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2014/2015
Avaliação em Psicologia Clínica
Índice:
MÉTODOS OBJECTIVOS ................................................................................................................. 3
Provas de desenvolvimento...................................................................................................... 4
Provas de inteligência ............................................................................................................. 16
Provas instrumentais .............................................................................................................. 79
Escalas sintomáticas ............................................................................................................. 127
Escalas nosográficas ............................................................................................................. 136
MÉTODOS PROJECTIVOS ........................................................................................................... 166
Rorschach.............................................................................................................................. 167
TAT ........................................................................................................................................ 232
CAT ........................................................................................................................................ 260
O Jogo Lúdico ........................................................................................................................ 278
O desenho ............................................................................................................................. 283
FUNCIONAMENTOS DA PERSONALIDADE ................................................................................. 406
Classificação das defesas ...................................................................................................... 407
Dimensões do funcionamento da personalidade – avaliação estrutural ............................. 408
Diagnóstico estrutural: três níveis da organização da personalidade .................................. 409
Fases pré-genitais ................................................................................................................. 410
Fases genitais ........................................................................................................................ 424
Estrutura Neurótica .............................................................................................................. 439
Estrutura Psicótica ................................................................................................................ 456
Estados-limite e os seus arranjos ......................................................................................... 477
Doentes Psicossomáticos...................................................................................................... 485
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MÉTODOS OBJECTIVOS
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PROVAS DE DESENVOLVIMENTO
Cada sub-escala é composta por itens diversificados e abarcam a maior parte dos
aspetos do desenvolvimento infantil. Os itens estão ordenados por grau crescente de
dificuldade.
Administração da Escala – Recomendações Sumárias
Faça uso do interesse, da curiosidade e do foco de atenção da criança
Qualquer item pode ser passado duas vezes
Os itens podem ser apresentados por qualquer ordem, mas não se esqueça de verificar
se todas as escalas foram completadas. (Preferencialmente só se deve passar a outra
escala quando a anterior estiver completa)
Inicie a aplicação de cada escala pelos itens correspondentes a 6 itens antes da idade
cronológica da criança
Termine a aplicação após o insucesso de 6 itens consecutivos em cada escala
Consulte o Manual para saber muito bem as instruções de aplicação e de cotação dos
itens
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Cada Subescala é composta por itens diversificados e abarcam a maior parte dos aspetos do
desenvolvimento infantil.
Cada subescala engloba 24 itens (6 itens por cada ano).
Os itens estão ordenados por grau crescente de dificuldade
1. Utilização
Problemas relacionado com atraso global de desenvolvimento;
Privação do meio ambiente;
Outros problemas específicos de desenvolvimento, como, atrasos na fala, perturbações
psicomotoras, fraca coordenação visuo-motora e Síndrome de Down.
2. Cálculos essenciais
Cada ano engloba 6 itens em cada uma das 6 subescalas, e cada item vale 1 ponto.
Calcular a Idade Mental:
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Divide-se a I.M. correspondente a cada subescala pela idade real da criança em meses
(I.C. – idade cronológica), e multiplica-se por 100.
𝐼𝑀
𝑄𝐷𝑃 = × 100
𝐼𝑅
As contas para cada parâmetro são feitas em relação aos meses correspondentes. Por
exemplo: ter uma pontuação de 12 no primeiro ano da escala A, significa que a criança está ao
nível dos 12 meses relativamente a crianças no primeiro ano de vida; uma pontuação de 2 no
ano III da escala B significa que a criança se encontra ao nível dos dois meses dos 3 anos de
vida, ou seja, de crianças com 3 anos e 2 meses.
O Quociente de Desenvolvimento Geral (QDG) é dado pela média dos diferentes parâmetros.
Valor de Normativo
O valor do QDG encontra-se na média dos parâmetros normativos se se encontrar no
intervalo 100±10.
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→PERFIS DE DESENVOLVIMENTO←
A avaliação das crianças pode fazer-se, unicamente, com base nos resultados das
subescalas (ou resultados parciais das subescalas).
O resultado mais significativo é o Quociente Geral (QG).
Porém, se houver um reteste e se tiverem que se fazer comparações (por exemplo, entre
os resultados obtidos por uma criança antes e depois de um tratamento), já será útil
traçar-se um “Perfil”, onde se trabalharão comparativamente os Quocientes de
Desenvolvimento obtidos em cada subescala (como tal, terão que se calcular também os
resultados parciais dos Quocientes de Desenvolvimento).
Estes perfis são muito importantes, especialmente, para bebés muito novos, onde é, tanto
mais, relevante compreender em que aspetos do desenvolvimento se vão registando os
progressos.
Calculam-se portanto os resultados parciais.
3. Interpretação
Interpretação dos resultados padronizados ou notas z
O examinador deve utilizar os resultados padronizados para interpretar o desempenho
da criança nas diferentes subescalas, de acordo com as descrições qualitativas das categorias e
o contexto social da criança.
Por exemplo um valor de z ou de 0 diz-nos que o desempenho da criança na Subescala
em questão está na média, enquanto um valor z inferior a -2 indica um atraso
significativo de desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem.
A existência de resultados baixos em todas as subescalas indica um atraso global de
desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem significativas.
Do mesmo modo, consideram-se pertinentes as discrepâncias que se afastam mais de 2
desvios-padrão relativamente ao perfil 50, numa subescala ou na comparação entre
subescalas ou entre várias avaliações, realizadas em diferentes ocasiões. Estas
informações dão indicações valiosas acerca das forças e dificuldades da criança e do
seu ritmo de progresso.
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→ESCALA DOS 0 AOS 2 ANOS (Vd. exemplos vários colocados no outro documento sobre a
Escala de Griffiths publicado no ‘Sítio da Disciplina’)
Idade Cronológica
Regra para bebés menores de 8 meses: Existe uma regra para acerto da Idade Cronológica (e
da Idade Mental) no caso de a criança ter menos do que 8 meses de idade. Se o bebé tiver
menos de 8 meses de idade: Somam-se 8 semanas à Idade Cronológica e à Idade Mental
antes de se obterem os Quocientes de Desenvolvimento.
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Com bebés com menos de 1 ano de idade: conta-se o número completo de semanas desde a
data de nascimento até à data do teste. O número de dias que exceder o número de semanas
apurado conta-se da seguinte forma:
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Idade Cronológica
Com bebés com mais de 1 ano de idade: Conta-se o número completo de semanas desde a
data de nascimento até à data do teste. O número de dias que exceder o número de semanas
apurado conta-se da seguinte forma:
QGD = IM x 100
IC
2) Resultados Parciais
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1) Resultados Totais
QGD = IM x 100
IC
2) Resultados Parciais
→ESCALA DOS 2 AOS 8 ANOS (Vd. exemplo do ‘Caso Diogo’ publicado na ‘Arealunos’)
Idade Cronológica
1) Resultados Totais
IMA, ..., X = IMA, ..., X (A variável ‘x’ é a escala – E ou F - que foi passada
x à criança)
QGD = IM x 100
IC
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2) Resultados Parciais
IMA, ..., E = IMA, ..., E do 1º ano + 2º ano + ....... (A variável ‘x’ é a escala – E ou F - que foi passada
à criança)
A assíntota vertical é o eixo das ordenadas, onde se colocam os valores dos QDs parciais.
A assíntota horizontal é o eixo das abcissas, onde se assinalam as sub-escalas (A, B, C, D, E, F).
= 100 Médio
É também útil observar os itens em cuja resposta a criança teve sucesso ou falhou, para se compreender
em que áreas e aspetos residem as suas capacidades e dificuldades.
É necessário ter em conta que os resultados finais que se obtiverem com a análise dos resultados da
criança à Escala, devem ser relacionados com as circunstâncias e motivos que levaram à realização desta
prova como esclarecimento para as hipóteses diagnósticas colocadas.
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→Exame←
Dar a Análise Quantitativa
Calcular a Idade Mental;
Calcular o Quociente de Desenvolvimento Parcial;
Calcular o Q.D. Geral;
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PROVAS DE INTELIGÊNCIA
Existe uma escala de 5 graus no que diz respeito à capacidade intelectual de cada
sujeito:
Grau III+ quando está acima do percentil 50 e Grau III- quando se encontra
abaixo do mesmo.
Tipos de Matrizes:
1. SPM (Standard Progressive Matrices) – 6 aos 65 anos (adultos com pouca escolaridade).
Matrizes standard – adultos (5 séries).
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Quando a discrepância é superior a 2 pontos, não se aceita a pontuação total como uma
estimação consistente do funcionamento da capacidade intelectual do sujeito.
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Quando a discrepância é superior a 2 pontos, não se aceita a pontuação total como uma
estimação consistente do funcionamento da capacidade intelectual do sujeito.
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→Exame←
Análise Quantitativa
1. Enquadrar o percentil no grau adequado para determinar o nível intelectual em que o
sujeito se encontra.
2. Calcular possíveis discrepâncias entre os resultados obtidos (ver na tabela)
Análise Qualitativa
1. Interpretar o grau em que se encontra o sujeito
2. Relacionar o valor do percentil com o valor do QI.
3. Relacionar o grau com a entrevista Clínica e os outros possíveis testes.
4. Se houver discrepâncias superiores a 2 pontos entre as séries consta-se que há existência de
deterioração mental.
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3. Aritmética 3. Cubos
Mede a capacidade de raciocínio lógico, de É uma prova de inteligência fluida que permite
abstracção e rapidez de cálculo. Memória auditiva estabelecer relações entre as coordenadas
imediata. Avalia a capacidade de concentração, espaciais.
resistência à distractibilidade e contacto com a Avalia:
realidade. É influenciada pelos antecedentes, Capacidade de análise e síntese
oportunidades e experiências escolares do sujeito. É Capacidade de conceptualização
uma prova vulnerável a estados emocionais. visuo-espacial
Resultados altos indiciam: Coordenação visuo-motora-espacial
Boa capacidade computacional associada a Organização e velocidade perceptiva –
boa concentração e, em consequência o tempo de execução relaciona-se
resistência à distractibilidade. com o nível de conceptualização visuo-
Bom contacto com o meio envolvente espacial e com a eficiência
Rapidez no manejo dos números Estratégia de solução de problemas
Boa memória auditiva imediata Resultados altos indicam:
Resultados baixos: Boa capacidade de conceptualização
Pouca capacidade de raciocínio matemático Aptidão para a análise e síntese de
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Resultados baixos :
Dificuldades na capacidade ao nível
dos símbolos abstractos
Possibilidade de disfunção neurológica
Dificuldades na coordenação visuo-
motora
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5. Semelhanças 5. Código
Medida de inteligência cristalizada. Tem elevada Avalia:
correlação com inteligência geral. Sensível a Velocidade de processamento
disfunções cerebrais. Capacidade de seguir instruções sob
Avalia: pressão de tempo
Capacidade de raciocínio lógico Atenção selectiva
Capacidade de conceptualização verbal 3 Concentração (resistência à
níveis: pensamento concreto, funcional ou distractibilidade)
abstracto Flexibilidade mental
Capacidade de identificar aspectos Resultados elevados resultam da combinação
essenciais e não-essenciais de:
Resultados elevados: Elevada motivação
Bom nível de abstracção e boas capacidades Destreza para a memorização de
de insight símbolos
Descartam a hipótese de limitação intelectual Rapidez perceptivo-motora
Podem indiciar traços obsessivos Resultados baixos
Tendência à intelectualização Dificuldades de coordenação visuo-
Resultados baixos: motora
Remetem para rigidez e/ou distorção nos Ansiedade
processos de pensamento Dificuldades de atenção
Emergência do processo primário do Insucesso por lentificação pode
pensamento (perturbação borderline ou remeter para depressão
esquizofrenia) Impulsividade
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→ WPPSI – 4 a 6 anos
A WPPSI-R é uma medida do funcionamento cognitivo de crianças com idades entre os
3 anos e os 6 anos e 6 meses (versão portuguesa).
A WPPSI-R compreende duas subescalas: verbal e de realização. Cada uma delas
permite calcular notas standard com uma média de 100 e um desvio-padrão de 15 pontos.
Na subescala de realização são sobretudo respostas motoras que são pedidas
(apontar, colocar, desenhar) e na subescala verbal são respostas verbais.
As duas subescalas tem cada uma 5 subtestes, mais um opcional. Cada um dos subtestes
permite calcular notas standard com média de 10 pontos e desvio padrão de 3.
Os subtestes verbais sãoInformação, Compreensão, Aritmética, Vocabulário, Semelhanças e
Frases memorizadas (opcional).
Os subtestes de realização sãoPuzzles, Cubos, Lacunas, Labirintos, figuras geométricas e
tabuleiro de animais (opcional).
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O tipo de resposta reflete um nível de generalização conceptual que pode ser mais
primitivo (nível funcional ou instrumental) ou mais maduro (nível mais abstrato).
Resultados altos: a) Refletem boa inteligência geral; b) boas condições socioculturais; c)
podem ser associados a mecanismos de intelectualização e compulsivos.
Resultados baixos: a)fundo de informação pobre; b) inteligência geral limitada; c) falta de
motivação; d) hipoatividade; e) dificuldades de linguagem expressiva; f) Um desempenho
baixo pode traduzir falta de familiarização com o contexto educativo ou ausência de
experiência escolar.
4. Compreensão
Examina a capacidade do sujeito exprimir as suas experiências.
Apela ao conhecimento de regras de relacionamento social.
Permite observar quer a facilidade de argumentação (quando é pedido ao sujeito para
justificar as suas respostas), quer a flexibilidade mental (quando é solicitada uma
segunda resposta ao mesmo item).
Resultados altos: a) Capacidade de organização de conhecimentos; b) Maturidade social; c)
Maturidade da função do juízo; d) Excesso de respostas ou respostas múltiplas podem estar
associadas a tendências compulsivas.
Resultados baixos: a) Dificuldades em lidar com o meio envolvente → superprotecção
→dificuldades na autonomia; b) Pensamento concreto; c) Dificuldades na expressão verbal
(falta de experiência ou por perfeccionismo); d) Presença de ideias fóbicas associadas a temas
dos itens; e) Atitude de oposição; f) Dificuldade de controlo dos impulsos; g) sugere uma certa
forma de inércia frontal (nos sujeitos que experimentam dificuldades neurológicas na
mobilização dos seus recursos cognitivos durante a tentativa de evocação de várias soluções
para um mesmo problema) ou revelar desconhecimento das regras sociais, falta de empatia e
de julgamento (que caracterizam frequentemente os sujeitos que apresentam uma disfunção
não verbal).
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É o primeiro subteste da escala a ser aplicado podendo, por isso, esperar-se que o
resultado obtido seja negativamente influenciado pelo efeito de novidade, sobretudo
numa criança tímida, por uma reação de inibição ansiosa.
Apela a uma forma de memória visual e a um bom senso prático. O examinador deve
pedir ao sujeito, sobretudo aos mais velhos (10 anos ou mais), para nomear a parte
que falta, uma vez que a resposta pode proporcionar um bom índice das suas
capacidades de acesso lexical (escolha da palavra exata) e da sua cultura geral.
As crianças impulsivas, bem como os sujeitos disfásicos, frequentemente apresentam
uma tendência para utilizar termos vagos, em vez de evocar o termo exato.
À semelhança do subteste Informação, uma fraca escolarização, ou a pertença a meio
sóciocultural desfavorecido, pode explicar a pobreza do vocabulário utilizado pelo
sujeito.
Resultados elevados remetem para: a) Boa acuidade visual; b) Interesse pelo mundo
circundante. c) Boa perceção das relações todo/parte; d) Capacidade de diferenciação entre o
essencial e o não essencial; e) Bom contacto com a realidade.
Resultados baixos podem associar-se à ausência ou diminuição das capacidades acima
referenciadas ou à presença de: a) Depressão; b) Ansiedade; c) Impulsividade.
14. Disposição de Figuras
Requer uma boa capacidade de análise percetiva, bem como uma integração do
conjunto das informações disponíveis.
Uma pontuação fraca pode refletir um dano nas funções frontais de autoregulação.
A relação dos desenhos que compõem cada história exige uma forma de discurso
interior que pode manifestar-se não funcional nos sujeitos que apresentam uma
disfasia, sobretudo recetiva. Muitas vezes as crianças disfásicas evidenciam
dificuldades na perceção do tempo e do espaço, que podem ser detetadas nesta
tarefa.
Resultados elevados indicam: a) Bom nível de inteligência social; b) Capacidade de
antecipação das consequências de atos. c) Boa organização visual. Resultados muito elevados
(3 pontos acima da média), podem indiciar, em adolescentes, tendência para passagem ao ato,
à manipulação de pessoas com sentido anti-social.
Resultados baixos podem dar conta de: a)Pobreza de ideias; b) Dificuldade em planear ações;
c) Processamento da informação lento. D) Dificuldades nas relações interpessoais.
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2. Os índices Factoriais
Segundo Wechsler, a interpretação dos resultados fatoriais é mais fidedigna que a
interpretação individual dos subtestes e oferece importantes informações de interesse clínico
e educacional.
Compreensão Verbal reflete o conhecimento verbal adquirido e o processo mental
necessário para responder às questões, que seria a capacidade de compreensão (raciocínio
verbal).
Organização Percetualconsiste na medida do raciocínio não-verbal, raciocínio fluido (por
exemplo sem “perda da linha de raciocínio”), atenção para detalhes e integração visomotora
(integração entre perceção visual e comportamento motor – “olhar e fazer”).
Resistência à Distratibilidadeestá dentro do domínio verbal e depende de memória auditiva
e processamento sequencial. O fator apresenta grande correlação com a habilidade
matemática e, além de atenção, avalia concentração e memória imediata. O rendimento no
fator é influenciado pela ansiedade, carência de estratégias mentais e pobreza de
automonitoramento. Não deve ser interpretado se os resultados de Aritmética e Dígitos
diferirem em quatro ou mais pontos.
Velocidade do Processamentoreflete velocidade psicomotora (Código) e velocidade mental
(Procurar Símbolos) para resolver problemas não verbais, avaliando, também, a capacidade de
planear, organizar e desenvolver estratégias. As suas habilidades incluem-se em dois domínios,
pois processamento implica cognição e velocidade e têm componentes tanto
comportamentais como cognitivos. Resultados baixos refletem pobreza no controlo motor, o
qual não deve ser interpretado se os valores alcançados em Aritmética e Dígitos diferirem em
quatro ou mais pontos.
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3. Utilização
A versão portuguesa da WISC-III foi desenvolvida para ser utilizada em sujeitos com
idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos e os 11 meses.
O principal objetivo da WIC-III e a avaliação do desempenho cognitivo da criança ou do
adolescente.
A WISC III é utilizada em diferentes domínios, nomeadamente em avaliações
psicopedagógicas, em orientação escolar, na identificação de necessidades educativas
especiais (ex: dificuldades de aprendizagem, atrasos de desenvolvimento,
sobredotação), em avaliação clínica e neuropsicológica e em investigação.
Desempenha um papel essencial também na determinação do nível intelectual de
sujeitos identificados como deficientes mentais.
Para a administração dos 10 subtestes obrigatórios o examinador necessita de um
tempo aproximado de 60 a 90 minutos. Caso opte por aplicar os 3 subtestes opcionais,
o tempo adicional será de 10 a 15 minutos.
4. Avaliação
Com os valores dos 3 Q.I. podemos fazer a análise inter-individual, ou seja, comparar a criança
em estudo com as crianças do seu grupo etário, tendo em conta que o valor médio dos Q.I. é
100, e utilizando a tabela:
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2ª Análise: quantitativa
3ª Análise: qualitativa (intra-individual) - comparação dos resultados obtidos pela criança nas
várias provas.
|QI verbal – QI realização|
Se dentro de uma das escala verbal ou de realização existir uma grande discrepância entre
as subescalas, estas não representam uma medida unitária e a diferença entre os Qis não pode
ser interpretada. Dispersão nas subescalas verbais, por exemplo, indicam que a inteligência
dita verbal não foi a responsável pelos scores obtidos nas subescalas, houve influência de
outras variáveis.
Para aceder ao perfil do sujeito, ou seja, aos seus pontos fortes e frágeis, recorremos
ao Método dos sinais, transformando os valores das provas em sinais através de
scatters.
Se o raciocínio for homogéneo faz-se uma análise conjunta, determinando-se a média
total das notas ponderadas de todas as provas e faz-se só 1 scatter. A esta média
soma-se sucessivamente 1,5; 2,5 e 3 ; e subtrai-se -1,5; -2,5 e -3. Aos valores somados
vão corresponder os sinais +, ++ e +++; aos valores subtraídos correspondem os sinais -
;--;e---
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entre QIs irá aumentando. Nota-se efetivamente que se encontram maiores diferenças
entre QIs, à medida que as idades vão aumentando, das mais novas para as mais
velhas.
O Estilo cognitivo:
O estilo cognitivo designa os modos de apreensão e de resolução dos problemas
característicos de uma pessoa;
Kauffman avançou a hipótese que a diferença entre Qis poderá ser a consequência do
estilo cognitivo dos sujeitos;
A diferença poderá ser a consequência de um estilo cognitivo dependente ou
independente do campo. A dependência ou independência de campo representam os
dois polos de um continuum.
Num extremo encontramos os sujeitos muito autónomos relativamente as
informações exteriores (Independência de campo), e na outra extremidade, os sujeitos
muito dependentes dessas Informações exteriores (dependência de campo).
Entre esses dois extremos, podemos reencontrar uma diversidade de nuances na
apreensão da realidade exterior;
A dependência ou Independência de campo são particularmente manifestos assim que
os sujeitos são confrontados com tarefas intelectuais de natureza visuo-espacial;
Os sujeitos independentes de campo demonstram uma grande facilidade em analisar
as suas perceções visuais e em mudar de ponto de vista relativamente ao campo
percetivo.
Pelo contrário, os sujeitos dependentes do campo tem muita dificuldade em se
desligar da perceção de conjunto e do seu ponto de vista inicial;
É possível que um QI realização superior ao QI verbal, seja sinal de um estilo
cognitivo independente do campo; e inversamente um QI verbal superior poderá
indicar um estilo cognitivo dependente de campo;
A Delinquência:
Os adolescentes delinquentes apresentavam mais um QI realização superior ao QI
verbal.
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→Exame←
Análise Quantitativa
1. Verificar se os QIs estão dentro da média.
2. Verificar se existe uma diferença superior ou inferior de 12 valores entre os QIs (para
depois definir o tipo de raciocínio);
3. Construção do Scatter: Verificar os valores significativos (++; +++; --; ---);
4. Relacionar resultados com respetiva escala e posteriormente com os índices fatoriais.
Análise Quantitativa
1. Descrever se os resultados estão dentro da média;
2. Justificar e descrever o tipo de raciocínio e relacionar com elementos da entrevista
clinica.
3. Relacionar dados de scatter com a entrevista clínica.
4. Reunir todos os elementos e compará-los (QI´s, Scatter e entrevista);
5. Enquadrar quadro clinico e possível diagnóstico.
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1. Utilização
A WAIS-III é um instrumento de avaliação da inteligência particularmente útil numa
ampla gama de situações. Em primeiro lugar, pode ser utilizada para orientação
vocacional no ensino secundário ou superior.
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2. Avaliação
1. Análise quantitativa:
resultados resultados
23 60 75 115
Padronizados Padronizados
24 61 76 116
6 45 58 98
25 62 77 117
7 46 59 99
26 63 78 118
8 47 60 100
27 64 79 118
9 48 61 101
28 66 80 119
10 49 62 102
29 67 81 120
11 50 63 103
30 68 82 121
12 51 64 104
31 69 83 122
13 51 65 105
32 70 84 124
14 52 66 106
33 72 85 125
15 53 67 107
34 73 86 126
16 54 68 108
35 74 87 127
17 55 69 109
36 75 88 128
18 55 70 110
37 76 89 129
19 56 71 111
38 77 90 131
20 57 72 112
39 78 91 133
21 58 73 113
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48 88 100 146 57 97
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Soma dos QI Total Soma dos QI Total Soma dos QI Total Soma dos QI Total
resultados resultados resultados resultados
Padronizados Padronizados Padronizados Padronizados
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2ª Análise: quantitativa
Índices Fatoriais
2. Análise qualitativa:
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Scatter
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É com os pontos fortes que se pode intervir e trabalhar os pontos fracos. É através de um
scatter (método dos sinais) que é possível transformar as notas standard do sujeito em sinais
(0 na média; + acima da média; ++ muito acima da sua média; - abaixo da sua média; - - muito
abaixo da sua média).
Permite aceder à distribuição dos resultados do sujeito em função de uma curva de Gauss,
permitindo traçar um perfil do sujeito. Faz-se a análise das potencialidades ou fragilidades do
sujeito, o que está na média não interessa. Em função das potencialidades e fragilidades do
sujeito, liga-se à história clínica do sujeito e ajuda na intervenção. É importante que durante
a prova se anotem todas as observações para que a análise possa ser mais apurada e ser
possível fazer uma análise resposta a resposta.
O QDM/QD diz respeito à estimativa da diminuição mental, na medida em que há funções que
apresentam um declínio mais acentuado com a idade e outras menos.
Com o avanço da idade há características que se vão deteriorando, como por exemplo, a
memória.
As provas que “mantém”, ou seja, as que não declinam com o avanço da idade:
Informação, vocabulário, composição de objetos e complemento de gravuras.
As provas que “não mantém”, ou seja, aquelas cujos resultados declinam mais com o
avanço da idade: Memória de Dígitos, Semelhanças, Código e Cubos.
Para aceder ao QDM voltamos às notas diretas e convertemo-las em notas ponderadas por
idade, através de tabelas por grupos de idade que só se utilizam para este cálculo (não servem
para aceder aos Q.I.).
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A interpretação do valor do QDM é feita com base numa comparação com valores normativos
da população geral:
Assim, se por exemplo, um sujeito apresentar um QDM = 0,19, significa que tem uma
probabilidade de 90% de possuir uma deterioração cognitiva. Da população que apresenta
um QDM entre 0.18 e 0.22, apenas 10% não possui deterioração mental.
→Exame←
Análise Quantitativa
1. Verificar se os QIs estão dentro da média.
2. Verificar se existe uma diferença superior ou inferior de 12 valores entre os QIs (para depois
definir o tipo de raciocínio);
3. Construção do Scatter: Verificar os valores significativos (++; +++; --; ---);
4. Mencionar resultados com respetiva escala e posteriormente com os índices fatoriais.
5. Calcular o Quociente de Deterioração Mental
Análise Quantitativa
1. Descrever/justificar se os resultados estão dentro da média;
2. Justificar e descrever o tipo de raciocínio e relacionar com elementos da entrevista clinica.
3. Comparar e interpretar os resultados do próprio sujeito nas diferentes provas – Pontos
frágeis e fortes – Scatter;
73
Avaliação em Psicologia Clínica
A Escala Clínica de Memória de Wechsler permite aos psicólogos uma avaliação rápida
e precisa da memória dos sujeitos. Graças a este instrumento, em conjunto com a WAIS, é
possível precisar, com o auxílio de índices apropriados, a discordância eventual entre o
resultado de um teste de memória e o resultado de um teste de inteligência, isto é, calcular a
possibilidade de “Deterioração Mnésica”.
O manual compreende uma tabela, dando para cada subteste, para cada faixa etária e
para cada sexo, a média e o desvio padrão. A Escala Clínica de Memória de Wechsler é
composta por sete sub-testes:
Teste I - Informação Pessoal e Geral
Teste II - Orientação Imediata
1. Utilização
No âmbito da avaliação clínica contribui para o diagnóstico e identificação de
disfunções da memória; identificação precoce de demências e condições degenerativas;
quantificação das disfunções da memória; identificação dos aspetos da memória que estão
deteriorados ou preservados; avaliação dos défices de codificação vs. recuperação; avaliação
de modalidades específicas da memória (por exemplo, auditiva ou visual); medida da eficácia
das intervenções; descrição dos aspetos qualitativos do funcionamento da memória; e
monitorização objetiva do desenvolvimento da doença.
74
Avaliação em Psicologia Clínica
Compreende seis questões simples de informação pessoal e geral: idade, onde nasceu,
presidente da república actual, presidente da república anterior, etc. Este teste discrimina
muito pouco ou nada os sujeitos normais ou os quase normais.
Cotação: 1 ponto por sucesso. Na idade toleramos 1 erro de 1 ano a mais ou a menos.
Consiste em cinco questões simples destinadas a testar a orientação imediata do sujeito: ano,
mês, dia, onde se encontra (instituição) e onde fica esse local (ponto de referência).
É composta por dois textos que lemos ao sujeito e que ele deve memorizar e voltar a contar.
Este teste tem por objetivo medir a memória imediata, logo que se trate de material lógico.
75
Avaliação em Psicologia Clínica
Nota Total da Escala - a nota total da escala é a soma dos totais de todos os sub-testes, pode
ter um máximo de 96 pontos.
→ Quociente de Memória:
As diferentes notas obtidas para um sujeito, obtidas nos sete testes da Escala Clínica
de Memória devem ser adicionadas para obter a Nota Total de Memória (Resultados Brutos).
76
Avaliação em Psicologia Clínica
77
Avaliação em Psicologia Clínica
*Os valores inferiores a 0 são obtidos pelos indivíduos que têm uma inferioridade na
Escala Clínica de Memória, em relação à Escala WAIS. Trata-se, então, de sujeitos que
apresentam as aptidões mnésicas menos elevadas, que não fazem prever o seu nível
intelectual.
*Os valores positivos, indicam a existência de uma certa superioridade das aptidões
mnésicas, em relação ao nível intelectual.
→Exame←
Análise Quantitativa
1. Com o valor do QM (quociente mental) calcular o valor do QDM/DM (deterioração mental);
2. Verificar Tabela 3 do manual
3. Mencionar o valor de QDM obtido.
Análise Qualitativa
1. Interpretar valor de QDM (se é positivo ou não)
2. Relacionar valor de QDM com o valor de QIT (QI Total)
3. Relacionar resultados com elementos anteriormente utilizados (entrevista clínica, WAIS,
etc).
4. Enquadrar quadro clínico e fazer possível diagnostico.
78
Avaliação em Psicologia Clínica
PROVAS INSTRUMENTAIS
A análise da Figura Complexa de Rey resulta de uma conjugação sintética dos vários
aspetos a seguir referidos.
Os elementos resultantes da observação relativos ao comportamento e reações da
criança durante o teste ajudam a precisar a apreciação da prova.
Há que prestar também atenção aos elementos relativos à projeção corporal tais como
reproduções em espelho, questões relativas à lateralidade, e relações de execução e
posicionamento espacial.
O objetivo final é procurar conjugar os elementos resultantes da análise efetuada com a
possibilidade da obtenção de uma resposta às questões formuladas durante a colocação das
hipóteses diagnósticas que levaram a que esta prova tivesse sido aplicada.
A prova gráfica da organização percetiva. Diagnóstico diferencial entre deficiência mental
e adquirida no seguimento de traumatismo craniano. A figura é complexa e obriga a síntese e
o raciocínio analíticos que são organizadores. Hoje é utilizada a perspetiva mais clínica do que
psicométrica. Esta prova é sensível ao controlo visuo-motor, memória imediata e rapidez do
desenho mental.
→Interpretação resultados:
79
Avaliação em Psicologia Clínica
→FIGURA A←
1.Correcção e Pontuação
80
Avaliação em Psicologia Clínica
Tipo III – Contorno geral da figura: O sujeito começa o seu desenho pela reprodução do
contorno integral da figura sem diferenciar nela, explicitamente, o rectângulo central. O
sujeito obtém assim uma espécie de “contentor” onde são depois colocados todos os detalhes
interiores. Neste tipo há uma acentuação na estrutura envolvente da figura e na distinção
dentro/fora. Surge com alguma frequência maioritariamente até aos 7 anos de idade.
81
Avaliação em Psicologia Clínica
Tipo IV – Justaposição de detalhes: O sujeito vai desenhando os detalhes uns ao lado dos
outros como se estivesse a fazer um puzzle. Não existe um elemento director da reprodução.
Uma vez terminada, melhor ou pior, a figura é globalmente reconhecida e pode até estar
perfeitamente conseguida. Está relacionado com uma capacidade de análise e de síntese das
estruturas grafo-percetivas que não tem em conta as estruturas organizativas primárias e
secundárias. É frequente nas crianças entre os 5 e os 10, 11 anos.
Tipo V – Detalhes sobre fundo confuso: O sujeito desenha um grafismo pouco ou nada
estruturado, no qual não é possível identificar o modelo, embora existam certos detalhes
reconhecíveis, pelo menos na sua intenção. Está relacionado com uma perceção global onde
avultam algumas estruturas graficamente melhor percecionadas. É próprio de crianças
menores de 4, 5 anos de idade.
82
Avaliação em Psicologia Clínica
Tipo VI – Redução a um esquema familiar: O sujeito transforma a figura num esquema que lhe
é familiar e que pode, por vezes, recordar vagamente a forma geral do modelo ou de alguns
dos seus elementos (casa, barco, peixe, boneco, etc.). A criança procura atribuir um sentido às
formas sem sentido que constituem a figura de Rey, identificando-as a algo semelhante que já
conhece no seu universo perceptivo. É próprio das crianças mais novas e desaparece após os 4,
5 anos de idade.
83
Avaliação em Psicologia Clínica
Ainda que seja importante identificar o processo de cópia, a exactidão e o grau de perfeição do
trabalho são outras variáveis importantes. Para avaliá-las correctamente, é necessário ter em
conta o número de elementos copiados e a sua relação. Osterrieth dividiu a figura em 18
partes (quer na cópia como na reprodução de memória):
84
Avaliação em Psicologia Clínica
13 – Dois lados iguais que formam um triângulo isósceles construído sobre o lado direito do
retângulo 2, exteriormente a este.
14 – Pequeno losango situado no vértice extremo do triângulo 13.
15 – Segmento situado no triângulo 13, paralelamente ao lado direito do retângulo 2.
16 – Prolongamento da mediana horizontal que constitui a altura do triângulo 13.
17 – Cruz da parte inferior, compreendendo o braço paralelo ao lado inferior do retângulo 2 e
o pequeno prolongamento da mediana 5 que a une a este lado.
18 – Quadrado situado no extremo inferior esquerdo do retângulo 2, prolongamento do lado
esquerdo, compreendendo também a sua diagonal.
2.Critérios de Pontuação
2.1. Riqueza e exactidão da Cópia
B)Reprodução de Memória
Os mesmos critérios aplicados à reproducão por cópia.
85
Avaliação em Psicologia Clínica
2.Aferição do Autor
(A pontuação directa é encontrada nos valores do centro da tabela na respectiva coluna da idade –
depois associamos ao percentil da linha.)
(Aferição Portuguesa)
86
Avaliação em Psicologia Clínica
Graduação das formas de cópia (vão das reacções mais primitivas às mais evoluídas):
1ª – Tipo VI: “Redução da figura a um esquema familiar”. Este tipo de reprodução surge entre
os 4 e os 5 anos, embora muito raramente, e desaparece aos 6 anos. Os sujeitos que atuam
assim partem, em geral, do círculo, assimilando-o a uma cara, para desenhar um boneco,
ignorando todo o resto do modelo.
2ª – Tipo V: “Fundo de linhas mais ou menos confusas onde se destacam certos detalhes
claramente reconhecíveis”. A maior frequência deste tipo de reprodução dá-se no grupo dos 4
anos (50%), no qual predomina. Contudo, diminui rapidamente e desaparece no grupo dos 8
anos.
3ª – Tipo IV: “Justaposição de detalhes sem traço-base, terminando num conjunto mais ou
menos coerente”. É o tipo de reprodução predominante nos grupos de 5 a 10 anos. A sua
frequência é elevada nos grupos de 4 a 7 anos alcançando o se máximo no grupo dos 8 anos
(70%) para diminuir depois, de forma bastante regular, até à idade adulta onde tem uma
representação mínima.
4ª – Tipo III: “Contorno geral no qual se colocam depois todos os detalhes”. Esta conduta não
predomina em nenhuma idade; porém, mantém-se no decurso de toda a evolução como tipo
complementar. Com exceção do grupo dos 10 anos, em que tem a sua frequência máxima
(35%), diminui, no conjunto, a partir dos 6 anos e deixa de ser apreciável nos adultos.
5ª – Tipo II: “Detalhes englobados na armação”. Este tipo nunca chega a ser predominante em
nenhuma idade e pode, assim, como o III, ser considerado um tipo complementar. Aparece no
grupo dos 6 anos e aumenta progressivamente até aos 12 anos, idade em que alcança a sua
mais alta frequência (42 em 100) para diminuir em seguida até à idade adulta.
6ª – Tipo I: “Desenho que começa pelo retângulo central que serve de estrutura a todo o
desenho”. É o tipo de reprodução característico do adulto, grupo em que alcança, aliás, a
frequência máxima (55%) que é, por outro lado, a única predominante. Esta produção está
presente desde os grupos de 4 anos e aumenta, lentamente, através dos diferentes grupos de
idade até alcançar, bruscamente, o máximo. Os tipos I e II só variam num ponto. No tipo II o
sujeito começa por um detalhe contíguo ao retângulo e passa, depois, ao retângulo central
para construir, como no tipo I, a estrutura base do seu desenho. Estes dois tipos de
reprodução então, pois, muito próximos.
Uma vez que tanto o tipo II como o tipo I se distinguem dos restantes pela polarização
do desenho em torno do retângulo central, parece que se poderá, legitimamente, considerar
este tipo II (que se encontra também nos adultos) como uma variedade do tipo I, e reunir estes
87
Avaliação em Psicologia Clínica
tipos de reprodução (praticamente iguais, enquanto os outros são muito diferentes) num tipo
global superior.
Portanto têm-se:
7ª – Tipo I + Tipo II: “Baseado no retângulo central que serve de estrutura ao desenho”.
Verifica-se este tipo de reprodução em todas as idades; tem um crescimento lento até aos 10
anos e passa a ser dominante aos 13 anos, depois de competir com o IV nos 11 e 12 anos;
continua a progredir até alcançar o máximo (81%) no grupo dos adultos.
A evolução do processo de cópia em função da idade passará, assim, pelas três etapas
seguintes, caraterizadas, cada uma delas, pelo predomínio de um tipo de cópia (o tipo mais
frequente para essa idade, em geral 50% e superior) e a presença de dois tipos secundários.
Tabela, em percentis, dos vários tipos de cópia. (Os números mostram que as crianças
muito pequenas já podem apresentar um tipo superior. Vê-se também que o tipo I – o mais
evoluído – corresponde à mediana das formas de cópia encontradas nos adultos.)
(Nota: 4 (estádio 1); 5/6 (estádio 2); 7/10 (estádio 3); 11/12, 13/15 e adultos (estádio 4))
88
Avaliação em Psicologia Clínica
(Aferição Portuguesa)
89
Avaliação em Psicologia Clínica
(Aferição Portuguesa)
90
Avaliação em Psicologia Clínica
(Aferição Portuguesa)
Relação qualidade/rapidez
Conjugar a correção ou inexatidão da reprodução com a rapidez ou lentidão de
execução:
Figura reproduzida bem e rapidamente – O melhor dos resultados esperáveis. Significa
boa capacidade gráfica (a relativizar com o tipo de reprodução, será tanto melhor quanto
mais esta se aproxime do tipo I ou II, mas há que ter em conta que o tipo IV também é
comum numa criança) e boa capacidade de organização grafo-percetiva.
Figura reproduzida bem, mas lentamente – Significa a existência de boas capacidades
grafo-percetivas, mas o resultado fica prejudicado pela lentidão da execução. As
hipóteses de isto acontecer são: meticulosidade, perfeccionismo, aspetos defensivos de
carácter rígido, receio de errar, lentidão e morosidade devidas a características
obsessivas ou a aspetos depressivos.
Figura reproduzida mal, mas lentamente – Significa a existência de capacidades grafo-
percetivas diminuídas. O sujeito pode, ainda assim, ter feito um esforço por rememorar e
reproduzir a figura e a lentidão advir daí, ou por outro lado, a lentidão ser mais uma das
marcas das suas dificuldades. Isto pode ser devido a problemas de memória, depressão,
déficit de perceção ou organização visual, envolvimento neurológico.
91
Avaliação em Psicologia Clínica
B) Reprodução de Memória
Tipo de construção, exactidão, riqueza da reprodução e rapidez igual à Reprodução por Cópia.
(Nota: 4 (estádio 1); 5/6 (estádio 2); 7/10 (estádio 3); 12/12l e 13/adultos (estádio 4))
(Aferição Portuguesa)
92
Avaliação em Psicologia Clínica
(Aferição Portuguesa)
93
Avaliação em Psicologia Clínica
(Aferição Portuguesa)
94
Avaliação em Psicologia Clínica
95
Avaliação em Psicologia Clínica
96
Avaliação em Psicologia Clínica
Cópia e Memória de boa qualidade: A mais desejável. Tanto melhor quanto mais rápida e
mais bem executada.
Cópia melhor que a memória: Dificuldades de memorização. A conjugar com os restantes
elementos obtidos com a passagem desta prova.
→Exame←
Análise Quantitativa
3º Ver em que percentil o sujeito se encontra (tendo em conta o total da pontuação e tendo
em conta a idade):
Análise Qualitativa
97
Avaliação em Psicologia Clínica
→FIGURA B←
1.Correcção e Pontuação
A diferença entre o quadrado e o rectângulo deverá ser nítida para que cada figura
constitua um elemento.
98
Avaliação em Psicologia Clínica
Trata-se de uma igualdade aproximada de 4mm mais ou menos. Concede-se 0,5pontos se falta
o triângulo ou o círculo, desde que exista proporcionalidade entre os outros dois elementos.
99
Avaliação em Psicologia Clínica
A) Reprodução da Cópia
(Aferição Portuguesa)
100
Avaliação em Psicologia Clínica
(Aferição Portuguesa)
101
Avaliação em Psicologia Clínica
(Aferição Portuguesa)
102
Avaliação em Psicologia Clínica
Aplicado dos 8 anos para a frente. É usado por excelência na patologia cerebral:
Perceção-Visual;
Memória-Visual;
Habilidades Visuo-construtitvas;
Existem 3 Formas de Teste para cada uma das formas em função das necessidades a
avaliar:
C
D
E
103
Avaliação em Psicologia Clínica
Cada prova tem 10 pranchas – cada uma com 1 ou mais desenhos geométricos.
Os critérios de avaliação são bastante flexíveis, visto que o principal interesse se centra
em apreciar a capacidade do sujeito para reter uma impressão visual e não a sua
habilidade para desenhar.
Valorização dos erros – tem em conta o tipo de erros específicos cometidos pelos
sujeitos. Os erros específicos permitem uma análise das características qualitativas
complementar ao número total de erros que constitui um índice de eficácia geral da
execução.
104
Avaliação em Psicologia Clínica
Outros determinantes de uma Execução Defeituosa (para além dos erros e que nos permitem
confirmar a existência de patologia cerebral):
2. Interpretação
→APLICAÇÃO A←
o Adultos:
105
Avaliação em Psicologia Clínica
o Crianças:
106
Avaliação em Psicologia Clínica
→APLICAÇÃO B←
A correção de 1 ponto, aplicada a partir das normas das reproduções corretas da aplicação A
(tabela acima), ofereceria resultados satisfatórios para a aplicação B. assim, uma diferença
superior a 1 Ponto entre a aplicação A e a aplicação B, permite concluir DM.
107
Avaliação em Psicologia Clínica
→APLICAÇÃO C←
o Adultos:
o Crianças:
108
Avaliação em Psicologia Clínica
O resultado vê-se em função dos acertos e erros que era esperado para o sujeito com
determinada idade e QI, são essas diferenças que dizem se há organicidade ou se está em
causa uma questão mais emocional que não permite que o sujeito utilize as suas capacidades.
Análise Qualitativa
A administração A e C podem ser muito valiosas na clínica e na avaliação das capacidades de
aprendizagem de crianças podendo dar indicação da importância dos fatores cognitivos não
verbais como componentes da incapacidade de aprender.
Também se podem identificar três tipos de dislexia em crianças e adolescentes:
1) Síndrome de perturbações da linguagem, caracterizada por deficiências da
linguagem oral, mas com as aptidões visuo-perceptivas e visuo-construtivas mantidas íntegras.
2) Síndrome de perturbações grafo-motoras e articulatórias, caracterizada por
dificuldades de articulação na fala e realizações deficitárias na administração C do TRVB, mas
mantendo íntegras as aptidões da linguagem;
3) Síndrome de perturbações da percepção visuo-espacial, caracterizada por
realizações defeituosas na administração A do TRVB, mas mantendo íntegras as aptidões de
linguagem e da articulação da fala.
109
Avaliação em Psicologia Clínica
A partir dos 6 anos, embora a sua autora considere que o teste tem validade entre os
4 e os 11 anos. O objetivo é obter, através do uso de padrões com diferentes graus de
complexidade e princípios de organização, um índice de maturação percetivo-motora,
desenvolvimento mental e afetivo.
Consiste num total de 9 cartões, cada um deles medindo 14,9 cm de comprimento por
10,1 cm de altura. Cada cartão de fundo branco é constituído por estímulos formados por
linhas contínuas ou pontos, curvas sinuosas ou ângulos, desenhados a preto.
Sendo assim, 5 figuras do teste são formadas por linhas retas ou continuas e 4 figuras
por pontos ou círculos. A função gestalt visuo-motora é para Bender uma função fundamental
associada à aptidão de linguagem e estritamente associada às diversas funções intelectuais
(perceção visual, etc.).
→MODELO I←
1. Descrição do modelo
2. Critérios de Cotação
110
Avaliação em Psicologia Clínica
Eixo horizontal: medida pela grade C, o eixo é considerado como horizontal, se o centro do
quadrado estiver no interior do ângulo C.
Tangência correta: existe um ponto de contacto e um só entre o círculo e o quadrado, tolera-
se um contacto de um milímetro.
Quadrado igual do modelo: a grade D2 é utilizada para o quadrado, da mesma forma que a
grade D1 para o círculo: o quadrado deve ficar por inteiro compreendido entre os dois da
grade.
→MODELO II←
1. Descrição de modelo
2 (II)
111
Avaliação em Psicologia Clínica
Dez paralelas fazendo com a horizontal um ângulo de mais 115º, inclinadas a 25º sobre a
esquerda da vertical e espaçadas 12,5mm. Cada uma das 30 intersecções é o centro de um
círculo de 1,5mm de diâmetro.
Podemos considerar a figura como um conjunto horizontal de dez elementos inclinados
para a esquerda e compreende para cada um 3 pequenos círculos alinhados.
A forma,
O número,
As relações de proximidadeseparação,
Orientação,
Alinhamento,
Dimensão.
2. Critérios de Cotação
Nenhum contacto entre os círculos no interior de um elemento: o espaço deve ser nítido.
Paralelismo dos elementos: os elementos são considerados paralelos, quando se pode seguir
as linhas de inclinação sucessivas com uma reta da grade B, sem modificar a direção desta.
Eixo inclinado de 0 a 5º sobre a horizontal: o eixo do modelo II é a reta que une os centros dos
círculos extremos da linha superior. Se há mais de 11 elementos, não se consideram senão os
11 primeiros. Utiliza-se a grade C. A nota é concedida se o centro do último círculo, à direita da
linha superior, é interior ao ângulo C.
112
Avaliação em Psicologia Clínica
Comprimento total da figura compreendida entre 8 e 14 cm: a nota não pode ser concedida
senão quando o número de elementos é exato. Pela grade B mede-se a distância entre os
centros dos círculos extremos da linha superior.
→MODELO III←
1. Descrição do modelo
4 (III)
Embora os termos não sejam adequados, chamaremos aos dois elementos do modelo, um
“quadrado” e “ogiva”.
Dentro do “quadrado” distinguiremos os lados e a base; na “ogiva” a curva (parte central
arredondada) e os ganchos (as duas extremidades).
A “ogiva” é tangente ao ângulo direito do quadrado, o seu eixo de simetria forma com a
base do quadrado um ângulo de 30º.
A forma,
Relações de proximidadeseparação,
Orientação geral,
Orientação precisa,
Dimensão.
2. Critérios de Cotação
Mesmo nível na conclusão dos dois lados: os dois vértices dos lados ficam à mesma distância
da base. Cotar utilizando as linhas paralelas da grade B.
Curvas bem-feitas: a forma da curva respeita com precisão a simetria e as proporções internas
do modelo (relação entre a profundidade e a distância entre os ganchos).
113
Avaliação em Psicologia Clínica
Colocação correta da curva: a curva está situada na zona delimitada pelas medianas da base e
do lado direito do quadrado.
Ponto de tangência correto: a parte superior da curva toca o ângulo direito do quadrado.
Tolera-se urna ligeira secância ou uma ligeira separação.
→MODELO IV←
1. Descrição do modelo
3 (IV)
Vértice S1;
Três ângulos: A1 do vértice S1 (determinado por 3 pontos distantes 5mm); A2 do vértice
S2 8determinado por 5 pontos distantes 5mm); A3 do vértice S3 (determinado por 7
pontos distantes 5mm).
As distâncias em S, S1, S2, S3, são iguais entre eles e medem 15mm.
Os ângulos A1, A2, A3, medem 1:8º e SS3 é a bissectriz dos 3 ângulos.
114
Avaliação em Psicologia Clínica
A forma,
O número,
Relações de proximidadeseparação,
Orientação geral,
Orientação precisa,
Os alinhamentos,
As dimensões.
2. Critérios de Cotação
Maioria de pontos: é necessário para conceder a nota, que pelo menos metade dos elementos
seja constituída de pontos (nenhum branco é visível no interior).
Ângulo A1 correcto: o ângulo não está invertido; o número de pontos está correcto (3 pontos);
o centro dos três pontos ou círculos não estão alinhados (usar uma recta da grade B).
Ângulo A2 curvo: o ângulo não está invertido; o ângulo é constituído por um número qualquer
de pontos; existem muitos ângulos abertos para a esquerda, cuja sucessão determina o
aspecto curvo de A2. Comentário dos reveses: ângulo A2 chato; em A2 há um ângulo aberto
para a direita.
Ângulo A3 correcto: o ângulo não está invertido; o número de pontos está correcto (7 pontos);
não existe senão um ângulo aberto para a esquerda, no qual o vértice é o quarto ponto de A3.
Ângulo A3 curvo: o ângulo não está invertido; o ângulo é constituído por um número variado
de pontos; existem muitos ângulos abertos para a esquerda, nos quais a sucessão determina o
aspecto curvo de A3. Comentário dos reveses: ângulo chato; em A3, apresentando dois
ângulos para a direita.
Número correcto de pontos em todos os ângulos: 1 ponto para o vértice S; 3 pontos para o
ângulo A1; 5 pontos para o ângulo A2; 7 pontos para o ângulo A3.
Eixo horizontal: o eixo da figura é a direita que une o centro do vértice S ao vértice do ângulo
A3, denomina-se S3. A horizontal do eixo é medida com a grade C, fazendo coincidir o vértice C
115
Avaliação em Psicologia Clínica
com S, e uma horizontal da grade com a borda superior da folha: o eixo é considerado como
horizontal se S3 está situado no interior do ângulo C, ou a rigor sobre um lado de C.
Equidistância sobre o eixo: mede-se por meio da grade B as distâncias SS1, S1S2 e S2S3.
Simetria: comentário dos reveses: o eixo não é a bissetriz dos ângulos; os pontos do ângulo A3
não são equidistantes.
→MODELO V←
1. Descrição do modelo
7 (V)
Eles comportam um ângulo que se encontra no vértice superior do hexágono vertical (A), e
no vértice inferior do hexágono oblíquo, sendo A o hexágono em posição vertical e B o
hexágono em posição oblíqua.
116
Avaliação em Psicologia Clínica
A forma,
Relações de proximidadeseparação,
Orientação geral,
Orientação precisa,
Dimensões.
2. Critérios de Cotação
Orientação correta dos dois hexágonos: o hexágono A está disposto na vertical; o hexágono B,
colocado à esquerda do hexágono A, é reproduzido numa posição globalmente oblíqua em
relação a este último.
Interpretação Qualitativa
117
Avaliação em Psicologia Clínica
Factores organizacionais
Referem-se aos aspetos de disposição das figuras na página usada pelo indivíduo.
Sequência
1. Rígida: as figuras são desenhadas numa sequência direta na página. A colocação dos
desenhos parece forçada e sem consideração por tamanho ou forma.
2. Ordenada: sucessão regular de figuras com a exceção da realização de uma inversão
(mudança de direção).
3. Irregular: mais de uma mudança de direção mas, mudanças lógicas para possibilitar mais
espaço para uma figura.
4. Confusa: não são desenhadas mais do que três figuras em sequência e as restantes estão
espalhadas pela página.
5. Figura I no centro com as outras colocadas arbitrariamente à volta (confusa).
Coesão na página
1. Tendência de borda: dois terços das figuras são dispostos ao longo da borda vertical de tal
maneira que não se estendem além da linha média. A borda do papel parece servir como
linha de indicação e de orientação do desenho.
2. Tendência de topo: dois terços ou mais das figuras estão dentro do terço superior da
página.
3. Tendência de base: dois terços das figuras estão dentro do terço inferior da página.
A compressão das figuras numa pequena porção da página reflete uma personalidade
que tende a se retirar do seu ambiente. A criança sente-se ameaçada pelo mundo, tal como o
percebe e tem uma necessidade excessiva de se apegar a alguém ou alguma coisa (pode ser
indicador de disfunção cerebral mínima e como forma de compensar o transtorno percetual
usando a borda da página como ponto de referência).
118
Avaliação em Psicologia Clínica
1. Arranjo expansivo: as figuras são espalhadas amplamente pela página com uma grande
separação entre as mesmas.
Indica uma criança ativa com sentimentos agressivos e rebeldes.
2. Uso de mais do que uma página: está relacionado com a expansão do desenho.
Indica uma criança ativa, auto centrada e agressiva que tende a agir de acordo com os seus
impulsos para gratificação imediata das suas necessidades (pode indicar psicopatia).
3. Papel mudado de orientação.
Comportamento de passagem ao ato e expressão de negativismo indica crianças
resistentes e rebeldes.
119
Avaliação em Psicologia Clínica
Fechamento
1. Quebra de contornos;
2. Trespasse no ponto de junção;
3. Pequena separação de sub-partes;
4. Penetração de uma sub-parte por outra;
5. Deslocamento de uma sub-parte;
6. Absorção do vértice de uma sub-parte por outra.
Se cerca de metade das figuras apresentam os desvios descritos pode-se dizer que o
protocolo demonstra dificuldades de fechamento. Estes desvios são vulgares em crianças
adaptadas.
Estas dificuldades são expressão de medo ou excessivo atrito nas relações interpessoais,
podem indicar que a criança nunca teve uma relação satisfatória com um adulto significativo:
privação emocional.
Simplificação
Uso de conceitos menos maduros na reprodução das figuras. A figura é considerada
imatura quando é típica de uma idade mental abaixo da idade da criança. Os desvios têm que
estar presentes em, pelo menos, três unidades para que seja considerada regressiva:
1. A idade mental equivalente da forma básica está abaixo da idade mental da criança;
2. A junção das sub-partes não se aproxima da apropriada para a idade como é apresentada
no quadro maturacional.
120
Avaliação em Psicologia Clínica
Rotação
Mudança de angulação
Mudança maior de 15 graus no tamanho de qualquer ângulo.
Na figura II, a partir dos 10 anos, a presença de colunas verticais sugere a falta de expressão
manifesta de sentimento ou embotamento de afeto. A presença de arqueamentos inusitados
indica autocentramento.
Métodos de trabalho
Rasura
A criança com desenvolvimento normal manifesta a necessidade de rasurar. A criança
que não manifesta essa necessidade revela auto conceito e motivação pobres. A criança
obsessiva manifesta a necessidade de rasura numerosas vezes uma vez que o empenho
representa a tentativa de controlar a ansiedade.
Repassamento
Ato de tornar a fazer uma linha ou um ponto feito previamente. As crianças adaptadas
fazem-no na tentativa de tornar o desenho mais parecido com o modelo. As crianças
perturbadas fazem-no pouco, mas preenchem círculos ou aumentam pontos com
repassamento repetido e muitas vezes vigoroso. Isto revela uma tensão excessiva e canais
inadequados de expressão como forma de a libertar. Pode revelar imaturidade tanto física
como emocional, assim como um atraso percetual.
Tempo
Os tempos das crianças perturbadas são mais curtos, exceto para a criança obsessiva
(mais ou menos 6 minutos).
121
Avaliação em Psicologia Clínica
Qualidade da linha
O esboço, no sentido de linhas repetidas, curtas, sobrepostas, é, habitualmente,
associado a ansiedade e auto conceito pobre. Crianças que produzem linhas quebradas ou com
trespasse podem apresentar problemas nas relações interpessoais. Linhas com tremores
grosseiros são mais sintomáticas de fatores orgânicos.
Figuras emolduradas
Consiste em molduras em torno das figuras. O uso de linhas para separar as figuras é
uma maneira da criança expressar insegurança e ansiedade. Envolve sentimentos de
inadequação em relação às exigências feitas pelos adultos e pode conduzir ao isolamento.
Transtornos Neuropsicológicos
Nem todas as crianças com transtornos do S.N.C. irão deformar as reproduções dos
modelos.
Os desvios grosseiros não são característicos apenas de crianças com lesão cerebral,
pois crianças psicóticas e deficientes mentais também podem apresentam rotações, colisões e
fragmentações. No entanto, a maioria dos protocolos fornecem informações sobre o teste da
realidade e da idade mental, cabendo ao psicólogo formular ou rejeitar essa hipótese através
desse diagnóstico diferencial.
Se aparecerem quatro ou mais desvios, o psicólogo pode formular, com confiança, que
a criança possui um transtorno do S.N.C.
1. Simplificação de uma ou mais figuras num nível de três ou mais anos abaixo da idade
mental da criança;
2. Fragmentação de uma ou mais figuras;
3. Colisão de uma figura com outra ou com a borda do papel;
4. Rotação igual ou maior do que 90 graus de uma ou mais figuras;
5. Número incorreto de unidades em três ou mais figuras;
6. Perseveração de um tipo de unidade de figura em figura;
7. Má qualidade da linha;
8. Vírgulas e/ou traços em duas ou mais figuras.
122
Avaliação em Psicologia Clínica
Simplificação
Quando a criança é incapaz de reproduzir o modelo ou não tem vontade de dispender
energia, produz uma versão simplificada do estímulo. Esta versão simplificada pode ser devida
a resistência e à hostilidade ou a causas fisiológicas. Neste último caso, a criança pode
demonstrar confusão e indecisão, esforço e verbalizar as suas dificuldades.
Fragmentação
Montagem das sub-partes do estímulo de forma separada. À simplificação extrema da
forma total com nas sub-partes, chama-se fragmentação. A criança separa as partes sem
parecer ter tentado ou pretendido fazer a conexão. Esta alteração introduz a possibilidade de
transtorno cerebral, deficiência mental ou processo psicótico. A diferença com as dificuldades
de junção é que nestas houve algum esforço para fazer a conexão tangencial ou coincidente.
Colisão
Encontro de duas figuras ou de uma figura com a borda da página. É encontrada nos
protocolos de crianças impulsivas, ativas, psicóticas ou com transtornos do S.N.C. Indica um
sério defeito da individuação. No caso de lesão cerebral, o psicólogo fica com a sensação que a
criança excluiu toda a perceção visual exceto a do estímulo perdendo a perspetiva. A colisão é
um indício de transtorno do S.N.C., mas uma só não é suficiente para essa conclusão.
Rotação
Uma rotação grosseira (90 a 180 graus) é indicadora da possibilidade de perturbações
de identidade ou lesão cerebral. Só uma rotação pode ser um fracasso momentâneo mas,
nesse caso, a criança menciona o seu erro e presta-se a fazer o desenho corretamente.
Perseveração
123
Avaliação em Psicologia Clínica
mnésico para um segundo desenho. Aparece mais frequentemente nas crianças com
transtornos do S.N.C.
Qualidade da linha
Irregularidades como tremor grosseiro do braço ou da mão, dificuldades em executar
os cantos, as linhas retas e curvas tornam-se onduladas. Estas características levantam a
questão quanto à possibilidade de um transtorno do S.N.C.
Traços e vírgulas
Quando substituem pontos, e depois dos oito anos pode ser indício de que o
desenvolvimento percepto-motor está atrasado por comprometimento do S.N.C. Podem ser
executados por crianças impulsivas, não colaborantes, que não se preocupam com a precisão.
124
Avaliação em Psicologia Clínica
125
Avaliação em Psicologia Clínica
(Máx. 15 pontos) (Máx. 16 pontos) (Máx. 12 pontos) (Máx. 22 pontos) (Máx. 16 pontos)
7 anos 4 7 9 5 7 8 5 6 8 5 7 9 2 5 8
8 anos 5 8 10 6 8 10 6 8 9 6 9 12 4 6 9
9 anos 6 9 11 8 8 11 8 10 11 7 9 13 6 8 12
12 anos 9 11 12 10 11,5 13 9 12 12 10 15 18 11 13 15
14 anos 9 11 12 10 13 13 9 11 12 13 16 19 12 14 15
Escala de Maturação
126
Avaliação em Psicologia Clínica
ESCALAS SINTOMÁTICAS
Sintoma – substituto de uma satisfação pulsional que não se deu porque o recalcamento
transformou o prazer em desprazer. Isto reporta ao Modelo Pulsional. O recalcamento impede
a satisfação e a recarga para o exterior. É comum haver sintomas que aparecem e
desaparecem rapidamente. É necessário ver em que momento da vida aparece e também tem
a ver com questões orgânicas, ou seja, a interpretação não depende de um único
acontecimento. Muitos sintomas são somáticos.
1. Estados Ansiosos
Algo causa angústia de frustração que faz sentido e traduz-se em graus diferentes. O
estado afetivo doloroso que consiste num sentimento penoso, que dá conta de um perigo
impreciso, eminente, a qualquer momento. Aparece como um sintoma geral de alarme,
em muitas descrições teóricas, com inscrição psicodinâmica, onde a noção de conflito
desempenha o papel principal. Uma crise de angústia é pontual, em relação a algo
especifico e difere de estados ansiosos crónicos que são mais concretos e mais associado a
planos somáticos.
Tipos de Ansiedade/Angústia
Ansiedade normal – experiência de ansiedade que é ajustável e habitual sentir quando
estamos expostos a uma situação difícil, associa-se a ideias pessimistas perante um
acontecimento geral.
Ansiedade neurótica – nos estados neuróticos constitui-se como sendo o principal sintoma.
127
Avaliação em Psicologia Clínica
2. Estados Depressivos
Classificação
o Depressões primárias:
o Depressões secundárias:
Depressões somáticas
128
Avaliação em Psicologia Clínica
Poderá ser útil em diversos campos de investigação mas também em todas as formas
de perturbação emocional. Permite perceber se as características da ansiedade são reativas a
determinada situação ou situações ou se é um traço de personalidade.
129
Avaliação em Psicologia Clínica
8. Auto-acusação
9. Desejos suicidas
10. Crises de choro
11. Irritabilidade
12. Afastamento social
13. Incapacidade de decisão
14. Distorção da imagem corporal
130
Avaliação em Psicologia Clínica
(População Portuguesa)
Score total Nível de depressão
0-11 Ausência de depressão
12-17 Depressão Ligeira
18-24 Depressão Moderada
25-63 Depressão Grave
→Exame←
Análise Quantitativa
Enquadrar o valor total do Inventário de Beck na cotação geral para se estabelecer o quadro
depressivo.
Análise Qualitativa
É um questionário composto por 33 itens segundo uma Escala de Likert de cinco pontos
(nunca/raramente/às vezes/frequentemente/muito frequentemente) dividido em 3 escalas:
escala de Restrição (10 itens), escala de Ingestão Externa (10 itens) e escala de Ingestão
emocional (13 itens).
131
Avaliação em Psicologia Clínica
População alvo: jovens (a partir dos 9 anos) e adultos com perturbações do comportamento
alimentar (anorexia, bulimia, ingestão compulsiva, obesidade).
Escala de Restrição → esforço que o sujeito exerce regularmente para controlar o seu apetite
e ingestão de alimentos, envolvendo-se em dietas.
Escala de Ingestão Externa → desinibição ou perda de controlo que ocorre devido a factores
externos intrínsecos aos alimentos ou à situação social em que são ingeridos.
Um resultado elevado numa das dimensões implica um modo de reagir aos alimentos que
se traduz num padrão ou num estilo alimentar.
É constituído por 30 itens, variando as respostas de 1 (“o pensamento nunca ocorreu”) até 7
(“o pensamento ocorreu sempre”. Os 30 itens são pontuados de 0 a 6, numa direcção
patológica, sendo a pontuação máxima de 180, indicando cognições suicidas ocorrendo quase
todos os dias.
132
Avaliação em Psicologia Clínica
o Somatização
o Obsessividade-compulsividade
o Sensibilidade interpessoal
o Depressão
o Hostilidade
o Ansiedade fóbica
o Ideação paranóide
o Psicoticismo
o Índice geral de sintomas (IGS) – somatório dos sintomas dividido por 90 (num índices da
escala)
o Índice de sintomas positivos (ISP) – todos os sintomas acima de zero; somatório de todos
os sintomas positivos, dividido pelo número de sintomas positivos
o Total de sintomas positivos (TSP)
Permite aceder ao gráfico do perfil sintomático: valor de corte = 1,7 – valor de corte em
clínica para que sintoma seja clinicamente significativo.
133
Avaliação em Psicologia Clínica
É um inventário de auto resposta com 53 Itens onde o individuo deverá classificar o grau
em que cada problema o afectou durante a última semana, numa escala tipo Likert que varia
entre 0 (“nunca”) a 4 (“muitíssimas vezes”).
134
Avaliação em Psicologia Clínica
1. Cálculos e Interpretação
𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎
3º PASSO → IGS = 53
𝑇𝑂𝑇𝐴𝐿
5º PASSO → ISP =
𝑇𝑆𝑃
A simples leitura dos índices globais permite avaliar, de forma geral, o nível de
psicossintomatologia apresentado:
135
Avaliação em Psicologia Clínica
ESCALAS NOSOGRÁFICAS
Aparecem para a necessidade de sistematização e identificação nosográfica das
entidades psiquiátricas. Pesquisa e teorização do campo psicopatológico.
Dimensões avaliadas: tem escalas de validade para aferir se o protocolo é válido ou não.
Escalas de validade:
o (L) mentira
o (F) incoerência – frequência das incoerências
o (K) correção, pontuação interrogante (para itens não preenchidos, dúvidas, etc.)
10 Escalas básicas:
o Hipocondria
o Depressão (escala muito sensível)
o Histeria
o Desvio psicopático
o Masculino/feminino
o Paranoia
o Psicastenia (sintomas obsessivos-compulsivos)
o Esquizofrenia (resultado deve ser analisado com cuidado, sempre em associação com
outra escala, pois é das escalas menos potentes do MMPI)
o Hipomania
o Introversão social
136
Avaliação em Psicologia Clínica
15 Escalas de conteúdo:
O perfil é feito com base nas notas T, uma vez que cada valor bruto corresponde a uma
nota T. os valores que se encontram abaixo ou dentro do valor normativo não são
significativos, apenas os que se encontram acima têm valor clínico.
Escalas clínicas:
Interpretação resultados
1º - Escala a escala.
2º - Código de 2 dígitos – avaliação conjunta das duas escalas clínicas com valores mais
elevados (ver psicodiagnóstico).
1. Correcção e Codificação
1) Correção Manual das Folhas de Resposta
3 Escalas de Validade;
10 Escalas Clínicas;
15 Escalas de Conteúdo;
PD (Pontuação Direta) – contar número de respostas que aparecem debaixo das pequenas
caixas do modelo (ignorando as rodeadas) – basicamente, número de respostas para cada
categoria.
137
Avaliação em Psicologia Clínica
3 Escalas de Validade;
10 Escalas Clínicas;
15 Escalas de Conteúdo;
3) Codificação
Serve para resumir os padrões obtidos na Prova, visto que reduz uma amplitude de perfis
obtidos para algo mais manejável. Na codificação se converte um número a cada escala clínica:
Hs converte-se em 1;
D converte-se em 2;
Hy converte-se em 3;
Pd converte-se em 4;
Mf converte-se em 5;
Pa converte-se em 6;
Pt converte-se em 7;
Sc converte-se em 8;
Ma converte-se em 9;
Si converte-se em 0;
138
Avaliação em Psicologia Clínica
1º - Escrever debaixo os números que representam as escalas clínicas por ordem decrescente
segundo a pontuação T do sujeito, desde o maior para o menor.
Neste exemplo, a escala mais alta é Pd = 94, pelo que o número 4 deverá ser o primeiro no
código.
Código: 4 2 6 8 3 7 1 0 9 5 F L K
139
Avaliação em Psicologia Clínica
2. Interpretação
140
Avaliação em Psicologia Clínica
141
Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
150
Avaliação em Psicologia Clínica
2 → Interpretar o código
151
Avaliação em Psicologia Clínica
152
Avaliação em Psicologia Clínica
→Exame←
Análise quantitativa
Análise Qualitativa
1. Mencionar e sugerir possíveis explicações para valores que estão fora da média.
2. Interpretar o Código.
2. MINI-MULT
1. Normas Mini-Mult
153
Avaliação em Psicologia Clínica
Acima de 1 “sujeito que tende a ter muitos sintomas somáticos e sentimento subjectivo de
stress”.
AV
Imagem favorável (F – K ≤ -18): perfil das escalas clínicas é geralmente plano e a maior parte
delas situam-se abaixo da média (T=50) F é muito baixa em relação a L e K, que ultrapassam
frequentemente a nota T=70.
Notas muito baixas na escala Hipocondria: mesmo em sujeitos normais é raro a nota bruta
em Hs ser inferior a 3. Este índice só diz respeito à falsificação no sentido favorável.
Elevações acima de T=70 são mais confiáveis em termos de diagnósticos, pois são
características da dinâmica individual.
154
Avaliação em Psicologia Clínica
2. Interpretação
Escalas de validade:
Escalas clínicas:
Associada às escalas (Hs) e (Hy) constituem a “tríada neurótica” cuja elevação relativa facilita o
diagnóstica diferencial entre as perturbações neuróticas.
65 ≤ T ≤ 75 -A elevação na escala D indica que as defesas contra a ansiedade não são
suficientes.
Se T≥80 existe um quadro de depressão clinica eventualmente tendências suicida, cujo risco é
maior se houver elevação noutras escalas (4 (Pd) e 9 (Ma) ou 4, 7 (Pt), 8 (Sc) e/ou 9).
155
Avaliação em Psicologia Clínica
o Histeria (Hy): queixas físicas específicas ou mal estar, negação de problemas, ausência
de ansiedade social.
Nota: As elevações desta escala parecem associar-se a uma tendência para evitar a consciência
de conflitos internos, mantendo-os a nível inconsciente e canalizando-os através de sintomas
somáticos: repressão.
Elevação combinada com a escala (Sc) é muito eficaz para o diagnóstico de esquizofrenia
paranóide.
Uma elevação isolada pode ser interpretada como ansiedade e pensamento obsessivo, medos,
auto-desvalorização e baixa auto-confiança.
Pt < 70 – moderado;
80 < Pt < 89 – marcante;
156
Avaliação em Psicologia Clínica
Pt= 90 - severo
Escala fraca porque a sintomatologia é muito heterogénea e complexa para ser avaliada por
uma escala. Há melhoria com a correção de K, mas é preciso muito cuidado no diagnóstico
mesmo quando há elevações importantes.
Elevações até T< 90 podem ser encontradas em sujeitos extremamente ansiosos, em pré-
psicóticos e em perturbações borderline. Estas elevações são associadas com dificuldades nas
interações sociais, afastamento, alienação, com ênfase na fantasia inferior, dificuldades na
comunicação que se relacionam com problemas de concentração e de pensamento.
T = 65 podem estar associadas com super atividade ineficaz, uso de negação como defesa e
auto-conceito grandioso.
Elevação nesta escala com baixo valores na (D), ou o inverso, pode sugerir perturbação bipolar.
Resultados muito baixos nesta escala sugerem a existência de quadro depressivo severo
mesmo quando não haja confirmação pela elevação da (D).
157
Avaliação em Psicologia Clínica
Na distribuição das notas, a normalidade entre 50 e 70, sendo 50 o limite mínimo e 70 o limite
máximo.
c) Perfil psicossomático Este perfil caracteriza-se por uma elevação da tríade neurótica, com
elevação máxima sobre Hs e Hy. O facto do D ser pouco expresso responde à perturbação de
ansiedade convertida em manifestações somáticas. É impossível distinguir esse perfil do da
histeria de conversão.
a) Perfil psicótico Difásicoeste perfil caracteriza-se por uma elevação na tríade neurótica (Hs,
D e Hy) e por uma elevação mais acentuada na tríade psicótica (Pa, Pt, Sc) à direita. Na tríade
psicótica o Pt está frequentemente a mais elevada. Outras vezes é a escala Sc que é a mais
elevada. Estes perfis correspondem normalmente às esquizofrenias delirantes.
158
Avaliação em Psicologia Clínica
4º O perfil Paranóico
→Exame←
Análise quantitativa
Análise Qualitativa
1. Mencionar e sugerir possíveis explicações para valores que estão fora da média.
2. Interpretar o Código.
159
Avaliação em Psicologia Clínica
3. NEO-PI-R
Inventário de personalidade. Operacionalização da teoria dos big five. Aplicada a partir dos 17
anos.
Limitações: Medida auto-avaliativa (não possui uma escala de validade), inexistência de uma
escala para medir a desejabilidade social, prova recente e com necessidade de investigação
psicométrica complementar.
1. Cotação
160
Avaliação em Psicologia Clínica
2. Interpretação
Neuroticismo (N) Avalia a adaptação vs. Instabilidade emocional. Identifica indivíduos com propensão
para a descompensação emocional, ideias irrealistas, desejos e necessidades
excessivas e respostas de coping desadequadas.
Abertura (O) Avalia a procura proactiva e apreciação da experiência por si própria; avalia também a
tolerância e exploração do não-familiar.
Amabilidade (A) Avalia a qualidade da orientação interpessoal num contínuo que vai desde a
compaixão ao antagonismo nos pensamentos, sentimentos e acções.
161
Avaliação em Psicologia Clínica
Vulnerabilidade Pontuações altas → nervoso, entra em pânico, incapaz de lidar com o stress.
162
Avaliação em Psicologia Clínica
Procura de Excitação Pontuações altas → exibicionista, procura estimulações fortes, aceita riscos.
Estética Pontuações altas → Valoriza a experiência estética, arrebatado pela arte e beleza.
Sentimentos Pontuações altas → responde emocionalmente, sensível, empático, valoriza os seus próprios
sentimentos.
Pontuações baixas → prefere o familiar, segue uma rotina rígida, adaptado à sua maneira de
ser.
163
Avaliação em Psicologia Clínica
Valores Pontuações altas → horizontes largos, tolerante, não conformista, espírito aberto.
164
Avaliação em Psicologia Clínica
Obediência ao dever Pontuações altas → aderência estrita a padrões de conduta, princípios éticos,
obrigações morais.
Esforço de realização Pontuações altas → atraído pelo êxito, diligente, com orientação na vida e com
objectivos.
Auto-disciplina Pontuações altas → persistente, aptidão para continuar uma tarefa, apesar do
enfado e das distracções.
165
Avaliação em Psicologia Clínica
MÉTODOS PROJECTIVOS
166
Avaliação em Psicologia Clínica
RORSCHACH
CONTEXTOS DE APLICAÇÃO
Aplica-se em contexto clínico, individualmente ou em complementaridade com o
TAT ou CAT (crianças). São utilizadas em processos de recrutamento e selecção de
profissões específicas tais como, forças de segurança, juízes, etc.
CONSTITUIÇÃO DO PROTOCOLO
Folha A4 com 3 colunas:
1ª coluna: discurso espontâneo do sujeito (coluna mais importante)
2ª coluna: inquérito
3ª coluna: psicograma (reúne todos os dados da cotação)
167
Avaliação em Psicologia Clínica
PASSAGEM DO PROTOCOLO
168
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Manifesto:
O que se vê, trata-se de questionar a relação ao real, estabelecida pelo sujeito. Em
Rorschach estão presentes duas dimensões que permitem descrever o conteúdo manifesto
dos cartões:
Dimensão Estrutural: Os cartões diferenciam-se pelo seu carácter unitário ou pela sua
organização bilateral e ainda pelo seu carácter inteiro e maciço ou disperso.
Organização: Todos os cartões se encontram organizados em torno de um eixo central
mais ou menos evidente e manifesto. Este eixo é mais manifesto nos cartões ditos
unitários (I, IV, V, VI e IX). Nos cartões de configuração bilateral, a simetria torna-se
mais evidente na repetição em espelho (II, III, VII e VIII).
Implicações latentes destas estruturas formais: cartões unitários com
mediana manifesta podem reflectir a imagem do corpo humano
organizado simetricamente em torno de um eixo; cartões bilaterais
podem reflectir a representação de relações.
Carácter fechado (inteiro) ou aberto (disperso): São fechados os cartões I, IV, V e VI e
abertos os cartões I, II, III, VII, VIII, IX e X. O cartão I é o único que apresenta um duplo
registo de fechado e aberto simultaneamente.
Simbolicamente, aberto/oco é uma referência feminina/materna (I, II, VII
e IX), por oposição o fechado/compacto e associado à presença de
apêndices salientes que remetem para uma referência fálica (IV e VI).
Dimensão cromática/sensorial: No que se refere à cor, é necessário distinguir três tipos
de cartões: cinzento-escuro (I, IV, V e VI), cinzentos (VII), negro-branco-vermelho (II e III)
e os pastel (VIII, IX e X).
169
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Latente:
Trata-se da dimensão simbólica do cartão, para o que ele remete.
→Cartão I←
Podem surgir variações às respostas banais (exemplo: borboleta a voar, borboleta esmagada
no chão, etc.), cada uma delas é cotável e tem um significado diferente.
170
Avaliação em Psicologia Clínica
→Cartão II←
É um cartão bissexuado nas suas formas, o que pode desencadear respostas específicas.
Apreendido globalmente, o estímulo pode dar lugar a fantasmas que remetem para uma
problemática pré-genital de nascimento, de relações precoces com a mão, simbióticas e/ou
destrutivas.
→Cartão III←
A relação emocional é geralmente positiva: o cartão permite uma certa descontracção pela sua
estrutura menos centrada e menos pesada. O prazer pode ser evocado, excepto quando a
171
Avaliação em Psicologia Clínica
Este cartão refere-se à forma como o sujeito se vive, à sua identidade, estuda-se a
representação de si e também a representação da relação. A solicitação simbólica dominante
resulta da disposição espacial das silhuetas humanas que se impõem no cartão. É um cartão
bissexuado (parte cima feminina e parte de baixo masculina) no qual é esperado que as
mulheres vejam mulheres e os homens identifiquem figuras masculinas.
Na posição inversa (V) a imagem reenvia, de imediato, para o irreal poderoso e ameaçador; a
insistência no vermelho mediano pode constituir uma referência ao interior do corpo.
É tão importante que os sujeitos identifiquem figuras humanas que se isso não acontecer,
questiona-se se não as conseguem ver (inquérito dos limites).
→Cartão IV←
A tonalidade emocional é, quase sempre, disfórica. O preto intenso e a dispersão levam a que
o cartão provoque reacções de angústia ou de grande desconforto e mal-estar.
A solicitação simbólica deste cartão remete para a ideia de potência, força, virilidade,
autoridade. O cartão desperta tomadas de posição de dominação ou submissão, sendo
considerado que o papel superegóico pode ser o de uma imagem paterna ou de uma imagem
materna omnipotente.
172
Avaliação em Psicologia Clínica
→Cartão V←
A tonalidade emocional é, em geral, neutra e pouco pronunciada por ser o cartão que mais se
aproxima da realidade. Pode ter uma tonalidade emocional disfórica se houver persistência da
reacção ansiosa do cartão IV e só é eufórica quando há valorização narcísica, ou alívio, no
reconhecimento de uma realidade objectiva.
Apesar de se considerar que este cartão força a adaptação à realidade objectiva, comporta,
simbolicamente, um apelo ao sentimento de integridade, talvez ao conceito de si, à unidade
do Ego. Este sentimento de integridade pode corresponder à integridade psíquica ou somática.
→Cartão VI←
A reacção emocional é, com mais frequência, negativa que positiva. O clima é muitas vezes
semelhante ao do cartão IV. O cartão é rejeitado com frequência nas escolhas e mesmo
recusado de uma forma espontânea.
Solicitação simbólica: está muito carregado de implicações sexuais. Apesar de ser bissexuado,
é a dimensão fálica que é utilizada mais vezes. A dimensão fálica pode ser activa ou passiva
(submissão) ou uma problemática de castração podem exprimir-se através do jogo de imagens
em movimento (k) ou passivas (esbatimentos), independentemente das representações
sexuais simbólicas ou não.
173
Avaliação em Psicologia Clínica
→Cartão VII←
Quer pela dimensão estrutura como pela cromática, remete para as relações com o primeiro
objecto. A implicação simbólica é, então, claramente feminina e/ou materna. O cartão impele
o sujeito a situar-se em relação ao sexo feminino, à imagem feminina ou à imagem materna
em função da própria relação primitiva do sujeito com a mãe.
Respostas frequentes (não tem banalidades) – duas mulheres a olhar uma para a outra, caras
de rapariga a rir, etc.
→Cartão VIII←
Com a introdução dos cartões pastel é esperado que o sujeito mude a sua atitude (novos
estímulos que os sujeitos podem considerar agradável ou desagradável).
174
Avaliação em Psicologia Clínica
→Cartão IX←
Solicitação simbólica: há uma solicitação à regressão (superior à dos cartões VIII ou X). Esta
posição regressiva pode ser vivida positiva ou negativamente, mas reenviam sempre para um
simbolismo materno pré-genital, associado, ou não, aos fantasmas de gravidez ou de
nascimento.
→Cartão X←
Remete para a separação e para a individuação. Pela sua dimensão estrutural (dispersa) e
pelas cores, põe à prova a capacidade de unificação do sujeito. Propícia respostas de detalhe
(d) mais do que respostas globais (g).
A reacção emocional está ligada a dois factores: trata-se do último cartão, a ruptura desta
situação pode ser sentida como alívio ou como ferida; a dispersão do cartão facilita ou
bloqueia as associações.
Por ser o último cartão desempenha um certo papel, “cartão de transferência”. A sua
solicitação simbólica é diferente consoante a centração é feita nas cores, na dispersão ou na
importância do espaço branco. Este pode ser um cartão de festa ou de fragmentação, todos os
extremos são possíveis.
Respostas banais – cabeça de coelho (verde inferior); caranguejo, polvo, aranha (azul lateral);
animais (cinzento).
175
Avaliação em Psicologia Clínica
A cotação não é mais do que um esboço cómodo que serve de quadro e de ponto de
partida para a reflexão e que facilita a compreensão dos protocolos:
Uma resposta Rorschach é uma resposta cotável que depende de quatro parâmetros,
nomeadamente:
♥ Modo de apreensão (responde à questão “onde é que na mancha vê a imagem que
refere?”, tentando saber qual a parte da mancha é que foi utilizada pelo testado);
♥ Determinantes (corresponde à questão “onde e porquê?”. Os símbolos repartem-se
em várias categorias, segundo se trate de uma característica do estímulo ou de um
contributo mais pessoal que poderá ser a atribuição de movimento, intenção,
sentimento penoso, impressão de profundidade, etc.);
♥ Conteúdo (corresponde à questão “o que é que o sujeito disse?”);
♥ Banalidades (corresponde à resposta que é frequente numa população, e àquilo
que é ou não banal).
A cada uma destas questões corresponde uma série de símbolos convencionais, entre os
quais é preciso escolher aquele(s) que podem dar conta, o mais fielmente possível, da resposta
do sujeito tal como ele a viu e enunciou, sem que a subjectividade do próprio psicólogo
interfira. Para responder às três primeiras questões é necessário interrogar o sujeito aquando
176
Avaliação em Psicologia Clínica
3.1.1. Cotação
1. Modos de apreensão
Esta localização pode ser global, um detalhe, etc. Desde o cartão I ao cartão X são
possíveis todos os tipos de modos de apreensão.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Gsincréticos: mais nas crianças – soma das partes (juntar membros, então é pessoa). O sujeito
vê as partes mas não atinge o todo. “Estou a ver uns pés aqui, aqui uns braços, uma cabecinha,
então é uma pessoa.”
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2. Determinantes
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(exemplo: ilhas, nuvens, etc.) ou porque o sujeito não sente necessidade de precisar
(um animal).
FC ou FC’: quando a cor está integrada numa resposta com uma forma precisa
dominante. Cota-se FC- ou FC- se a forma for inadequada. Por exemplo, ouço o
ruído de um motor lá fora, é de certeza de um mercedes, muito bom. Gosto deste
barulho.
CF ou C’F: quando o impacte da cor prima sobre a formalização. Em geral, a forma é
então imprecisa. Por exemplo, ouço o ruído de um motor, que horror, detesto. De
certeza que é um carro de contentor do lixo.
C ou C’: quando é só a cor a determinante da resposta.
Exemplos: “um boné vermelho” – FC
“sangue” – C, mas “mancha de sangue” – CF
“uma tempestade” – C’, mas “nuvens cinzentas espalhadas” – C’F
“uma borboleta nocturna” (no inquérito: “porque é cinzenta”) – FC’
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Avaliação em Psicologia Clínica
Atenção: não confundir com a simples localização que o sujeito faria de forma espontânea. Por
exemplo no cartão X: “o azul, caranguejos” que será um F+; ou no cartão II: “no vermelho vejo
uma borboleta” (no inquérito: “porque tem a forma”) seria um F+, enquanto “uma borboleta
vermelha” seria cotada em FC.
Não considerar como respostas cor as considerações técnicas sobre as cores, por exemplo,
“para obter esta cor é preciso misturar o vermelho e o amarelo”.
O que é esperado é que o sujeito seja sensível à mudança de tonalidades da cor, pois
estas vão-se alterando à medida que se avança nos cartões. O sujeito pode ser sensível de
diversas formas, pode gostar, não gostar, etc., a forma como reage é variada.
A presença de uma ou outra resposta cor (C, C’, CF, etc.) dá conta de uma sensibilidade
à realidade. É esperado nos protocolos que adulto que dêem sobretudo FC – cor tem a ver
com os afectos e o F com a razão – FC são resposta em que o sujeito demonstra afectos
contidos pela razão. FC>C + CF
Num protocolo de crianças é esperado respostas C e CF. Num adulto este tipo de
respostas em determinado número dão conta de uma imaturidade emocional.
Cores escuras (preto e cinzento) remetem para aspectos mais depressivos
Branco depende do cartão em que surge e do tipo de tema. Temas frios
remetem para um vazio, falhas afectivas.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Tal como para as cores, avalia-se o peso deste determinante em relação à forma e
cota-se:
Exemplo no cartão VI: “uma pele de tigre” (no inquérito: “tem a forma de uma pele e o aspecto
manchado, os pelos esbatidos fizeram-me pensar no tigre”) – FE.
Atenção: nem todas as peles de animal neste cartão são cotadas como FE, é preciso que o
esbatimento seja explicitado espontaneamente ou no inquérito.
“uma peliça de carneiro” – EF.
“um agasalho” – E.
EIXO PROJECTIVO (não está lá para ser observado – é o sujeito que cria)
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Avaliação em Psicologia Clínica
Grandes Cinestesias:
K: Grandes cinestesias que significa o corpo inteiro em movimento. Cota-se K sempre que uma
forma humana dotada de vida é interpretada, quer o movimento ou a acção das personagens
seja claramente exprimido, quer se trate de uma atitude ou mesmo de uma intenção ou de
uma relação. Estas cinestesias são as mais importantes porque são as que nos trazem mais
características do sujeito, mais profundas e genuínas.
Exemplos: “personagens que se olham”, “uma mulher a rezar”, “um homem a dormir”,
dois homens a lutar”.
Dado que o aspecto formal é parte integrante da K, avalia-se sempre a qualidade desta
forma numa dada resposta e cota-se K- se a forma for inadequada. Basta cotar K se a
forma for adequada.
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Avaliação em Psicologia Clínica
REPRESENTAÇÃO DA RELAÇÃO
O valor interpretativo das respostas a este nível depende do tipo de relação, da acção
ou da postura em que as figuras são apreendidas
Algumas cinestesias não colocam o problema da identificação / relação dada a valência
narcísica (temas de espelho nos cartões bilaterais ou representações humanas solitárias nos
cartões compactos), remetendo para a procura de uma imagem de si gratificante
Pequenas Cinestesias:
Kp: Cota-se kp quando uma parte de um corpo humano é vista em movimento e
normalmente em movimento brusco, ou então figuras inteiras em movimento mas vistas
a partir de um pequeno detalhe.
Exemplo: “um braço levantado para bater”; ou quando uma forma humana inteira é
percebida em movimento num Dd.
Kan: Cota-se kan quando a resposta põe em cena um animal ao qual é atribuído um
movimento. Para cotar kan é preciso que o movimento seja exprimido por um verbo de
acção.
Exemplo: “uma borboleta com as asas abertas” será F+, e “uma borboleta a voar” será
kan.
Por convenção, no cartão VIII, os animais em movimento vistos nos D rosa laterais são
cotados F+ se o cartão é interpretado em posição direita e em kan se o cartão estiver de lado.
Isto deve-se a que o cartão em posição direita sugere com muita facilidade o movimento, não
havendo assim nenhum contributo pessoal para os ver em movimento, enquanto que no
cartão percebido de lado os animais estão em posição estática.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Por definição, estas respostas só aparecem nos cartões negros, mas a sua ocorrência é
possível no cartão IX em imagens muito carregadas de angústia.
Exemplo: “o fim do mundo, uma impressão de terror”.
A mesma impressão de ameaça destrutiva pode ser sentida no cartão II, devendo ser
considerada uma tendência Clob.
O aspecto formal pode estar integrado em graus diversos, pelo que se cota:
FClob: as respostas cujo elemento formal é dominante (Exemplo: “um animal
monstruoso, como um vampiro, hirsuto, horrível”, no cartão IV).
ClobF: quando a impressão domina sobre a forma (Exemplo: “é inquietante esta planta
carnívora”, no cartão IV)
Clob: as respostas que não têm nenhum suporte formal (Exemplo: “um pesadelo”,
“uma força demoníaca”, no cartão IV)
3. Conteúdos
A categoria de conteúdos a que pertence a resposta é indicada por uma abreviatura.
As 15 categorias geralmente admitidas não esgotam a riqueza das respostas, apenas
constituem um inventário de imagens correntes. É possível um reagrupamento posterior por
grandes temas (cf. psicograma em anexo). Sendo artificial querer fazer entrar algumas
respostas num grupo, é melhor deixá-las tal como aparecem, como por exemplo, “máscara”,
“explosão”.
Os conteúdos estão relacionados com o que o sujeito vê. Os conteúdos mais vulgares
são o conteúdo humano (H) e o animal (A), sendo que o H diz respeito a figuras humanas
inteiras e o A a figuras animais inteiras. Depois há variações:
o Hd: partes de figuras humanas;
o (H): tem a ver com figuras humanas irreais, míticas, de lendas, sobrenaturais. Mas não
figuras históricas. Se o sujeito vir um monstro sem mais descrições ou descrições
humanas cota-se em (H), mas se tiver elementos de animais já é um (A);
o (Hd): partes de figuras humanas irreais, míticas, de lendas, sobrenaturais. Mas não
figuras históricas. Exemplo: uma cara de bruxa;
o Ad: partes de animais;
o (A): tem a ver com figuras animais irreais, míticas, de lendas, sobrenaturais. Mas não
figuras históricas. Exemplo: cartão III: “vejo um alien”;
o (Ad): partes de figuras animais irreais, míticas, de lendas, sobrenaturais. Mas não
figuras históricas. Exemplo: uma cara de bruxa
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Avaliação em Psicologia Clínica
Nota: animais mortos, esfolados, espalmados, etc. são sempre más formas.
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Avaliação em Psicologia Clínica
4. Banalidades
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Avaliação em Psicologia Clínica
3.1.2 Psicograma
Psicograma
R G % F A F%
Ad F+%
Rec D % +
H Fa%
T.T. Dbl % ± Hd F+a%
T.R. Dd % C A%
FC H%
T.L. Do % CF
Ban
C’
FC’
C’F
E
FE
EF
K
kan
Kob
Kp
T. Sucessão
T. Apreensão G D Dd Dbl
TRI Σ K : Σ C
FC Σk:ΣE
RC%
IA%
Elementos Qualitativos
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Avaliação em Psicologia Clínica
Respostas (R) – número de respostas (as respostas adicionais não entram para o psicograma!
Cotam-se no inquérito!!)
Recusas (Rec) – há recusa sempre que o sujeito devolve o cartão sem ter dado uma resposta
cotável. Não há assim nem tempo de latência, nem tempo total.
Nunca se põe se, por exemplo, não há Gbl, Gbl = 0, se não está representado não aparece no
psicograma
3ª coluna: determinantes
Só vamos pôr no psicograma o que existe no protocolo, não se coloca nada igual a zero! O
somatório dos determinantes e dos modos de apreensão tem que ser igual ao número total de
respostas.
4ª coluna: conteúdos
Começa-se pelos H e A.
5ª coluna: percentagens
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Avaliação em Psicologia Clínica
Choque manifesto: que se exprime verbalmente de uma forma directa (“Oh! Que horror!”,
“É horroroso!”), ou através do silêncio ou da recusa.
Equivalente a choque: que são objectiváveis de diferentes maneiras: 1) numerosas
manipulações; 2) alongamento do tempo de latência; 3) comentários verbais; 4) críticas
objectivas ou subjectivas; 5) redução ou aumento espectacular do número de respostas; 5)
brusco empobrecimento da qualidade das respostas.
Fenómenos de choque: mais correntemente descritos são:
o Choque cor (cores pastel e vermelho)
o Choque clob, também designado por choque negro
Há outras características do material que podem provocar reacções de choque.
Perseveração: (fenómeno patológico) quando uma resposta fortemente adequada num cartão
se repete duas vezes de forma arbitrária (F-) nos cartões segintes. Compulsão à repetição –
repete em duas-três pranchas a mesma resposta negativa.
Observação cor: observação subjectiva de prazer ou de desprazer sobre as cores.
Observação de simetria: presença de observação sobre a simetria das manchas.
Crítica subjectiva: crítica de si, da sua eficácia ou dificuldades.
Crítica de objectiva: crítica referente às características do estímulo.
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𝐺
G% = x100 Valor normativo: 20% a 30%.
𝑅
𝐷
D%= x100
𝑅
Valor normativo: 60% a 80%
𝐷𝑏𝑙
Dbl% = x100 Valor normativo: 0% a 3%
𝑅
𝐹+ + 𝐹− + 𝐹±
F% = x100 Valor normativo: 50% a 70%
𝑅
𝐹+𝐾+𝑘𝑎𝑛+𝐹𝐶+𝐹𝐸+𝐹𝐶𝑙𝑜𝑏
F% alargado = x100
𝑅
𝐹±
𝐹+ +( 2 ) Valor normativo: 80% a 90%
F+% = x100
𝐹+ +𝐹− +𝐹±
F+% alargado =
(𝐹+)+(𝐹±/2)+(𝐾+)+(𝑘𝑎𝑛+)+(𝐹𝐶+)+(𝐹𝐸+)+𝐹𝐶𝑙𝑜𝑏+)
x100
𝑁º 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠𝑝𝑜𝑠𝑡𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑚 𝑑𝑜𝑚𝑖𝑛â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙
𝐴+𝐴𝑑
A% = x100
𝑅
(Se há muitos (A), calcular duas percentagens: Valor normativo: 35% a 50%
𝐻+𝐻𝑑
H% = x100 Valor normativo: 12% a 18%
𝑅
199
Avaliação em Psicologia Clínica
Pode ser:
T.R.I.: tipo de ressonância íntima (serve para verificar se o sujeito está mais voltado para o seu
interior ou para o exterior. Procura dar-nos orientação interna do sujeito. Queremos saber
como é que o sujeito reage a estímulos externos. Ex: há pessoas que reagem mais
emotivamente a um concerto do que outras). Permite aceder ao mundo interno/externo, ou
seja da atitude que o sujeito tem para consigo próprio e para com o mundo. O mundo (externo
ou interno) é enriquecido pelo outro, e o TRI permite perceber se o sujeito investe mais no
interno ou no externo.
= K / C+CF+FC
200
Avaliação em Psicologia Clínica
Tipos de T.R.I
K >C T.R.I. Introversivo (<4 = reduzido e >4 = dilatado)
(pessoas mais isoladas, sós, com dificuldades na
socialização, mais criativos – dão muita
importância ao interior)
K<C T.R.I. extroversivo (<4 = reduzido e >4 = dilatado)
(pessoas menos criativas, mais sociais)
F.C.: Forma complementar (serve para nos ajudar a verificar se o TRI é mesmo interno o
externo) – quando o TRI é contraditório à FC, isto indica que há uma parte inconsciente
(recalcada) do sujeito que tende a ir contra o consciente. (Os k confirmam a introversividade e
os E confirmam a extroversividade.)
k/ E = kan+kob+kp / E+EF+FE
R.C.: Reacção/reactividade à cor (percentagem das respostas dadas nos três últimos cartões
em relação ao número total de respostas. Serve para verificarmos se o sujeito reagiu muito ou
201
Avaliação em Psicologia Clínica
pouco à mudança da cor. Dá-nos conta do potencial afectivo do sujeito. É importante que
algumas destas respostas integrem a cor como determinante, pois são elas que dão conta da
mobilização dos afectos. Há outros cartões que também nos dão conta dos afectos (II, III), pelo
que se deve fazer a ligação disto com aqueles cartões e perceber se houve respostas
determinantes com a cor vermelha ou não.
∑ 𝑅 (𝑉𝐼𝐼𝐼+𝐼𝑋+𝑋)
𝑅
X100
I.A.: Índice de Angústia (forma muito directa/ grosseira para avaliar a angústia – permite
analisar se a angústia é forte ou não)
𝐴𝑛𝑎𝑡.+𝑆𝑔.+𝑆𝑒𝑥.+𝐻𝑑
x100
𝑅
Posição direita ^
Meia rotação à direita >
Inverte ˅
Meia rotação à esquerda <
G simples: testemunha a existência de uma adaptação perceptiva de base, que permite penar
que o sujeito possui possibilidades de abordar o mundo socializado; qualidade perceptiva
radica na realidade, estas respostas dizem respeito a uma moldagem do sujeito a uma
percepção dominante, sem esforço pessoal de elaboração ou de construção.
202
Avaliação em Psicologia Clínica
→ uma maioria de G também pode representar uma atitude defensiva que consiste em o
sujeito não se aplicar numa procura mais aprofundada ou mais pessoal, assim, pode remeter
para o recalcamento ou para uma desconfiança externa na relação ao outro.
Dbl: pode revelar uma atitude de oposição que se manifesta ao nível do modo de apreensão;
também pode ser entendido como uma falta fundamental de carência verdadeira nas
primeiras relações com a mãe.
F%: supõe uma obediência de base à instrução que consiste em moldar-se aos quadros
perceptivos mais salientes, tendo em conta a realidade.
F±: podem assinalar um pensamento vago que não encontra os seus limites, que deixa a
realidade exterior escapar a qualquer circunscrição precisa; podem também traduzir
mecanismos de ordem da dúvida, da hesitação, da precaução externa, da prudência face à
implicação que suscita a tomada de decisão.
203
Avaliação em Psicologia Clínica
Cinestesia: são as respostas mais importantes, porque são aquelas que se encontram
carregadas de mais elementos do mundo interno do sujeito → como não há movimento nas
imagens, o movimento que o sujeito relata é uma criação sua. Dá informação suplementar na
medida em que elas se definem pela projecção de um movimento que não existe no material.
De cada vez que uma cinestesia é sustentada por um percepto de boa qualidade, organiza-se
um compromisso harmonioso entre percepção e projecção; índice de aptidão de um sujeito
para se situar numa área transitiva (a realidade perceptiva e o investimento de sentido
subjectivo).
Kan: cinestesias animais – grandes cinestesias incompletas, o sujeito não assume o que vai
projectar, deslocando de forma imatura para os animais. Caracterizam o fabulário e as
fantasias imaginárias da infância; dizem respeito às moções pulsionais e às procuras objectais
primárias, em que as conotações orais são extremamente frequentes; remetem para o
deslocamento dos movimentos pulsionais para imagens animais – a sua dimensão agressiva ou
libidinal pode ser destacada com facilidade.
Kob: cinestesias objecto: tem a ver com a agressividade integrada parcial e não integrada na
personalidade. O movimento é projectado no conteúdo objecto; emana de uma fonte interna,
da excitação corporal; pode aparecer sob a forma de ameaça para a ocorrência de uma
explosão ou desintegração, ou pode servir de porta-voz de fontes de vida ricas e calorosas.
204
Avaliação em Psicologia Clínica
CF: comandada pelas forças defensivas que têm tendência a minimizar ou a negar o impacte
emocional e fantasmático do material.
C’: sinal de alerta, inquietação vaga, pouco circunscrita, reenviam às relações precoces;
retraimento pulsional narcísico. Pode assinalar apenas a presença de um sentimento, ou
mesmo de uma impressão disfórica muito próxima.
Clob: têm a ver com o contraste disfórico e desagradável do fundo branco com o preto da
mancha que deixa o sujeito perturbado.
FE: esbatimento textura: refere-se à sensibilidade táctil, ao tocar; a referência ao tocar implica,
de imediato, a reactivação de uma sensibilidade primária muito precoce → o tocar, o ser
tocado reenviam-nos aos cuidados da primeira infância; refere-se a uma procura de apoio, de
um continente, de um envelope.
Edifusão: são constituídos por engramas pouco definidos; tem um valor defensivo no avançar
de respostas vagas que desempenham um papel de ecrã relativamente às emergências
fantasmáticas – mecanismo de recalcamento.
205
Avaliação em Psicologia Clínica
(H): pode estar integrado numa vida imaginária rica de fantasia, mas não deve constituir a
maioria das respostas H, pois nesse caso o sujeito refugia-se num mundo cortado da realidade
relacional e concreta, não consegue diferenciar o real do imaginário.
Hd: pode tratar-se de uma abordagem fóbica da representação humana; pode estar ligado ao
recalcamento das representações sexuais. Quando o H% é constituído maioritariamente por
resposta Hd isto pode traduzir uma ausência de integridade das imagem do corpo e/ou a
existência no sujeito de uma angustia de fragmentação.
Anat.: duro (osso) ou mole (fígado, pulmão). Os conteúdos anatómicos moles mostram que o
sujeito localiza as suas preocupações no corpo ou intelectualiza de forma defensiva para ficar
bem visto pelo examinador; pode ainda ter um valor sexual
6. A Psicopatologia no Rorschach
♥ AS NEUROSES
- O Simbolismo:
Os protocolos de pacientes neuróticos põem em evidência uma sensibilidade particular à
especificidade dos estímulos, o que se observa em:
Reacções diferenciadas em relação às diferentes pranchas
Variações nos tempos de latência
Variações na produtividade
Existência de choques e equivalentes choque
Multiplicação de comentários
Assim, as modalidades de reacção podem ser:
* Inibição
Alongamento dos tempos de latência
Diminuição da produtividade
Choques
Recusas
* Aumento das defesas lábeis
Precipitação
Fuga para a frente
Latências curtas
Comentários e exclamações múltiplas
206
Avaliação em Psicologia Clínica
- Os Símbolos Sexuais:
Se encontramos nos protocolos de pacientes neuróticos respostas simbólicas que reenviam
para as figuras parentais nos seus aspectos mais regressivos, o simbolismo que domina nestes
protocolos é o sexual, o que mostra a capacidade de deslocamento, através do recurso à
metáfora. Assim:
♥ Raramente encontramos respostas corporais directas e cruas.
♥ As respostas anatómicas dizem respeito ao hiper-investimento de determinadas partes
do corpo, baseado na atribuição de um sentido secreto sexual.
207
Avaliação em Psicologia Clínica
- O Conflito Intrapsíquico:
208
Avaliação em Psicologia Clínica
O Conflito Edipiano
Igualmente, o conflito edipiano não aparece como tal no Rorschach, na medida em
que não existem estímulos que reenviem para a triangularização, a diferença de sexos ou a
diferença de gerações; porém, o material do teste oferece configurações perceptivas que
favorecem a associação e a projecção de imagens sexuais masculinas e femininas, o que coloca
o sujeito numa situação conflituosa que implica:
Reconhecer ou negar a identidade sexual das representações
Reconhecer ou negar as dupla valência masculina e feminina que solicita processos
identificatórios específicos.
É na questão da identificação sexual que se centra o conflito edipiano no Rorschach.
De facto, a questão da integração corporal e psíquica não se coloca normalmente nos
protocolos de pacientes neuróticos - a representação do corpo aparece unificada e as
referências espaciais são sólidas e testemunham o sentimento de continuidade. No entanto, a
questão da identidade sexual, relacionada com a falha narcísica secundária característica
destes pacientes, está bem patente - os factores relacionados com a representação de si põem
em jogo a problemática identificatória que constitui o núcleo essencial da neurose. Assim, a
análise das cinestesias realça a extrema dificuldade (ou mesmo a impossibilidade) em
identificar claramente o género das imagens humanas: as representações humanas são
sexualmente neutras ou com uma identidade sexual ambígua ou reportam-se a imagens irreais
ou desvitalizadas.
Na neurose histérica, a reivindicação fálica traduz-se pela hiper-valorização dos
conteúdos de simbolismo fálico e pela desvalorização das referências femininas. Por outro
lado, na neurose obsessiva, a ambiguidade caracteriza as cinestesias e as associações nas
pranchas com simbolismo sexual, ambos fundados em representações de tipo homossexual.
209
Avaliação em Psicologia Clínica
- A Dramatização:
Outra característica dos protocolos de pacientes neuróticos é a capacidade de pôr em
cena as representações e os afectos, isto é, dramatizá-los através de cenários que permitem a
sua elaboração.
Na neurose histérica, a dramatização aparece essencialmente na verbalização e nas
características qualitativas do protocolo, as quais revelam a labilidade característica destes
pacientes. Tipicamente, estes são protocolos onde não existem muitas respostas K ou G
organizadas, aparecendo uma inflação das repostas C - os afectos precedem a representação e
dão às imagens um aspecto ambíguo, pleno de angústia e de interditos. Essa enorme
reactividade emocional mantém um estado de excitação permanente, que assegura a coesão
psíquica, ameaçada se o desejo for satisfeito.
Desde logo, a reactividade dos sujeitos histéricos às pranchas pastel tem um
significado singular: enquanto as respostas C das pranchas II e III colocam em jogo a
problemática sexual, as últimas três pranchas induzem movimentos regressivos
(nomeadamente representações primitivas e modalidades precoces de contacto com os
objectos), processo que se inicia desde logo na prancha VII, que frequentemente provoca
graves perturbações em sujeitos histéricos (pode acontecer a emergência brutal dos processos
primários e desorganização temporária das produções, compensadas pela aumento das
respostas C na prancha VIII).
Assim, o predomínio das respostas C tem:
♥ Função defensiva contra a emergência de conteúdos recalcados
♥ Função de manutenção da excitação
♥ Função defensiva contra a angústia desencadeada pela emergência de representações
ligadas a falhas inerentes às relações objectais precoces
Neste contexto, a excitação alimenta a dramatização dos movimentos pulsionais
dando-lhes a energia necessária para a inflação e exagero dos afectos. Esta dramatização
aparece também no comportamento do sujeito durante a passagem, tornando o processo
transferencial bastante patente: as expressões exageradas de afecto, os suspiros, a labilidade
aparecem com o intuito de chamar a atenção e seduzir para desviar a relação com o clínico
para um outro contexto fora da situação de teste, que é angustiante, reactivando fantasmas
de sedução na relação transferencial.
Na neurose obsessiva, a dramatização passa por condutas activas de construção e
elaboração, baseadas no hiper-investimento do pensamento, que se traduz em respostas K ou
em G’s organizados acompanhando respostas formais de boa qualidade (em geral reactivando
uma fantasmática homossexual e/ou anal). Este tipo de respostas dá conta da importância
210
Avaliação em Psicologia Clínica
- Conclusão:
Resumindo, as características dos protocolos de pacientes neuróticos são as seguintes:
♥ Fonte sexual dos conflitos e sua tradução simbólica, a qual dá conta da capacidade de
deslocamento e de mentalização do sujeito; tais conflitos não se exprimem
directamente devido à repressão do superego, o que assinala a organização
estruturante dos interditos edipianos associados à angústia de castração
♥ Continuidade e plasticidade do trabalho psíquico, que se traduz nos movimentos
associativos (através dos conteúdos fantasmáticos e das operações defensivas) e que
reenvia para a estabilidade da identidade e da individuação, garantindo a conservação
dos aspectos dinâmicos e relacionais e permitindo a utilização de vários registos de
funcionamento
♥ Eficácia do recalcamento
211
Avaliação em Psicologia Clínica
♥ O NARCISISMO
- O Rorschach e o Narcisismo:
Algumas características do Rorschach permitem-nos analisar a dimensão do narcisismo:
♥ A organização espacial das pranchas
Pranchas compactas - a fronteira entre o interior e o exterior tem que ser
estável e bem definida para que estas manchas sejam reconhecidas enquanto um
todo unificado e coerente
Pranchas bilaterais - evocam a representação da relação, podendo reactivar a
dimensão especular
♥ As qualidades cromáticas e sensoriais das pranchas
Os contrastes negro - branco podem induzir afectos depressivos ligados ao
vazio (podem emergir fantasmas de morte evitados por respostas de abstracção ou
imagens que revelam o esvaziamento ou arrefecimento)
O vermelho pode desencadear defesas rígidas contra os movimentos pulsionais
As cores pastel podem demonstrar a qualidade das relações estabelecidas com
os objectos
- Características do Narcisismo:
Manifestações qualitativas
♥ Modalidades particulares da relação transferencial
Condutas caracterizadas pela sedução sem conotação sexual, baseados em
movimentos de idealização e relação especular (o clínico é valorizado pelas suas
competências e saberes, à medida das qualidades excepcionais do próprio sujeito)
Condutas de desprezo face à situação de teste, ao material e ao clínico
♥ Características da verbalização
O sujeito refere-se constantemente a si mesmo, tanto nos comentários como
nas respostas propriamente ditas
A situação é explorada como lugar de manifestação de uma subjectividade
omnipresente que, simultaneamente, se desenrola perante o olhar do outro e o
nega, com o objectivo de evitar todo o encontro com o outro, atribuindo-lhe um
papel de espelho que neutraliza as trocas pulsionais (distingue-se da verbalização
histérica, na medida em que está ausente qualquer conotação libidinal)
A expressão de certos temas aparece enfatuada: a verbalização afirma sem
«nuances» o saber, o domínio, o poder
212
Avaliação em Psicologia Clínica
213
Avaliação em Psicologia Clínica
A Representação de Si e a Idealização
♥ Idealização do Self grandioso
A análise das respostas tendo em conta duas dimensões - grau de realidade
das imagens e amplitude da idealização ou desvalorização - dá conta da
permanência do Eu Ideal e da sua não substituição pelo Ideal do Eu (as respostas H
vão desde as representações humanas sem distanciamento no espaço e no tempo,
mas ainda adaptadas, até respostas humanas irreais e descritas de forma
completamente positiva ou completamente negativa; as respostas A podem ir
desde respostas de boa qualidade formal, apresentadas de forma negativa ou
positiva, mas sem excessos, até imagens de animais irreais, apresentando
distorções perceptivas, dadas em termos excessivamente positivos ou negativos)
♥ Outras manifestações
Recurso extremo a adjectivos que enaltecem ou desvalorizam as imagens
percecionadas, como se os objectos não existissem por si, mas apenas perante o
olhar de alguém (o sujeito narcísico e os seus objectos não existem senão através do
olhar-espelho que reflecte as suas características idealizadas ou altamente
desvalorizadas)
Respostas K com o selo do disfarce, do factício, isto é, do falso self, reenviando
sempre para a aparência, para a periferia e para o contorno
Tendência para a desvitalização, baseada em mecanismos de idealização-
desvalorização (a desvitalização dos conteúdos humanos dá conta da luta do sujeito
para negar a origem interna das pulsões, que são petrificadas e associadas a uma
representação de omnipotência, esvaziada de toda a vida e acção)
Ausência de processos identificatórios em termos sexuais (não há atribuição de
sexo às imagens ou essa atribuição assenta na bissexualidade)
Representação da Relação
♥ O desdobramento
Projecção do Eu Ideal sobre os objectos, baseada num mecanismo de
desdobramento
Ausência de conflito entre instâncias (o supereu não age, excluindo todos os
sentimentos de culpa)
214
Avaliação em Psicologia Clínica
As Modalidades Defensivas
♥ Clivagem
G’s maioritariamente primários e impressionistas, mostrando a dificuldade de
integração e síntese do sujeito
As cores desencadeiam afectos muito contrastados, com grandes oscilações
entre sentimentos muito positivos ou muito negativos
As cinestesias reenviam para representações muito idealizadas ou altamente
desvalorizadas
Nos determinantes formais, observamos a manutenção do juízo da realidade,
acompanhada por bruscas e brutais emergências dos processos primários, ilustrando
o funcionamento clivado
Nas temáticas utilizadas, observam-se três características - existência de
perceptos ou muito positivos ou muito negativos; sobreposição de imagens muito
215
Avaliação em Psicologia Clínica
♥ Identificação projectiva
Projecção sobre os objectos de partes do self, acompanhada pela necessidade
de controlar esses objectos, impedindo-os de qualquer acção (a inibição dos
movimentos pulsionais é activamente procurada em imagens imóveis ou
petrificadas)
Movimentos autênticos de identificação projectiva em repostas isoladas,
baseadas numa agressividade oral muito intensa, na evocação de personagens
maléficas associadas a kp’s ou no surgimento de um bestiário inquietante ou
persecutório
216
Avaliação em Psicologia Clínica
♥ AS PSICOSES
* Presença de abstracção
* Presença de Cn (nomeação das cores) Perturbação emocional e relacional
(ausência de contenção e integração dos
* TRI extratensivo afectos)
A Atenção
A descontinuidade psíquica é impressionante e manifesta-se em:
♥ Quantidade de rupturas (os pacientes psicóticos abordam as pranchas sem manter
uma atenção continuada).
♥ Importância das dificuldades de concentração, associadas a fortes dificuldades de
selecção.
♥ Falência das condutas de atenção e diferenciação:
217
Avaliação em Psicologia Clínica
A Dissociação
A noção de dissociação constitui o núcleo conceptual da análise do pensamento psicótico.
Verbalização bizarra e plena de maneirismos
Incapacidade para manter uma atitude ajustada à situação
Ligações arbitrárias entre as palavras e as coisas, definindo articulações singulares
entre perceptos e sequências linguísticas
Modalidades de construção herméticas, pouco acessíveis à compreensão
Respostas desprovidas de ressonância emocional
Instabilidade do fluxo associativo e aparecimento de bloqueios
Representação do corpo fragmentada (a desintegração do corpo manifesta-se na
raridade das respostas humanas inteiras, na ausência de movimento, na ausência de
verbos, na não expressão da pulsão e na importância das repostas Hd e Anat, que
testemunham uma extrema fragilidade e uma ausência de continente - estamos
perante um self desmantelado e um aparelho mental fragmentado)
Desdobramento que vem negar a relação e afirmar a indiferenciação Interior-Exterior,
expressa pela ausência de respostas K
218
Avaliação em Psicologia Clínica
O Raciocínio
Os processos de pensamento psicóticos não se caracterizam pelo transbordar dos
processos primários, mas pela impossibilidade de construir representações mentalizadas e
pelo recurso a imagens corporais fragmentadas e sem ligação. A indiferenciação entre o
interior e o exterior é patente e traduz a ausência de continente psíquico.
♥ Deficit de capacidades de conceptualização (imagens concretas para representar
pensamentos abstractos e interpretação simbólica da cor ou do esbatimento como
defesa contra a angústia de fragmentação)
♥ Distanciamento do objecto ligada à noção de espaço psíquico - não há espaço
transicional (incapacidade de oscilação entre processos primário e secundários,
integrando aspectos projectivos e aspectos perceptivos)
♥ Aparecimento de G contaminados
♥ Multiplicação das respostas Anat (que reenviam para a extrema permeabilidade do
envelope corporal)
♥ Reactividade à cor e ao confronto relacional através do retraimento e fragmentação
♥ Força do contra-investimento que impede qualquer expressão dos processos primários
219
Avaliação em Psicologia Clínica
- Procedimentos Rígidos:
Manifestações fora da resposta
220
Avaliação em Psicologia Clínica
Factores específicos
♥ Descrição (focalização nos contornos externos que dá conta de uma formalização
excessiva)
♥ Expressão de afectos a mínima (tipo de ressonância íntima coarctado ou introverso o e
respostas sensoriais pouco numerosas são testemunho da luta contra a emergência
dos afectos e das emoções)
♥ Dúvida (elevação do número de respostas F±, que mostram o receio do compromisso
e da tomada de posição)
♥ Preocupação de domínio do material (evidencia a necessidade de manter os desejos e
de controlar as emergências pulsionais consideradas perigosas)
♥ Apego aos pormenores (utilização de D e Dd)
♥ Intelectualização (combinação de vários factores - presença de G organizados,
determinantes cinestésicos, conteúdos específicos, comentários)
♥ Isolamento ou negação das ligações, quer entre representações e afectos (traduzindo-
se no aumento do F% e pela escassez de determinantes sensoriais), quer entre duas
representações (traduzindo-se num aumento da percentagem de respostas D e Dd)
221
Avaliação em Psicologia Clínica
- Ausência de articulação:
Procedimentos rígidos não articulados entre si (não há congruência entre
manifestações fora das respostas, associações fornecidas e factores específicos)
Mecanismos isolados erigidos em condutas comportamentais, cuja dimensão agida se
traduz em F% muito elevado e não contradição das formações reactivas (não há
retorno do recalcado)
Não há anulação retroactiva (a dúvida não é permitida dada a extrema rigidez).
-Eficácia relativa dos procedimentos defensivos:
Não há formação de compromisso (as emergências em processo primário ou estão
completamente ausentes ou são particularmente cruas e directas)
Conjuntamente com as defesas rígidas aparecem mecanismos de inibição
consideráveis ou procedimentos defensivos primários (clivagem, recusa, projecção
interpretativa)
Mediocridade do controlo formal
222
Avaliação em Psicologia Clínica
- Procedimentos Lábeis:
Manifestações fora das respostas
Recurso a alguns elementos da realidade interna (em particular, os afectos) como
defesa contra a emergência de outros elementos dessa realidade interna (nomeadamente, as
representações):
♥ Comentários regulares, gerais, iterativos, que surgem desde a apresentação dos
cartões e dão a impressão de uma reactividade imediata.
♥ Dramatização - carácter excessivo e exagerado da verbalização, ênfase dado à
expressão de prazer/desprazer.
♥ Labilidade das reacções emocionais, muitas vezes contrastadas - sugestionabilidade,
vulnerabilidade e sensibilidade ao meio envolvente.
♥ Acentuação do desconhecido, do não-saber, da ausência de imaginação sob forma de
denegações sucessivas.
♥ Manipulação lábil da linguagem - discurso precipitado, rapidez dos tempos de latência,
associações por contiguidade ou consonância.
223
Avaliação em Psicologia Clínica
- Manifestações transferenciais:
Condutas de sedução.
Desqualificação global e excessiva da situação de teste.
224
Avaliação em Psicologia Clínica
- Procedimentos de Inibição:
Manifestações fora das respostas
♥ Tentativa de luta contra a implicação projectiva sentida como perigosa.
225
Avaliação em Psicologia Clínica
Factores específicos
Mecanismos Fóbicos
Projecção
Evocação de imagens ansiogénicas (animais potentes; insectos repugnantes) que
aparecem num contexto restritivo - latências longas, verbalização limitada, manifestações de
ansiedade.
Evitamento e fuga
Manifestam-se através do comportamento, sideração face ao material, reacções de
angústia fortemente inibitórias e incapacidade associativa.
Deslocamento
Repetição da sequência projecção / deslocamento / evitamento nos cartões cujo impacto é
ansiogénico.
226
Avaliação em Psicologia Clínica
Defesas Primárias
- Emergência em Processo Primário:
Manifestações fora das respostas
♥ Desconfiança, vigilância extrema e reticência do sujeito em envolver-se na prova.
♥ Grande diferença entre as produções espontâneas e o inquérito.
♥ Prolixidade e multiplicação das respostas.
♥ Abundância e extravagância da verbalização.
Factores específicos
♥ Má qualidade da ancoragem no real - F+% baixo
♥ Desinteresse pelo concreto/real - D% baixo.
♥ Invasões fantasmáticas - TRI muito dilatado.
♥ Fragilidade da socialização - diminuição do número de Ban.
♥ Conteúdos pertencentes a registos específicos - referências ao corpo em imagens
mutiladas / fragmentadas; respostas anatómicas; respostas (H) e Hd com conotação
persecutória; conteúdos A contaminados pela fragmentação; bestiário arcaico,
dominado pela perigosidade, omnipotência e destrutividade.
♥ Compulsão à repetição e indiferenciação - ausência de reactividade específica aos
cartões.
227
Avaliação em Psicologia Clínica
Identificação projectiva: 3 processos nesta operação: externalização das partes do Self com indiferença às
características reais do objecto externo; capacidade de misturar os limites entre si e o outro; necessidade
exagerada de controlar o outro. Partes do sujeito estão separadas: fica com o bom e projecta o mau.
Respostas isoladas (clivadas) subentendidas por uma agressividade oral muito intensa: respostas como
"mandíbulas", "dentes", etc., ou evocação de personagens maléficas (tais como "monstros" e "bruxas")
associadas a kp; ou, então, no aparecimento de um bestiário inquietante e persecutório ("uma espécie de
porco não muito agradável", "uma cabeça de ave de rapina", "aranhas, é mau").
Intensidade da projecção: A massividade da projecção ligada a uma qualquer problemática (medo, morte,
destruição, perseguição, etc.), conduz a uma distorção na captação do real.
Cartão VIII, respostas 17 e 18 no seu conjunto: “poderíamos chamar isto animais que sobem, ursos ou ratos
ou grandes ratos, ratazanas.”, “Aqui apercebo uma árvore, eles sobem uma árvore, tentam agarrar um
ramo. É desagradável mas é a verdade”
Intencionalidade projectiva: O sujeito está mais ou menos convencido que a imagem possui um sentido
oculto, que ele tem que desvendar. As intenções atribuídas às imagens, além de arbitrárias, atestam uma
convicção projectiva e interpretativa. Os elementos projectados não são reconhecidos pelo sujeito como
pertencendo-lhe, mas resultam de uma manipulação mal feita: a atitude é interpretativa.
Cartão IX, resposta 20: “No personagem há qualquer coisa de mau, nem homem nem animal”
Cartão VII, I.Limites: “é um erro, é preciso dizer francamente o que há” “zangada com uma colega”
Clivagem do ego: Coexistência, no seio do ego, de duas atitudes psíquicas para com a realidade exterior na
228
Avaliação em Psicologia Clínica
medida em que esta vem contrariar uma existência pulsional: uma tem em conta a realidade, a outra nega a
realidade em causa e coloca em seu lugar um produto do desejo. Estas duas atitudes persistem lado a lado
sem se influenciarem reciprocamente. Esta clivagem, como se vê, não é propriamente uma defesa do ego,
mas uma maneira de fazer coexistir dois processos de defesa: um voltado para a realidade (recusa), outro
para a pulsão, este podendo de resto redundar na formação de sintomas neuróticos (sistema fóbico, por
exemplo).
Denegação: aparece também na verbalização. Refere-se ao nível do discurso manifesto, ao aspecto externo
da percepção (e não à representação associada). “Processo através do qual o sujeito, apesar de formular
um dos seus desejos, pensamentos ou sentimentos até então recalcado, continua a defender-se dele,
negando que ele lhe pertence”- aparece através de comentários ou no seio de respostas ou de sequências
de respostas. Por outro lado, ela não constitui uma modalidade defensiva exclusivamente rígida, dado que
a encontramos noutras organizações neuróticas para além da neurose obsessiva. Ela é, no entanto,
característica tal como o recalcamento, de funcionamentos psíquicos do tipo neurótico, na medida em que
ela supõe a existência de um campo psíquico interno do sujeito, através do qual se manifesta um sistema de
representações e de afectos. Afirma negando.
“Não é claro”, “Não vejo bem”, “Isto não é, apesar de tudo, uma águia... não, não é uma ave de rapina,
qualquer coisa menos agressiva”.
Formação Reactiva: A referencia a mecanismos do tipo formação reactiva é possível quando somos
confrontados com traços convergentes do estilo: dificuldades na integração e/ou expressão da
agressividade (ou da atracção libidinal) no comportamento face ao clinico, representações de relações
(respostas K) muito centrados na delicadeza, na conveniência, ou na negação do caracter conflitual
agressivo ou libidinal dessas relações, em que os suportes perceptivos de tais respostas afastam a dimensão
cromática do estimulo (sobretudo o vermelho).
Para além do “Obrigado” no principio do cartão, surgem em comentários do tipo “Está muito bem
desenhado, muito ordenado, muito claro...”. “Dois mordomos que se cumprimentam”.
Centração Narcísica: Descrição fina e modulada dos afectos, dos traços de carácter, das vivências dos
personagens da história. A referência pessoal apareceria, pontual, esmaltando a história com comentários
de uma espécie de imediatidade que curto-circuita a elaboração. Podemo-nos aperceber até que ponto
este mecanismo (o acento posto na vivência subjectiva) concorre para a elaboração de uma história
centrada na descrição psicológica do herói e sem dramatização relacional. O sujeito coloca, través deste
funcionamento, uma representação de si mesmo".
- O sujeito recorre, nos seus comentários e nas suas respostas, a referencias unicamente reportadas a si
229
Avaliação em Psicologia Clínica
mesmo: o que ele experimenta, o que sente, a sua maneira de ver as coisas, as suas recordações,
fragmentos da sua biografia.
- A situação é explorada num único sentido - centrípeto- como lugar de manifestação de uma subjectividade
omnipresente que, ao mesmo tempo, se apoia no olhar do outro e o nega.
- O objectivo narcísico é evitar qualquer encontro com o outro, atribuindo-lhe um papel de espelho que
neutralize as trocas pulsionais.
- ênfase dada a alguns temas(que têm a ver, em particular, com tudo o que toca á representação de si), no
sentido de um extremismo das qualidades utilizadas, subentendido, sem dúvida, por mecanismos de
idealização ou de desvalorização.
Intelectualização: usa conhecimentos do próprio para dar sentido ao que vê. Aparece através da propensão
para a abstracção ("um domínio ou a fatalidade", cartão I; "a noite, a fatalidade", catão IV; "um abandono,
um dom de si", cartão VII). Esta tendência é particularmente forte na prova das escolhas e nos comentários
associados a cada um dos cartões sob a forma de títulos ("banalidade", "domínio", "majestade", "mistério",
"sabedoria",…) traduzem bem as preocupações essenciais reveladas, por outro lado, noutras associações:
salientam a oposição entre valores idealizados ("domínio", "majestade", "mistério", "fatalidade") e valores
muito desqualificados ("banalidade", "nada de nada", "pateta", "nham-nham"), num sistema de
qualificação projectiva que trai uma preocupação narcísica fundamental.
Clivagem: objecto ou muito positivo ou muito negativo (“devemos odiar o pecado e amar o pecador”).
Isolamento: Isola partes do objecto nem sequer falando delas, falando apenas do resto. Fala apenas de uma
parte das imagens tipo cartão 2 falar só dos elefantes e não do sangue.
Interpretação Projectiva: certeza daquilo que está a dizer (“aqui vê-se claramente”, “é muito óbvio aqui”).
Racionalização: tenta dar sentido a qualquer coisa de forma a sair da parte mais pulsional agressiva ou
sexual (“eu vejo pornografia por causa da arte”, “eles estão em luta, devem ser antropógrafos”).
230
Avaliação em Psicologia Clínica
Projecção: colocar no outro qualidades nossas ou desejos (“ele vai ser um grande artista”).
Identificação: identificar-se com um grupo ou com o Outro de modo a anular a ansiedade. (ex:
comportamentos delinquentes feitos em grupo).
Anulação: afirmar uma coisa e diz que não era isso. (“isso são elefantes, não… não, são mais pássaros”)
Introjecção: aceitar as qualidades dos objectos e torna-las como sendo suas (“esta pessoa é muito forte…eu
também sou assim”).
Deslocamento: passar as coisas de um objecto para o outro (“esta a discutir com a mãe, mas o pai é que nos
estava a irritar”).
Idealização: o outro é perfeito e sem falhas nenhumas ou então é horrível e não tem nenhuma
característica boa (“esta mulher é linda, todas deviam ser como ela”).
Conversão: Passar da mente para o corpo (“esta imagem está a dar-me dores de cabeça”).
Compensação: (“esta mulher não consegue ajudar os pais no campo por não ter força, por isso vai trabalhar
para a escola por ser muito boa aluna”)
231
Avaliação em Psicologia Clínica
TAT
Henry Muray criou esta prova projectiva de personalidade – o sujeito projecta o que
sente, o que está no seu interior, nas imagens que lhe são mostradas.
Este teste é temático e figurativo, sendo que cada imagem reenvia para um conflito
emocional universal específico (amor, ódio, solidão, sexo, etc.).
Apercepção – tem a ver com o facto do sentido/ da interpretação que o sujeito vai dar
a cada uma das imagens tem a ver com aquilo que está presente nas mesmas mas também
tem a ver com a memória do próprio sujeito (memórias sobre situações semelhantes que o
sujeito vivenciou, teme ou quer vivenciar).
O sujeito é convidado a contar uma história a partir de cada imagem. “Vou-lhe mostrar
algumas imagens. Gostaria que me contasse uma história para cada uma delas.”
Neste teste, ao contrário daquilo que acontece no Rorschach, não vemos o conflito,
mas sim o mecanismo de defesa do sujeito.
Tão ou mais importante do que aquilo que o sujeito diz (conteúdo), é a forma/ o modo
como o diz – é a forma que vai distinguir os sujeitos e as suas patologias. (Por exemplo: 2
sujeitos falam sobre cancro. 1 fala com calma enquanto o outro fala de forma muito
amedrontada).
Após o grande desuso, a escola francesa de TAT veio reabilitar o mesmo e torna-lo no
2º teste projectivo mais utilizado. O seu trabalho foi, em 1º lugar estudou o conteúdo latente
de cada imagem – quais os assuntos predominantes que têm de ser reconhecidos em cada
imagem. Em 2º lugar dedicaram-se a estudar o conteúdo banal para cada imagem – qual era o
tema mais frequente abordado pelas pessoas. Criou uma teoria acerca do TAT.
1) SITUAÇÃO TAT – situação muito particular em que um examinador pede ao sujeito para
imaginar uma história a partir de cada imagem. Só existe situação TAT quando há material
(pranchas), quando há uma instrução (dada pelo examinador ao sujeito) e quando há um
examinador. Tem também de haver um contexto profissional. Esta situação é
extremamente conflitual porque cada um dos parâmetros que a constitui encena uma
situação ou um conflito.
232
Avaliação em Psicologia Clínica
233
Avaliação em Psicologia Clínica
Depois disto, a escola francesa criou uma folha de análise/ decomposição do TAT. Consiste
num inventário de procedimentos que o sujeito pode utilizar para construir a sua história.
Estes procedimentos estão organizados segundo as formas psicopatológicas mais frequentes:
Conteúdo Manifesto: Um rapaz com a cabeça entre as mãos a olhar para um violino colocado
à sua frente.
Conteúdo Manifesto: cena campestre com uma rapariga que segura livros. Homem com um
cavalo e uma mulher encostada a uma árvore, que pode ser percebida como estando grávida.
Diferença de gerações não é evidente, mas a diferença dos sexos é clara.
234
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Manifesto: individuo cujo sexo e idade são indeterminados, caído junto de uma
banqueta. No canto esquerdo encontra-se um pequeno objecto difícil de identificar.
235
Avaliação em Psicologia Clínica
→ Prancha 4 ←
Conteúdo Manifesto: um casal, uma mulher junto de um homem que se afasta; diferença de
sexos clara mas não diferencia gerações.
Conteúdo Latente: remete para o conflito pulsional no seio de uma relação heterossexual;
existe uma maior representação do dualismo pulsional.
Conteúdo Manifesto: mulher de meia-idade, com uma mão na maçaneta olha para o interior
da sala; mulher está entre o dentro e o fora.
Conteúdo Latente: imagem materna que penetra, olha, não pré-julga sobre o registo conflitual
no qual o sujeito se vai situar, pois as modalidades de relação à imagem materna são
múltiplas.
236
Avaliação em Psicologia Clínica
→ Prancha 6BM ←
Reconhecimento dos afectos: tema de luto; luto do pai com muita frequência,
podendo esta evocação ser sustentada por um fantasma de parricídio.
→ Prancha 6GF ←
Mesma coisa que a 6BM, mas o tema é invertido: pai/filha – temática de sedução.
237
Avaliação em Psicologia Clínica
→ Prancha 7BM ←
Conteúdo Manifesto: representa duas cabeças de homens, lado a lado. Um “velho” virado
para um jovem que está amuado. Diferença de gerações marcada, mas não há noção de
imaturidade funcional.
Conteúdo Latente: reenvia para a proximidade pai-filho num contexto de reticência do filho. O
conflito deverá desenvolver-se em termos de ternura e oposição. A energia pulsional é
mobilizada tanto no seio de movimentos agressivos como libidinais.
Conteúdo Manifesto: é uma mulher com um livro na mão, inclinada para uma menina com
expressão sonhadora que, segura uma boneca nos braços. Diferença de gerações é acentuada
pela presença da boneca. A imaturidade funcional caracteriza a posição da menina.
238
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Manifesto: Um homem deitado, dois homens inclinados sobre ele com um
instrumento. Em primeiro plano um rapaz só de costas viradas para a cena, e uma espingarda.
(Não há diferença de sexo, diferença de gerações, sem imaturidade funcional).
Conteúdo Latente: Reenvia para uma cena de agressividade aberta que põe em presença
homens adultos, e um adolescente num contexto de posição contrastada activa/passiva. O
conflito dever-se-á organizar à volta da cena de agressividade aberta do segundo plano,
pondo-a em relação com o rapaz, e com a espingarda, do primeiro plano. Referencia o
problema de agressão corporal que pode ser vivida ao nível de castração ou ao nível de
destruição.
→ Prancha 9GF ←
Conteúdo Manifesto: Uma jovem, atrás de uma árvore, segurando uns objectos. Vê uma
segunda jovem correr num plano abaixo (sem diferença de sexo ou geração, sem imaturidade
funcional).
239
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Latente: Reenvia a uma situação de rivalidade feminina num contexto dramatizado.
O conflito dever-se-á organizar à volta da rivalidade feminina acentuada ao nível do material,
pelas semelhanças entre as duas mulheres e pelo facto que uma parece vigiar a fuga da outra.
→ Prancha 10 ←
Conteúdo Latente: reenvia para proximidade e expressão libidinal do casal. As partes do rosto
na sombra não podem ser reconstruidas e integradas numa representação completa por
sujeitos que sofrem de angústia de fragmentação ou de desintegração. A ausência de uma
figura inteira, torna possível a sua reconstrução através do estímulo parcial.
240
Avaliação em Psicologia Clínica
Prancha 11 ←
→ Prancha 13B ←
241
Avaliação em Psicologia Clínica
Sendo que esta imagem reactiva angústias de separação e perda do objecto, espera-
se que os afectos depressivos surjam associados a representações de perda. Por
vezes surgem defesas maníacas através de relatos organizados à volta da luta
antidepressiva.
→ Prancha 13MF ←
242
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Latente: tanto o mar como a neve são referências à natureza que remetem para a
imagem materna. Reactiva uma problemática pré-genital na evocação de um continente e de
um meio que permitem a projecção do bom e do mau objecto. Incita, ainda, à regressão e à
evocação de fantasmas fobogénicos.
Prancha 16 ←
Conteúdo Latente: Reenvia ara a maneira como o sujeito estrutura os seus objectos
privilegiados e as relações que ele estabelece com eles. (Nível a que se coloca. Peso e impacto
dos processos defensivos). Na ausência de um suporte imagem, os elementos transferenciais
podem tornar-se dominantes. Por vezes é uma boa prancha de diagnóstico positivo e
diferencial dos modos de funcionamento.
2. Folha de Análise
o A1-1: Descrição com ligação aos detalhes/ com ou sem justificação da interpretação.
(sempre que o sujeito está a descrever aquilo que está a ver na imagem – o seu conteúdo
manifesto. Está apenas a percepcionar em vez de falar de si próprio, do seu mundo
interno)
o A1-2: Precisões: temporal – espacial – numérica. (ex: “isto passa-se numa quinta no
Douro, por volta do século XVII e está um homem a plantar um, dois, três plantas”)
o A1-3: Referências sociais, ao senso comum e à moral.
o A1-4: Referências literárias, culturais (ex: “isto passa-se no campo, por volta do século
XVI e ali está uma rapariga da cidade…”)
243
Avaliação em Psicologia Clínica
o A2-1: Recurso ao fictício, ao sonho (ex: “isto não é real, é apenas um sonho”, “peça de
teatro, dois actores”)
o A2-2: Intelectualização (ex: falar de anatomias para mostrar que é uma pessoa com
conhecimentos. Também é considerado intelectualização quando o sujeito põe a
personagem da história a pensar – forma de não sentir)
o A2-3: Denegação (a denegação é uma afirmação pela negativa. Ex: “tenho aqui uns
relógios para vender, mas olhe que não sou nenhum vigarista (quando ele sabe que o
é)”)
o A2-4: Acento posto nos conflitos intra-pessoais – balanceamento entre a expressão
pulsional e a defesa (ex: “um menino que está no seu quarto a tentar estudar violino mas
está indeciso se continua ou se vai para a rua brincar com os outros meninos da sua
idade”)
244
Avaliação em Psicologia Clínica
Série B (labilidade ou “deixa ir”) – EXTREMO: neurose histérica. Aqui o sujeito mostra o seu
interior.
B1 Investimento na relação
o B1-1: Acento posto nas relações inter-pessoais, pôr em diálogo. (sempre que há duas
pessoas a relacionarem-se. Põe a relação em diálogo. Ex: “uma mãe que chamou o filho
está a falar com ele sobre se ela deve ou não ir para um lar e ele responde: não deves
ir.”)
o B1-2: Introdução de pessoas não figurando na imagem (ex: “mãe a falar com o filho e de
repente começa a falar da tia Manuela”)
o B1-3: Expressão de afectos (ex: “homem apaixonado pela mulher”)
B2 Dramatização
245
Avaliação em Psicologia Clínica
o CI-1: Tendência geral à restrição (tempo de latência longo e/ou silêncios importantes
intra-histórias, de colocar questões, tendência recusa, recusa)
o CI-2: Motivos dos conflitos não precisados, banalização, anonimato dos personagens
o CI-3: Elementos ansiogénicos seguidos ou precedidos de paragens no discurso
CN Investimento narcísico (pessoas voltadas para dentro ou se são viradas para fora têm
sempre de se dar com pessoas como ela)
246
Avaliação em Psicologia Clínica
CL Instabilidade dos limites (não há limites. Ex: “tenho a certeza que aquela pessoa (que ele
nunca viu) me odeia profundamente”)
o CL-1: Porosidade dos limites (entre narrador/ sujeito da história; entre dentro/fora…)
(quando o sujeito está a contar uma história e nós (examinadores) percebemos que a
história que está a ser contada pelo sujeito é muito idêntica à sua história pessoal –
sujeito não consegue distinguir o “eu” daquilo que está na imagem)
o CL-2: Apoio no percepto e/ ou no sensorial
o CL-3: Heterogeneidade dos modos de funcionamento (interno/externo; perceptivo/
simbólico; concreto/ abstracto…)
o CL-4: Clivagem
o CM-1: Acento posto na função de apoio do objecto (valência +/-) – apelo ao clínico (a
função do objecto é a de suportar o sujeito. Ex: “um casal abraçado e ela está a pensar
no quanto ele é importante para ela e que se não fosse ele, ela já teria desmoronado”)
o CM-2: Hiper-instabilidade das identificações
o CM-3: Piruetas, viravoltas, “piscadela de olho”, ironia, humor (ironia= ex: “isto é alguém
que vê-se logo que a vida lhe corre lindamente”; “piscadela de olho”= ex: “um homem
que engatou uma mulher e levou-a para a cama e não lhe correu bem. O doutor sabe
como é, também é homem” – trazer o examinador para a história para não a viver
sozinho)
E1 Alteração da percepção
247
Avaliação em Psicologia Clínica
E2 Massividade da projecção
E4 Alteração do discurso
248
Avaliação em Psicologia Clínica
3. Legibilidade
Um texto é considerado legível quando basta uma primeira leitura para o leitor captar
o sentido do texto. Isto quer dizer que o texto está bem estruturado.
Tipo I (+): pressupõe que o sujeito para contar a história teve um tipo de funcionamento
mental normal ou neurótico. É necessário que haja uma predominância de procedimentos de
controle (A1 e A2) juntamente com procedimentos de labilidade (B1 e B2). A história tem de
ter presente afectos moderados e modelados. necessário que a história tenha afectos
positivos ou negativos mas que não sejam brutais. É necessário que a história seja claramente
estruturada (princípio, meio e fim), que se perceba imediatamente aquilo que o sujeito disse
(apenas mentes estruturadas produzem histórias estruturadas). A história tem de ter
ressonância fantasmática (que o sujeito tenha em conta o conteúdo latente da imagem
quando conta a sua história).
Tipo II (+-): pressupõe que o sujeito para contar a história teve um tipo de funcionamento
mental neurótico. Predominância clara de procedimentos de controle (A3) ou de
procedimentos de labilidade (B3) exagerados. Presença de afectos ou muitíssimo controlados
ou muitíssimo exagerados. A história já não é tão estruturada porque já tem mecanismos de
defesa – aqui já não é entendível à primeira. Já não se pode falar em ressonância fantasmática
mas sim em impacto fantasmático (quando o sujeito já se defende contra essa depressão).
Tipo III (- +): tipo limite ou (-) tipo psicótico. No tipo limite (-+) tem de haver uma
predominância de procedimentos C enquanto que no tipo psicótico (-) tem de haver uma
predominância de procedimentos E. Os afectos ou estão totalmente ausentes ou são massivos.
A história já é pouco estruturada e muitas vezes não se percebe. Não se pode falar em
ressonância nem em impacto fantasmático. Deve-se falar em invasão fantasmática (é a
consciência do sujeito ser invadida) ex: “um homem que chegou a casa e viu que a mulher o
abandonou. Ficou na penúria. Está a chover. Está desesperado. Curioso, está com um problema
nas costas e a cabeça parece que vai cair.” Neste caso começa por uma fantasia de desamparo,
249
Avaliação em Psicologia Clínica
EXEMPLO CONCLUSIVO:
Prancha 1
“Visivelmente é uma criança a olhar para o violino. Tem sem dúvida uma página de música.
(A1-1) Ele reflecte como poderia tocá-lo. (A2-2) Ele tem uma batuta. (A1-1) Ele concentra-se no
instrumento. (A1-1) (?) Talvez imagine que poderá tocar. (A3-1) Ele questiona-se sobre como
tocar violino. (A3-1) Não consigo fazer uma história. (CN-2) Com certeza que ele vai aprender a
tocar violino. (A2-2)”
O melhor índice global de adaptação ou desadaptação pode ser visto pelo tipo de
resolução de conflito.
250
Avaliação em Psicologia Clínica
EXEMPLO ILUSTRATIVO:
Prancha 2
“É uma rapariga que sempre viveu no campo com os seus pais mas agora cresceu, tem 20 anos
e já não suporta mais viver ali: quer mudar-se para a cidade. Então vai falar com os seus pais e
ao fazê-lo, estes ficam muito deprimidos e tristes…”
Solução totalmente adaptado: é a forma ideal de resolver o conflito, no entanto não é a mais
utilizada porque as pessoas nunca são totalmente normais. Só as pessoas muitos fortes e
muito seguras de si é que a utilizam. Consta no seguinte: o sujeito enfrenta de forma aberta o
conflito e resolve-o totalmente a seu favor de uma forma socialmente integrada (tem em
conta o outro).
“… no entanto ela tenta falar com eles o mais abertamente possível, dizendo que já não gosta
de viver ali e que eles têm de respeitar o que a faz feliz. Decide então ir-se embora para a
cidade.”
Solução por compromisso viável: Evita o conflito absoluto e resolve-o em beneficio próprio
mas através de um compromisso, fazendo cedências.
“… diz aos pais que se vai embora para a cidade mas que promete voltar todos os fins-de-
semana.”
Solução dependente de ajuda exterior: o sujeito já não é capaz de resolver ele próprio o
conflito e pede ajuda a alguém do exterior para resolver o conflito ou espera por
circunstâncias exteriores favoráveis.
“… a rapariga pede à prima que tente fazer com que os seus pais mudem de ideias.” (pede
ajuda a alguém)
“… a rapariga fica à espera que os pais morram para puder mudar-se para a cidade.”
(circunstâncias exteriores)
Solução por retracção narcísica: o sujeito tenta resolver o conflito utilizando o sono, o sonho
ou a fuga solitária.
“… ela vai deitar-se e vai dormir.” (sono)
“… então ela traz um livro romântico e vai lê-lo e sonhar.” (sonho)
Solução moralizante: o sujeito abdica de resolver o conflito a seu favor.
“… então ela decide que vai dedicar a sua vida a cuidar dos pais.”
Solução por satisfação directa e imediata das pulsões: o sujeito resolve o conflito
imediatamente e totalmente a seu favor. Não têm em conta as exigências sociais. Resolução
de conflito típico dos psicóticos.
251
Avaliação em Psicologia Clínica
5. Os tipos de Funcionamento
♥ Registo Neurótico
→ Neurose Obsessiva
A neurose obsessiva caracteriza-se por um estilo rígido de conflito intrapsíquico (série
A). Predominam o controlo, a supressão do afecto, a rigidez e o conflito entre agressividade e
defesa. O objectivo e a representação calcam o subjectivo e o afecto (secura e tristeza).
As condutas adoptadas por estes sujeitos são a rigidez nas posturas, a exigência, o
pavor face ao imprevisto, a compulsão (sistematizar, ordenar, excluir a surpresa, falsificar e
denegar). Os temas dominantes são o trabalho, a moral, a religião e os conflitos (com a
autoridade, agredir/ ser agredido, submeter/ ser submisso, crueldade/ generosidade,
obscenidade/ pureza, ordem/ desordem, amor/ ódio, bissexualidade/ homossexualidade).
→ Neurose Histérica
A neurose histérica é caracterizada por um estilo lábil de conflito inter-psíquico (série
B). Há aqui um acto de deixar ir, de invasão do afecto através da dramatização e adjectivação
252
Avaliação em Psicologia Clínica
♥ Registo Limite
No registo limite a tónica é posta na dificuldade da relação eu/ outro ou interno/
externo. Há uma precariedade do sentimento do eu. As condutas agidas e a procura do
outro que nunca aparece como suficientemente gratificante são as principais características.
As lógicas são dominantemente aconflituais visto que não existe a constituição do outro
diferente.
Há duas expressões para uma mesma problemática. Por um lado, há uma retirada
pulsional. O sujeito fecha-se a qualquer contacto (esta é uma retirada narcísica que nada
253
Avaliação em Psicologia Clínica
No estilo narcísico há riscos de invasão, dissolução, ruptura dos limites, porosidade dos
envelopes sobre investimento dos limites, retorno a si, isolamento, desprezo ou imobilização
do outro.
→ Estilo Narcísico
No estilo narcísico há referências directas e claras a perdas importantes e precoces.
Estes são sujeitos com uma imensa solidão devido ao sofrimento e mal-estar com que falam
do outro. O máximo da manifestação de dor face à relação com o outro é a raiva narcísica e a
aproximação ao outro é sempre vivida com um sofrimento imenso.
Uma das características é a falha profunda do mundo psíquico que impõe uma
construção de funcionamento de prótese. O outro funciona na lógica de prótese. Estes sujeitos
necessitam de se sentir elogiados pelos outros. Dão-se a ver para serem admirados e não
amados. Já desistiram de ser amados.
Oscilam entre dentro e fora. Fora falta sempre qualquer coisa, pelo que voltam para
dentro, voltam a procurar…
São sujeitos com falhas na elaboração psíquica. Há aqui dois tipos de expressão: uns
não conseguem fantasiar e para eles tudo é aterrador e outros partem para o agir. Estes
sujeitos apresentam também perturbações identitárias e identificatórias (eu – um – único;
outro (raiva, ódio, inveja).
A sua expressão dominante é uma ferida intolerável que leva à retirada, à centração e
ao desprezo. Em última instância, quando a ferida é muito grande e as defesas são poucas, há
imobilização e morte psíquica. Não há encenações mas sim pôr em quadro. Pelo temor do
254
Avaliação em Psicologia Clínica
Os temas dominantes operam à volta do verbo olhar (ver e ser visto), tocar (calor e
frio), limites (contorno, sombreado, luzes, espaço) – investimento sensual e sensorial da
realidade. Há uma valorização dos contornos e envelopes e uma procura de pele delimitante
(Dd narcísicos, sensorialidade). Quanto aos afectos, o corpo é visto como uma máquina a
significar, sem desejo e sem sedução. Há uma postura significante de afectos com afectos
título, sem qualquer cenário ou âmbito relacional) há também um apelo ao olhar e espelho
(onde nos vemos e perdemos).
→ Estilo Depressivo
O estilo depressivo caracteriza-se por abandono, rejeição, ausência de prazer, extenso
e interno sofrimento, incapacidade e impotência e mundo em perigo.
Os temas abordados são de perda, suporte, anáclise, ausência do outro (ou salvador,
ou perseguidor, ou rejeitante), nostalgia, desespero, doença, fraqueza, abandono, insucesso,
infelicidade, suicídio, morte (ou a excessiva felicidade e amor e finais felizes), chamadas à paz e
à calma, mania. Estes protocolos caracterizam-se pela restrição com clichés, personagens
tristes, passivas, dependentes, com empobrecimento, conformismo e miséria.
255
Avaliação em Psicologia Clínica
♥ Registo Psicótico
A psicose expressa-se no TAT pelo predomínio de procedimentos de tipo E. as psicoses
implicam alterações na relação com o real (percepção) e nas modalidades do discurso. As
perturbações na relação com o real manifestam-se através dos Dd raros e bizarros, das
falsas percepções, percepções sensoriais, percepções de objectos fragmentados e mal
formados e da escotomia de objectos manifestos. As perturbações nas modalidades do
discurso expressam-se por falhas verbais, discurso vago e indeterminado (fragilidades
identificatórias e perturbações maciças do real, associações curtas, rupturas e falhas das
ligações, abstracções e simbolismo +/- hermético.
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Avaliação em Psicologia Clínica
→ Esquizofrenia
Esta é a estrutura com fixação e/ ou regressão mais arcaicas, dominância oral receptiva
e passiva.
257
Avaliação em Psicologia Clínica
→ Melancolia
Nesta estrutura há uma fixação e/ ou regressão oral sádica (morder, devorar,
incorporação, introjecção). Há o primado da agressividade, que não é anal mas sim oral, de
destruição não só do objecto mas também do próprio sujeito.
Na melancolia há uma fusão com o mau objecto na morte. Por outro lado, na mania
há uma recusa desse mal e sofrimento, uma recompensa face à angústia dos fantasmas
sádicos destruidores que ameaçam o sujeito (sentimentos e descargas muito intensas).
→ Paranóia
Esta é a estrutura psicótica mais evoluída.
O Eu é mais distinto do Outro (apesar de haver uma maior distinção, esta é sempre
deficiente) e há uma dependência agressiva do outro.
258
Avaliação em Psicologia Clínica
O sujeito tem uma atitude crítica, vigilante, um estilo rebuscado, pretensioso com
afirmação de autonomia, não se deixa dominar e evita a inferioridade.
259
Avaliação em Psicologia Clínica
CAT
O CAT é um teste temático, ou seja, cada imagem remente para um tema e, por isso
mesmo, a história que a criança conta relaciona-se com aquilo que percepciona da imagem e
também com as suas fantasias ( memórias afectivas de situações semelhantes pelas quais já
passou).
Contém conteúdo manifesto e conteúdo latente, sendo que este segundo é a mensagem
simbólica que exala desta figura). Por exemplo, no primeiro cartão estão presentes
pintainhos à mesa – é um tema que remete para a oralidade, com o facto de a criança se
sentir cheia ou vazia (bem tratada ou não) e, ainda, para a rivalidade de irmãos.
260
Avaliação em Psicologia Clínica
→ Cartão 1 ←
Conteúdo Manifesto: três pintainhos sentados à volta de uma mesa sobre a qual há uma
grande taça cheia. Ao lado, esbatido, um grande frango; taça de comida; colher, guardanapo;
banco, toalha, madeira.
Conteúdo Latente: remete para uma relação com a imagem materna da ordem da oralidade.
As respostas dizem respeito à oralidade versus gratificação ou frustração, em torno da qual se
centra a rivalidade fraterna.
Para além da evidente evocação da comida, a actividade oral remete para o conjunto de
representações inconscientes de gratificação ou de frustração associadas à relação com a
imagem materna.
261
Avaliação em Psicologia Clínica
→ Cartão 2 ←
Conteúdo Manifesto: um urso grande puxa uma corda, também puxada do outro lado por
outro urso grande com um ursinho por trás; o ursinho puxa a corda com o urso grande; corda
atrás do urso grande, cauda, chão.
Conteúdo Latente: remete para a relação triangular progenitor-filho num contexto agressivo
e/ou libidinal. As respostas estão relacionadas com a escolha identificatória e com a expressão
de uma interação agressiva ou lúdica. A corda veicula interesses fálicos e masturbatórios.
262
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Manifesto: um leão, com um cachimbo e uma bengala, está sentado num cadeirão.
À direita, em baixo do cartão, um ratinho num buraco; juba, cauda, garras; canteiro florido,
trave de madeira.
Conteúdo Latente: remete para a relação com uma imagem de potência fálica. Remete para
uma imagem paterna potente cujos atributos podem ser valorizados ou denegridos. O ratinho,
com o qual a criança geralmente se identifica, encarna a impotência ou a manha.
Embora a imagem esteja saturada de elementos significativos pela própria escolha do bestiário
e pelos seus atributos, viris, potência e omnipotência podem ser associadas quer à imagem
paterna, quer à imagem materna, quer à sua combinação monstruosa e indiferenciada.
263
Avaliação em Psicologia Clínica
problemas (“há um tigre (...) ele não está contente, talvez o tenham magoado. Fizeram-
lhe sangue” Jérémie, 5anos).
b) A ausência de um objecto interno constituído impede que se aborde a problemática da
força cuja representação pode ser reduzida a uma imagem desamparada ou submetida
ao apoio do outro. No limite, esta representação pode sugerir um envelope vazio (“balão
vazio”, “pijama de leão”). Quando a relação leão-rato é mencionada, ela é de tipo
protético (“isto é...é um leão... Avô, que é rei e se aborrece, um rato que o olha e decide
brincar com ele, para o distrair. E é tudo.” Charlotte, 9anos).
c) Do ponto de vista edipiano, a imagem é bem sexuada, temida, denegrida ou suscita
ciúmes, consoante os meios que a criança encara para se apropriar dos atributos da
imagem paterna ou escapar ao perigo que ela poderia representar. Por exemplo, a
bengala que o ratinho procura agarrar pode revestir a forma de um apoio indispensável.
Mas o destaque do leão na imagem é tal que a dimensão relacional pode ser
escotomizada ou relegada para segundo plano em proveito da representação de si, num
contexto narcísico ou identificatório que fica por precisar. Além disso, para os rapazes
não se pode aceder aos atributos da força sem se correr o risco depressivo de perder o
objecto de amor como sanção pelos desejos incestuosos (“o rei dos animais, o leão está
sentado numa cadeira, ele pensa que a sua...sua mamã não volta porque ele está à
espera, então ele põe a mão no queixo (...) [a mãe dele não volta mais?] Penso que está
na prisão, ela queria dar um passeio e havia um menino, e o bebé leão que estava com
ele e, e por isso ela foi presa e ele vai chamar o papá e vão ter medo do leão” Rémy, 5
anos).
→ Cartão 4 ←
Conteúdo Manifesto: um grande canguru com um chapéu, um saco e um cesto onde está uma
garrafa de leite. Ele tem na bolsa marsupial um bebé canguru que segura um balão. Por trás
dele, uma criança canguru numa bicicleta; fitas, flores no chapéu, pinheiro; chão, paisagem,
cinzento/branco esbatido.
264
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Latente: remete para a relação com a imagem materna eventualmente num
contexto de rivalidade fraterna. A rivalidade e o que se passa no ventre das mães. As crianças
cangurus apresentam os conflitos de autonomização/dependência.
265
Avaliação em Psicologia Clínica
→ Cartão 5 ←
Conteúdo Manifesto: num quarto sombrio, uma caminha com dois ursinhos dentro. Por trás,
uma cama grande cujos cobertores parecem estar levsntados por alguma coisa; uma grande
cama em segundo plano, cobertor não mencionado; candeeiro de mesinha de cabeceira,
janela, tapete, barras da caminha; olhos abertos de um ursinho, contraste branco/cinzento.
Conteúdo Latente: remete para a curiosidade secual e para os fantasmas da cena primitiva.
Remete para a cena primitiva e para os jogos sexuais entre crianças.
a) Apesar do destaque dos elemento simbólicos libidinais, o cartão pode arrastar uma
recrudescência de fantasmas destrutivos estando todo o interior ameaçado por
perseguidores externos ou mal diferenciados. A dificuldade também pode incidir sobre a
individuação dos dois ursinhos, confundidos num só, ou percebidos como duplos
gémeos. A petrificação pulsional («ursinhos embalsamados») pode formar uma defesa
face a uma desorganização identitária.
b) Quando a elaboração da posição depressiva é demasiado dolorosa, evidenciam-se a
ausência, a privação, o abandono. A insistência em elementos sensoriais (cinzento,
branco, madeira) e em suportes (chão, almofada) permite o deslocamento da
necessidade de referências consistentes para o meio envolvente; estas modalidades
constituem, então, a economia do afecto depressivo e da evocação da perda do objecto.
c) São outras as produções sobre a inibição, a agitação, ou até a recusa, se relacionam de
forma transparente com a cena primitiva, que as componentes fóbicas doo acme
edipiano acentuam. As narrativas podem então mostrar a organização da pára-excitação
relativamente à sexualidade parental; a pára-excitação pode, paradoxalmente, passar
pela evocação da sexualidade infantil versus jogos interactivos ou actividade auto-
266
Avaliação em Psicologia Clínica
erótica, cuja carga de excitação parece menor ao lado da que a aproximação libidinal
entre os pais contém. (“Dois ursinhos na cama, um pequeno ursinho e uma pequena
ursinha. O candeeiro está apagado. Já não sabem que mais fazer, então divertem-se…não
sei mais. Essa não é grande coisa! Não havia muita imagem, como é cinzento não se pode
ver muito bem.” Rémy, 5 anos).
→ Cartão 6 ←
Conteúdo Manifesto: uma gruta na qual se vêem mais ou menos bem dois ursos grandes. À
frente, um ursinho, olhos abertos e folhas. Duas silhuetas de ursos numa gruta obscura,
ursinho deitado; garras do ursinho, folhas de azevinho.
Conteúdo Latente: remete para a curiosidade sexual e para os fantasmas da cena primitiva. O
cartão 6, assim como o precedente, remete para a cena primitiva e para a masturbação.
267
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Manifesto: na selva, um tigre salta para um macaco. O macaco parece agarrar-se a
lianas. Um tigre, com as presas à vista e a deitar as garras de fora; garras, dentes do tigre,
cauda, proporções relativas entre o tigre e o macaco; vegetação, chão manchado.
268
Avaliação em Psicologia Clínica
Conteúdo Latente: remete para uma relação carregada de agressividade (versus castração ou
devoração). Remete para o receio da agressividade privilegiando o registo de castração.
Como o cartão 3, a relação entre os dois animais não é simétrica e comporta um eixo activo-
passivo. Agressividade agida, agressividade sofrida, podem inscrever-se quer num contexto de
destrutividade sinónimo de uma não distinção sujeito-objecto, quer no quadro da rivalidade
edipiana, ou ainda entre ambos, o que favorece a situação projectiva.
269
Avaliação em Psicologia Clínica
→ Cartão 8 ←
Conteúdo Manifesto: dois macacos grandes sentados num sofá bebem por chávenas. À
direita, um macaco grande sentado num pufe aponta para um macaquinho. O macaco no
primeiro plano fala com o macaquinho; numa moldura, uma cabeça de macaco com óculos e
um penteado com fitas e rendas; flores e argolas nas orelhas dos macacos grandes; flores do
sofá.
O cartão evoca, em princípio, uma dupla relação dual entre os macacos situados em planos
diferentes. As diferenças de tamanho e os atributos favorecem a diferenciação de gerações e
de sexo.
270
Avaliação em Psicologia Clínica
A mamã ela não vê, esconde-se e tem medo que ela lhe ralhe. Uma fotografia da ama
que morreu, óculos, chapéu.” Christophe, 7 anos).
As expressões indirectas da problemática depressiva são, no entanto, mais frequentes;
elas podem passar por intermédio das defesas maníacas, evocando à cena uma ruidosa e
confusa barulheira; a importância atribuída à figuração de suporte ou à ausência de
suporte do macaquinho, sem intervenção de afecto nem evocação de perda, também
pode ser um sinal da sensibilidade à falta.
c) A diferenciação edipiana das gerações e dos sexos aparece com o seu eventual cortejo de
hesitações (“O papá, não, a mamã”). O par no segundo plano é heterosexuado com um
possível deslocamento para as personagens dos avós. O duplo pólo relacional é
percebido, o par de trás diz segredos «ao ouvido» numa proximidade a maior parte das
vezes lidibinal (“Eles divertem-se bem juntos”); o par adulto-criança no primeiro plano
está encarregue de veicular as leis superegóicas e os desejos de transgressão (“Eles
bebem chá, eles bebem chá, a irmã e o papá, e o bebé tem de ouvir o que lhe diz a
mãe….como eu, faço asneiras” Amélie, 5 anos).
A proximidade dos elementos fóbicos nas crianças complica o interdito do desejo de ver o
que se passa no seio do casal, pelo perigo que a exploração deslocada para o exterior poderia
comportar; a relação de dependência à imagem materna fica assim reafirmada (“não sair”,
“ficar com a mamã”). A hipersexualização das representações, na mesma idade, também
pode ser espectacular (“Ainda sobram dois? Não há casa de banho? [ausenta-se]. Então a
mamã que não está casada teve um bebé e o bebé diz-lhe que eles não são os dois casados e
a avó ela está atenta, olha! E de repente os macacos eles levantam-se, eles ouve que o bebé
acabou de falar, eles dizem que…há uma princesa que sai com um rapaz, o rapaz vai
apaixonar-se pela rapariga. Já voltaram os meus pais?” Aline, 5 anos).
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Avaliação em Psicologia Clínica
→ Cartão 9 ←
Conteúdo Manifesto: um quarto sombrio cuja porta está aberta. Uma cama de criança com
um coelho dentro, sentado. Porta aberta para uma divisão iluminada, o coelho está virado
para a porta; janela, espelho, contraste claro-escuro; descontinuidade das grades da cama,
cortinas abertas.
Conteúdo Latente: remete para uma problemática de solidão e/ou de abandono. Remete para
além do medo do escuro e da solidão, para a curiosidade sexual.
O cartão 9, o único que representa um indivíduo isolado, remete para a capacidade de estar só
e de gerir a solidão. A elaboração da posição depressiva é, desta vez, prioritariamente
solicitada. Mas alguns elementos manifestados também podem, consoante a problemática da
criança, remeter para os fundamentos identitários ou, se a idade e a maturidade o permitirem,
para as implicações da estruturação edipiana. Os aspectos depressivos ligados à vivência de
exclusão do casal parental fazem então parte deles.
272
Avaliação em Psicologia Clínica
frequentes são a excitação resultante da recusa maníaca através de uma narrativa que
pretende ser “muito divertida” ou cheia de personagens, ou até de “luz” e de “sol”
apesar do estímulo. Nesse caso, representação e afecto são evitados. Outras
modalidades consistem em evidenciar a precariedade do meio e do suporte (“Cama
partida”, “faltam grades”, “os pés estão partidos”…) enquanto deslocamento da vivência
de sofrimento. A gestão narcísica deste tipo de conflito assenta no sobreinvestimento
dos dados sensoriais do material: cinzento, preto, branco, superfície, cenário, a fim de
ignorar o que não existe; (“Aí é um coelho que ficou doente, então telefonou ao médico e
o médico disse-lhe para ficar na cama durante três dias. É tudo.” Charlotte, 9 anos –
tenta «adaptar-se» à solidão de um modo autogerido que nega a dependência).
c) Num contexto edipiano a solidão evocada relativamente ao casal parental reintroduz
nostalgicamente a representação da relação. A porta está então aberta, no sentido
duplamente figurado, para o que os pais fazem, no seu quarto ou algures, e para a
rivalidade face ao progenitor simbolicamente mais seguro. Podem então aparecer as
hesitações identificatórias, os interditos ditados pelo superego e a expressão de afectos;
angústia e tristeza integram-se em cenários onde a oposição ficção/realidade bem
construída, por vezes através do recurso ao sonho, permite modular o impacto
fantasmático ligado à masturbação e ao seu interdito. O auto-erotismo pode oferecer
igualmente uma via de arranjo da solidão (“Ele não está cansado, ainda quer brincar no
baloiço, mas a sua mamã não quer”); os temas de «cama partida» remetem, nesses
casos, para a transgressão e para a retaliação castradora.
→ Cartão 10 ←
Conteúdo Manifesto: um cãozinho, deitado de barriga para baixo nos joelhos de um cão
grande. À direita uma casa-de-banho e toalhas; boca aberta do cãozinho, pata do cão grande
levantada em cima do cãozinho; as diferenças de tonalidade claro-escuro dos dois cães, banco.
273
Avaliação em Psicologia Clínica
a) Os dois cães são pouco ou nada diferenciados, e por vezes confundidos com outros
animais ou personagens introduzidos. Como sempre, a desorganização da linguagem
anda a par com a invasão fantasmática. A destrutividade assenta mais num fantasma de
absorção oral do que num real conhecimento da situação anal, mesmo quando aparecem
termos escatológicos. A versão erótica também pode ser confusa através de um
amontoar indefinido de animais «que se pões em cima» não se destacando a dimensão
anal.
b) A angústia de perda do objecto e de aniquilamento depressivo de origem anal é aqui
directamente sugerida pelo material manifesto (“Ele tinha vontade de ir à casa de banho,
mas não queria sentar-se lá. Tinha medo de cair no buraco.” Charlotte, 9 anos). A
figuração muito clara da proximidade corporal pode reactivar, nalgumas crianças, a
vivência de importantes perturbações no «handling», isto é, na forma como o corpo é
objecto de cuidados, de negligências ou até de agressões ou intrusões, o que mostra a
precariedade dos assentos narcísicos a este nível.
c) O estabelecimento do eixo edipiano pressupõe, primeiro, o claro destacar de uma
imagem parental em relação à qual a criança é levada a situar-se e, depois, o
reconhecimento do manejo da agressividade segundo o eixo sadomasoquista. A ligação
entre a agressividade e proximidade libidinal autoriza o acesso à ambivalência.
Mas o material latente não pode ser lido da mesma maneira para as raparigas e para os
rapazes, na medida em que ele remete, com mais precisão do que o cartão 2 poderia sugerir,
274
Avaliação em Psicologia Clínica
3. Folha de análise
275
Avaliação em Psicologia Clínica
EI1: Restrição, silêncios, recusas, tendências para a recusa, necessidade de fazer perguntas
EI2: Anonimato, razões dos conflitos não esclarecidas, colagens, banalizações
EI3: Evitamentos específicos, evocação de elementos ansiogénico seguidos ou precedidos de
paragens no discurso
Categoria RA: recurso ao afecto – deve existir sempre recurso ao afecto mas moderado pois,
se for excessivo/massivo pode por em causa a integridade do self (como fazer xixi nas calças,
por exemplo, é uma demonstração de desregulação do self).
276
Avaliação em Psicologia Clínica
Categoria OC: recurso à objectividade e controlo. OC1 e os outros primeiros são recursos
normativos, por outro lado, o OC4 é anulação, deixando, por isso, de ser tão normal (poderá
acontecer em pessoas que foram violentadas sexualmente); OC8: escotomas e extravagâncias
perceptivas – desadequação à realidade, não ver as coisas do objecto manifesto, ou seja, não
aceita a realidade (tendência recusa). Exemplo de OC8 é no cartão dos ursinhos falar apenas
de dois quando lá se encontram três.
277
Avaliação em Psicologia Clínica
O JOGO LÚDICO
A brincadeira é o meio pelo qual a criança consegue controlar as suas angústias e de
controlar uma situação que, de outra forma seria impossível. Para Freud, as crianças repetem,
nas suas brincadeiras, tudo o que, na vida, lhes causou profunda e impressão e, brincando,
tornam-se ‘senhores’ da situação. As crianças brincam para fazer alguma coisa que, na
realidade fizeram com elas.
Através da brincadeira, a criança não só realiza os seus desejos como também domina
a realidade graças aos movimentos de projecção dos perigos internos sobre o mundo externo.
O brincar está para a criança como a associação livre de ideias para o adulto. Logo, a
neurose de transferência desenvolve-se da mesma forma, não sendo as figuras parentais
atuais, mas as internalizadas, que são projectadas no analista, que terá como principal função
interpretar todo o material associativo que a criança faz.
Nos brinquedos oferecidos pelo psicólogo, a criança deposita parte dos sentimentos,
que representam os distintos vínculos com os objectos do seu mundo interno. Assim, muitos
fenómenos que não seriam obtidos pela palavra, poderão ser observados através do brincar,
onde a criança, projectará as suas questões-chave, tanto no decorrer do jogo quanto na
maneira como usa os materiais e os brinquedos.
278
Avaliação em Psicologia Clínica
As crianças, de maneira geral, agem, falam e/ou brincam de acordo com as suas
possibilidades maturativas, emocionais, cognitivas e de socialização, e é pela sua acção (activa
ou passiva) que elas exprimem as suas possibilidades, descobrindo-se a si mesmas e
revelando-se aos outros.
Erik Erikson descreve três fases sucessivas na evolução dos brinquedos das crianças:
→ auto-esfera (o brinquedo da criança é centralizado na exploração do próprio corpo e/ou nos
objectos que estão imediatamente no seu alcance);
279
Avaliação em Psicologia Clínica
Piaget também propõe uma classificação que tem em conta a estrutura do jogo e a evolução
das funções cognitivas da criança:
→ Até aos 2 anos: brinquedos e jogo de exercício (em que a conduta lúdica é destinada
exclusivamente para a obtenção de prazer)
→ Entre os 2 e os 8 anos: brinquedos e jogos simbólicos (em que a criança desenvolve a
capacidade de representar uma realidade que não está presente no seu campo perceptivo)
→ A partir dos 8 anos: brinquedos e jogo de regras (em que a criança imita as actividades dos
adultos e pertencem ao domínio do código social).
2) Cada criança estrutura uma modalidade do brinquedo que lhe é própria, baseada nas
formas de manifestação simbólica do seu ego e dos seus traços de funcionamento
psíquico.
→ Plasticidade: esta pode ser observada quando a criança consegue expressar as suas
fantasias através de brincadeiras organizadas com sequência lógica, utilizando brinquedos ou
objectos que podem modificar a sua função de acordo com a sua necessidade de expressão,
mostrando uma variedade de recursos egóicos e uma significativa riqueza interna, sem
necessidade de recorrer a mecanismos de controlo excessivos.
→ Rigidez: quando a criança fixa certos comportamentos ou acções lúdicas de maneira rígida
para expressar uma fantasia, esta mostra grandes dificuldades para aproveitar e/ou modificar
os atributos dos brinquedos e um ego pobre em recursos frente à ansiedade, resultando na
escolha de brinquedos e jogos monótonos e pouco criativos.
280
Avaliação em Psicologia Clínica
desconexão com o mundo externo, tendo como única finalidade a descarga de impulsos do id
sem fins comunicacionais.
3) A avaliação da motricidade é muito importante uma vez que o manejo adequado das
possibilidades motoras, no que diz respeito à integração do esquema corporal,
organização da lateralidade e estruturação espaço-temporal, possibilitará à criança o
domínio dos objectos do mundo externo no campo social, escolar e emocional,
satisfazendo as suas principais necessidades como a autonomia, enquanto que
dificuldades neste âmbito provocarão, certamente, limitações e frustrações.
4) A personificação é a capacidade da criança para assumir e desempenhar papéis no
brinquedo. É o elemento comum em todos os períodos evolutivos, através do qual as
crianças transformam os seus brinquedos ou a si mesmas em personagens imaginárias
ou não, de acordo com a sua faixa etária, expressando sentimentos, tipos de relações e
conflitos, sempre em sintonia com a realidade do seu mundo interno. A análise deste
indicador permitirá compreender o equilíbrio existente, ou não, entre o superego, o id e
a realidade, verificando também a capacidade de fantasiar na definição de determinados
papéis que, com o auxílio da mágica lúdica, possibilitará, pelo menos durante um período
limitado, a satisfação dos desejos mais grandiosos que o seu “eu” consciente, em outras
circunstâncias, não lhe permitiria.
5) Criatividade: criar é inventar ou transformar a partir da própria capacidade. Quando a
criança constrói um novo objecto ou transforma um já existente, mostra a sua
capacidade de relacionar elementos novos no brinquedo a partir da reorganização de
experiências anteriores. Assim, a criatividade é um processo mental de manipulação do
ambiente do qual resultam novas ideias, formas e relações.
6) Quando a criança utiliza uma variedade de elementos para se expressar no brinquedo,
está a exercitar a sua capacidade simbólica. O jogo é uma forma de expressar a
capacidade simbólica, e a vida fantasiada torna-se mais observável à medida que a
criança se torna apta para o jogo simbólico.
Durante o 1º ano de vida, por exemplo, o brinquedo consiste simplesmente na
manipulação de objectos; depois desse período, passa a ser usado funcionalmente, numa
acção repetitiva e, quando o jogo de faz-de-conta aparece, a criança começa a usar
vários brinquedos simbolicamente, visando a objectos que representam outros objectos.
Desta maneira, uma folha de papel pode tornar-se num avião; um pau pode ser
transformado num cavalo; uma penela e uma colher num tambor; etc.
281
Avaliação em Psicologia Clínica
→ O Jogo Lúdico é uma técnica de avaliação clínica muito rica pois permite compreender
a natureza do pensamento infantil, fornecendo informações significativas do ponto de vista
evolutivo, psicopatológico e psicodinâmico, possibilitando formular conclusões diagnósticas,
prognósticas e indicações terapêuticas.
O jogo e a psicopatologia:
282
Avaliação em Psicologia Clínica
O DESENHO
1. Etapas do desenho:
Realismo fortuito → a partir dos 18 meses, a criança começa a interessar-se pelo traço
que o objecto traçante imprime. Ao rabisco inicial, sem intenção de representar seja o
que for, sucedem-se formas esquemáticas reconhecíveis: a espiral, o “círculo primordial”
(circulo incompleto, aberto de um dos lados que é capaz de servir de base para a
representação da maior parte dos objectos conhecidos da criança: figura humana por
exemplo) que permitem à criança encontrar ocasionalmente semelhanças entre um
traço e um objecto e interpretá-lo nesse sentido.
Realismo falhado → entre os 2 e os 3 anos aperfeiçoam-se os esquemas básicos do
grafismo: aparecem as linhas verticais, depois as horizontais, as linhas paralelas. A
criança, embora sem relevantes aquisições, domina cada vez melhor o seu grafismo (o
traço vai-se tornando mais firme; as linhas, inicialmente descontínuas, tornam-se
uniformes) e aparece o desenho intencional, frequentemente anunciado com
antecedência. Mas entre a intenção e as capacidades gráficas, há ainda um desnível e a
criança falha no seu propósito. Mais adiante, poerá encontrar um compromisso: um
grafismo não intencional. O círculo, por exemplo, é associado a um objecto conhecido:
um animal. A criança acrescenta-lhe então dois traços verticais representando as pernas
e dá-lhe o nome de uma qualquer ave.
Realismo intelectual → dos 3 aos 6/7 anos faz a aquisição progressiva de todos os
esquemas gráficos: a linha sinuosa, o círculo, a cruz, o quadrado, o triângulo e o losango,
que lhe permitem representar intencionalmente, um modelo interno. Mas nesta etapa, a
criança desenha o que conhece, o que sabe existir, e não aquilo que vê e como o vê. Daí
que nesta etapa se notem características específicas, que importa descrever. São elas:
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Avaliação em Psicologia Clínica
284
Avaliação em Psicologia Clínica
Localização no papel:
Característica: Simbolismo:
No meio da página Indica pessoa ajustada.
Crianças que desenham no centro da página mostram-se mais
autodirigidas, autocentradas.
Desenhos fora do centro da página Pessoas mais descontroladas e dependentes.
Quando não levado a grandes extremos da página, indica grande
segurança.
Desenho num dos cantos Pessoas que fogem do meio. Pode indicar fuga ou desajuste do
indivíduo ao ambiente.
No eixo horizontal, mais para a direita do Comportamento controlado, desejando satisfazer as suas necessidades
centro horizontal e impulsos; prefere satisfações intelectuais do que emocionais.
No eixo horizontal, mais para a esquerda Comportamento impulsivo; procura a satisfação imediata das suas
do centro horizontal necessidades e dos seus impulsos.
Lado esquerdo da página Indica inibição ou controlo intelectual; introversão.
Lado direito da página Extroversão; procura a satisfação imediata. O desenho no canto
superior direito é mais grave que no canto superior esquerdo.
Na linha vertical, acima do ponto médio Desajuste com possibilidade de reagir ao mesmo. Acha que está a lutar
muito e o sente que o seu “goal” é inatingível; tende a procurar
satisfação na fantasia, em vez de na realidade; tende a manter-se alheio
e inacessível.
Abaixo do ponto médio da página O indivíduo sente-se inseguro e inadequado, em depressão, preso à
realidade e ao concreto, firme e sólido. A criança (escola primária)
prefere o quadrante de cima e esquerdo, mas quando atinge o 8º ano
escolar volta gradualmente para o centro.
Abaixo, mas quase no centro Desajuste, debilidade física e fuga.
Fora da margem do papel Debilidade mental ou fraco índice de socialização.
Figuras penduradas nas margens do papel Reflectem a necessidade de suporte; medo de acção independente;
(como janelas penduradas das bordas das falta de auto-afirmação do sujeito.
paredes)
285
Avaliação em Psicologia Clínica
Pressão no desenhar:
Característica: Simbolismo:
Caracterização do traço:
Característica: Simbolismo:
Forte Medo, insegurança, agressividade sádica, dissimulação.
286
Avaliação em Psicologia Clínica
Simetria do desenho:
Característica: Simbolismo:
Detalhes no desenho:
Característica: Simbolismo:
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Avaliação em Psicologia Clínica
Para estas pessoas, as relações espontâneas com outras pessoas, assim como o mundo
exterior, representam uma grande ameaça. São incapazes de relaxar e de ter comportamentos
impulsivos. Actuam sempre com percalço, sob pressão do dever.
Movimentos no desenho:
Quase todos os desenhos sugerem alguma forma de tensão cinestésica, desde a rigidez
até à extrema mobilidade.
Figuras sem movimentos indicam repressão, inibição aos estímulos interiores. Quanto
menos movimento, mais curto será o caminho para a neurose.
Característica: Simbolismo:
Movimento excessivo Indica histerismo latente, excitação. Também pode indicar necessidade
de comunicação (se os traços tendem a sair das margens trata-se de
aspectos negativos). O indivíduo inquieto produz desenhos que contém
consideráveis movimentos.
Movimento monótono Pode corresponder a uma apatia.
Tamanho da figura:
288
Avaliação em Psicologia Clínica
Assim, o tamanho sugere a forma como o sujeito está a reagir à pressão do ambiente,
ou a forma como se sente no seio familiar.
Característica: Simbolismo:
Tamanho diminuto Pode ser caso de inteligência elevada mas com problemas emocionais.
Pode indicar inibição da personalidade, desajuste, repressão à
agressividade, factor somático (caso de desnutrição). Timidez e
sentimentos de inferioridade.
Tamanho grande Fantasia. Se está bem centrada pode significar ambições que poderão
ser alcançadas.
Tamanho exageradamente grande Sentimento de opressão do ambiente, com concomitante acção
(atingindo quase os limites da página) supercompensatória, ou fantasia (uma pessoa pequena que se desenha
grande, por exemplo). Debilidade mental (não tendo noção do
tamanho).
Em outros desenhos, poderá ainda revelar tendências narcísicas ou
exibicionistas.
Pode também revelar uma forte agressividade.
Uso da borracha:
Característica: Simbolismo:
289
Avaliação em Psicologia Clínica
Riscar o papel:
Quanto à variação:
Característica: Simbolismo:
Branco Oposição.
290
Avaliação em Psicologia Clínica
Característica: Simbolismo:
Característica: Simbolismo:
Cores desordenadas, justapostas de modo Confusão mental, descontrolo, carácter desenfreado, sem noção de
confuso, com negligência limite de comportamento, desorganização psíquica.
Cores muito separadas na área disponível Compulsividade, desejo de perfeição, disciplina rígida.
Pede-se à criança para desenhar uma casa, uma árvore ou uma pessoa. A casa é
apropriada à simbolização do corpo da criança, ao útero ou à casa paterna; a árvore é
adequada a reflectir os sentimentos relativamente profundos e os mais inconscientes da
291
Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
293
Avaliação em Psicologia Clínica
1) A proporção entre as figuras humanas desenhadas pode basear-se na idade de cada um.
Nesse caso, trata-se de minuciosidade e desejo de perfeição.
2) A proporção simboliza o valor que o propósito atribui à figura desenhada. Se a mãe é
desenhada num tamanho maior do que os outros membros da família, ela é tomada como
figura dominante. Pode, também, representar uma idealização – a idealização de que a
mãe seja a figura desejada.
Uma figura de um irmão maior que o pai: sentimento de ciúme.
Quando a figura é menor: é sinal de uma compensação, rebeldia, sentimento de não-valia.
Característica: Simbolismo:
Figura de frente Quando a figura é do próprio sexo do sujeito, significa aceitação do seu
próprio sexo. Resolução da fase edipiana. Aceita o muindo de frente.
Desenho de perfil Pode ser uma dissimulação ou um desajuste, ou incapacidade de
enfrentar o meio. Indiferença ao meio. Deficiência afectiva.
Corpo de frente e rosto de perfil Carácter não bem ajustado aos seus propósitos. Falta de aprendizagem,
técnica.
Negrito Conflito no desenho.
Desenho de costas Dissimulação dos impulsos culpados e inconfessáveis. Pode ser caso de
ambivalência sexual. Uma esquizotimia.
Figura de pé Significa força, energia, adaptação.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Figura sentada ou agachada Inibição, submissão, debilidade física, fraca energia para responder aos
estímulos externos. Facilidade no campo sexual. Ideias suicidas.
Deitado Patológico. Pode revelar uma situação como, por exemplo, o sujeito ter
uma pessoa doente na família.
Figura inclinada Solta no espaço. Instabilidade psíquica ou somática. Desvio do controlo
visuo-motor. Disritmia cerebral. Perturbação mental, tumor cerebral,
etc. Sofre de enxaquecas.
Aparecem órgãos sexuais Pode ser verificado até aos 7 anos (auto-afirmação, descoberta do
sexo). No adulto: quando há representação do sexo, pode ser um
problema grave no terreno sexual.
Pode ser uma fantasia de masculinidade.
É natural até aos 5/6 anos. Além dessa idade, a figura é desenhada sem transparência.
Quando aparecem elementos sexuais através da roupa, irá demonstrar curiosidade
sexual. Também pode tratar-se de uma criança atrasada.
Transparência no adulto: é uma resposta a uma prática sexual culposa.
Figuras cabalísticas:
Figuras grotescas:
Característica: Simbolismo:
Cabeça exagerada Debilidade mental. Pode ser caso de pessoas que tenham doentes na
família. Pode ser narcisismo ou valorização exagerada da própria
inteligência.
Tamanho reduzido Menos-valia, sentimento de inferioridade. Pouca inteligência.
295
Avaliação em Psicologia Clínica
Partes omissas Faltando um braço, ou uma perna, etc., aparece em débeis mentais,
problemas somáticos, neuroses. Pode ser censura relacionada à parte
omitida. Aparece também entre psicóticos e imaturos, que não querem
tomar conhecimento dos problemas do mundo.
Característica: Simbolismo:
Início pelo rosto Função social: no rosto estão todos os elementos da inter-relação
social. Pessoas que têm preocupação em agradar. Necessidade de
inter-relação com as pessoas.
Desenvolvimento bilateral Relaciona-se com as pessoas que procuram dissimular.
Início pelos ombros Pessoas com ambição, desejo de auto-afirmação, dificuldades gástricas.
Fantasia de força, de poder (no caso de ombros largos).
Início pelos braços Indivíduo que ambiciona poder económico, compreensão e afecto.
Conforme a posição dos braços, verifica-se se o indivíduo está a
fantasiar as ambições. Sentimento de culpa, se estes estão retocados.
Desejo de inter-relação. Necessidade de aquisição de bens. Pessoas que
gostaria de ter uma boa vida social, mas que não o fazem devido às
suas condições financeiras, etc. É importante verificar se a ambição é
positiva ou negativa.
Início pelas mãos Pessoa muito forreta ou muito ambiciosa, ou muito pobre. Pode
mostrar um grande sentimento de culpa; frustração; ou mostrar
alguma situação real.
Início pelas pernas Indica desejo de mudança – física, profissionalmente, academicamente
ou de fantasia (como nada tem, começa por onde ele quer).
Início pelo pé O mesmo que começar pela perna. Em geral, indica um problema
sexual.
Cabeça desenhada em último lugar Sugere a possibilidade de sério distúrbio mental.
Início pelos pés, com dedos Indica pessoa de afectividade primitiva, de sensualidade instintiva, sem
controlo e de grande agressividade.
296
Avaliação em Psicologia Clínica
Cabeça:
É a parte do corpo onde se localiza o “Eu”. Há, portanto, uma grande ênfase dada ao
desenho da cabeça, com excepção dos neuróticos, deprimidos ou desadaptados socialmente.
A maior parte do autoconceito do indivíduo está focado na cabeça.
Característica: Simbolismo:
Cabeça grande, em relação ao tamanho Ambição, aspirações intelectuais, introspecção, fuga à fantasia.
do corpo
Cabeça exagerada Narcisismo, egocentrismo, exibicionismo. Fantasia maior do que a
capacidade de realização. Sentimento de menos-valia. Crítica do
mundo para o indivíduo. Debilidade mental, problemas somáticos
(dores de cabeça, por exemplo). Escasso sentido espacial, com base em
defeito intelectual.
Cabeça pequena em relação ao corpo Sentimento de menos-valia, preocupação, crítica.
Cabeça desenhada com muita clareza, em Pode indicar que o sujeito recorre, habilmente, à fantasia, como um
contraste com o corpo, vagamente estratagema compensatório, ou pode ter sentimentos de inferioridade
esquematizado ou vergonha relacionada às funções e partes do seu corpo.
Rosto:
Característica: Simbolismo:
Cabelo, olho, nariz, com ausência de Pode referir-se a problema psicótico. Toda a vez que um indivíduo
contorno facial deixa o humano, trata-se de um problema psicótico. Dificuldade em ter
contacto com o estímulo exterior.
Desenho do rosto sem olhos, nariz, boca Pode indicar ausência de relação com o meio. Fuga às respostas, aos
estímulos exteriores. Imaturidade para não se comunicar com ninguém.
Contorno reforçado Dificuldade de inter-relação social. Restrição à figura projectada. A
cabeça pode estar bem marcada e o rosto delineado. São, em geral,
pessoas com tendência à fuga: perante problemas, fogem. Insegurança,
com capacidade de vencê-los.
297
Avaliação em Psicologia Clínica
Olhos:
Característica: Simbolismo:
Olhos Podem ser representados apenas com um traço. Isto pode revelar:
autismo, introversão, não aceitação do meio. Pessoas que “fecham” os
olhos para não ver. Imaturidade afectiva.
Omissão dos olhos Imaturidade afectiva: psicossocial. Egocentrismo. Pode ser dissimulação
de uma atitude imatura para responder a um estímulo exterior. Pode
ser um problema patológico.
Olhos representados por um ponto Pode ser um meio imaturo de enfrentar a vida. Aspecto regressivo na
maturidade afectiva.
Olhos vazios sem pupilas. Egocentrismo: recusa em enfrentar a realidade. Podem ter um aspecto
agressivo. Podem ter uma significação particular para o sujeito
(sadismo). O mundo está fechado para ele, ou percebido muito
vagamente, com pequena dissimulação e detalhes.
Olhos ‘queixosos’, bem trabalhados Desenhados por elemento feminino: aspirações ‘queixosas’. Atitude
geral. Agressividade. Em meninas: ideia de se afirmar sexualmente,
chamar a atenção. Em pessoas de maior idade: pode estar ligada ao
problema da masturbação. Em rapazes: problema de sexualidade
inadaptada. Desenho homossexual ou ambivalente.
Olhos fechados Podem indicar imaturidade para enfrentar problemas. Autismo.
Pessoas que querem fugir ao meio. Pode ser uma situação real. A
pessoa não quer enfrentar o problema e fecha os olhos ao mesmo.
Olhos oblíquos para baixo Depressão: debilidade consciente. Fraco controlo diante do meio em
que vive.
Olhos satânicos, para cima Na mulher: desejo de contacto sexual, masturbação. Narcisismo –
desejo de afirmação no grupo.
No homem: ambivalência sexual.
Olhos a negrito Inter-relação social. Conflito, agressividade. Satisfação furtiva. Recusa
total do meio.
Retoque nos olhos Pode ser um problema somático ou psíquico.
298
Avaliação em Psicologia Clínica
Sobrancelhas e pestanas:
Característica: Simbolismo:
Sobrancelhas e pestanas O traço da pestana com o traço dos olhos em linha recta: personalidade
forte, decidida e teimosa. Regressão da evolução afectiva (fase anal),
autoritarismo.
Sobrancelhas levantadas Livre expressão, arrogância, desdém ou dúvida. O paranóico dá muita
ênfase aos olhos.
Sobrancelhas em traços finos Fina sensibilidade.
Cabelos:
Característica: Simbolismo:
Na mulher (cabelos em cascata) Indivíduo mais desinibido. Move-se bem no ambiente. Pode significar
reacção às formas negativas, se apresentadas nos outros testes.
Imaturidade psicossocial.
Cabelos de mulher agarrados à cabeça É comum nas mulheres solteiras.
(lisos)
Cabelo desenhado com cuidado (bem Pessoa com bom equilíbrio psicossexual, bom nível mental.
delineado)
Cabelo muito certo Pessoas moralistas, que se controlam. Pode ainda ser um exibicionismo
ou narcisismo.
Ênfase em preencher o espaço envolvido, ou no vigor do sombreado.
Virilidade sexual.
Cabelo em escova Reacção agressiva a algo que o indivíduo não aceitou dentro do grupo.
Cabelo com trança Sujeição: controlo dos impulsos sexuais, dos próprios impulsos.
Rapaz que dá à mulher penteado Desordem sexual, imaturidade sexual, narcisista e hostil à mulher.
desordenado e ao do rapaz muita ordem Ênfase no cabelo, sobre o peito com uma barba: indicação de pujança
viril.
Cabelo ondulado, em formas de cachos Quando se combina com outros enfeites chamativos, feito por
meninas, é encontrado entre adolescentes e meninas sexualmente
delinquentes, ou com desejos de chamar a atenção. Meninas
sexualmente precoces.
Quando o cabelo serve para tapar a cara Dissimulação de problemas.
299
Avaliação em Psicologia Clínica
Sombra vigorosa do cabelo com limites Conflito de virilidade, que surge em condutas sexualmente desviadas.
mal delineados
Cabelo curto Sentimento de perda de virilidade. Jovens com a sexualidade bem
definida.
Rapaz que desenha mulheres com cabelos Carácter regressivo ou esquizóide. Sexualidade infantil com vivas
bem delineados e homens com chapéus fantasias viris. Está a aumentar a sua impotência com o chapéu.
incongruentes
Cabelo colado em caracol Repressão sexual. Conceitos morais errados, etc.
Bigode e barba:
Característica: Simbolismo:
Óculos:
300
Avaliação em Psicologia Clínica
Nariz:
Característica: Simbolismo:
Nariz com deformações Pode ser uma situação real. Sentimento de menos-valia. Projecção da
figura de um indivíduo da família. Desvio sexual.
Nariz com retoque Indivíduo com problema de punição: auto e heteropunição (pela sua
conduta sexual desviaste).
Nariz desenhado com um corte ou sombra Indecisão ou inadequação sexual, que também podem ser indicadas
(vertical) por uma braguilha grande nas calças, ou gravata. Indica, também,
temores de castração, dúvida, indulgência auto-erótica.
Nariz visto de frente Sombreado, reforçado ou omitido: conflito sexual. Imaturidade.
Complexo de inferioridade. Homossexualidade.
Nariz chato Primitivismo intelectual, sexual.
Narinas com asas bem acentuadas Aspecto de forte sexualidade. Agressividade. Indício de força, teimosia,
comando, impulsividade. Quando desenhadas a negrito, o problema
agrava-se.
Narina acentuadamente retocada Fantasia de expor a fantasia do item anterior.
301
Avaliação em Psicologia Clínica
Boca:
Característica: Simbolismo:
Boca com linhas simples, de perfil, Erotismo oral nas suas disposições sexuais.
exprimindo grande tensão
Boca de palhaço Em pessoa psiquicamente imatura. Procura simpatia forçada.
302
Avaliação em Psicologia Clínica
Orelhas:
Característica: Simbolismo:
Omissão É comum.
Queixo:
Característica: Simbolismo:
Pescoço:
Característica: Simbolismo:
303
Avaliação em Psicologia Clínica
Ombros:
Característica: Simbolismo:
Costelas:
304
Avaliação em Psicologia Clínica
Braços:
Característica: Simbolismo:
Omissão dos braços É frequente no caso de rompimento com o mundo exterior (caso dos
psicóticos).
Pessoas com quebra da palavra. Pessoas eróticas. Oposição ao grupo.
Sentimento de menos-valia. Mecanismo de compensação.
Esquizofrênicos e disrítmicos.
Ocasionalmente, os braços podem ser omitidos na figura feminina,
desenhada por rapazes, rejeitados pelas mães.
Braços rígidos, apertados ao corpo Pessoa esquizoide. Fuga do indivíduo ao meio. Desejo de superar o
problema.
Para trás Falta de confiança. Insegurança da sua participação no meio ambiente,
em conflito por pressões narcísicas.
Afastados da área genital Sentimento de culpa, podendo ser por masturbação..
Braços em movimento com o outro, junto Tentativa de vencer a dificuldade frente ao meio.
ao corpo
Braços em horizontal e de forma Aparecem, geralmente, em desenhos simples e regressivos, refletindo
mecânica em ângulo reto com a linha do contato superficial e não afetivo.
corpo
Um braço para cima e outro para baixo Fantasia.
305
Avaliação em Psicologia Clínica
Mãos:
Característica: Simbolismo:
Mãos fechadas Pessoa usuária (em todos os sentidos). Difícil nas relações sociais,
repressão, agressividade, fantasia dessa agressividade.
Mão em bolacha Com problemas de agressividade.
Mãos atrás Evasão. Observadas entre meninas que desejam atrair e que riem as
unhas.
Mãos cruzadas na zona central Preocupação com prática auto-erótica.
Dedos:
Característica: Simbolismo:
Em alfinete Agressividade.
Dedos em maior número do que o normal Quando não estão relacionados com debilidade mental, pode estar
relacionado com um problema psíquico, com esquizofrenia ou
imaturidade psíquica.
306
Avaliação em Psicologia Clínica
Dedos sem preponderância da mão Indício de agressão infantil. Geralmente, dedos numa só linha, com
grande pressão e combinados com outros traços agressivos.
Dedo polegar maior que os outros dedos, Simbolismo sexual. Práticas desviantes. Problema somático.
retocados ou apagados, a negrito Mecanismo de compensação.
Dedos longos, finos Situação real. Sentimento de manos-valia. Desejo de afirmação.
Mecanismo de compensação. Poderá ser característico de uma pessoa
com um grande equilíbrio.
Dedos delineados, vagos Sentimento de culpa, sentimento de menos-valia.
Unhas:
Característica: Simbolismo:
Desenhados por homens (fazer Se o homem é casado e desenha a aliança a negrito, isso indica conflito.
associação)
Anéis vistosos (desenhados por homens) Sinal de ambivalência, confusão sexual. Afirmação económica, social.
Cintura:
Característica: Simbolismo:
307
Avaliação em Psicologia Clínica
Pernas:
Característica: Simbolismo:
Pernas juntas (paralelas e unidas) Se combinadas com braços baixos, junto ao corpo: introversão,
isolamento, aspecto somático, problema sexual, sentimento de culpa,
dificuldade de carácter social.
Pernas separadas Debilidade, problema somático.
Recusa em desenhar a zona de bifurcação Traçando uma linha ao meio, para dar a impressão de calças e os
das pernas (de frente) contornos externos das pernas: imaturidade psicosexual nos rapazes.
Pernas borradas, reforçadas ou com Desenhadas por mulheres: indicam um conflito sexual, pois, na mulher,
mudanças de linhas as pernas têm significado sexual específico, são a melhor parte do
corpo.
Figura feminina hostil, com pernas Narcisismo e imaturidade psicosexual.
torcidas e com aparência masculina,
desenhadas por rapazes que desenharam
um belo varão
Pés:
Característica: Simbolismo:
Dedos nos pés Quando aparecem numa figura vestida indica agressividade, quase de
308
Avaliação em Psicologia Clínica
natureza patológica.
Omissão dos pés ou pernas Cerceamento, dificuldade de contacto. Situação real. Sentimento de
menos-valia.
Pés para dentro Ambivalência no comportamento.
Pés, um virado para um lado e o outro Indecisão, ambivalência do comportamento, atitudes pessoais. Várias
para outro tentativas. Censura à figura humana, à figura projectada: dissimulação
do conflito, oposição.
Tronco:
Característica: Simbolismo:
Omissão do tronco Normal em pessoas pequenas. Entre adultos, aparece em doentes com
complicações de carácter evolutivo e escleróticas, embora omitam o
tronco na figura masculina e sombreiem-no na figura feminina.
Tronco desenhado por duas linhas Encontrado em indivíduos regressivos, primitivos ou desorganizados.
paralelas, ininterruptas, da cabeça aos
pés, formando uma caixa
Parte inferior do tronco, não fechada Indício de preocupação sexual.
Corpo na figura do próprio sexo do Indica descontentamento com o corpo que possui. Também pode
indivíduo que desenha indicar compensação pela gordura ou debilidade física, ou temor de
engordar. Ainda pode ser associado a resistência em tornar-se adulto.
Tronco bem longo Pode indicar compensação pela sua altura abaixo da normal.
Roupas:
Antes de desenhar, o indivíduo pode vacilar quanto à escolha da roupa, sendo que está
deve ser considerada na interpretação geral das tendências observadas.
309
Avaliação em Psicologia Clínica
Característica: Simbolismo:
Botões de punho mas camisas Associa –se com o que está acima escrito. Elemento psicótico.
Colarinho:
Pode estar relacionado com um aspecto sexual: pode ser um problema real sexual ou
pode estar relacionado com uma compensação (pescoço longo)
Característica: Simbolismo:
Colarinho muito grande ou muito estreito Compensação devido a sentimento de inferioridade. Dificuldade sexual,
dificuldade somática.
Decote, desenhado por um homem ou Indica dificuldade sexual, desejos inconfessáveis.
acentuado a negrito ou sombreado
desenhado por uma mulher
Desenhado por mulheres Indica mecanismo de compensação (pescoço maior ) ou problema
sexual, ou imaturidade. O excesso de detalhes, desenhado por homens,
indica anormalidade, ambivalência sexual, exibicionismo, etc.
Na mulher é mais normal e aceitável.
310
Avaliação em Psicologia Clínica
Cinto e calças:
Característica: Simbolismo:
Elementos acessórios:
Característica: Simbolismo:
Pastas, malas muito retocadas Pode ser simbolismo sexual. Receptiva-feminina; côncova-masculina.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Nus:
Característica: Simbolismo:
Nus, mostrando pouca diferença entre Indivíduos sexualmente débeis. Confusão ou não identificação com o
características masculinas e femininas seu papel sexual, repressão da libido.
Desenho sem roupa Corpo feito em serpente. Cabeça de palhaço: problema sexual.
II – Desenho da família
Administração:
Geralmente solicita-se ao sujeito que deseja a sua família e, a seguir, pede-se que
nomeie as figuras desenhadas. Não há mais instruções, a não ser oferecer algum tipo de
encorajamento caso haja indícios de hesitação ou mesmo confusão (“a dizer o que quisessem a
respeito dos seus desenhos”).
Por outro lado, Corman (1967) propôs que, após a representação da família imaginária,
se introduza um questionário, para que o sujeito indique, dentre os diferentes membros, qual
é considerado o melhor, o pior, o mais feliz, o mais infeliz e qual o seu preferido.
Complementarmente, deve dizer quem seria, se fizesse parte dessa família, as razões da
escolha desse personagem de identificação.
Interpretação:
Hulse, propôs uma abordagem gestáltica como sendo especialmente útil para explorar
aspectos psicodinâmicos, principalmente para revelar precocemente conflitos da criança, bem
com a percepção que esta tem da sua família, e dos seus sentimentos e atitudes em relação
aos diferentes membros desta. Destacava a importância de se considerar o tamanho de cada
pessoa representada, o tamanho relativo de alguns membros relativamente a outros, a
distância das figuras entre si e a sua posição no papel.
312
Avaliação em Psicologia Clínica
Hammer (1991) refere o tamanho como talvez sendo a variável mais importante.
Assim, uma grande figura materna sugere uma mãe dominante, enquanto um pai pequeno,
apenas maior que o próprio sujeito, indica que este percebe aquele como sendo somente um
pouco mais importante do que ele (o próprio). Por outro lado, chama a atenção para a
existência ou de uma relação ou não entre tamanho idade, e levanta, assim hipóteses:
Outra relação que este autor estabelece é entre a proximidade ou afastamento das
figuras e distância emocional entre as pessoas desenhadas. Membros da família distantes uns
dos outros configuram um grupo familiar desunido, como se as pessoas fossem desenhadas
individualmente e não como família, e sem evidência de “troca emocional”. Ao contrário, uma
criança que se coloca ao lado de um dos pais, demonstra as suas próprias preferências ou
313
Avaliação em Psicologia Clínica
efeitos de conflito edipiano. Por outro lado, o distanciamento afectivo pode ter uma
representação simbólica pela interposição de elementos extra entre membros da família, que
denunciam uma interferência no canal de comunicação ou no intercâmbio afectivo. (Exemplo:
desenhar uma árvore entre a figura materna e a paterna pode sugerir dificuldades no
relacionamento do casal ou o desejo de separá-los). Para clarear a significação afectiva das
relações mútuas, é importante observar a expressão facial que o sujeito empresta a cada
figura (pode apresentar um ar afectuoso, bondoso ou, pelo contrário, agressivo e proibitivo).
O sujeito que se sente rejeitado, não atendido, carente, desenhar-se-á (caso se inclua
na representação familiar) de um modo diferente daquele que se percebe como filho
preferido. A inclusão ou a omissão do próprio, associa-se com a presença ou não de um
sentimento de pertinência. A omissão de irmãos pode denunciar sentimentos de rivalidade,
que tenta, simbolicamente, excluir da família, figuras competitivas.
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
pela omissão do nome; ou, ainda, por ser uma figura com que raramente o sujeito
se identifica.
o A distância entre as figuras: a distância entre as figuras associa-se a dificuldades
no relacionamento e tanto pode ser indicada pelo afastamento entre as
representações das personagens como por outros indícios como por um traço de
separação.
o A presença de representações simbólicas: a inclusão de animais (domésticos ou
selvagens) no desenho do sujeito, serve para a expressão mais livre de diferentes
tendências pessoais que podem, assim, ser mascaradas. Desta forma, desenhar
irmãos como sendo figuras de animais seria uma forma de desvalorizá-los como
pessoas. Mas, como se trata de representações simbólicas, deve-se tentar analisar
a sua possível significação.
Finalmente, observa-se que, no nível de conteúdo, o autor dá uma ênfase significativa à
interpretação dos conflitos infantis, principalmente aos que considera mais notórios, “os
conflitos de rivalidade fraterna e os conflitos edipianos” .
Burns e Kaufman (1978) lembram que a acção de cozinhar, por exemplo, aparece
frequentemente, porém, simboliza uma figura materna protectora, enquanto a actividade de
limpar associa “com mães compulsivas que se preocupam mais com a casa do que com a gente
que a habita”. Já o pai que é representado no carro a conduzir ou é representado no trabalho,
pode significar que não está tão integrado na família como aquele que é representado a ler o
jornal, a pagar as contas ou a brincar com os filhos.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Por outro lado, se há sentimentos de instabilidade, o sujeito pode “tentar criar alguma
estabilidade sublinhando todo o desenho ou os indivíduos com os quais as suas relações
parecem instáveis”.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Característica: Simbolismo:
Análise de cada figura A primeira pessoa desenhada é aquela à qual o sujeito da maior
relevância, seja por motivos positivos ou negativos. Verificar traços,
negritos, transparências, riscados, localização, proporção, etc., da
pessoa desenhada são dados importantes. Também é relevante
identificar a segunda, a terceira, etc. Pessoa desenhada. De acordo com
a colocação das figuras, descobre-se a valência dessas pessoas para o
sujeito que as desenhou.
Omissão do próprio Não sente que participa, de facto, na família. Não recebe o afecto de
que precisa. Rejeita ou sente-se rejeitado (ou desejo de se afastar). O
desejo de se afastar pode estar relacionado com a pessoa que o sujeito
desenha em último lugar. Pode ser um mecanismo de compensação. O
sujeito procura atrair a figura e, não conseguindo, desenha-a no final.
Família num quadrado Desejo de se libertar da família. Sente que não se ajusta à família.
Começa por desenhar o pai e depois Pode ser uma figura fálica. Predominância da mãe ou do pai.
inverte e decide desenhar a mãe, ou você-
versa
Figura desenhada a tapar a outra figura Desejo de ocultar essa figura. Ciúme.
Figura dentro de um conjunto circular Pode ser uma figura que deseja eliminar, inconscientemente, ou uma
(circunscrever uma figura) pessoa que represente grande validade para o sujeito. Problema
somático (alguém na família doente).
Representação do próprio em primeiro Egocentrismo. Mecanismo de compensação.
lugar
Representação do próprio em último lugar Cerceamento.
Representação da família só através das Em pessoas inteligentes, auto-crítica. Problema de restrição corporal.
cabeças Às vezes dá-se o caso do sujeito desenhar uma vizinha ou uma pessoa
estranha. Se a figura é bem aceite, isso é observado através da
localização, do tamanho, etc. Se a figura estiver retocada ou a negrito
indica conflito.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Desenhar pessoas mortas na família Poderá ser uma fixação sob vários aspectos.
Representação simbólica Deve ser interpretada com o sujeito: pode representar uma situação
real.
Família separada em grupos Significa divisão da família. A divisão poderá ser feita em classes,
partindo do maior para o mais pequeno.
Família de mãos dadas, com o pai e a mãe Ideia de como o próprio se vê dentro do grupo. Cerceamento. Se
a puxar desenhado a negrito, o problema é grave.
Ombro direito mais largo Problema somático. Extroversão. Vontade de maior comunicação com
o mundo. Situação real.
Cabeça da mãe maior que as restantes Atribuição de maior autoridade social à figura materna.
Caso ilustrativo:
Informações básicas: César é um menino de 10 anos de idade, que tem uma irmã gémea e
um irmão de 12 anos. O pai deixou de ser funcionário público quando ficou com um
problema na perna e um problema de visão, por causa de um acidente, passando a
trabalhar como vendedor de pipocas em frente do colégio de César. Este auxilia-o,
diariamente, a empurrar a carroça de pipocas até ao portão da escola, indo buscá-lo ao
final da tarde. A mãe trabalha como balconista de uma grande loja, tendo melhor
remuneração que o marido. Conseguiu para o filho mais velho, que também trabalha
como office-boy de um banco, uma bolsa de estudos num colégio particular. É o filho para
o qual a mãe “passa bem as roupas”, “compra roupas” e com quem conversa. Afirma que
ele “vai ser alguém na vida” (sic). Ellen, a irmã gémea de César, mora com os padrinhos,
pessoas de posses que lhe dão tudo, porque não têm filhos. Visita a família aos fins de
semana, e a mãe quer que ela “estude e faça um bom casamento” (sic).
Motivos do encaminhamento: César foi encaminhado pelo SOE à psicóloga porque tem-se
isolado dos colegas, não brinca no intervalo e, às vezes, chora. Diz não gostar da sua casa,
porque fica muito sozinho.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Interpretação: A figura mais importante, talvez por uma questão de identificação, é o pai.
Foi desenhada em primeiro lugar. Nota-se que foi representado com o seu problema físico
(com uma perna mais curta) e com chapéu, indicando que precisa de protecção.
A mãe é a figura maior, possivelmente por ser quem trabalha mais, recebe melhor
ordenado e comanda a organização da casa.
O irmão mais velho, Robson, é representado próximo da mãe e num plano superior aos
dos irmãos, o que condiz com o fato de ser mais valorizado por ela. Mas, mesmo sendo
mais velho, a sua figura é menor que a de César, o que se relaciona, certamente, com a
competição entre ambos e com o desejo deste de que Robson seja inferior a ele.
Ellen, a irmã gémea de César, é desenhada em tamanho maior que ele, inclusive maior que
todas as figuras do sexo masculino, assim como a mãe é a maior da família. Evidencia-se a
valorização das figuras femininas, talvez em função do papel da mãe, que é o mais
produtivo da família.
César sente-se o mais rejeitado, o menor. É o último a ser representado, distante de todos.
Desenha-se depois da irmã, apesar de esta ter a mesma idade. Identifica-se com o pai
(pelo desenho), mas também não se aproxima dos demais. Permanece de braços abertos,
mas não dá nem recebe. O sentimento de rejeição fica evidente, assim como a valorização
dos irmãos ou, mais especificamente, da irmã, embora valorize mais o pai, com quem se
identifica.
As figuras são pobres, com expressão humilde, sem adornos. Falta riqueza expressiva.
Além disso, não há uma percepção integrada da estrutura familiar (as figuras estão
distantes, flutuando), o que denuncia a distância afectiva, que é real na família.
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Administração:
Normalmente, a fase gráfica é seguida por uma fase verbal. Nesta, pode utilizar-se
uma abordagem mais aberta, sugerindo ao sujeito que fale da casa, árvore e pessoa que
desenhou, que conte uma história que integre os três elementos.
Topper e Boring (1969) propuseram a utilização de 7 folhas de papel: uma com linhas
incompletas, para o sujeito completar o desenho, e as demais para que este desenhasse uma
casa, uma árvore uma pessoa (completa), uma pessoa do sexo oposto (completa), ele mesmo
(completo) e qualquer outra coisa que queira. A elaboração destes desenhos seguia-se um
questionário de 15 perguntas, numa base de faz-de-conta.
Interpretação:
Simbolismo da casa, árvore e pessoa. É essencial “considerar as áreas mais amplas da
personalidade investigadas por esses três conceitos”.
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suas relações adultas com os demais membros. Contudo, quanto mais comprometido estiver o
sujeito, maior a probabilidade de projecção de relações mais agressivas.
Assim, a casa envolve a percepção da família, seja numa óptica actual, passada ou,
ainda, num futuro idealizado, mas também aspectos do ego que tem tal percepção, que
podem representar um auto-retrato.
Não obstante, existe uma hipótese de que a árvore reflecte a relação com o pai, assim
como o desenho da casa envolveria aspectos da relação com a mãe.
Groth-Marnat (1984) refere que “as projecções que fazemos nas outras pessoas
(incluindo os nossos pais) são, na verdade, projecções externas de autopercepções e de
sentimentos” → deste modo, não é absurdo afirmar que as três figuras (casa, árvore e pessoa)
exploram os sentimentos do sujeito sobre si mesmo ou os sentimentos do sujeito em relação a
outras pessoas significativas.
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Avaliação em Psicologia Clínica
mais profundos da sua personalidade, algo de muito pessoal se comunica pela impressão geral
transmitida pelos conteúdos projectados.
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O teto pode ser desenhado, pelo indivíduo, com o simbolismo de representar a área da
fantasia da sua vida.
Característica: Simbolismo:
Teto exageradamente grande e o resto da Imersão na fantasia e relativo retraimento do franco contacto
casa diminuída interpessoal; problemas de imaturidade afectiva; ambição maior do
que a capacidade de realização; narcisismo, caso seja combinado com
os traços da figura humana.
Ausência do teto Deforma o mundo ambiente. O sujeito está a cortar o contacto com o
mundo exterior, dado que é mais notado entre os indivíduos a quem
falta a fantasia e entre personalidades coarctadas e de orientação
concreta. Suspeita de esquizofrenia.
Teto ligeiramente afastado ou deslocado Indica dificuldades de aprendizagem.
da parede
Teto muito elaborado Compulsividade. Enfrenta um problema.
Tetos sombreados, com buracos Debilidade. Dificuldade de aprendizagem, ideias de fuga do ambiente.
Problemas somáticos.
Portas e janelas dentro do contorno do Indicam existência de uma fantasia. Comum em pacientes
teto de modo a que a casa seja toda esquizofrénicos ou esquizóides.
construída pelo teto
Teto reforçado por forte pressão do traço Sujeitos que estão a tentar defender-se de ameaças de ruptura do
ou por repetidas linhas sobrepostas controlo da fantasia. Ocorre mais frequentemente nos desenhos de
(quando isto não ocorre nas outras partes pré-psicóticos embora também apareça, mas em menor escala, nos
da casa) portadores de neuroses ansiosas. De qualquer das formas, indica uma
acentuada preocupação e temor de que aqueles impulsos
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Avaliação em Psicologia Clínica
Telha:
Paredes:
Característica: Simbolismo:
Contornos das paredes reforçados Frequentemente apresentado por psicóticos incipientes, que são
hipervigilantes e, muitas vezes, conscientes, para manter a integridade
do ego.
Contornos das paredes com um traço Denota um sentimento de iminente crise da personalidade e fraco
fraco e inadequado controlo do ego sem sequer o emprego de defesas compensatórias. Os
sujeitos que apresentam estes contornos defeituosos das paredes
estão mais conformados com a sua patologia iminente (aceitam o mal
como inevitável e desistem de lutar) do que os sujeitos que reforçam
abertamente o contorno das paredes. Em vez de tentarem livrar-se do
estado patológico, adoptam uma atitude passiva de submissão às
forças desintegradoras que o ameaçam.
Paredes transparentes Entre adultos, revela comprometimento do senso de realidade, sendo
verificadas entre deficientes de nível muito baixo; crianças psicóticas
desenham frequentemente paredes transparentes (permitindo a visão
de objectos do interior da casa), mas com isso indicam imaturidade
conceptual, usando uma ingénua liberalidade na forma de apresentar a
realidade.
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Porta:
A porta é o detalhe da casa através do qual é feito o contacto directo com o ambiente.
Característica: Simbolismo:
Porta muito pequena em comparação Reflecte uma relutância em estabelecer contacto com o ambiente, com
com as janelas e à casa no geral retraimento no intercâmbio pessoal. Timidez e receio nas relações com
os outros. A sua instabilidade emocional nas inter-relações com os
outros resulta em sofrimento e o sujeito mostra-se relutante em expor-
se novamente.
Porta bem acima da linha que representa É outra forma dos sujeitos tentarem conservar a sua personalidade. É
o chão da casa, sem que apareçam comum naqueles que procuram estabelecer contacto com os que os
degraus cercam, unicamente segundo as suas conveniências.
Porta excessivamente grande Indivíduos muito dependentes dos outros.
Porta aberta e um caminho à vista Pessoa equilibrada, ou que procura novos caminhos.
Fechaduras ou dobradiças:
Janelas:
Característica: Simbolismo:
Janelas completamente nuas, sem Indivíduos que se relacionam com os demais de forma
cortinas ou postigos ou caixilhos demasiadamente rude e directa. O uso de tato é mínimo no seu
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Avaliação em Psicologia Clínica
comportamento.
Reforço no contorno das janelas Se tal reforço não aparece em outras partes do desenho, indica, com
frequência, sujeitos com fixações orais ou traços orais de carácter.
Ocasionalmente, porém, indica tendências anais.
Janelas junto ao teto Problema somático. Cerceamento. O indivíduo não tem por onde fugir.
Dificuldade de contacto sexual (caso seja desenhado por um adulto).
Pode indicar uma situação real.
Janelas no suposto lugar, simples, Equilíbrio.
abertas, sem ênfase
Janelas com grades Indivíduo que se sente cercado. Desejo de protecção. Reacção sobre os
seus próprios impulsos.
Janelas com vidraças Isolamento, desejo de protecção contra os impulsos ou estímulos
exteriores. Pode ser uma barreira (deixa estar para ver como fica).
Cerceamento.
Janelas fechadas com trinco Autodefesa contra os estímulos exteriores. Insegurança. Situação real.
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Característica: Simbolismo:
Chaminé:
É um símbolo fálico que aparece com frequência nos desenhos dos rapazes, passando
a assumir aspectos de carácter sexual, quando apresenta certas características especiais (por
exemplo, se o rapaz desenha a casa com cortinas, flores, etc.).
Característica: Simbolismo:
Chaminé cortada obliquamente, telhado Indica os sentimentos de fraqueza do sujeito relativamente ao seu
mostrando-se através da chaminé pénis. Problrmas de delinquência sexual.
(chaminé transparente)
Chaminé a cair sobre a ponta do telhado Indícios de delinquência sexual.
Chaminé em 2D numa casa representada Revela os sentimentos de delinquência sexual, no sentido de haver
em 3D menor substância na parte fálica do que nas outras da sua imagem
corporal.
Várias chaminés na mesma casa Delinquência sexual. Mascara os sentimentos de inadequação fálica,
sob uma capa de esforço viril compensatório devido às várias chaminés.
Chaminé alongada com um tamanho Chaminé de forma fálica com a extremidade arredondada; chaminé em
exagerado que a fase é dada pela pressão do traço, pelos sombreados ou pela
colocação proeminente, como uma chaminé muito alongada que se
eleva desde o chão, constituindo a face central do desenho inteiro:
traduzem os sentimentos de inadequação fálica de delinquentes
sexuais.
Em indivíduos bem ajustados, a chaminé indica apenas um detalhe
necessário na representação da casa.
Entretanto, se o sujeito sofre de conflitos psicossexuais, a chaminé –
em vitude do seu papel estrutural e a sua saliência em relação ao corpo
da casa – é susceptível de receber a projecção dos sentimentos latentes
do sujeito, acerca do seu próprio pénis.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Fumo acentuadamente dirigido para um Reflecte sentimentos de pressão ambiental e, entre crianças, aparece
lado, como se estivesse sob efeito do frequentemente associado a dificuldades de leitura, em que há uma
vento pressão maciça por parte dos pais, quer como causa, quer como
reacção. Adolescentes que experimentam pressão individa por parte
dos pais (o que dificulta a sua adaptação social), utilizam esta forma de
representar o fumo. Surge também em sujeitos logo após entrarem no
serviço militar.
Perspectiva da casa:
Característica: Simbolismo:
Casa desenhada como se fosse vista de Pessoas que, basicamente, rejeitaram a situação doméstica e os valores
cima esposados. Exibem, compensatoriamente, sentimentos de
superioridade, com uma revolta contra os valores tradicionais,
ensinados no lar. Atitudes iconoclastas acompanham-se de
sentimentos de estar acima das exigências de convenção e
confrontação.
Casa desenhada como se fosse vista de Sujeitos que se sentem rejeitados e inferiores na situação doméstica.
baixo Sentimentos de desvalia misturam-se à auto-estima e, ainda,
sentimentos de inadequação à realidade do lar.
Casa vista de longe, como se estivesse Dois tipos de sujeitos:
distante do observador → Aqueles que projectam um auto-retrato no desenho da casa,
revelando os seus sentimentos de retraimento e inacessibilidade;
→ Aqueles que revelam a sua percepção da situação doméstica, mas
que se sentem incapazes de enfrentá-la. Neste caso, revelam que
consideram as boas relações com os de casa como uma coisa
inatingível.
Casa do tipo “perfil absoluto” “Perfil absoluto” significa que a casa foi desenhada apenas pelo lado
apresentado pelo sujeito. A frente da casa, incluindo a porta, ou outra
entrada, não é vista, o que implica ser menos acessível. Indica sujeitos
retraídos, em oposição, ou inacessíveis aos contactos interpessoais. Os
paranóides evasivos também são propensos a procurar um refúgio
neste tipo de desenho.
Casa desenhada por trás Se não há indicação da porta dos fundos, reflecte as mesmas
tendências ao retraimento e à oposição que a de “perfil absoluto”, mas
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Avaliação em Psicologia Clínica
A relação entre a casa, a árvore e a pessoa desenhada e a linha do solo, reflecte o grau
de contacto do sujeito com a realidade.
Um desenho que paira, todo ele, acima da linha que representa o solo, indica um
maior grau de patologia esquizofrénica e um maior grau de afastamento da realidade, com
absorção pela fantasia.
Acessórios:
Característica: Simbolismo:
Casa com árvores, vegetais e outros Falta de segurança, daí a necessidade de cercar e de proteger a sua
detalhes casa.
Muito jardim Expressão sexual feminina, desejo e repressão.
Casa desenhada com árvores, folhagem Pode ser simbolismo sexual ou desejo de realização sexual. Situação
real.
Casa com escadas Aspecto típico do gago.
Florzinhas, patinhos Imaturidade afectiva. Pode ainda ser ambição, desejo de conquistar
algo.
Caminho bem feito que conduz à porta Controlo e tato no seu contacto com os outros.
Caminho longo e sinuoso Ocorre entre aqueles que, inicialmente, se retraem, mas
eventualmente tornam-se cordiais e estabelecem uma relação
emocional com os outros. Demoram algum tempo e mostram-se
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Avaliação em Psicologia Clínica
Caminhos bifurcados Podem indicar indecisão, imaturidade afectiva. Situação real (como por
exemplo, a escolha de um emprego traz indecisão).
Casa com porta aberta e caminho à vista Pessoa equilibrada, que procura novos caminhos.
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Avaliação em Psicologia Clínica
No desenho da árvore, tem sido observado que o sujeito selecciona, na sua memória,
de entre um número incontável das árvores que já viu, aquela com a qual tem a maior
identificação empática e, ao desenhar, modifica e cria essa árvore, novamente, segundo a
reacção cinestésica determinada pelos próprios sentimentos íntimos.
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Avaliação em Psicologia Clínica
mais baixa for a cicatriz, proventura desenhada no tronco da Árvore, mais cedo teve lugar a
experiência traumática.
Exemplo: Hammer encontrou um menino de 12 anos que desenhou uma ferida bem
acentuada, aproximadamente a meio do tronco da árvore. O tratamento psicoterapêutico
consequente revelou que a morte da sua mãe, quando ele tinha 5 anos fora,
inconscientemente, sentida como um abandono e o ferira profundamente.
Tronco:
Característica: Simbolismo:
Tronco com linhas tremidas, torto com Desenvolvimento físico e psíquico com traumatismos.
nós
Tronco solto no espaço, sem raiz, sem Falta de apoio. Desorientação. Sem firmeza. Flutuante. Insegurança.
base, longe da linha da terra
Tronco curto Pressão externa. Falta de expressão do eu.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Tronco alargado para a direita Timidez perante a autoridade. Desconfiado. Zelo. Por vezes, orgulho e
obstinação.
Tronco alargado para a esquerda Atraso. Inibição. Preso ao passado. Viscosidade. Dependência materna.
Tronco de base alargada que vai afinando Imaturidade. Carácter primitivo. Vitalidade. Indiferenciação.
até terminar em bico, ou que não chega a Predomínio da vida instintiva. Sujeito mais prático do que teórico.
acabar em bico
Tronco de cor escura Em adultos, significa imaturidade, labilidade do humor, passividade,
sem energia, quietude.
Tronco em cone Senso prático. Carácter grotesco. Simplório.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Tronco grosso e curto com copa grande Ambição, em todos os aspectos. Problemas somáticos.
Tronco com curva para a direita Desejo de expansão. Oposição a alguém, por despeito.
Reforço das linhas de contorno Reflecte a necessidade sentida pelo sujeito de manter a personalidade
intacta. Emprega defesas compensatórias para encobrir e combater o
temor da difusão e desintegração da personalidade.
Contorno muito leve, ou com falhas Se isto não acontece nas outras partes: revela, em grau adiantado,
sentimentos de iminente colapso da personalidade, ou perda de
identidade pessoal – estágio no qual não há esperança de que as
defesas compensatórias impeçam a desintegração iminente. Revelam
irritabilidade, explisividade, nervosismo e impaciência.
Contornos irregulares à esquerda Vulnerabilidade. Conflitos e dificuldades. Inibição. Adaptação difícil.
Contornos irregulares à direita Traumas psíquicos. Carácter difícil. Interesses por coisas más.
Contornos ondulados em ambos os lados Vitalidade. Capacidade de adaptação. Sujeito que vence as dificuldades.
Superfície do Tronco:
Característica: Simbolismo:
Traço pontiagudo, anguloso, quadrado, Indica susceptibilidade, vulnerabilidade, mordaz, grotesco. “Não tem
reto, serrilhado papas na língua”, obstinado, pungente, observador, sensível, violento,
cólera, crítico, remusgão.
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Traço curvo, arredondado, arqueado Facilidade e necessidade de fazer amizades; capacidade de adaptação;
simpatia.
Superfície com sombra à esquerda Levemente sonhador; leve tendência à introversão; susceptibilidade e
vulnerabilidade moderadas; inibição; desgosto em expressar-se; se é
gordo: falta de mobilidade, rigidez, falta de agilidade, presunção.
Superfície com sombra à direita Capacidade para fazer amizades, disposto a adaptar-se.
Uma superfície áspera dá lugar a mais atritos que uma lisa, sobre a qual tudo desliza. A
relação é mútua: o áspero é mais fácil de fazer, porém adere melhor que o liso. A irritabilidade
inerente à pessoa grotesca pressupõe uma impressionabilidade aumentada e, por outro lado,
uma capacidade de observação bastante aguçada e crítica, que descobre, rapidamente, os
pontos vulneráveis que dão lugar às divergências.
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A árvore normal:
Koch conseguiu obter dados estatísticos básicos para a construção da árvore normal.
Como resultado, organizou o seguinte quadro:
Raiz:
Característica: Simbolismo:
Raiz de traço duplo Domínio dos impulsos. Maturidade. Frequente entre pessoas normais.
Raiz com um só traço Pessoa primitiva, cujos impulsos não são fiscalizados pelo consciente.
Pouca independência enraizada à família.
Raiz sombreada e com transparência, Dificuldades em enfrentar o meio.
negrito, traços
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Raiz e linha da terra acima do nível da raiz Pessoas neuróticas ou incapacidade intelectual.
Raiz a sair da base do papel É normal até aos 10 anos. No adulto está ligada à dificuldade de
aprendizagem, ou ao carácter dependente. Insegurança. Sentimento de
inadequação. Prende-se à base do papel como segurança
compensatória. Indivíduos deprimidos também podem escolher a base
inferior do papel para apoiar o seu desenho.
Sem raiz Pessoa auto-suficiente. Não precisa de apoio.
Ênfase no desenho da raiz Pode indicar indevida preocupação com a submissão à realidade. Já
foram encontradas raízes em forma de garra, como se agarrassem o
solo fortemente, em pacientes que, seguidamente, entraram em crises
e foram internados – o desenho reflectia o apego hipervigilante à
realidade e ao medo de perder o contacto com a mesma.
Raiz vista através do solo transparente Falha na capacidade do sujeito de perceber a realidade. Se o sujeito
tem inteligência média, ou acima da média, em adultos ou
adolescentes, esta percepção defeituosa da realidade deve servir para
alertar o clínico sobre a possibilidade de uma esquizofrenia.
Raiz de tamanho desproporcionado Sinal de neurose.
Copa:
Característica: Simbolismo:
Copa esférica (uma circunferência ou uma Aparece mais frequentemente nos desenhos de rapazes. Aparece mais
elipse fechada) aos 7 anos, diminui dos 9 aos 13 e aumenta depois até alcançar a
frequência inicial. A parcentagem dos débeis mentais difere pouco das
dos normais (apenas não oscila nem diminui tanto na puberdade, já
que não sofre tantas alterações de desenvolvimento).
As copas consideradas como esféricas nunca podem estar vazias: ramos
e folhas podem ficar penduradas ou, nos desenhos dos mais novos, as
frutas. Este tipo de copa pode indicar: tendência ao fantástico,
convencionalismo, falta de sentido construtivo, inclinações a aspirações
não diferenciadas, presunção, falta de energia, puerilidade,
ingenuidade, medo da vida real, falta de autenticidade, tipos emotivos,
tipo acomodado, impressionabilidade, falta de concentração (se a
forma é concentrada, tensa).
Copa envolvida por uma membrana Algumas copas não podem ser consideradas como genuinamente
esféricas, nem como verdadeiras copas com ramos. A ramagem está
coberta por uma membrana. Parece que deseja mais encobrir e fechar
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Avaliação em Psicologia Clínica
do que unificar, já que o interior da copa parece bem mais fraco. Indica
retraimento, opacidade, timidez, não se encotra a si mesmo, e por
vezes falta de sinceridade.
Arcadas na copa Bons modos, amabilidade.
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Copa justaposta ao tronco sem Falta de desenvolvimento normal do tronco até à copa; há uma
continuidade interrupção – um traço entre a copa e o tronco. As energias não fluem
normalmente do tronco para os ramos. Indica discordância entre a
capacidade de acção, entre querer e fazer; esquematismo, falta de
lógica, visão curta e infantil, inadaptabilidade. É normal em crianças
pequenas: depois dos 7/8 anos pode revelar neurose infantil, ou atraso
mental.
Copa com linhas curvas Doçura, imaginação, compreensão afectiva.
Copa em forma de raios ou varas É a forma oposta à anterior: os ramos estendem-se, rígidos, em todas
as direcções. Agressão, atrevimento; exigência, teimosia. Multiplicação
de interesses, agitação. Superficialidade, distracção.
Copa feita com linha em serra, com Nervosismo, irritabilidade. A maior acentuação do ângulo dará o
dentes significado respectivo.
Copa feita por um conjunto mais ou Actividade, agitação, ânsia de viver. Capricho, espontaneidade.
menos discordante de linhas Inconsequência, improvisação, ambivalência, desorientação.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Copa com linhas simples Normal na infância e, depois, pelo menos, débil e/ou falta de
maturidade intelectual ou afectiva (neurose).
Copa com estratos ou árvore de É a árvore à qual o jardineiro dá a forma que quiser. Pressupõe um grau
espaldeira muito insignificante de personalidade e originalidade, porque resultou
do amestramento. Indica domesticação, correcção forçada, tendência à
sistematização e à técnica, rigidez de personalidade. Sem
autenticidade, mecanização, disciplina, tradicionalismo, vontade de
auto-educação, superficialidade; aluno modelo e cidadão modelo, sem
originalidade.
Copas cortadas Desenvolvimento detido, impedido; inibição, sentimento de
inferioridade, teimosia, resistência; timidez.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Copa centrípeta Ramos e arcos enfreixam o centro, como cascas de cebola. Indica
autocentralização, narcisismo, auto-suficiência, pouca extroversão.
Concentração, reduzida comunicabilidade e sociabilidade.
Eventualmente: harmonia, plenitude interior, firmeza, decisão.
Copa centrífuga Ramos orientados do centro para fora. Implica um significado duplo:
agressivo e receptivo. Isto vale especialmente para a copa radial, ramos
em raio. Quando o ramo não é duplo, a agressividade não é intensa.
Indica agressão, actividade, iniciativa, extroversão. Às vezes, fadiga e
confusão íntima de forças.
Copa pendurada aos lados do tronco Cansaço, depressão, falta de energia, passividade, indecisão, apatia.
Parte da copa omitida Seja porque os ramos estão cortados, seja porque parece que foi tirado
um pedaço da copa formando espaços vazios. A sensação de falta de
alguma coisa vai indicar sentimento de inferioridade, como também
sentimentos de que está a esconder algo. Os espaços vazios também
podem aparecer em árvores ramosas sob a forma de manchas brancas
no sombreado da copa.
Copa a apresentar um conjunto Calma interior, equilíbrio, repouso, pose, artificialidade.
equilibrado, sem tender para algum dos
lados
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Avaliação em Psicologia Clínica
Copa com galhos que continuam grossos Debilidade, inibição, contradição, violência. Primitividade, rendimento,
até à extremidade quantitativo, imposição.
Copa com galhos muito curvos Reserva, artificialismo, domesticação, inibição de afectos, obsessão
neurótica, detenção, angústia, inadaptação.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Copa com ramos ascendentes (e às vezes Entusiasmo, actividade, fanatismo, fantasia, imaginação criadora com
como se fossem línguas de fogo) execussão de outrem.
Copa com ramos descendentes Cansaço, frustração, depressão, falta de energia, passividade,
indecisão, inibição, tendência a expandir-se com agressividade.
Copa com ramos descendentes do lado Exteriorização de um maior entusiasmo do que aquele que é vivido
esquerdo e ascendentes do lado direito interiormente; esforço de superação do abatimento, depressão ou
fadiga.
Linhas que separam a copa do tronco Indica dificuldade; quase sempre neurose.
Flores:
Característica: Simbolismo:
Copa só contornada, sem recheio Vazio da alma, porque o espaço da copa é o campo de expressão do
indivíduo.
Galhos ou ramos:
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contudo, no desenho da árvore, mostrará através dos ramos cortados e partidos que,
basicamente, ele não sente nenhuma esperança real de sucesso.
Característica: Simbolismo:
Extremidades dos ramos envolvidos por Atenua as suas intenções, não expressando agressividade. Timidez
ramagens semelhantes a chumaços de perante a realidade. Agradável nas relações. Cheio de atenções. Por
algodão vezes, impenetrável. Diplomata, discreto.
Arranjo dos ramos a) Com harmonia: serenidade, gosto, calmo, apoiado, em si,
insensibilidade, ausência de tensões.
b) Desarmonia: excitabilidade, inquietude, impressionabilidade,
extrovertido.
c) Coordenação sem significado: ‘vagabundagem’, irreflexão,
errante, insaciável, ‘laissez-faire’.
d) Formas repetidas sucessivamente: estereotipia, entre crianças:
sem expressão de sentimentos, pobreza na mesma. Esta
estereotipia significa perturbação na evolução do indivíduo e
da não regularidade obtida pela disciplina. Coleccionadores.
Maturidade inigual. Usadas como brincadeira, distracção. Falta
de sentido de realidade. Repressao, atraso. Esquematismo.
Pouca capacidade de adaptação.
Galhos muito longos, sem direcção certa Tendência para fugir ao que é estabelecido, a sonhar. Indisciplina.
(de forma curva para preencher o espaço Regressão, medo, excitação. Atraso.
vazio)
Galhos que formam ângulos entre si Imaturidade, primitividade, esquematismo.
345
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Galhos com traços simples e não duplos Imaturidade. Aparece muito entre imbecis e pessoas idosas.
Sentimento de impotência e de ausência do Ego. Desenvolvimento
afectivo inferior. Frequente entre as crianças.
Preenchimento do espaço da copa com Imaturidade e regressão. Atraso (parte da personalidade não se
galhos, frutos ao acaso (enchendo o desenvolveu, não é um problema inato).
espaço ao longo do tronco, chegando ao
solo e galhos abaixo e isolados)
Galhos abertos com traços em sentidos Ambivalência afectiva e volitiva.
opostos, galhos opostos, galhos cruzados
(da esquerda para a direita
principalmente)
Galhos muito longos, arqueados e Descuido, falta de controlo, redução da capacidade intelectual.
sinuosos Reserva, tímido de afectos. Neurose compulsiva. Convulsão, medo.
Ramos finos nas pontas Elevada sensibilidade. Impressionabilidade. Elevada reactividade.
Crítica. Agressividade. Reservado. Impenetrável.
Galhos secos, pontudos Agressividade, sadismo.
Galhos a expandirem-se (tipo serpentes) e Decréscimo da eficiência intelectual. Dispersão. Preocupação com o
copa em forma de bandeira esvoaçante, menos importante. Tendência à fantasia. Falta de adaptabilidade. Falta
ou tubo de fumo de discernimento. Incapacidade para agir. Perturba-se com facilidade.
Galhos altos e finos (muito projectados Indivíduos receosos de procurar satisfação no ambiente e que,
para cima e pouquíssimo para os lados) consequentemente, compensam isso na fantasia (elevando-se para o
topo da página) como gratificação substantiva. São desenhos mais
comuns entre indivíduos que se situam na faixa introversão-
esquizóidia.
Galhos que se estendem tanto na lateral, Equilíbrio nos esforços da procura da auto-satisfação.
para o ambiente exterior; real, bem como
para cima, para a área da fantasia
Galhos para o alto, a ponto de fazer o Exemplo extremo de um sujeito que se excede ao fantasiar. Enquanto
topo da árvore ultrapassar o limite os introvertidos e os esquizóides tendem a exagerar na direcção dos
superior da página galhos para o alto, somente os que se aproximam do extremo do
processo esquizóide, estendem os ramos para além dos limites da
página.
346
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Flexibilidade na estrutura dos galhos: Sinal favorável. Denota sentimentos de alta capacidade por parte dos
primeiro mais grossos e mais próximos, sujeitos em obter satisfação no seu ambiente (contando, naturalmente,
depois mais finos e afastados que esta estrutura seja do tamanho adequado em relação ao tronco).
Ramos semelhantes a bastões, ou a Presença de impulsos íntimos de hostilidade e de agressão. Se o quadro
lanças pontiagudas, ou que apresentam comportamental indica que o indivíduo não está a exteriorizar esses
espécies de ganchos como o dos anzóis, impulsos, e pelo contrário, parece calmo, podemos estar seguros de
ao longo de uma superfície que este ajustamento superficial é obtido devido aos esforços de
repressão, com simultâneas tensões interiores de consideráveis
proporções. Nestes casos, será interessante investigar, nos desenhos,
indicações de falta de controlo, para avaliar a possibilidade de
incipiente e catastrófica descarga destes impulsos. Se os sinais de
controlo são demasiadamente enfatizados podem, por si só, ser
considerados como sendo indicadores de iminente extravasão dos
impulsos, em comportamentos abertos, já que o potencial defensivo do
indivíduo pode estar a prestes a esgotar-se.
Galhos de 2D, abertos nas extremidades Sentimento de pouco controlo sobre a expressão dos próprios
impulsos.
Tronco da árvore incompleto e dele O núcleo da personalidade está lesada. Tem sido encontrado em
saindo galhos pequenos crianças, reflectindo o crescimento emocional bloqueado, mas com
ensaios hesitantes e débeis de esforços por retomar o crescimento,
estimulado pela terapia.
Galhos que se viram para dentro (para a Egocentrismo e fortes tendências introversivas, ruminadores.
própria árvore, em vez de se virarem para Encontrado em obsessivos compulsivos.
fora, para o exterior)
Escultura superdesenvolvida dos galhos, Demasiada ênfase dada à busca do prazer; dúvida acerca dos seus
num tronco atrofiado sentimentos essenciais de valor e importância.
Galhos pequenos, copa atrofiada sob um Frustração devido à inabilidade de satisfazer as necessidades básicas.
tronco muito grande
Galhos dirigindo-se para o sol, como um Ocorre em desenhos de crianças com acentuadas e frustadas
apelo necessidades de afecto. A árvore estende os braços ansiosos em busca
do calor de uma figura representativa de autoridade (neste caso,
expressa pelo sol), da qual o indivíduo está carente.
Galhos e copa inclinada sob um sol Criança ou sujeito intimidado pelo domínio de uma figura parental, ou
grande e baixo, pesando sobre a árvore outra que exerça autoridade e o faça sentir-se dolorosamente
controlado, subjugado e perturbado.
Galhos secundários, desenhados como se Os galhos mais pequenos parecem estar enterrados nos galhos
estivessem encravados no corpo dos maiores, que deles provêm – tendência masoquista.
347
Avaliação em Psicologia Clínica
ramos primários – a sua extremidade Hammer narra o caso de uma senhora que reclamava do número de
mais fina é a que está em contacto com o vezes que chamara o bombeiro para arranjar o esgoto da sua cozinha
tronco da árvore ou com o ramo que dele “se eu tiver de chamar mais uma vez... (e o autor esperava que a frase
deriva (em vez de ser a extremidade terminasse com alguma expressão de raiva) vou bater com o rolo na
externa) cabeça do bombeiro...”, “eu vou arrancar os cabelos dele”.
A direcção intrapunitiva da sua descarga agressiva foi coerente com a
orientação masoquista revelada no desenho dos galhos com aspecto de
estarem encravados nos próprios ramos ou tronco.
Folhas:
Característica: Simbolismo:
Folhas na copa ou nos ramos As folhas são o traje da primavera: vivacidade, preocupação com a
aparência, levidade, primitivismo, ostentação, ingenuidade. Dotes
decorativos.
Folhas que caem Afrouxamento, sensibilidade, distracção, esquecimento, alheamento.
Folhas ao longo dos galhos O mesmo que o 1º item mais: tendência à ordem e à sistematização. A
máscara, quando é muito acentuada, cai na estereotipia.
Frutos:
Indicam o desejo da maturação, de compreender os problemas da vida. Entre crianças até aos
9/10 anos é normal o desenho com frutos muito grandes na copa.
Característica: Simbolismo:
Outros acessórios:
Característica: Simbolismo:
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Enfeites, adornos Indivíduo com bom humor. Crítica no sentido mais leve. Pessoas
irreverentes. Enfrentam os problemas a brincar.
Paisagem mais evidente do que a própria Desejo de fuga.
árvore
Árvore com cerca à volta Insegurança.
Serpente a envolver a árvore Protecção contra tendências sexuais. Indício de perigo e atitude
defensiva perante a regressão da líbido.
Sol Símbolo paterno, masculinidade, sentimento libidinal.
Árvore dentro de um vaso/pote São encontrados entre crianças com distúrbios sexuais. O traço peludo
também pode indicar problemas sexuais, sensualidade.
Característica: Simbolismo:
Árvore encurvada, voltando à terra, tendo Indício de regressão. Preso ao passado. Inversão dos instintos. Pressão
sido atingida pelo vento, desenhada do ambiente. Coacção. Falta de apoio. Vencido pelas vicissitudes.
muito baixa no papel Impelido pelas circunstâncias.
Árvore inclinada para a direita Impulsividade. Encantamento. Dedicação. Influenciável, não resiste à
tentação. Disposto ao sacrifício, boa vontade, desapego ao passado,
renovador.
Árvore inclinada para a esquerda Necessidade de protecção. Cuidadoso. Má vontade. Adaptação.
Sensação de pressão. Ligação ao passado. Teimosia. Comodismo.
Retraído.
Folhas, frutos, galhos, flores caídas ou a Falta de atenção, sacrifício. Sensibilidade, sentimentos finos.
cair Mimosidade. Leve separação entre sentimentos e pensamentos. Falta
de firmeza. Impulso de dar, franqueza. Rapidez, esquecimento.
Árvore erecta na vertical Sentimentos próprios, maturidade. Inteligência. Espiritualidade.
Imaginário. Presunçoso, digno, erguido. Ambivalente. Pose.
Superestimação de si mesmo.
Claro-escuro, escurecimento de todo o Depressão. Regressão. Ansiedade. Humor vacilante. Passividade.
desenho com espaços claros, sombreado Desorientação. Influenciabilidade. Incerteza. Indecisão. Sem energia.
em torno da árvore Por vezes, indício de imaturidade.
Árvore grande Tendência à expansão.
349
Avaliação em Psicologia Clínica
Árvore do tipo “buraco de fechadura” A representação do tronco e folhagem, como por uma linha contínua,
sem divisão entre a copa e o tronco. Realmente, apresenta-se um
espaço em branco, fechado e vazio que, como as respostas de espaço
no RCH, é comum nos indivíduos que estão sempre em oposição e que
são negativas.
Árvore “rachada” As linhas laterais que formam o tronco não apresentam quaiquer traços
que as liguem uma à outra; elas estendem-se para cima, cada uma com
os seus galhos, formando uma estrutura independente. Dá a ideia de
que é uma árvore partida em duas árvores unidimensionais, lado a
lado. Isto sugere uma divisão da personalidade, uma dissociação dos
componentes primordiais da personalidade, uma reestrutura de
defesas e o perigo dos impulsos interiores atravessem para o exterior.
Este é um indício indicativo de esquizofrenia.
Desenho de “chorões” Geralmente encontrado entre indivíduos deprimidos.
350
Avaliação em Psicologia Clínica
Isto foi confirmado através dos estudos de Hammer com imaturos sexuais, que estão
fixados ou que regrediram para um nível infantil – nível em que as exigências sexuais se
expressam pelas acções de ver, tocar e manipular, simultaneamente.
Por outro lado, estes dados paralelos tendem a retificar a observação de que as
pessoas mais doentes psicologicamente, vêm as suas árvores como estando mortas e, por
outro lado, tendem a descrever os pedófilos homossexuais, que se desviam da norma, tanto
em relação à idade quanto ao sexo do parceiro escolhido, como o subgrupo mais doente dos
delinquentes sexuais estudados. Uma distância crescente do objecto sexual apropriado
acompanha um aumento da probabilidade de séria psicopatologia.
351
Avaliação em Psicologia Clínica
Em geral, Hammer encontrou patologia e culpa muito mais intensas naqueles que
percebem a árvore como tendo apodrecido por si mesma do que naqueles que perceberam a
árvore como morta devido a motivos externos – o prognóstico é melhor quando o dano é
atribuído a agentes externos.
A seguir, é preciso considerar outros itens do desenho como a cabeça, que se associa
com aspectos intelectuais e “frequentemente reflecte a necessidade de controlo racional dos
352
Avaliação em Psicologia Clínica
Sob outros pontos de vista, o desenho da pessoa, no HTP (House, Tree, Person), pode
ainda ser examinado conforme as considerações sobre o desenho da figura humana. (Ver
“Normas de Interpretação de Aspectos Gerais do Desenho da Figura Humana” e “Normas
para a Interpretação específica de cada parte da Figura Humana Desenhada”)
Indicadores de Diagnóstico:
Traços psicóticos:
Em pacientes com funcionamento de nível psicótico, são frequentes as produções
bizarras, com distorções importantes, que resultam no aparecimento de figuras ilógicas e
irrealísticas.
353
Avaliação em Psicologia Clínica
a) Ausência de partes essenciais (olhos, mãos, braços, tórax, cabeça, etc.) sugerindo a falta de
percepção do corpo como totalidade ou “incapacidade para lidar com os problemas da
vida”;
b) Representação ilógica, com transparências, observando-se órgãos internos, através do
vestuário;
c) Ambivalência no perfil, com corpo e cabeça em direcções opostas;
d) Omissão da roupa ou ênfase nos órgãos sexuais, como desconsideração de normas sociais
ou, ainda, sugerindo aspectos agressivos;
354
Avaliação em Psicologia Clínica
Disfunção cerebral:
Em casos com problemas de disfunção cerebral, foram observadas muitas rasuras,
sendo que o desempenho piora a cada nova tentativa de representar o conceito, com queixas
dos pacientes de não se sentirem capazes de realizar a tarefa.
As figuras são simples, concretas. A qualidade da linha é comprometida, e o desenho é
feito com linhas quebradas, esboçadas, irregulares. As dificuldades de simetria sugerem falta
de equilíbrio. Por outro lado, a fadiga leva à pioria do desempenho nos últimos desenhos,
principalmente quando é usada a fase cromática.
Em todos os desenhos há problemas de organização, em especial considerando as
relações das partes com o todo. No desenho da casa essas dificuldades aparecem mais
precocemente.
355
Avaliação em Psicologia Clínica
Exemplo das produções de uma mulher de 41 anos, com uma crise depressiva após ter
perdido recentemente um filho de 16 anos com leucemia:
Traços hipomaníacos:
a) Casa desenhada em perspectiva, com tamanho grande; ênfase nas portas e presença
de flores;
b) Árvore com grande dimensão, em expansão, ultrapassando os limites da folha; copa
esférica; ramos para fora e para o alto;
c) Figura humana de tamanho grande, com os braços para fora e para o alto; fisionomia
com expressão de triunfo; impressão de imaturidade, de infantilidade.
Exemplo das produções de uma mulher de 43 anos que perdeu o marido à 6 meses
devido a um enfisema pulmonar. Após enviuvar, passou a gastar excessivamente, a participar
em jogos de azar, com apostas altas, e a discutir com as pessoas, com agressividade verbal
desproporcional à situação:
356
Avaliação em Psicologia Clínica
São desenhos não temáticos. Este apoia-se nas concepções dinâmicas da psicologia e
nomeadamente nos conceitos psicanalíticos, em particular na noção de símbolo e na
teorização dos mecanismos de defesa.
Melanie Klein considerava o brincar (no qual incluía o desenho) como um modo de
fazer associação livre, equivalente à produção verbal do adulto e substituta desta na
psicanálise da criança. Em qualquer dos modos de fazer associação livre, Klein constatou que a
tradução de fantasia, desejos e experiências, utilizava a mesma linguagem e o mesmo modo
de expressão que são comuns também no sonho. O que quer dizer que o conteúdo manifesto,
neste caso o desenho, é o resultado final de um trabalho (processo secundário) levado a cabo
por existência da actividade fantasmática inconsciente (processo primário) e simboliza o
conteúdo latente.
357
Avaliação em Psicologia Clínica
investimentos libidinais feitos nas diferentes partes do corpo. Uma vez que é com o
nosso corpo que apreendemos o mundo exterior, a relação da criança com o próprio
corpo exprime também as suas relações libidinais com os objectos do mundo exterior.
A imagem do corpo é, assim, o reflexo de tudo o que o sujeito viveu com as pessoas
das suas relações, não somente naquilo que sentiu, mas também naquilo que
simbolicamente intuiu. É toda a globalidade e não apenas as coisas parciais,
sentimentos fugazes ou estados afectivos temporários, que seriam objecto de
projecção.
o Os modos de projecção: a imagem do corpo pode projectar-se em todas as
representações quaisquer que sejam, - um objecto, um vegetal, um animal – e não
apenas nas representações humanas. Estas, aliás, seriam particularmente apropriadas
para a projecção da imagem do corpo pós-edipiana (“Somente após o Édipo, a imagem
do corpo é projectável na representação humana completa” Dolto). A projecção global
da imagem do corpo verificar-se-ia também nos desenhos não figurativos.
O estudo das defesas no desenho, adquire sentido quando este é encarado dentro de
uma teoria kleiniana, na qual a formação de símbolos constitui, ela própria, uma estratégia
defensiva e em que a análise dos processos de simbolização é, simultaneamente, uma análise
das defesas.
358
Avaliação em Psicologia Clínica
de certos limites, para o que o sujeito tenderá a perceber só o que é bom no objecto, evitando
assim tomar conhecimento dos seus sentimentos agressivos, e a valorizar exclusivamente o
amor por ele, traduzindo-se, eventualmente, tal facto, na adopção de condutas externas de
reconhecimento, trato delicado, amabilidade generalizada, etc. Esta necessidade interna
obrigará a uma perda da espontaneidade e da liberdade de sentir. Sentir livremente exporia o
sujeito ao “perigo” de sentir raiva.
Este tipo de conduta resultante de tais fantasias, podem ser conceptualizadas como
“formação reactiva”.
1. Fantasia sobre o estado do ego: ego forte ou fraco; clivado ou íntegro; grau de
construtividade, de bondade ou maldade.
2. Fantasias complementares sobre o estado do objecto: danificado, fracturado, inteiro,
frágil; do seu grau de maldade ou de bondade.
3. Fantasias referentes ao vínculo possível: atitude de bondade ou persecutória do
objecto para com o ego.
4. Fantasias referentes ao tipo de resposta temida: e relativas ao modo de controlar,
neutralizar, regular e preservar o ego do objecto para evitar o reaparecimento do
vínculo temido.
359
Avaliação em Psicologia Clínica
A) IDENTIFICAÇÃO PROJECTIVA:
O objecto para o qual se faz a projecção pode ser um objecto interno, que é, então,
marcado pelas características que o ego, por projecção, lhe atribui (neste caso, falamos de
identificação projectiva no objecto interno). Se a identificação projectiva se faz num objecto
externo, o ego amplia o seu âmbito geográfico, pois uma parte sua passa a fazer parte do
objecto externo na fantasia. Como consequência, tanto pode acontecer que o objecto seja
percebido com as características da parte projectada do ego, como pode o ego identificar-se
com o objecto.
360
Avaliação em Psicologia Clínica
Finalidade: para se livrar dos aspectos maus do objecto interno; para resguardar os
aspectos bons; para reparar o objecto, etc.
Função dominante do mecanismo: na medida em que implica pôr para fora aspectos do
ego, corresponde a uma função anal expulsiva ainda quando a finalidade é
incorporativa. (“Embora possa haver formas orais de rejeição, como o cuspir e o expelir,
os impulsos orais são sempre de tipo receptivo, incorporativos. Portanto, tudo o que se
deseja dissociar, projectar e pôr para fora dos limites do ego, corresponde a uma função
anal-expulsiva”).
Quando o depósito de um aspecto próprio num objecto externo se dá num contexto
oral incorporativo, a sua finalidade é incorporar o objecto externo ao próprio ego (na
medida em que apaga a diferença (ego-objecto). A finalidade é incorporativa, mas o
mecanismo (depositar) é anal-expulsivo.
Modalidades da identificação projectiva: os conteúdos das identificações projectivas
(orais, uretrais, genitais) conferem, às relações objectais, modalidades específicas. Os
conteúdos que são evacuados através de uma função anal-expulsiva, podem
corresponder a diferentes níveis da evolução libidinal: fantasias incorporativas, anal-
sádicas, fálicas, genitais: pode-se projectar um seio que devore ou que morda, que
envenene, etc. A predominância de qualquer uma destas fantasias contidas na
identificação projectiva, condicionará as modalidades (esquizóides, melancólicas,
fóbicas, etc) dos vínculos com os objectos. Por exemplo: através da identificação
projectiva, o ego projecta-se no objecto para comer, chupar, devorar, no nível oral;
queimar com urina no uretral; destruir com excrementos ou gases no anal, etc.
Finalidade da identificação projectiva: a finalidade para a qual o mecanismo é utilizado
varia na identificação projectiva normal e patológica e de um indivíduo para outro
dentro do mesmo grau de patologia.
361
Avaliação em Psicologia Clínica
Finalidades:
a) Livrar-se de partes do self, indesejáveis, por causar ansiedade ou dor, expulsando,
com isso, a tensão gerada;
b) Livrar-se de partes más e proteger com isso o bom objecto interno da
contaminação das partes más;
c) Depositar o self ou partes do self no objecto, para manter o controlo e conseguir a
união com ele e, assim, evitar o sentimento de separação pela fantasia de se
“meter” dentro do objecto;
d) Manter a salvo uma parte boa por descrença nas próprias capacidades para
preservá-la;
e) Ser uma forma de reparação primária do objecto;
f) Manter-se dentro do objecto para roubá-lo, feri-lo ou destruí-lo;
g) Colocar partes do self nos objectos com o fim de os conhecer, identificar-se com
eles (base da empatia), e comunicar.
362
Avaliação em Psicologia Clínica
363
Avaliação em Psicologia Clínica
Nos desenhos:
364
Avaliação em Psicologia Clínica
Nestes desenhos vêem-se objectos sem conexão entre si; objectos sujos ou fragmentados;
objectos isolados; objectos vazios de conteúdo.
365
Avaliação em Psicologia Clínica
4) Não há boa delimitação entre o que é interno e o que é externo. Os limites do desenho
são:
- vagos, de traços com zonas abertas (expressão de indiferenciação):
366
Avaliação em Psicologia Clínica
367
Avaliação em Psicologia Clínica
Análise do desenho de uma menina de 7 anos: podemos ver, de um ponto de vista formal,
que parece não haver uma intenção de comunicar uma vez que os objectos não têm
relação entre si: são objectos internos sem vínculo entre si e são expulsos com a finalidade
de livrar-se deles. Também não existe organização gestáltica, pois não está integrado por
uma ideia directriz. Formado por diferentes categorias de objectos sem relação visível
entre si. Acontece, por vezes, que a falta de sentido de uma produção gráfica é lacuna
preenchida pela verbalização. Neste caso, e apesar de dar nomes a alguns objectos, a
dificuldade em contar uma história ou de associar ideias a partir dos objectos nomeados,
manifestam dificuldade de simbolização associada ao processo de identificação projectiva
maciça.
368
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B) MECANISMOS ESQUIZÓIDES:
I – A clivagem
369
Avaliação em Psicologia Clínica
Interessa verificar:
370
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Neste desenho, o super-homem vai tirar alguém injustamente preso numa cadeia de
estilo caixa forte, a avaliar pelas grades e portas reforçadas.
O desenho mostrará:
371
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Neste desenho, uma figura agressiva e má com “venenos” dentro das bolsas, contrasta
com a cândida figura da “menina a tratar das flores”:
Ou neste desenho, em que a figura protectora tenta esconder o bom objecto da parte
destrutiva. Aliás, sem sucesso absoluto visto que o objecto é ainda beliscado por um ténue
raio:
372
Avaliação em Psicologia Clínica
Quando a clivagem faz parte da defesa maníaca, costuma manter o mesmo grau de
rigidez ou de distância, mas os pares de objectos dissociados variam.
373
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o Tratamento evidente de certas zonas corporais numa mesma figura (maior ênfase
nalgumas em detrimento de outras);
o Objectos que simbolizam, cada um deles, uma característica ou função pessoal (por ex:
o moral e corporal, o agressivo e o bom, mente-corpo, afecto-sexo).
II – A idealização
374
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que varia é a apreciação dos aspectos que são idealizados e dos que são temidos ou
depreciados, o que costuma ser expresso nas zonas corporais enfatizadas, por exemplo,
cabeça em detrimento do corpo, ou a musculatura em detrimento da capacidade intelectual.
São mecanismos primitivos que respondem à impotência do ego frente aos impulsos
destrutivos e a estes impulsos projectados nos objectos.
A denegação como processo defensivo, tem por finalidade não ver os aspectos do ego
e do objecto que atemorizam, e corresponde à fantasia de que aquilo que não é visto não
existe e, portanto, não implica perigo.
Está ligada ao controle omnipotente, à fantasia de possuir tanto o ego como o objecto
idealizado, e de manipulação do objecto persecutório.
Patologia: estes mecanismos implicam sempre uma privação para o ego, na medida
em que limitam as suas possibilidades de conhecimento.
375
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Nota importante; como parte das defesas maníacas, e na medida em que estão
orientadas para negar a depressão, a dependência, etc., e para controlar o objecto
persecutório destruído, estas defesas manifestar-se-ão através do movimento, da riqueza do
conteúdo, das formas de controle mágico do objecto, ou através da capacidade omnipotente
de reparação.
376
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C) DEFESAS MANÍACAS:
377
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O bebé tem necessidade de sentir que domina os objectos internos e externos, não só
para que eles não o abandonem, como também para que não se destruam dentro de si.
Numa relação maníaca de objecto, participa uma tríade de sentimentos que tendem a
anular os ganhos da situação depressiva:
378
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379
Avaliação em Psicologia Clínica
Neste desenho, feito por uma criança de cinco anos e meio, numa altura em que se
verificava um real abandono por parte da mãe e estava entregue a um pai que pensava
sobretudo na mãe ausente, a criança parece inverter a situação: vira ostensivamente as costas
a um par implorante e, portanto, dependente. Aqui parece haver denegação da situação
depressiva e evitado o reconhecimento de necessidade do objecto:
380
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Como acontece com os outros processos de defesa, também aqui é necessário, para
um diagnóstico mais acurado, diferenciar entre a sua utilização num quadro evolutivo
(controlo adaptativo) e a sua utilização num quadro psicótico latente exigindo defesas
obsessivas patológicas: controlo omnipotente.
Na evolução infantil, a vivência do dano causado ao objecto, e a culpa e a dor por o ter
infligido, fenómeno inerente à posição depressiva, trazem como consequência a inibição e
controlo da agressividade.
Tal controlo tem por finalidade preservar o objecto da própria agressividade, e o ego
do sofrimento que implica aceitar a ambivalência.
381
Avaliação em Psicologia Clínica
No começo da situação depressiva, o objecto ainda não pode ser reparado porque a
quantidade de ódio continua intensa; o dano ao objecto não pode ser negado maniacamente,
de forma total, porque o ego já conseguiu integração suficiente e percebeu o dano. Surge,
então, como possibilidade de protecção e de preservação do objecto, a prevenção contra
novos ataques: os mecanismos controlam o vínculo hostil com o objecto previamente
dissociado.
Nos desenhos:
382
Avaliação em Psicologia Clínica
Neste desenho, estas características estão presentes, aparte, talvez, do excessivo vazio
humano:
2) Reforço excessivo dos limites, sombreados ou riscos excessivos que trazem como
consequência figuras sujas ou figuras rígidas, imóveis:
383
Avaliação em Psicologia Clínica
Nas figuras humanas, quanto mais nos aproximamos das situações psicóticas, maior o
predomínio de figuras rígidas e vazias, expressão de despersonalização.
I – Anulação
384
Avaliação em Psicologia Clínica
385
Avaliação em Psicologia Clínica
II – Isolamento
Dado que a fantasia defensiva dominante é evitar a união (vivida como catástrofe
persecutória) está bloqueada a possibilidade de síntese (por ruptura das conexões
associativas) e com ela, a integração do ego e do objecto.
O temor à união dos pares dissociados, cria a necessidade de manter uma distância
extrema em relação ao mundo externo (para evitar uma mobilização emocional) e a anestesia
afectiva correspondente a um bloqueio.
386
Avaliação em Psicologia Clínica
Figuras com expressão que não revelam afecto, geralmente reduzidas ao tamanho da
cabeça. É frequente a cabeça aparecer demarcada como num retrato. Acentuação
paranóide do olhar. Figuras sem movimento, com maior ou menor grau de
despersonalização:
387
Avaliação em Psicologia Clínica
A cabeça é sempre enfatizada (controlo intelectual) e pode aparecer como cabeça do tipo
“capacete” ou “robot”:
Na casa:
A casa aparece também pobre, fechada, isolada, sem nada em volta, de difícil acesso:
388
Avaliação em Psicologia Clínica
Neste desenho, temos uma casa com porta a sugerir blindagem, com “fechaduras de
segredo”. Ao lado, isolada, uma “ilha”. A vegetação florida desta, sugere claramente a
clivagem entre os aspectos amorosos e agressivos:
389
Avaliação em Psicologia Clínica
390
Avaliação em Psicologia Clínica
O controlo da agressividade por meio deste mecanismo nunca é total. Implica uma
luta permanente por parte do ego para manter a agressividade dentro dos limites,
determinando um gasto considerável de energia psíquica. O deslocamento, mecanismo mais
evoluído, tornará o processo mais económico e eficaz.
Conclusão:
Nos desenhos: quando a defesa faz parte de uma personalidade bem integrada, dará
como resultado produções gráficas ordenadas, com boa localização espacial, distinção entre o
que é interno e o que é externo e entre as partes internas.
391
Avaliação em Psicologia Clínica
Não agressivas; roupa cuidada; ausência de sedução, presença de aspectos formais: roupa
fechada, fato gravata; movimento corporal inexistente ou coarctado (rigidez e tensão
corporais), mostrando o controlo imposto aos impulsos; preocupação pelos limites da
figura; localização e tamanho médios.~
E) DEFESAS NEURÓTICAS:
I – O Deslocamento
Este é o mecanismo latente das fobias. Freud estudou-o pela primeira vez no caso do
“Pequeno Hans”. Nele, as fantasias terroríficas em jogo na relação com o pai foram deslocadas
para os cavalos.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Nos desenhos, o que é “deslocado” varia de um caso para o outro, sendo em termos
gerais, um vínculo conflitual com o objecto de que se precisa, no qual está contida sempre
uma função, uma parte corporal, ou um impulso vivido como perigoso. Manifestam-se
graficamente na:
Nestes desenhos, por sua vez, nota-se o deslocamento do interesse pela procriação:
para os pássaros e plantas, para um, e para o ninho da árvore, no outro:
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
II – O Recalcamento
Assenta, também, num mecanismo de clivagem embora num plano mais evoluído e
adaptativo.
H.Segal refere-se às causas de tal rigidez: “se a clivagem inicial for excessiva, o
recalcamento posterior será de excessiva rigidez neurótica. Quando a clivagem inicial foi
mesmo severa, o recalcamento lesará menos o sujeito e o inconsciente estará em melhor
comunicação com a mente consciente”.
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Avaliação em Psicologia Clínica
determinadas condutas como é o caso da formação reactiva que implica uma necessidade
permanente de reforçar o vínculo amoroso para o controle do vínculo hostil na relação
ambivalente com o objecto. No recalcamento, o conflito ambivalente resolve-se pela
“ausência de afecto”, pela indiferença.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Manifesta-se como impotência ou deficit de uma ou mais funções do ego: não ver, não
ouvir, não aprender, etc. Uma função ou conduta é inibida por ser sentida como perigosa por
estar ligada à realização de fantasias agressivas. Evita-se o perigo fantasiado, anulando ou
restringindo a função ligada a estas fantasias (ver os desenhos apresentados como exemplo do
mecanismo anterior [recalcamento] e os comentários feitos a propósito dos mesmos).
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Avaliação em Psicologia Clínica
Neste desenho, perante duas figuras de simbolização sexual evidente, “o menino fica
em casa porque partiu uma perna e não pode andar”. Os aviões “não são de passageiros” (e
esconderão, por detrás desta afirmação, um potencial bélico não visível, expressão, também,
de inibição), dão-nos uma ideia do que poderá ser a razão da imobilização (inibição) da
criança: a contenção da sua agressividade destrutiva que, no caso, estava ligado a sentimentos
de exclusão e abandono:
Desenhos:
399
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O mesmo se pode verificar neste desenho. Os sinais variam conforme a conotação de inibição:
por exemplo, nas inibições intelectuais são características a cabeça quadrada, o cabelo tipo
capacete com aspecto de “robot” e muito sombreado:
4) A inibição transparece ainda no reforço ou pelo tratamento especial de certas zonas ou, ao
contrário, pela ausência de partes específicas: mãos, pés, por exemplo. Manifesta-se
também por impotência verbalizadas pelo sujeito durante a produção “não sabe, não pode
desenhar al ou tal aspecto do desenho”.
Neste desenho, a criança coloca perante a tarefa de executar um desenho livre, depois de
muita hesitação e manifestações verbais de incapacidade, desenha os contornos da marca
do papel que costuma ver-se à transparência.
400
Avaliação em Psicologia Clínica
A árvore é pobre, com pouca folhagem, sem frutos, com desconexão de partes ou
zonas mais importantes. Estas características correspondem à expressão directa da inibição
como defesa.
IV – A Regressão
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Avaliação em Psicologia Clínica
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V – A Sublimação
“A ânsia de recriar os seus objectos perdidos impede o bebé a juntar o que despedaçou,
a reconstruir o destruído, a recriar e a criar. Ao mesmo tempo, o desejo de proteger os seus
objectos leva-os a sublimar os impulsos que sente como destrutivos. Deste modo, a
preocupação pelos objectos muda os fins instintivos e produz uma inibição dos impulsos
instintivos”.
“Só através de um processo de luto se podia produzir uma renúncia bem sucedida. A
renúncia a um fim instintivo, ou a um objecto, é uma repetição e ao mesmo tempo, uma
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Avaliação em Psicologia Clínica
revivência da renúncia ao seio. Como nesta primeira situação, o bebé tem êxito se o objecto a
que deve renunciar pode ser assimilado pelo ego, graças a um processo de perda e de
recuperação internas. Eu sugiro que um objecto assim assimilado se converte num símbolo
dentro do ego…”.
1) No que toca à atitude do sujeito quanto às suas capacidades reparatórias, Psiccolo refere:
a. Atitude depressiva adaptativa, traduzida na preocupação em realizar a tarefa
adequadamente, no clima emocional de introspecção, na adequada capacidade de
auto-crítica e na adequada valorização.
b. Diferentes tipos de condutas desajustadas, indicadores de conflitos que interferem
na execução de uma autêntica reparação: referências à inabilidade e ao medo de
realizar a tarefa; auto-crítica exagerada (medo de não contar com recursos
reparatórios); incapacidade de defender-se do objecto gráfico, que é vivido como
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Avaliação em Psicologia Clínica
Critérios de análise:
a) Gestalt mantida: objectos gráficos completos, inteiros, sólidos, por oposição a objectos
destruídos, atacados na totalidade ou em zonas circunscritas. Atitude do sujeito face
aos objectos desenhados: preocupação em corrigi-los, grau de aceitação das
imperfeições, negação delas, etc.
b) Objectos totais ou parcializados: o objecto gráfico obtido regista todo o objecto real ou
partes do mesmo e, neste caso, importa saber que partes do objecto são desenhadas e
se correspondem a zonas diferenciáveis do corpo: cara, tronco, etc.
c) Diferenciação e conexão mundo interno/mundo externo: verificam-se através dos
limites do desenho e do tipo de tratamento dos órgãos de recepção e das zonas de
contacto com o mundo externo.
d) Integração das diferentes áreas da personalidade: (pensamento-afecto-acção):
tratamento balanceado, supercentrações, omissões.
e) Plasticidade e ritmo: movimento harmónico, versus rigidez, estereotipia e coarctação.
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FUNCIONAMENTOS
DA PERSONALIDADE
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Avaliação em Psicologia Clínica
Observa-se que as defesas de distorção da imagem são frequentemente mencionadas como defesas
primitivas na literatura psicanalítica.
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FASES PRÉ-GENITAIS
1. Fase Oral
(1º ano de vida – do nascimento ao desmame)
1. Desenvolvimento Psicossexual
Sexualidade infantil
1. Regiões corporais de maior sensibilidade são as zonas genitais e as erógenas;
2. Objectivo – conduz a actividades que desempenham um papel no prazer preliminar;
3. Autoerótica;
Zona erógena: boca
Zona aerodigestiva – esófago, estômago, órgãos respiratórios;
Órgãos da fonação – linguagem;
Órgãos dos sentidos – paladar, nariz, olfacto, visão;
Toque e pele;
Objecto original do desejo sexual – seio materno/ seu substituto.
Primeira pulsão sexual – ato de mamar;
Satisfaz a necessidade de alimento e proporciona prazer por si só;
Relação com a mãe – função alimentar ou nutricional e satisfação libidinal;
Objectivo Pulsional Duplo
1. Autoerótico (noção de mundo externo – anobjectal/indiferenciação eu/não-eu);
2. Desejo de incorporar objectos (desejo específico de oralidade – ao engolir e
incorporar o alimento o objecto é parte do sujeito mas não é objecto externo);
Fases
I. Fase Oral Primitiva:
0-6 meses;
Fase pré-ambivalente;
Verdadeira fase oral de Freud;
Subfases: Fase Narcísica Primária e Fase Anaclítica;
Características: Prevalência da sucção/aspiração;
Ausência de diferenciação entre o próprio corpo e o objecto exterior; Ausência de
amor e de ódio propriamente ditos;
II. Fase Oral Tardia:
6 – 12 meses;
Ou fase oral sádica;
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2. Relação de Objecto
Inter-relação Dialéctica – forma como o sujeito constitui os objectos (externos e internos)
e como moldam a actividade.
1º Objecto é a Mãe – a pessoa que desempenha a maior parte dos cuidados prestados à
criança;
Noção de objecto é problemática pois, no inicio, não existem imagens de objectos no
sentido psicológico da palavra, encontrando as primeiras representações de objecto
dispersas, mais ou menos retalhadas, parcelares e não unificadas.
Recém-nascido não tem noção do mundo exterior e apenas das próprias percepções
internas de tensão e de calma – não distingue os outros de si próprio.
Bebé está a braços com bocados de objectos – objectos parciais – constituídos por
bocados do corpo da mãe (seio) e bocados do seu próprio corpo.
Relação do bebé com os objectos parciais – autoeróticas e relação anaclítica (deitar-se
sobre/apoiar-se sobre – dependência absoluta que liga a criança à mãe).
Descoberta Real dos Objectos – através de um processo gradual.
Relação objectal constitui-se no momento de ausência do objecto anaclítico – quando
sente que o objecto lhe faz falta;
Criança aprende a diferenciar as suas impressões – primeira diferenciação é entre
objectos conhecidos/de confiança (objectos de confiança e amados) e objectos
esquisitos, não habituais e estranhos (objectos perigosos).
Aprende a distinguir-se da mãe e a comunicar com ela, a compreendê-la. São
importantes as reacções ao contacto, à pressão física – pela manipulação corporal
real da criança pela mãe.
A relação ambivalente é contemporânea – altura do aparecimento das pulsões
sádicas.
411
Avaliação em Psicologia Clínica
2. Fase Anal
(2º e 3º ano de vida)
1. Desenvolvimento Psicossexual
Prazer anal existe desde o início da vida mas não é o espape libidinal principal e não está,
ainda conflitualizado;
Controlo esfincteriano e ato de defecção – ato sobre o qual a criança adquiriu um domínio
suficiente, o prazer ligado a essa defecção e os conflitos específicos que lhe dizem respeito
ocupam uma situação privilegiada;
Fonte pulsional corporal/Zona erógena parcial – mucosa anorrectal ou
anorrectossigmoidiana e a mucosa da zona intestinal de excreção, investida por uma líbido
difundida a todo o interior e não só ao orifício;
Objecto da pulsão anal – difícil de descrever devido à crescente complexidade do jogo
pulsional:
A mãe (objecto privilegiado das pulsões da criança) torna-se uma pessoa inteira, mas
não deixa de ser um objecto funcional, parcial que a criança manipula similarmente à
manipulação que faz relativamente às matérias fecais;
Objecto libidinal intermédio – bolo fecal (conteúdo intestinal) cujas funções são:
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Avaliação em Psicologia Clínica
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Avaliação em Psicologia Clínica
2. Relação de Objecto
Os modelos das relações mânticas pela criança com as suas matérias fecais e os conflitos
ocasionados pela educação para a limpeza orientam o individuo na relação de objecto,
com as suas características específicas:
Sadismo
Este período é definido pelo sadismo – agressão carregada de prazer contra um
objecto.
Os componentes eróticos e agressivos encontram-se nas duas fases, tal como a
bipolaridade da própria pulsão sádica, constituindo duas tendências gratificantes: para
destruir o objecto externo; ou para conservá-lo e exercer nele um certo controlo;
Conquista da disciplina esfincteriana – permite à criança descobrir a noção da sua
propriedade privada (as fezes que entrega ou não), do seu poder: auto-erótico sobre o
seu trânsito intestinal e sobre o próprio corpo; ou afectivo sobre a mãe que o filho
pode recompensar ou frustrar). Isto é acompanhado por sentimentos de omnipotência
e de sobrestima narcísica vivido como o prazer que sente ao controlar, dominar, por
oposição à mãe, ou seja, possuir.
Todo o objecto de desejo é alvo da exerção dos direitos da própria criança e assimilável
à sua posse mais primitiva, as matérias fecais.
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Avaliação em Psicologia Clínica
Masoquismo
Objectivo passivo de aceder ao prazer por experiências dolorosas.
Sadismo e Masoquismo – ligados aos castigos corporais, para os quais as nádegas são o
alvo preferido. O bater representa uma saída para tendências sádicas, mas a função
masoquista é mais complexa.
Só pode operar em certas condições, não devendo a dor ser excessivamente forte nem
grave.
O fato de que um açoite possa excitar sexualmente a criança tem sido alvo de
controvérsias. Mas, na teoria ortodoxa, isto ocorre porque a libido se desloca do ânus
para a pela das nádegas e para os músculos nadegueiros. Mas esta teoria não é alvo de
discórdia.
No fundo, existe uma relação bem conhecida entre o sadismo e masoquismo que é
utilizada pela criança que se comporta de forma muito activa e agressiva a fim de
provocar os outros para que lhe batam.
Ambivalência
As relações permanecem ambivalentes;
Ambivalência fisiologicamente assente sobre a atitude contraditória em relação às
matérias fecais que serve de modelo às relações com os outros.
Os objectos exteriores podem ser:
Eliminados, subtraídos, ou seja, recusados, expulsos e destruídos;
E, simultaneamente, introjectados, ou seja, guardados como objectos de
apropriação, retidos como uma posse preciosa e amada.
Bi e Homossexualidade. Actividade e passividade. Narcisismo anal
a) Bissexualidade: raízes psicologias e fisiológicas na fase anal do desenvolvimento.
O recto aparece como um órgão de excreção côncavo: enquanto órgão de
excreção pode expulsar activamente algo e desta capacidade derivariam as
tendências masculinas; enquanto órgão côncavo pode ser excitado passivamente
pela penetração de um corpo estranho, donde derivariam as tendências
femininas;
b) A oposição do par actividade-passividade: marca profundamente as relações
objectais características desta fase, em que não se trata da oposição masculinidade-
feminilidade no sentido sexuado destes termos.
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Avaliação em Psicologia Clínica
3. Fase Fálica
(Após o 3º ano de vida)
Com base nas fases anteriores, por abandono ou solução dos conflitos afectivos que
lhes pertencem, a fase fálica instaura uma relativa unificação das pulsões parciais sob uma
certa primazia dos órgãos genitais.
Não é uma verdadeira genitalização da libido.
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Avaliação em Psicologia Clínica
A palavra “sexo” é ambígua e não é de uma diferenciação sexual que a criança toma
aqui consciência.
Apenas o órgão anatómico masculino tem valor de existência tanto para o rapaz, que o
tem, como para a rapariga, que não o tem.
1. Desenvolvimento Psicossexual
Erotismo Uretral
Fase Uretral – fase intermediária entre as fases anal e fálica.
Objectivo primário deste erotismo – prazer de urinar e um prazer de retenção.
Começa por ser auto-erótico, orientando-se para objectos (fantasmas de urinar
para cima dos outros, por exemplo) enquanto a enurese poderá, após o auto-
erotismo de origem, adquirir o valor de uma equivalente masturbatório
inconsciente. O prazer de urinar revestir-se-á em geral de uma duplo aspecto:
a) Nos dois sexos, um significado fálico, até mesmo sádico, sendo a micção o
equivalente a uma penetração activa, ligada a fantasmas de estragar ou destruir;
b) Pode ser sentido como um “deixar-correr”, um prazer passivo de rendição e
abandono dos controlos.
Nos rapazes, o “deixar-correr” passivo pode condensar-se com outros
objectivos passivos como de ser acariciado no pénis ou de receber excitações
no períneo (próstata), esses objectivos passivos do erotismo uretral podem
combinar-se com fantasmas bastante sádicos como se vê na análise de casos
graves de ejaculação precoce.
Nas raparigas, a parte activa serve mais tarde para expressar os conflitos quase
sempre centrados na inveja do pénis. Quanto ao significado passivo do “deixar-
correr”, desloca-se neste caso, frequentemente, da urina para as lágrimas.
Seja como for, o controlo do esfíncter vesical acarreta um orgulho narcísico que teria
a sua origem no fato de os pais envergonharem a criança quando esse controlo
fracassa. Outros pensam que a maior frequência da micção (relativamente à excreção
anal) suscita recompensas igualmente mais frequentes, reforçando o sentimento de
orgulho. Mas se a vergonha permanece a força especifica dirigida contra as tentações
eróticas-uretrais, a ambição seria o representante especifico da luta contra esse
sentimento de vergonha.
A Masturbação Infantil
Já na fase oral se assiste no bebé ao despertar de manifestações eróticas especificas
ao nível dos próprios órgãos genitais.
417
Avaliação em Psicologia Clínica
O seu determinante ocasional reside, para alem dos cuidados de higiene, na excitação
natural da micção.
Masturbação Secundária - Quando entra em jogo a disciplina do esfíncter vesical, o
prazer hedónico apoiado sobre a micção vai dissociar-se dela para procurar reproduzir-
se por si, repetitivamente.
Frequentemente negada pelos adultos, provavelmente em função do seu próprio
superego.
Deixa traços profundos e inconscientes na memória e parece representar uma das
causas principais da famosa amnésia infantil, que se prende pela actividade reprimida
pelos pais, mas sobretudo com os fantasmas sexuais próprios da idade –
masturbatórios, de essência edipiana, logo angustiante e culpabilizante.
A Curiosidade Sexual Infantil
a) A “descoberta” da diferença anatómica entre os sexos é uma expressão ambígua. Para
a criança ainda só existe um único sexo que é representado pelos seres dotados de um
pénis. Pela masturbação ou no decurso das suas investigações, a criança vai tomar
consciência da realidade anatómica do pénis; e começa a interrogar-se sobre a
existência ou não existência desse atributo corporal nela própria ou nos outros. Nesta
altura colocam-se outros enigmas: origem das crianças, procriação, gravidez, etc.
b) A cena primitiva – cenas nas quais a criança foi ou fantasiou ser testemunha do coito
dos pais. Faz parte dos fantasmas primitivos ou originários, impregnado toda a vida
fantasmática, quaisquer que sejam as experiências reais dos sujeitos.
Mecanismos em causa:
A identificação com um dos parceiros, por vezes com os dois, no sentido da
passividade;
A projecção da própria agressividade do sujeito, sendo esta “cena primitiva”
percepcionada pela criança como sádica, em função dos ruídos, gritos ou gemidos
ouvidos.
O sentimento de abandono que o fato de ficar excluída dessas relações induz nas
crianças.
c) A escoptofilia ou voyeurismo – instinto parcial (vai contribuir no adulto para o prazer
preliminar mas que, na criança, exige satisfação por conta própria) pode estar
relacionado com a “cena primitiva”. É muitas vezes auditivo. Por sublimação pode dar
origem à epistemofilia – pesquisadores e curiosos de todo o tipo.
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Avaliação em Psicologia Clínica
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3. Angústia de Castração:
Designa a reacção afectiva subsequente à verificação da ausência do pénis na menina,
verificação esta que acarreta no rapaz o medo fantasmático de o perder e na menina o
desejo de o adquirir.
Esta angústia de incompletude ou da falta determina a angústia de morte contra a qual o
fantasma de desejo de ter uma criança (espécie de reduplicação de si) representa uma
defesa habitual.
É consciente ou pré-consciente na criança que se apercebe da falta de pénis no outro ou
nela própria. Parte de uma representação falsa da realidade (fantasma de mutilação
peniana, a qual não pode aliás ser assimilada à verdadeira castração que consiste na
ablação, não do pénis, mas das gónadas) e é uma interpretação à qual nenhuma criança
escapa.
Não é necessária qualquer intervenção dos adultos para que a criança “sofra” de angústia
de castração, face à qual deve aprender a defender-se e não ainda a render-se. É certo que
os adultos intervêm por “interdições castradoras” como as defesas exteriores visando
reprimir as actividades imbuídas de um qualquer valor libidinal (curiosidade, garridice da
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c) Outra defesa, desta feita de natureza mais edipiana: o desejo de ter um filho, que
vai substituir o desejo de ter um pénis. Diz-se que a líbido da menina se desloca ao
longo da equação pénis = filho. É com essa finalidade que a menina elege o pai
como objecto de amor abandonado o seu primeiro objecto libidinal, a mãe, que se
torna assim objecto do seu ciúme, permanecendo esta ruptura com a mãe
marcada por uma extrema ambivalência, pelo fato de ser a primeira.
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FASES GENITAIS
O Complexo de Édipo:
O que é?
Organizador central na estruturação da personalidade;
Principal eixo de referência da psicogenética humana para os psicanalistas freudianos;
Conflito:
Sexualmente especificado;
Inscrito numa problemática a três – triangular/ternária – mãe, pai e criança;
Inaugura a verdadeira genitalização da líbido.
1. Generalidades e definição
No decurso da sua própria autoanálise, Freud descobriu o Complexo de Édipo;
Formulação da situação edipiana no rapaz - Afirma que a sua libido se orientou para a
sua mãe e, ao mesmo tempo, sentia ciúme pelo pai, um ciúme em conflito com o afeto
que tinha por ele;
Aspeto negativo – hostilidade em relação ao pai – difícil de fazer pela ambivalência
como a cobertura afetuosa reacional em relação ao pai que podem ocultar esse aspeto
negativo;
Não é, apenas uma rivalidade amorosa simples, reveste-se de diversas formas e isto
para a
mesma criança.
Em todo um conjunto de casos mistos e também de períodos mistos em que as duas
formas anteriores podem intervir simultânea ou separadamente numa relação dialética
colocando em jogo, para além da ambivalência relativa a cada um dos dois
progenitores, as componentes hétero e homossexuais de toda a criança. Estas duas
formas (positiva e negativa) encontram-se em diversos graus na forma completa do
complexo de Édipo.
Caso do Rapaz:
a) Ou sob a forma positiva com:
O seu aspeto positivo propriamente dito (mas mais valeria dizer libidinal): amor
pela mãe;
O seu aspeto negativo (ou melhor, agressivo): ódio pelo pai;
b) Ou sob a sua forma negativa ou invertida na qual:
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b) A idade do Édipo começou por ser para Freud relativamente indeterminada. Uma vez
afirmada a existência de uma organização genital infantil, o Édipo é referenciado a
essa fase, ou seja, ao período dos três aos cinco anos.
No entanto, o pensamento de Freud evolui no que respeita a esse ponto: após ter
começado por afirmar que o Édipo era destruído aos cinco anos, pelo menos no rapaz,
admitirá posteriormente que nessa altura é apenas recalcado, objeto, não se
efetuando plenamente a escolha do objeto senão na puberdade e permanecendo a
sexualidade infantil essencialmente autoerótica.
c) O problema do Édipo feminino prende-se com esta questão e nomeadamente através
da identificação do apego pré-edipiano à mãe, particularmente visível na rapariga, na
medida em que o complexo de Édipo implicará para ela uma mudança e o objeto de
amor, a mãe para o pai, o que levou aos psicanalistas a evidenciar a especificidade do
Édipo feminino.
Ensaio de definição
Édipo – uma problemática relacional fundamental da dimensão social, conflitual e
estruturante, histórica no sentido em que surge um momento relativamente precoce
do desenvolvimento de cada individuo e em que confere à evolução afetivo-sexual
deste e ao seu prognóstico um caráter de quase conclusão universal, especificada
enfim por uma estrutura triangular entre a criança, o seu objeto natural e o portador
da lei.
O caráter fundador do Édipo enquanto representante do laço original de todas as
relações humanas e sobre o seu papel fundamental na estruturação da personalidade e
na orientação do desejo humano, papel que se afirma nas funções capitais que lhe são
reconhecidas, nomeadamente:
Escolha do objeto de amor definitivo;
Acesso à genitalidade;
Efeitos sobre a constituição do superego e do ideal do ego;
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ele… o que define tipicamente uma posição homossexual passiva, cujo papel
nesta fase não tem senão uma função de maturação e de estruturação;
Esse apego verdadeiramente libidinal ao pai por parte do rapaz dá-nos conta,
ao mesmo tempo:
1º - Do problema, aliás complexo, da dupla identificação materna e paterna da
criança.
2º - Do facto de as relações com o pai por parte do rapaz na fase edipiana
estarem marcadas antes do mais pela ambivalência e não serem redutíveis a
uma simples manifestação de ódio.
3º - Por fim, de outro aspeto da psicogénese da bissexualidade humana
relativamente à qual já assinalámos as determinantes de ordem anal.
d) A competição edipiana, porem, não é real mas apenas fantasmática, pelo dato de a mãe
ter já escolhido o pai e de só poder dar ao rapaz consolações maternas desligadas de líbido
erótica. Donde:
1. A certeza da inutilidade dos seus esforços permitirá à criança:
Ultrapassar a angústia de castração, sendo esta por sua vez determinante no
abandono do objeto incestuoso;
Renunciar tanto à tentativa de sedução erótica da mãe como à competição com
o pai;
Aspirar enfim à conquista de objetos de substituição. Porque a liquidação
completa do conflito edipiano será acompanhada de um desapego que, sem
destruir os objetos previamente investidos, permitirá no entanto ao rapaz “fazer
o luto” desses objetos libertando a energia libidinal pronta para ser reinvestida
em novos objetos.
2. É também necessário que o rapaz possa abandonar qualquer atitude de sedução em
relação ao rival paterno.
Sequência no rapaz:
Desejo edipiano;
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uma força tao poderosa e tao dinâmica quanto a angústia de castração, a qual porem
desempenha igualmente o seu papel. Por fim, a ferida narcísica intervirá também para
desencadear o recalcamento do primeiro movimento edipiano (infantil). Esta fenda
narcísica também vigora no rapaz, que se perceciona então como possuidor de um
pénis demasiado pequeno.
Efeitos, papel e funções do complexo de Édipo
a) O Édipo é o ponto nodal à volta do qual se ordenam as relações que estruturam a
família humana, no sentido lato da sociedade por inteiro. É o momento em que o ser
humano se vê confrontado pela primeira vez com o fenómeno social. Pode-se
considerar que um dos efeitos do complexo de Édipo – através da interdição do
incesto e da instauração da moral – constitui uma vitória da espécie sobre o individuo.
b) O Édipo é também o momento fundador da vida psíquica. A sexualidade que o
condiciona atinge aqui o seu apogeu, com o acesso à genitalidade, caraterizado entre
outros por:
A primazia da zona genital;
O ultrapassar do autoerotismo
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Avaliação em Psicologia Clínica
O conflito edipiano do rapaz ocorre entre o desejo de ter o pai e o sentimento de que
isso o impede de identificar-se com ele. A saída é a renúncia ao desejo de ter para poder
ser como. De igual modo, a rapariguinha tem de renunciar a possuir falicamente a mãe
para se identificar com ela e de renunciar a ser o pai na esperança de ter o pai.
A propósito do Ideal do Ego, que a idealização ocorre mais cedo, isto é, anteriormente
ao Édipo, quando a criança atribui aos pais poderes mágicos. É agora a primeira vez que
a idealização diz respeito ao comportamento moral. Para além da introjeção parental
sob a imagem legisladora do Superego, o Édipo deve resolver-se pela sublimação da
imagem parental interiorizada.
O Desenvolvimento do Superego
Interiorização de todas as interdições passadas e presentes que finaliza a formação da
instância psíquica chamada Superego.
Para escapar aos conflitos centrados sobre o amor, o ódio, a culpabilidade e a angústia,
não é com os pais tal como são na realidade que a criança se identifica, mas sim com
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Avaliação em Psicologia Clínica
pais idealizados, puros, sem defeito, fiéis aos seus próprios princípios, etc. O que é
interiorizado é o próprio Superego dos pais.
Funções do Ego, do Superego e do Ideal do Ego
a) As funções do Ego estão centradas na relação com a realidade. O seu objetivo é
realizar um certo compromisso entre as pressões do Id, do Superego e do mundo
exterior.
b) As funções do Superego estão centradas nas exigências morais. A função crítica assim
designada constitui uma instância que se separou do Ego e parece dominá-lo – uma
parte do Ego apõe-se à outra, julga-a de maneira crítica e toma-a, por assim dizer,
como objeto.
Esta censura opera em grande parte de forma inconsciente de maneira que se pode
falar de um “sentimento de culpabilidade inconsciente”, apesar da aparente
contradição dos termos. O que explica em parte o rigor irracional do Superego.
A sua constituição transforma numerosas funções mentais. A angústia converte-se em
parte em sentimentos de culpabilidade. Sendo o Superego o herdeiro dos pais
enquanto fonte não só de ameaças e de castigos mas igualmente de proteção e de
amor reconfortante, torna-se tão importante estar em bons ou em maus termos com
o Superego como fora outrora estar em bons ou em maus termos com os pais. A
autoestima – e a sua recarga permanente em aportes narcísicos – já não depende da
aprovação ou da rejeição por parte de objetos externos, mas antes do sentimento
interior de ter feito ou de não ter feiro o que devia.
c) Quanto ao Ideal do Ego foi muito tempo confundido com a de Superego. É uma
instância diferenciada e constitui um modelo ao qual o sujeito procura conformar-se.
A sua função essencial consiste em ser uma referência para o Ego. A sua origem –
apesar da atualização reforçada na altura do Édipo – permanece principalmente
narcísica.
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Avaliação em Psicologia Clínica
O Período de Latência:
O que é?
5º/6º Anos até à Puberdade;
Segue-se ao Édipo;
Fase seguinte do desenvolvimento é considerada como uma fase calma e de
consolidação das posições adquiridas.
Fase de paragem no desenvolvimento sexual.
Não significa que não se observem manifestações sexuais;
Não se pode descrever uma nova “organização” da sexualidade durante esse período –
por isso é que é período e não fase.
1. Desenvolvimento Psicossexual
No declínio do Édipo, as impossibilidades reais de satisfação pulsional – externas ou
internas – e a criação do Superego internalizado e as pressões sociais exteriores juntam-se
e originam a entrada no período de latência, durante o qual se verifica essencialmente
uma modificação estrutural das pulsões sexuais.
Esta transformação torna possível a utilização da energia pulsional ao investi-la noutros
objetos mas talvez permita sobretudo a perseguir outros objetivos, com a crescente
tensão tendendo a satisfazer-se de maneiras substitutiva.
Observa-se assim, a dessexualização das relações de objetos como dos sentimentos que
se traduz por uma prevalência do carinho sobre os desejos sexuais. As tendências libidinais
encontram-se inibidas quanto ao objetivo e transformadas em tenras emoções.
Para Freud este período é de redistribuição das energias pulsionais.
Esta aparente calma não é muitas vezes real e a masturbação, as tendências edipianas e
as regressões pré-genitais continuam em cerda medida presentes. Razão pela qual a
menor importância classicamente assumida aqui pela sexualidade apenas é relativa e não
absoluta.
2. A Relação de Objecto
Transformação dos investimentos de objetos em identificações com os pais e que os
desejos libidinais dirigidos para os pais, enquanto objetos de amor, vao ser substituídos
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No entanto, a criança ainda procura estar junto do objeto de amor, pelo menos ao
princípio do período de latência, onde a ambivalência é maior, expressando - se no
comportamento por uma alternância de obediência e de rebeldia, seguida de remorso. A
tendência para as reações hostis desaparecerem, a criança começa a aproximar-se das
outras pessoas que a rodeiam para estabelecer com elas relações amigáveis. Está, então,
pronto para ser influenciada pelas outras crianças e os adultos que não os pais. Tornando-
se capaz de os comparar, a sua fé na omnipotência enfraqueceu.
A Puberdade:
Não é uma fase nem um período mas, frequentemente, uma crise – crise da adolescência
– cujo início põe termo geralmente de maneira bastante brusca ao período de latência que
a antecede.
Tarefa psicológica essencial – adaptação da personalidade às novas condições produzidas
pelas transformações físicas, podendo considerar todos os fenómenos psíquicos que
caraterizam a puberdade como tentativas de restabelecimento do equilíbrio perturbado.
1. Desenvolvimento Psicossexual
Carateriza-se por uma revivescência pulsional maciça brutal e, por vezes, dramática pela re
e sobreativaçao tanto das pulsões agressivas como da líbido.
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fixações criança-pais – fixação da criança pela submissão ou dos pais pela reprovação –
tiverem sido mais ou menos constrangedoras.
Esta luta contra os investimentos passados pode conduzir quer à rejeição total dos pais, à
rutura, a um modo de vida completamente diferente, quer ao restabelecimento do
equilíbrio na tolerância reciproca e no afeto partilhado. A saída deste conflito depende,
mais ainda do que da atitude real dos pais, do modo de resolução ou de não resolução do
conflito edipiano, sendo oferecida, uma vez mais, uma última oportunidade ao individuo
para o liquidar espontaneamente,
Uma possibilidade de passagem ao ato pode transparecer nos comportamentos de
reivindicação ativa e geralmente violenta tanto em relação, primeiro, ao “burguês” num
contexto afetivo-politico confuso, como mais tarde ao parceiro sexual ao nível afetivo ou
ao “patrão” no plano social.
Nesta tentativa de solução do conflito, a escolha de novos objetos libidinais desempenhará
para o adolescente um papel considerável. A maioria das vezes, trata-se de apegos
compulsivos e passageiros a seres quer da mesma idade, com os quais a relação assume a
forma de uma amizade apaixonada ou de um amor real, quer, ou ao mesmo tempo, mais
velhos, que representam claramente substitutos parentais, que terão cada vez menos
traços comuns com as imagens parentais originais, à medida que se processa a maturação.
Estas fixações amorosas passageiras, muitas vezes abandonadas, tanto mais rápida e
completamente quanto mais tiverem sido apaixonadas e exclusivas, não representam
verdadeiramente relações objetais, mas antes apegos identificatórios, dominados que
estão pelo esforço enviado para se agarrarem ao mundo exterior de um modo narcísico.
O adolescente regride do amor objetal ao narcisismo.
A primeira escolha objetal da puberdade será pois muitas vezes uma escolha
homossexual, até mesmo com experiências homossexuais ocasionais entre adolescentes
(talvez mais nas raparigas), experiências essas que não devem ser forçosamente
consideradas como patológicas porque:
Refletem muitas vezes somente a solidez da identificação parental que o adolescente
procura dissolver.
Surgem como um fenómeno temporário de adaptação.
Não conduzem a fixações definitivas.
São frequentemente devidas tanto à timidez perante o outro sexo (e às tradições
culturais) quanto ao prolongamento da orientação narcísica da maior parte das
necessidades objetais do período em causa.
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Notas:
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ESTRUTURA NEURÓTICA
1. Noção de Neurose
Esta entidade clínica teve muita dificuldade em se separar das doenças nervosas
propriamente ditas, como é o caso da epilepsia, e da própria loucura, à qual chamamos em
termos científicos de psicose. Esta neurose pode, antes de mais, ser individual mas, também,
ser familiar. É evidente que a neurose individual tem uma conotação particular no contexto de
uma neurose familiar.
A Neurose Individual:
Relaciona-se com a aceitação clássica da neurose de acordo com a primeira tópica
freudiana, ou seja, toda ela assenta no princípio de recalcamento histérico.
Inversamente, a depressão neurótica pode estar num primeiro plano escondendo mal
um queixume raivoso, clausurado num ‘’tudo ou nada’’ ou ainda emboscado numa
omnipotência passiva mais ou menos obsessiva e difícil de descobrir.
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Estes dois pontos de vista que nos parecem identificar os movimentos essenciais da
avidez aparente assumem uma forma particular no inconsciente. Constituem em primeiro
lugar dois tipos de relação de objecto bem diferenciados que, como Freud parece antecipar
em 1914, prefiguram um tipo de cunho prévio à constituição da triangulação edipiana. Mais
ainda, a sua condensação contribui para o desejo incestuoso: com efeito, como pode a criança,
privada de argumentos biológicos convincentes, ter o atrevimento de se imiscuir na
problemática dos desejos parentais?
É-lhe necessário ter razões sólidas, tais como a conjugação de uma omnipotência pulsional
sem limites e de uma vontade obstinada de regresso a uma dependência de tipo fetal. Assim,
o desejo incestuoso fundador do Édipo é o protótipo da neurose típica.
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A Neurose Familiar:
Poder-se-á dizer que existe neurose familiar quando o desejo incestuoso da criança é
retomado em espelho pelos pais que se tornam parceiros interessados nesse desejo.
Não será este clima de sedução recíproca que se poderá constituir um sistema
pulsional do tipo amor-ódio.
A parte visível e sintomática não é, muitas vezes, muito reveladora, dado que se
caracteriza por relações de objecto em que imperam o domínio sistemático e, de uma
forma mais escondida ainda, a dependência recíproca. Estes dois elementos
condicionam funcionamentos mentais mais rígidos e de tempos a tempos com
revelações explosivas, clásticas ou mesmo mais graves ainda.
Muitas vezes, a parte invisível só é revelada posteriormente ou no decurso de uma
psicanálise. Trata-se, essencialmente, de proibições implícitas fundamentais cuja
primeira consequência é a esterilização das trocas verbais. Se por um lado as crianças
desfrutam abertamente perante as proibições explicitas, por outro lado as proibições
implícitas são menos contornáveis.
Para constituir uma psicose, é necessária uma ruptura muito profunda dos laços
afectivos que deixa o caminho livre para excitações aterrorizadoras, pelo que a maio parte
desses comportamentos pertence à neurose.
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Também se vê, por esta descrição simbiótica das ligações mãe-filho, que estamos
muito perto do conceito lacaniano de forclusão incidindo sobre o nome do pai. Esta
exclusividade materna contém de facto uma exclusão – e não só de nome – mas também da
imagem do pai da criança na sua própria mente em favor do pai dela, logo, do seu narcisismo.
O conflito sexual da neurose situa-se ao nível genital do Édipo mesmo que as aptidões
defensivas levem a percorrer as vias de regressões pré-genitais (anais ou mesmo orais). O
conflito no rapaz decorre da rivalidade edipiana com o pai no projecto de conquista da sua
mãe. Esse projecto é abandonado em função tanto dos sentimentos delicados que existem em
relação ao pai como, também, do receio de medidas de retaliação desta último (a castração).
Pesa ainda e, sobretudo, o lugar do pai na cabeça da mãe.
As identificações edipianas:
A identificação do menino com o pai e da menina com a mãe são os herdeiros mais
evidentes do complexo de Édipo. Na realidade, não são as únicas saídas e a instauração dessa
herança permanece altamente problemática.
Para começar, este modo de resolução do complexo de Édipo não deixa de ser parcial,
o desejo incestuoso persiste apesar de deslocado e é ele que cai sob a alçada do Superego.
Visto sob este ângulo, as identificações com os pais do mesmo sexo apenas constituem um
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Uma das razões para tal é que estas identificações ‘’homossexuais’’ não são óbvias e
são mesmo radicalmente postas em causa, nos dois sexos, por razões diferentes.
Existe uma terceira saída que ocupa um lugar considerável: a identificação com o
progenitor do sexo oposto.
Apesar de existir renúncia à realização incestuosa, a identificação heterossexual não deixa de
permitir que se conservem laços privilegiados com o progenitor edipiano ou pelo menos com a
sua imagem.
A Castração Edipiana:
O receio desta medida de retaliação por parte do pai, não deve fazer esquecer o
contexto da maturação edipiana nem as ressonâncias que a castração implica na organização
psíquica e no universo que dela decorre. Pode-se reconstituir essa maturação, através dos
mistérios do recalcamento, como uma renúncia à omnipotência infantil de posse incestuosa,
pelo menos em parte, em proveito da aquisição de um Superego mais ou menos rígido e de
identificações mais ou menos problemáticas: sendo que para o homem a problemática é não
tenho ‘’o’’ falo e; para a mulher a problemática é ao nível de ‘’não ser’’ o falo.
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O conflito entre o Superego e as pulsões sexuais é apenas a trama mais evidente sobre
a qual se tece a neurose. O recalcamento, que é a sua primeira consequência, frequentemente
ultrapassado pelos acontecimentos, cede posição ao sintoma, que expressa a tal ponto os
resquícios de identificações inconscientes oriundas do cenário edipiano imaginário, que não
pode ser visto unicamente como uma formação de compromisso entre a pulsão e a defesa.
De certa forma, o êxito da neurose prejudicou-a. Tudo o que não era do âmbito da
psicose foi abusivamente rotulado como neurose. Vamos então, eliminar sucessivamente:
A «neurose» de angústia;
A depressão dita «neurótica»;
As «neuroses» fóbicas;
As «neuroses» de carácter.
A neurose de angústia
a) A Clínica da Angústia: a angústia aguda tem de particular que é uma angústia sem
causa, súbita e frequentemente paroxística que, deve ser, assim, distinguida da:
Angústia, ou melhor, da ansiedade relativa a uma dificuldade real da vida,
particularmente intensa no período que antecede um prova qualquer;
Mas também da angústia que aparece no contacto com certos objectos ou em
certas circunstâncias cujo valor simbólico é suficiente para a desencadear, apedar
de não haver causa real relevante – poderá, então, ser uma angústia fóbica, bem
diferente da angústia flutuante ou do surto de angústia que permanece sem
objecto;
Finalmente, da angústia ligada a uma dor orgânica
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Outras fobias:
De sintomas assemelham-se aos da neurose obsessiva, como o medo de objectos
sujos, de excrementos, de micróbios ou mesmo do cancro, ou à histeria como a
ereutofobia ou a fobia de impulsos;
De medos que se integram num quadro mais complexo incluindo os surtos de angústia
ou os surtos de um estado depressivo. Esses medos dos estados-limite comportam
aliás, um pânico considerável tanto face a uma situação de solidão como de encontro
com um estranho, lembrando muito no fim de contas os terrores infantis;
Finalmente, os processos que se situa francamente na linha psicótica. Tal como
acontece com a cancerofobia quando se reveste de um aspecto hipocondríaco marco
muito próximo de uma somatização quase delirante. A própria agorafobia, na sua
forma mais grave, confina à impossibilidade total de sair para rua sem ser
completamente acompanhado e pode então ser considerada como um verdadeiro
sintoma de cobertura, espécie de derradeira defesa contra a psicose subjacente.
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Isto diz bem até que ponto as fobias são apenas sintomas que devem ser relacionados
com o seu contexto. Excluindo a histeria de angústia, cuja natureza sexual é, em principio,
evidente. Estas não podem ser consideradas como estruturas neuróticas.
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narcísica terrível, tudo se passa como se algo tivesse sido, irremediavelmente, quebrado. A
fantasmatização é pobre e gira em redor desta recuperação de forças.
4. Neuroses autênticas
A histeria aparece, sem duvida, como a expressão de uma pulsão habitada pelo corpo,
ao inverso dos comportamentos obsessivos como fruto de uma mentalização, no entanto, esta
distinção não é suficiente. De uma maneira mais precisa, a histeria assume plenamente a
omnipotência da pulsão e as devidas consequências: da percepção vertiginosa do seu limite
extremo, o desejo de desejo insaciado, à sua incorporação fundamental, ou seja, o fantasma
incestuoso. É neste sentido que, com a histeria, toda a pulsão se tornará incestuosa.
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5. Histeria de Conversão
Os equivalentes menores: vão desde crises nervosas de agitação até desmaios súbitos,
entre outros.
Os sintomas psíquicos: apesar de coexistirem com sintomas somáticos, são quase sempre
suficientes por si só e são, aliás, muito mais frequentes do que os clássicos acidentes de
conversão.
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demasiado envolvido nos seus afectos e tudo o que lhe diz respeito. Trata-se, por vezes, de
uma verdadeira amnésia das palavras que o histérico quer pronunciar e esquece
imediatamente. O fantasma essencial, por vezes realizado, não deixa de ser a fuga por
síncope, ou melhor, por inanição. Num menor grau, a fuga pelo sono é muitas vezes o seu
equivalente.
As relações sexuais são muito frequentes do que se diz classicamente e a frigidez
muito mais rara do que se pensa. No entanto, o comportamento sexual só se pode realizar
numa espécie de halo amnésico, não pode ter sido previsto e, em todo o caso, tem de ser
imediatamente esquecido.
O carácter histérico – o conjunto da atitude em causa corresponde portanto a um
duplo movimento de sedução – retraimento que marca esta verdadeira ambivalência ao nível
do corpo que é o sinal distintivo da histeria. Sendo a neurose obsessiva, por sua vez,
caracterizada por uma atitude de ambivalência ao nível do pensamento.
6. Histeria de angústia
A Clínica: o riso dos jovens empregados que provoca a sua fuga desvairada quando
entra numa loja representa a projecção da sua culpabilidade interior em relação à cena de
sedução do velho merceeiro enquanto os jovens representam, por sua vez, os objectos sexuais
que poderiam comover o líder destes jovens.
O medo de sair à rua tem a ver com a mesma evocação da sexualidade, do ponto de
vista do inconsciente a rua significa o passeio e por conseguinte sair à rua significa andar pelos
passeios a oferecer-se.
7. A neurose obsessiva
Aspectos clínicos: o isolamento é o primeiro sintoma, o que significa que numa relação
a primeira coisa que impressiona é a esterilização da afectividade, dado que no obsessivo, o
pensamento substitui-se aos actos, ao ponto de haver desaparecimento quase total da
espontaneidade. Este pensamento vai servir de barreira permanente entre ele e os outros,
tanto que o primeiro movimento do obsessivo é de se retirar, distanciar, contrariamente ao
histérico. Esta atitude pode corresponder geralmente, ao carácter esquizóide.
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A sua sexualidade é pobre e não pode manifestar-se, na maior parte dos casos, senão
num contexto sadomasoquista. Ao nível da fala, pelo contrario quando começa dá-se o inverso
e o obsessivo evidencia uma prolixidade a toda a prova.
A mente é de uma lógica inesgotável mesmo que nem sempre seja muito adaptada. O
desbragamento na expressão não o incomoda, mas também aqui se trata mais de uma
aventura intelectual do que uma expressão lúbrica. O que poderá dizer da sexualidade é
desafectizado e sem qualquer correspondência com a sua vida sexual real.
O isolamento é uma verdadeira inibição dos afectos a respeito da qual nos podemos
interrogar se consiste num sistema defensivo ou num verdadeiro empobrecimento da vida
psíquica.
O controlo obsessivo: é a segunda vertente da sintomatologia do obsessivo – as
preocupações, os temas de ordem, precisão, completude, mania de coleções. Importa,
todavia, eliminar duas acepções correntes desse controlo obsessivo: as obsessões sexuais
e a ideia fixa. Passar muito tempo a falar daquilo que não se faz é uma maneira segura de
isolar a sexualidade, as obsessões por sua vez, não são na realidade sexuais, antes pelo
contrario, caracterizam temas de ordem que, são meios para controlar ou lutas as pulsões
libidinais.
A ideia fixa, por muito repetitiva e obsessiva que seja, também não é uma obsessão.
O carácter obsessivo: o controlo incessante assume, nestas pessoas, um papel
considerável desde as aquisições escolares da criança durante o período de latência até ao
domínio de um sistema económico ou industrial passando por todas as manias de coleções
seja de livros, móveis antigos, selos e, mais ainda, a manipulação do dinheiro. A
meticulosidade, a limpeza, a parcimónia e a obstinação são, em pano de fundo, os
elementos de carácter mais frequentemente encontrados. Assim, podemos perceber que
o imprevisto é a coisa mais temida. A gestão da distancia em relação ao seus objectos
afectivos, nem muito perto, nem muito longe, volta a ser posta em casa na mesma altura
em que a omnipotência do pensamento oferece duvidas.
A superfície: a resposta imediata à perda do controlo obsessivo é uma reacção
brutal, ou mesmo destrutiva para os seus próprios objectos de amor.
Mais em profundidade: a angústia latente nunca totalmente recalcada como na
histeria volta a surgir em força. A depressão, caso se instale, e apesar de latente,
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8. A depressão neurótica
Nas neuroses frágeis mas ainda não descompensadas a depressão permanece mais
discreta e frequentemente disfarçada. Por vezes, trata-se de uma aflição latente e familiar mas
os rebentos mais frequentes manifestam-se através de reacções de tipo agressivas às quais se
chama – perturbações caracteriais.
A introdução de uma terceira pessoa (real ou fantasma) pode romper o circulo vicioso
da ruminação em prol de produções mentais mais associativas.
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ESTRUTURA PSICÓTICA
Assim, serão sucessivamente integradas numa rede de estruturas cada vez mais
diferenciadas, com crescente valor semântico, as percepções inerentes à receção de formas
reais e aos investimentos económicos que elas implicam por um lado (geradoras do
funcionamento da parte imaginária do psiquismo) em prol de uma organização cada vez mais
simbólica não deixando subsistir senão as linhas de estruturação esquemática estruturais (os
seus limites) para só reter finalmente os seus representantes verbais. Abandonam, assim, em
parte, a ordem da realidade (e do económico, que lhe está ligada) em benefício da organização
do semântico: esta compensa aquela… ou melhor, esta completa aquela.
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Este estado de coisas explica as dificuldades muito particulares com que deparam os
terapeutas habituados antes do mais à elaboração e ao estudo dos conteúdos para abordar o
dos continentes, o qual constitui para nós o primeiro tempo de abordagem do psicótico, o
primeiro tempo mas não o único, evidentemente, pois o tempo propriamente dito do
“sentido” também existe no psicótico, apesar de relativamente dissociado dado que nem
sempre é recebido como tal pelo paciente, que durante todo um período o percorre, o atua,
mais do que o percebe.
Aqui já não são somente as personagens que são “loucas”; na psicose poder-se-ia dizer
que já não há personagem nem “mundo”: há fusão do todo ou funcionamento de fragmentos
clivados. Como descrever então a psicose sem fazer em primeiro lugar um esboço desse
funcionamento particular que, muito antes de se expressar por conteúdos significativos,
começará por impor ao interlocutor um modo existencial particular de mentalização, na qual o
carácter pré-objectal determinará um registo funcional e estrutural perfeitamente inusitado o
qual, repito, é específico da “loucura” psicótica.
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A palavra do psicótico
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valor interpretativo – passa a ser o depositário externo e reificado do que teria sido
normalmente do domínio interno da intenção e do desejo.
Por todas estas razões, a abordagem do psicótico far-se-á muito melhor ao nível
concreto do gesto, da mímica, das exclamações ou dos gritos, das conotações ou das intenções
que percepciona electivamente nos seus interlocutores, do que ao nível verbalizado, triunfo da
elaboração pré-consciente dos pensamentos conscientes numa actividade denotatória
rigorosa. Alem disso, é por essa mesma razão que ele poderá mais facilmente “representar” as
suas pulsões ou “ser representado” numa actualização mimada e acentuada, próxima do
psicodrama, do que estaria à vontade numa psicoterapia puramente verbal. No psicótico, é a
articulação entre estes dois registos que se revela primordial para qualquer actividade de
comunicação.
Mais ainda, pela sua aptidão em identificar-se no fundo mais do que em erigir-se numa
forma separada, o psicótico vai “integrar-se” melhor por identificação à conversa entre dois
interlocutores próximos do que inserir-se num verdadeiro diálogo (é pela mesma razão que
prefere também por vezes falar de si na terceira pessoa). Há aqui um tempo de maturação que
se deve saber respeitar a todo o custo no psicótico.
Mais sensível aos valores absolutos, às quantidades de energia que o animam e que
sente directamente na sua vivência corporal profunda, do que à percepção mais intelectual
das diferenças e das qualidades, o psicótico será sempre mais sensível à “música” do que às
“letras”… digamos, para ser mais explícito, que nele uma não dispensa a outra e que o acesso
ao tempo verbal secundário deve ser precedido ou acompanhado logicamente pelos vários
níveis de actuação.
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Sem entrar em pormenor nestes métodos, mas para articular a relação de objecto
particular do psicótico com a vertente terapêutica à qual naos e dedica no entanto este
compêndio, salientarei a título de exemplo duas modalidades de abordagem do psicótico pelo
agir institucional.
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A psicose parece que se caracteriza essencialmente por uma fixação e uma não
superação do registo pré-objectal. À partida, o latente participa por assim dizer no modo da
fusão e da identificação a uma totalidade fusional em que não existe ainda separação entre o
indivíduo e o meio que o rodeia e onde as trocas não são ainda percepcionadas como uma
aquisição (do registo do ter) mais como uma simples expansão do seu ser. Percebe-se desta
forma a predominância nesta “diálise” dos mecanismos de absorção e difusão próprios deste
período que levaram a defini-lo como pertencendo a uma fase oral do desenvolvimento.
Lembremos desde já que se entende por esta designação não só mecanismos mas sobretudo a
um nível de estruturação (e portanto de pensamento). Esses mecanismos fazem precisamente
intervir manifestações de tipo oral – pela boca, olhos, nariz, ânus, pele, etc.. antecedem
geneticamente a possibilidade de distinguir um dentro e um fora (com os limites que isso
implica e naturalmente o espaço que circundam, base do futuro Ego).
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Mãe do psicótico:
Deve ser atribuído um lugar muito especial à mãe do psicótico, a qual pode pelas suas
atitudes profundas manter o latente e mais tarde o paciente numa situação nada propícia a
facilitar a eclosão das manifestações pessoantes:
Uma mãe hiperprotetora – não permitindo à criança aceder ao registo do desejo ao estar
sempre presente (e ao prevenir os seus menores desejos que torna assim inexistentes).
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Uma mãe ausente – mais raramente, que não permite à criação ligar (é o tempo do
desejo) a espera penosa e as representações do objecto desejado.
No segundo caso: a figuração é tornada inútil pelo fato de nunca estar completada (e
por assim dizer reforçada como tempo intermédio) e mais tarde como sentido pela experiencia
da satisfação que já não a conota para a criança negligenciada.
O mesmo acontece com a criança satisfeita a contratempo: caso da mãe que “não
ouve o pedido” (aquela que lhe dá de comer quanto tem frio ou que o tapa quando tem fome)
e que injecta o seu próprio desejo.
A função materna não se restringirá porém a esse papel todavia tao importante de
ligação (ou se preferirmos de soldadura) da moção pulsional em vias de emergência com o seu
objecto significante.
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Este fenómeno que foi introduzido na problemática analítica sob o nome de forclusão,
assume uma importância decisiva na edificação egóica insuficiente do psicótico.
Com efeito, por pouco que o pai do psicótico se mostre por sua vez em falta, que não
possa pela sua própria intervenção ajudar a criança na sua separação da mãe, a criança
acabará irremediavelmente confinada ao registo Unipolar e fusional impróprio para uma
implantação objectal satisfatória, improprio também para um bom funcionamento mental.
Constrangido na sua conquista do objecto e na instauração da sua autonomia, o psicótico
(parte não diferenciada da mãe pré-objectal) nunca poderá “acordar” qualquer busca objectal
à sua necessidade, alienado por definição e poder-se-ia dizer por essência, acabará por
constituir de forma discordante dois polos de funcionamento que se ignoram, acarretando
uma verdadeira dissociação do económico e do sentido com:
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Será, então, facilmente fonte de equívoco alucinatório ou delirante que não faz senão
expressar essa inaptidão em separar o real do fantasmático não assumido como tal:
projectará, ou seja, constituirá sob a forma perceptiva de uma pseudo-realidade externa, os
elementos figurativos dos seus movimentos pulsionais (internos) sem sentir, como é
normalmente o caso, toda a subjectividade que caracteriza no sujeito normal a vivência
habitual do desejo na sua elaboração fantasmática e representativa, enquanto imagem mental
diferenciada da percepção.
Organização do Ego:
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nos pacientes psicóticos fixados aos diversos graus desta estruturação pré-objectal (e,
naturalmente, pré-genital).
Pseudomecanismos:
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2. Organização Clínica
Autismo:
Assim, trata-se muito mais de uma tentativa de regresso ao zero objectal assumido
numa reificação com valor de actuação primária, descarregando fora de qualquer
mentalização e de qualquer intenção significante, fora da comunicação também, a vacuização
sistemática de tudo o que poderia de perto ou de longe implicar uma qualquer dependência
objectal ou relaciona mesmo ao nível puramente representativo (destruição do pensamento).
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objectal. É com esta atitude que julgamos poder relacionar o essencial do processo de
cronicização – hospitalar ou não – que é atribuído à passividade do paciente perante a sua
doença e o seu mundo exterior. A solidez a toda a prova desses estados bem conhecidos nos
“asilos” traduz na realidade uma estabilidade económica fundamental, obtida no conforto
relativo desta vivencia de omnipotência que esta posição anobjectal lhes confere.
Catatonia:
Um outro nível dessa posição anobjectal é obtido na catatonia que é uma contractura
muscular quase total com rigidez do tronco e dos membros, cujo essencial reside no plano da
musculatura numa contracção simultânea dos músculos agonistas e antagonistas, fixando de
uma forma curiosa toda a motricidade segmentar e dando ao paciente uma aparência
estatuificada (chamada conservação das atitudes).
Delírio Paranóide:
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A esse nível o sujeito ainda não é capaz de distinguir o seu desejo ou o seu fantasma
da percepção exterior que para ele tem o mesmo valor. Donde resulta habitualmente uma
confusão profunda entre o real e o fantasmático, entre o interior e o exterior, entre a
experiência objectiva e subjectiva, os quais precisamente nesta fase intermédia não estão
separados.
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Nesta fase específica da relação de objecto esquizofrénica, tudo parece vivenciar uma
indefinição considerável da função do sujeito topicamente disperso em múltiplos ilhéus
caracterizando a vivência dita “fragmentada” da existência esquizofrénica no seu contexto
clínico mais acentuado: a alienação. Esta representa o funcionamento característicos desses
Egos estruturados funcionando por isso unicamente sobre o modo parcelar do individuo
parcial e do objecto parcial sem poder jamais alcançar uma elaboração mais completa de um
Ego diferenciado do seu mundo objectal. No plano clínico, essa atitude traduzir-se-á pelo
aspecto particularmente “flutuante” dos pacientes que nunca podem por assim dizer “focar-
se” sobre a realidade do momento.
Delírio Paranóico:
Trata-se, assim, de uma contra partida narcísica evidente para o Ego particularmente
frágil cuja omnipotência afirmada constitui a única forma de compensar a perda – que fere
sempre o narcisismo – da omnipresença primitiva. Se o sujeito não está em todo o lado, tem
pelos menos de ser o centro, o agente determinante e criador, ao qual o objecto “deverá a sai
vida e a sua função”.
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A falta de poder manter a fusão total e o conforto narcísico que esta representa, o
paranóico conserva nesta posição o seu estatuto de bom sujeito protegido dos ataques da má
mãe-objecto mantida assim à distância.
Pode, desta forma, afirmar-se como sujeito relativamente separado sem deixar de
conservar as vantagens narcísicas que esta projecção lhe confere: na impossibilidade de
continuar a possuir tudo, só pode finalmente funcionar na condição expressa de se sentir
possuidor de tudo o que é bom.
Isto torna inútil realçar o carácter desreal (no sentido de delirante) dessas
personalidades aparentemente muito seguras, do seu orgulho desmedido e patológico, do seu
desprezo pelos outros que observam com uma curiosidade desconfiada, e dos quais não se
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podem acercar a não ser com as mais extremas reservas – com reticência – e para detectar as
suas eventuais torpezas.
O paranóico, inapto para todo e qualquer desejo que considera como perigoso, fraco
sob a sua pseudopotência, tentará sem tréguas ser confirmado pelo outro na sua boa
consciência: não terá assim de descobrir o seu desejo de ser amado. Utilizará para tal a via
desafetivada da justiça em busca da qual se envolverá em intermináveis processos, ou da
razão nas suas discussões lógicas, por vezes surpreendentes, e onde a rectidão do seu
raciocínio pretenderia esconder a ele próprio e aos outros a trágica indigência da sua
duplicidade.
Depressão:
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Isto explica todas as variantes possíveis desta associação clínica, desde o simples
quadro da melancolia recidivante sem episódio maníaco, com, entre esses dois extremos, a
alternância dita cíclica de uma ou outra dessas formas patológicas entrecortadas por episódios
de normalidade clínica habitualmente completa. A existência nesses pacientes de uma relação
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de objecto total já constituído pode ainda explicar a possibilidade de cura clínica posterior na
qual o comércio objectal normal fora desses períodos de descompensação permite
reencontrar dentro de certos limites períodos caracterizados por uma vivência não psicótica
(nem melancólica, nem maníaca), justificada por um prognóstico clínico para a psicose
maníaco-depressiva relativamente favorável.
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de “delírio” corporal nem psíquico, na qual o objecto narcísico foi perdido sem ter podido
obter ainda qualquer recuperação compensatória, nem no sentido regressivo pré-objectal nem
no sentido salvador objectal; é o momento da crise de despersonalização.
Trata-se de escapar à situação ansiogénica deixando de ser encontrar nela, sem abanar
ainda demasiado a estrutura do Ego. Desta fase em diante, chega-se ao desdobramento da
personalidade, acentuando-se, por vezes, até à sua completa fragmentação em núcleos
dispersos. A partir deste momento, toda uma parte do Ego reconstrói uma neo-realidade
fantasmática mais tranquilizadora – o delírio.
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Estes dois fenómenos estão ligados aos problemas da perda de objecto mas o primeiro
situa-se ao nível de uma regressão pré-objectal enquanto o segundo não passa a maior parte
das vezes de uma dialéctica oral. A despersonalização verdadeira corresponde a um
enfraquecimento primário do narcisismo, fase de alarme, e defesa contra o delírio. A simples
angústia de despersonalização só indica um enfraquecimento progressivo e secundário do
narcisismo; é sobretudo uma fase, um sinal e uma defesa no registo depressivo (mais do que
delirante) o que evidentemente não quer dizer que não se possa passar eventualmente da
segunda para a primeira serie de fenómenos.
4. O Universo Psicótico
Na psicose, as moções pulsionais não são confrontadas senão com o Superego arcaico
aterrador e nenhum sistema interiorizado pode ser constituído. Existe uma verdadeira
“esquize” – talvez a mais fundamental do mundo psicótico – entre pulsões e o que poderia
servir de defesas. Só resta, assim, uma solução – a evacuação para o exterior e em ordem
dispersa de todos esses elementos e daí a primazia dos mecanismos de projecção.
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2. Situação Nosológica
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A linha neurótica: segue, por sua vez, uma evolução bastante vulgar até ao momento do
conflito edipiano, ou seja, no rapaz, o período correspondente à fase anal (fase anal de
retenção) à fase fálica. Se, na sequência do conflito edipiano e das suas contingências,
existem fixações demasiado fortes ou regressões demasiado importantes e essa duas
fases, o Ego vai pré-organizar-se segundo um sistema relacional e defensivo de modo
neurótico. Da mesma forma que, para a linha psicótica, o período de latência vai operar
uma paragem da evolução estrutural, enquanto pelo contrario a chegada à adolescência
desencadeará transformações estruturais idênticas às que foram descritas acima a
propósito da linha psicótica. Se nessa altura os conflitos internos e externos se revelam
demasiado intensos, o Ego pode vir a deteriorar-se mais, a recorrer a sistemas defensivos
e relacionais mais arcaicos, ultrapassando a simples economia pulsões- Superego em prol
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3. Arranjo-limite
Estes estados-limite são, então aquelas pessoas que cujo Ego superou, sem muitos
obstáculos, o momento em que as frustrações da primeira idade poderiam ter operado
fixações pré-psicóticas tenazes e incómodas e, que também não voltaram, na sua evolução
posterior, a tais fixações. Todavia, na altura em que se encarrilava para eles a evolução
edipiana normal, esses indivíduos sofreram um traumatismo psíquico importante.
Esse traumatismo deve ser pensado no sentido afectivo, o que significa que
corresponde a uma inquietação pulsional ocorrendo num estado do Ego ainda muito
insuficientemente organizado e muito imaturo no plano do equipamento, da adaptação e das
defesas: por exemplo, uma tentativa de sedução sexual por parte de um adulto.
É impossível para este sujeito apoiar-se no amor do pai para suportar os sentimentos
eventualmente hostis em relação à mãe, e inversamente.
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é um simples esforço relativamente instável e dispendioso para o Ego o permanecer fora das
duas grandes linhas de estruturas verdadeiras das quais uma ( a linha psicótica) foi ultrapassa e
a outra (linha neurótica) não pôde ser alcançada quanto à evolução, quer pulsional quer
maturativa, do Ego.
4. Organização económica
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uma angústia de culpa, sentida no presente mas centrada num passado que se adivinha muito
erotizado. A angústia do estado-limite (quadro 1) é uma angústia de perda de objecto e de
depressão que diz respeito, simultaneamente, a uma vivência passada infeliz no plano
narcísico mais do que erótico e, ao mesmo tempo, permanece centrada sobre um futuro
melhor, tingido de esperança, de salvamento, investida na relação de dependência com o
outro.
Quadro 1:
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um modo de defesa. Para não ter de se fragmentar, o Ego deforma-se sem no entanto
rebentar e, assim, vai funcionar com o mundo exterior distinguindo-se neles dois sectores: um
adaptativo e um anaclítico.
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DOENTES PSICOSSOMÁTICOS
Ensaio da definição: Para se poder dizer que uma doença é psicossomática, tem de se
evidenciar a existência de um conflito. deve-se poder estabelecer a ‘’relação precisa que
existe entre a situação conflitual do doente e a sua doença, e isto até mesmo na própria
doença. Trata-se de conflitos que o individuo, em primeiro lugar com o mundo exterior e,
seguidamente intrapsíquicos. Esses mesmo conflitos provocam manifestações mentais ou
manifestações somáticas, ou de ambos os tipos, em proporção variável.
Etiopatogenia: Podemos ter casos de doentes que apresentam perturbações funcionais
sem afecção orgânica ou mental detectável; ou doentes portadores de lesões
acompanhadas de sintomas decorrentes de factores psicológicos; ou ainda doentes com
sintomas neurovegetativos, como asma, hipertensão, arterial e outros.
Uma emoção-choque é muitas vezes evocada na origem de certas doenças – diabetes,
entre outros. mas não se pode esquecer que uma determinada situação tem uma
importância particular para um individuo em função da sua história e do seu
desenvolvimento psicológicos. Estudos clínicos, efectuados em doentes em relação aos
quais se pôde estabelecer todos os antecedentes biográficos, demonstraram a existência
de uma relação cronológica entre a evolução da sua doença e os acontecimentos
repercutindo-se sobre a sua vida afectiva. A situação que precipita o individuo na doença
reveste-se para esse doente de um significado afectivo particular, por estar ligada ao seu
passado ou a uma problemática conflitual não resolvida.
Os afectos podem, assim, pela tensão emocional crónica que acarretam, levar à produção de
perturbações funcionais crónicas e, seguidamente de lesão orgânica. Por outro lado, se a
expressão motora ou verbal da agressividade ou da ansiedade se encontra bloqueada, as
descargas do sistema nervoso central são desviadas para o sistema vegetativo, provocando
perturbações patológicas no funcionamento dos órgãos.
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Nota terapêutica: o tratamento destes sujeitos deve consistir num contexto relacional afectivo
com o terapeuta. Uma compreensão profunda da personalidade do doente com esta
disposição é necessária para evitar uma irrupção psicótica ou um desmoronamento do
equilíbrio colectivo do meio circundante.
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