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Projectivos
TAT
Tópico ...................................................................................................................................... 10
Dinâmico ................................................................................................................................. 10
Económico ............................................................................................................................... 10
A Metodologia ............................................................................................................................. 19
O Material ............................................................................................................................... 19
Cartão 1 ............................................................................................................................... 20
Cartão 2 ............................................................................................................................... 22
Cartão 4 ............................................................................................................................... 25
Cartão 5 ............................................................................................................................... 26
Cartões 6 e 7............................................................................................................................ 27
Cartão 10 ............................................................................................................................. 34
1
Cartão 11 ............................................................................................................................. 36
Cartão 19 ............................................................................................................................. 40
Cartão 16 ............................................................................................................................. 41
Decomposição ............................................................................................................................. 42
A Série A .................................................................................................................................. 44
A2 ........................................................................................................................................ 46
A21 – Descrição com apego aos pormenores (alguns raramente evocados), incluindo
expressões e posturas ......................................................................................................... 46
A210 – Elementos de tipo formação reactiva (limpeza, ordem, ajuda, dever, economia,
etc.)...................................................................................................................................... 50
2
A214 – Alteração brusca de direcção no curso da história (acompanhada ou não de pausa
no discurso) ......................................................................................................................... 51
A216 – Grande pormenor (D) e/ou pequeno pormenor (Dd) evocado e não integrado ..... 52
A Série B .................................................................................................................................. 54
B27 – Oscilação (vai e vem) entre desejos contraditórios. Fim com valor de realização
mágica do desejo................................................................................................................. 57
B28 – Exclamações (1), comentários, digressões (2), referências/ apreciações pessoais (3)
............................................................................................................................................. 58
B29 – Erotização das relações, invasão da temática sexual e/ou simbolismo transparente
............................................................................................................................................. 58
B211 – Instabilidade nas identificações. Hesitações sobre o sexo e/ou idade das
personagens ........................................................................................................................ 59
B212 – Acento inscrito numa temática do estilo: ir, correr, dizer, fugir, etc., num contexto
dramatizado ........................................................................................................................ 60
C/Fo ..................................................................................................................................... 62
C/Fo 4 – Motivos dos conflitos não indicados, relatos banalizados a todo o custo,
impessoais, colagem ........................................................................................................... 63
C/N....................................................................................................................................... 64
C/M...................................................................................................................................... 68
C/C ....................................................................................................................................... 69
C/Fa ..................................................................................................................................... 71
A Série E................................................................................................................................... 73
E4 – Falsas percepções......................................................................................................... 75
E5 – Percepção sensorial...................................................................................................... 75
5
E15 – Clivagem do objecto ................................................................................................... 79
Síntese ......................................................................................................................................... 83
Legibilidade ......................................................................................................................... 84
Problemáticas ...................................................................................................................... 85
Registo Psicótico...................................................................................................................... 92
Esquizofrenia ....................................................................................................................... 94
Melancolia ........................................................................................................................... 94
Paranóia .............................................................................................................................. 95
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O TAT
O Teste de Apercepção Temática (TAT) surgiu em 1935 com Murray. O termo
apercepção é de Leopoldo Ballak. É uma percepção especial. Tem a ver com o
sentido que o sujeito dá a cada uma das imagens em função de vários factores,
nomeadamente da memória afectiva de situações semelhantes pelas quais o sujeito já
passou.
Na sua forma original, o TAT era composto por 31 imagens administradas em duas
vezes, podendo ser divididas em séries destinadas aos adultos homens e mulheres e
aos rapazes e raparigas com idades superiores a 10 anos. Estas imagens
representam personagens de idades e sexos diferentes, colocadas em situações
relativamente determinadas mas que deixam também lugar a interpretações, ou ainda
paisagens ou ainda paisagens pouco estruturadas. O sujeito era convidado a imaginar
uma história, tão rica e dramática quanto possível, que desse conta do presente,
passado e futuro, bem como dos sentimentos das personagens postas em cena. Os
encorajamentos, questões e apreciações eram autorizados, para que o sujeito
fornecesse o máximo de material significativo dos seus conflitos inconscientes.
Na sua obra Explorations in personality (1938), Murray expõe o seu sistema teórico
centrado na dualidade entre as necessidades (tudo o que o sujeito deseja) e as
pressões (tudo o que se opõe à satisfação desses desejos), onde exprimia as suas
próprias necessidades, representando as outras personagens o meio de vida no qual o
sujeito sentia a pressão.
Foi Bellak (1954), da escola americana, quem recolocou o TAT nos eixos da teoria
psicanalítica, ao acentuar a segunda tópica (Id/Ego/Superego), o papel do Ego e as
suas funções, as resistências e as defesas. Bellak iniciou a revisão do TAT.
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Foram levadas a cabo outras tentativas de modificação do método de H. Murray por
Rotter (1940), Rapaport (1946, 1947), Tomkins (1947), Wyatt (1947, 1958), Piotrowski
(1950), Symonds (1951, 1954) e Henry (1956). Estes autores propuseram vias
diferentes: permaneceram ligados ao “herói” mas estabeleceram novas classificações
das necessidades.
Schafer revolucionou a forma de análise do TAT com um artigo cujo título era
“Como é que a história foi contada?”. Entendeu que tão ou mais importante que
analisar o conteúdo é a forma como o sujeito diz as coisas. Considerava que o lado
formal do discurso dava conta do drama pulsional e das defesas usadas pelo sujeito.
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sem confundir a situação psicanalítica com a situação TAT, as associações livres
obtidas na cura e as fantasia espontâneas dadas no TAT.
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Os conceitos psicanalíticos e a sua articulação com a
Teoria do TAT
A metapsicologia freudiana consiste em ver a análise psicológica sob três pontos de
vista:
Tópico
O ponto de vista tópico tem a ver essencialmente com o equilíbrio entre os
processos primários e os secundários, entre os movimentos progrediente e
regrediente. Deste ponto de vista, o fundamento de um relato “bem sucedido” não
reside no predomínio o processo secundário sobre o processo primário. Se a história
deve obedecer à secundarização, ela deve igualmente admitir uma ressonância
fantasmática. Uma história só pode ser criada se estes dois procesos se conjugarem.
Dinâmico
O ponto de vista dinâmico pressupõe o conflito entre uma questão e uma resposta,
entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. A instrução apela a uma
representação-alvo consciente e uma representação-alvo inconsciente, reactivada
pelas solicitações latentes do material. Assim, pode dizer-se que um
sobreinvestimento fantasmático maciço do percebido constitui um dos maiores
obstáculos à solução do conflito entre a representação-alvo consciente e a
representação-alvo inconsciente.
Económico
O ponto de vista económico refere-se à distribuição da energia consumida nos
conflitos defensivos contra as ideias e afectos desagradáveis. Deste modo, dever
haver uma boa distância, conveniente par ligar os afectos e as representações e
permitir a criatividade. É preciso perceber se a energia se distribui harmoniosamente,
chegando a uma variedade flexível ou se, pelo contrário, o aparelho defensivo fica
reduzido a uma ou duas modalidades exclusivas, mobilizando, ou mesmo esgotando,
a energia em detrimento da criação.
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Segundo Freud, só pode haver pensamento secundário (de qualidade) com pouca
energia psíquica. Por exemplo, uma pessoa enraivecida não pensa, reage
instintivamente. Assim, só pode haver uma história bem contada com um grau de
secundarização aceitável se houver pouca quantidade de energia. Paralelamente, é
igualmente preocupante se não houver qualquer tipo de energia.
Representações e Afectos
As representações e os afectos absorvem tudo o que é da ordem da fantasia
inconsciente reactivada pelo material. Por outro lado, há também a fantasia consciente
induzida que é a história construída pelo sujeito.
Assim sendo, como definir uma representação? Uma representação é aquilo que
forma o conteúdo concreto de um pensamento e a reprodução de uma percepção
anterior. Quando essa representação consiste num reinvestimento de traços mnésicos
mais ou menos ligados a uma coisa, trata-se de uma representação de coisa. A
representação de coisa, que caracteriza o sistema inconsciente, reaviva a inscrição de
um acontecimento.
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as acompanha e cujo retorno pode ser temido. O afecto também é uma forma de
memória.
No TAT isto significa construir uma história com a ajuda de uma linguagem estável
e coerente. Com efeito, a história contada pelo sujeito atestará o compromisso entre a
representação inconsciente reactivada pelo material e os imperativos conscientes –
contar uma história. Está-se, assim, perante uma fantasia inconsciente: fantasia na
medida em que as raízes mergulham nas representações e afectos inconscientes;
consciente na medida em que os organizadores do Ego possibilitam a secundarização.
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O dilema no TAT é o de estabelecer uma espécie de compromisso ideal entre os
imperativos conscientes e os imperativos inconscientes.
após uma análise aprofundada da situação que os engendra. Esta situação TAT
compreende três parâmetros:
O Material
O material é constituído por uma série de imagens apresentadas ao sujeito.
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solicitações latentes que reactivam os traços mnésicos individuais, em relação com os
fantasmas originários, ao fazer apelo ao princípio do prazer. As situações latentes da
imagem desencadeiam uma regressão e representações inconscientes
acompanhadas de afectos que lhes estão ligados.
A Instrução
A instrução original era “Imagine uma história rica e dramática com sentimentos e
que tenha em conta o passado, o presente e o futuro”. Actualmente, a instrução é
muito lacódica e próxima do Rorschach. Quanto menos instrução se der, mais o
sujeito está condenado a ser livre.
A Presença do Clínico
A neutralidade do clínico é necessária mas é mais um fim a atingir do que um dado
imediato. A neutralidade é posta em causa pelo sujeito devido às reacções
transferenciais da situação. Esta também é posta em causa pelo clínico uma vez que o
seu comportamento consciente e inconsciente inflecte o modo de reacção do sujeito. A
compreensão do clínico passa não só pelo conhecimento mas também pela
disposição a compreender. O clínico deve estar presente de um modo neutro, não
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intervir, não colocar questões, abster-se de qualquer julgamento e de qualquer relação
real mas, ao mesmo tempo, impor o material e a instrução e transcrever as propostas
do sujeito, o que faz dele o representante da fantasia e da realidade.
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anedóticas, mas os modos particulares e sempre singulares do funcionamento do
indivíduo em qualquer situação geradora de conflito.
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Aplicação da Prova
O TAT é normalmente aplicado a partir dos 9 anos.
Deve medir-se o tempo, tanto o tempo de latência como o tempo total por cartão.
As características temporais não podem ser interpretadas em termos de eficiência ou
de realização, mas sim como referências clínicas que mostram a menor ou menor
reactividade do sujeito ou, pelo contrário, a sua tendência para a inibição. É preciso
perceber quais são os efeitos específicos de cada cartão, se o sujeito tem tendência
para reflectir ou para se precipitar no relato.
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oferta de suporte, de apoio ou se, pelo contrário, são sentidas como inibidoras,
intrusivas ou persecutórias.
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A Metodologia
O TAT pode ser proposto em qualquer situação de exame psicológico em que se
pretenda o aprofundamento do funcionamento psíquico de um indivíduo.
O Material
Da edição original de 31 cartões, só são considerados os mais pertinentes e
significativos: os cartões 1, 2, 3BM, 4, 5, 8BM, 10, 11, 12BG, 13B, 9 e 16 propostos a
rapazes e raparigas, homens e mulheres. Para além disso, os cartões 6BM/7BM são
propostos aos rapazes e homens; os cartões 6GF/7GF e 9GF são propostos a
raparigas e mulheres; e o cartão 13MF é proposto unicamente aos sujeitos adultos,
homens e mulheres.
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A instrução dada é “Imagine uma história a partir do cartão”. A instrução é dada no
início e não é repetida. Não há inquérito para cada cartão no final da aplicação mas,
no decurso da aplicação, face a um sujeito muito inibido e/ou com grande mal-estar,
podem colocar-se algumas questões.
Número do Cartão
e
Análise do Material
I Cartão
Rapariga 1
d
a
d
e
Para que a criança imatura possa ser representada como “capaz de utilizar o
instrumento” é necessário que veja a sua integridade e a do violino: a percepção da
criança deve remeter para uma representação humana inteira, não defeituosa; o
20
violino deve ser identificado como um objecto não atingido na sua identidade, não
partido e não estragado. Isto atesta a capacidade do sujeito se situar inteiro face a
um objecto inteiro.
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Cartão 2
Há casos em que o conflito não se desenrola numa relação triangular mas sim dual,
em que a rapariga está numa situação de dependência em relação ao casal de
camponeses que figuram o casal parental. Quando, pelo contrário, os processos
identitários são pouco estáveis, aparece uma pseudotriangulação que vem substituir-
se à diferença de sexos.
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precaridade dos investimentos libidinais e manuseamento da agressividade mal
gerida).
Cartão 3BM
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conflito posiciona-se entre o desejo e os interditos superegóicos que ameaçam o laço
de amor com as figuras parentais. A depressão é então dominada pelo sentimento de
culpabilidade e pelo medo inconsciente de um castigo.
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Cartão 4
Tal como os cartões 6BM, 6GF e 7BM, este cartão está estruturado pela diferença
de sexos, prestando-se com menos facilidade a associações regressivas.
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rivalidade das duas mulheres pelo homem. O movimento de saída pelo homem pode
ser, então, interpretado como significativo do desejo de encontrar esta outra mulher.
Cartão 5
Conteúdo latente: Reenvia para uma imagem materna que penetra e olha, que
não pré-julga sobre o registo conflitual no qual o sujeito se vai situar, pois as
modalidades de relação à imagem materna são múltiplas.
A mãe pode ser vivenciada como uma instância superegóica que vem surpreender
uma cena transgressiva (o cartão reactiva a curiosidade sexual e os fantasmas da
cena primitiva e a culpabilidade ligada à masturbação).
Por outro lado, podem surgir fantasmas incestuosos ligados a uma imagem
materna sedutora: mulher que mostra a perna nua por entre a racha da saia.
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culpabilidade, daqueles que remetem para uma cena de sedução reactivada no aqui e
agora da aplicação.
Cartões 6 e 7
Estes cartões reenviam para as relações com as imagens materna e paterna no
seio de uma problemática edipiana.
27
Cartão 6BM
Num registo mais arcaico de relação com a imagem materna, podem observar-se
fantasmas de realização incestuosa que se traduzem pela ausência da percepção da
diferença de geração, por estados de grande excitação ou de desorganização parcial
28
através de temas de destruição ou de morte que dão conta do perigo de aproximação
mãe-filho.
Cartão 6GF
Conteúdo latente: Este cartão remete para um fantasma de sedução. Põe à prova a
capacidade de integrar a identificação feminina no seio de uma relação de
desejo.
29
Cartão 7BM
30
Cartão 7GF
Conteúdo manifesto: É uma mulher com um livro na mão, inclinada para uma
menina com expressão sonhadora, que segura um boneco nos braços. A diferença de
gerações é acentuada pela presença da boneca. A imaturidade funcional caracteriza a
posição da menina.
Interessa aqui a qualidade dos laços “mãe-filha”, que se traduz pela forma como
o boneco é agarrado pela criança. A reactivação das relações precoces mãe-filha
arrasta movimentos de projecção e deslocamento sobre a relação “menina-boneco”:
os temas de queda podem ser interpretados em referência ao holding de Winnicott.
Aqui, o que está em jogo é a capacidade de representar uma “mãe
suficientemente boa”.
31
Cartão 8BM
Cartão 9GF
Uma dimensão mais rara, mas que não deve ser negligenciada, é a que reenvia
para a ambivalência na relação mãe-criança, não como objecto persecutório mas
33
como um objecto que sustém. O olhar desempenha, então, um papel de suporte e de
apoio em relação à segunda personagem que corre.
Por vezes, o confronto com a relação entre as duas mulheres arrasta emergências
agressivas facilitadas pelo material e susceptíveis de introduzir problemáticas mais
arcaicas. A parecença entre as duas mulheres pode arrastar dificuldades para os
sujeitos cuja identidade é vaga e frágil. As duas jovens mulheres, mal diferenciadas,
são tomadas num sistema de identificação narcísica, com um evitamento total do
conflito. Por outro lado, a paisagem marítima pode reactivar fantasmas de relações
arcaicas perigosas ou até mortíferas, onde surgem temas de ameaça vital em primeiro
plano. Os temas de destruição e de morte podem aparecer através da evocação de
afogamento ou de tempestade.
Cartão 10
As personagens são representadas com uma parte dos rostos na sombra. Para que
possa haver reconstrução da integridade destes rostos, é necessário que o sujeito seja
capaz de os perceber e que tenha à sua disposição uma representação íntegra da
imagem do corpo. As partes do rosto na sombra não podem ser reconstruídas e
integradas numa representação completa por sujeitos que sofrem de angústia
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de fragmentação ou de desintegração. A ausência de uma figuração interna de um
objecto total, torna possível a sua reconstrução a partir de um estímulo parcial.
35
Cartão 11
Conteúdo latente: O cartão é angustiante, a angústia deve ser sentida como tal, e o
seu não reconhecimento constitui um índice patológico em todos os casos. Evoca o
combate contra a natureza, representada nos seus aspectos perigosos, o que remete
para a evocação das relações com a mãe natureza, isto é, com a mãe arcaica. O
cartão reactiva materiais psíquicos de ordem pré-genital, pelo que se espera encontrar
relatos de fantasmas arcaicos, mesmo que as representações que deles dêem conta
possam aparecer em termos elaborados.
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simbolização permitem a construção de um relato que se assemelha ao relato do
sonho.
Cartão 12BG
Cartão 13B
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Sendo que esta imagem reactiva angústias de separação e de perda de objecto,
espera-se que os afectos depressivos surjam e que sejam associados a
representações de perda. Contudo, por vezes surgem defesas maníacas através de
relatos organizados à volta da luta antidepressiva.
Cartão 13MF
Este cartão não é aplicado antes do 14-15 anos, dado o carácter cru do material
manifesto.
39
relacionados com a expressão da sexualidade e da agressividade, mostram a
oscilação entre o desejo, a libertação pulsional e a defesa em termos de interdito e de
culpabilidade.
Cartão 19
Conteúdo manifesto: Representa uma paisagem som uma casa sob a neve, ou uma
cena marítima com um barco na tempestade, rodeados de formas espectrais e vagas.
Os contornos entre o negro e o branco permitem uma delimitação psíquica entre
dentro e fora.
Conteúdo latente: Tanto o mar como a neve são referências à natureza que
remetem para a imago materna. Reactiva uma problemática pré-genital na
evocação de um continente e de um meio, que permitem a projecção do bom e do
mau objecto. Incita ainda à regressão e à evocação de fantasmas fobogénicos.
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assegurar a clivagem entre o bom e o mau objecto: guardar o bom no interior e
expulsar o mau para o exterior.
Cartão 16
Conteúdo latente: Reenvia para a forma como o sujeito estrutura os seus objectos
privilegiados e às relações que com eles estabelece. A sua dimensão transferencial é
intensificada uma vez que o material não é figurativo e se trata do último cartão a ser
proposto. Este cartão é muito importante devido às dificuldades em o interpretar e à
variedade de solicitações que implica.
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Decomposição
Só depois de estudar tudo sobre o processo TAT é que foi possível criar uma
metodologia séria e correcta. Esta metodologia está sintetizada na chamada folha de
análise do TAT, que é um instrumento precioso para ajudar a identificar os
procedimentos que o sujeito utilizou para construir a história. Mais do que o conteúdo,
interessa analisar a forma das histórias.
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PROCEDIMENTOS DA SÉRIE A (Controlo)
A0 Conflitualização intrapessoal
A1
1. Descrição com apego aos pormenores (alguns raramente evocados), incluindo expressões e posturas.
2. Justificação das interpretações através desses pormenores.
3. Precauções verbais.
4. Afastamento temporo-espacial.
5. Precisões numéricas.
6. Hesitações entre interpretações diferentes.
7. Vai e vem entre a expressão pulsional e a defesa.
8. Mastigação, ruminação.
9. Anulação.
10. Elementos de tipo formação reactiva (limpeza, ordem, ajuda, dever, economia, etc.).
11. Denegação.
12. Insistência no fictício.
A Série A
13. Intelectualização (abstracção, simbolização, título dado à história em relação com o conteúdo
As séries A e B agrupam os procedimentos que remetem para processos de
manifesto).
elaboração do discurso susceptíveis de serem sustentados por mecanismos de defesa
14. Alteração brusca
neuróticos. de direcção no
Testemunham curso
uma da história (acompanhada
conflitualização ou não
intrapsíquica, de pausa
o que no discurso).
dá conta de um
15. Isolamento de elementos
espaço interno ou personagens.
constituído, claramente diferenciado, e que permite o desenrolar e a
16. Grande pormenor
dramatização e/ouconflitos.
dos pequeno pormenor evocado
Isto significa e não
que integrado.
estes procedimentos implicam a
17. Acento inscritodenos
constituição umconflitos
aparelho interpessoais.
psíquico evoluído (Id, Ego e Superego diferenciados) com
capacidade de contenção dos conteúdos.
Cartão 3BM – “Um rapaz que acabou de ler um capítulo de um livro de aventuras e
está a imaginar as cenas do livro de Jack London.”
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A2
Os procedimentos A21 e A22 marcam o investimento no quadro perceptivo. Se o
apego à realidade acontecer de vez em quando é natural, mas se as histórias forem
construídas com base nisto, há aqui algo de demasiado perceptivo.
É normal que nesta prova seja necessário algum apego ao conteúdo manifesto,
pois o TAT põe em jogo os mecanismos perceptivos, mas é importante distinguir os
diferentes modos de apreensão entre si, pois é da sua qualidade que depende a
distinção entre campo da neurose e os outros registos de funcionamento. O critério
essencial consiste em saber se a descrição do conteúdo manifesto serve de base para
a conflitualização e dramatização. Assim, considera-se um A2 sempre que a descrição
do material a partir de pequenos pormenores seja retomada num segundo tempo, no
seio de uma conflitualização efectiva entre a defesa e a emergência de
representações e afectos.
Cartão 1 – “O pai ofereceu um violino ao rapaz e agora ele está curvado, com os
olhos semi-cerrados, sentado com as mãos a segurar a cabeça.”
46
Dd: Todo o mobiliário, jarra com
Cartão
D: Uma personagem, uma mulher. flores, livros, estante, mesa,
5
candeeiro, aparador.
Cartão
D: Duas personagens: dois homens. Dd: A indolência do jovem.
7BM
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Dd: Pés descalços, obscuridade
Cartão D: Uma personagem: um rapaz e uma
do interior da casa, casa feita com
13B casa.
tábuas desunidas.
Cartão
D: Uma folha branca. Dd: Não há Dd.
16
Cartão 1 – “O rapaz está triste porque está curvado, sentado com as mãos a
segurar a cabeça, …”
Cartão 2 – “É uma cena que se passa numa quinta nos finais do século XIX. A filha
do dono da quinta passeia-
48
Cartão 3BM – “Um homem está preso. Foi condenado à morte numa prisão do
A presença deste procedimento, que tem a ver com a dúvida, aparece muito na
neurose obsessiva.
Cartão 1 – “Então é preciso encontrar uma interpretação desta imagem. Pode ser
ou uma criança ajuizada face ao trabalho a realizar, ou aquele que está diante de um
trabalho não acabado, ou a espera de um professor, ou a saída.”
Cartão 8BM – “Dir-se-ia que se opera alguém... Dir-se-ia que se opera alguém (tom
um pouco inquieto) … Isto não me inspira nada mais… uma operação. Não se trata,
de qualquer forma, de um pôr no caixão, não é verdade? É mais, na minha opinião,
tratamentos… uma operação… Alguém que está deitado e que está a ser tratado… O
que eu não entendo é este homem vestido de maneira diferente e que não olha,
manifestamente muito triste.”
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A28 – Mastigação, ruminação
Consiste em voltar continuamente sobre os mesmos elementos do tema, sem que
haja verdadeiramente progressão no relato. Este procedimento pode acompanhar o
precedente e é também característico da neurose obsessiva.
Cartão 5 – “É uma mulher que entra num quarto de dormir de um dos seus filhos…
Ainda que a mesa não seja uma mesa de quarto de dormir… Ou então uma mulher
que vem avisar que o jantar está servido ou que entra no escritório do seu marido, que
recebe uma visita… Ainda que a mesa não seja uma mesa de escritório. O candeeiro
não é um candeeiro de sala, é um candeeiro de quarto… há muito poucos livros nas
estantes para que seja um gabinete de trabalho… Isto pode ser, pelo contrário, alguns
livros que se têm no quarto.
A29 – Anulação
Declarar nulo e não surgido o conflito evocado. A anulação apaga o representante
pulsional.
Cartão 3BM – “É um rapaz muito triste. Não, não é isso! Ele está a jogar às
escondidas.”
Cartão 5 – “a porteira acaba de subir a casa de Madame Durand para a avisar que
o seu rapazinho acaba de cair na rua e magoar-se. Ela aproveita para dar uma
olhadela no apartamento que está limpo e arrumado. A mãe desce, e só será um falso
alarme.”
A211 – Denegação
Ao formular um dos seus desejos, sentimentos ou pensamentos, o sujeito continua
a defender-se deles ao negar que eles lhe pertencem.
50
Cartão 1 – “Este miúdo não está nada chateado com o pai por ele o ter obrigado a
tocar violino.”
Cartão 3BM – “Faz lembrar o suicídio. O filósofo francês dizia que o suicídio...”
Abstracção
51
Cartão 8BM – “Ali atrás há dois médicos que operam um rapaz que imagina como
é que vai ser a operação. Isto dá mais ar de o assustar, porque o outro tem ar de
sofrer na mesa. Olha, há uma espingarda ali.”
Cartão 3BM – “Uma pessoa que tem um ar abatido… ao pé de uma cama, ela
poisa o seu braço direito estendido sobre a cama e pousa a cabeça na concavidade
do cotovelo. É uma mulher. Agora… Há um objecto pequeno à esquerda, mas não
vejo o que é. Não vejo a razão da tristeza, mas a atitude está lá.”
Cartão 8BM – A pessoa diz “Está ali uma espingarda!” mas, ao contar a história,
não menciona a arma.
Cartão 3BM – “É uma pessoa que está completamente desesperada, que está no
chão, um braço num sofá, que está a chorar… e ao lado dela está uma pistola e ela
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pergunta-se se se deve matar ou não… ela não sabe o que deve fazer. Eu penso que
ela não se matará, que se vai levantar e retomar coragem.”
Cartão 1 – “O pai deu-lhe o violino, ele tentou tocar mas não conseguiu. Está
ligeiramente aborrecido.”
Cartão 13MF – “É um homem que encontra a sua mulher morta. Ele está
desgostoso.
B0 Conflitualização interpessoal
B1
B2
A Série B
Nos procedimentos da série B, ainda que tendo em conta o conteúdo manifesto e
as solicitações latentes do cartão, o relato elaborado pelo sujeito corresponde a uma
criação mais pessoal, na qual o sujeito introduz elementos originais. Nestes
procedimentos há um abaixamento do controlo, pelo que as histórias são mais
atractivas e coloridas de afectos e representações.
Cartão 1 – “Esta criança, que sente em si um gosto pela música, tem o pai e o tio
que vêm tocar numa reunião familiar. Esta criança está perturbada. Ele tem dons, é
filho e neto de músicos. Quando toda a gente partiu, ele sentou-se diante do violino
sem ousar tocar-lhe. Pensa e quer tornar-se um grande virtuoso. Diz-se: “Aqui está,
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encontrei a minha vocação!” Fala disso com os pais e pede-lhes para ter lições. Os
pais ficam comovidos e felizes.”
Cartão 2 – “São universitários fartos da vida que levam. Povoaram uma aldeia na
Beira Baixa e constituíram uma comunidade.”
Cartão 1 – “O miúdo está com o violino no quarto. Foi o pai que lho deu.”
Cartão 4 – “Temos aqui uma ruptura. Um homem vem anunciar à sua amante que
a vai deixar e esta, desesperada, agarrando-se a todo o passado em comum, àquilo
que foi a sua felicidade, tenta retê-lo. Mas a resolução do homem está tomada, ele não
se deixará comover com os seus lamentos e deixá-la-á.”
55
Cartão 3BM – “É uma mulher que chora porque acaba de perder um ente querido.
Ela encontra-se só com o seu desgosto, só com as suas lembranças e a imaginar
como é que ela vai poder continuar a viver sem aquele ser, ao qual estava tão ligada.
Com a ajuda do tempo, ela conseguirá recompor-se e retomar de novo as suas
ocupações, mas a recordação ficará gravada na sua memória para sempre.”
Cartão 2 – “É uma rapariga desejosa de sair do campo. Está farta daquela vida.”
Cartão 4 – “É uma mulher que discute com o marido e diz-lhe: “Suplico-te, não te
vás embora! Peço-te desculpa pelo que te disse há pouco…” Mas ele, maldosamente
diz-lhe: “É tarde demais, está tudo acabado!””
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B24 – Expressão verbalizada de afectos fortes ou exagerados
O afecto expresso de uma forma um pouco teatral ocupa, por vezes, o lugar e o
espaço da representação e, em qualquer caso, acompanha-a.
Cartão 3BM – “É uma pessoa que está muito aflita, com palpitações. Sente-se tão
mal que até pensa que pode morrer.”
B25 – Dramatização
Narrativa onde o sujeito sente prazer em encenar acontecimentos, relações entre
as personagens, de uma forma mais ou menos teatral. Na neurose histérica há
sempre uma dramatização fortíssima.
Cartão 4 – “A mulher está aos gritos a dizer que ele não a pode deixar… Diz-lhe
que há 30 anos que estão juntos, que têm filhos e que não se podem separar…
desfalece...”
Cartão 4 – “A mulher é rica e gosta dele. Ele, por ser pobre, acha que nunca vai ser
possível terem uma relação socialmente aceite.”
Cartão 6BM – “O filho tenta fazer as pazes com a mãe, mas ela, que é má, não
aceita para o fazer sofrer.”
B27 – Oscilação (vai e vem) entre desejos contraditórios. Fim com valor
de realização mágica do desejo
Consiste na oscilação entre a expressão do desejo e a defesa: a defesa refere-se à
expressão do desejo libidinal (Id) interdito pelo Superego. O desenrolar responderá ao
princípio do prazer – à omnipotência do desejo e não ao princípio da realidade.
57
Cartão 1 – “Aqui, é um rapaz que queria muito tocar violino, que deve ter tido um
choque, ficou deprimido e não quis tocar mais. Mas ele tem ainda vontade, não pode,
é mais forte do que ele, mas no fundo ele tem vontade de tocar. No fim, isto conclui-se
que ele vai com certeza tocar e que será feliz.”
Cartão 2 – “A filha do dono da quinta vive na cidade, mas sempre que vai à quinta
tenta ir ver o rapaz de quem sempre gostou. Como todos são contra, há sempre uma
velha criada que anda atrás dela para permitir que eles se envolvam devido à
diferença social entre eles. Mas o rapaz vai-se embora e, um dia, volta rico. Assim, já
poderão ser felizes sem impedimentos.”
Cartão 5 – “Esta é uma pessoa adulta que entra no quarto de uma criança, por
inquietação, curiosidade. Ela tenta ver rapidamente se tudo vai bem. E depois, ela vai
fechar a porta, após ter reparado neste ramo de flores pessoal, que não lhe era
destinado. É um pouco um segredo entre a criança e ela. Quando a minha avó entra
no meu quarto ela exaspera-me [ri].”
apreciações pessoais
Cartão 11 – “Oh! Meu Deus! Quadro fantástico! É um animal pré-histórico, não sei
qual. Restos de um castelo-forte do outro lado. Há uma batalha com os homens e os
animais monstruosos. Eles acabarão por triunfar.”
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sujeito não fala explicitamente na erotização mas dá sinais de que a erotização está
presente.
Cartão 5 – “É uma mãe que entra no quarto do seu filho, à noite, já muito tarde,
porque ela pensa ter ouvido um barulho no quarto dele e encontra-o a ler um livro em
voz alta. Fica muito surpreendida que o filho fica até tão tarde a ler poesias. O filho
continua a fazer isso durante vários anos, até que ele ultrapassa a idade do
romantismo e torna-se… um professor.”
Cartão 8GF – “É uma mulher que está em casa, sozinha e aborrecida. Vestiu uma
camisa nova que comprou e está a ver-se ao espelho para ver se está bonita porque
foi convidada para sair.”
Cartão 10 – “Michel e Jeanne são um casal de uns cinquenta anos. Uma grande
afeição e uma grande cumplicidade parece uni-los, mesmo nos momentos difíceis.
Michel parece ser um marido protector e Jeanne está feliz por poder apoiar-se e
repousar-se nele.” -se ao final sem perceber se o sujeito se identifica mais
com o homem ou com a mulher.
B212 – Acento inscrito numa temática do estilo: ir, correr, dizer, fugir,
etc., num contexto dramatizado
Acento posto num “agir corporal”, num movimento um pouco teatral e a maior parte
das vezes erotizado.
Cartão 2 – “É uma rapariga que foi passar férias com as amigas. Depois vai
passear sozinha e vê um homem semi-nu. Excitadíssima vai chamar as amigas para
que elas também o vejam.”
Cartão 3BM – “Uma rapariga descobriu que está grávida. Ela está em pânico
porque já sabe que a vão pôr fora de casa.”
Cartão 11 – “Esta cena passa-se numa serra. Um grupo de pessoas foi fazer
montanhismo mas, a certa altura, houve um derrubamento e instalou-se o pânico.
Começam então todos a gritar e a fugir.”
60
PROCEDIMENTOS DA SÉRIE C (Evitamento do conflito)
C/Fo
C/Fo
Na sub-série C/Fo, os procedimentos revelam arranjos fóbicos, onde dominam o
evitamento e a fuga. A associação com os procedimentos da série A e/ou da série B
assinala a natureza neurótica do conflito. Em pequenas quantidades, estes
procedimentos permitem o prosseguimento do relato (as representações e afectos
vão reaparecer sob a forma de retorno do recalcado). As narrativas elaboradas
mantêm uma certa espessura simbólica, uma certa ressonância fantasmática em
relação com as solicitações latentes do cartão. Contudo, estes procedimentos não têm
significado diagnóstico unívoco e podem dar conta de outras modalidades de
funcionamento para além das neuróticas.
Cartão 1 – [60’’]“Um rapaz diante do seu violino +++. Eu não sei, eu, ele pensa +++
o seu pai é talvez músico e ele quer torna-se músico +++ ou, ao contrário, esta
guitarra fá-lo sonhar +++ produzir concertos +++ não sei +++. Ele tem ar de
nostálgico.”
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Cartão 3BM – “Isto, é uma pessoa que tem, não sei… que tem um sofrimento
qualquer… não sei, é difícil…”
Cartão 5 – “Uma mulher que entra em casa… que descobre qualquer coisa de
inabitual +++. É tudo o que eu vejo.”
Cartão 3BM – “[1’25’’] [?] Não vejo nada…[?] [1’42] É um rapaz que acaba de ter
uma disputa, se ele chora, vai parar.”
Cartão 4 – “Um casal a discutir. Entre marido e mulher não se mete a colher.”
colagens podem aparecer sob a forma de ditos populares
63
C/Fo 5 – Necessidade de questionar. Tendência recusa. Recusa
Este procedimento diz respeito a toda a necessidade, por parte do examinador, de
intervenção para solicitar a continuação ou o final da história, ou mesmo os dois
casos. Também engloba a rejeição do cartão e a recusa em contar uma história. Este
procedimento é claramente fóbico.
Cartão 3BM – “É uma pessoa que está cansada. Não sei o que é preciso dizer…
[?] Não sei, ela parece abatida… +++ Recebeu uma má notícia… +++ [?] Não sei…
+++ Sobre a sua família, a sua situação, não sei… +++ Ela pode recompor-se, se tiver
coragem, ou não.”
Cartão 3 – “Um homem foi abandonado pela mulher. Tem uma pistola ao lado.”
depois de dizer isto, cala-se como se isso lhe despertasse o fantasma de matar a
mulher
Cartão 11 – “Na serra, um grupo de montanhistas vão ter que atravessar uma
ponte… mas aquela ponte está em ruínas… Não é segura…”
Cartão 11 – “Não vejo o que possa ser… + Um caminho cheio de pedras que
conduz a uma fortaleza, uma tempestade… relâmpagos, ma espécie de monstro. É
tudo.”
C/N
Os procedimentos da sub-série C/N foram destacados por F. Brelet (1981-1983) a
propósito das personalidades com traços narcísicos graves. Esta sub-série reenvia
para modalidades narcísicas do funcionamento psíquico e para o
sobreinvestimento da polaridade narcísica do fantasma. O corpo passa a ser
utilizado para comunicar e produzir sentido.
64
Utilizados de modo pontual, estes procedimentos servem para a evocação de um
conflito dramatizado sobre um modo mais secundarizado, onde os movimentos
pulsionais são metabolizados ou se traduzem num retraimento libidinal narcísico.
Cartão 6BM –“Eis um homem que teve demasiadas dificuldades na vida. Sempre
sozinho e a ter de fazer face a tudo, ele não aguenta mais, gostaria que o ajudassem,
que o compreendessem, mas fica sozinho com o seu desgosto.”
C/N3 – Afecto-título
Aqui o sujeito acentua os afectos de tal forma que intitula a história com o afecto.
Cartão 6BM – “A angústia da espera. Mas a mãe é visivelmente um pouco tola. Ela
espera… O que é que podia ter-lhe acontecido? O rapaz da direita tem qualquer coisa
em mente, de bem definido… Há no fundo um assunto sentimental. Ele tem um
65
namoro. Talvez o pai do jovem da direita e o marido da senhora foi ver a namorada ou
a amiga do jovem. Enfim, tudo se arranjará.”
Cartão 3BM – “Que abatimento! Isto, isto lembra-me estados passados em que nos
sentimos de tal modo abatidos que nos perguntamos se poderemos voltar a
levantarmo-nos… está-se abatido, como se não pudéssemos ligar seja ao que for,
escondemo-nos de tudo e de todos.”
Cartão 2 – “Uma rapariga que, na Páscoa, se passeia no campo. Ela está a sentir a
brisa de fim de tarde a passar-lhe pelo rosto. Está a apreciar o cheiro das flores.”
66
C/N7 – Relações especulares
As duas personagens estão em relação simétrica, como num espelho. Esta é a
relação claramente narcísica em que o outro não existe.
Cartão 9GF – “Uma mulher que saiu da terra onde vivia há muitos anos. Passado
20 anos voltou e está a imaginar-se. Imagina-se, quando era nova, a correr.”
C/N9 – Críticas de si
O sujeito conta uma história em que se identifica com a personagem e critica.
Cartão 1 – “Um rapaz que está a tentar tocar violino. Mas não tem muito jeito para
aquilo.”
Cartão 16 – “Não sei, nunca fui dotado para contar histórias. Estou na praia. Vou
andar de barco… há vento, mas o mar está calmo… o barco chega, embarco e o
passeio é agradável. Pronto.”
Cartão 1 – “É um menino que toca violino. Ele é um prodígio, vai tocar um recital.
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Cartão 7GF – “A mamã deve ler à sua filha, que deve ser muito nova porque tem
uma boneca. A mamã está num sofá tipo regência. A pequena está sentada num
braço do cadeirão. Isto pode passar-se num salão, acho que se vê o soalho. Uma
mesinha com um naperão. A mamã também está penteada, não actual, por outro lado
ela tem um bonito vestido com um enfeite e um colarinho branco. A menina deve ter
sapatos de verniz e soquetes. Só vemos uma perna, mas ela tem a perna dobrada por
detrás da outra. Penso que a mãe deve ler-lhe qualquer coisa, que a menina não tem
ar de estar a mexer os lábios, uma história para a sua idade, é tudo o que isto me
inspira.” – esta insistência no vestuário e no corpo não
constitui uma intenção de seduzir, mas permitem uma delimitação da identidade de
cada personagem.
C/M
Os procedimentos da sub-série C/M (Brelet, 1986-1988) remetem para
mecanismos de tipo maníaco da luta antidepressiva: uns evacuam as
representações e os afectos depressivos; outros sobreinvestem-nos no apelo ao outro.
Cartão 7BM – “o pai é magistrado e o filho está sempre dependente do pai para
tomar decisões.”
Cartão 10 – “É uma mulher que, por todo o apoio que ele lhe dá, pensa o quanto o
marido é importante para ela depois de 30 anos de casamento.”
Cartão 8BM – “o pai do rapaz era um grande cirurgião. Teria gostado que o filho
fosse como ele. Manejava maravilhosamente o escalpelo, mas o filho preferia manejar
um arco.”
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C/M3 – Piruetas, viravoltas
Através da troça, a piada e o humor integrado na narrativa, o sujeito tenta escapar
ao afecto depressivo. É a defesa maníaca para o funcionamento depressivo. Se o
sujeito tem muito medo de perder o objecto, subestime-o para o poder controlar e para
poder triunfar sobre ele.
C/C
Os procedimentos da sub-série C/C constituem um recurso ao comportamento
durante a aplicação do teste. As condutas agidas podem estar relacionadas com uma
dificuldade momentânea ou durável no trabalho de elaboração psíquica e/ou numa
regulação do processo associativo. Há dois modos particulares de condutas agidas:
um é a expressão de um fantasma subjacente que os processos de pensamento
necessários à elaboração da história não conseguem tomar a cargo; outro é o tender
para a descarga e a diminuição da excitação e da tensão.
Cartão 11 – “Faz-me pensar numa coisa de Gustave Doré. Isto, não vejo nada…
(manipula o cartão em diversos sentidos) Uma coisa de ficção científica… Tem a
certeza que não tem um cigarro? (o sujeito levanta-se para pedir um cigarro no
exterior) Isso não o incomoda?”
Exemplo – Contar histórias muito bonitas mas depois dizer que o material é velho e
que tudo é feio.
Cartão 10 – “Oh, não sei. Você faz-me sofrer com essas coisas. Pode ser ou a mãe
ou o filho ou dois apaixonados, sei lá! Oh, isto dá-me cabo dos nervos. Duas
personagens que se amam, quê! Amam-se… Oh! Não consigo, peço imensa
desculpa.”
Cartão 7BM – “ (risos) O que é que você quer que eu lhe diga acerca disto? Você
escreve o meu silêncio? Hum… Quantos anos de estudo teve de fazer para estar
aqui?”
Cartão 1 – “É uma criança a tentar aprender a tocar violino. Aquilo é difícil! Ah, o
doutor sabe… Também já foi criança.”
Cartão 4 – “É um casal a discutir. Ele já não a pode ouvir… (pisca o olho) O doutor,
como é casado, deve saber do que eu estou a falar...”
70
C/Fa
Os procedimentos da sub-série C/Fa (R. Debray, 1978) caracterizam-se pela
inibição que, ao contrário do que acontecia na sub-série anterior, não está associada a
mecanismos de recalcamento. Aqui, a angústia está aparentemente ausente e o
estímulo é investido com objecto real. Deste modo, acentuam-se os elementos da
realidade exterior, o factual, o quotidiano e as ideias recebidas, que vêm substituir-se
a um mundo interno enfraquecido. O recurso ao factual serve de impulso para a
elaboração do conflito pulsional.
Cartão 5 – “É noite, a casa parece vazia, mas Maria parece ter visto uma luz ou
ouvido um barulho. Precipita-se para a sala onde viu a luz, mas não vê ninguém. A luz
está acesa, ela vai apagá-la, partir e descer para o salão.”
Cartão 13MF – “Vejo um homem em pé, vestido. Está-se a espreguiçar, deve ser
de manhã. A mulher ainda está na cama, deve ser verão.”
71
C/Fa 4 – Apelo a normas exteriores
O sujeito apela a normas exteriores porque não tem normas interiores. Isto
representa, assim, o Ego ideal do sujeito.
Cartão 6BM – “É um homem que foi a casa da mãe anunciar-lhe que se vai casar:
Eu acabei o curso, tenho 32 anos, …, estou a trabalhar e está na altura de me casar.”
Cartão 13MF – “É um homem que volta para a sua casa à noite, que encontra a
sua mulher, pelo gesto dele, ela deve estar morta, ou então foi ele que a matou… é
tudo… (?) Se não foi ele que a matou, porque ele gostava muito dela, pode… ele pode
estar desesperado.”
72
PROCEDIMENTOS DA SÉRIE E (Emergência em processo primário)
A Série E
A série E consta da emergência de processos primários e traduz um
sobreinvestimento de fantasmas arcaicos. A presença de mecanismos da série E
em pequenas quantidades é esperada e revela uma certa permeabilidade e
flexibilidade de fantasmas e/ou de afectos mais maciços. Podem também significar
73
uma imensa criatividade. Em grandes quantidades e quando aparecem de forma
dominante, estes procedimentos são mais patológicos.
Os procedimentos desta série podem estar relacionados com falhas das condutas
perceptivas e de ancoragem na realidade externa (E1 a E6), perturbações ligadas À
invasão do fantasma (E7 a E10), perturbações ligadas à relação de objecto ou à
identidade (E11 a E16) ou ainda perturbações ligadas à desorganização do pensamento
e do discurso e dificuldade de comunicação (E17 a E20).
Cartão 3BM – “Isto, a fadiga… +++ Não sei o que é que está no chão, não vejo se
é uma pistola ou uma flor. O que se passou antes… foi… ++ ou uma fadiga moral ou
física… +++ o que se passa, abatimento, portanto, e depois ela não vai ficar assim
para sempre, espero eu, por ela! Enfim, ela vai ter cãibras, exactamente como eu (ri),
ela vai acabar por fazer outra coisa.”
Cartão 7BM – “Dois jovens homens cujos cabelos são oleosos, um grande nariz,
com olhos pretos, bem pestanudos e com queixo bicudo amavam-se muito. Eles eram
dois amigos. O mais velho dos dois tinha um comboio eléctrico e uma guitarra. O outro
tinha uma motoreta para ir a casa dos amigos.”
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E3 – Justificações arbitrárias a partir desses pormenores
Utilização de um Dd raro para racionalizar uma interpretação ou para a recusar.
Cartão 6BM – “Isto, é manifestamente o filho culpado. Ele aliás tem as mãos juntas
como se estivesse com algemas. Quanto à mãe, que está à esquerda, ela perdeu
qualquer esperança. O seu rosto está entorpecido no desmoronamento de tudo o que
tinha previsto. Ele deve ter feito qualquer coisa de muito grave aos seus olhos. Acho
que ele assassinou. Mas não veio contar à sua mãe. Ela soube-o. Ele não poderá
remir-se.”
E4 – Falsas percepções
Qualquer alteração dos elementos maiores e manifestos do cartão que levam à
deformação do real.
Cartão 12BG – “Há cãezinhos na barcaça? É a história de uma cadela que acaba
de pôr cãezinhos no mundo, e eles estão todos lá a brincar na barcaça.”
E5 – Percepção sensorial
A realidade, sentida e vivenciada como perigosa, e mesmo persecutória, manifesta-
se por um ataque ao nível dos sentidos, o que provoca um verdadeiro mal-estar, num
movimento em que a “realidade interna” e a “realidade externa” se encontram
confundidas.
Cartão 3BM – “Este senhor está fechado numa célula de hospital. Não verá nunca
mais isso… Matou três pessoas importantes. É a Cruz Azul, mais severa que a Cruz
Vermelha. Ele está fechado, não trabalhará nunca mais e viverá mais do que os
outros. Ele será condenado a mais de 85 anos, e será morto com murros na cabeça, é
assim que se mata nos hospitais psiquiátricos. (O que é que ele faz?) Chora, tem
dores, ouvimo-lo chorar.”
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Cartão 1 – “Eis um rapaz que queria ter um violino… Não distingo bem, ou ele está
partido ao meio, ou ele não sabe como fazer. A expressão da sua cara… Vejo um
inhaço na pálpebra direita. Fisiologicamente mal apresentado. Figura inexpressiva.”
Cartão 1 – “Acho que o pai é ferreiro, está a dormir, é tudo, a peça ali vai saltar, ele
põe os dedos nas orelhas para não ouvir, vai explodir, ele vai ser morto. Talvez ele
queira matar-se, porque não gosta da sua família, ele fez asneiras, roubou um carro.
Vai ser morto, não vai mais existir, (e a sua família?) Ela chorará.”
da imagem
Cartão 16 – “ (Sorri) Não é nada! Uma superfície plana, branca. Tudo não passa de
um mistério, interrogação que procura exprimir esta folha de papel. Natural ou o
objecto de uma imagem inventada, mas uma luz vai brilhar e tudo será belo. Um
universo de gente feliz, casas brancas, florestas brancas e móveis brancos. Apesar da
sua felicidade, subsistirá uma espécie de porta fechada entre três pessoas, como
Sartre bem o exprimiu, a interrogação perpétua do homem sobre a sua existência e a
sua proveniência o que é? Para onde vai? Porque vive? Uma interrogação sobre a
vida, a realidade e o sonho, uma ideia que flutua e não encontra nunca soluções, só
os rumores de uma imaginação demasiado rebuscada. Tudo não passa de invenção,
falsidade e imaginação, mas aquele que conseguir ver um aspecto desta folha terá
encontrado o caminho que o conduzirá direito a essas questões, essas interrogações,
essas respostas e ao seu destino já traçado, que lhe ocupa todo o seu tempo. Fim.”
Abstracção
Cartão 8BM – “Então há ainda um jovem. Atrás dele, há dois homens que estão a
trespassar um quarto homem, a matá-lo, e eles tinham-no ferido com uma espingarda,
agarraram-no, deitado sobre a mesa para acabarem com ele. Ou, então, o contrário,
não, não. + O jovem, o que é que faz aqui. Ele poderia pensar, não, ele poderia ser
uma testemunha do que se passou.”
Cartão 4 – “Um tremor, um tremor e… ele tenta… um tremor que retém a sua
atenção, um tremor (Bis +++) e uma mulher que tenta retê-lo. Ah! Sim… mas já é
muito para a fotografia.”
Cartão 9BM – “Há uma mulher que corre pela praia para se ir… para ir afogar-se. E
há uma outra mulher que está escondida atrás de uma árvore e que a olha. E eu acho
que esta mulher está ciumenta e a vai deixar afogar-se, que não a vai deter. ++ Vê-se
que há uma tempestade terrível, com ondas e tudo isso, que há muito vento.”
representações maciças.
E10 – Perseveração
Qualquer retoma do tempo, ou de um elemento maior do tema, que se impõe
apesar das variações do estímulo. A problemática que inspira a encenação pode ser:
da ordem da culpabilidade, da castração e remeter para um registo neurótico; da
ordem da perda e reenviar ao registo narcísico; da ordem da destruição e remeter para
o registo da psicose.
77
Cartão 4 – “São imagens um bocado tristes! Diríamos uma mulher que tem ar de
reconfortar o seu marido, que tem um ar desesperado. A mulher parece levar isto
menos mal que o marido. Digamos que seja uma declaração de guerra, uma
requisição, então o marido tem de partir para a guerra, então a mulher reconforta-o.
Ele parte, claro, é obrigado + (?) Não sei, não vejo outra coisa, que ele vai partir, é
obrigado (?) Não sei mais, ou será morto ou voltará com uma perna e um braço. Pode
haver uma explosão e será morto.”
Ele parece encolerizado, podemos supor que vai bater-se com um vizinho e que a
sua mulher o impede. No final, ou ele acaba por se libertar e faz o que quer… ou ela o
impede. É difícil dizer quem vai ganhar… uma coisa de nada, que passará e acabou-
se. Acaba-se por chamar um polícia se houver uma briga, há sempre um polícia nas
proximidades de um local.”
vem entre a expressão da agressividade e a defesa
Cartão 2 – “Isto representa o campo. Está ali um senhor que puxa um cavalo. E ali
é quando ela era jovem, ela aprende no campo porque espera um bebé.”
78
E13 – Desorganização das sequências temporais e/ou espaciais
Manifesta-se pela confusão no desenrolar da história entre presente, passado e
futuro.
Cartão 13MF – “Agora esta, é um homem e uma mulher após fazerem amor. Então
o senhor vestiu-se e deixa dormir a mulher e depois procura os cigarros, então coça a
cabeça atrásda testa, e pergunta-se onde pôs os cigarros e a mulher dorme
profundamente, está-se marimbando, enfim ela dorme.”
Cartão 2 – “Aqui, são os pais que trabalham no campo e a sua filha vai para o liceu,
ou o quê. Passa-se há muito tempo, em 1925. Dir-se-ia que a mãe está muito
cansada, ela trabalha muito. Diríamos que a mãe troça da filha e diríamos também que
a mãe está grávida, um pouco. (?) A história e a imagem é infinita. A mãe terá uma
criança e a vida continuará sempre assim.”
79
Cartão 5 – “Esta mulher deve ter ouvido barulho num quarto e precipitou-se. Na
aparência, pela sua expressão, esse barulho fez-lhe medo. Senhora de idade, de uns
cinquenta anos. Diria que isto se passa em Inglaterra. O quarto tem um ar atafulhado,
há pouco espaço entre a mesa e o aparador. Deve ser muito sombrio. Velha casa
sólida, pouca luz, húmida… Ela é provavelmente a governanta da casa. Vemos alguns
livros nas estantes, mas é duvidoso que ela leia muito. Aliás, para confirmar isso: os
dois segura-livros tocam-se. Ela é cuidadosa com a sua casa, as flores estão frescas,
não tem um aspecto sujo. É tudo.”
Cartão 5 – “É muito feio, é tudo medonho, com certeza que foi de propósito. Os
livrinhos comprimidos entre duas peanhas, esta mesa, tudo isto é horroroso. Uma falta
de ar que é incómoda. Isto dá a impressão de opressão, de miséria, de extrema
pobreza. A mulher também dá a impressão de fadiga, de decepção. Os livros são sem
dúvida romances policiais e os três mais pequeninos que estão lá em baixo, que
provavelmente nunca foram lidos, que estão estupidamentelá para parecer bem. Um
estúpido clarão, a mulher que parece mostrar uma coxa como a Marlene. É estúpido
este ar de mãe de família cansada. Podemos supor que ela abre a porta e diz: “Ele
não voltou.” O “ele” é para o seu filho, que pode ser um doidivanas de uns vinte anos,
pouco educado e que vadia.”
Cartão 4 – “Um marido que parece atraído por um espectáculo… ou uma outra
mulher. A sua mulher procura retê-la. O homem parece bastante decidido. A mulher
torna-se suplicante. Espero que ele se deixará convencer pela sua mulher e entrará na
via mais moral.”
80
E18 – Associações por contiguidade, por consonância, disparates
As associações por contiguidade estão relacionadas com o discurso dominado por
associações de ideias, sem ligação aparente entre elas. Por outro lado, as
associações por consonância dizem respeito à evocação de termos escolhidos pela
semelhança fonética. Por último, os disparates consistem numa sequência de
proposições que passam bruscamente de um tema para outro e que podem arrastar
contracções do discurso.
Cartão 2 – “Esta aqui vai ter sucesso, ela é bela, muito engraçada, a mãe manda-a
para a escola para que não seja uma camponesa mas uma senhora. O homem é belo,
de costas não se vê nada, mas ela, ela não vai ficar satisfeita, é absolutamente
necessário que ela abandone a quinta e que parta, mas apesar disso é bonito ali onde
ela está, é muito bonito. Há a mãe, mas haverá outros mares, a sua mãe nada
conheceu, mas ela está talvez muito contente, há muitas pessoas que nunca se
mexem, mas ela é bela, tem uns olhos bonitos, eu tenho vontade de vestir essa coisa
que ela tem, é muito bonita..”
Cartão 6BM – “O jovem e a sua avó contam-se uma história de motoreta avariada.
A avó escutava as suas histórias. O jovem compra um casaco preto para ele e uma
camisa de dormir para a avó. Esta ficou muito contente e o jovem também. O jovem
servia café num restaurante há vários anos. À noite, quando estava livre, telefonava à
avó e aos seus amigos. O rapaz ficou radiante por ir a casa da avó e dos amigos.”
associações em contiguidade
81
Cartão 4 – “Não vejo nada de nada… Uma mamã conta… lê histórias à sua filhinha
e isso fá-la pensar nas dificuldades que as crianças dão aos pais… e nas dificuldades
também… a vigilância que dão os bebés às jovens mamãs… porque ela segura a
boneca nos braços… Pronto.”
82
Síntese
Esta nova etapa consiste em preencher a folha de decomposição na íntegra, a fim
de determinar os procedimentos de elaboração do discurso característicos do
conjunto do protocolo. A folha de decomposição deve permitir dar conta da
diversidade de arranjos defensivos e colocar hipóteses quanto às modalidades
de funcionamento psíquico do sujeito.
83
Exemplo: A113 A227
B15 B213
Predomina o controlo e o
C/Fo27 C/N10 C/M3 C/C2 C/Fa 4 evitamento do tipo fóbico.
E7
Legibilidade e problemáticas
Legibilidade
No TAT, a legibilidade permite apreciar a qualidade e os efeitos dos procedimentos
do discurso utilizados na construção das histórias, permitindo que o arranjo e a
expressão das representações e dos afectos mobilizados pelo material.
Tipos de legibilidade
Tipo 1 (Legibilidade +)
Este tipo de legibilidade corresponde ao funcionamento mental do tipo normativo ou
normal-neurótico. Aqui, os procedimentos são flexíveis e variados. Os afectos são
84
variados, as histórias estruturadas e há uma ressonância fantasmática. Caracteriza-se
pela presença de factores A1 e A2.
Tipo 2 (legibilidade ±)
Este tipo de legibilidade corresponde ao funcionamento mental do tipo neurótico.
Aqui, a produção é alterada pelos mecanismos em acção, permitindo um
desimpedimento parcial (impacto fantasmático subjacente: os afectos e fantasmas
levam o Ego a mobilizar mecanismos de defesa). Há um predomínio de factores C,
bem como de factores A2 e/ ou B2.
Tipo 3 (Legibilidade - ou + )_
Este tipo de legibilidade corresponde ao funcionamento mental do tipo limite para a
legibilidade + e um funcionamento_ de tipo psicótico para a legibilidade -. Aqui, as
defesas e os afectos são maciços (invasão dos fantasmas subjacentes) e há um
predomínio dos factores C e E.
Tipo 3 + _
Tipo 3 -
As histórias são desestruturadas e há uma forte invasão fantasmática
(alucinações). Predominam os procedimentos C e E, ambos muito fortes.
Exemplo: O sujeito tem todas as histórias com legibilidade +, excepto o 3BM (com
legibilidade -) e o 13B (com legibilidade + ). Então, o
_ sujeito tem um funcionamento
mental normativo, mas parece haver dificuldades a nível da depressão, da solidão e
do abandono.
Problemáticas
No fim da análise de cada cartão, convém apreender como é que o sujeito trata as
solicitações latentes do material, a que registos conflituais é remetido. O que interessa
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não é tanto a presença desta ou daquela problemática, mas sim o modo como tal
problemática se elabora.
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O TAT permite formular a hipótese de uma organização neurótica, obsessiva ou
histérica, de uma organização psicótica (esquizofrenia, melancolia e paranóia) ou
ainda de um funcionamento limite.
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Os Tipos de Funcionamento
Registo Neurótico
Neurose Obsessiva
A neurose obsessiva caracteriza-se por um estilo rígido de conflito intrapsíquico
(série A). Predominam o controlo, a supressão do afecto, a rigidez e o conflito entre
agressividade e defesa. O objectivo e a representação calcam o subjectivo e o afecto
(secura e tristeza).
As condutas adoptadas por estes sujeitos são a rigidez nas posturas, a exigência,
o pavor face ao imprevisto, a compulsão (sistematizar, ordenar, excluir a surpresa,
falsificar e denegar). Os temas dominantes são o trabalho, a moral, a religião e os
conflitos (com a autoridade, agredir/ ser agredido, submeter/ ser submisso, crueldade/
generosidade, obscenidade/ pureza, ordem/ desordem, amor/ ódio, bissexualidade/
homossexualidade).
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deslocamento (reduzir a intensidade emocional), a anulação (substituir por contrários),
a denegação (dizer e dizer que não disse) e as formações reactivas (banalização ou
irritabilidade ou obediência ou cortesia).
Neurose Histérica
A neurose histérica é caracterizada por um estilo lábil de conflito inter-psíquico
(série B). Há aqui um acto de deixar ir, de invasão do afecto através da dramatização
e adjectivação excessiva e ainda um conflito entre o desejo e a defesa. Têm um
desejo (incestuoso) impossível (de querer e não poder), o que leva a fixações fálicas
e a regressões à oralidade. Há uma expressão edipiana clara com abaixamento do
reconhecimento dos interditos – sedução e avidez afectiva.
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Registo Limite
No registo limite a tónica é posta na dificuldade da relação eu/ outro ou interno/
externo. Há uma precariedade do sentimento do eu. As condutas agidas e a procura
do outro que nunca aparece como suficientemente gratificante são as principais
características. As lógicas são dominantemente aconflituais visto que não existe a
constituição do outro diferente.
Há duas expressões para uma mesma problemática. Por um lado, há uma retirada
pulsional. O sujeito fecha-se a qualquer contacto (esta é uma retirada narcísica que
nada tem a ver com o autismo) e tem um sentimento de perda inultrapassável. Tem
um sentimento de vazio, onde domina a cor branca. Se, pelo contrário, dominar o
negro, isso significa que o sofrimento é muito maior. Esta lógica narcísica sustenta-se
face à iminência da invasão do objecto. Por outro lado, a segunda lógica é a da
exposição depressiva. Neste caso, os sujeitos são excessivamente apegados ao
objecto mas também são sempre muito modificados por qualquer movimentação do
objecto que é vivida com muito sofrimento. Há, simultaneamente, uma impossibilidade
de se largar do objecto e uma impossibilidade de obter uma gratificação deste.
Estilo Narcísico
No estilo narcísico há referências directas e claras a perdas importantes e
precoces. Estes são sujeitos com uma imensa solidão devido ao sofrimento e mal-
estar com que falam do outro. O máximo da manifestação de dor face à relação com o
outro é a raiva narcísica e a aproximação ao outro é sempre vivida com um sofrimento
imenso.
Uma das características é a falha profunda do mundo psíquico que impõe uma
construção de funcionamento de prótese. O outro funciona na lógica de prótese. Estes
sujeitos necessitam de se sentir elogiados pelos outros. Dão-se a ver para serem
admirados e não amados. Já desistiram de ser amados.
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Oscilam entre dentro e fora. Fora falta sempre qualquer coisa, pelo que voltam para
dentro, voltam a procurar…
São sujeitos com falhas na elaboração psíquica. Há aqui dois tipos de expressão:
uns não conseguem fantasiar e para eles tudo é aterrador e outros partem para o agir.
Estes sujeitos apresentam também perturbações identitárias e identificatórias (eu –
um – único; outro (raiva, ódio, inveja).
Os temas dominantes operam à volta do verbo olhar (ver e ser visto), tocar (calor
e frio), limites (contorno, sombreado, luzes, espaço) – investimento sensual e sensorial
da realidade. Há uma valorização dos contornos e envelopes e uma procura de pele
delimitante (Dd narcísicos, sensorialidade). Quanto aos afectos, o corpo é visto como
uma máquina a significar, sem desejo e sem sedução. Há uma postura significante de
afectos com afectos título, sem qualquer cenário ou âmbito relacional) há também um
apelo ao olhar e espelho (onde nos vemos e perdemos).
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Estilo Depressivo
O estilo depressivo caracteriza-se por abandono, rejeição, ausência de prazer,
extenso e interno sofrimento, incapacidade e impotência e mundo em perigo.
Registo Psicótico
A psicose expressa-se no TAT pelo predomínio de procedimentos de tipo E. as
psicoses implicam alterações na relação com o real (percepção) e nas modalidades do
discurso. As perturbações na relação com o real manifestam-se através dos Dd
raros e bizarros, das falsas percepções, percepções sensoriais, percepções de
objectos fragmentados e mal formados e da escotomia de objectos manifestos. As
perturbações nas modalidades do discurso expressam-se por falhas verbais,
discurso vago e indeterminado (fragilidades identificatórias e perturbações maciças do
real, associações curtas, rupturas e falhas das ligações, abstracções e simbolismo +/-
hermético.
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Estes sujeitos têm falhas maciças da identidade: falhas da integridade, confusão
de identidade e instabilidade do objecto (o objecto não é captável porque não há
apego à realidade). Apresentam também confusões espaço-temporais.
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sujeito está confundido com o objecto porque a separação é impossível. Também é
impossível uma ligação de boa qualidade.
Esquizofrenia
Esta é a estrutura com fixação e/ ou regressão mais arcaicas, dominância oral
receptiva e passiva.
Melancolia
Nesta estrutura há uma fixação e/ ou regressão oral sádica (morder, devorar,
incorporação, introjecção). Há o primado da agressividade, que não é anal mas sim
oral, de destruição não só do objecto mas também do próprio sujeito.
Na melancolia há uma fusão com o mau objecto na morte. Por outro lado, na
mania há uma recusa desse mal e sofrimento, uma recompensa face à angústia dos
fantasmas sádicos destruidores que ameaçam o sujeito (sentimentos e descargas
muito intensas).
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e as representações são massivos, com temas de sobrevivência, de falta de
recursos, de pobreza e miséria. As imagens são muito contrastadas num universo
desertificado, onde há pouco investimento da realidade e onde predomina a perda. A
relação com a realidade e a percepção caracteriza-se pela sensorialidade,
separação de planos, confusão identitária e a não procura de limites. Quanto à
linguagem, as frases são infinitas, sem verbos nem acção. Há o recurso a piruetas
maciças, com ironia e desprezo, que visa recusar o vazio.
Paranóia
Esta é a estrutura psicótica mais evoluída.
O sujeito tem uma atitude crítica, vigilante, um estilo rebuscado, pretensioso com
afirmação de autonomia, não se deixa dominar e evita a inferioridade.
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