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Transtornos e dificuldades de aprendizagem

Drª. Stella Kappler

Descrição

Você vai entender as dificuldades de aprendizagem e os fatores a elas


relacionados, os transtornos do neurodesenvolvimento e os transtornos
do aprendizado, além do trabalho de mediadores, professores e
pedagogos com problemas de aprendizagem nas escolas e as ações de
prevenção e intervenção no fracasso escolar.

Propósito

Para atuar com crianças com transtornos de aprendizagem, é


necessário conhecer os critérios para seu diagnóstico, bem como os
principais fatores que influenciam nesse processo.

Objetivos

Módulo 1

Definição e identificação de dificuldades de


aprendizagem
Reconhecer as dificuldades de aprendizagem e os fatores a elas
relacionados.

Módulo 2

Transtornos de aprendizagem e transtornos


do neurodesenvolvimento

Relacionar transtornos do neurodesenvolvimento com transtornos do


aprendizado.

Módulo 3

O trabalho com problemas de aprendizagem


nas escolas
Identificar o trabalho de mediadores, professores e pedagogos com
problemas de aprendizagem nas escolas.

Módulo 4

Fracasso escolar: ações de prevenção e


formas de intervenção

Identificar ações de prevenção e intervenção no fracasso escolar.

meeting_room
Introdução
Todos nós, em algum momento das nossas vidas, podemos
apresentar algum tipo de dificuldade para adquirir conhecimento.
Para discutir “dificuldade” e classificá-la como um transtorno que,
de fato, tem repercussões negativas sobre o indivíduo,
precisamos entender melhor como funciona o mecanismo de
aprendizagem.

No dicionário, a palavra aprendizado é definida como ato,


processo ou efeito de aprender. Embora esse processo esteja
muito atrelado ao aprender acadêmico, que você busca/recebe
na escola, ele também se insere na comunidade, no ambiente em
que você vive, junto de sua família e amigos. Nesse sentido,
podemos pensar que o mecanismo relacionado a aprender
coisas novas é intrínseco ao ser humano e está presente em
todos nós, desde o nosso nascimento.

Os comportamentos que indicam dificuldades de aprendizagem e


outros transtornos da mesma ordem, como desatenção,
problemas de memória, fala e raciocínio, passam a ser mais
observáveis com a inserção do indivíduo no ambiente escolar.
Essas limitações estão presentes em distintas dimensões como
o meio social, acadêmico e, em outras etapas do
desenvolvimento, na área profissional. Por isso, é tão necessário
lançar luz sobre esse assunto.

1 - Definição e identificação de dificuldades de aprendizagem


Ao final desse módulo, você será capaz de reconhecer as dificuldades de aprendizagem e os
fatores a elas relacionados.

Teorias da aprendizagem
O conceito de aprendizagem não possui uma única definição, e varia
dentro da psicologia, a depender da perspectiva teórica do autor. Faz
mais sentido focarmos o que essas perspectivas possuem em comum
ou em quais aspectos interagem. De modo geral, destaca-se o
mecanismo de aquisição de conhecimento e habilidades, que deve
incluir as dimensões afetivo-emocionais e socioculturais.

Devemos cuidar para não colocar a aprendizagem como algo que


integra somente a dimensão escolar-acadêmica. Como sociedade, os
valores sociais muitas vezes privilegiam o quociente de inteligência (QI),
que se define como a capacidade intelectual que o indivíduo possui e
que gera comparações, apontando quem seria mais ou menos
inteligente.

Na atualidade, temos uma discussão bastante intensa a respeito da


inteligência emocional que, por sua vez, se define como a capacidade de
identificar e lidar com as suas próprias emoções e as das outras
pessoas. Partindo do princípio de que somos seres essencialmente
sociais, a inteligência emocional se apresenta como basilar e necessária
para as interações sociais, enquanto a inteligência intelectual se
relaciona mais com a possibilidade de produção de teorias e conteúdo
de maneira mais eficiente.

Tanto a inteligência emocional quanto a acadêmica são dependentes de


processos mentais e fatores intrínsecos e extrínsecos. No entanto,
partindo de uma visão da literatura acerca das teorias da aprendizagem,
podemos encontrar concepções que nos ajudarão a compreender
melhor esse constructo a nível teórico.

As teorias da aprendizagem podem ser divididas em


comportamentalistas, cognitivistas e humanistas. Com visões
diferentes sobre o mesmo constructo, autores da psicologia e da
educação trouxeram inúmeras contribuições para nossa compreensão.
Vamos a seguir conhecer aquelas que mais se destacam.

Teorias da aprendizagem
comportamentalistas
De modo geral, as teorias comportamentalistas da aprendizagem
consideram que todas as pessoas, bem como outros animais,
respondem a estímulos enviados pelo meio que nos cerca, porém
desconsideram os processos mentais. Confira os teóricos
comportamentalistas de mais destaque!

psychology Ivan Pavlov (1849-1936)

Desenvolveu a teoria dos reflexos condicionados,


que pressupõe uma conexão que pode ser
estabelecida entre fatores ambientais e atividades
no sistema nervoso central de um organismo.
Haveria, portanto, a possibilidade de se enviar um
estímulo contínuo, a fim de transformar o
comportamento de um indivíduo. Os reflexos
podem ser condicionados (adquiridos,
condicionados à experiência passada) ou
incondicionados (inatos).

psychology John Watson (1878-1958)

Foi o fundador do movimento behaviorista. Esse


autor considerava que o meio ambiente seria
determinante para que a aprendizagem pudesse
acontecer. Diferentemente de Pavlov, que propôs
estudos empíricos a fim de comprovar sua teoria,

W t di t i d ti d ét d
Watson se distanciou desse tipo de método,
voltando-se para o método experimental, que
consiste em estabelecer um objeto de estudo,
selecionar variáveis que influenciam o objeto de
estudo e definir formas de controle e observação do
objeto. Watson apresentou grandes contribuições
para a estruturação da psicologia como ciência.

psychology Burrhus Skinner (1904-1990)

Defendeu que o processo de aprendizagem ocorre


diante da resposta a estímulos do meio,
considerando o mecanismo resposta-
consequência. Para esse autor, existem dois tipos
de condicionamento: o respondente — que ocorre
por reflexo, automaticamente; e o operante — que
ocorre por meio de estímulos positivos ou
negativos.

Teorias da aprendizagem
cognitivistas
Essas teorias destacam a relevância da compreensão e da organização
das informações no processo de aprendizagem, bem como a
necessidade de que o indivíduo esteja motivado e engajado nesse
processo. Concebem o conhecimento como algo construído pelo sujeito
por meio da interação com o ambiente, sendo influenciado por fatores
cognitivos, como percepção, memória e atenção. Entre os teóricos
cognitivistas, destacam-se:

psychology Jean Piaget (1896-1980)

Desenvolveu o método psicogenético, em que o


processo de aprendizagem ocorreria quando se
atinge a acomodação. Para esse autor, os fatores
biológicos influenciam o desenvolvimento mental,
por meio da linguagem, das brincadeiras e da
ã d i i lt l
compreensão do meio sociocultural que cerca o
indivíduo. A aprendizagem só teria sentido diante
de situações de mudança.

psychology Lev Vygotsky (1896-1934)

Apresentou a zona de desenvolvimento proximal e a


relação entre pensamento e linguagem. Na visão
desse autor, a aprendizagem seria adquirida por
meio de atividades que proporcionem o
aprendizado, e as interações sociais e as
experiências vivenciadas pelos indivíduos seriam
essenciais para que esse processo ocorresse.
Assim, as interações sociais e as condições de vida
influenciariam o desenvolvimento intelectual dos
indivíduos.

psychology Jerome Bruner (1915-2016)

Desenvolveu a ideia de aprendizagem por


descoberta, em que o educador apresenta as
ferramentas necessárias para o aluno aprender,
mas o próprio aluno deve se esforçar para descobrir
o que deseja aprender. De acordo com esse autor,
aquele que aprende possui protagonismo e papel
ativo no seu processo de aprendizagem, e o
educador (ou aquele que ensina) deve trabalhar
para motivá-lo.
psychology Howard Gardner (1943)

Desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas,


que parte do princípio de que existem diferentes
tipos de inteligência, a saber: linguística, lógico-
matemática, espacial, musical, corporal-cinestésica,
interpessoal e intrapessoal.

Teorias da aprendizagem humanistas


As teorias dessa linha sugerem que a aprendizagem é centrada na
pessoa e requer uma avaliação das necessidades individuais, interesses
e objetivos pessoais. Essas teorias desempenham um papel ativo para
os alunos no processo de aprendizagem, pois promovem a
independência e a autoconsciência, com o objetivo de desenvolver o
maior potencial dos indivíduos não apenas academicamente, mas
também na vida privada e profissional. Veja os teóricos humanistas de
maior destaque!

psychology Abraham Maslow (1908-1970)

Desenvolveu a teoria da motivação e


autorrealização. Esse autor apresentou uma visão
hierárquica das necessidades humanas, definida
pelo princípio de que as ações são motivadas pela
satisfação de cinco necessidades: fisiológicas,
segurança, amor e pertença, estima e
autorrealização.

psychology Henri Wallon (1879-1962)

Defendeu a dimensão afetiva no processo de


aprendizagem, destacando que o indivíduo
necessitaria do convívio social. A aprendizagem
estaria vinculada a alguns estágios do

d l i t ã i
desenvolvimento, mas não ocorreria,
necessariamente, em um processo linear.

psychology Carl Rogers (1902-1987)

Relacionou a aprendizagem à curiosidade inerente


de todos os seres humanos. Assim, o autor focou
sua ideia no processo, e não no conteúdo.

Quando voltamos para conceitos contemporâneos sobre a


aprendizagem, nós nos deparamos com a definição de IIIeris que diz
que aprendizagem é como “qualquer processo que, em organismos
vivos, leve a uma mudança permanente em capacidades e que não se
deva unicamente ao amadurecimento biológico ou ao envelhecimento”
(IIIERIS, 2015, n. p.). Esse autor se propôs a esquematizar as condições
que influenciam e que são influenciadas por esse processo, como
podemos observar no esquema a seguir.

As principais áreas de estudo de aprendizagem.

É importante conhecer as principais contribuições para uma maior


compreensão do processo de aprendizagem. Partindo de diferentes
visões, é possível destacar alguns componentes em comum: a interação
do indivíduo com outras pessoas, bem como a influência de fatores
biológicos, comportamentais e socioculturais.

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Abordando as teorias da
aprendizagem
Assista a este vídeo e entenda melhor as teorias da aprendizagem,
incluindo teorias da aprendizagem comportamentalistas, cognitivistas e
humanistas.

Fatores relacionados às dificuldades


de aprendizagem
Os seres humanos já nascem com capacidades que predispõem o
aprendizado de novas habilidades, e isso está intrinsicamente
relacionado a outros fatores. Nós adquirimos conhecimento a partir das
nossas experiências. Inicialmente, as crianças passam a conhecer o
mundo à sua volta a partir dos ensinamentos de seus pais, bem como
das vivências e observações do ambiente sociocultural que as cercam.
Essas predisposições são essenciais para a nossa sobrevivência e
adaptação ao nosso meio. Por exemplo, conforme uma criança cresce,
em suas interações com o meio familiar, os pais ou cuidadores
principais falam com ela em um idioma específico, chamado de língua
materna (o idioma que aprendemos desde pequeno).

Com algumas exceções, por exemplo, quando pessoas aprendem mais


de um idioma desde crianças, somos ensinados a falar, ler e escrever
em português, facilitando nossa comunicação com as pessoas que
vivem no Brasil. Caso você não saiba espanhol e tente conversar com
algum argentino, poderá enfrentar alguma dificuldade de comunicação.
Contudo, se você tivesse nascido na Argentina, provavelmente estaria
falando espanhol, e não português.

Observe, a seguir, na charge que a garçonete de um restaurante oferece


para o cliente um prato típico da culinária espanhola, as tapas. O cliente,
sem conhecimento de que se trata de um prato do cardápio, entende
que a garçonete está o destratando e que “tapas” se referiria a uma
agressão física, o que o deixou bem aborrecido.
O mal-entendido da charge ilustra um caso em que nenhum dos dois
indivíduos que participaram daquele evento apresenta algum tipo de
dificuldade de aprendizagem. Na verdade, a dificuldade em
compreender o contexto se deve em função de uma falta de
conhecimento de um prato típico e/ou de um idioma diferente. O
exemplo ilustra que não podemos considerar que toda a dificuldade de
compreender algo deve ser classificada como dificuldade de
aprendizagem. Um evento isolado não pode ser tomado como critério
de diagnóstico, bem como não deve ser generalizado.

Por tratarmos a aprendizagem como algo muito relacionado ao


ambiente escolar e acadêmico, muitas vezes não consideramos que ela
faça parte do nosso cotidiano. A aprendizagem também ocorre durante
todo o ciclo de desenvolvimento humano, e não está restrita a uma fase
ou idade específica. Todos somos capazes de aprender algo novo,
assim como você está fazendo agora.

É necessário, portanto, identificar alguns fatores intrínsecos e


extrínsecos que precisam ser considerados quando pensamos em uma
hipótese de dificuldade de aprendizagem. Alguns desses fatores estão
relacionados a danos em áreas cerebrais. Vejamos agora alguns desses
fatores.

Ocorrências durante a gestação e o parto expand_more

Ingestão de substâncias nocivas, como nicotina, álcool e


drogas, durante a gravidez.
Exposição ao chumbo.

Questões de saúde prévias da mulher, como hipertensão,


anemia e idade.

Prematuridade, malformações fetais, distúrbios


respiratórios do recém-nascido, hemorragia pulmonar,
incompatibilidade sanguínea materno-fetal.

Deslocamento de placenta, ruptura precoce da bolsa,


manobras de extração, parto-cesárea, falta de oxigenação.

Infecções e hemorragias, traumatismo, tumores ou doença


na região frontal/orbital do cérebro.

Fatores genéticos expand_more

Hereditariedade.

Predisposições para o desenvolvimento de transtornos


psicológicos.

Pais com problemas de transtorno de déficit de atenção e


hiperatividade ou similar.

Fatores socioambientais expand_more

Ambientes de violência intrafamiliar.

Exposição a fatores sociais de risco.

Condições socioeconômicas.

Quebra ou rompimento de vínculos afetivos – como


crianças que vivem em instituições de acolhimento.

Uso de álcool e drogas.

A apresentação desses fatores não almeja esgotar todos aqueles que


podem influenciar nas causas da dificuldade de aprendizagem, e sim
apresentar áreas e componentes que precisam ser investigados, ao
longo de um processo de diagnóstico. A literatura sobre o tema
considera que alguns casos de dificuldade de aprendizagem resultam
de prejuízos no sistema nervoso central que atuam diretamente na
aquisição e no processamento daquelas informações recebidas pelos
órgãos dos sentidos. Esses prejuízos podem ser marcados por
alterações em algumas das seguintes estruturas: aquisição,
assimilação, utilização e armazenamento da informação.
O diagnóstico diferencial é um método sistemático que
deve ser utilizado para identificar a presença (ou
ausência) de uma questão médica. Nesse caso, deve-
se valer de diferentes técnicas e instrumentos, bem
como de uma observação apurada do comportamento
do indivíduo e de seu contexto.

O profissional deverá identificar, por meio de uma anamnese, alguns dos


pontos que discutimos, como problemas na gestação ou no parto.
Muitas vezes, os pais ou cuidadores não saberão distinguir se
determinada ocorrência pode ou não ser considerada um problema com
efeitos negativos sobre o desenvolvimento da criança, cabendo ao
médico, ou a outro profissional, o esclarecimento à família.

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Quais os fatores relacionados às
dificuldades de aprendizagem?
Confira neste vídeo quais são os fatores relacionados às dificuldades de
aprendizagem, tanto intrínsecos quanto extrínsecos.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A literatura não apresenta uma única definição de aprendizagem, o


que faz com que esse conceito seja definido de diferentes
maneiras, a depender da abordagem teórica utilizada como
referência. Considerando as teorias da aprendizagem, julgue a
seguir qual das opções indica a abordagem teórica que
desconsidera os processos mentais, privilegiando a influência do
meio externo.

A Comportamentalista

B Psicanalista

C Humanista

D Cognitivista

E Psicodinâmica

Parabéns! A alternativa A está correta.

A partir de uma abordagem comportamentalista, a aprendizagem


pode ser explicada pela associação entre os estímulos ambientais e
as respostas do sujeito.

Questão 2

Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento de


dificuldades de aprendizagem em crianças. Assinale abaixo a
alternativa que denomina as ocorrências relacionadas às condições
de gestação e parto.

A Exposição ao chumbo e prematuridade.

B Hereditariedade e hemorragia.

C Condições socioeconômicas e hipertensão.


D Anemia e bulimia.

E Violência intrafamiliar e hipotensão.

Parabéns! A alternativa A está correta.

O chumbo, um metal pesado e tóxico, pode ser absorvido pelo


organismo da genitora, atravessando a placenta e encurtando a
gestação. Nesse sentido, pode causar até mesmo o parto
prematuro. Esses eventos afetam o desenvolvimento de regiões
neurais importantes, impactando nos processos necessários para
aquisição de novas habilidades.

2 - Transtornos de aprendizagem e transtornos do


neurodesenvolvimento
Ao final desse módulo, você será capaz de relacionar transtornos do neurodesenvolvimento
com transtornos do aprendizado.

Os transtornos do
neurodesenvolvimento
Como vimos, vários fatores podem interferir no processo de
aprendizagem, tanto intrínsecos quanto extrínsecos. Porém, precisamos
estar atentos ao que se caracteriza como uma dificuldade de
aprendizagem por ausência de estímulos de um ambiente empobrecido
daquela em que o indivíduo possui alguma limitação de ordem
cognitiva, por exemplo.

Os transtornos relacionados à aprendizagem são


classificados pelo Manual Diagnóstico de Transtornos
Mentais (DSM-V) como integrantes dos transtornos do
neurodesenvolvimento. De acordo com o manual, os
transtornos se apresentam desde o desenvolvimento
inicial do indivíduo e são visíveis de maneira bem
aparente já na infância

Ainda segundo o DSM-V, é comum que os transtornos relacionados ao


neurodesenvolvimento se apresentem em conjunto, ou seja, uma
criança com diagnóstico de transtorno de espectro autista (TEA) pode
apresentar também o transtorno do desenvolvimento intelectual. Há
ainda casos de crianças com diagnóstico de transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH) que apresentam também o transtorno
específico de aprendizagem.

Os transtornos do neurodesenvolvimento podem ser diagnosticados


quando a criança não atinge os marcos do desenvolvimento esperados
para sua faixa etária, mesmo considerando as janelas de oportunidades,
que são períodos em que a criança ainda pode apresentar determinado
comportamento. Um exemplo disso pode ser o comportamento de
andar. A criança começa a dar seus primeiros passos e a caminhar por
volta dos 12 meses de idade, mas algumas irão dar seus primeiros
passos antes disso, e outras depois. No entanto, uma limitação pode ser
considerada quando uma criança com 2 anos ainda não deu seus
primeiros passos.

Quem nunca ouviu uma conversa entre mães em que há quase uma
“disputa” na comparação dos marcos atingidos pelos seus filhos? As
habilidades motoras, linguísticas e cognitivas são subjetivas. Cada uma
delas irá se desenvolver no tempo de cada criança, e não no tempo
social. Elas também não devem ser vistas como critério para definir que
seu filho é melhor que o filho “daquela sua vizinha chata”.

Assim como traz satisfação falar que seu filho é um prodígio porque ele
andou com 11 meses de idade, o oposto também desperta sentimentos.
Quando uma criança apresenta alguma limitação de ordem física ou
mental, muitos pais apresentam dificuldade para lidar com as suas
próprias expectativas. O filho ideal pode ser diferente do filho real.

Comentário

Os sentimentos de frustração e luto podem estar presentes em alguns


casos. Como relatado por Bee (1996), pesar, culpa, negação, depressão
e raiva podem acometer os pais, pois são respostas naturais. Muito
esforço e dedicação é requerido deles quando devem lidar com uma
criança com desenvolvimento atípico. Por isso, é fundamental que os
pais não sejam julgados pelos profissionais, e sim acolhidos por eles.

Crianças com desenvolvimento atípico têm condições de se inserir


socialmente e, muitas vezes, irão precisar de alguns ajustes dos pais —
e de outras pessoas — para se adaptarem às suas demandas
específicas. Outro ponto que deve ser considerado é o grau de limitação
das crianças. No DSM-V, os transtornos de aprendizagem são
classificados como leves, moderados ou graves; gerais ou específicos;
de curta ou longa duração. Veja a seguir alguns desses transtornos.

Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento


intelectual) expand_more

É caracterizado por déficits em capacidades mentais genéricas,


como raciocínio, solução de problemas, planejamento,
pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e
aprendizagem pela experiência. Os déficits resultam em
prejuízos no funcionamento adaptativo, de modo que o indivíduo
não consegue atingir padrões de independência pessoal e
responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida diária,
incluindo comunicação, participação social, funcionamento
acadêmico ou profissional e independência pessoal em casa ou
na comunidade.

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) expand_more

É definido por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização


e/ou hiperatividade e impulsividade. Desatenção e
desorganização envolvem incapacidade de permanecer em uma
tarefa, aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis
inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento. A
hiperatividade e a impulsividade implicam atividade excessiva,
inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão
em atividades de outros e incapacidade de aguardar — sintomas
que são excessivos para a idade ou o nível de desenvolvimento.

Transtorno específico de aprendizagem expand_more

É diagnosticado diante de déficits específicos na capacidade


individual para perceber ou processar informações com
eficiência e precisão. Esse transtorno do neurodesenvolvimento
manifesta-se, inicialmente, durante os anos de escolaridade
formal, caracterizando-se por dificuldades persistentes e
prejudiciais nas habilidades básicas acadêmicas de leitura,
escrita e/ou matemática. O desempenho individual nas
habilidades acadêmicas afetadas está bastante abaixo da média
para a idade, ou níveis de desempenho aceitáveis que são
atingidos somente com esforço extraordinário. O transtorno
específico da aprendizagem pode ocorrer em pessoas
identificadas como apresentando altas habilidades intelectuais e
manifestar-se apenas quando as demandas de aprendizagem ou
procedimentos de avaliação (por exemplo, testes
cronometrados) impõem barreiras que não podem ser vencidas
pela inteligência inata ou por estratégias compensatórias. Para
todas as pessoas, o transtorno específico da aprendizagem pode
acarretar prejuízos duradouros em atividades que dependam das
habilidades, inclusive no desempenho profissional.

video_library
Entendendo os transtornos do
neurodesenvolvimento
Acompanhe no vídeo uma apresentação dos transtornos do
neurodesenvolvimento, incluindo deficiência intelectual, transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade e transtorno específico de
aprendizagem.

Transtornos específicos de
aprendizagem
Para o transtorno específico de aprendizagem, alguns critérios são
adotados pelo DSM-V, vamos conhecê-los.

looks_one Dificuldade na aprendizagem e no uso de


habilidades acadêmicas, com a presença de
sintomas, por pelo menos 6 meses, como: leitura de
palavras de forma imprecisa ou lenta e com
esforço; dificuldade para compreender o sentido do
que é; dificuldades para escrever ortograficamente;
dificuldades com a expressão escrita; dificuldades
para dominar o senso numérico, fatos numéricos
ou cálculo; dificuldades no raciocínio.

looks_two Habilidades acadêmicas afetadas de forma


substancial e quantitativamente abaixo do
esperado para a idade cronológica do indivíduo,
causando interferência significativa no
d h dê i fi i l
desempenho acadêmico ou profissional ou nas
atividades cotidianas.

looks_3 Dificuldades de aprendizagem que se iniciam


durante os anos escolares, mas podem não se
manifestar completamente até que as exigências
pelas habilidades acadêmicas afetadas excedam
as capacidades limitadas do indivíduo.

looks_4 Dificuldades de aprendizagem que não podem ser


explicadas por deficiências intelectuais, acuidade
visual ou auditiva não corrigida, outros transtornos
mentais ou neurológicos, adversidade psicossocial,
falta de proficiência na língua de instrução
acadêmica ou instrução educacional inadequada.

Também pode ocorrer que algum prejuízo intelectual afete as


habilidades do indivíduo, interferindo, portanto, no processo de
aprendizagem. De acordo com o DSM-V, a deficiência intelectual
(transtorno do desenvolvimento intelectual) é um transtorno com início
no período do desenvolvimento que inclui déficits funcionais, tanto
intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e
prático. Veja os tipos de déficits existentes.

Primeiro tipo expand_more

Déficits em funções intelectuais como raciocínio, solução de


problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo,
aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência,
confirmados tanto pela avaliação clínica quanto por testes de
inteligência padronizados e individualizados.

Segundo tipo expand_more


Déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para
atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação
à independência pessoal e responsabilidade social. Sem apoio
continuado, os déficits de adaptação limitam o funcionamento
em uma ou mais atividades diárias, como comunicação,
participação social e vida independente, e em múltiplos
ambientes, como em casa, na escola, no trabalho e na
comunidade.

Terceiro tipo expand_more

Início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do


desenvolvimento.

Todos os critérios definidos pelo DSM-V devem ser entendidos como


uma referência dos principais sintomas presentes nesses transtornos
específicos. Porém, é importante ter em mente que algumas pessoas
podem não ter esses transtornos e ainda assim apresentar algum
sintoma descrito pelo manual.

Para que um indivíduo tenha um diagnóstico fechado de uma


dificuldade (transtorno) de aprendizagem, ele precisará ser
criteriosamente avaliado por psiquiatra, neurologista, neuropsicólogo e
demais profissionais que se mostrarem necessários. Por sua vez, tais
profissionais utilizarão medidas de desempenho padronizadas e um
histórico clínico do indivíduo que envolve informações sobre seu
desenvolvimento, condições médicas, situação familiar e educacional, a
fim de chegar a alguma conclusão.

video_library
Quais são os transtornos específicos
de aprendizagem?
Confira esta entrevista em que abordamos os principais transtornos
específicos de aprendizagem que afetam muitas crianças em idade
escolar. Discutimos as características, os sintomas e os impactos que
cada transtorno pode ter no desempenho acadêmico e no bem-estar
emocional dessas crianças.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A psicologia do desenvolvimento concebe as janelas de


oportunidades, que são períodos em que se espera que a criança
desenvolva certa habilidade. Sobre isso, em qual momento os
transtornos do neurodesenvolvimento podem ser diagnosticados?

No momento em que não se atinge os marcos do


A
desenvolvimento.

Na primeira infância, logo após a criança entrar na


B
escola.

No final da infância, quando a criança está


C
adquirindo mais autonomia.

Na adolescência, nos primeiros sintomas de


D
dependência emocional.

Na adolescência, quando o indivíduo não atinge a


E
independência pessoal.
Parabéns! A alternativa A está correta.

Os distúrbios do neurodesenvolvimento podem ser identificados


quando a criança não alcança os indicadores de desenvolvimento
típicos para sua idade, mesmo considerando os períodos críticos
em que a criança pode ainda manifestar certos comportamentos,
as janelas de oportunidades.

Questão 2

O DSM-V descreve critérios que devem ser utilizados quando há a


hipótese de algum transtorno. No caso do transtorno específico de
aprendizagem, por quanto tempo os sintomas devem estar
presentes para que ele seja diagnosticado?

A Pelo menos 3 meses.

B Pelo menos 12 meses.

C Pelo menos 5 meses.

D Pelo menos 6 meses.

E Pelo menos 4 meses.

Parabéns! A alternativa D está correta.

O DSM-V considera que alguns fatores devem ocorrer em um


padrão para que os transtornos, relacionados no manual, sejam
considerados para fins de diagnóstico. Entre os critérios, o tempo é
responsável por indicar o período mínimo que os sintomas
manifestados pelo indivíduo devem estar presentes. No caso do
transtorno específico de aprendizagem, os sintomas devem estar
presentes por no mínimo 6 meses.
3 - O trabalho com problemas de aprendizagem nas escolas
Ao final desse módulo, você será capaz de identificar o trabalho de mediadores, professores e
pedagogos com problemas de aprendizagem nas escolas.

Métodos de ensino e o papel da


escola
Os professores têm um contato cotidiano com os alunos e, por vezes,
conseguem observar o desempenho da criança em diferentes
momentos. Os docentes podem contribuir, por meio do relato das suas
observações, na composição do diagnóstico de dificuldade de
aprendizagem. Contudo, não cabe a esses profissionais apresentar o
diagnóstico, sendo essa uma competência do médico especialista.
A dificuldade de aprendizagem pode ser trabalhada com o auxílio de
psicopedagogos, reforço escolar e o uso de estímulos específicos. Cada
criança tem a sua própria maneira de aprender um conteúdo. Algumas
preferem ler, outras aprendem melhor se ouvirem. Porém, como
sabemos, muitas escolas e métodos de aprendizagem não possuem
essa diversificação de ensino, o que impacta o desempenho acadêmico
de diversas crianças que não possuem um comprometimento
intelectual ou transtorno do neurodesenvolvimento.

Quando se identifica a necessidade de tratamento, ou seja, quando a


criança não consegue avançar academicamente, pois possui algum
comprometimento de comunicação, essa questão deve ser levada aos
pais/responsáveis para que procurem ajuda especializada. Em alguns
casos, há a necessidade de uma intervenção medicamentosa.

Conforme ressaltou Bee (1996), muitas crianças taxadas como tendo


alguma dificuldade de aprendizagem estão, na verdade, passando por
uma perturbação emocional ou até outra dificuldade temporária. Nesse
sentido, essa autora destaca que antes de uma criança ser “rotulada”
dessa maneira, existe a necessidade de um olhar mais cuidadoso e
afetivo sobre ela.

Na escola, os problemas de aprendizagem são mais


perceptíveis, pois é nesse ambiente que a criança deve
mostrar o que aprendeu em testes e provas. Há uma
estrutura em que existe o momento para ter contato
com o conteúdo, a explicação do professor e a
realização de exercícios, que mostrarão o desempenho
e, em tese, o quanto a criança absorveu daquele
conteúdo.

Estabelecendo uma ligação entre as teorias da aprendizagem, é possível


refletir sobre alguns pontos que devem ser considerados pelos
educadores nesse processo, para que se tenha uma visão mais ampla
do que a criança conseguiu absorver do conteúdo que se tentou
transmitir. Para isso, vamos fazer um rápido exercício de reflexão:

help

Você já pensou em qual


método de ensino se encaixa
mais ao seu perfil? Você
aprende mais assistindo a
um vídeo, lendo um texto ou
ouvindo a explicação por
outra pessoa?

Resposta

Baseando-se na tese discutida por Gardner


(1995), existem diversas inteligências,
portanto, cada indivíduo tem um melhor
desempenho em uma área diferente. O papel
do professor deve ser o de facilitar a
aprendizagem usando recursos que se
adaptem às necessidades dessas diferentes
inteligências. Assim sendo, o professor pode
preparar um mesmo conteúdo em texto e
selecionar trechos ilustrados com vídeos,
outros com imagens e tabelas. Também é
possível propor uma tarefa em que o aluno
possa praticar o conteúdo em questão, e que
não seja na forma de prova. Perguntas e
respostas em uma prova discursiva ou com
alternativas podem levar à memorização do
conteúdo, e não necessariamente à sua
apreensão e acomodação.

A possibilidade de trabalhar em grupo é também uma vantagem do


ambiente escolar. O aprendizado em parceria com outras crianças na
mesma etapa de desenvolvimento favorece a troca de experiências,
bem como o intercâmbio de ideias e perspectivas diferentes sobre o
mesmo conteúdo.

Estar com outras crianças também estabelece e fortalece os laços


afetivos, destacados na literatura como fundamentais no processo de
aprendizagem. Pessoas em um ambiente acolhedor e que estimula a
aprendizagem como fenômeno multidimensional podem detectar reais
dificuldades de aprendizagem nas crianças de maneira mais eficiente.

video_library
O ensino e o papel da escola
Assista a este vídeo e entenda os diferentes métodos de ensino e o
papel da escola nesse processo.

A importância do vínculo com os


profissionais
Boas recordações da nossa história escolar estão relacionadas às
pessoas que encontramos e com as quais tínhamos bons
relacionamentos. Na psicanálise, discute-se a questão da transferência
como essencial no processo de aprendizagem. A criança desenvolve
boas capacidades de aprendizagem se estiver vinculada à figura que
ensina.

Cunha (2000, p. 17) afirma que “a relação pedagógica


pode ser resumida na opção de um bom método de
ensino, um planejamento adequado do
sequenciamento das matérias e um certo
conhecimento das competências intelectuais dos
aprendizes”. No entanto, o autor discute que, partindo
de uma visão psicanalítica desse contexto, o que deve
se destacar é o mundo subjetivo de cada um dos
envolvidos nessa relação.

Entende-se, portanto, que o professor deve-se orientar pelas suas


atitudes conscientes, bem como as dos seus alunos. O fato de ministrar
uma boa aula, com qualidade e seguindo rigidamente os métodos
didáticos, em si, não tem protagonismo quando estamos partindo de
uma abordagem psicanalítica. Assim, de acordo com Cunha (2000),
importa menos a manutenção daquilo que é entendido como “bom
comportamento” e mais a “livre expressão” dos seus alunos.

A criança que se identifica com seu professor ou professora se sente


vista e respeitada e corresponderá do mesmo modo. Você consegue se
lembrar de uma experiência positiva que teve com um professor quando
era criança? E de uma experiência negativa? Não se pode esquecer que
nem só de momentos felizes e bons encontros a escola é feita. O
vínculo criado e mantido entre professor e aluno perpassa o sistema
educacional e rompe as barreiras da sala de aula, não se limitando à
correspondência de ideias e sentimentos.
O psicólogo escolar ou psicopedagogo também procurará estabelecer
um vínculo com o aluno, pois será a partir dele que conseguirá acessar
os conteúdos necessários para compreender melhor a situação da
criança. A psicologia se encarregará de observar atentamente os alunos
no seu cotidiano escolar, participar de reuniões em que se discuta o
desempenho acadêmico de cada um, bem como de reuniões com pais e
responsáveis.

Na escola, o psicólogo escolar não é um terapeuta,


logo não lhe cabe tratar ou intervir diretamente na
dificuldade de aprendizagem dos alunos. No entanto, o
profissional tem um papel de destaque, pois seu olhar
é “treinado”, diferentemente dos demais funcionários
da escola, podendo enxergar com mais facilidade
fatores que podem ser considerados motivos para
atenção.

Para aquelas crianças que já possuam algum diagnóstico de transtorno


de aprendizagem, é importante que haja um acompanhamento mais
próximo. Um mediador, estagiário ou outro profissional treinado para
esse fim pode acompanhar a criança durante as rotinas escolares. A
criança com TDAH se dispersa com enorme facilidade, seu pensamento
acelerado e o impulso que busca o movimento não se encaixam no
método tradicional de uma classe toda em silêncio, copiando o dever
que a professora está passando no quadro.

Ter um mediador ou alguém que a acompanhe ajuda a criança a se


regular. O foco não deve ser no desempenho quantitativo, em busca da
nota 10, e sim no qualitativo. Quais são os avanços daquela criança em
termos de aquisição do conhecimento? Como anda a motivação para
aprender e para frequentar o ambiente escolar? Como está sua
autoestima e sua relação com os colegas? Todas essas perguntas são
importantes não só para as crianças, mas também para os
profissionais.

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O vínculo com os profissionais
Entenda, por meio deste vídeo, como o vínculo afetivo entre as crianças
e os profissionais pode influenciar positivamente o desempenho
acadêmico, o bem-estar emocional e o desenvolvimento social dos
alunos.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O ambiente escolar possui uma grande vantagem que possibilita a


integração, favorece a troca de experiências, bem como o
intercâmbio de ideias e perspectivas diferentes sobre o mesmo
conteúdo. Todos os fatores, descritos anteriormente, são possíveis
por meio da

A criação de uma rotina.


convivência com outras crianças da mesma etapa
B
do desenvolvimento.

C inserção em atividades extracurriculares.

D utilização de educadores especializados.

E aplicação de regras e normas de convivência.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A possibilidade de trabalhar em grupo com outras crianças que


estão passando pelos mesmos desafios do desenvolvimento é uma
das vantagens do ambiente escolar que facilitam o processo de
aprendizagem.

Questão 2

A dificuldade de aprendizagem pode aparecer em qualquer criança,


em diferentes etapas do seu desenvolvimento, embora os
transtornos de aprendizagem fiquem mais evidentes com a entrada
da criança na educação formal. Assinale a alternativa abaixo que
pode sugerir uma dificuldade de aprendizagem pontual e não
derivada de um transtorno do neurodesenvolvimento.

A Falta de concentração

B Desatenção

C Perturbação emocional

D Impulsividade
E Déficit intelectual

Parabéns! A alternativa C está correta.

De acordo com Bee (1996), é comum rotular muitas crianças como


tendo dificuldades de aprendizagem, mas na realidade elas podem
estar lidando com perturbações emocionais ou outras dificuldades
temporárias.

4 - Fracasso escolar: ações de prevenção e formas de


intervenção
Ao final desse módulo, você será capaz de identificar ações de prevenção e intervenção no
fracasso escolar.

Fracasso escolar
O que significa fracasso para você? Quais as emoções e sentimentos
que você relaciona a essa palavra? Que tipo de memória você consegue
recuperar quando lê essa palavra? Seja o que for que você tenha
pensado, provavelmente não sentiu bem nem se lembrou de coisas boas
e positivas. O dicionário define fracasso como falta de êxito, malogro ou
derrota. Sem dúvida, dizer que alguém fracassou não traz nenhum
benefício, mas, sim, levanta o sinal de alerta.
O fracasso escolar pode ser observado a partir de um fenômeno social,
e não individual, com uma origem que remonta à criação de escolas
formais. Ao mesmo tempo que escolas públicas permitiram o acesso à
educação para pessoas de diferentes classes sociais, acabou por
reproduzir valores socioculturais de sucesso e fracasso, competente e
incompetente.

A sala de aula deveria ser lugar de aprendizado, união, acolhimento e


compartilhamento de conhecimento. Todos no mesmo ambiente com o
objetivo de crescerem juntos e desenvolverem a si próprios e a
sociedade que integram.

No entanto, a reprodução dos valores mencionados torna o ambiente


escolar um espaço que também favorece a prática do bullying. Ser
taxado de “burro”, “deficiente” ou “incapaz” pode atingir a autoestima do
indivíduo, tornando uma dificuldade de aprendizagem em algo muito
mais grave. Isso pode levar crianças e adolescentes a desenvolverem
problemas de autoestima, depressão e evasão escolar.

De acordo com Perrenoud (2001, apud FRESQUET, 2003, p. 50), deve-se


atentar para o que o autor chama de tríplice fabricação do fracasso,
vejamos o que é.
looks_one Fabricar desigualdades na escolha dos currículos,
que minimiza a distância de um grupo de alunos ao
objetivo final, maximizando a de outros.

looks_two Agir com indiferença às diferenças nos diversos


auxílios que oferecemos a esses alunos.

looks_3 Simplificar ou dramatizar as desigualdades em


função do momento e modo de avaliação.

Bossa (2008) também chama a atenção para os valores compartilhados


da nossa sociedade em que a obtenção de conhecimento é fonte de
poder social. Aquele que detém certa informação pode se destacar
entre os demais. Portanto, é imperativo que o fracasso escolar seja
considerado uma questão conjunta que envolve o indivíduo e sua
família, bem como a escola, o professor e os métodos de ensino
praticados. Crianças com dificuldades de aprendizagem — ou qualquer
outra limitação — devem receber um olhar diferenciado que atue para
promover seu aprendizado e para que não seja excluída do meio dos
outros colegas.

Saiba mais

De acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância


(2022), 2 milhões de crianças e adolescentes de 11 a 19 anos não estão
frequentando a escola no Brasil, sendo que 30% (600 mil pessoas)
relataram possuir algum tipo de dificuldade de aprendizagem, que causa
uma limitação para acompanhar as explicações e atividades escolares
(UNICEF, 2022).

Esse alto número de crianças, muitas delas sem diagnóstico clínico de


transtorno de aprendizagem, constitui um grave problema para a área da
educação, bem como para a sociedade brasileira como um todo. Travi,
Oliveira-Menegotto e Santos (2009) esclarecem que a escola possui
uma ligação com as transformações socioculturais e precisa se adaptar
às novas demandas do processo de ensino-aprendizagem. A replicação
de metodologias antigas não é mais possível e as formas de ensino
também possuem caráter temporal, o que implica atualizações
constantes dos saberes e práticas.

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Abordando o fracasso escolar
Assista a este vídeo e entenda o que é o fracasso escolar e suas
consequências para o aluno.

As possibilidades de intervenção
A psicopedagogia é uma área de intercâmbio entre psicologia e
pedagogia que possui como foco a relação entre aprendizagem e a
mente humana. O psicopedagogo poderá atuar com crianças
acometidas por dificuldade de aprendizagem, intervindo nas principais
dificuldades da criança, inclusive com aquelas com transtornos mentais
que apresentam maiores limitações, como o TEA e o TDAH.

Weiss (2021, p. 15) aponta que a intervenção


psicopedagógica tem como objetivo “levar o sujeito-
aprendiz a construir sua aprendizagem de forma
autônoma, tomando consciência do seu poder de
aprender”.

Nesse sentido, vemos como existe um trabalho que também foca a


razão do aprendizado, o porquê de se aprender algo e sua relevância
para o momento de vida daquele indivíduo.

Em alguns momentos, podemos nos encontrar tentando entender a


necessidade de aprender matemática, por exemplo. Todos aqueles
cálculos, somas, subtrações e equações gigantescas que, assim
acreditamos, não serão utilizados nunca na vida. Qual seu propósito?
Conhecer também o motivo pelo qual se estuda um conteúdo contribui
para o processo de aprendizagem.

Ademais, a psicopedagogia também vai atuar focando o ponto de


urgência (WEISS, 2021). Isso quer dizer que serão empregados esforços
naquilo que a criança precisa mais no momento. Se existe um problema
de escrita, estratégias serão traçadas para que a criança desenvolva
essa habilidade, prioritariamente.

Malaquias e Sekkel (2014) identificaram algumas práticas de


enfrentamento para problemas relacionados à escolarização:
estratégias pedagógicas, estratégias político-administrativas e
estratégia extraescolar. Essas práticas vão desde a utilização de música
nas salas de aula até a separação de crianças em diferentes grupos
comuns. A necessidade de encaminhamento também se mostra
presente quando a criança não responde aos estímulos diversificados,
adotados na escola.

Diversas estratégias podem ser utilizadas no ambiente escolar para que


aquelas crianças que possuam dificuldade de aprendizagem possam
ser integradas aos demais alunos. Lembrando sempre que escola tem
um papel fundamental de observação e relato dessas queixas, mas um
diagnóstico preciso deve ser realizado por especialistas. Com um
diagnóstico fechado, criança, família, escola e profissionais da saúde
podem trabalhar em um plano que beneficie o desenvolvimento pessoal
e acadêmico do indivíduo.

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Quais as possibilidades de
intervenção?
Veja neste vídeo como os profissionais devem intervir no caso de
fracasso escolar.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O conhecimento tem muito valor não apenas no ambiente escolar,


mas também em outras áreas das nossas vidas. Alguns autores
ressaltam a valorização do conhecimento como

A fonte de controle.

B fonte de poder social.

C fonte de prazer.

D fonte de conhecimento.

E fonte de valor.
Parabéns! A alternativa B está correta.

De acordo com Bossa (2008), nossa sociedade valoriza a obtenção


de conhecimento como uma fonte de poder social e destaque.
Aqueles que possuem informações específicas podem se
sobressair em relação aos demais, evidenciando assim os valores
compartilhados por nossa sociedade.

Questão 2

Quando tratamos da dificuldade de aprendizagem, várias técnicas e


estratégias podem ser utilizadas para que o indivíduo consiga
desenvolver suas habilidades. Que área específica ganha destaque
quando falamos de intervenção em dificuldade de aprendizagem?

A Psicanálise

B Epistemologia

C Psiquiatria

D Psicopedagogia

E Orientação vocacional

Parabéns! A alternativa D está correta.

A psicopedagogia também vai atuar focando o “ponto de urgência”,


e é uma área importante que une conhecimentos da psicologia e da
pedagogia, atuando fortemente nas dificuldades de aprendizagem,
entre outras demandas.
Considerações finais
O vínculo estabelecido inicialmente com as figuras de cuidado primária
(os pais) e, em fases posteriores, com outros adultos (como educadores
e professores) contribui para que o processo de aprendizagem seja
mais fluido e dinâmico, logo mais efetivo. Dessa maneira, as interações
entre essas díades — adulto-criança — serão fundamentais para que a
criança consiga absorver o conteúdo a ela transmitido.

Além disso, a escola possui papel essencial nesse contexto. Com o


conhecimento sobre como se dá o processo de aprendizagem, e de
posse de estratégias e técnicas de ensino, a escola tem condições de
promover o desenvolvimento acadêmico do seu aluno. Nos casos em
que esse aluno apresenta alguma dificuldade ou limitação, também é
papel da escola lançar mão de estratégias complementares, e não tratar
da questão do aluno como algo particular e de responsabilidade
individual.

O fracasso escolar não deve ser visto como um fracasso pessoal, e sim
como uma limitação de todos os atores envolvidos quando uma criança
tem alguma dificuldade de aprendizagem. Desse modo, a escola pode
sinalizar aos pais comportamentos e impressões que sirvam como base
para que o médico especialista complemente sua avaliação. Nos casos
mais graves, em que a criança possui um transtorno de aprendizagem,
escola, pais e profissionais atuam juntamente com a criança para que
ela consiga desenvolver o máximo de suas potencialidades,
fortalecendo também sua autoestima e motivação para aprender.

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Pesquise e leia mais sobre os assuntos estudados no Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5, da
Associação Americana de Psiquiatria.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. APA. Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais: DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BEE, H. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 1996.

BOSSA, N. A. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. Porto Alegre:


Artmed, 2008.

CUNHA, M. V. da. Psicologia da educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

FRESQUET, A. M. Psicopedagogia e fracasso escolar. Linhas Críticas, v.


9, n. 16, p. 45-62, 2003.

GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre:


Artmed, 1995.

IIIERIS, K. Teorias contemporâneas da aprendizagem. [S.l.]: Penso


Editora, 2015.

MALAQUIAS, L. M. A.; SEKKEL, M. C. Estratégias de enfrentamento dos


problemas de escolarização: revisão de literatura. Temas em Psicologia,
v. 22, n. 2, p. 271-283, 2014.

TRAVI, M. G. G.; OLIVEIRA-MENEGOTTO, L. M. de; SANTOS, G. A. dos. A


escola contemporânea diante do fracasso escolar. Rev. Psicopedag., v.
26, n. 81, p. 425-434, 2009.

UNICEF. Dois milhões de crianças e adolescentes de 11 a 19 anos não


estão frequentando a escola no Brasil. Unicef, 15 set. 2022. Consultado
na internet em: 9 abr. 2023.

WEISS, A. A intervenção psicopedagógica nas dificuldades de


aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: WAK, 2021.
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