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Quanto ao desenvolvimento global, Gael foi avaliado por meio do teste IDADI1
(anexo). O teste evidencia atraso significativo no desenvolvimento em algumas áreas,
especialmente em cognição, habilidades socioemocionais e de comunicação, conforme
evidenciado pelos excertos abaixo. O desempenho da criança encontra-se muito distante da
média estatística esperada para a faixa etária.
O domínio cognitivo envolve os principais processos que permitem que a criança de
interprete o seu meio ambiente e responda de maneira pertinente. Alguns dos processos
avaliados foram: atenção, percepção, velocidade de processamento de informação,
processamento visuoespacial, formação de conceitos, abstração e simbolização. Os
resultados de Gael indicaram que ela possui atrasos quando comparado ao esperado para sua
faixa etária.
O mesmo acontece no domínio socioemocional. Os resultados do Gael foram abaixo
do esperado para sua idade, ou seja, ao considerarmos as habilidades envolvidas na regulação
emocional e comportamental, no entendimento dos sentimentos e emoções próprios e dos
outros e nos processos envolvidos no estabelecimento e manutenção da interação social o
desempenho dele evidenciou dificuldades significativas.
Os resultados de Gael no domínio de comunicação expressiva, que incluem as
habilidades referentes a fala e de uso da comunicação não oral (unidades de significado da
língua falada, gestos e expressões) para expressar tendo em vista transmitir informações e
interagir socialmente apresentaram atraso significativo com repertório de aquisição muito
inferior ao de crianças da mesma idade.
Gael apresenta habilidades dentro da média no domínio de motricidade ampla, ou
seja, a aquisição das capacidades envolvidas nas atividades que envolvem os grupos
musculares maiores como o andar, sentar-se, correr, permanecer em pé, equilibrar-se e
coordenar as atividades estão com desenvolvimento típico. O mesmo acontece ao
considerarmos as aquisições no domínio de motricidade fina relacionadas ao uso dos grupos
musculares menores (músculos dos pés, mãos, dedos, pulsos, lábios, olhos e língua) e seu uso
para alcançar, agarrar e manipular objetos seu desempenho de acordo ao esperado para sua
idade.
Gael também apresenta habilidades dentro do esperado para a idade nos aspectos
relacionados ao comportamento adaptativo, ou seja, seu desempenho foi aquém da média
esperada em tarefas do dia a dia, que contemplam o ganho de autonomia pessoal e social e
envolvem os cuidados pessoais de higiene, aspectos sensoriais e de relacionamentos.
Além do IDADI, foi aplicado também o check list de desenvolvimento do ESDM2. De
acordo com os resultados desse teste, Gael apresenta lacunas importantes em habilidades de
comunicação receptiva e expressiva, competências sociais, imitação e habilidades de jogo.
Essas lacunas referem-se ao esperado para uma criança típica entre 9 e 18 meses de idade
cronológica, o que sugere um atraso considerável no desenvolvimento atual de Gael.
Gael apresenta produção de fala restrita em número de fonemas e frequência de
produção, o que pode sugerir um futuro diagnóstico de transtorno motor de fala.
Conclusão e conduta:
Para crianças pequenas como Gael, as abordagens mais indicadas seriam as aquelas
como o ESDM. A fim de definir a eficiência de uma proposta de intervenção, a metodologia
de pesquisa mais confiável são os estudos controlados randomizados. Estes et al (2015)9
acompanharam 39 crianças com TEA num ensaio clínico randomizado para testar a eficácia
do ESDM entre 18 a 30 meses de idade. A terapia foi realizada em alta intensidade (mais de
dez horas de terapia) em casa por 2 anos e mostrou evidências de eficácia imediatamente
após o tratamento. Os grupos foram randomizados e divididos entre o grupo ESDM e o grupo
que recebeu intervenção comportamental comum. As mesmas crianças foram reavaliadas
aos 6 anos de idade (ou seja, dois anos após o término da intervenção), por avaliadores cegos
(que não conheciam as condições anteriores). Os resultados obtidos sugerem que o grupo
ESDM, manteve os ganhos obtidos na intervenção precoce durante o período de
acompanhamento de 2 anos na capacidade intelectual geral, comportamento adaptativo,
gravidade dos sintomas e comportamento desafiador. Não foi percebida diferença nos
sintomas centrais do autismo logo após o término da intervenção, mas apenas dois anos
depois, quando o grupo ESDM apresentou melhora dos sintomas autísticos e de
comportamento adaptativo em comparação com o grupo de intervenção comportamental
convencional. Os grupos mantiveram desempenho similar quanto ao funcionamento
cognitivo aos 6 anos. Outra consideração importante é que os dois grupos receberam horas
de intervenção equivalentes durante o estudo original, mas o grupo ESDM recebeu menos
horas durante o período de acompanhamento.
Edinizis Belusi
CRFa. 3-17.344
Fonoaudióloga – USP
Mestre em Linguística – UnB
Formação para diagnóstico de TEA (ADOS-II) e
para intervenção precoce (ESDM – Modelo de Denver)
Referências: