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Maria Beatrix De Lorenzo Azevedo

NEUROLOGISTA INFANTIL

LAUDO MÉDICO

Declaro para os devidos fins que, NOME, IDADE encontra-se em acompanhamento médico
por se enquadrar no Transtorno do Espectro Autista - CID 10 F84.0 ou CID 11 6A02.0;
TDAH, apresentação xxxxxxx – CID 10 F90.0 ou CID 11 6A05,2. O diagnóstico é
realizado segundo os Critérios do Manual Diagnóstico e Estatísticos de Transtornos Mentais
- 5ª Edição - DSM-5.

Para contextualizar:

Segundo o DSM-5, autismo é definido como um transtorno do neurodesenvolvimento,


caracterizado por dificuldades de interação social, comunicação e comportamentos
repetitivos e restritos, podendo se enquadrar dentro de três categorias do manual:
deficiência social, dificuldades de linguagem e comunicação, comportamentos repetitivos
e/ou restritos.

Visando ampliar a compreensão das pessoas envolvidas no tratamento desse paciente


(prestadores de saúde - planos de saúde, SUS, escola e profissionais do judiciário), ressalto
que o autismo é um transtorno que dificulta a vida social e funcional do paciente, podendo
gerar prejuízos definitivos quando falhamos no tratamento, o que já é bem evidenciado.
Contudo, a adesão ao protocolo terapêutico, de modo precoce e constante, promove o
ganho de resultados significativos ao desenvolvimento do indivíduo. Mediante tais fatos,
consideramos URGENTE a adesão ao tratamento, visando a redução dos prejuízos
supracitados e preservação da vida - visto que a incapacidade na compreensão de
habilidades sociais e a ausência de previsibilidade sobre atos e ações pode conferir risco à
vida.

Seguindo as orientações constantes da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil,


recomendações da OMS, da Sociedade Brasileira de Pediatra – SBP, conforme o Manual
da Sociedade Brasileira de Pediatria de abril/2019, e revisões sistemáticas importantes
(como de Jane Howard de 2005-2014-2020 que corrobora com estudos de Ivar Lovaas de
1987 e Svein Eikeseth de 2002), recomendo que as terapias realizadas sejam baseadas na
ciência ABA (Applied Behavior Analysis – Análise do Comportamento Aplicada).

Conforme consta na literatura, a ciência que apresenta evidência em efetividade de


tratamento para pessoas com TEA é a Análise do Comportamento Aplica (Applied Behavior
Analysis - ABA), realizada de forma intensiva e com profissionais com as devidas
qualificações (National Professional Development Center on Autism Spectrum Disorder,
2017; Montenegro, Celeri e Casella, 2018; Steinbrenner et al, 2020; Lai et al, 2020;
Montenegro et al, 2020; Keenan e Dillenburge, 2021; GOMES et al, 2019). Assim, como se
faz importante, o envolvimento dos pais, cuidadores e escola (WARREN et al, 2011).

A eficácia da ciência ABA é cientificamente comprovada e apresenta resultados superiores


em relação a outros métodos de intervenção. Desde 1987, quando Ivar Lovaas publicou o
estudo pioneiro no Journal of Consulting and Clinical Psychology (volume 55, n.º 1,3-9), há
evidências que comprovam a diferença significativa na evolução das crianças que
receberam tratamento ABA de alta intensidade. Portanto, a orientação não é uma novidade
ou um exagero.
Svein Eikeseth (2002), avaliou 2 grupos com os seguintes resultados: o primeiro grupo,
submetido ao protocolo de ciência ABA, obteve 17 pontos de QI. Enquanto, o segundo
grupo, submetido ao tratamento eclético sem ABA (carga horária terapêutica igual ao
primeiro grupo), obteve somente 4 pontos de QI (65% de diferença). Quanto à linguagem
receptiva: ganho de 13% no grupo ABA e 1% no grupo eclético; na linguagem expressiva
27%, contra ganho de 1% (2700% de diferença). Comportamentos adaptativos ganho de
11% no grupo ABA e 0% no grupo não ABA.

Este mesmo estudo foi posteriormente replicado em 2005 e 2014 com elevada
confiabilidade por Jane S. Howard e outros (Comparison of behavior analytic and eclectic
early interventions for young with autism after three year). Tais replicações sistemáticas,
confirmaram os resultados superiores das terapias baseadas em ABA em relação a outros
métodos de intervenção. Dados relevantes foram observados, como o fato de que crianças
com menor desenvolvimento do grupo ABA apresentaram resultados significativamente
melhores do que crianças com maior desenvolvimento do grupo de terapias ecléticas.

Em nova replicação de estudo, realizada em 2020 (“Helping parents close treatments for
young children with autism: A comparison of applied behavior analysis and eclectic
treatments"), os resultados anteriores foram reforçados: crianças que receberam
tratamentos baseados na ciência ABA apresentaram um desenvolvimento
significativamente melhor do que aquelas que receberam tratamentos não baseados em
ABA, com uma carga horária adequada de intervenção.

Importante meta-análise publicada em 2018, conclui que os programas baseados em ABA


são muito efetivos para aumentar habilidades intelectuais. Efeito moderadamente a muito
efetivos para aumentar a linguagem expressiva, linguagem receptiva e regras de
comunicação. Moderadamente efetivo para melhorar comportamento adaptativo,
socialização e o quociente de inteligência através de teste objetivos. The effectiveness of
applied behavior analytic interventions for children with Autism Spectrum Disorder: A meta-
analytic study/2018;

Segundo Copeland & Buch (2013: REICHOW, 2012: Virués-Ortega, 2010), nos últimos 30
anos, a aplicação intensiva e precoce da intervenção analítico comportamental (ABA)
produz melhoras significativas no comportamento de crianças autistas.

Em publicação, McDonald, Parry – Cruwys Dupere, & Ahern, 2014, demonstram que, após
1 ano de tratamento das terapias, houve melhora significativa nas habilidades sociais e de
comunicação dos pacientes. Demais estudos revelam que, além de intensa e constante, as
intervenções ABA devem ser realizadas em todos os ambientes frequentados pela criança
(CASA-ESCOLA-CLÍNICAS).

Entre 2009 e 2012, o National Standard Project - National Autism Center, fez uma revisão
sistemática em mais de 1114 estudos sobre intervenções em autismo, para avaliar e
identificar práticas baseadas em evidências no tratamento do Transtorno do Espectro
Autista. A partir desses estudos, foram encontradas 14 intervenções com evidências
científicas estabelecidas para o tratamento do autismo, entre as quais: 12 são baseadas em
Análise do Comportamento Aplicada - ABA, as outras 2 intervenções são terapia em Ayres
e Terapia Cognitivo Comportamental, para pacientes autistas maiores de 6 anos com baixo
nível de suporte.

Evidence-based Practices for Children, Youth and Young Adults with Autism, do NCAEP,
2020, destaca que, além das intervenções globais baseadas na ciência ABA, várias práticas
são consideradas parte do tratamento comprovadamente científico, como Comunicação
Alternativa Aumentativa (CAA), Terapia Cognitivo-Comportamental, Intervenção Naturalista,
Intervenção Mediada por Música e Integração Sensorial de Ayres.

A ciência ABA poderá ser aplicada com supervisão do responsável pelo caso, geralmente
um analista do comportamento. Esse profissional será responsável por avaliar as
habilidades em excesso ou em déficit, montar programas terapêuticos (PIT/PEI) e
supervisionar os aplicadores das sessões.

O tratamento com base na ciência ABA necessita de precocidade, intensidade, quantidade


e continuidade - tais fatores elevam sua eficácia, sendo imprescindível seguir a carga
horária prescrita para cada especialidade solicitada. É necessário dizer que, devido à
neuroplasticidade, há um período sensível ao aprendizado que deve ser considerado.
Quando a privação do tratamento adequado, são gerados atrasos significativos que
podem ser permanentes na vida do paciente.

Assim, diante dos dados expostos, recomendamos que o tratamento seja realizado, em
caráter emergencial, visando a diminuição de prejuízos permanentes. Para tanto, solicito:

 Terapia com Análise com Comportamento Aplicada – ABA – 20 horas


semanais. O tratamento deverá ser realizado em ambiente natural de
socialização da criança.
O paciente precisa de 3 a 5 supervisões pela analista de comportamento.

 Terapia com Análise com Comportamento Aplicada – ABA - com abordagem


naturalista pela metodologia DENVER – 20 horas semanais. O tratamento
deverá ser realizado em ambiente natural de socialização da criança. O
paciente precisa de 3 a 5 supervisões pela analista de comportamento.

 Fonoaudiologia especializado em Comunicação Aumentativa Alternativa –


CAA – 5 vezes por semana;

 Fonoaudiologia especializado que utilize dos princípios da aprendizagem


motora, tais como o Prompts for Restructuring Oral Muscular Phonetic Targets
(PROMPT), e/ou Dynamic Temporal and Tactile Cueing (DTTC), e/ou Rapid
Syllable Transitions (ReST), entre outros. – 5 vezes por semana;

 Terapia Ocupacional com Integração Sensorial em Ayres - 3 vezes por semana;

 Fisioterapia especializada em autismo - 3 vezes por semana;

 Psicomotricidade - 3 vezes por semana;

 Nutricionista especialista em seletividade alimentar;

 Musicoterapia – 1 vez por semana;

 Psicopedagogia – 3 vezes por semana;

Solicito manter acompanhamento de pediatria, consulta com oftalmologista e


otorrinolaringologista.
A equipe responsável pelo tratamento deverá fazer o treinamento parenteral e escolar. Os
pais deverão ter acesso as terapias e receber devolutivas por laudos (trimestrais). O treino
de familiares e escola viabiliza replicar o plano terapêutico em ambiente natural e generaliza
comportamento. É imprescindível que a família entenda os objetivos a curto prazo e
barreiras de aprendizado.

As sessões realizadas em clínica, devem ter tempo mínimo de 45 minutos cada.

Recomendo que as sessões terapêuticas ocorram em um local próximo à sua residência, a


fim de otimizar o tempo da criança e minimizar as dificuldades de locomoção de família.
Ressalto a importância do respeito ao vínculo terapeuta-paciente já estabelecido pela
criança. Todos os profissionais envolvidos devem possuir especializações adequadas no
protocolo terapêutico. O tratamento é dinâmico e pode haver ajustes na quantidade de
horas e terapias.

A escola contempla o tratamento do autismo. Assim, o paciente deverá estudar em escola


regular adaptada às suas realidades, com acompanhamento de Assistente Educacional
INDIVIDUALIZADO, supervisionado pelo responsável do caso conforme a lei federal
12.764/12 complementada pelo Decreto 8.368/14 que determina que a atuação do
acompanhante especializado é obrigatória quando o autista apresenta dificuldades nas
atividades escolares desenvolvidas, cabendo ao profissional ministrar e intervir sempre que
surgirem necessidades próprias no âmbito escolar. Caso a escola não tenha um profissional
especializado, deverá realizar o treinamento com a equipe responsável pelo caso do
paciente, aprendendo a conduta comportamental adequada para aplicar o protocolo
terapêutico. Reforço que o profissional individualizado em sala de aula deverá preencher
relatórios para o supervisor do caso, fazer supervisões semanais e responder à família.

É dever da escola, proceder com a adaptação de materiais, provas, avaliações e atividades,


tudo conforme a capacidade do aluno, baseado no PEI (Programa Educacional
Individualizado), independente de se tratar de escola pública ou privada. Destaco a
ilegalidade na cobrança por tais serviços especializados e adaptações, conforme a Nota
Técnica 24/2013 do Ministério da Educação que dispõe: “as instituições de ensino privadas,
submetidas às normas gerais da educação nacional, deverão efetivar a matrícula do
estudante com TEA no ensino regular e garantir o atendimento às necessidades
educacionais específicas. O custo desse atendimento integrará a planilha de custos da
instituição de ensino, não cabendo o repasse de despesas decorrentes da educação
especial à família do estudante ou inserção de cláusula contratual que exima a instituição,
em qualquer nível de ensino, dessa obrigação.”

Outrossim, negar o ingresso da criança ou suas adaptações é cabível de pena, conforme


Lei Federal 7853/89, Art. 8°.

O laudo médico possui validade em todo o território nacional, sendo o médico neuropediatra
responsável por avaliar atrasos no desenvolvimento infantil. Realizar a avaliação formal do
Desenvolvimento Neuropsicomotor é parte integrante da consulta neuropediátrica. Alegar
invalidade deste laudo gera prejuízos ao prescritor, à família e, acima de tudo, à criança,
uma vez que o atraso no início às intervenções pode causar danos irreversíveis ao
desenvolvimento infantil. Conforme Lei n.º 13.438/2017, “esses profissionais
especializados que farão o diagnóstico e o tratamento podem ser pediatras, médicos
especialistas e demais profissões da saúde que atendem aos problemas de
desenvolvimento infantil, como psicólogos e terapeutas ocupacionais.”

D esde já agradeço,
Maria Beatrix Azevedo,
Neurologista infantil
CRM-ES 3943 – RQE 2158
Pós-graduada em Transtorno do Espectro do Autismo
Vitória, 00 de xxxxxxx de 202x.

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