos. Sendo assim, nos
propomos a desvendar e tentar produzir uma compreensão mais compatível com
a do termo.
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Vamos usar um modelo simples. Você está em sua sala de estudo e tem
dificuldade de ler o texto à sua frente, pelo fato de a sala estar com pouca
luminosidade. Você se levanta e acende a lâmpada. Sua dificuldade acabou.
Tentemos simplificar o termo dificuldade. Dificuldade pode ser entendido
como o ato diante qualquer coisa que seja impeditivo, e que, com o uso de um
esforço maior, é possível retirá-lo da direção de progressão.
De forma pedagógica, podemos dizer que todos podem ter dificuldade de
aprendizagem. O grau dessa dificuldade depende de cada sujeito na sua relação
com o que deve ser aprendido, considerado muito mais do que a relação entre o
sujeito e o objeto a ser aprendido, incluindo o ambiente e as condições a ele
disposta.
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avançar. Isso é algo importante de se salientar, pois muitos problemas de
aprendizagem são pontuais, caracterizados por eventos circunstanciados.
Infelizmente, já foi observado que a falta de alimentação é um empecilho para a
obtenção da atenção do aluno em sala de aula.
Todavia, entender os problemas de aprendizagem é verificar quais itens
que participam da aprendizagem e que não estão em execução no sujeito, tais
como atenção, memória, linguagem, motricidade, entre outros. Com base na
observação dos integrantes da aprendizagem, poderemos verificar qual o prejuízo
que a criança está tendo.
Quando falamos de problemas de aprendizagem, tendemos a observar que
eles podem ser detectados a partir dos cinco anos de idade. Isso, por uma questão
muito simples: esse é o período em que a criança começa a frequentar a escola.
É nela que são notados, no prejuízo no rendimento escolar e nas relações sociais.
Não podemos compreender problemas de aprendizagem relacionados
apenas às disfunções orgânicas. Como já foi dito, há o fator ambiental. É possível
que crianças com problemas de aprendizagem tenham um nível normal de
inteligência, de acuidade visual e auditiva.
Outro fator importante é o desinteresse. Nem sempre problemas de
aprendizagem tem a ver com desinteresse. Há possibilidades de a criança se
esforçar, se concentrar e manter o seu comportamento de forma positiva em casa
e na escola e mesmo assim ter problemas de aprendizagem.
A grande questão a ser levantada é quais são as razões que levam à
criança a não conseguir captar, processar e dominar as tarefas e informações que
a elas são dispostas e, logo depois, poder desenvolvê-las. A criança passa a ter
uma limitação mesmo tendo o mesmo nível de inteligência.
Dentro dessa mesma abordagem, observamos em que condições a criança
tem problemas específicos de aprendizagem. Significa que eles interferem
diretamente no processo do aprender. A grande dificuldade é detectar quando
uma criança está tendo problemas para processar as informações e a formação
que recebe.
Medina (2016) apresenta alguns comportamentos que devem observados
para caracterização de um problema de aprendizagem:
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• Não domina as destrezas básicas de leitura, soletração, escrita
e/ou matemática, pelo que fracassa no trabalho escolar.
• Apresenta dificuldade para distinguir entre a direita e a esquerda,
para identificar palavras etc. Sua tendência é escrever as letras, palavras
ou números ao contrário.
• Falta-lhe coordenação ao caminhar, fazer esportes ou completar
atividades simples, tais como apontar um lápis ou amarrar o cordão do
sapato.
• Apresenta facilidade para perder ou extraviar seu material escolar,
como os livros e outros artigos.
• Tem dificuldade para entender o conceito de tempo, confundindo
o “ontem”, com o “hoje” e/ou “amanhã”.
• Manifesta irritação ou excitação com facilidade. (Medina, 2016)
Saiba mais
Para melhor interação sobre o tema, acesse o site da LDA. Disponível em:
<https://ldaamerica.org/>. Acesso em: 28 jun. 2018.
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violenta na ordem natural”. Esse é um termo muito utilizado no DSM-3, razão pela
qual na linguagem médica o termo ficou comum.
Sendo assim, já podemos considerar que o termo é de uso médico
patológico. Portanto, sempre vai estar relacionado a um comprometimento
fisiológico ou anatômico. Dessa forma, ao conceituarmos distúrbios de
aprendizagem, estamos nos referindo a comprometimentos neurológicos.
Definindo melhor um distúrbio de aprendizagem, caracterizamos um
problema, uma doença ou uma síndrome que acometem o sujeito em grau
fisiológico. Isso significa que deve haver um comprometimento orgânico da
criança. Ninguém tem um distúrbio sem um comprometimento orgânico.
De maneira mais sintética, podemos nos debruçar sobre a ideia que uma
alteração orgânica não pode ser resolvida apenas com mudança ambiental, bem
como não pode ser tratada sem o apoio de psicofármacos. E ainda, ser
compreendida como algo que pode não ter cura.
Isso nos leva a entender a gravidade do tema. O cuidado e a atenção que
devem ser disponibilizados a uma criança com um distúrbio de aprendizagem
devem considerar que sua vivência é maior que a limitação que possui, por isso,
pode ter um menor prejuízo no decurso de sua vida, qualificando o seu viver e
dando continuidade à busca de alcançar os seus objetivos.
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Psiquiatria (American Psychiatric Association, 2013). É uma literatura de alto valor
científico e em pesquisa. Hoje, está mais atualizado que o CID-10. Embora possua
muitas opiniões discordantes, o DSM 5 é uma literatura orientadora para um
diagnóstico mental.
O termo “transtorno” é muito comum no CID-10 e no DSM-5. Ambos os
manuais procuram dirimir dúvidas ou questionamentos quando se utilizava outros
termos, como enfermidade, doenças, patologias, síndromes etc. Na verdade, o
objetivo é sintonizar a mesma fala. Isso não quer dizer que há unanimidade da
utilização do termo.
Por isso, quando designamos o termo transtorno, procura-se usá-lo com o
intuito de indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos
clinicamente reconhecíveis associados, na maioria dos casos, a sofrimento e
interferência com funções pessoais (Organização Mundial da Saúde, 1992).
Os manuais não utilizam as mesmas terminologias, por isso
apresentaremos as designações feitas por cada um deles. Lembramos de que o
nosso foco são os transtornos referentes à aprendizagem.
5.1 CID 10
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transtornos, sendo assim, quando nos referimos às possíveis causas dos
transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares, não
podemos especificá-las. Todavia, há indicativos relacionados a fatores biológicos
que, de uma forma não bem esclarecida, interagem com fatores não biológicos.
Esse evento ocorre de forma não controlada, o que não permite designarmos
exatamente uma causa.
5.2 DSM 5
• Transtornos do Neurodesenvolvimento:
✓ Deficiências Intelectuais;
✓ Deficiência Intelectual (Transtorno do Desenvolvimento Intelectual):
➢ 315.8 (F88) Atraso Global do Desenvolvimento;
➢ 319 (F79) Deficiência Intelectual (Transtorno do Desenvolvimento
Intelectual) Não Especificada.
• Transtorno Específico da Aprendizagem – Especificar se:
✓ 315.00 (F81.0) Com prejuízo na leitura (especificar-se na precisão na
leitura de palavras, na velocidade ou fluência da leitura, na compreensão
da leitura);
✓ 315.2 (F81.81) Com prejuízo na expressão escrita (especificar-se na
precisão na ortografia, na precisão na gramática e na pontuação, na
clareza ou organização da expressão escrita);
✓ 315.1 (F81.2) Com prejuízo na matemática (especificar-se no senso
numérico, na memorização de fatos aritméticos, na precisão ou fluência
de cálculo, na precisão no raciocínio matemático) (American Psychiatric
Association, 2013).
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característica são os déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no
funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. É possível que haja
com certa frequência a ocorrência de mais de um transtorno do
neurodesenvolvimento, de forma comórbida. O transtorno de aprendizagem tende
a ser uma comorbidade do TEA e do TDAH (American Psychiatric Association,
2013).
Já a deficiência intelectual tem características em déficit nas capacidades
mentais genéricas, ou seja, um desenvolvimento intelectual simples. Essas
capacidades incluem o raciocínio, solução de problemas, planejamento,
pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela
experiência. Os déficits resultam em prejuízos no funcionamento adaptativo, de
modo que o indivíduo não consegue atingir padrões de independência pessoal e
responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida diária, incluindo
comunicação, participação social, funcionamento acadêmico ou profissional e
independência pessoal em casa ou na comunidade (American Psychiatric
Association, 2013).
O transtorno específico da aprendizagem, tem sua designação quando há
déficits específicos na capacidade individual para perceber ou processar
informações com eficiência e precisão. É um transtorno observável principalmente
na fase escolar. A principal sintomática são as dificuldades persistentes e
prejudiciais observadas no desenvolvimento básico da leitura, escrita e/ou
matemática (American Psychiatric Association, 2013).
É fácil de observar esse transtorno pela condição de verificação das
habilidades acadêmicas com base no desempenho individual. É normalmente a
criança que está baixa da média esperada para a idade. Seus resultados não
favoráveis e quando o objetivo a atingir é a média, é necessário que a criança
desempenhe um esforço fora do comum para ela (American Psychiatric
Association, 2013).
FINALIZANDO
11
Com base nessa descrição, podemos fazer uma definição melhor dos
termos que são utilizados para descrever as ações que agem contrariamente ao
processo de aprender. Analisando dessa forma, talvez você chegue à conclusão
de que o ocorrido na cena inicial desta aula foram dificuldades externas para a
sua aprendizagem.
Podemos, então, dizer que agora você está melhor orientado nos termos
designativos que nos permitem deixar claro o que queremos dizer quando falamos
de algo que tenha a ver com a aprendizagem.
Nomenclatura e termos são importantes como orientadores. Todavia, mais
importante é poder saber quando e como usá-las, pois isso nos orienta a cometer
menos equívocos e a sermos mais assertivos, permitindo-nos ajudar de forma
efetiva àqueles que venham a ter um prejuízo na aprendizagem.
Saiba mais
Texto de abordagem teórica
NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Dificuldades de aprendizagem: um olhar
pedagógico. In: _____. Dificuldades de aprendizagem: um olhar
psicopedagógico. Curitiba: InterSaberes, 2012. p. 47-66. Disponível na biblioteca
virtual.
Esse texto apresenta uma descrição sobre o olhar da psicopedagogia sobre
os conceitos referentes às dificuldades de aprendizagem. A leitura desse texto
esclarecerá dúvidas da exposição das teorias da aprendizagem.
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Saiba mais
APRENDENDO. Interpretando o problema – dificuldades de aprendizagem.
YouTube, 21 out. 2013. Disponível em: <https://youtu.be/2IKlsW15vLY>. Acesso
em: 28 jun. 2018.
Esse vídeo pontua questões bem práticas do ambiente de sala de aula, em
que podemos identificar algumas dificuldades de aprendizagem.
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REFERÊNCIAS
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AULA 3
DIFICULDADES E
TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
CONTEXTUALIZANDO
2
O que deu errado? De quem é a culpa do bolo não ter crescido? São
perguntas que fazemos quando acreditamos que seguir uma receita levará,
sempre, a um resultado igual.
Assim é o desenvolvimento humano e a trajetória do aprender. Vamos
tentar entender um pouco desse processo nesta aula.
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Já chegamos a um patamar de separação entre algo que pode ser simples
e algo que pode exigir certo grau de atenção. Quando essas situações vão
evoluindo, começamos a perceber que pode haver prejuízo maior para o sujeito.
Nesse caso, estamos nos referindo aos distúrbios, que são condições em que o
desenvolvimento esperado não é alcançado. Essa terminologia ganha um caráter
médico.
Nessa mesma condição, definimos transtornos, um termo médico, com
objetivo de unificar processos diagnósticos. Temos, com clareza, alterações no
sujeito que são consideradas prejudiciais a seu desenvolvimento de
aprendizagem.
O que procuramos deixar claro é que, quando falamos de dificuldades,
estamos nos referindo a qualquer coisa que atrapalhe a aprendizagem. Todavia,
quando nos referimos a transtornos de aprendizagem, estamos falando de algo
pontual e que gera um prejuízo no desenvolvimento do indivíduo.
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Vamos exemplificar. O sujeito tem uma dificuldade enorme de estudar
matemática. Todas as vezes em que ele vai estudar matemática, procura fazer
outra coisa que, aparentemente, pareça ser mais fácil ou mais agradável. A
questão é por que ele não gosta de matemática. Uma estrutura bem simples de
entendê-la são as contingências. O que reforça o sujeito a não querer estudar
matemática. São características dele, inerentes a ele. Ou seja, às vezes,
queremos que o sujeito altere determinadas características sem que antes
entendamos quais são elas.
Deixando um pouco a análise do comportamento, vamos considerar, agora,
pela ótica da gestalt. O sujeito apresenta prazer no que gosta e dificuldade no que
não gosta, mas isso não quer dizer que ele não vai aprender. Apenas que está
enfrentando uma barreira interna que faz parte das características dele.
Podemos desenhar isso como a personalidade, mas vai muito além de um
conceito porque estamos nos atentando à condição do sujeito que foi reforçada
nele e que, para ele, é impeditiva.
Quando tratamos de dificuldades de aprendizagem, é fundamental
considerar os muitos bloqueios do próprio sujeito em relação às contingências.
Dessa forma, é importante conhecermos o sujeito, ou seja, como ele se comporta,
quem ele é, o que faz, do que gosta, do que não gosta etc.
Infelizmente, normatizamos a aprendizagem com base em parâmetros que
igualam a todos, entretanto, às vezes, esquecemos de respeitar as diferenças
básicas que cada sujeito tem, o que não lhe faz diferente, apenas lhe dá uma
condição de acesso diferente.
Pontuemos que a dificuldade de aprendizagem é pode ser vencida. Nesse
caso, estamos falando do bloqueio que o próprio sujeito cria. A partir do momento
em que compreendemos esse sujeito e lhe ajudamos a se observar, permitiremos
que ele entenda as contingências que o sustentam e produzem o impeditivo.
Um aspecto muito importante que deve ser enfatizado na procura de ajudar
o sujeito é a autoestima. Ela faz com o que o sujeito veja a si mesmo e considere-
se capaz de superar os obstáculos que estão à sua frente. Dificuldades de
aprendizagem podem ser fruto de uma visão distorcida do próprio sujeito em
relação a si mesmo que afeta a sua maneira de ver e lidar com o mundo e as
pessoas que o cercam.
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TEMA 3 – FATOR AMBIENTAL
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3.1.1 Ambiente familiar
7
3.1.2 Ambiente social e cultural
8
comportamento. Sendo assim, quando a estrutura física não lhe favorece o
aprendizado, isso passa a ser um agente que não produz motivação para o aluno.
Diante do cenário em que se encontra, ele simplesmente para e deixa o tempo
passar.
Não entremos na análise do que pode vir a passar no pensamento da
criança que a desmotiva. Mas fortaleçamos a ideia de que o ambiente não a
motiva. Isso passa a ser um impeditivo para que o aluno avance e, dessa forma,
temos um problema de aprendizagem.
Outro fator dentro do ambiente escolar é o corpo docente e o corpo
discente. Esse tema será tratado com um pouco mais de profundidade no tema 4,
sobre fator interpessoal. Porém é importante pontuar que as pessoas podem ser
um bloqueio para o desenvolvimento da aprendizagem.
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Enriquecer um ambiente com estímulos deve ser pontual à condição que a
criança apresenta, para que esse fator seja positivo e não negativo no
desenvolvimento da criança. Sendo assim, podemos considerar que o ambiente
é um agente que pode causar dificuldade de aprendizagem.
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Não são poucos os casos de crianças que têm dificuldade em aprender porque os
pais brigam em casa, ou brigam com a criança.
Este capítulo está apresentando, exatamente, a condição de que as
dificuldades de aprendizagem estão em um campo mais extenso do que
simplesmente apresentar o sujeito como a vítima ou o culpado de não alcançar
determinadas metas estabelecidas, sobre as quais ela não tem controle nem
poder de mudança.
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5.2 Transtornos do neurodesenvolvimento
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5.3 Desequilíbrios químicos
5.4 Genéticos
13
habilidades organizacionais, distração, falta de destreza, controle inibitório
(American Psychiatric Association, 2014).
FINALIZANDO
Saiba mais
Texto de abordagem teórica
Conceituação de dificuldade de aprendizagem
O capítulo 2, O aluno com dificuldades, p. 22-28, apresenta uma descrição
as dificuldades de aprendizagem do aluno em sala de aula. A leitura desse texto
esclarecerá dúvidas da exposição das teorias da aprendizagem.
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Saiba mais
Identificando a dificuldade de aprendizagem
Esse vídeo é uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo,
sobre TDAH. Nele, poderemos verificar como a questão do cérebro, ou fator
biológico, interferem e passa a ser uma dificuldade de aprendizagem.
Título: Psicopedagogia. Supere as dificuldades da aprendizagem.
Tipo: Vídeo – reportagem
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=c2AdfdqFlLo>
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REFERÊNCIAS
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AULA 4
DIFICULDADES E
TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
1- O funcionamento do cérebro
2- Conceituando a plasticidade cerebral
3- A plasticidade no desenvolvimento
4- A plasticidade na aprendizagem
5- A plasticidade nos transtornos de aprendizagem
CONTEXTUALIZANDO
2
Sua habilidade levará a produzir um acessório para o jogo ligado na saída
de áudio e comandada pelos seus pés, visto que as mãos já estão ocupadas com
o controle. Agora, você tem acesso com os pés, por uma ligação na saída de áudio
de uma habilidade do jogo que você não teria.
Talvez você pergunte: o que foi que eu fiz? Como ninguém pensou nisso
antes? Será que o que fiz pode ser usado para outras coisas?
Pois bem, são essas perguntas que vamos tentar responder agora,
mostrando para você que essa capacidade de achar novos caminhos e soluções
é uma função cerebral.
3
Sabemos que, no cérebro, existem redes de conexões. Essas redes são
estruturas pré-definidas na formação que interliga todas as áreas do corpo. Uma
comparação interessante é a rede de energia elétrica de uma casa. Sabemos que
a energia que circula em nossa casa é a mesma que circula nos cabos elétricos
da rua, todavia não estão na mesma intensidade. Por isso que existe um sistema
de cálculo de potência que apresenta, para o usuário, que ele não pode,
simplesmente, pegar um cabo de uma turbina de Itaipu e colocar direto em sua
casa. Há um processo de redução.
De forma prática, isso nos permite montar em nossa casa, conforme a
necessidade, circuitos de energia dentro de uma rede doméstica. Então, temos
um circuito de tomadas, um circuito de lâmpadas, um circuito para o chuveiro
elétrico, um circuito para os aparelhos domésticos etc.
Quando observamos os circuitos, verificaremos que cada circuito tem um
fio diferente e esse fio tem o diâmetro necessário para suportar a potência de
energia que vai passar por ele. Isso significa que se eu ligar um micro-ondas em
uma tomada normal, com um fio de espessura menor do que a necessária, com
alguns minutos de uso, duas coisas podem acontecer: o disjuntor de segurança
desligará ou o fio queimará. Se o fio queimar é pelo fato de não ter capacidade de
suportar a potência usada pelo micro-ondas.
Assim é o nosso cérebro. Há circuitos para tudo. Circuitos
preestabelecidos, circuitos que serão ativados com estímulos e circuitos que
serão montados à medida que houver necessidade. Todavia todos esses circuitos
são finalísticos.
Quando falamos das células nervosas, as definimos em três grupos:
aferentes, eferentes e associativas. De forma resumida, temos circuitos de
recepção formados por neurônios aferentes, que são neurônios sensitivos. Temos
os circuitos de respostas formados pelos neurônios eferentes, que são os
neurônios motores. E temos os circuitos mistos, que realizam ambas funções com
os neurônios associativos.
Observamos que o cérebro trabalho de forma organizada e organiza o
corpo humano, o que possibilita movimentos, ações, reações com precisão e
complexidade. Essa é razão pela qual, no processo do desenvolvimento, o
processo maturacional é determinante para que se alcancem determinados
objetivos. Isso representa que o cérebro trabalha, sempre, em função do
4
organismo. Suas ações objetivam a capacidade que o organismo já adquiriu, ou
o prepara para uma nova experiência.
5
são alongados. Quando eles param de se alongar, ocorre o processo de formação
de sinapses, denominada sinaptogênese.
Os brotos, normalmente, têm sua origem em dois processos do SNC. O
primeiro é a regeneração. Na regeneração, temo um neurônio lesionado que tem,
na sua estrutura colateral, o surgimento do broto. Isso significa que haverá um
novo crescimento em neurônios ilesos adjacentes ao tecido neural destruído. É
um desvio, em que as funções sinápticas serão reaprendidas. Isso levará a
condição do organismo poder reaprender, ou providenciar, um processo
compensatório. Esse novo brotamento tende a ocorrer entre quatro e cinco dias
após a lesão. É um fenômeno que acontece de forma seletiva, deixando evidente
a localização e as fibras que serão restauradas.
O segundo processo é a ativação de sinapses latentes. É importante
verificar que, em todo grupo de células, há aquelas que têm características de
liderança e atuação primária. As outras agregadas têm valor, mas a sua atuação
é secundária. Essa mesma condição acontece na célula. Existe a área da sinapse
principal e as áreas secundárias de sinapses. Quando essa principal é danificada,
as áreas adjacentes, chamadas de sinapses residuais ou dormentes, passam a
assumir o papel principal e, por isso, serem eficazes.
O terceiro processo é o da supersensibilidade de desnervação. Estamos
nos referindo a sinapses químicas, isso significa que há um processo de
transmissão e neurotransmissores. A desnervação é compreendida como uma
condição de que o neurônio pré-sináptico perdeu sua capacidade de transmissão
e, dessa forma, ficou desorganizado. A célula pós-sináptica, em uma reação de
defesa, em virtude de ter uma célula que iria lhe manter suprida, passa a ter uma
condição de supersensibilidade química.
Nesse caso, a forma adaptativa que o SNC usa é, primeiramente, realizar
um desvio na supersensitividade (pré-sináptica) causando acúmulo de acetilcolina
na fenda sináptica. Essa ação produzirá uma reorganização na sinapse. Feito
isso, há alterações na atividade elétrica das membranas, para que haja um
cadenciamento e direcionamento de neurotransmissores por meio dela.
Essas formas de regeneração têm como ponto central a capacidade de
crescimento do axônio. Há situações em que isso não é possível. Ou seja, onde
não é possível o desenvolvimento do axônio também não é possível haver
regeneração. Quando isso, de fato, ocorre, temos uma perda de atividade de
tecido neuronal.
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O cérebro tem uma capacidade muito grande de regeneração. Depois da
compreensão da neurogênese, podemos trabalhar com hipótese de que o cérebro
não desiste de trabalhar em prol de si mesmo. Uma dessas ações é a plasticidade
cerebral. Nessa condição, temos um neurônio em processo de ampliação de
contatos, para, simplesmente, realizar a transmissão da informação que é
necessária.
Quando falamos de uma lesão cerebral, estamos falando de danos.
Podemos mensurar esses danos em massa, área, amplitude e consequência. A
pior delas é a consequência, pois a questão é aquilo que foi perdido ou deixará
de ser feito. Por isso superar uma lesão e criar uma nova circuitaria cerebral para
produzir o mesmo movimento, o mesmo conhecimento, ou outro comportamento,
é um exemplo da plasticidade cerebral.
O cérebro não é limitado. Ele é dinâmico e está sempre em processo de
ativação e mudança. Sua capacidade está além do que é perceptível ou
mensurável. O cérebro trabalha sempre em manutenção e equilíbrio. Por isso que
a atividade de homeostase no organismo é uma atividade de comando e controle
realizada pelo cérebro. Para manter o organismo sempre em uma condição de ser
capaz de realizar e executar.
Para Skinner (2003) e os analistas do comportamento, o comportamento
humano existe porque o cérebro é sua base fisiológica. Quando um organismo
emite uma resposta, várias sinapses são ativadas para que essa resposta ocorra,
sem mencionar a percepção das características do ambiente, que envolve
diversas outras sinapses.
7
Isso ocorre por um processo de maturação e desenvolvimento. O neurônio
passa por um processo sináptico que leva informações, diretamente, ao cérebro.
Esse processo é a retroprojeção. Na verdade, é o caminho que um estímulo
percorre até a sua interpretação e resposta (Atinkson et al., 2002).
Quantos mais estímulos e informações o sujeito receba, mais conexões
neurais, ou sinapses, serão produzidas e, dessa forma, maior plasticidade
cerebral. São muitas informações. Essa quantidade muito acrescida de conexões
resulta em crescimento do cérebro. Essa ação também produz uma condição de
elasticidade e flexibilidade ao cérebro.
Como estamos falando de desenvolvimento, a plasticidade cerebral é
responsável pela caracterização de comportamento diferentes entre os sexos.
Isso é produzido pela vivência e pela experiência que modificam a estrutura e
funcionamento cerebral. Vilanova (1998), em suas pesquisas, verificou alterações
permanentes na química e no funcionamento dos genes no interior celular. Essas
alterações produziram mudanças significativas no comportamento.
A plasticidade no item do desenvolvimento humano conta com a
modulação cerebral pela experiência. Essa modulação é um fenômeno mais
amplo da plasticidade cerebral. Nele, são verificados processos básicos e
complexos. Segundo Vilanova, o processo modulação básico é o de adaptação e
o processo complexo de modulação é o da aprendizagem.
É importante lembrarmos que, no desenvolvimento humano, há
modificações no funcionamento biológico do sujeito, em razão da necessidade de
ser modulado pelos estímulos externos a que está submetido. Esses estímulos
também podem ser circunstanciais, o que faz com que o organismo venha a
produzir maior ou menor condição de reação. Em uma análise celular, seria como
se as células ganhassem uma capacidade de interação muito grande.
Segundo Willrich et al. (2009), o indivíduo sofre uma ação do ambiente que
altera as suas características físicas e estruturais. Isso significa que, quanto mais
o indivíduo se relaciona com o meio ambiente, mais modificações ele terá na
estrutura. Isso é considerado plasticidade do desenvolvimento.
O pensamento de Skinner (2003, p. 58) sobre o comportamento humano e
suas modificações pode ser caracterizado na seguinte compreensão:
Uma ciência do sistema nervoso baseada na observação direta, e não
nas inferências, finalmente descreverá os estados e os evento neurais
que precedem formas de comportamento. Conheceremos as exatas
condições neurológicas que precedem, por exemplo, a resposta ‘Não,
obrigado'. Verificar-se-á que estes eventos são precedidos por outros
eventos neurológicos, e estes, por sua vez, de outros. Esta sequência
8
levar-nos-á de volta a eventos fora do sistema nervoso e, finalmente,
para fora do organismo.
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TEMA 5 – A PLASTICIDADE NOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
10
observável nessa síndrome é um desenvolvimento cognitivo alterado. Verifica-se
que há alterações produzidas por lesões genéticas. Sabendo disso, é possível,
que por meio de modelos de plasticidade, produzir estimulações que permitam
novas conexões e reduzam os prejuízos produzidos pela síndrome (Silva;
Kleinhans, 2006).
As conexões neuronais na síndrome de Down são consideradas
ineficientes, ou seja, na área cerebral, há um dano que proporciona a condição de
não desenvolvimento o indivíduo. Silvia e Kleinhans (2006) afirmam que a
reabilitação neuronal pode promover a reconexão dos circuitos que estão
lesionados.
Dentre as muitas teorias de reabilitação, precisamos considerar que,
quando falamos plasticidade cerebral, estamos nos referindo a uma condição de
conexão. Isso abre a possibilidade de que, quando há uma lesão ou mal
funcionamento de área cerebral, o processo de plasticidade natural, que depende
só do organismo, pode ser eficiente quando essa área é pequena.
Quando falamos de áreas menores, a condição autônoma do organismo se
recompor passa a ser muito pequena. Entretanto um processo de estimulação
pode produzir êxito em aumento dessa possibilidade. Considerando o fator do
desenvolvimento humano, quanto mais jovem o sujeito maior a condição de
plasticidade cerebral. Isso significa que uma criança tem uma resposta maior do
que um adulto. Essa é a razão pela qual deve-se buscar a estimulação em
crianças com síndrome de Down, para proporcionar maior capacidade de
plasticidade.
Há também outros transtornos da aprendizagem que, necessariamente,
não são genéticos. Pelo menos não apresentam uma condição definida
claramente como genética. Esses são descritos, no DSM-5, como transtornos
específicos da aprendizagem, entre eles, o mais debatido é a dislexia.
A Associação Brasileira de Dislexia (ABD) trabalha com a estatística de que
de 10 a 15% da população mundial é dislexa. Segundo a ABD, 40% desse número
é diagnosticado com grau leve. Isso significa que pode ser uma condição
diagnostica difícil. Muitas pessoas podem ter dislexia e acreditar que é um simples
travamento linguístico com erros de português. Engano quem pensa assim.
A dislexia é entendida como um distúrbio na aprendizagem na área da
leitura, da escrita e da soletração, diagnosticada no início do processo de
alfabetização. Isso nos leva à questão do desenvolvimento. Segundo Salles et al
11
(2014), é importante verificar alterações cognitivas e os mecanismos cognitivos
das crianças: uma análise mais refinada de suas dificuldades e competências
(fatores intrínsecos às dislexias).
Isso nos leva a uma condição de que a dislexia é um problema neuronal. É
condição de circuitos neuronais que não estão funcionando. Compreender como
esses circuitos funcionam abre a possibilidade de um remanejo neuronal, feito
pelo processo da plasticidade cerebral.
Na verdade, a condição de plasticidade do cérebro nos permite, pelo
processo de estimulação, ampliar as conexões neuronais, que aumentará a área
de atuação cerebral e reduzirá o prejuízo do sujeito.
O DSM-5 (American Psychiatry Association, 2014) apresenta, em seu
capítulo sobre os Transtornos do Neurodesenvolvimento, o Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA). Segundo a edição n. 170, da revista Espaço Aberto
da USP, há, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas diagnosticas com TEA. Isso
mostra a importância de entendermos e nos qualificarmos para trabalhar com
pessoas com TEA.
O diagnóstico do TEA é feito de forma clínica por meio de alguns requisitos
diagnósticos. Quando procuramos entender o efeito neuronal no TEA, entramos
em um dos quesitos do diagnóstico, que é a condição social em que o sujeito tem
dificuldade de conversar.
Essa condição tende a afetar o desenvolvimento do sistema interativo pré-
linguístico inato. O sujeito não consegue articular a fala não por problema no
aparelho vocal, mas na transmissão da informação. Isso é um impeditivo para
manter um relacionamento com as pessoas e, como consequência, afeta o
desenvolvimento da linguagem.
Semelhante aos outros transtornos, a estimulação pode produzir um efeito
de plasticidade. Consideremos que os circuitos responsáveis pela construção não
estão trabalhando. Dessa forma, é necessário fazê-los funcionar. A estimulação
permitirá o acionamento desses circuitos ou a sua ampliação por outros ramos.
FINALIZANDO
12
Essa complexidade nos leva à busca de resultados perfeitos. Trabalhamos,
sempre, com a ideia de rendimento. Por isso buscamos aperfeiçoar nossos
próprios processos, o que é importante para o nosso desenvolvimento, mas, nem
sempre, o resultado esperado é alcançado.
Em nossa comparação inicial, verificamos que somos capazes de resolver
problemas simples, complexos, fáceis ou difíceis. O nosso cérebro consegue criar
caminhos que ainda não foram percorridos. Basta apenas que seja estimulado
para isso.
Essa ação é a plasticidade cerebral. Nosso cérebro pode fazer movimentos
para nos levar a um resultado esperado. Isso acontece de várias maneiras. Uma
delas é tentando superar uma lesão e a outra é desenvolvendo caminhos que não
foram percorridos.
Como essa construção é um realinhamento de processos, estamos falando
de aprendizagem. Isso nos leva, então, a concluir que a aprendizagem é uma
ação de plasticidade cerebral. Diante disso, podemos nos engajar em conhecer,
de forma mais efetiva, os mecanismos que são agentes da plasticidade cerebral.
Saiba mais
Texto de abordagem teórica
Conhecendo a plasticidade cerebral
NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Dificuldades de aprendizagem: um olhar
psicopedagógicos. Curitiba: InterSaberes, 2012. Disponível na biblioteca virtual.
Esse texto apresenta uma descrição sobre o olhar da psicopedagogia sobre
a plasticidade cerebral. A leitura desse texto esclarecerá dúvidas da exposição
das teorias da aprendizagem.
Texto: Capítulo 4 – Plasticidade Cerebral e o processo de Aprendizagem:
novos desafios. p. 90-114.
13
O texto apresenta um estudo de revisão de literatura sobre a plasticidade
cerebral na síndrome de Down. Isso nos abre a possibilidade de observarmos a
plasticidade sendo trabalhada em ocorrências de transtornos de aprendizagem.
Saiba mais
Entendendo a plasticidade cerebral
Esse vídeo é uma aula em desenho que mostra como ocorre a plasticidade
cerebral.
Título: Plasticidade cerebral
Tipo: Vídeo – desenho
Disponível: <https://youtu.be/DcjqJ6GJWGg>.
REFERÊNCIAS
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AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico
de transtorno mentais: DSM- 5. Trad. Maria Inês Corrêa Nascimento et al. 5. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2014.
15
AULA 5
DIFICULDADES E
TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
2
Os transtornos de aprendizagem são identificados normalmente quando a
criança está em seu período escolar. Eles são reconhecidos pelo tipo de prejuízo
causado ao sujeito ou pela área afetada pelas dificuldades.
Esta aula tem como objetivo apresentar transtornos funcionais
específicos, como dislexia, disgrafia, disortografia, discalculia e Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Assim, abordaremos o assunto na
seguinte ordem:
• Tema 1: dislexia;
• Tema 2: disgrafia;
• Tema 3: disortografia;
• Tema 4: discalculia;
• Tema 5: TDAH.
CONTEXTUALIZANDO
3
Horas depois, verificou-se que a máquina não tinha terminado o trabalho.
Assim, foi realizado um procedimento simples: adiantou-se o processo da
máquina. Ela simplesmente recomeçou a funcionar, mas, quando chegou na
operação de centrífuga, parou de novo. A situação causou surpresa, pois a
centrifugação nada mais é do que a aceleração do eixo em que gira a máquina.
Se o eixo estava funcionando, o que poderia estar causando o problema somente
na função centrífuga? Obrigatoriamente, um técnico teve que ser chamado. Ele
analisou a máquina e informou que havia uma conexão que interferia apenas na
centrífuga, e que a peça inteira teria que ser trocada (uma peça que valia quase
o valor da máquina!).
Veja, acabamos de usar uma comparação muito comum para lhe informar
que algumas áreas do cérebro podem não trabalhar direito, e que só
perceberemos isso quando fizermos operações especificas.
Isso deve levantar muitas dúvidas, como: O que são funções específicas?
Como podemos identificar problemas em uma função específica? Como lidar com
esses problemas? Como resolvê-los?
Pois bem, essas são as perguntas que tentaremos responder nesta aula,
assim como mostrar a você quais são as funções específicas do cérebro ligadas
à aprendizagem que são identificadas a partir de processos cotidianos. Podemos
adiantar que esses problemas são identificados ao final de processos de
aprendizagem, normalmente no ambiente escolar, e que persistem no transcurso
da vida do sujeito.
TEMA 1 – DISLEXIA
4
O (Código Internacional de Doenças) CID-10 descreve a dislexia como um
transtorno específico do desenvolvimento das habilidades escolares.
5
um baixo desempenho na precisão e na velocidade da leitura e da escrita,
característica esta que não está relacionada à inteligência ou ao desenvolvimento
intelectual; também não está relacionada a uma condição sensorial ou de
possibilidades ou oportunidades de aprender.
A dislexia, como os transtornos do neurodesenvolvimento, não tem cura.
Isso significa que todos os esforços na identificação precoce e um processo de
intervenção permitem alcançar um desenvolvimento adequado das habilidades
escolares e da vida do sujeito. Quem tem dislexia tem uma grande dificuldade em
adquirir informações, pelo simples fato de que estas são adquiridas, geralmente,
por meio da leitura e da escrita.
O diagnóstico é normalmente realizado por uma equipe multidisciplinar, que
inclui psicólogos, neuropsicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos e um médico
neuropediatra. São utilizados vários testes avaliativos e levantamentos clínicos
para o fechamento do diagnóstico.
Além de apresentarem problemas com a coordenação motora, os
indivíduos com dislexia também têm dificuldades para (Bruna, 2018):
TEMA 2 – DISGRAFIA
6
A disgrafia é descrita pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, 2015) como um transtorno do neurodesenvolvimento que
implica transtorno específico de aprendizagem.
7
Hallahan, Kauffman & Lloyd (1999) classificam os problemas com a escrita
dos alunos diagnosticados com disgrafia em dois tipos:
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• disgrafia espacial: a escrita é ilegível, seja espontânea, seja cópia. A
soletração oral e a velocidade de digitação com o dedo indicador são
normais, mas o desenho é problemático.
TEMA 3 – DISORTOGRAFIA
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• erros linguístico-perceptivos: omissões de letras, sílabas e palavras;
adições de fonemas, sílabas e palavras; inversões de caracteres, sílabas e
palavras; e trocas de símbolos linguísticos ao nível do traço de nasalidade;
• erros viso-espaciais: substituições de letras que são diferentes pela sua
forma escrita; substituições de letras semelhantes visualmente; confusão
com fonemas que tenham dupla grafia; escrita de palavras em espelho;
• erros viso-analíticos: trocas de letras sem motivo;
• erros de conteúdo: junção de duas palavras ou separação incorreta de
palavras;
• erros de ortografia: falta de pontuação; início das frases com letra
minúscula; e uma deficiente separação de palavras.
TEMA 4 – DISCALCULIA
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5. practognóstica: dificuldade na enumeração, na manipulação e na
comparação de objetos reais ou imagens;
6. ideognóstica: dificuldades nas operações mentais e no entendimento de
conceitos matemáticos.
• pré-escola
✓ tem dificuldade em aprender a contar; diferentemente das outras
crianças, ignora números e sua ordem correta;
✓ tem dificuldades para reconhecer padrões, como menor e maior, mais
alto e mais baixo;
✓ não problemas para reconhecer símbolos numéricos (por exemplo, é
difícil compreender que 7 significa sete);
✓ não parece entender o significado da contagem.
• ensino fundamental
✓ tem dificuldade em aprender e lembrar fatos matemáticos básicos, como
2 + 4 = 6;
✓ sofre para identificar os sinais de mais, menos, entre outros, e usá-los
corretamente;
✓ pode ainda usar os dedos para contar em vez de usar estratégias mais
sofisticadas, como cálculos mentais;
✓ tem que se esforçar muito para entender palavras relacionadas a
matemática, como maior que e menor que;
✓ tem problemas com representações visuais e espaciais de números,
como linhas numéricas.
• ensino médio
✓ tem dificuldade em entender valores;
✓ apresenta problemas para escrever números claramente ou colocá-los
na ordem correta;
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✓ tem problemas com frações e medidas;
✓ encontra dificuldade em acompanhar a pontuação de jogos esportivos.
• universidade e vida adulta
✓ sofre para aplicar conceitos de matemática ao dinheiro, o que inclui fazer
estimativas de custo total de uma compra, fazer mudanças exatas e
descobrir uma dica;
✓ apresenta dificuldades em entender as informações mostradas em
gráficos ou planilhas;
✓ não consegue facilmente fazer medições simples, como de ingredientes
de uma receita ou de líquidos em uma garrafa;
✓ tem problemas para encontrar abordagens diferentes para o mesmo
problema de matemática;
✓ demonstra ter dificuldade em compreender tamanhos, medir distâncias
ou quantidades de uma determinada substância (Ansari, 2018).
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2. Hiperatividade e impulsividade: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas
persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente
com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas
atividades sociais e acadêmicas/profissionais:
Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de
comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para
compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e
adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários.
Determinar o subtipo:
314.01 (F90.2) Apresentação combinada: Se tanto o Critério A1
(desatenção) quanto o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são
preenchidos nos últimos 6 meses.
314.00 (F90.0) Apresentação predominantemente desatenta: Se o
Critério A1 (desatenção) é preenchido, mas o Critério A2 (hiperatividade-
impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses.
314.01 (F90.1) Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva:
Se o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) é preenchido, e o Critério
A1 (desatenção) não é preenchido nos últimos 6 meses. (DSM-5, 2015)
• na infância:
✓ baixo desempenho escolar e baixo sucesso acadêmico;
✓ rejeição social.
• na vida adulta:
✓ mau desempenho profissional, que pode levar ao insucesso e à falta de
assiduidade no campo profissional;
✓ maior probabilidade de desemprego;
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✓ altos níveis de conflito interpessoal.
• o indivíduo ainda pode:
✓ desenvolver transtornos de conduta na adolescência;
✓ desenvolver transtornos de personalidade antissocial na idade adulta;
✓ desenvolver transtornos por uso de substâncias e ser preso;
✓ ter maior propensão a sofrer lesões do que seus colegas na escola;
✓ sofrer acidentes e violar regras de trânsito com mais frequências que o
indivíduo médio.
FINALIZANDO
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Saiba mais
Texto de abordagem teórica
Saiba mais
VEJA as características específicas de cada transtorno de aprendizagem.
Amazon Sat, 25 jun. 2013. Disponível em: <https://youtu.be/Zi8nJ0Jg7HI>.
Acesso em: 25 jul. 2018.
17
REFERÊNCIAS
ADDY, L. M.; DIXON, G. Handwriting and dyspraxia. In: DIXON, G.; ADDY, L. M.
Making inclusion work for children with dyspraxia: practical strategies for
teachers. London: Routledge-Falmer, 2004. p. 66-80.
18
ROSADO, S. Disortografia. Instituto de apoio e desenvolvimento, [S.d].
Disponível em: <http://www.itad.pt/problemas-escolares/disortografia/>. Acesso
em: 25 jul. 2018.
19
AULA 6
DIFICULDADES E
TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
• Tema 1 – Esclarecendo;
• Tema 2 – De quem é a culpa;
• Tema 3 – A família participativa;
• Tema 4 – A escola integrativa;
• Tema 5 – A ciência em prol da pessoa.
CONTEXTUALIZANDO
A vida nos ensina muito com o passar dos anos, e a esse ensinamento
chamamos experiência; nos tornamos experientes à medida que vivemos, pois
não existe experiência sem vivência. Os ditados populares também nos ensinam
muito. Um deles diz: “de grão em grão, a galinha enche o papo”. Significa, entre
outras coisas, que nossa vida estará, um dia, cheia, farta, satisfeita de
experiências. É um ditado sábio, e que não é tão simples. O fato de adquirirmos
muito não declara que devemos acreditar estar satisfeitos; esse é o pensamento
da ciência: a ciência acredita que sempre está faltando algo, e que sempre é
preciso melhorar.
2
Pode parecer contraditório, mas o elemento que faz isso ser mutante
chama-se ser humano. Por mais que acreditemos saber tudo sobre ele, sempre
acabamos por descobrir que ainda há muito para saber. Se traçarmos um paralelo
entre essa noção e as dificuldades de aprendizagem, veremos que, apesar de a
ciência procurar, de todas as maneiras, reduzir as dificuldades do processo de
aprendizagem, sempre falta algo, o que não deixa de ser interessante. E é
interessante porque, justamente, muitas vezes, nos esquecemos de levar em
conta o fator humano.
Onde há um ser humano, sempre haverá uma novidade! E, por mais
conhecimento que tenhamos, sempre haverá algo novo a aprender. Então, antes
de você desistir, lembre-se: são os desafios da novidade que nos deixam ativos.
Então, voltando à nossa disciplina: convido você a dar mais atenção ao sujeito do
que às dificuldades de aprendizagem. Quando nos aproximamos do sujeito, temos
mais chances de aprender a lidar com ele, e é isso o que faz crescer as
possibilidades de ajudá-lo.
TEMA 1 – ESCLARECENDO
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Quando compreendemos que a aprendizagem é um processo,
descobrimos que ele é passível de falhas. Não estamos, nesse caso, falando de
falhas relativas ao resultado, mas ao processo – quando algo passa a ser um
impeditivo para que a aprendizagem ocorra.
Quando o processo de aprendizagem não segue um determinado fluxo, há
algo de errado que precisa ser entendido; dessa forma é possível intervir e fazer
com que o fluxo do processo volte a ser contínuo. Talvez, hoje, a grande questão
seja o fato de sabermos identificar o que possa estar ocorrendo, mas, ao
descobrirmos o problema, não conseguirmos nomeá-lo de forma correta.
Os termos usados parecem sinônimos, mas podem ser compreendidos em
sentidos diferentes, e isso pode causar uma grande confusão. Por isso,
precisamos gastar tempo para conhecer os termos designativos que usamos para
que saibamos do que estamos falando.
Costumamos delimitar conceitualmente os termos dificuldade,
problemas, distúrbios e transtornos ligando-os à aprendizagem. A literatura
está cheia de confusões envolvendo o uso desses termos. Quando o usamos o
termo dificuldade, estamos sendo generalistas. Ao usarmos problemas,
estamos descrevendo uma dificuldade específica e com um grau não simples de
resolver. Quando usamos os termos distúrbios e transtornos, utilizamos termos
médicos ou de pesquisas. Como isso, temos um designativo muito específico de
algo fora do normal.
Acreditamos estar agora diante de um quadro mais claro. Ao definir
dificuldade de aprendizagem, podemos delimitar qualquer coisa que possa ser um
impeditivo para que o sujeito venha a aprender. Essa dificuldade pode se
manifestar de qualquer forma, em qualquer lugar. É por isso que um estudo
minucioso, detalhista, com um olhar mais criterioso, ajuda a fazer o levantamento
de quais realmente são os impeditivos no processo de aprender.
Mas não podemos perder a compreensão da grandeza e da magnitude que
é o ser humano. Somos entendidos no universo como seres superiores pelo fato
de termos um cérebro cognitivo. Isso significa que somos capazes de pensar e
resolver problemas.
O cérebro, em seus processos, é plástico. Suas células são capazes de se
comunicar e se expandir; isso é o que chamamos de plasticidade cerebral, e
significa que o cérebro está sempre em movimento – no sentido de estar sempre
4
em busca de novos caminhos que aprimorem ou resolvam suas dificuldades e
problemas.
Já sabemos que a plasticidade cerebral participa da aprendizagem. Ou
melhor, que ela é agente primordial para que a aprendizagem ocorra. Essa
plasticidade faz com que ele ganhe novas ações de começam ou montam novos
esquemas de tráfego. Sabemos também que lesões cerebrais podem atrapalhar
o desenvolvimento da aprendizagem. Mas pode haver dificuldades não oriundas
de lesões e que produzem danos ao sujeito, que podemos chamar de transtornos
da aprendizagem, ou transtornos do neurodesenvolvimento.
Os transtornos de neurodesenvolvimento são os principais agentes de
prejuízos ao sujeito no processo do aprender. Ao relacionarmos aprendizagem e
plasticidade, abrimos possibilidades de contornar esses prejuízos.
Os distúrbios específicos da aprendizagem são pontuais e afetam
principalmente o desenvolvimento acadêmico, mas podem repercutir em todas as
áreas da vida do sujeito.
Após esse grande apanhado do assunto de que tratamos nesta disciplina,
acreditamos que esteja claro para você do que estamos falando e o que devemos
saber.
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Às vezes é fácil procurar um culpado, assim como achá-lo. Isso é simples
de fazer. Basta que procuremos por pistas que nos levem aonde queremos
chegar. Afinal de contas, a busca é pelo causador de determinada angústia.
Pois bem. Para começar a desvendar um pouco essa visão, podemos dizer
que há uma diferença entre saber a causa e procurar um culpado. Saber a causa
é um ato investigativo de esclarecimento. O termo que usamos para esse
esclarecimento dentro da área médica é diagnóstico. Isso significa que há uma
busca por compreender quais são os fatores que envolvem determinado sofrer,
para que se possa tomar uma medida possível para remediar sintomas ou curar
o mal.
Por exemplo: uma criança entra no quarto para estudar, mas sai várias
vezes dali e segue em direção à sala. A pergunta que somos levados a fazer
imediatamente é: por que ela está indo para a sala? Quando descobrimos a razão
– nesse caso, um jogo de futebol sendo transmitido pela televisão –, ficamos mais
interessados em acabar com o jogo de futebol do que ajudar a criança a estudar.
Esse é um exemplo muito simples para que você compreenda que sentir
culpa ou achar culpados não nos ajuda a resolver o problema, que, de fato, é o
ponto principal. Quando atentamos para a causa, podemos usá-la em nosso favor,
como usar de estratégias comportamentais para aumentar a frequência de estudo.
Conhecer a causa de algo deve ser considerado um instrumento favorável na
tarefa de superar as dificuldades de aprendizagem.
Outro exemplo que podemos dar está relacionado à punição. Quando
descobrimos a causa, acabamos punindo alguém. Volte ao exemplo anterior:
imagine que a televisão seja desligada. Mesmo assim, a criança poderá encontrar
outra forma de saber o que está acontecendo no jogo, e isso continuará sendo
uma dificuldade durante seu processo de aprender. Desligar tudo é usar de
punição, o que não resolverá a questão.
Temos observado em pesquisas sobre doenças do neurodesenvolvimento
com causas genéticas que, quando há um diagnóstico genético, há uma
possibilidade muito grande de divórcio. O divórcio simboliza punição, e não ajuda
em nada no processo de cuidado.
Buscamos, aqui, olhar para o sujeito e ao fato de sermos humanos.
Podemos ser empáticos e procurar sempre um objeto comum que justifique a
existência da dificuldade de aprendizado. Isso não é ser negligente e, sim, ser
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cuidadoso com a pessoas, buscando todas as informações necessárias que
possam ser usadas como norteadoras de um trabalho em prol do sujeito.
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Com o passar do tempo, essa criança não interage tão bem como os pais
desejavam – trata-se dos primeiros sinais de que há algo errado, e que poderá
levai ao diagnóstico de que aquela criança apresenta algum transtorno. Segundo
Penna (2006), o nascimento de um filho com algum tipo de transtorno altera os
sonhos e as expectativas dos pais e da família.
A família, de forma direta, é o primeiro conjunto de fato a ser afetado pela
condição de transtorno na criança. Isso gera várias situações que precisam ser
superadas. A primeira delas está voltada para a expectativa criada em torno da
criança; a segunda está nos questionamentos levantados em torno das limitações
e das imperfeições que a criança tenha ou possa vir a ter.
Pois bem, a primeira coisa que precisa ser bem trabalhada com a família é
o luto da expectativa. Isso significa que é necessário poder sentir-se frustrado por
um período, por não ter aquilo que era desejado, por não se sentir realizado
segundo o interesse preestabelecido. Não se trata de um luto em relação à
criança, mas em relação às expectativas quanto a ela.
A segunda é procurar um diagnóstico competente e esclarecedor. Isso fará
com que a família se reorganize em condições possíveis com o objetivo de
trabalhar em prol do desenvolvimento da criança. Isso significa, de fato, que uma
reorganização de vida deve ocorrer.
Esse é o passo fundamental no processo de aceitação do membro portador
de um transtorno do neurodesenvolvimento. É um momento de muitos conflitos e
oscilação entre aceitação, rejeição, esperança e angústia. Segundo Sanchez e
Baptista (2009), o diagnóstico é conflitante e angustiante para a família, além de
ser o divisor entre ideal e real. A família, para encontrar estabilidade, precisa de
segurança e o que provê essa segurança é o diagnóstico.
Soares (2008) descreve o sofrimento da família com o diagnóstico.
Todavia, é importante ressaltar que é o diagnostico que fará a família estabelecer
uma meta de acordo com a nova realidade. Trata-se de um processo de
adequação importante, pois solidifica o papel que a família tem na vida da criança.
A partir daí, é preciso que a família esteja envolvida com a situação, pois é
um agente importantíssimo no desenvolvimento da criança. A família não é
apenas o suporte; é um agente de desenvolvimento aplicado à criança.
Podemos perceber isso quando vemos uma criança com síndrome de
Down, por exemplo. A família se adapta e se adéqua ao desenvolvimento da
criança. Pode parecer um prejuízo para a família, mas não é. À medida que a
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família se achega à criança, as evoluções e conquistas desta são também
daquela. Uma família participativa é uma família integrada com a criança.
Não podemos confundir essas ações da família com o fazer tudo pela
criança, não lhe dando a independência de que precisa. A criança tem limitações,
mas pode ser independente naquilo que não a limita.
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escolas que aceitam pessoas com dificuldades de aprendizagem e outros
transtornos, mas como instituições que estão preparadas para recebê-las.
O papel da escola é integrar a criança. Ela deve participar do processo de
desenvolvimento não apenas em termos de cognição, mas também na vida social,
afetiva e emocional, ajudando-a a se tornar independente.
Sempre que falamos de escola e criança, é a ideia de amplitude que precisa
vir à nossa mente. Temos que olhar a dinâmica desenvolvida pela escola como
um fator que levará ao desenvolvimento dela, considerando suas limitações e
dificuldades, e observando sempre seu potencial e apontando na direção daquilo
que ela á capaz.
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A neurociência cognitiva é importante no tratamento de transtornos do
neurodesenvolvimento, principalmente no âmbito escolar. Stela (1996) evidenciou
as boas relações entre neuropsicologia e educação. Há uma grande demanda de
estratégias de reeducação de pessoas com transtornos durante a fase
desenvolvimento.
Segundo Barros, Piovesan e Sales (2018), a contribuição da neurociência
cognitiva ao âmbito educacional proporciona um melhor acompanhamento das
crianças com transtornos, o que possibilita o estabelecimento de medidas de
inserção social do sujeito e o desenvolvimento de suas potencialidades, uma vez
que os resultados do diagnóstico são mais bem compreendidos e, portanto,
facilitam uma intervenção aplicada apropriadamente, precisamente de acordo
com as demandas do sujeito.
Segundo Geake e Cooper (2003, p. 8), as ideias da neurociência cognitiva
“podem ser úteis em qualquer suporte considerado por muito tempo melhor prática
educativa, ou em decidir entre modelos cognitivos concorrentes e sua veracidade
em contextos educativos”.
Outras práticas visam facilitar e desenvolver o trabalho do professor em
sala de aula a fim de se fazer a análise dos comportamentos e que procuram
implementar em sala de aula, em ambiente doméstico estratégias que possam
colaborar na adequação e desenvolvimento da criança.
FINALIZANDO
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Saiba mais
Texto de abordagem teórica
Saiba mais
TRANSTORNOS de aprendizagem. Augusto Buchweitz, 12 fev. 2015. Disponível
em: <https://youtu.be/HsQqUCxZO2I>. Acesso em: 24 jul. 2018.
Nesse vídeo há uma discussão sobre transtorno de aprendizagem no
programa de TV Bem estar.
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REFERÊNCIAS
FONSECA, I. S.; MOURA, S. B. Apoio social, saúde e trabalho: uma breve revisão.
Psicologia para América Latina, México, n. 15, dez. 2008. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-
350X2008000400012>. Acesso em: 24 jul. 2018.
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SELTZER, J.; CONRAD, C.; CASSENS, G. Neuropsychological profiles in
schizophrenia: paranoid versus undifferentiated distinctions. Schizophrenia
Research, v. 23, n. 2, p. 131-138, 1997.
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