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Mariita Bertassoni da Silva

ORGANIZADORA
2
CONSUl TORIA EM PSICOLOGIA
ESCOLAR/EDUCACIONAL:
-
REFlEXOES SOBRE A TEORIA,
A PRÁTICA PROFISSIONAL
E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Mariita Bertassoni da Silva
Consultoria em
Psicologia Escolar/ A Consultaria em Psicologia Escolar/Educacional é uma mo-
dalidade de prestação de serviço do psicólogo escolar/educacional, que

Educacional tem por finalidade auxiliar na irnplernentação de propostas que favore-


çam o processo ensino-aprendizagem.
Wechsler ' em um dos primeiros trabalhos sistematizados so-
bre a Consultoria Escolar/Educacional no Brasil, lista suas principais
características:
PRINCíPIOS TEÓRICOS E TÉCNICOS E a) é um tipo de ajuda para a resolução de problemas atuais;
CONTRIBUiÇÕES DE PRÁTICAS SISTEMATIZADAS b) ocorre entre um profissional (especialista - consultor) que
oferece ajuda, e outro (agente educativo - consultado), que
pede ajuda para o bem-estar de uma terceira pessoa (clien-
COLABORADORES: te) sobre a qual tem responsabilidade;
c) é uma relação voluntária, sendo solicitada espontaneamente
Claves Antonio de Amissis Amorim Mari Angela Calderari Oliveira
pela instituição interessada no serviço;
Eliana Santos Patrícia Dietrich Schner
Fernanda Rafaela Cabral Bonato
d) é uma relação de cooperação entre o consultor e o con-
Solange Muglia Wechsler
sultado; .
lima Lopes Soares de Meireles Siqueira Susana de Jesus Fadel
Maria das Graças Fernandes de Souza Tatiana de Souza Centurion e) o consultado se beneficia desse relacionamento, tornando-
Maria de Lourdes Bairão Sanchez Vera Regina Miranda se mais habilitado para lidar com questões semelhantes no
futuro.
Pode-se ampliar esse rol de características considerando-se
também que:

Curitiba WECHSLER, S. M. Consultoria escolar: características básicas. Brasiliu: Instituto de Psi-


Juruá Editora cologia da Universidade de Brasília, 1989. p. O I.
2009
32 Mariita Bertassoni da Silva Consultaria em psicologia escolar/educacional 33

f) o consultor possui vínculo empregatício apenas eventual Assim, é lógico pensar que a Consultoria é ainda uma alterna-
com a instituição solicitante, normalmente pelo prazo em tiva válida para o desempenho da especialidade, pois, ao libertar-se do
que dura a sua intervenção; vínculo emprcgatício tradicional, supera o impeditivo legal e amplia os
horizontes para a prática psicológica e, consequcntemente, para o
g) seu grau de autonomia é significativo, pois não possui su-
aumento do contingente de especialistas.
bordinação à instituição contratante"
É importante frisar que o consultor em psicologia esco-
Como é uma atividade específica do psicólogo da área esco-
lar/educacional, a Consultoria exige do consultor o mesmo preparo teó- lar/educacional é, em primeira instância, um profissional de psicologia,
rico~técn~co que o psicólogo que atua como parte integrante da equipe cspecializado na área da psicologia escolar/educacional, ou seja: é um
técnica ft~a de uma instituição educativa ou escolar. Seu foco é o pro- psicólogo escolar/educacional, cuja formação inelui conhecimentos
cesso ensino-aprendizagem, seu objeto de estudo são as atividades edu- teóricos, técnicos e éticos específicos da área educacional.
cativas e sua clientela é a instituição como um todo, personificada pelos E, nessa área, muito se tcm produzido desde o surgimento da
agentes educativos, direta ou indiretamente envolvidos na construção do especialidade: vários modelos e paradigmas foram experimentados e
conhecimento formal. Sua intervenção tem como paradigma a saúde, superados. As discussões realizadas em congressos, encontros, semi-
interrneando ações preventivas, remediativas e de acornpanhamento '. A nários e outros eventos científicos ao redor do foco, do objeto, da clien-
?ase de seu trabalho apoia-se no contrato, na avaliação diagnóstica e na
tela, das funções, limites e definição do papel desse especialista, reali-
intervenção propriamente dita, que também deve ser avaliada, acompa-
zadas principalmente a partir da década de 80, por profissionais do
nhada e rcformulada, se necessário. Pressupõe ainda um posiciona-
gabarito de Maria Helena Souza Patto - em suas obras Psicologia e
mcnto crítico e contextualizado do profissional, favorecendo a escuta
IdeologiaS e O Fracasso Escolar6 - de Sérgio Leite", Raquel Guzzo'',
psicológica e sedimcntando o compromisso social.
Geraldina P. Witter", Maria Regina Maluflo e ainda de Maria Helena
Esse tipo de modalidade vem se fortalecendo nas últimas dé- Novaes I I, dentre outros (apenas para citar alguns dos grandes nomes
cadas, seguindo a tendência globalizada da terceirização de serviços
da Psicologia Escolar no Brasil), culminaram na criação da ABRAPEE
observada mundialmente, viabilizando financeiramente a contratação de
- Associação Brasileira de Psicologia Escolar/Educacional -, em
serviços para as escolas".
1992. Essa entidade tem contribuído de forma efetiva como fórum de
Esse fortalecimento pode também ser explicado pelo viés do discussões e consenso para as várias questões que permeiam a prática
desenvolvimento histórico da especialidade no país, já que a categoria
do psicólogo escolar, embora pouco se tenha sistematizado especifi-
~1ão.co.n~uisto:l, ~m seus p~'im?rdios, colocação legalizada do cargo nas
camente sobre a Consultoria em Psicologia Escolar/Educacional.
ll1stItm.çoes públicas, restringindo o campo de atuação às instituições
educativas de caráter privado/particular. Devido a essas limitações de
mercado, também o contingente de especialistas em Psicologia Esco-
PATTO, M. H. S. Psicologia e ideologia. São Paulo: Quciroz, 1984.
lar/Educacio~1al p~n:naneceu limitado, criando-se um círculo vicioso que PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar. São Paulo: Queiroz, 1990.
acabou por interferir na adesão à especialidade, mesmo para aqueles LEITE, S. A. da S. ° psicólogo na Educação. Revista Insight, n. 4, fcv. 1991.
que apresentavam interesse nessa área de atuação. GUZZO, R. S. L. Novo paradigma para a formação c atuação do psicólogo escolar no cenário
educacional brasileiro. 117: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB c Educação
hoje. São Paulo: Alínea, 2002.
BONATO, F. R. C.; SILVA, M. B. Consultoria em psicologia educacional: um vínculo WITTER, G. P. Psicólogo escolar no ensino superior c a Lei de Diretrizes e Bases. 111:
cmprcgnticio diferenciado ao psicólogo escolar. Contato, a. 27, n. 137, maio/jun. 2006. p. 21. GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB c Educação hoje. São Paulo: Alínea,
GOMES, V. L. ela S. A formação do psicólogo escolar e os impasscs cntre a teoria e a práti- 2002.
]fI

ca. 111.- GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB c Educação hoje. São Paulo: MALUF, M. R. Formação c atuação do psicólogo na Educação: dinâmica ele transformação.
Alínea, 2002. p. 54. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Psicólogo brasileiro: práticas emergentes e ele-
safios para a formação. São Paulo: Casa elo Psicólogo, 1994.
SILVA, M. B.; GALAFASSI, M. F.; GUERRA, 1.; WOLF, M. Consultaria em psicologia 11
NOV AES, M. H. Distúrbios psicossoeiais elo escolar. CONCEIÇÃO, J. A. (Coord.), Saúde
educacional: a experiência da ASSED/PUCPR. 111.' Anais do I Encontro Sul-Brasileiro de
escolar. A criança, a vida c a escola. São Paulo: Sarvicr, 1994.
Psicologia, Curitiba, 2000. p. O I.
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34 Mariila Berlassoni da Silva Consultaria em psicologia escolarleducacional 35

Podem-se levantar algumas hipóteses para esse fato. Alguns excelente apoio para a elaboração de procedimentos válidos de inter-
autores defendem a ideia de que o trabalho do psicólogo esco- vencão e acompanhamento. Vale aqui ressaltar que o conhecimento
lar/educacional só será bem desenvolvido com a fixação do profissional apr;fundado da área da psicologia e?l.lcaci?naJ/esc~lar ~ condição pré-
como parte integrante do corpo técnico da instituição, já que o seu tra- via c antecede a toda a articulação teonco-tecnica acima indicada.
balho depende de condições que só se realizam a médio ou longo prazo. Ainda, é importante esclarecer que o investimento na maior
Outra hipótese é que a identidade recérn-reformulada do espe- qualificação de consultores não implica a diminuição dos esforços da
cialista da área, a partir das discussões da década de 80, ainda é bastante categoria em instituir o lugar do psicólogo escolar/educacional como
recente, considerando-se o tempo histórico, carecendo de sedimentação membro integrante da equipe técnica das instituições educativas públi-
na modalidade como técnico fixo, antes de lançar-se como consultor. cas. Antes disso, trata-se de somar oportunidades e ampliar o campo de
Essas hipóteses requerem averiguação e aprofundamento no atuação a este especialista.
âmbito da pesquisa científica a ser realizada pela categoria proxima- Considerando-se as premissas acima clarificadas, passamos
mente, porém ainda não contamos com esses dados. agora a compartilhar a experiência por nós vivenciada como docente e
Independentemente do real motivo, o que se constata é uma supervisora, especialista em Psicologia Escolar, na implantação e de-
carência de referências que norteiem o início da prática da consultoria senvolvimento da modalidade da Consultoria Escolar/Educacional co-
escolar/educacional em publicações bibliográficas tradicionais. Encon- mo estágio curricular em psicologia educacional, em um curso de Psi-
..;

tram-se, no entanto, artigos em periódicos idôneos que podem auxiliar cologia de uma conceituada instituição particular de ensino superior.
:!
no estabelecimento de um estado da arte mais consentâneo com a ne-
cessidade sentida pelos especialistas iniciantes. Porém, não existe
ainda a sistematização específica de escritos sobre essa modalidade de o CONTEXTO
trabalho.
Na universidade em questão, os estágios curriculares profis-
Dessa forma, a prática da consultoria traz um desafio teórico-
sionalizantes são realizados nos últimos períodos (9° e 10°) da gradua-
técnico importante. Além de estudar a desbravadora sistematização
ção em Psicologia, dando sequência aos estágios básicos, que se iniciam
sobre as características da Consultoria Escolar, feita por Wechsler, em
a partir do segundo período do Curso. Eles acontecem em vários cam-
1989, o futuro consultor escolar/educacional pode, por analogia, e desde
pos, em instituições da região metropolitana, e partem do levantamento
que realizando a adequação de objetivos, utilizar-se de obras da área da
preliminar das necessidades do local. Cada local concedente recebe um
Psicologia Organizacional, como, por exemplo, o trabalho de Blockl2,
trio de estagiários. As atividades desenvolvidas, em sua maioria são
intitulado Consultoria: o desafio da liberdade, ou o de Weinberg13,
realizadas pelo trio, em equipe, ou subdivididas conforme a demanda e
denominado Consultoria: o segredo do sucesso. A respeito dessa utili-
necessidade técnica, ficando então sua condução sob a responsabilidade
zação, é importante que o profissional saiba diferenciar a especificidade
de cada estagiário individualmente. Essas atividades são supervisiona-
da demanda, respondendo adequadamente à solicitação conforme argu-
das semanalmente.
mentam Moreira, Periotto, Sccco e Silval4. Também as obras da área da
psicologia institucional, como os escritos de Bleger15 e Severo!", são um O estágio tem duração de um ano letivo. Após esse período,
realiza-se uma avaliação para sua possível continuidade e se estabelece
novo contrato de trabalho. Todos os estágios curriculares profissionali-
BLOCK, P. Consulturia: o desafio da liberdade, São Paulo: Makron Books, 1991.
13
WEINBERG, G. Consultoria: o segredo do sucesso. São Paulo: MeGraw Hill, 1990.
zantes são coordenados pelo núcleo de prática em Psicologia, órgão
14
MOREIRA, c.. PERIOTTO, .I.; SECCO, M. de A.; SILVA, M. B. Atendimento à instituição pertencente ao Curso de Psicologia, sendo o primeiro também respon-
de ensino: eonsultoria educacional ou organizacional? Contato, Conselho Regional de Psi- sável pela oferta de serviços psicológicos de diferentes áreas à comuni-
cologia do Paraná, Curitiba, a. 25, n. 135, jan.zfcv. 2006. p. 10.
15
BLEGER, J. Psico-higiene e psicologia inslitucional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984. dade em geral.
1(,
SEVERO, M. C. Estratégias em psicologia institucional. São Paulo: Loyola, 1993.
36 Mariita Bertassoni da Silva Consultaria em psicologia escolar/educacional 37

A equipe de professores que supervisiona a área da Psicologia Paralelamente foi elaborado projeto de pesquisa para a verifi-
Escolar/Educacional comunga da posição de que as propostas de inter- cação cientificamente embasada das atividades que eram, de fato, de-
venção do psicólogo no âmbito educativo devem ser questionadoras da mandadas pelas instituições solicitantes. Optou-se por realizar uma pes-
realidade social, abrangentes com a cliente Ia, buscando fortalecer o quisa de campo, considerando-se uma amostra aleatória, constituída de
âmbito preventivo com base na saúde mental de todos os componentes 10% de instituições de ensino regular, incluindo educação infantil, ensi-
que integram a prática educativa. no fundamental e ensino médio da grande Curitiba. Os instrumentos
utilizados foram o questionário semiaberto e a entrevista com os res-
ponsáveis das instituições pesquisadas. Com base nos resultados obtidos
A DEMANDA e na ana'1'ise d e contcu rd o, apresenta d a por B ar di111 17 ,constrUlram-se
' cate-
gorias a partir das quais levantou-se o rol de necessidades, descrito a
N o período correspondente aos anos de 1992 e 1994, o núcleo seguir:
de prática em Psicologia recebeu inúmeras solicitações de instituições
educacionais para a realização de atividades específicas e de duração a) informação e orientação vocacional, por meio de pales-
variada, como palestras sobre orientação sexual, drogas, disciplina, tras, testes, esclarecimentos e debates sobre a escolha pro-
cursos sobre desenvolvimento infantil, trabalho com professores e fissional;
outros. Porém, devido à metodologia adotada, a saber, vinculação dos b) psicodiagnóstico em grupolindividual para crianças com
trios de estagiários com uma única instituicão durante todo o ano letivo problemas de aprendizagem, conduta ou desenvolvimento;
não foi possível atender a todas elas. ' ,
c) verificação grupal de prontidão para a alfabetização;
Devido à demanda continuada e frequente, a equipe técnica do
Núcleo considerou oportuno introduzir a modalidade da Consultoria d) identificação de possíveis problemas que interferem no an-
Escolar como uma das áreas de estágio curricular, respondendo a dois damento da dinâmica educativa, envolvendo alunos, pro-
objetivos: fessores, coordenação pedagógica e direção (comunicação
1. ampliar o campo de oferta de estágio; e institucional);
lI. atender à necessidade da comunidade educacional externa. e) palestras com pais, envolvendo temas como adolescência,
A partir de 1995, foi então ofertada a Consultoria Esco- sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, drogas,
lar/Educacional como estágio curricular, entendendo-se Consultoria violência e outros;
como proposta de serviço especializado em Psicologia Esco-
f) palestras com professores sobre motivação, hábitos de es-
lar/Educacional, de duração variada, com vistas a auxiliar no diagnósti-
tudo, desenvolvimento infantil e adolescente, disciplina,
co e implementação de ações interventivas que favoreçam o processo
interação professor-aluno, treinamento de habilidades de
ensino-aprendizagem e o funcionamento da instituição educativa como
comunicação e outros;
um todo.
g) programas de motivação e estimulação;

A IMPLANTAÇÃO h) programas de hábitos de estudo;


i) programas ele atividades expressivas, jogos direcionados e
Para a implantação do serviço, houve uma fase inicial de revi- desenvolvimento da psicomotricidade;
são da literatura básica da psicologia escolar/educacional, complemen-
tação de conceitos e conhecimentos já adquiridos durante a formação e
estudos em obras com dados específicos de Consultoria. 11
BAROIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1970.
38 Mariita Bertassoni da Silva Consultoria em psicologia escolar/educacional 39

j) trabalhos envolvendo funcionários e a estrutura da insti- A EFETIV AÇÃO


tuição.
A partir da divulgação, diversas instituições inscreveram-se
A partir desses resultados e das modalidades já ofertadas no
para receber atendimento da Consultoria. Desde então, muitos alunos de
núcleo de prática psicológica (para evitar duplicação da oferta de servi-
psicologia vêm experimentando o desenvolvimento dessa modalidade
ço), optou-se por manter a oferta das seguintes modalidades de atuação
de trabalho psicológico.
na Consultoria:
Os procedimentos adotados para a efetivação das intervenções
Palestras sobre temas variados, voltadas para pais, professores
obedecem aos seguintes passos:
e alunos.
+ contato inicial com o consultado para a investigação da
+ Programas de socialização; demanda, levantamento de expectativas e possibilidades
+ Programas de estimulação e motivação; reais da efetivação do trabalho;
• observação (participante e não participante) em várias ati-
+ Programas de hábitos de estudo;
vidades; aplicação de questionários, realização de entre-
+ Programas de psicomotricidade; vistas; pesquisa documental, entre outras;
+ Atividades com intervenção grupal; + organização das informações e levantamento de hipóteses,
envolvendo questões como:
+ Prontidão para a alfabetização;
a) quais os elementos a serem envolvidos no projeto?;
+ Informação profissional;
b) que métodos usar?;
+ Diagnóstico institucional.
c) que dados deverão ser coletados?;
d) quanto tempo deverá ser disponibilizado para a realiza-
A DIVULGAÇÃO ção efetiva do trabalho?
e) quais as prioridades?;
Uma vez delimitados os aspectos conceituais e os tipos de in-
tervenção possíveis, partiu-se para a etapa de divulgação do serviço.
+ elaboração de projeto amplo, contendo a conclusão
diagnóstica inicial, a ser apresentada ao consultado;
Fôlderes explicativos sobre o funcionamento da Consultoria foram cria-
dos e enviados com o logotipo do escritório, via mala-direta, às escolas + discussão e aprovação (ou não) do projeto apresentado;
particulares e públicas, dos diversos níveis de ensino. Juntamente com
esse material, encaminhou-se uma carta da direção do Núcleo de Prática
+ caso o projeto amplo seja aprovado, elaboração do plane-
jamento específico e pormenorizado da intervenção pro-
em Psicologia, comunicando sobre a criação do serviço e da disponibi-
lidade de visita dos estagiários para complementação de informações. posta;

Simultaneamente, foram veiculadas matérias sobre o serviço + aplicação da intervenção;


em jornais de circulação na capital e interior do Estado e realizada en- + avaliação dos resultados;
trevista sobre o tema em programa de rádio.
+ devolutiva com sugestões de continuidade ao consultado;
O retorno da divulgação foi bastante significativo e os estagiá-
rios fizeram diversas visitas explicativas. + acompanhamento periódico das ações propostas, até o des-
ligamento final.
40 Mariita Bertassoni da Silva Consultaria em psicologia escolar/educacional 41

Para a realização desses procedimentos, é necessário o preparo temas diretamente relacionados à área da Consultoria, como por exem-
dos estagiários, o que implica a aquisição de habilidades para o estabe- plo: Assessoria Educacional", O incentivo à formação de equipes:
lecimento de vínculo c realização do enquadre, já nos primeiros conta- uma ferramenta de intervenção para o consultor educacional!",
tos com o consultado. Uma das técnicas que tem se revelado muito efi- Aluno problema ou aluno com problema? Trabalho com professo-
caz para esse preparo inicial é o role-playing, simulando a primeira res: o auxílio da Assessoria Educacional na modificação da visão do
visita de levantamento da demanda. Após a dramatização, segue-se professor sobre o aluno", Consultoria Escolar/Educacional: proces-
discussão das percepções de desempenho na situação, em que os esta- so, modalidades e a pesquisa como instrumento de trabalh02! e A
giários se dão conta de suas potencialidades e limitações, possibilitando difícil arte de ser consultor ". Também se produziram artigos científi-
o preenchimento de lacunas que poderiam prejudicar a performance na cos, alguns dos quais foram publicados em periódicos idôneos, contri-
situação real. buindo com a ampliação da literatura na área.
Outras habilidades são desenvolvidas nessa prática, a partir de As atividades exigidas no cotidiano dessa modalidade de tra-
ações como estabelecer contrato e negociar valores e forma de paga- balho colocam o estagiário diante de uma realidade que o leva a redi-
mento; elaborar projeto amplo, fornecendo ao consultado dados sufi- mensionar todos os conhecimentos adquiridos até então, articulando-os
cientes para esclarecer a proposta, porém, sem expor procedimentos que de forma nova e criativa. Diferentes exigências ajudam-no no desen-
possam ser utilizados de forma inadequada por pessoas não preparadas volvimento de suas habilidades de percepção e análise de diferentes
para tal; elaborar e encaminhar material de divulgação eticamente cir- situações, aprimoram a objetividade, favorecem a comunicação e rela-
cunstanciado, por meio de diversos veículos de comunicação; organizar ção interpessoal.
cadastro dos clientes, mantendo-os atualizados; realizar pesquisa bi- Também colocam em destaque questões éticas e requerem o
bliográfica e em bases de dados de informações virtuais idôneas, com o desenvolvimento do auto controle em frente das frustrações. Possibili-
intuito de manter atualizadas as informações sobre formas de interven- tam ainda o aperfeiçoamento no domínio do enquadre e das técnicas
ção nos mais diversos tipos de práticas educativas; elaborar relatórios necessárias à efetivação da tarefa. Além disso, o contato com diferentes
de atividades, dentre outras. instituições (consultadas) favorece a conscientização da amplitude da
Em 2006, foi efetivada pelos estagiários nova pesquisa sobre a variedade dos problemas enfrentados pela clientela da Consultoria,
demanda das instituições, com o objetivo de atualização da oferta das assim como reafirma a existência de demanda proveniente da comuni-
atividades da Consultoria, uma vez que algumas mudanças legais e dade, no que se refere a serviços ofertados pela Psicologia Esco-
metodológicas vêm sendo realizadas no âmbito da educação nacional e lar/Educacional.
regional, tais como a ampliação de 08 para 09 anos no ensino funda-
mental, a implantação do pós-médio e a maior oferta de educação para IK
SCARPIM, Â.; PIMENTEL, G. M.; VENTURINI, I.; SILVA, M. B. Assessoria educacional.
adultos, por meio do ElA, assim como a implantação gradativa de pro- 111: XI Seminário de Psicologia Aplicada da PUCPR. Curitiba, novo 200 I.
19
cedimentos inclusivos em escolas de ensino regular, entre outros. FERREIRA FILHO. S. A. M.; SILVA, M. B. O incentivo à formação de equipes: uma
ferramenta de intervenção para o consultor educacional. Trabalho de conclusão dc curso de
A experiência com a Consultoria nesses 12 anos, desde sua graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2002. Não
publicado.
implantação em 1995, como estágio curricular, tem sido bastante posi- 20
FERNANDES, A. R.; SILVA, M. B. Aluno-problema ou aluno com problema") Trabalho
tiva, sendo avaliada tanto pelos alunos como pelos professores como com professores: o auxílio da Assessoria Educacional na modificação da visão do professor
um campo riquíssimo de aprendizagens para o futuro profissional de sobre o aluno. 111: XIII Seminário de Psicologia Aplicada da PUCPR. Curitiba, novo 2003.
21
BRANDT, S. H.; SILVA, M. B. Consultoria escolar/educacional: processo, modalidades c
psicologia. a pesquisa como instrumento de trabalho. Trabalho de conclusão de curso de graduação em
Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2003. Nào publicado.
Muitas instituições da comunidade foram atendidas; várias
CA VINA, R.; SILVA, M. B. A difícil arte de ser consultor. Trabalho de conclusão de
produções acadêmicas foram elaboradas e veiculadas em eventos da curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Parauá, 2007. Não
área da Psicologia, na forma de pôsteres e comunicações orais, com publicado.
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42 Mariita Bertassoni da Silva Consultoria em psicologia escolar/educacional 43

Alguns dos cx-alunos que desenvolveram trabalhos na Con- GUZZO, R.S.L. Novo paradigma para a formação e atuação do psicólogo es-
sultaria como estágio curricular, continuam a exercer essa modalidade colar no cenário educacional brasileiro. 1n: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicolo-
como prática profissional. gia cscolaL LDB e Educação hoje. São Paulo: Alínea, 2002.
LEITE, S. A. da S. O psicólogo na Educação. Revista lnsight, n. 4, fev. 1991.
É possível quc num futuro próximo haja mudanças nesse cená-
rio, por conta do sancionamento da Lei 15.075, datada de 05.05.2006, MALUF, M. R. Formação e atuação do psicólogo na Educação: dinâmica de
transformação. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Psicólogo brasi-
que prevê a existência obrigatória de uma equipe técnica abrangendo o
leiro: práticas emergentes e desafios para a formação. São Paulo: Casa do
pedagogo, o assistente social e o psicólogo nas escolas públicas em
Psicólogo, 1994.
âmbito estadual. É provável que esse fato provoque a reformulação do
MOREIRA, c., PERIOTTO, J.; SECCO, M. de A.; SILVA, M. B. Atendi-
perfil do consultor.
mento à instituição de ensino: consultoria educacional ou organizacional?
Porém, sabe-se também que a implantação de uma lei no Contato, Conselho Regional de Psicologia do Paraná, Curitiba, a. 25, edição n.
Brasil é um processo demorado, não dispensando por um determinado 135, jan./fev. 2006.
período (às vezes bastante longo) as soluções criativas para o benefício NOVAES, M. H. Distúrbios psicossociais do escolar. 1n: CONCEIÇÃO, J. A.
comum. (Coord.). Saúde escolar. A criança, a vida e a escola. São Paulo: Sarvier,
1994.
Referências PATTO, M. H. S. Psicologia e ideologia. São Paulo: Queiroz, 1984.
______ . A produção do fracasso escolar. São Paulo: Queiroz, 1990.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1970. SCARPIM, À.; PJMENTEL, G. M.; VENTURINI, 1.; SILVA, M. B. Assesso-
BLEGER, J. Psico-higiene e psicologia institucional. Porto Alegre: Artes ria educacional. 111: Xl Seminário de Psicologia Aplicada da PUCPR.
Médicas, 1984. Curitiba, novo 2001.
BLOCK, P. Consultoria: o desafio da liberdade. São Paulo: Makron Books, SEVERO, M. C. Estratégias em psicologia institucional. São Paulo: Loyola,
1991.
1993.
BONATO, F. R. c., SILVA, M. B. Consultoria em psicologia educacional: um SILVA, M. B.; GALAFASSI, M. F.; GUERRA, 1.; WOLF, M. Consultoria em
vínculo ernpregatício diferenciado ao psicólogo escolar. Contato, ano 27, n. psicologia educacional: a experiência da ASSED/PUCPR. 1n: Anais do I En-
137, maio/jun. 2006. contro Sul-Brasileiro de Psicologia, Curitiba, 2000,
BRANDT, S. H.; SILVA, M. B. Consultoria escolar/educacional: processo,
WECHSLER, S. M. Consultoria escolar: características básicas. Brasília:
modalidades e a pesquisa como instrumento de trabalho. Trabalho de conclu-
Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, 1989. (mimeo)
são de curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, Curitiba, 2003. Não publicado. WEINBERG, G. Consultoria: o segredo do sucesso. São Paulo: McGraw Hill,
1990.
CA VINA, R.; SILVA, M. B. A difícil arte de ser consultor. Trabalho de
conclusão de curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade Cató- WITTER, G. P. Psicólogo escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e
lica do Paraná, 2007. Não publicado. Bases.1n: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB e Educação hoje.
FERNANDES, A. R.; SILVA, M. B. Aluno-problema ou aluno com problema? São Paulo: Alínea, 2002.
Trabalho com professores: o auxílio da Assessoria Educacional na modificação
da visão do professor sobre o aluno. 1n: XIII Seminário de Psicologia Apli-
cada da PUCPR. Curitiba, novo 2003.
FERREIRA FILHO, S. A. M.; SILVA, M. B. O incentivo à formação de
equipes: uma ferramenta de intervenção para o consultor educacional. Traba-
lho de conclusão de curso de graduação em Psicologia. Pontifícia Universidade
Católica do Paraná, Curitiba, 2002. Não publicado.
GOMES, V. L. da S. A. formação do psicólogo escolar e os impasses entre a
teoria e a prática. 111: GUZZO, R. S. L. (Org.). Psicologia escolar: LDB e
Educação hoje. São Paulo: Alínea, 2002.

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