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2020/2021

Índice
ENTREVISTA ................................................................................................................ 6

ENTREVISTA CLÍNICA .......................................................................................... 7

OBJETIVOS DA ENTREVISTA ................................................................................ 8

FASES DA ENTREVISTA ........................................................................................ 9

TIPOS DE ENTREVISTA .............................................................................................10

ENTREVISTA DE RASTREIO/RECOLHA DE DADOS .........................................10

ENTREVISTAS PRÉ E PÓS TESTE ........................................................................11

ENTREVISTA BREVE DE AVALIAÇÃO ................................................................12

ENTREVISTA DE CONCLUSÃO .............................................................................13

ENTREVISTA DE AVALIAÇÃO DO ESTADO MENTAL ......................................13

ENTREVISTA DE ESTUDOS DE CASO .................................................................16

ENTREVISTA DE INVESTIGAÇÃO .......................................................................17

TÉCNICAS DE ENTREVISTA ...................................................................................19

QUESTIONAMENTO ..............................................................................................19

REFLEXÃO ..............................................................................................................20

REFORMULAÇÃO (Paráfrase) ..............................................................................21

CLARIFICAÇÃO .....................................................................................................22

CONFRONTAÇÃO ..................................................................................................22

AUTOREVELAÇÃO................................................................................................23

EXPLORAÇÃO ........................................................................................................24

REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA ......................................................................24

ENTREVISTA DE ESTUDO DE CASO .....................................................................25

EXERCÍCIO PRÁTICO ..........................................................................................26

CONSTRUÇÃO DO “RELATÓRIO” DO ESTUDO DE CASO ...........................28

TÉCNICAS DE ENTREVISTA (2) .............................................................................30

INTERPETAÇÃO ....................................................................................................30

HUMOR ....................................................................................................................31

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PROVOCAÇÃO .......................................................................................................32

GENERALIZAÇÃO .................................................................................................32

FOCAGEM/FOCALIZAÇÃO .................................................................................33

ECOAR .....................................................................................................................33

RACIONALIZAÇÃO ...............................................................................................34

INFORMAÇAO À MEDIDA ...................................................................................34

SILÊNICIO ...............................................................................................................35

• SILÊNCIO DE INIBIÇÃO ............................................................................35

• SILÊNCIO DE PASSIVIDADE (próprio) ....................................................36

• SILÊNCIO REGRESSIVO (circunstancial) .................................................37

• SILÊNCIO DEFENSIVO (transferencial) ....................................................38

• SILÊNCIO DE PAUSA .................................................................................38

• SILÊNCIO REFLEXIVO ..............................................................................39

EXERCÍCIO PRÁTICO: MARIA, 37 anos ...................................................................40

TEXTOS SOBRE SILÊNICOS....................................................................................46

ENTREVISTA FAMILIAR .........................................................................................48

EXERCÍCIO PRÁTICO: PEDRO, 19 anos ...................................................................50

CONDIÇÕES EXTERNAS E FACILITADORAS DA RELAÇÃO ..........................60

→ RELAÇÃO CLÍNICA ..........................................................................................60

→ SETTING .............................................................................................................60

→ ESPAÇO (IDEAL) ...............................................................................................61

→ TEMPO ................................................................................................................63

→ PEDIDO................................................................................................................65

FACILITADORES DA RELAÇÃO (continuação) .....................................................74

ATITUDES E COMPORTAMENTOS DO PSICÓLOGO.....................................74

→ APARÊNCIA .......................................................................................................75

→ FALAR .................................................................................................................76

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→ TRATAMENTO...................................................................................................76

→ CUMPRIMENTO ................................................................................................77

→ NIVÉIS DE PERMISSIVIDADE ........................................................................77

PSICOTERAPIA DE APOIO ......................................................................................86

→ INVESTIGAÇÃO ................................................................................................89

→ CONTEXTO DE EMERGÊNCIA ......................................................................90

→ OBJETIVOS ........................................................................................................92

→ MODALIDADES PRÁTICAS .............................................................................96

o Psicoterapia de Apoio de Curta Duração (Intervenção na Crise) ................97

o Psicoterapia de Apoio de Longa Duração .....................................................99

o Psicoterapia de Apoio de Média Duração ................................................... 101

PSICOTERAPIA DE APOIO (2) ............................................................................... 105

→ ATITUDE DO TERAPEUTA............................................................................ 105

→ ASPETOS DA TÉCNICA .................................................................................. 108

→ TÉCNICAS ......................................................................................................... 111

→ INDICAÇÕES .................................................................................................... 116

→ CONTRAINDICAÇÕES (LIMITES) ............................................................... 116

DESENVOLVIMENTO TERAPÊUTICO DA PSIC. DE APOIO ........................... 119

→ ESTABELECIMETO DA RELAÇÃO (e a determinação da tarefa terapêutica)


........................................................................................................................................ 119

→ TRANSFERÊNCIA ........................................................................................... 121

SUPERVISÃO ............................................................................................................ 126

PSICOTERAPIA VIRTUAL ..................................................................................... 126

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1ª Aula Prática (24/02/2021)

o FOCO: entrevista clínica e psicoterapia de apoio


o Entrevista e os diferentes tipos: muitas formas e objetivos diferentes
✓ entrevista de estudo de caso
o entrevista familiar (ver de um modo mais prático)
o Técnicas de entrevista (o que dizemos às pessoas). “porque é que disse sim?” o que
é que isso quer dizer, qual é o objetivo? Todas as nossas frases ancoram uma técnica
de entrevista.
✓ a partir de textos de entrevista vamos tentar identificar tais técnicas. E num
segundo momento, perante intervenções de pacientes, o professor pede para
fazermos uma intervenção para o paciente
o Questões do corpo do psicólogo e todas as implicações que isso tem na terapia:
comunicação não verbal, o corpo em si, etc.
o Condições externas facilitadoras da relação (concreto e prático): o que é um espaço
adequado, questões ligadas com o tempo, a distância que devemos estar das pessoas
o Como é que respondemos a situações que nos acontecem na prática todos os dias.
e.g. quando nos perguntam sobre a nossa vida pessoal, quando encontramos alguém
a rua, etc.
o Entrevistas com bebés e crianças
o Psicoterapia online
o Psicoterapia de apoio: aspetos psíquicos

Avaliação:
o Trabalho (30%) e exame (70%)

LIVROS: meio em março

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1ª Aula Teórica (26/02/2021)

ENTREVISTA
Na psicologia a entrevista tem uma importância primordial, que vai para além da simples
recolha de informação. A entrevista é também um método de avaliação e diagnóstico e o
momento do estabelecimento de uma relação, eventualmente em direção a abordagens
psicoterapêuticas.
Encontro pré-definido entre das pessoas ou mais. Há alguém que é um entrevistador e um
entrevistado. Estes papéis estão definidos à partida. Consiste na colocação de questões e toda
a gente está de acordo que não seja confundida com um interrogatório.
É uma forma particular de conversação onde há um conjunto de técnicas que o entrevistador
usa, com consciência, porque psicólogos usam as técnicas de entrevista de uma forma
intencional e estruturada, e que tem uma teoria. Existe a técnica e a teoria da entrevista. Não
é exclusiva dos psicólogos, é utilizada por médicos, sociólogos, etc., mas não é utilizada como
os psicólogos a utilizam.
Há entrevistas, genericamente. Uma Entrevista Psicológica tem um corpo teórico que
permite pensar sobre a técnica e que de alguma forma vai também condicionar o modo como o
entrevistador escuta o entrevistado. A psicologia tem sempre quadros teóricos de referência e
para ser psicológica tem de estar enquadrada num quadro específico.
As Entrevistas Clínicas, são um tipo das psicológicas, onde não estamos à espera de
resposta. O entrevistado espera que lhe façam perguntas, mas também que lhe deem repostas.
O entrevistador, vai colocar-se na posição de fornecer alguma informação ao entrevistado.
AQUI estamos a fazer isto a favor do entrevistado.
Apesar de apenas algumas entrevistas se destinarem a servir o entrevistado, todas as
entrevistas realizadas por psicólogos são entrevistas psicológicas. Ou seja, estas entrevistas,
apesar de serem as mesmas que as entrevistas antropológicas, sociológicas ou médicas, são
diferentes pois recorrem a teorias e modelos específicos, neste caso psicológicos, que
organizam as interações estabelecidas e dão sentidos particulares à própria informação
adquirida por este meio.

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ENTREVISTA CLÍNICA (com base no quadro teórico psicanalítico):
É uma situação dinâmica e exige várias coisas do psicólogo:
o uma grande maleabilidade: é fundamental, e o psicólogo tem de se adaptar à
situação concreta e ao contexto onde esta e as às variáveis do paciente. Um paciente
com várias características, obriga-nos a uma adaptação;
o alguém que esta a estabelecer uma relação. Não é fácil. E não e fácil de manegar o
processo, para a relação se manter. A atitude de um psicólogo é de neutralidade
sintónica e uma abstenção de tomada de posição relativamente ao material que os
outros no dão. E como entrevistadores não é suposto tomarmos uma posição;
o É suposto mantermos alguma sintonia;
o Atitude Empática: aberta, uma intuição compreensiva;
o Estar abertos às ressonâncias do nosso paciente;
o Posição de observação: que é critica e que é autêntica. Temos de ter uma liberdade
de ouvir/escuta (atenção flutuante e associação livre, não se aplica à entrevista, mas
há uma não diretividade possível).

É um instrumento de trabalho e uma técnica de investigação. Tem regras e é o


instrumento mais fino da psicologia. Não pode ser substituído nunca pelos testes psicométricos.
Os testes vão confirmar uma impressora que tínhamos na entrevista. Fazendo apenas os testes
não é suficiente chegar a uma conclusão, e é necessária uma entrevista.
Temos de ter consciência que não podemos agradar a toda a gente, por causa das nossas
características (e.g. sexo, forma de intervir, etc.) e estas coisas que podem dificultar a relação,
na entrevista, e devem ser tratadas após sessão. Todos os comportamentos que se geram na
entrevista, os nossos erros vão ajudar-nos (com os nossos erros vamos aprendendo. Por
exemplo, “para a próxima não posso fazer isto…”).
Na situação de entrevista temos uma situação que pode ser paradoxal: temos de recolher
dados, mas também não queremos passar a entrevista a fazer perguntas. Não queremos estar
a fazer um interrogatório sobre a vida da pessoa, e por isso, temos de gerir estes paradoxos.
Temos de gerir o que a pessoa esta a contar, mas não de uma forma rígida.
Há de facto entrevistas que são fechadas, onde temos uma lista de questões que temos
de fazer, e no fundo esta aproxima-se mais de um interrogatório. Temos de colocar as perguntas
de uma forma não rígida, mas vamos adaptando a sua sequência. Podemos deixar a pessoa falar,
e de acordo com o discurso dela, vamos fazendo as respetivas perguntas.

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Importante: não é só o que é dito que nos dá informação. Temos de estar com particular
atenção à entoação, aos gestos, ao comportamento não verbal, etc. (observação clínica)

Temos três conceitos idênticos, mas que no fundo são muito diferentes:
Entrevista: é um procedimento que parece na consulta. É uma forma de atender uma
consulta. Procura o comportamento total. Numa relação já estabelecida, vamos obter dados, mas
não é só isso, queremos conhecer a pessoa. Temos de estar numa tripla posição: vamos escutar
(ouvir), observar e vivenciar (estes aspetos que vivenciamos são tao importantes como os
anteriores); Tem muitas variáveis, comparando ao momento de fazer a anamnese. Aqui temos
de deduzir o que a pessoa não sabe e o que não nos está a contar.
Anamnese: implica a compilação de dados pré-estabelecidos de forma a fazer uma síntese
da história e a situação presente do indivíduo. O entrevistador é como um moderador. O que
o paciente não nos diz, não temos de retirar, e o que ele diz a mais não interessa. Não procura o
comportamento total; Assumimos que o que a pessoa está a dizer, é o que vamos trabalhar.
Assumimos que aquilo é verdade. Trabalha-se com a suposição de que o paciente conhece a sua
vida e consegue dar dados sobre ela.
Consulta:

OBJETIVOS DA ENTREVISTA
É esperado que na 3 consulta tenhamos os objetivos para a tal pessoa, e qual o plano. O
ideal é quando há reciprocidade nos objetivos. Às vezes não há. Quando alguém nos procura
(procura ajuda) e nós fazemos uma entrevista, e ficamos com dúvidas, fazemos mais 1 ou 2
entrevistas, e fica claro que aquele paciente tem de ser medicado. Isto às vezes introduz uma
interferência entre nós e o paciente. Se o paciente não quer, isto vai introduzir uma “não
sintonia”.

Alguns FENÓMENOS PSÍQUICOS:


o Transferência: que pode ser negativa ou positiva. Mas também há a resistência à
transferência. Quando é muito intensa (nada a ver com neurose de transferência),
potenciada pela assimetria entre paciente e clínico, pode impedir a evolução da
entrevista, pode levar a rutura ou à passagem ao ato. Exemplo: um terapeuta está a
trabalhar e vem um adolescente delinquente com um pai abusivo. O terapeuta tem a
idade do pai. A rejeição pode ser tão intensa por o terapeuta ser associado à figura

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parental ou à figura de autoridade, que a pessoa vai resistir. Pode levara a uma não
adesão, a uma rutura precoce ou passagens ao ato.
Se é muito intenso, há uma resistência perante a transferência!
o Contratransferência: devemos observar o paciente, mas também a nós próprios. Há
muitas variáveis do paciente que mexem connosco e é importante mantermos a
serenidade (muito fundamental). Nós estamos serenos, calmos e temos presença de
espírito. Manter a calma e a serenidade – é importante o entrevistado sentir que nós
estamos calmos e serenos; Temos de nos distanciar dos nossos problemas – tanto nossos,
como problemas que o entrevistado nos traz;
o Empatia: a palavra bondade é perigosa! Empatia não é ser bom, caridoso, etc. Quando
mais difícil a população, mas difícil é “utilizar a empatia”. É muito importante que (o
facto de não conseguirmos empatizar) seja contido, pensado, etc., pois pode sair muito
subtilmente sem darmos conta;
o Ansiedade: é um afeto que deve ser bastante monitorizado. Quando aparece, qual a
intensidade? Um certo grau/quantidade pode ser motor para a entrevista correr, quer
nosso, como do entrevistado (não é necessariamente mau) – é um momento que provoca
alguma destruturação nos intervenientes; Temos de estar serenos, mesmo quando
ansiosos; Pode ser instrumentalizada;
o Estabilidade Biológica: não devemos estar cheios de fome, ou com vontade de ir para
a casa de banho, não devemos estar mal com a temperatura; o ter cuidado com nós
próprios é muito importante
o Situação Afetiva: temos de cuidar da nossa vida afetiva para cuidar a dos outros.
Observar a dor outros, significa observar a nossa. Se não tivermos cuidado, não
conseguimos atuar. Se estivermos ansiosos com o que o outro conta, podemos
demonstrar uma certa atitude fóbica, e dificultar a relação. Se o entrevistador projetar os
seus conflitos no entrevistado, pode evitar certo tema.

FASES DA ENTREVISTA
Temos de ver se a pessoa se mantém calada ou se começa logo a falar sobre si, se é sobre
um tópico específico (e.g. diabetes), etc.
O típico recolher: nome, idade, profissão, morada – o prof. não se sente confortável em
fazer isso.
Normalmente, numa fase inicial, os pacientes começam a falar do presente.
A meio (podem) começar a falar do passado.

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Podemos antecipar o final, e não devemos fazer perguntas que tenham um grande
desenvolvimento.
Depois da entrevista é necessário tempo para organizar o material.

As classificações mais comuns remetem para:


o Níveis de estruturação de entrevista (nada estruturada a muito estruturada, onde
predomina a diretividade);
o Meio ambiente emocional (muito caloroso a extremamente frio);
o Os objetivos (o melhor critério para classificar entrevistas).

2ª Aula Prática (03/03/2021)

TIPOS DE ENTREVISTA
Cada tipo de entrevista que fazemos apela uma certa atitude.
Visa o benefício do entrevistado. O nosso cliente é para ser o benefício. Contudo nem
sempre acontece isso na prática. Por exemplo, quando trabalhamos em instituições.

Há diversas classificações de entrevista – Craig (1989) considera vários tipos, tendo em


atenção os objetivos pretendidos na entrevista psicológica:

ENTREVISTA DE RASTREIO/RECOLHA DE DADOS


Faz se normalmente em contexto institucional (e.g. hospital). Por vezes as pessoas pedem
a intervenção do psicólogo, na sequência de um pedido que pode ser feito pelo próprio utente
que procura o serviço, mas pode ser feito pelo médico de família que encaminha, ou um juiz do
tribunal de menores que a solicita. (a informação recolhida deve ser suficiente para apresentar
o caso em reunião).
Normalmente há um dia da semana, onde um psicólogo faz várias entrevistas de rastreio (a
quem pediu). Há outros contextos, como por exemplo em tribunal (e.g. divórcios – entrevistas
as crianças); O psicólogo que está a fazer a entrevista também está a ver a reposta que a
instituição tem, e por isso, muitas vezes há um encaminhamento para outro serviço específico.
Tem por objetivo recolher um conjunto de dados significativos, do ponto de vista do
contexto em que a entrevista ocorre. No fundo trata-se de obter informação sobre o caso de
forma a o poder orientar – em última análise destina-se a averiguar o interesse e possibilidade

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de uma intervenção de cariz marcadamente psicológica em relação a um utente que não fez o
pedido diretamente, mas foi encaminhado para o psicólogo. Também permite saber que recursos
tem a instituição disponível para dar resposta à problemática do paciente ou caso não tenha,
encaminhar para outra instituição, que pode até não ser para a psicologia (pode ser por exemplo
medicina interna, ou psiquiatria, ou neurologia).
São também explicadas ao utente as regras da instituição (e.g. processo para ele ter acesso
a determinado serviço); Muitas vezes os utentes são encaminhados para serviços não
psicológicos (e.g. serviços médicos – psiquiatria, outros serviços de saúde físicas, e até mesmo
serviços socais da instituição). A instituição é que é o nosso cliente, e é para ela que procuramos
benefício (mais uma entrevista psicológica do que clínica). São entrevistas mais estruturadas
(às vezes com guiões) e um pouco mais fechadas, mais curtas e mais focadas; Recolher
material para depois sabermos o que é para fazer com as pessoas; são quase como uma triagem.

De uma forma mais sistemática, a entrevista de recolha de dados deve permitir:


o Classificar a natureza dos serviços que a instituição pode oferecer naquele caso
específico (é necessário ter em conta o que é que um psicólogo numa prisão, num
hospital psiquiátrico, numa maternidade, num serviço oncológico, etc., pode
efetivamente oferecer);
o Comunicar regras e normas da instituição ao utente;
o Determinar o tipo de tratamento e o terapeuta mais adequado para aquele utente;
o Obter informações gerais para os registos da instituição (é fundamental contribuir
para a manutenção de um banco de informações atualizadas sobre a história do
sujeito e das eventuais recorrências à instituição);
o Determinar a indicação de outros recursos, caso se justifique

ENTREVISTAS PRÉ E PÓS TESTE


Muitas vezes existe o pedido do psicólogo antes e depois da intervenção, como por
exemplo, um exame médico. Exemplo: há um médico que vê os exames de um cliente e vê que
há possibilidade de esse ter um cancro. O médico conhece a história do paciente e fica um pouco
receoso com a reação do mesmo, então chama o psicológico para fazer uma entrevista pré
exame para perceber o estado do paciente e prepará-lo para o exame e depois faz uma pós para
o ajudar a lidar com o resultado.
É importante os psicólogos terem noção de qual o seu território – nós só entramos num
segundo plano – quando o paciente já recebe os resultados – e os ajudamos a lidar com isso;

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Também intervimos na interrupção voluntária de gravidez – existindo tanto a pré como a pós
(esta última é voluntaria. Nas fertilizações em vitro a mesma dinâmica).
Uma entrevista de pré teste pode servir para explicamos os objetivos da testagem, por
exemplo, há um trabalho de seleção e as pessoas vão ter uma bateria de teste definida pelos
psicólogos. Antes de começar a passar os testes às pessoas posso aplicar uma entrevista pré-
teste para explicar as pessoas o que vamos fazer, que testes vamos fazer, explicamos que devem
estar distraídas, etc. E depois dos resultados podemos voltar a ter uma entrevista com as pessoas,
principalmente se os resultados forem desaforáveis.
Um tipo de entrevista que se faz antes e depois de uma intervenção (aplicação de um teste
psicométrico, aplicação de um teste médico (como o teste do HIV) ou mesmo uma cirurgia de
elevado risco). Neste caso não há propriamente continuidade, é algo de pontual. No pré-teste
faz-se uma avaliação do paciente de forma a perceber até que ponto está preparado para o teste,
explica-se o procedimento e os seus objetivos. No pós-teste devolve-se a informação recolhida,
esclarecem-se dúvidas e são comunicadas alternativas de encaminhamento.
Contudo, este tipo de entrevista também pode ser utilizado perante uma avaliação
psicológica, especialmente quando não solicitada pelo próprio individuo.

ENTREVISTA BREVE DE AVALIAÇÃO


Num tempo curto o psicólogo vai avaliar um aspeto particular das pessoas. Normalmente
também ocorrem em contexto institucional – processos de recrutamento, escolas, etc. É uma
entrevista focal. É sempre posterior a outra avaliação, a pessoa já foi vista por outros técnicos
e nós vamos ajudar os colegas a tomar uma decisão que não conseguiam tomar antes. Por
exemplo, nos exames jurídicos, para além dos exames teóricos, existem os testes psicológicos.
Quem não passa nestes últimos não pode ter o trabalho. Quando os resultados são incongruentes
(os dos testes psicológicos), estes casos são passados aos psicólogos para os mesmo avaliarem
os resultados dos testes psicométricos. No final destas entrevistas é sempre feito um relatório
para justificar o porquê de os candidatos reprovarem (temos de escrever tudo, sem escrever tudo
– as pessoas que vão ler o relatório não são psicólogos. É preciso ter isto em atenção. De acordo
com a pessoa que vai ler o relatório, temos de adaptar a nossa escrita). Termina um processo
que foi feito por outro!
Têm um tempo limitado e relativamente curto e em que se pretende avaliar um aspeto
particular do entrevistado. Tem por objetivo determinar se uma pessoa tem ou não perfil para
por exemplo integrar um programa especial, um trabalho ou se é necessário saber se uma pessoa

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pode ou não ter alta, por exemplo na sequência de uma tentativa de suicídio. Nestas entrevistas
são avaliados aspetos específicos, e não a história toda. Envolve uma decisão.

ENTREVISTA DE CONCLUSÃO
Corresponde ao fim da relação clínica que temos com alguém. Pode corresponder ao fim de
um processo psicodinâmico, a uma situação de alto internamento ou ambulatório, pode tratar-
se de uma entrevista pós-teste, ou pode dever-se à conclusão de um processo por impedimento
do psicólogo ou do paciente (mudança de serviço, ou de localidade).
Podemos chamar uma entrevista a uma última entrevista de uma psicoterapia de apoio, e no
final de um internamento (quando o doente tem alta). É uma entrevista de balanço – o que é
que foi feito, o que se devia ter feito, etc. É importante explicarmos as coisas importantes,
sublinhar os instrumentos e as capacidades do sujeito (ter força, que vai ser possível, há muita
coisa que se pode vir a descobrir, etc.) acreditando sempre no que estamos a dizer. Esta
entrevista é sempre feita após uma intervenção (psicológica). Perspetiva-se o futuro, realçando
os recursos adquiridos e as vantagens que podem proporcionar.

ENTREVISTA DE AVALIAÇÃO DO ESTADO MENTAL


É bastante estruturada e diretiva, e o objetivo é avaliar o grau de deterioração ou
disfunção em situações que sugerem doença psiquiátrica grave, estados de demência ou de
comprometimento neurológico, estados confusionais de causa orgânica ou por abuso de
substâncias. Avaliar problemas neurológicos ou orgânicos. No fundo fazer uma avaliação mais
psiquiátrica do caso. Pretende ultrapassar as limitações das classificações. Uma questão
importante é, qual é o valor da entrevista com uma avaliação muito fechada e concreta?
Esperam, também, resultados fechados e concretos.
O diagnóstico é muito importante, assenta em observar – comportamento, sintomas – e dar
atenção à história pessoal. Tem em conta muitos aspetos da psicopatologia. Vamos atender à
observação clínica e depois avaliar os vários aspetos estudados na psicopatologia descritiva
(Está lucido? Perturbações na memória? Perceção? Pensamento? Sono, Sexualidade, etc.) – os
resultados destas alterações permitem indicar perturbações e mais. Primordialmente utilizada
pelos psiquiatras.
A Observação Clínica começa imediatamente quando vamos buscar o paciente (não dado
a fundo na aula):
o Estar atento ao Olhar do Paciente. O Psicótico parece que nos atravessa, enquanto
que um paciente de estado limite (borderline) tem o olhar fugidio;

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o A forma como nos tratam;
o Como apertam a mão;
o Como se senta.

Continuação de Apontamentos Extra da Entrevista de Avaliação do Estado Mental:


Há contactos sintónicos e há contactos distónicos (claro que há uma ansiedade
característica de quem se desconhece, mas na realidade às vezes há uma distonia para além
disso: a linguagem, o aspeto da pessoa).
Isto pode considerar-se um critério mais subjetivo.
Também se avaliam coisas objetivas, como a perceção ou uma coisa mais psicopatológica.
(a observação clínica, embora seja transversal a todos os tipos de entrevista toma um cariz mais
preponderante na avaliação de estado mental, ou no acompanhamento em psicoterapia). É
necessário ter em conta que os aspetos subjetivos não podem ser determinantes e ter em conta
que são enviesados pelo nosso contexto.

o Dimensões de Avaliação nesta entrevista:

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ENTREVISTA DE ESTUDOS DE CASO (entrevista psicológica)
Pode-se fazer tudo o que se faz nesta última entrevista (entrevista de avaliação do estado
mental). Tem várias etapas de questões que temos de ter em conta.
A entrevista de estudo de caso é um aprofundamento da entrevista de recolha de dados e
é o instrumento mais nobre da psicologia. Não se fazem sempre estudos de caso, mas quando
se faz é uma técnica nobre.
O objetivo é esclarecer dúvidas sobre casos mais complexo. Os estudos de caso podem ser
discutidos numa reunião de equipa multidisciplinar. Na entrevista identifica-se áreas que
precisam de ser avaliadas e perceber que tipo de instrumentos devemos utilizar (note-se que
não se devem aplicar protocolos de testes: não é chapa 5 (fácil (?) e repetitivo) → cada paciente
deve ser alvo de um conjunto de testes adequado). Portanto é necessário para além da excelência
da entrevista fazer a escolha de outros instrumentos avaliativos, projetivos, psicométricos, etc,
que faça sentido aplicar.
A entrevista também permite dar um sentido aos resultados dos testes (a psicometria é
muito pobre e a entrevista ajuda a esclarecer os dados recolhidos com testes psicométricos).
Num estudo de caso, o quadro teórico do psicólogo já é relevante, já que vai ser à luz desse
quadro que a informação irá ser integrada.

Procedimentos envolvidos num estudo de caso:


o Escolha do caso (nem todas as situações podem ser alvo de estudo de caso, por
limitações temporais e pela natureza das próprias situações;
o Apresentação do caso (não se trata de ainda de discutir o caso, mas de formatar o
modelo a utilizar para que a partir dos dados recolhidos se possa chegar a uma história
narrável e compreensível. No fundo trata-se de decidir se se vão tirar notas gravar a
entrevistam etc);
o Contexto e setting de entrevista (é importante identificar o setting – especificidade do
ambiente em que a entrevista decorre – porque este decorre de um modelo teórico);
o Orientação teórica (é em função do referencial teórico que o psicólogo escolhe o
setting – entrevista cara a cara, divã, etc. – o número de sessões, o tempo de duração de
cada sessão e o intervalo entre elas. Também é em função do quadro teórico que serão
escolhidas as técnicas de entrevista, que se define o clima emocional em que a entrevista
decorre, etc.);
o Decurso da entrevista (é importante tomar nota da evolução da entrevista, dificuldades
no estabelecimento da relação, clima emocional vivido, detalhes não verbais expressos,

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conteúdos revelados, problemáticas que surgiram, situação pessoal do cliente, núcleos
de conflito emergentes, justificação dos instrumentos utilizados e impacto no paciente);
o Discussão e conclusão (integração da informação obtida: história concreta do
individuo, experiência acumulada, sínteses pessoais do psicólogo, quadro de referência
e bibliografia importante para o caso.

ENTREVISTA DE INVESTIGAÇÃO
Não estamos à procura do benefício do entrevistado. O objetivo desta entrevista é recolher
dados para efeitos de pesquisa. O consentimento é muito importante nesta, mas também noutras
circunstâncias. Não de deve dar a ideia de continuidade ou terapêutica e é preciso alguma
sensibilidade para não estar a ir ao encontro de situações mais problemáticas das pessoas. São
entrevistas mais ou menos estruturadas.
Podem tomar a forma de qualquer uma das anteriores. São feitas em prol do trabalho do
investigador e não do paciente. É conveniente, que quando estamos a utilizar a pessoa na nossa
investigação não a conduzamos para zonas de desorganização (a menos que a pessoa saiba e
tenha aceitado participar num estudo por exemplo sobre frustração).

Observação clínica é muito importante – são dados do comportamento total. Às vezes a


observação clínica conduz um pouco a entrevista.

Nota 1: O que diferencia que modelo de uso dos psicólogos é o tipo de técnica.
Nota 2: pode haver entrevistas e grupo, desde que haja uma técnica! Não é o caso dos
psicólogos que estão na escola e vão falar com os alunos para fazer os testes vocacionais. Nestes
casos, normalmente há uma entrevista pós-teste para discutir individualmente os resultados com
os alunos.

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Quadro Resumo dos Tipos de Entrevista

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2ª Aula Teórica (05/03/2021)

TÉCNICAS DE ENTREVISTA
Isto (que vamos dar) é uma classificação técnica, por isso é discutível. Mas este conjunto,
dá uma ideia global da ideia de como podemos usar as entrevistas.
As técnicas surgem interligadas – Podemos utilizar numa mesma entrevista mais do que
uma técnica. A técnicas de entrevista são transversais aos diferentes tipos de entrevistas, mas
numas utilizamos mais umas técnicas que outras.
Uma boa entrevista parece uma conversa banal (realmente é uma conversa, mas sempre
assente numa técnica). As técnicas de entrevista visam por um lado obter determinados
conteúdos e por outro alimentar a relação.

Nota: A automatização destas técnicas deve ser o primeiro objetivo de qualquer psicólogo.

QUESTIONAMENTO
Técnica mais básica e comum.
Consiste em fazer perguntas e aparentemente é uma técnica simples, mas na verdade
exigente tanto cuidado como qualquer outra técnica.
Uma das questões que se coloca é a pertinência da pergunta. As perguntas são feitas
quando servem para aumentar a informação, para saber mais sobre o assunto ou da pessoa. Fazer
perguntas para as quais já se sabe a resposta não tem qualquer interesse no âmbito da entrevista
psicológica, já que o tempo é limitado. As perguntas devem ser utilizadas para obter informação
e reduzir os níveis de incerteza do entrevistador sobre o entrevistado.
Há perguntas que são mais diretas: nome, idade, etc. E temos de ter cuidado para não criar
uma dinâmica de interrogatório, se assumimos esta atitude vamos por o entrevistado numa
atitude passiva (a sucessão de perguntas gera uma atitude passiva da parte de quem responde,
ficando à espera de novas questões.). O nosso objetivo é estimulá-lo de uma forma espontânea
para nos dar informação. Tem de ter/dar espaço para a pessoa se manifestar na sua
subjetividade e nos elos.
Esta técnica deve suscitar respostas mais ou mesmo diretas. As questões que colocamos têm
respostas mais ou menos objetivos. Se fizermos perguntas demasiado abertas, que precisam de
mais reflexão do entrevistado, estamos a usar a exploração e não o questionamento.

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Se por um lado, não devemos abusar das questões, também não devemos ter medo de fazer
perguntas. Não nos devemos inibir de colocar perguntas óbvias e necessárias, porque, por
exemplo, numa entrevista não perguntámos à pessoa se tinha irmãos ou era filho único – depois
na 3ª consulta não sabemos e a pessoa toca no assunto e nós ficamos confusos.
Aparece ao longo do processo de entrevista e do processo terapêutico. Vai caindo um pouco,
mas nunca desaparece.
Há um conjunto de questões que podem ser feitas de forma direta: Como se chama? Que
idade tem? Porque se decidiu a vir? Etc.
Há um conjunto de questões que devem ser colocadas de forma indireta, recorrendo a uma
formulação aberta: (numa dimensão mais afetiva ou cognitiva): O que sentiu?; O que achou
dessa situação?; O que pensa a respeito?
Nem todas as perguntas podem e devem ser feitas, e nem todas as perguntas podem e devem
ser feitas da mesma maneira.
As perguntas para as quais já se sabe a resposta só são pertinentes em contextos
comunicacionais informais, sendo, nesse caso, um apoio verbal para uma relação que se
pretende estabelecer (Watzlawick, Beavin, Jackson, 1966).
Qualquer entrevista pretende mais que um questionário, pretende-se que pela interação
estabelecida se tenha acesso a dimensões da personalidade do sujeito e para isso acontecer é
necessário dar espaço ao entrevistado – é aqui que se percebe se o entrevistador é ansioso ou
tranquilo, introvertido ou extrovertido, humilde ou arrogante, simpático ou agressivo

REFLEXÃO
Outra técnica fundamental que facilita a comunicação com o outro. É simples, mas visa
mostrar ao entrevistado que estamos a ouvir o que ele está a dizer, que estamos a perceber, que
estamos atentos. É muito usado nas terapias rogerianas (e.g. dizer “hum hum”), mas se
estivermos constantemente a dizer isto, podes parecer que estamos “dispersos”, temos de ter
atenção e medir a utilização dos “hum hum”.
Há coisas que parecem inocentes, mas podem ter um efeito enorme no entrevistado. Cada
palavra tem um feito diferente para pessoas diferentes. Por exemplo, os “sim”, não podem ser
confundidos com concordância – exemplo: se o paciente estiver a falar mal da mãe, e nós
dissermos que sim, ele pode assumir que estamos a concordar com ele.
Pode ser uma pequena frase, e quando o é, é uma coisa um pouco mais consistente, que se
assemelha a outras técnicas. Exemplo: um paciente diz que ficou o fim de semana sozinho, que

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fico de pijama, ninguém lhe liga, etc. Um terapeuta pode dizer, “hum hum”, ou “compreendo o
seu desconforto”, ou “pensa que os seus amigos não têm tempo para si”.
É muito importante que o conteúdo da frase reflita o material cognitivo (objetivo) e a
experiência emocional do entrevistado.
Estas reflexões que vamos fazendo ao longo da entrevista servem para ligar o entrevistado
a nós. Não pode ser uma moleta da linguagem. Quando o professor estava aflito e não se sentia
confortável não dizia nada.
Há um olhar mais penetrante, um movimento do corpo (e.g. mover o corpo 10 cm)
transmitimos muita coisa sem ter que falar → Tópico gerir a ansiedade: Se nós estivermos muito
nervosos, e começarmos a colocar perguntas, começamos a matar a entrevista (o entrevistado
poe-se numa posição passiva).
Centram-se mais sobre o sentimento associado. Mostra ao paciente que ouvimos, com uma
centração compreensão afetiva (pretende-se ir um pouco mais longe do que o que fui e colocar
em evidencia algumas ligações entre materiais implícitos ou latentes).

Exemplo: Paciente: enumera de forma atabalhoada uma série de razões pelas quais quer
deixar o emprego; Terapeuta: “É natural que queira mudar, pois já que de acordo com o que tem
dito, o seu trabalho não corresponde às suas expectativas”

REFORMULAÇÃO (Paráfrase)
Técnica transversal a qualquer entrevistador independentemente do seu quadro teórico.
Consiste em dizer de forma diferente o que o entrevistado disse. Mas ao reformular,
devemos ser mais claros que o entrevistado.
Até certo ponto, pode confundir-se com a anterior (relativamente às frases), mas há uma
coisa específica da reformulação – há uma intenção de esclarecimento, de compreender
melhor, na reflexão não há isto (só quero mostrar que estou a ouvir). Há uma intenção de mostrar
que estamos a ouvir e também uma intenção de confirmar que entendi de maneira correta
(esclarecimento face ao próprio terapeuta) – assegurar que estou a entender bem o que me está
a ser dito.
Quando esclarecermos o entrevistado é uma clarificação (ver técnica a seguir), serve para
clarificar o que está a ser dito.
Serve para esclarecer e facilitar a compreensão do que foi sendo dito, por vezes, de forma
atabalhoada, a reflexão destina-se a devolver ao entrevistado uma dinâmica compreensiva da
parte do entrevistador.

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Exemplo: Paciente: enumera de forma atabalhoada uma série de razões pelas quais quer
deixar o emprego. Terapeuta: “Tem, pois, uma série de razões para deixar o seu emprego”.

CLARIFICAÇÃO
Tal como a reflexão é uma técnica clássica rogeriana. Às vezes as pessoas estão a dizer
qualquer coisa e não tem bem a noção do que estão a dizer, então nós clarificamos. Transmitir
ao outro de uma forma mais clara, o que o próprio está a dizer. Não há nuances interpretativas.
Deve tornar o conteúdo emocional mais claro para o entrevistado – e.g. ““está a dizer que a sua
situação o fez sentir muito só” o terapeuta não está a acrescentar nada, mas sim a clarificar o
que foi dito pelo paciente anteriormente. É uma reformulação com uma intenção diferente.
A clarificação é feita através da reformulação. Só o terapeuta é que sabe se está a fazer uma
ou outra. Esta técnicas têm um efeito terapêutico incrível, a sensação das pessoas serem
compreendida queria um espaço de conforto muito maior.
Estas 3 (últimas) técnicas vão muito ao encontro de fazer uma ponte, que contribuem para
o acolhimento da entrevista, ao contrário da confrontação – esta visa estimular e pode até
contribuir, dependendo das pessoas e documento de utilizada, para o afastamento. Modelo
humanista.

Exemplo: Paciente: enumera de forma atabalhoada uma série de razões pelas quais quer
deixar o emprego; Terapeuta: “Ou seja, o seu atual emprego tornou-se insuportável”

CONFRONTAÇÃO
É evitada por muitos entrevistadores, porque têm imenso receio do seu potencial agressivo,
principalmente quando são inexperientes, ou por outro lado, ficamos muito atentos ao que é
contraditório e depois achamos que temos de confortar sempre a pessoa com isto.
Pode ser muito agressiva, mas depende muito da forma como confrontamos, a nossa atitude
em geral, o nosso tom de voz, o contexto relacional – a relação que já temos com o entrevistado
→ por exemplo se for um paciente mais frágil, a confrontação pode ser mais agressiva
Podemos confrontar de uma forma especifica – material contraditório – ou podemos ficar
apenas em silêncio. A interpretação é também é uma confrontação.
É como que chamar à atenção para aquela pessoa, do modo como está a viver, e tem uma
consequência nos seus sintomas, nas suas queixas, etc. Retomando o caso acima, se o paciente
diz “nem ligo o telefone”, um exemplo de confrontação é “são os seus amigos que não ligam,
ou é o João que os quer evitar?” – temos aqui 2 opostos, com o qual vamos confrontar a pessoa.

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Temos de ter sempre material contraditório, e vamos expor esse material ao paciente.
Confrontar é comparar, cortejar, pôr de lado ou frente a frente diferentes conteúdos sobre
o mesmo tema ou conteúdos verbais discrepantes dos conteúdos não verbais.
É uma técnica neutra que tem como o objetivo esclarecer dúvidas do próprio entrevistador,
clarificar dimensões específicas dos conteúdos ou da personalidade do entrevistador e, também,
devolver algumas incongruências ou inconsistências verbais ou comportamentais.

Exemplo: Paciente: enumera de forma atabalhoada uma série de razões pelas não vai
almoçar com os colegas no trabalho, embora se queixe que se sente só; Terapeuta: “São os
amigos que não estão disponíveis ou é você que os evita”.

AUTOREVELAÇÃO
Uma regra básica da entrevista é que o entrevistado não fala de si próprio (para o professor).
Esta técnica contraria este princípio. Não temos que falar de nós, mas excecionalmente podemos
recorrer a esta técnica se for facilitador (numa situação de empasse por exemplo) para
“desbloquear”.
Implica que nós vamos expor qualquer coisa da nossa vida ou da nossa personalidade,
mas que não é mais daquilo que é necessário para ter um feito de facilitação na expressão do
entrevistado. Tem de ser utlizada de forma sensata. As pessoas têm curiosidade de saber coisas
sobre nós, mas não têm propriamente interesse. O perigo da autorevelação é que nós podemos
influenciar o outro – mas temos é de dar instrumentos ao outro.
Nunca nesta técnica, não devem aparecer as nossas ideologias, os nossos valores, os nossos
gostos, como nos sentimos, os nossos dados pessoais e muito menos, os nossos problemas. Já
basta o que expomos, sem o saber, o modo como falamos, o modo como vestimos, o próprio
espaço, etc.
As intervenções, em geral, são abstratas (não devem referir aspetos concretos) ex: “eu
compreendo o que está a dizer, porque também me sinto só”, isto é muito errado, é estupido. É
possível dizer de maneira correta: “eu compreendo, há momentos na vida, em que nos podemos
sentir só”. Podem não parecer, mas são frases mito diferentes, e com impactos diferentes.

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EXPLORAÇÃO
Assume a forma de um questionamento, porque é uma pergunta. destina-se a explorar
aspetos de vida da pessoa, em relação a objetivos específicos. É uma técnica utilizada em
função do objetivo da entrevista que consiste em explorar um dado específico.
Muitas vezes, é quando há uma área problemática que vamos tentar explorar e perceber um
pouco melhor, uma intenção que ultrapassa a simples pergunta. Em primeiro lugar, fazemos
uma pergunta (questionamento) e se percebermos que há uma certa problemática direcionamos
a entrevista para essa problemática (aqui o questionamento/pergunta passa a ser exploração).
Esta técnica serva para “abrir portas”.
Visa uma elaboração um pouco mais sofisticada/complexa por parte do entrevistado –
estamos à espera que a pessoa elabore um pouco mais, são perguntas abertas, não são de
reposta sim ou não.
Esta técnica deve-se distinguir do questionamento. No caso da exploração existe uma
intencionalidade deliberada de compreender causas e consequências, processos de
funcionamento e estratégias habitualmente utilizadas. O questionamento é superficial e literal.

Exemplo: casal com problemas de comunicação. Ao longo das sessões o professor percebeu
que o casal não tinha problemas de comunicação, mas sim problemas a nível de intimidade.
Passou a dirigir a sessão/entrevista para esta problemática (exploração).

REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA
Organizar o material que a pessoa nos transmite de forma a mostra outro pondo de vista.
Todo o material que as pessoas trazem confirma o que as pessoas estão a dizer. Ex. Temos um
senhor que teve o fim de semana todo sozinho, teve a cozinhar, a ver um filme que queria ver
há muito tempo, etc. A sessão toda é num tom muito depressivo e o terapeuta pode estar com
uma dificuldade em deixar a pessoa ir embora sem uma esperança qualquer, sem ter reconhecido
nele algo de positivo e pode dizer “mas já viu, se nós virmos, isto foi um fim de semana difícil,
mas se virmos de outra maneira, conseguiu compreender que tem recursos (cozinhar para se
distrair), que pode ser autossuficiente, que pode recuperar algo que estava pedido (os filmes), e
pode sair a ganhar algo dai (conhecimento dos filmes), etc.”
Pegar no material que o paciente deu e mostrá-lo de maneira diferente. Mostrar o lado
melhor do que as pessoas nos estão a contar.
Esta técnica serve para recolocar o paciente em diferentes perspetivas. É voltar a estruturar,
quer dizer, reorganizar o material e os conteúdos expressos, de uma forma que permita uma

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mudança de perspetiva sobre o mesmo tema. É muito útil em pacientes mais depressivos. É
necessário saber o momento certo e antes disso, o paciente tem que se sentir aceite.
Não se pretende aconselhar, minimizar a situação ou enganar o paciente, o objetivo é apenas
mostrar que também existe o outro lado do “copo meio cheio” e que aquela situação em
particular revelou alguma coisa de positiva.

Exemplo 1: Paciente: Este fim de semana foi uma seca, continuo sozinho, não tive
programas, então acabei por arrumar o escritório e resolver alguns problemas; Terapeuta: Então,
apesar disto, acabou por reunir recursos para resolver os seus problemas.
Exemplo 2: Paciente: A garrafa está a meio. Terapeuta: Meia cheia ou meia vazia?

3ª Aula Prática (10/03/2021)

ENTREVISTA DE ESTUDO DE CASO


É um aprofundamento da entrevista de recolha de dados. Este aprofundamento é
conseguido porque em vez de fazermos uma entrevista, fazemos várias entrevistas, e
eventualmente podemos usar provas psicológicas (não é obrigatório, mas pode ser pertinente).
E esta metodologia é a metodologia mais nobre da psicologia clínica. Selecionamos um caso
com algum critério, assim como as provas, e isto vai esclarecer o psicólogo em relação aquele
caso (porque pode ser mais difícil, mais raro, etc.). E fazemos ainda estudos de caso, quando o
encaminhamento do paciente não é óbvio e temos de fazer um melhor.
Também se fazem estudos de caso por rotina no serviço. Muitas vezes, há regularmente
reuniões de equipa (multidisciplinares) e todas as semanas/todos os meses, há um grupo de
técnicos que vão apresentar um caso trabalhado do seu ponto de vista.
É condicionada pelo setting e pelo quadro teórico do psicólogo. São muito importantes
quer para o modo como se estabelece a relação, o número de entrevistas que vamos fazer, a
duração, o intervalo, as técnicas, o uso de provas ou não com aquele doente, o tipo de provas
que se escolhem, etc. Tudo isto tem uma influência grande do quadro teórico.
O psicólogo vai estar atendo à evolução das entrevistas, ao conteúdo verbal e não verbal,
e é a partir destas que se decide se aplicam provas ou não.
Faz-se uma discussão, onde se vê melhor o quadro teórico do psicólogo.

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EXERCÍCIO PRÁTICO:
Entrevista de estudo de caso: Case study clinical example: First session with a client with
symptoms of social anxiety (CBT model)
https://www.youtube.com/watch?v=XH2tF8oB3cw

Dados da entrevista:
Começou há 5/6 anos atras. Exponenciou quando mudou de casa dos pais. É a primeira
vez que sai da casa e ainda não contou a ninguém. Nunca pensou ser a pessoa que estivesse
nesta situação e sente-se um pouco assustada. Fica na casa, não tem amigos, e vai visitando a
um pouco a família. Diz que é muito assustador.
É fotógrafa (e a ansiedade não ajuda no trabalho), diz que faz as coisas difíceis. Sente-se
cada vez mais sozinha, e que é incapaz de fazer amigos.
Ia a sítios com os pais, mas de repente vê-se cada vez mais em casa. Quando estava com
os amigos, só queria ir para casa, mas ao mesmo tempo não quer perder ninguém.
Começou mais ou menos aos 19. Acabou a escola um ano antes. Era um pouco tímida, mas
a timidez não afetava a vida como agora. Começou quando os amigos foram para a faculdade
e ela estava à espera de sair de casa, então aí deixou de ir a festas, e dizer que não convites.
O trabalho mais difícil para ela é trabalhar com outras pessoas – eventos com muitas
pessoas, ela diz logo que não.
Fica muito quente e sua, e sente que toda a gente está a olhar para ela, e acham que ela é
estúpida. Que toda a gente olha e não consegue fazer o trabalho dela. Que é idiota, que perece
uma bruxa. Ela tenta focar-se noutra coisa… e por isso é que gosta de fazer sessões só com ela.
Como é que isto lhe faz sentir? Como a ideia, de que não se devia incomodar, que devia ir
para casa, que não queria estar na outra situação, que os outros são normais e que ela é que é
uma freak.
Episódio: foi há duas semanas. Os sentimentos que tinha na cabeça, foram: estar muito
quente, não conseguir respirar, sentir que queria sair, tentava com muita força e forçar-se a
não pensar muito, mas sentia que as pessoas estavam todas a olhar e que a achavam estúpida.

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O agarrar na câmara era para se focar, porque queria tentar manter as mãos imóveis, e se se
agarrar se com força, as pessoas não iam olhar para ela.
Outros sentimos que sentiu nesse episódio: estupidez, que toda a gente estava a olhar para
ela, e que podiam dizer. O que é que ela está a fazer? E que podiam ver que ela está a suar (usa
preto com muitas camas para esconder).
Como é que se aparentava: estúpida, a cara vermelha, suor, tremer (principalmente as
mãos) e que toda a gente a conseguia ver. Como é que tentou esconder? Não fazer nada
estúpido, olhar para baixo, não olhar para ninguém.
Veste sempre muitas camadas e preto, e se não fosse assim as pessoas iam ver.

o Falta imensa informação sobre a paciente que não estão aqui, por isso vamos inventar
coisas (dito mesmo pelo professor. É basicamente para fazer uma “melhor
contextualização”).

A primeira coisa que aparecer é a Apresentação do Caso (ponto A1), que tem logo na
primeira linha elementos de identificação – nome, idade, profissão, naturalidade, local onde a
pessoa habita. Dependendo do contexto onde a apresentação é feita, os dados têm de ser
alterados, se for em contexto hospitalar não temos de ter o cuidado imenso para “disfarçar os
dados”, mas noutras circunstâncias o sigilo é muito importante (Há um autor que diz que o caso
tem de estar tão bem-apresentado que nem o próprio paciente se reconhece). Se é para discutir
num congresso, numa palestra, temos de esconder muito bem a identidade do paciente, e é
preciso a autorização do paciente – ter em conta que talvez possa alterar algumas questões em
relativamente à relação clínica.
Se calhar é importante saber se mora nos subúrbios ou se mora na cidade e se tem um bom
emprego – introduz variáveis que podem ser importantes para compreender.
Não vamos alterar a idade das pessoas por questões compreensivas – estar na fase da
adolescência e na fase adulta são coisas muitas distintas.
Não há nenhuma estrutura rígida para isto. Há, sim, outras formas de estudos de caso;
Depois vamos para o ponto A2 – Contexto da Entrevista: como é que a pessoa aparece,
como é que a entrevista se dá, e o sítio onde a entrevista se dá;
Ponto A3 – Aspetos Gerais de Observação Clínica: Aspeto dela, a adequação, a postura;
Ponto A4 – Queixas do Observado/da Pessoa:
Ponto A5 – Pedido: deve ser simples – ajudar a ultrapassar as dificuldades em interagir
com os outros. Neste caso não há um pedido explicito. Queixa-se de ansiedade, mas não o

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pedido explicito. Revela qualquer coisa sobre a espectativa muito importante. Às vezes o pedido
não existe, não é do próprio. Muitas vezes temos pedidos feitos pelos médicos, temos de tentar
perceber o que é que a própria pessoa quer.
Ponto A6 – História do Problema: como não temos informação, temos/podemos de
inventar. Identificar o problema e depois vamos identificar aspetos, mesmo que sejam ténues,
relativamente à história dos pacientes.
Ponto A7 – Antecedentes Familiares: como aqui não falou na família, vamos nós inventar.
Arranjar uma história para a família. Não temos uma tese à priori e não vamos confirmar a nossa
tese. O que se passa é que os dados que recolhemos se juntam e depois formam um todo na
discussão (podíamos dizer, continuando o caso, que a Edite vive num bairro para pessoas
emigrantes, que tinha dificuldades, etc.)
Ponto A8 – Antecedentes Pessoais: pode ser importante saber que ela é filha única de um
casal que teve imenso anos a tentar engravidar (pode estar aqui ou no ponto A7, assim como o
tema dos irmãos); dificuldades escolares, história de comportamentos, acidentes. Falar da
história relacional dela (relacionamentos, companheiros, etc.)
Ponto A9 – Análise Psicopatologia Descritiva: depende muito do contexto onde vamos
apresentar e do modelo teórico (mais importante para os psicodinâmicos). Vamos pôr vários
itens. Há alterações da consciência? (vígil, lúcida, se não há nada dizemos: nada digno de nota);
da atenção?, da orientação?, da memória? (se tivesse, podia ser algo como problemas de
fixação); perceção; pensamento (forma – se é rápido, lento, etc.; e conteúdo); linguagem;
afetividade (neste caso não foi explorado; sentimos que há uns aspetos depressivos que não
foram explorados, mas que podíamos explorar na entrevista); sono (não foi explorado, mas
podia ter sido: insónias terminais); psicomotricidade; sexualidade;

• Angústia de Separação – quando sai de casa! E depois temos a câmara como um objeto
seguro (possível hipótese delirante)

CONSTRUÇÃO DO “RELATÓRIO” DO ESTUDO DE CASO:


Temos a Edite com 25 anos, é fotógrafa e mora na Reboleira (chamados pontos de
identificação). É encaminha pelo médico de medicina geral por queixas de ansiedade geral e
procura-nos no início do ano (por exemplo, estamos a contextualizar, não é preciso por muito).
Durante a consulta, a Edite estava sempre a mexer nas mãos, estava vestida de preto, não parava
quieta, não mantinha muito o contacto visual com a psicóloga, parece que às vezes tinha
dificuldades em respirar, contava as coisas com algum detalhe, tinha algum receio em estar ali,

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tem um aspeto adequado e bem cuidado, mas não parece muito investida. Tem ainda uma
postura fechada e sinais de ansiedade. As queixas que Edite apresenta são de ansiedade, quando
está perto de outras pessoas – queixas de ansiedade social com manifestações somáticas fortes,
pensamentos negativos e de auto-desvalorização. O pedido implícito de ajuda é para lidar com
os sintomas de ansiedade, contudo este pedido não é claro durante a entrevista. E é necessário
que o psicólogo confronte o utente para se esboçar melhor o pedido. Relativamente à história,
surgiu um ano após terminar a escola, as queixas de ansiedade começaram há 5/6 anos na altura
e pioraram quando saiu da casa dos pais. Diz que sempre foi uma criança tímida e que desde a
escola primária tinha um grupo pequeno de amigos, que sente desde muito nova sozinha, que
era sempre a última ser escolhida para as brincadeiras. Estes problemas foram particularmente
sentidos na adolescência quando mudou de escola. Refere as constantes discussões entre o pai
e mãe. A sua mãe pertence a uma família de emigrantes (2ª geração) do leste da europa, que
passou momentos difíceis na integração na sociedade americana. Quando era mais nova sofreu
um acidente de viação com o pai e teve imenso tempo internada no hospital sozinha. (tudo
dentro do pensamento) Não há alteração na forma do pensamento, mas há alteração no
conteúdo, especialmente de desvalorização. Há um toque de autorrelacionação (*traço de
funcionamento do psicótico – achar que estão a reparar nela constantemente. Relaciona
aspetos exteriores que nada tem haver com o próprio. Nas pessoas mais paranoides aparece
constantemente). A Edite não aparenta ser paranoide. Temos mais forte os pensamentos de auto-
desvalorização. *Dizer que os outras coisas apontadas anteriormente, não são dignas de nota.

Estes pontos seguintes (B, C e D) são para ser implementados no seguimento do relatório:
Ponto B – Explicar as Entrevistas: Explicar onde decorreram as entrevistas (na sala, no
gabinete, centro de saúde), duração das entrevistas (da primeira e das seguintes), depois
descrever minimamente o estilo da entrevista (podem ser abertas – fazer uma pequena
descrição: configuradas por variáveis do entrevistador, explicar se estivemos atentos ao
conteúdo latente, se tentamos estabelecer um padrão com uma atitude neutra, aceitação, de
abstinência, estruturado, etc.; ou fechadas com guião).
O objetivo das entrevistas é avaliação do paciente, e imaginando que esta paciente era para
ser seguida e continuar connosco, podíamos acrescentar que o objetivo da entrevista era avaliar
e introduzir um padrão psicoterapêutico.
Ponto C – Aplicação de Provas: é importante explicar porque é que estamos a aplicar
provas. Por exemplo: No contexto da entrevista inicial surgiram dúvidas quanto à personalidade
do paciente e foi decidido que era importante aplicar uma prova de PP. Ou para compreender

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melhor a questão de a ansiedade ser benéfico aplicar a escala X. Explicar quais as escalas,
porque as usamos, e qual a reação do paciente face às mesmas, a cotação, a análise, os
resultados. Contexto e explicação das provas e da análise. Se não forem utilizadas, dizemos
que não foi necessária a aplicação de provas.
Ponto D – Discussão Geral do Caso: vamos por tudo. De uma forma um pouco mais
qualitativa.
o Da observação clínica, da anamnese, da entrevista, das provas, etc. Concluímos que se
trata de uma personalidade estruturada sem defeito cognitivo… A impressão
diagnóstica é… Ao nível das funções cognitivas não se revela nenhuma alteração ao
nível de… O discurso é organizado…. Tem capacidades relacionais…. Há alguns traços
nas provas X que podem estar relacionados com Y. A hipótese de diagnóstico é
fundamentada e depois a elaboração da intervenção. Com base nisto e naquilo a
orientação terapêutica é… E com base nas características da paciente o prognóstico é
positivo…

3ª Aula Teórica (12/03/2021)

TÉCNICAS DE ENTREVISTA (2)


INTERPETAÇÃO
A interpretação é a técnica de entrevista que busca dar, ou acrescentar, sentido a algo que
foi expresso despido desse sentido. Fazemos a ligação entre alguma coisa e acrescentamos algo
a isto. Procuramos dar um sentido diferente daquilo que o paciente nos contou e que, até pode
não ter sentido. É como se estivesse implícito aquilo que a pessoa estivesse a pensar.
Nós interpretamos e o entrevistado vai pensar que a nossa interpretação é a forma correta
de interpretar. Nós nunca estamos lá para catequizar o paciente, a interpretação deve ser uma
alternativa, uma forma diferente de ver o que o paciente está a dizer.
O quadro de preferência é psicodinâmico.
As cautelas necessárias devem ser sublinhadas porque podem ser cruciais. Têm de ser
adequadas a capacidade de escuta do paciente, se assim não o for pode acontecer um choque
e um bloqueio por parte deste.
Raramente se usa na entrevista, e não se usa em psicoterapia de apoio.
Se um terapeuta estiver a fazer uma terapia a um aspirante, pode fazer interpretação, mas
de uma forma muito parcimoniosa.

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O que se faz numa interpretação? Qual a diferença entre clarificação e reformulação? A
clarificação visa que nunca se coloque nada que o paciente não disse, enquanto a interpretação
propõe trazer à superfície algo que o paciente não menciona. Normalmente, o paciente não
menciona certos aspetos por não querer ou por não os perceber. É importante referir que a
interpretação tem que ir sempre ao encontro do conteúdo latente da interpretação naquele
momento.

Exemplo: Terapeuta: “O seu atual trabalho parece-lhe incompatível com as suas ambições.”

HUMOR
É uma técnica muito poderosa na entrevista clínica. Na nossa vida quotidiana o humor é
muito usado, como por exemplo perante os seguintes temas: estranho, o diferente, a
sexualidade, a morte (humor negro).
Os temas fundamentais que nos ocorrem quando pensamos em anedotas são: minorias
sociais, sexo, morte, diferentes culturas, etc. Por exemplo na situação dramática que vivemos
(Covid-19) existe um lote humorístico para lidar com a situação de maneira a aligeirar a nossa
ansiedade, transformando-a em algo distante e simples ao mesmo tempo
Na entrevista serve para criarmos um certo distanciamento de um conteúdo que é
ansiogénico. É uma técnica bastante sofisticada. Não é fácil usar, porque muito facilmente o
paciente pode sentir-se ridicularizado. Também pode ser ótimo, mas a pessoa pode sentir-se
desqualificada, por isso é preciso ter cuidado com a sua utilização.
O grau da estrutura da relação é um condicionante, às vezes leva-se muito tempo para
aplicarmos isto com um paciente, é preciso ter o mínimo de jeito. Quanto maior o grau/nível da
relação, mais fácil será utilizar o humor.
É dizer uma frase, pegar no que o paciente nos disse e dizer algo coisa engraçada. Não é
contar uma anedota, nem uma piada. É uma forma de relativizar, mostrando ao paciente que
não está a ser minimizado.
Quando o paciente utiliza muito humor pode ser uma forma de controlar os terapeutas ou
então uma forma por não conseguir aceder aos seus sentimentos verdadeiros.
Cara de Paisagem

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PROVOCAÇÃO
É mais forte que o humor. Serve para estimular (como todas), mas incita de uma forma
bastante mais confrontativa e agressiva. Não pode chegar ao sarcasmo, mas ultrapassa o
humor (e a ironia um pouco).
Aqui o cuidado tem de ser maior, porque ataca as defesas de uma forma direta, e pode matar
a possibilidade de relação – isto usado precocemente com o paciente errado, pode lixar tudo.
Podemos, às vezes, antecipar a coisa e até dizer ao paciente: “Vou dizer agora, uma coisa
que pode achar agressiva”.
O professor não aconselha usarmos esta técnica.
Mas às vezes é necessário haver confrontações, mesmo que ataquem diretamente o
funcionamento psíquico do entrevistado.
Muitas vezes confunde-se a provocação com a confortação, nesta última, o paciente dá
material contraditório, T:” então agora disse isto, mas há bocado disse aquilo”.
Exemplo de Provocação: um paciente dá a entender que anda à procura da mulher ideal. E
depois do terapeuta obter alguma informação, diz “Parece que ainda não encontrou uma mulher
como a sua mãe”.

GENERALIZAÇÃO
Quando aplicamos esta técnica, estamos a sublinhar a predominância de um conteúdo
que vai aparecendo ao logo da comunicação de um paciente, isto é, a pessoa ao longo de um
trecho da sessão, ou mesmo ao longo da sessão, foi falando de vários temas, mas nós
percebemos que há ali um conteúdo que se vai repetindo. Quando tal acontece podemos fazer
uma clarificação: pegamos no material que foi produzido e dizemos “Falámos de muitas coisas,
mas parece que está preocupado com X”.
Por exemplo, nós dizemos: O pedro está a falar agora do conflito que teve com o seu chefe,
quando há pouco falava das dificuldades que tinha em compreender o seu pai, e depois também
tinha conflito em relação à sua professora. Parece que tem problemas em lidar com pessoas que
têm autoridade → estamos a sublinhar a semelhança do mesmo assunto.
Só faz sentido utilizar uma generalização se houver um conjunto de material para isso.
Sublinhar um conteúdo latente!
Desta, pode decorrer um foco (técnica a seguir): “Ao longo da conversa falou de vários
temas, mas nota-se uma dificuldade perante as pessoas que têm poder”. Generalizamos, mas
estamos a sublinhar um foco.

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Exemplo: Paciente: “Desculpe ter chegado atrasado, mas o miúdo no infantário fez uma
birra e agarrou-se a mim a chorar e chateou-me um bocado.” (mais tarde diz) “Hoje é o almoço
de despedida da Teresa…”. (mais tarde diz) “A minha filha este ano quer passar o Carnaval com
os amigos, nós fazemos sempre planos juntos (família).” Então, neste caso, o conteúdo/tema
semelhante ao longo da sessão foi a SEPARAÇÃO

FOCAGEM/FOCALIZAÇÃO
Inversão da anterior. Escolher de todo o material que é exposto, um aspeto particular, que
de certa forma foi tocado de uma maneira particular pelo entrevistado.
É exatamente oposta à generalização. Havendo um conjunto de material que é colocado
pelo paciente na sessão, queremos tocar em algo particular que o paciente só mencionou
vagamente. Assim, vamos focalizar nesse tema.
Por exemplo pegando na mesma paciente do exemplo anterior: a dada altura, no meio de
todo aquele cenário onde é recorrente o tema da separação, diz que “Hoje é o aniversário da
morte do meu pai e é melhor nem pensar nisso, porque me deixa em desespero.” e contínua a
falar de outra coisa. Apesar de já haver um tema recorrente, sabemos que este tema da morte do
pai é particularmente importante e, se calhar, no meio de tudo, isto é, sobre este tema que ela
precisa de falar. Assim sendo, podemos colocar uma questão específica sobre a ausência do
pai, focalizando.
Nós podemos fazer uma focalização através da exploração, ou seja, a exploração é a via
que usamos para focalizar, muitas vezes. A própria generalização, pode focalizar: quando no
meio do material todo identificamos um tema comum, também podemos estar a focalizar nesse
tema.

ECOAR
De prática, ecoar é repetir uma palavra. Quando se ecoa, coloca-se uma entoação
interrogativa, e mais uma vez, serve para sublinhar um conteúdo, que à primeira vista o
entrevistador não está a dar a devida importância.
Por exemplo, P: lá fui a casa da minha mãe, buscar uns papéis…. Claro que a casa da minha
mãe me deixa frustrado, mas ao menos estamos a resolver uns problemas…”; T: frustrado?
Há um assunto ansiogénico que a pessoa quer manter à distância, por isso é mais simpático
meter isto de forma interrogativa (sem contar com as vezes que precisamos de ser um pouco
mais diretos). Não nos podemos esquecer que jogamos entre um lado mais assertivo, forte,
estruturado e um lado mais acolhedor, suave.

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Ecoar também é uma forma de mostrar à pessoa que estamos atentos, e que reconhecemos
o afeto que a pessoa está a colocar ali. As pessoas podem estar a passar ao lado um assunto que
é desagradável, e por um lado ficam agradecidas por não tocarmos nesse assunto, mas por outro
lado podem ficar frustradas e sentir que a terapia não evolui (se não abordarmos o assunto).

Exemplo: Paciente fala sobre o chefe e os colegas. Terapeuta: Quer que o seu chefe pense
que o seu colega é incompetente?
Paciente: Não!! Mas na próxima reunião vou levar já tudo preparado e o pateta do meu
colega vai ver…
Terapeuta: Pateta??

RACIONALIZAÇÃO
Processo pelo qual se dá um sentido aparentemente coerente, social ou moralmente
valorizado a um sentimento, pensamento ou comportamento.
Parte de um fenómeno que é racionalizar (emoções, sentimentos, temáticas, etc.), que
servem para nos defender de algo que queremos evitar.
O que encontramos na clínica, é que estes mecanismos às vezes falham, ou de uma forma
contínua ou mais pontual. Vemos que o paciente não consegue racionalizar → então vamos
ajudar: vamos pegar no que a pessoa diz e vamos organizar “não havia outra alternativa”, “pelo
que me está a dizer, não tinha papel nenhum nessa história”.
Às vezes sentimos culpa, mas não temos efetivamente culpa. Por exemplo, uma mãe que
sente culpada por ter deixado o filho sair à rua e ele teve um acidente de mota e morreu → a
mãe sente-se culpada, mas a culpa não é realmente dela, então temos de reestruturar a história.
No fundo, é encontrar uma explicação alternativa, que retira a pessoa daquela
incompreensão. É utilizado em momentos de grande fragilidade do entrevistado e para diminuir
a ansiedade. Não é útil para pessoas que racionalizam demais.

INFORMAÇAO À MEDIDA
Não é uma técnica como as outras.
Dar informação exatamente à medida do entrevistado (das dúvidas, da ansiedade, e do nosso
conhecimento) que lhe está a causar angústia.
Dar uma informação enquadra-se nesta técnica, mas é necessário ter cuidado para não
fugirmos do que é o nosso conhecimento.
Confunde um pouco o nosso papel, com o talvez, o papel dos agentes sociais.

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SILÊNICIO
Técnica muito importante e também das mais complexas e que mais exige de nós.
A grande questão é compreender de que tipo de silêncio é que se trata. É o tipo de silencio
que nos vai ajudar a compreender.
Para o terapeuta, o uso do silêncio depende da qualidade de silêncio do interlocutor, pelo
que, a partir daí, é possível agir em conformidade. Uma das dificuldades do silêncio passa por
o entrevistador não conseguir aguentar o mesmo. É necessário conviver tranquilamente com o
silêncio na relação psicoterapêutica. O silêncio pode ser uma técnica de entrevista com grande
eficácia, onde o mais importante é perceber o carácter do silêncio do entrevistado para,
posteriormente, decidir se este silêncio deverá ser quebrado ou não.
Talvez uma das maiores questões seja: Como é que o entrevistador gera a sua própria
ansiedade face ao silêncio do paciente? Gerir o silêncio exige uma grande perícia da nossa parte,
mas é fundamental compreendermos que tipo de silêncio é que o paciente está a utilizar, uma
vez que existem diversos tipos e cada um deles exige um manejo teórico específico.
Se estamos muito ansiosos não vamos conseguir diferenciar os silêncios do entrevistado e,
por isso, temos tendência para encher o espaço vazio com palavras. O saber gerir a ansiedade é
algo que aprendemos à medida que vamos sendo mais experientes.
A ansiedade que se gera em nós também é um barómetro que nos ajuda a encontrar a
resposta certa, isto é, se estamos muito ansiosos isso também é um sinal do que devemos e nós
devemos fazer.
O professor vai falar do ponto de vista do paciente. O que é que é, e o que é que nós fazemos.

• SILÊNCIO DE INIBIÇÃO
É um silêncio que resulta da própria situação de entrevista. A pessoa vem inibida e não
chega ali e começa a fazer afirmações pessoais. É o que acontece no começo das entrevistas,
normalmente, as pessoas chegam e ficam caladas.
É comum nas primeiras entrevistas com um sujeito e nos momentos iniciais de um processo,
porque as pessoas estão face a uma nova experiência que não controlam e não sabem muito bem
como devem gerir a comunicação com o entrevistador/psicólogo. Provavelmente vão sentir-se
avaliadas e não vão saber se se hão de afirmar ou não naquele espaço e, por isso, calam-se.
Como é que nós respondemos? É suposto intervir e encorajar, no sentido de colocar a
pessoas numa situação de conforto, colocar questões que a pessoa possa responder, deverá
criar um clima simpático e desinibido, etc. → por exemplo “Como é que se está a sentir?”, “O
que é que o traz por cá?” ou “Isto no início é um bocadinho difícil.”, de maneira a que a pessoa

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se sinta acolhida e que diminua o sentimento de ameaça que pode surgir num primeiro contato
com um psicólogo.
Este silencio de inibição tende a desparecer à medida que a entrevista ocorre. Este silêncio
decorre da circunstância (primeira consulta), não se relaciona tanto com características de
personalidade do paciente, ainda que para um tipo de personalidade os níveis de inibição possam
ser mais impeditivos do que para outros.
Somos sempre responsáveis pelo estabelecimento da relação, tudo o que fazemos é para
facilitar isso, e ficarmos calados numa situação de silêncio inibitório, no momento em que
estamos a construir os alicerces da relação com aquele paciente, é um erro técnico. No entanto,
primeiro que tudo, para o conseguirmos fazer temos de encontrar a tranquilidade dentro de nós.
Caso contrário a nossa ansiedade vai contaminar o campo terapêutico e vai parecer que estamos
só a bombardear o paciente com perguntas: ao invés de criar uma situação de acolhimento o
outro vai sentir a nossa intervenção como um ataque.
Resposta: Questionamento; neutralizar a situação (criar uma situação simpática); dirigimo-
nos à pessoa; “quebrar o silêncio” de forma a desinibir a pessoa e colocá-la noutro patamar. É
importante criar o clima relacional.

• SILÊNCIO DE PASSIVIDADE (próprio)


Já não e bem como o anterior. Este decorre de um funcionamento habitual da pessoa (é mais
estrutural) → Se temos uma pessoa passiva, é uma pessoa que tende a estar calada se não for
questionada diretamente. Em terapia, com uma pessoa que tem um funcionamento passivo,
obviamente isso ganha contornos maiores, porque estão lá duas pessoas que é suposto
comunicarem; Tende a persistir, se o entrevistador não for questionado. Isto coloca-nos num
dilema: o que é que faríamos se tivéssemos com um paciente que só responde e não fala
espontaneamente (numa situação de entrevista)? Se não fazemos perguntas, as pessoas não vão
dizer nada, mas se fizermos demasiadas perguntas, as pessoas vão ficar à espera da outra. Porque
se não colocarmos questões as pessoas não vão reagir e a tensão que está na sala vai crescendo,
até que chega a um ponto em que é um grande desconforto para ambas as partes. Enquanto, se
colocarmos questões muito diretas, a tendência é para responderem com um monossílabo, “sim”
ou “não”, pelo que devemos colocar questões o mais abertas possível. O que que acontece é que
não temos perguntas infinitas…. Então introduzimos pequenos silêncios que vão estimular
um tanto pouco de ansiedade.
Queremos que a entrevista seja mais que um inquérito, e não queremos que a entrevista seja
este jogo de perguntas-repostas. Por exemplo, T: “quantos irmãos tem?; P: “4”. Das duas uma,

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deixamos um pequeno espaço (silêncio) e depois o paciente, por si só começar a elaborar um
pouco mais (P: “Tenho duas irmãs mais velhas, dois mais novos…”), ou então se passar algum
tempo e o paciente continuar sem dizer nada, nós podemos levantar questões do tipo: estiveram
no infantário? Quantos anos de diferença têm? Etc.
o Resposta: não devemos estar sempre a questionar, devemos jogar entre o silêncio e o
questionamento. Temos que colocar o paciente num estado de ansiedade que o faça
falar, mas também não de forma a que este bloqueie.

• SILÊNCIO REGRESSIVO (circunstancial)


Podem confundir-se com (silêncios) de passividade. Mas aqui temos mais uma posição
infantil que está em causa. Como se a pessoa estivesse infantilizada, como se não conseguisse
responder às perguntas, como se tivesse medo de errar as perguntas. Também há silêncios
regressivos que podem decorrer do que o paciente faz na sessão. Tem haver com esta atitude
de responsabilização, com este medo de não corresponder às expectativas. Para lidar com este
silencio, temos de ir ao encontro do sujeito. Temos de entender que, mesmo que o paciente seja
adulto, estamos a dirigir-nos a uma parte infantil do sujeito (temos de escolher de forma correta
as palavras que vamos dizer).
Nestes momentos, um paciente pode adotar uma posição mais passiva de
desresponsabilização (já não como traço de personalidade, mas como uma reação a qualquer
coisa) e ficar calado, como se tivesse medo de não corresponder às expetativas e desagradar
o entrevistador (perspetiva infantil em relação ao adulto entrevistador).
Aquando de um silêncio regressivo o psicólogo deve usar uma técnica um pouco parecida
com a que se utiliza nos silêncios defensivos (tópico seguinte), no sentido em que deve mostrar
ao entrevistado aquilo que acha que se está a passar: “Eu imagino que o Pedro sinta que eu
posso criticá-lo por causa da sua posição neste tema.” ou “Se calhar está com dificuldade em
demonstrar a sua opinião.” ou “Se calhar está a imaginar como é que vou reagir se me disser o
que pensa”. No entanto, é discutível se é útil fazer uma interpretação e dizer, por exemplo,
“Parece que se está a sentir um menino pequenino a ser avaliado pelo pai” porque seria
disparatado em termos da compreensão do que se está a passar pode fazer sentido, mas
guardamos isso para nós, pois não é útil numa entrevista (só numa psicanálise).
o Resposta: reagir ao nível onde a pessoa está, silêncio empático

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• SILÊNCIO DEFENSIVO (transferencial)
São muito particulares e têm a ver com uma resistência clara. Tem haver com uma
transferência negativa, isto é, há qualquer coisa na relação transferencial que faz com que o
paciente se defenda, por várias razões: com a pessoa sentir-se posta em causa, não querer falar
de certo assunto, com o terapeuta representa algo que o paciente está a rejeitar, etc. Temos de
perceber o que está por detrás desse silêncio e dizemos à pessoa o que estamos a pensar, ao
mesmo tempo que gerimos a nossa ansiedade.
O silêncio defensivo é muito comum nas primeiras entrevistas de adolescentes que muitas
vezes vêm à consulta, não porque pediram, mas como uma espécie de castigo. Assim, ainda
antes de irem à entrevista, já estão numa relação transferencial, porque o psi, para eles, já
representa uma figura de autoridade não-benévola ligada à figura dos pais.
Este silêncio pode também ocorrer quando o paciente não quer falar de determinado assunto
e a melhor forma de contornar isso é tentar pôr em palavras os receios que a pessoa está a ter.
Por exemplo, no caso de os adolescentes dizer “Deve ser muito difícil estar na sua posição e
deve estar muito irritado.” e “Imagina que se calhar estou aqui para o criticar.”, etc. No entanto
isto será algo dito de forma gradual, não dizemos estas coisas consecutivamente até ele se
começar a abrir.
A situação é ansiogénica para ambos e a nossa tendência é despejar logo tudo o que
pensamos, porque no momento passam-nos muitas coisas pela cabeça, mas devemos manter
alguns “trunfos”, começando por dizer as coisas que podem ter menos eficácia para o
desenvolvimento do processo em primeiro lugar (parcimónia). O silêncio defensivo tem a
utilidade de proteger as pessoas, por isso temos de ser cuidados quando o desmanchamos. Assim
que isso é conseguido, a pessoa demonstra a fragilidade.
o Resposta: é importante reconhecer a especificidade deste tipo de silêncio, como
exprimir o que julga ser a não aceitação do entrevistado da situação. Normalmente,
interpretamos (dizemos o que achamos que está a acontecer).

• SILÊNCIO DE PAUSA
São os banais. Há um assunto, há uma pausa, e depois surge outro assunto naturalmente.
Não causam ansiedade – percebemos logo que é um silêncio de pausa. Não levantam muita
preocupação.

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• SILÊNCIO REFLEXIVO
Pontuam a frequência da reflexão e traduzem (apenas) a fluência da relação que está a
decorrer. Não devem ser interrompidos. As pessoas estão a pensar, a fazer ligações, e vão buscar
memórias, onde depois refletem sobre o que se passou. São muito terapêutico e não devem
mesmo ser interrompidos (com exceções): devemos esperar tranquilamente e depois intervir a
partir do que ele comunica a seguir
Este é um dos silêncios que do ponto de vista psicoterapêutico é dos mais importantes.
Podem ser silêncios mais curtos ou mais longos (podem ser muito longos).
Este silêncio está associado a momentos de transformação (ligação com o que fez e pensar
no que ouviu) – INSIGHT
o Resposta: não devemos interferir nem interromper

Os silêncios podem ser desencadeados devido ao modo como intervimos – confrontação


(silêncios reflexivos, silêncios defensivos) ou silêncios não-verbais.
Portanto, há silêncios que devemos interromper e outros que devemos manter para o bom
desenvolvimento da relação e do processo.

4ª Aula Prática (17/03/2021)

Quando estamos em dúvida, sobre qual é a técnica mais adequada a ser utilizada, podemos
ver como é que os pacientes reagem, e a resposta dos mesmos pode dar uma ideia do que
acontece (ou seja, qual a técnica que foi utilizada pelo terapeuta e qual será a próxima).
Por exemplo temos um paciente muito defensivo (narcísico) que está a dizer coisas
claríssimas como a água, e nós vamos (queremos) só clarificar – porque é claro o que a pessoa
está a dizer. Se o paciente está a diz que este fim de semana se chateou com a mulher, e nós
dizemos que isso parece que está a afetar a sua relação com a sua mulher e os seus filhos,
podemos pensar que estamos a fazer uma clarificação, mas depois a pessoa pode entender isto
de maneira completamente diferente e diz: “nada disso! não acho nada” a técnica “inicial” que
supostamente era para ser uma clarificação, pode-se ter tornado numa confrontação.
No começo queríamos uma X técnica, mas depois esta evolui para uma Y (e.g.
confrontação).

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EXERCÍCIO PRÁTICO: MARIA, 37 anos
Maria tem 37 anos, é realizadora de televisão, tendo somado sucessos profissionais nos
últimos anos. Procura um psicólogo com a ideia de iniciar uma psicoterapia. Sente a necessidade
de perceber melhor as suas relações com os outros, em particular os homens, com quem lhe é
difícil envolver-se de modo gratificante e recíproco.

Em diferentes momentos da sessão ocorrem os seguintes diálogos:

El - Fala da fragilidade das suas relações com os homens, mas ainda não percebi o que se
passa com o João. → Exploração (explorar a fragilidade da Maria) e Focalização (relação com
o João em específico), ou seja, de uma Exploração decorre uma Focalização. Como a
Focalização pode decorrer de uma Exploração ou de um Questionamento, o raciocínio está
adequado, no entanto, se foi uma Focalização veremos a seguir que não teve muito efeito,
porque a Maria fala do João, mas pega em material mais abrangente. Assim sendo, aqui seria
aceitável Exploração ou Exploração/Focalização.
Temos de explicar as coisas bem, ou seja, se quisermos acrescentar que esta exploração faz
uma focalização – é uma exploração de um assunto mais concreto – temos de explicar o poqer

C 1- (longo silêncio) Não sei o que devo fazer. Devo ou não, deixar o João e iniciar uma
relação com o Manuel? É verdade que com o João tenho tudo o que preciso, uma relação estável,
alguém que gosta mesmo de mim. Mas se calhar o mais certo é largar tudo e seguir este impulso
que me empurra para o Manuel. Só que aí, ia ter que deixar tudo o que construí e partir do zero,
viver de novo na insegurança… → Silêncio Reflexivo - uma vez que o que todo o material que
a Maria expõe a seguir demonstra que ela esteve a pensar e refletir sobre a problemática.

E2- Pode falar-me um pouco sobre o Manuel? Parece-me importante para perceber mais
claramente de que falamos. → Exploração e Focalização
Aqui a questão é semelhante há que se colocou anteriormente, com o mesmo tipo de
objetivo, isto é, tem a ver com explorar por um lado e, por outro lado, focar. No fundo esta
pessoa tem duas coisas clivadas dentro dela que não consegue integrar: um lado de necessidade
de segurança e outro de necessidade de mais vida e risco.
Aprendemos que muitas vezes as técnicas podem aparecer em sequência ou às vezes podem
ser quase simultâneas, e a Focalização decorre sempre de outras técnicas acessórias (como a
Exploração, Questionamento ou Ecoar) que se aplicam quando o objetivo é focalizar, por

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exemplo quando a pessoa está a falar de vários assuntos e pegamos numa questão, muitas vezes
estamos a focar num tema. É nesse sentido que podemos considerar que há simultaneamente
aqui uma atitude exploratória, mas tenta focalizar numa área mais específica. Assim sendo,
consideramos uma Exploração e podemos também considerar que o entrevistador está a utilizar
a Focalização numa das relações, neste caso no Manuel.
Não é Questionamento porque: a fronteira entre a Exploração e o Questionamento não é
muito nítida, daí a confusão, mas “pode falar-me um pouco” é uma questão demasiado aberta
para que o possamos considerar, ainda que não esteja totalmente errado considerá-lo
(eventualmente se isto fosse um exame o Questionamento seria perfeitamente aceitável, só que
não é a técnica mais correta)

C2- O Manuel é o inverso do João. É a aventura. O não saber o que vai acontecer no dia
seguinte. É o tipo de pessoa que chega a casa e lhe diz: “Olha, vai fazer a mala que vamos passar
o fim de semana Paris. O avião é às dez.”

E3 - Hum...hum... → Reflexão

C 3- Mas este “lado louco” que me fascina também me assusta. É, não saber com o que
contar, é a instabilidade de que eu ando a tentar fugir desde sempre.

E 4- Parece estar confusa em relação aos seus sentimentos. → Clarificação. Pode ser
Reformulação – se o terapeuta disser isto para ele próprio (confirmar que ele próprio entendeu
bem). A forma dos dois é idêntica, o que munda é a intenção. Se ele estiver só a reforçar esta
ideia para a paciente, é apenas uma clarificação. Aqui é mais a clarificação!
A Interpretação foi uma hipótese colocada porque esta utiliza-se quando o sentido não é
claro, é subterrâneo digamos assim, e o entrevistador traz à superfície. A justificação da sua
utilização advém do “Parece-me que” como uma hipótese do entrevistador que podia ser depois
rejeitada pelo entrevistado, mas sabemos que expressões como esta não são exclusivas da
técnica da Interpretação e podem ser utilizadas em outro tipo de intervenções (esta justificação
até foi apresentada também para quem colocou a hipótese de Reformulação. Reparemos que na
Interpretação podemos estar a falar de material mais pré-consciente e, portanto, mais perto da
consciência, ou pode ser algo mais perto da inconsciência, mas é sempre algo que a pessoa não
disse e aqui o psicólogo não coloca nada que já não estivesse lá manifesto.

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Aqui o que está em causa é se o entendimento desta intervenção é o psicólogo estar a querer
dar algo à paciente para ela perceber melhor ou se é ele que quer ter a certeza se entendeu
corretamente, e aqui não há ninguém que o possa dizer ao certo, só o psicólogo o saberá. Assim
sendo, para alguns de nós a Maria estar confusa em relação aos seus sentimentos era algo que
já estaria claro e daí ter de ser devolvido à paciente (Clarificação), enquanto para outros seria
algo que ainda seria meritório de uma confirmação da própria (Reformulação). Não havendo
resposta certa ou errada podíamos considerar Clarificação, onde o psicólogo torna mais simples
e claro, em poucas palavras, o que Maria desenvolveu em dois parágrafos, ou Reformulação.

C 4- É, essa, de facto a palavra certa. Porquê que as coisas não são simples? Sabe, eu já
tenho37 anos e muitas vezes tive de tomar opções profissionais arriscadíssimas… E nunca
hesitei. Mas na minha vida afetiva…. É como se me sentisse presa.

E 5- Sente que existe em si o desejo de mudança, mas não se sente capaz de tomar uma
decisão. Sente-se dependente? Falta-lhe coragem? → Na primeira parte, podemos ver uma
Clarificação ou Reformulação (mais uma vez depende do ponto de vista, da intenção – se é
para ele ou para o cliente). É uma intervenção acolhedora; Na segunda parte (Depois da primeira
frase – as questões), é uma Provocação. O professor também aceita uma interpretação, mas o
mais evidente é ser uma coisa provocatória (que avaliamos pela reação da paciente – o silêncio)
A Confrontação ocorre quando o paciente diz coisas contraditórias, mas de um modo em
que ele não está a ver que são contraditórias. Aqui, esta mulher está a dizer coisas contraditórias,
mas ele percebe que está a dizer isso, por isso, não é considerado uma confrontação. Aqui a
paciente tem consciência das questões contraditórias.
Por sua vez, a Clarificação foi outra técnica pressuposta porque o psicólogo parece já ter
compreendido este desejo de mudança e medo de tomada de decisão de Maria. Anteriormente
ela até diz, “Mas na minha vida afetiva...”, no sentido em que sabe que existe diferença entre as
decisões que toma facilmente na vida profissional e a indecisão em as tomar na vida afetiva,
então o entrevistador procura completar algo que no fundo já lá estava, só não tão claro.
A Interpretação foi colocada em hipótese uma vez que foi sentido que o psicólogo
estivesse a tentar dar um sentido a qualquer coisa que a pessoa indiretamente lhe disse, mas que
ainda não tinha chegado a esse sentido, pelo menos em completo. No entanto se refletirmos esta
intervenção não é tão forte como uma Interpretação nem há quase aqui material latente/oculto
para o considerarmos e, por isso, não era uma técnica muito correta no caso.

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C 5- (Silêncio) → Silêncio Defensivo – (possível defesa pela “agressão” do que foi dito
anterior) A falta de coragem, pode ter sido sentida como humilhante pela Maria.

E 6- Porquê que acha que tomar a decisão é tão difícil? → Exploração (recurso que o
terapeuta arranjou para quebrar o silêncio). O psicólogo recorre à pergunta mais como recurso
para quebrar o gelo do silêncio do que propriamente obter uma resposta na tentativa de explorar
um tema. É aberto, por isso é mais exploração do que questionamento). Não é focalização,
porque não é algo novo.

C 6- (endireita-se na cadeira e eleva o queixo) Não quero tomar uma decisão de que me
possa arrepender mais tarde. E não posso brincar com os sentimentos dos outros (sorrindo).
Sabe é que também temos responsabilidade sobre os sentimentos que têm acerca de nós. E por
vezes parece que resolvem pedir-me aquilo que eu não posso dar. É assim, não posso satisfazer
todos os homens que estão apaixonados por mim (sorri).
Registo um pouco histérico.
A Maria está num registo mais depressivo e depois há qualquer coisa com que é
confrontada, ou eventualmente o próprio registo depressivo em que ela está começa a ser mais
insuportável, e emerge algo um pouco hipomaníaco em que de repente já se ri, diz que é ela a
brincar com os sentimentos dos outros e que há muitos homens atrás dela.

E7 - É curioso, a Maria fala de como se sente mal com esta situação e eu compreendo que
a faz sofrer. Mas a sua expressão parecia dizer-me outra coisa. Eu diria mesmo que parecia
satisfeita. → Confrontação – será adequado fazer uma intervenção confrontativa ou não? (esta
era a questão que se punha aqui). Esta confrontação não terá sido oportuna, uma vez que não é
muito sensível da parte do psicólogo: ele clarifica, ela defende-se, ele tem de fazer um
movimento e consegue voltar a trazê-la para o diálogo, mas aqui volta a confrontá-la e perde-a
para o silêncio de novo.

C 7- (Silêncio) Era bom que as coisas fossem simples, cristalinas. Deve ser mais fácil
quando se está de fora. → Silêncio Defensivo. Se fosse um silêncio reflexivo, provavelmente
o entrevistador iria interromper (pois não o devemos fazer), como fez no início numa das
intervenções. Inicialmente víamos um lado depressivo e agora um lado agressivo, em que ela é
capaz de repente tomar uma atitude. Esta frase que diz não tem o tom de voz nem a forma como
fala, mas imaginamos que ela o diga dessa forma

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E 8- Compreendo…. Será esta a primeira vez que se sente assim dividida com dificuldade
em decidir? Reflexão (no início) e Exploração (no resto).

C 8- (Silêncio) Não sei, não sei... não sei... Se calhar... Mas não, acho que agora é
diferente… Não sei porquê lembrei-me da minha mãe… Às vezes quando era pequena as
minhas amigas convidaram-me para eu ir a casa delas. Eu queria ir, mas custava-me a simples
ideia de não ficar com a minha mãe. No verão sempre quis ir para aqueles campos de férias com
os outros miúdos, mas acabava sempre por ficar… E depois ficava triste a pensar nos que tinham
ido e se estavam a divertir. → Silêncio Reflexivo. Este que implica pensar e fazer associações,
estando a Maria a pensar no seu passado, não a vivê-lo na relação.
o Um silêncio regressivo implica que dentro de nós tenha havido uma regressão, como
se tivéssemos ido para um outro tempo e o tivéssemos a viver na relação com o
psicólogo, e não apenas a pensar nesse tempo. Por exemplo para ser regressivo ela teria
de dizer algo como “Não sei, não sei. Preciso da sua ajuda. Nunca sei como se faz as
coisas”, como se de repente ficasse uma menina pequenina a pedir ajuda ao pai ou à
mãe

E 9- Parece que a dificuldade de escolher tem sido uma constante ao longo da sua vida.
Apesar de me ter dito que tomou decisões profissionais difíceis, já falámos da sua dificuldade
em escolher a sua carreira, escolher a casa que comprou agora parece que se lembra destes
medos mais remotos... Generalização: Ela diz de um modo muito explícito as coisas, por isso
não há uma atitude interpretativa. Aqui, estão a mostrar que a dificuldade de escolher é uma
coisa constante (e.g. escolha de namorados), que este tema percorrer durante um longo tempo
de entrevista.
*Nota: confrontação: o entrevistador confronta material contraditório e o espelha (no
sentido lato)
A Interpretação não poderá ser uma hipótese correta, uma vez que aqui não existe material
novo, tudo o que é referido pelo psicólogo a Maria já falou de fato. Bem como a Reestruturação
cognitiva não é uma opção válida, dado que não está presente uma perspetiva positiva de
conseguir olhar para as coisas de uma forma menos depreciativa ou menos nociva.
A focalização é o inverso da generalização, é escolher de todo o material exposto algo em
particular, mas pode recorrer de uma técnica da generalização. No fundo, aqui assistimos o
psicólogo a reorganizar a informação que foi proposta num espaço e num tempo mais largo,

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pegar nesse material todo, reorganizar na sua cabeça e retirar um aspeto que aparece
sequencialmente.

C 9- Nunca tinha visto as coisas dessa maneira. Terei sido sempre assim? Mas, e agora?
Agora o que é que se está a passar comigo? Não entendo. O que faço? O que devo fazer?

E 10- Compreendo a sua indecisão. Por um lado, está insegura. Não sabe se será capaz de
estar ao lado do Manuel e da sua imprevisibilidade. Por outro lado, o conflito entre a insatisfação
com o João e o preenchimento das suas necessidades de dependência. Reflexão (no início, no
compreendo). Interpretação (ela não disse que estava insatisfeita com o João, como também
não falou da dependência. Há aqui um caracter interpretativo. Pode não ser por aí além, mas há
um significado diferente do que o que a paciente dá.

C 10- Sabe o que é sentir-se completamente perdida, falsa, insatisfeita? E sempre com a
sensação de que o que está a fazer pode não ser o melhor?

E 11- Percebo o que me diz. Eu sei que há momentos na vida em que é difícil tomar decisões.
Autorevelação (falar na primeira pessoa. Torna implícito que está a falar sobre si próprio(a)).

E 12- Mas podemos tentar pensar a sua situação atual doutro modo. Vê-la como uma
oportunidade, ainda que dolorosa, de enfrentar a sua crença de que sai a perder sempre que faz
uma escolha. Restruturação cognitiva – tenar fazer com que a paciente veja o material de uma
maneira diferente, menos negativa - psicólogo promove o olhar para um lado menos mau de
tudo isto.

No fundo ao identificarmos cada uma das técnicas estamos a tornar algo que parece
orgânico e natural em qualquer coisa coerente e explicável. Ao transcrevermos uma entrevista
que fazemos temos de saber explicar o que fizemos e o porquê de x ou y correu mal, isto é,
justificar tecnicamente os nossos atos. Não podemos estar mais do que dois segundo a pensar
que técnica usar (essa é que é a dificuldade), será algo automático: se estamos só concentrados
em ser racionais (“Qual é a técnica que agora vou usar?”) não vou estar lá na relação e para o
cotexto do que se está a passar ali à minha frente.
O analista “Não tem memórias, nem tem desejos” (Bion), isto é, não deve procurar em
sessão com o paciente percebê-lo com teorias, isso será completamente errado. Por exemplo

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estarmos a receber uma história, ligarmos o que nos está a ser dito ao Édipo e começarmos a
debitar intervenções que têm a ver com isso. Posto isto, a teoria tem de estar de tal maneira
entranhada em nós que já não está lá presente quando estamos a falar com a pessoa, e com as
técnicas o mesmo se passa: no início vamos estar um pouco “perros”, mas à medida que o tempo
vai passando as técnicas vão fluir de uma forma mais natural. “O corpo leva-se pela memória e
o gesto deixa de ser pensado.”

Questão do trabalho:
1ª opção (para o diálogo e interpretar):
conseguir refletir sobre o que é aquela técnica, qual o objetivo fundamental, de onde é que
ela vem…
o prof diz que 6 páginas de entrevista é mais ou menos suficiente.
4 páginas: quando esta descrito para discutir a entrevista d poto clínico e técnico
técnico: isto provocou isto na paciente, e depois ela reagiu de certa forma… se houver uma
compreensão do funcionamento/psicopatologia é melhor! como a pessoa está a reagir à pessoa!!
funcionamento mais primitivo, etc…

o estudos de caso: a compreensão teoria é mais importante. aqui temos de fazer uma
hipótese e é fundamental.
o Podemos inventar em todos os casos a entrevista!
o Pode ser uma entrevista mais genérica, e não precisa assim de um modelo teórico.

4ª Aula Teórica (19/03/2021)

TEXTOS SOBRE SILÊNICOS


D, adolescente, 16 anos.
O professor já tinha estado com os pais, moreno, olhos escuros, magra, aparece com umas
jeans e uns ténis, tem um ar adequado à idade, trise, com uma postura rígida (sensação de
imobilidade), tensa e sorri timidamente. O professor diz o nome dela quando a cumprimenta e
ela sorri timidamente.
A sessão é marcada por silêncios, e ela falava muito, muito baixo (como se sussurrasse).
Alguns silêncios eram muito prolongados, e o professor não queria interromper.

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O professor sentia-a tensa e muito hesitante. Foi inquietante para o professor.

O professor começou a falar com ela, e começou a desenvolver-se um diálogo.


C: … restaurar a minha mente, há muita coisa do meu passado → silêncio inibitório ou
regressivo? Defensivo talvez (não), mas vamos ver mais à frente (foco nos 2 primeiros).
T: queres falar sobre isso?
C: …
T: Sei que te chamas D, sei eu vives com os teus pais desde os 10…
C: …
T: parece que é preciso restaurar, se calhar podemos tentar fazer aqui…
C:
T: Há alguma coisa que gostasses de falar?
C: Como assim?
---------------
O T continuou a insistir delicadamente, mas C continua a responder com muito silêncios.
Até que o que T lhe diz para combinarem uma coisa: que ela sé tem de dizer o que quer.
C: Eu agora estou a fazer um trabalho nas férias, na serra. Estou a fazer de manhã, mas
posso à tarde.
T: Nós depois vemos isso…
C: Mas também posso terça!
----------------------------
Ela demonstra interesse em falar sobre o passado. Falam um pouco da família dela. Da
história de vida dela (que o T conheceu através dos pais).
T: Se calhar há muitas coisas do passado que não podes contar aos teus pais, que tiveste de
guardar para ti.
--------------------------
Continuam a falar muito do passado, onde C continua a responder com silêncios muitos
longos.

Temos aqui quase todos os silêncios, ao longo da sessão. Talvez um silêncio inicial que
pode ser de inibição (tudo desconhecido, e não saber o que é esperado). Depois acabam por
surgir silêncios mais elaborados. Num momento inicial poderão ser de mais passividade (que
até podem revelar traços da personalidade). Mas também há momentos da entrevista onde ela
fica completamente perdida no passado, como se não conseguisse articular palavras para falar,

47
e aqui podemos encontrar uns silêncios regressivos. Também podemos encontrar uns silêncios
de defesa, mas estes não são os fundamentais.
Possivelmente uns reflexivos? (o professor não falou destes). Estes são os silêncios
produtivos. Por exemplo, quando fazemos uma interpretação, ou o paciente chega a uma
conclusão, ou vê algo que não tinha visto antes. Muitas vezes precisa de um espaço para pensar,
para fazer ligações, onde eventualmente surgem memórias. A pessoa está a pensar sobre as
coisas de forma profunda e reflexiva. São muito importantes para o desenvolvimento da terapia.
Aqui há um movimento construtivo do desenvolvimento pessoal.

Na primeira entrevista, os silêncios são criadores de um pouco de tensão, dado ao face a


face. Nós podemos sentir que estamos numa atitude inquisitória, e que estamos a evitar o
confronto com a ansiedade do paciente, e não podemos. Não é fácil (trabalhar com os silêncios),
comparado ao divã. Na entrevista, a terapeuta não conhece o cliente, por isso tem de manejar
com maior cuidado o desenrolar da sessão.

ENTREVISTA FAMILIAR
Aspetos fundamentais: exige uma capacidade pela parte dos terapeutas – onde é utilizado o
Questionamento Circular: temos várias pessoas na família e temos do integrar todas na
entrevista. Colocando a questão ao grupo, às vezes, espontaneamente, alguém pega nela, mas
às vezes colocam-se as questões diretamente, e é importante que todos os membros respondam.

Simulação de entrevista (atividade prática):


Estar atento a:
o Hipótese (terapêutica) para o funcionamento geral da família;
o Tentar identificar a sequência dos comportamentos quando o sentimento aparece;
o Pensar no genograma da família (Quais as relações da família? As mais próximas, as
de conflito, etc.)
o Ver (ainda) o questionamento circular;

1ª Sessão:
Temos uma família constituída por uma mãe, um pai e duas filhas.
o A mãe diz que a filha mais velha não come, não ouve o que os pais estão a dizer, e
que as irmãs estão sempre chateadas;

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o A filha mais velha, diz que os pais fazem uma tempestade num copo de água. Sente-
se desvalorizada em relação à irmã mais nova;
o A Joana (irmã mais nova) diz que os pais gostam da irmã mais velha porque a
defendem mais;
o A mãe diz que ambos os pais gostam das duas de igual forma;
o A filha mais nova reponde;
o A filha mais velha diz que só querem que a deixem em paz;
o A filha mais nova diz que assim, também vai começar a não comer para lhe darem
atenção;
o O pai diz que acha que tratam as filhas por igual. Diz que os hábitos alimentares da
filha mais velha estão a ser preocupantes;
o A filha mais velha diz que quando é para a chatearem, os pais estão lá sempre, e
quando é para terem momentos de família, têm-nos com a filha mais nova;
o A filha mais nova acha que a irmã come muito, apesar dos pais acharem o contrário;
o A mãe diz que a filha não explica o porquê de não comer, que não fala com eles;
o A filha mais velha diz que a irmã mais nova é que é a perfeita e que tem o corpo
perfeito;
o O terapeuta pede para dizerem como é que é um dia normal na família;
o A mãe explica, e basicamente não há muito tempo para tempo para a família.
(…)
o O terapeuta pede para as irmãs falarem um pouco da relação delas;
o A irmã mais nova diz que pede ajuda à mais velha e aos pais para a ajudarem a fazer
os trabalhos de casa, e eles não querem. Nem a irmã mais velha, nem os pais;
o A irmã mais velha, responde a isto com um silêncio e diz não sei…;
o O pai acaba por dizer que a filha mais velha acaba por se isolar.
(…)

A sessão termina e irá ser continuada na seguinte aula teórica.

49
5ª e 6ª Aulas Práticas (07 e 14/04/2021)

Dúvidas sobre Trabalho:


Diagnóstico da psicopatologia clássica ou de funcionamento? É igual, o professor aceita um
ou outro (podemos exacerbar alguns traços para justificar certo tipo de funcionamento).

EXERCÍCIO PRÁTICO: PEDRO, 19 anos

Pedro é um jovem estudante universitário de 19 anos, oriundo de Leiria. Frequenta o 2º


ano de uma Universidade de Lisboa. Procura um psicólogo porque não consegue
corresponder às exigências académicas, encontrando-se por isso “desmotivado” e ‘triste”.

Em diferentes momentos da sessão faz as seguintes comunicações.

(…) (…)

E1 – A partir de que momento é que começou a sentir essas dificuldades? (Questionamento)

Cl - Não sei! Se calhar desde o ano passado. Era o primeiro ano cá e não conhecia ninguém.
Talvez por isso me fosse fechando e acabei por não ter motivação para grande coisa.

E2 – Foi um período de mudança da tua vida e sentiste que não conseguias fazer nada para
mudar isso (Reformulação)
Houve pessoas que continuaram pelo Questionamento – “Sentiu que estava perante uma
grande mudança?” Também parece uma Focalização, e também pode ir para Clarificação.

C2 - É, foi essa a sensação: que dentro de mim alguma coisa tinha mudado ou estava a
mudar. E eu não podia fazer nada contra isso...

E3- Hum hum…. Sentiu-se impotente. (Reflexão e Reformulação/Interpretação?)


Houve pessoas que ecoaram: “Não podia fazer nada fazer nada contra isso…”
Outras pessoas escreveram: “Porque é que sente que não podia fazer nada contra isso?
Quase como se estive impotente face à situação”. → Sempre que nomeamos um afeto que
ainda não foi nomeado, podemos tentar a induzir qualquer coisa. Às vezes estamos a ajudar

50
alguém a conhecer um afeto, mas se não há essa intenção, temos de ter em conta isso.
Ecoar está ali no ponto em que o paciente está. E fazer uma pergunta deste tipo é muito
diferente do ecoar.
Há duas coisas importantes: a pergunta e difícil de responder e depois vai buscar qualquer
coisa que o paciente diz, e que é muito confrontativo.

C3 - (Silêncio) Silêncio Reflexivo

É.… não podia fazer nada. Sentia-me impotente para acabar com essa preguiça, essa
vontade. De dormir, de me isolar.

E4 – Vontade de se isolar? (Exploração e Focalização, Ecoar → não é preciso dizer as 3)


Um grupo disse: “Imagino que seja difícil estar a falar sobre isso. Chegou a falar com um
amigo sobre isso?” → não faz muito dizer isto, o professor sugeriu que, antes de falar com os
amigos, falar com a família ou os professores. Se na 3ª ou 4ª intervenção começamos logo a
falar sobre os amigos, antes de a pessoa o ter feito, podemos estar um passo à frente da pessoa.
Não problema fazer isto, mas lá está, parece que estamos numa direção diferente da paciente.

Quanto mais simples é a construção do texto, mais rapidamente as pessoas, os pacientes


chegam ao que queremos dizer.

Focalização: utilizamos quando há um material mais disperso e queremos dar um foco ao que
o paciente disse.

C4 - Se calhar essa é uma das questões centrais no meio da confusão da minha cabeça…. É
que é mesmo difícil encontrar-me com os outros, estar com eles!

E5 – Como é que se sente quando está com os outros? (Exploração e Questionamento)


Qual o efeito que esta técnica tem no paciente? É para o paciente refletir sobre o assunto.

C5 - Oh! Como se fosse um anormal. Sem saber bem o que dizer, onde pôr as mãos. Sinto que,
no fundo, não me estão a ouvir ou então estão a avaliar-me, a criticar-me. Outro dia queria falar
de um livro que tinha lido e troquei o nome do autor. Quando me corrigiram e eu percebi que
me tinha enganado, só me apetecia fugir dali. É por causa destas coisas que acho sempre que os
outros não me têm em grande conta…

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E6 – Já pensou que na verdade os outros têm em consideração aquilo que diz, e por estarem
interessadas significa que o estão a ouvir e por isso é que o corrigem (Reestruturação
Cognitiva).

C6 - Nunca tinha pensado nisto dessa maneira…. É como ver a mesma coisa ao contrário….
Realmente, para me corrigirem é porque estavam atentos ao que lhes dizia, não é?

(…) (…) (…)

E7 – Que diferenças é que lhe causam mais transtorno, aqui em Lisboa? (Exploração e
Questionamento) → Como se sente em viver em Lisboa?
A exploração é uma pergunta mais aberta, comparando ao questionamento.

C7 - Acho que aqui é tudo mais difícil que em Leiria. As distâncias, os acessos, as pessoas….
Parece que ninguém tem tempo para ninguém…

E8 — Hum hum, compreendo. Sente que é mais difícil interagir com os seus colegas do que em
Leiria. (Reflexão e Clarificação)
Outro grupo: “Parece que a mudança para lisboa dificultou as suas relações” – Clarificação.

C8 — É! Aqui tudo dificulta. E não só os colegas. Falar com um professor, por exemplo! Quase
que é preciso um requerimento. Por isso prefiro nem me preocupar. Vou às práticas porque
tenho de assinar a folha. No fim da aula, evaporo-me.

E9 – Mas segundo o que me já me disse, tem dificuldade em conviver com os seus colegas, mas
agora está a dizer-me que no final das aulas vai-se logo embora (Confrontação).

Outro grupo: “É curioso, diz que as pessoas não estão disponíveis, mas tu não vais ao encontro
delas. Parece que és tu que estás indisponível”. → Esta segunda frase é muito forte, parece que
estamos a realçar uma falha dele. A primeira frase bastava.

Também podias fazer uma confrontação com humor, já era um pouco mais ligeiro.

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C9 - Bom, isso visto assim até parece que sou eu que… (Silêncio) Reflexivo →
No início reage de maneira defensiva, mas depois parece que surge uma reflexão. E podemos
considera isto. Um silêncio que começa por ser defensivo e depois passa para reflexivo.

C9 - Olhe, se calhar o problema é mesmo meu. Se calhar estou a exagerar... Mas, como é que
dou a volta a isto? Sabe, a minha vida foi sempre tão simples A escola, a minha família, os
mesmos amigos desde a primária. Agora parece que tudo me escapa das mãos...

E10 – É normal todos sentirmos uma necessidade de adaptação em períodos de mudança. Eu


própria já passei por uma situação semelhante. (Autorevelação)
Há técnicas em que o terapeuta se expõe: “ainda me lembro que o início da faculdade seja
difícil”.
A autorevelação, aqui, fez com que o Pedro visse as coisas de outras maneira, que ele não
estava a ver antes.

C11 - Mas agora parece tranquilo e bem consigo próprio…

Se calhar também vou ser capaz. Sabe, às vezes acredito que a minha vida vai dar
uma grande volta, que ainda vou conseguir realizar muitas coisas.

E11 – Já viu? Apesar das situações difíceis, consegue encontrar coisas positivas
(Reformulação) → na nossa reposta estamos a fazer um reforço. Ele está deprimido da
sessão toda, e por isso é bom pegar neste reforço.

Não utilizar: Já viu? Apesar das situações difíceis, consegue SEMPRE encontrar coisas
positivas → não vamos utilizar a palavra sempre! O paciente pode não se sentir
compreendido.

Securização (técnica muito específica da psicoterapia de apoio) – transmitir segurança ao


paciente (isto foi para a frase da uma pessoa da turma, semelhante à nossa. Mas um pouco
mais “suave”).

C12 - É… E nessas alturas parece que se acende uma luz lá ao fundo.

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5ª Aula Teórica (09/04/2021)

Continuação da Terapia Familiar

Simulação de entrevista (atividade prática):


Estar atento a:
o Hipótese (terapêutica) para o funcionamento geral da família;
o Tentar identificar a sequência dos comportamentos quando o sentimento aparece
o Pensar no genograma da família (quais as relações da família? as mais próximas, as de
conflito, etc.)
o Ver (ainda) o questionamento circular
→ (igual à aula anterior)

2ª Sessão:
o a mãe acha que depois da sessão anterior, as coisas ao início melhoraram, mas que
depois voltou tudo ao mesmo – Lea continua sem comer (irmã mais velha);
o a Sofia (terapeuta), depois pergunta o que é o que o resto da família acha sobre isto
o Lea foi a primeira a falar e disse que finalmente os pais a deixaram de a chatear,
sufocar, etc.;
o Lea explica que gira tudo à volta da questão alimentar;
o Sofia pergunta à Joana (irmã mais nova) como é que se sente;
o Joana diz que as discussões continuam, quando há algum estímulo para (e.g. fritar
croquetes);
o Sofia fala diretamente com o pai, e diz que a expressão corporal dele diz muito coisa
e pede para ele falar;
o Tomas (pai), diz que compreende a atitude da filha mais velha, e acaba por dizer: “é
tudo como a mãe quer”;
o a Joana diz que se a mãe é que cozinha ela é que devia decidir;
o a Lea diz que há finalmente alguém que a compreende (referindo-se ao cometário
feito pelo pai, em relação à mãe);
o falam todos assim uns em cima dos outros (a mãe agradece à filha mais nova, a
Joana diz que gosta dos cozinhados da mãe, etc.)

54
o a mãe acaba por dizer que o pai podia ajudar um pouco mais, nesta questão do
cozinhar. E que podia haver uma iniciativa pelos restantes membros da família;
o Dora (outra terapeuta), pergunta o que é que os outros membros acham deste
pensamos da mãe;
o a Joana diz que vê o pai sentando no sofá e que o mesmo nunca faz nada;
o a Lea diz que os pais discutem sempre que falam, e que a mãe nunca tem em conta
os restantes membros da família;
o a Sofia pergunta aos pais como se sentem/o que acham em relação a isto;
o a Patrícia (mãe) diz que isto se tem tornado um hábito e que tem acontecido mais e
mais;
o o pai concordou e tem pena que tenha chegado ao ponto a que chegou;
o a Sofia pergunta que ponto é esse;
o o pai diz que é: as filhas estarem envolvidas. Até ao ponto das coisas mais normais,
elas estarem envolvidas
o a Dora pergunta se acha que seria uma coisa boa eles na próxima sessão irem só os
dois;
o a mãe diz que se acharem que é o melhor que concorda;
o o pai também não se importa, mas acha que não e propriamente necessário;
o a Sofia intervém e diz que gostava de os conhecer mais enquanto família, como é
que é um dia habitual, etc. (visto que surgiram vários pontos do assunto) e pede para
ser o pai a começar;
o pai começa por dizer que leva a filha mais nova à escola, que depois é trabalho, e
que quem se despachar primeiro depois vai buscá-la. Em casa não vêm a Lea de
manhã, e que quando ela chega vai sempre para o quarto. Quando chega a hora de
jantar é sempre tudo a mesma coisa, ainda tentam fazer alguma coisa, mesmo que
seja pouco, depois de jantar, mais é mais ou menos a mesma rotina;
o a Sofia pergunta o que é esse pouco;
o o pai diz que se calhar não falam tanto quando deviam, ou que o que todos queriam;
o a Sofia pergunta ao Tomás como é que a disposição das pessoas à mesa;
o o pai explica;
o a Sofia faz algumas questões para perceber melhor, inclusive se ele está numa
cabeceira, se se sentam sempre nesta disposição, etc.;
o o pai pergunta se isso é relevante e a Sofia diz que em TF gostam de saber estas
coisas;

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o a Sofia depois pergunta à Joana se concorda com esta descrição do pai;
o a Joana começa por contar o dia, e diz que maior parte das vezes é a mãe que a leva
à escola, não o pai. Vai à escola, depois quando chega a casa ajuda a mãe a fazer o
jantar, e que depois começa “a falar mal da irmã” a dizer que ela acorda chateada;
o a Lea intervém e começa a dizer “que seria se não falasses mal de mim”;
o a Dora pergunta então à Lea como é que é a perspetiva dela sobre o dia a dia;
o a Lea explica a sua perspetiva, desvalorizando sempre a irmã, e que agora, no final
do dia quando chega a casa, diz que são sempre as mesmas questões (sobre a
comida), depois as discussões, e de seguida vai para o quarto. dDiz que ver o filme,
é uma maneira de estarem a fingir que são a família normal;
o Sofia pergunta qualquer coisa que não consegui ouvir (estupida net!);
o a Lea responde que, antes, as coisas eram diferentes, que não havia tantas
discussões;
o a Sofia pergunta há quanto tempo;
o a Lea diz que foi há uns anos;
o a Sofia pergunta depois ao pai o que acha sobre isto;
o o pai diz que acaba por concordar e até ridiculariza uma atitude face à mãe (sopa de
frango da 1ª sessão – aula anterior);
o a Sofia pede para o pai dizer como era a vida deles nessa altura (empregos, idades
das filhas, etc.);
o o pai diz que, não sabe bem, mas que até pode ter sido antes da Joana nascer, e que
o emprego dele era outro;
o a Lea intervém: aí as coisas foram tão boas que nem te lembras da morte do tio;
o (o pai começa a chorar);
o a Sofia petunga ao pai se quer falar sobre o assunto;
o o pai confirma que era o irmão dele, que tinha acontecido quando era novo, mas que
ele nem tinha pensado em trazer esse assunto para a terapia;
o a Sofia pergunta a mãe o que acha sobre isto, se o acompanhou, etc.
o a Patrícia fala um pouco sobre isto, e diz que na altura o pai até arranjou um emprego
com mais horas “para se distrair”;
o a Dora pergunta se nessa altura o pai estava mais ausente;
o a mãe diz que sim, e que foi a partir dessa altura que sentiu que caiu todo em cima
dela, tinha de cuidar das duas filhas sozinha, etc.;
o a Dora depois pede para a Joana falar sobre esse assunto;

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o a Joana diz que nem sabia da existência desse tio, que nem há uma fotografia. Que
estava com dois sentimentos: que estava triste pelo pai, mas que ao mesmo tempo
achava que podiam ter falado com ela, porque já se considera uma adulta. Diz que
compreende o pai, porque ela própria, não queria perder a irmã e que ficava muito
triste se isso acontecesse;
o a Lea fica tocada com o assunto e acaba por ser um pouco carinhosa com a irmã
mais nova;
o a Dora pergunta ao pai o que acha sobre isto;
o e ele agradeceu por o “compreenderem”, e que gostou muito de ver as filhas assim
uma com a outra. Que talvez pudessem falar um pouco sobre este assunto depois;
o a Sofia pergunta à mãe o que sente sobre isto;
o a mãe diz que também fica muito contente por ver as filhas a serem assim uma com
a outra, e que sim, que podiam falar sobre o assunto, mas que isso tinha de partir do
marido;
(…) (…)
o a Dora pergunta como é que é o fim de semana;
o a mãe diz que o pai só tem folga ao domingo e que basicamente é um dia igual aos
da semana;
o a Dora pergunta como são os domingos;
o a mãe diz que o pai aproveita para descansar e que ela continua com uma rotina
semelhante;
o a Sofia interroga então que a patrícia não tem, basicamente, um dia para descansar;
o a mãe acaba por dizer que sim;
o a Sofia pergunta à Lea o que é que ela acha;
o a Lea diz que os as coisas são assim, de facto e que as discussões são piores porque
estão todos lá. Às vezes os avós maternos vão lá e as coisas são mais calmas;
o a Dora pede então para a filha mais nova para falar;
o ela descreve mais ou menos a mesma coisa e acrescenta só que tem pena que os avós
paternos não vão lá tantas vezes, porque ela gostava;
o a Dora vira-se para o pai e pede para ele falar um pouco sobre o assunto;
o ao qual ele diz que concorda com tudo o que foi dito e que não pode falar de
momentos em que não está em casa;

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Dá-se o final da sessão, com o devido feedback de cada um (tanto de terapeutas como dos
membros da família). Fica o compromisso de a família pensar sobre os assuntos que foram
falados nesta sessão, e que a próxima sessão seria com os pais, e posteriormente da próxima vez
que falassem sobre o assunto do tio falecido, para o pai tentar falar um pouco mais abertamente
sobre isso, principalmente com as filhas (em específico a Joana).

No Modelo Sistémico é possível os terapeutas abandoarem as sessões durante momentos


para falarem um com o outro, mas tem de se ter em atenção quando se faz isto para não
desorganizar ou até mesmo abandonar a família num certo momento específico.
A comunicação entre terapeutas é muito importante! Tem de se fazer leituras terapeuta-
terapeuta, e estes costumam ter papéis definidos. Normalmente as propostas major e a condução
da entrevista são do terapeuta e não do co-terapeuta.
Se há um terapeuta e um co-terapeuta, um é co do outro. Quando temos duas pessoas que
trabalham há muito tempo juntos pode haver um equilíbrio maior entre quem é que segue quem,
mas se há um com menos experiência do que o outro, por exemplo, faz sentindo que haja um
que defina a estrutura da sessão, e um segundo que siga os passos do primeiro.
Por norma está definido quem é quem. E o co-terapeuta segue mais os passos do terapeuta,
mas também pode chamar à atenção do terapeuta para alguma coisa que o mesmo (o terapeuta)
não tenha visto em relação ao tema que está a ser falado em específico. Por exemplo: Intervir
na questão do questionamento circular →Todos os membros da família falam, menos a mãe.
O co-terapeuta pode dizer: Agora era importante ouvirmos a mãe…
Mas é muito importante trabalhar em simetria e não deixar chegar à rivalidade. São pares,
apesar de haver um que vai seguindo os passos do outro. É importante haver um que define a
estrutura e outro que vá seguindo (mas isto tudo é discutível!).

Outra questão importante é a questão de estarmos Sintonizados: as sessões correm melhor


quando estamos sintonizados com o material. Ou seja, às vezes temos um “guião” regido e
temos uma ideia de como queremos que a sessão vá correr, mas é importante fluir com o que é
fornecido ao longo da sessão pelos diferentes membros.
Ainda temos a questão do reagir ao Feedback imediato da família! Nós colocamos a nossa
hipótese, mas de repente surge um dado novo, e nós temos de reformular as hipóteses. Mas é
importante ao longo da família irmos tendo uma hipótese do que é que se está aí a passar. →
por exemplo, conseguirmos pensar, através da fala de uma das filhas no final, o que é que
significa a comida?

58
Às vezes é importante termos noção da questão da geração (diferenças de gerações, de
idades). Ou seja, termos em mente o questionamento circular, mas se estamos a perguntar
alguma coisa que só faça sentido os pais reponderem, em princípio não vamos perguntar aos
filhos o que é que eles acham sobre tal assunto → É muito importante a família ter a noção de
gerações. Os pais são os pais e os filhos são os filhos.

Alguns elementos relevantes de ambas as sessões:


o A sopa de frango aparece como um desinvestimento face à mulher (comentário do
pai);
o Quando os pais não estão e não cumprem a sua função a rivalidade fraterna aumenta;
o Mas entre irmãos acaba por haver uma aliança muito forte. Que sabem que podem
contar mais uns com os outros, do que os próprios pais;
o Parece não haver uma estrutura família, não há nada que os ligue, ou seja são
personagens soltas;
o O distanciamento da mãe pode ser ma sensação de incapacidade, e não um
desinteresse por parte dela;
o Há a coincidência entre o nascimento da Joana e a marte do tio;
o Procuramos o casal, mas não encontramos o casal em lado nenhum. O pai a trabalhar
e a mãe a cozinhar. Não há uma ideia de casal aqui nesta família;
o A comida é o momento que a família está toda junta. Quando estão sentados à mesa,
mas como se houvesse uma impossibilidade de estarem em sintonia.

Do ponto de vista técnico, quem termina a sessão é o terapeuta e é bom. Mas talvez, seja
positivo fazer um comentário que inclui o que nós fomos sentindo ao longo da sessão. Dizer
alguma coisa contentora à família (e até ser específico e falar diretamente do um dos temas
que foi abordado – possivelmente o mais forte).

59
6ª Aula Teórica (16/04/2021)

PSICOTERAPIA DE APOIO

O que marca a diferença entre as entrevistas clínicas e as psicoterapias de apoio?

As primeiras sessões de uma psicoterapia de apoio são entrevistas. E as entrevistas não


têm de se transformar obrigatoriamente em psicoterapia de apoio.
A psicoterapia é uma continuação do processo de entrevista. No momento em que fazemos
o processo de avaliação com o paciente, depois fazemos um contrato terapêutico.
Há sempre uma TEORIA por de trás da entrevista. Aqui o senso comum deve estar afastado
da nossa compreensão. É difícil fazer isto, porque o nosso senso comum vai sempre
tendencialmente aparecer, mas se cairmos nesta armadilha não vamos entender mais nada do
que uma pessoa entende (nos está a transmitir).
E a TÉCNICA: parecendo que estamos a ter uma conversa com a pessoa, o que fazemos é
aplicar técnicas que visam objetivos muito concretos.

CONDIÇÕES EXTERNAS E FACILITADORAS DA RELAÇÃO


As condições externas e facilitadoras da relação correspondem a aspetos formais e
informais, servindo de pano de fundo ao desenvolvimento de uma entrevista clinica. A
qualidade intrínseca da entrevista joga na interação diretamente com estes aspetos que devem
ser facilitadores da relação ao invés de provocadores de distração, desconforto ou repulsa pela
situação.

→ RELAÇÃO CLÍNICA
O que é que facilita a condução de uma entrevista? → Todo o que vai conduzir a relação
clínica. Por exemplo, se sabemos que é uma entrevista de avaliação, nós sabemos que não vamos
ficar muito tempo com a pessoa, e a relação é muito importante para demonstrar isto.

→ SETTING
Conjunto de condições que são facilitadoras da relação – o ambiente físico/ espaço, o
tempo e até o papel dos intervenientes. O que vem primeiro à ideia é o espaço onde a
entrevista decorre. A constância do setting das primeiras entrevistas é muito importante e tenta-

60
se que seja uma invariável. O resto, que são as variáveis, vão poder ser interpretadas sem
interferência do setting. Uma escola que dá importância a isto é a psicanálise → Eu consigo
pensar numa coisa, porque o setting elemina as outras variáveis, e noutros sítios não, como os
nossos valores, as nossas considerações sociais, etc. Como nunca sabemos se uma entrevista se
vai transformar numa psicoterapia, é bom controlarmos o setting.
Resumindo é o ambiente físico onde decorre a entrevista. Onde se juntam as constantes de
tempo e lugar, o papel dos participantes e os objetivos que ambos perseguem.
o Avaliação psicológica: Uma secretária bem iluminada na qual o indivíduo se possa
sentar e ter apoio para ler e escrever;
o Entrevista clínica: O Psicólogo e o cliente devem estar na posição frente-a-frente, sem
nenhuma mesa entre os dois, com uma iluminação discreta na sala, ajudando a criar um
clima de intimidade.

→ ESPAÇO (IDEAL)
O que é que é o espaço ideal? Nós nunca o vamos encontrar, mas vamos sempre tentar
alcançá-lo. Hoje em dia, maior parte dos psicólogos já tem o seu próprio espaço, antigamente
era o escritório que estava disponível.
O ideal é ter uma sala confortável, com cores neutras, não demasiado personalizada, sem
insonorização (porque as pessoas podem não querem ser reconhecidas, não quererem ser
ouvidas → é o primeiro passo para as coisas correrem mal).
o (In)sonorização: o cliente não quer que o teor do que aborda durante a entrevista seja
do conhecimento de terceiros. A suspeita ou o receio de que esteja a ser ouvido por
outros dificultará a relação e terá um efeito inibidor na verbalização e na relação. Assim,
é necessário que o Psicólogo se certifique de que o que é dito na sala não é ouvido no
exterior;
o Iluminação da sala: Deverá ser a suficiente;
o Localização do Gabinete de Atendimento: Refere-se ao edifício em que se instala o
consultório, à sua zona geográfica e também à relação que se tem com o espaço (por
exemplo, é um espaço exclusivo de trabalho ou é também um espaço habitacional). A
escolha da localização terá influência na representação do público, da atividade
desenvolvida pelo Psicólogo e no tipo de clientes que o procurarão. Por outro lado, ter
um consultório num local central e facilmente acessível de uma grande cidade é diferente
do que o ter consultório numa zona periférica, pelo que, os sujeitos que os procurarão
serão certamente diferentes;

61
o Posição: a que as pessoas vão estar na entrevista clínica; Nas instituições há um hábito
horrível: as pessoas batem à porta e entram no consultório; Quando a insonorização é
má, é diferente quando um está virado para a porta ou não; Temos de regular o som;
Pacientes virados para a porta: por exemplo, pacientes mais fóbicos → a ideia de
perderem o controlo pode ser um pouco ansiogénico; Para além de estar virado para a
porta, onde é que se senta o psi? E o cliente?;
o Partilha de Gabinete: É bastante frequentemente que o gabinete seja partilhado por
técnicos de outros ramos (como a partilha de gabinete entre médico de família e
psicólogo, por exemplo), onde existem marquesas e instrumentos médicos à vista, o que
não ajuda a criar um bom ambiente de trabalho do ponto de vista psicológico → quando
partilhamos gabinete é complicado;
o Serviço público e ambientes Institucionais: Existem situações em que a proximidade
a um ambiente acolhedor é virtualmente impossível, como em serviços de saúde,
cuidados intensivos e enfermarias, onde existem, frequentemente, várias camas por
quarto. Ainda assim, pode ser necessário que as entrevistas se realizem. Então, neste
caso, deverão existir procedimentos básicos a ter em conta, como a utilização de
separadores (como cortinas ou biombos) entre as camas por forma a criar um espaço
íntimo. O terapeuta deverá estar próximo do paciente pois terão que falar baixo. É
importante referir que o Psicólogo não deve sentar-se na cama ou entrevistar na presença
de terceiros;
o Decoração do gabinete: também é um tema complicado, pois depende do gosto de cada
um. É desejável que haja uma certa neutralidade nas cores, nos objetos, etc. O ambiente
em geral deve ser neutro. Deve ter um investimento suficiente → não decorar o
consultório com móveis da avó que foram parar ali porque não tinham outro sítio para
onde ir. Depois também não vale a pena termos um consultório muito luxuoso, pois o
cliente pode sentir-se intimidado. Dever ser acolhedor, confortável, investido, não
gritando luxo. Também não deve ser muito estimulante (e.g. uma parede pintada de
encarnado). E adicionalmente, um consultório para crianças é muito diferente de um
consultório para adultos. No das crianças é preciso ter em conta vários pontos, por
exemplo, não basta ter as poltronas, porque o trabalho com crianças pode não ser feito
com elas sentadas, mas sim a brincar (onde nós, psi, também brincamos com elas). É
preciso ter um espaço no chão que seja confortável, e ter uma mesa para fazer jogos e
desenhos, de preferência de tamanho adequado (confortável para ser usada por uma
criança). Uma orientação mais analítica, é importante ter água disponível (lavatório é

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ótimo) para trabalhar coisas mais regressivas, pois implica o líquido. É para trabalhar
outro tipo de conteúdo → é melhor que ir à casa de banho a meio; Também não é
aconselhável ter nas paredes os desenhos dos outros meninos. Não se deve fazer. Os
trabalhos de cada criança devem ser guardados num espaço próprio e devem depois estar
disponíveis na sessão com essa mesma criança.
o Secretária: não é um elemento facilitador para relação e impõem de uma forma muito
clara uma hierarquia e uma situação de poder. É de facto, uma cópia do modelo médico.
É como a bata, mais ou menos, e em algumas instituições há psicólogos que a usam; É
um elemento defensivo, que nalgumas situações especificas pode fazer sentido, por
exemplo, se trabalhamos com delinquentes ou sujeitos perigosos, talvez possa fazer
sentido termos uma secretária para nos sentirmos mais protegidos; Ainda, a secretária
exclui o corpo, e o mesmo é bastante importante para a comunicação. Em termos
abstratos o corpo é um corpo de desejo, e para a relação ser mais fácil e criar uma
entidade mais forte, é muito melhor que as pessoas se sentem em boas cadeiras, ou dois
sofás, etc.; Se até estivermos num consultório, que não tem muito espaço, e tem uma
secretaria no meio, é de bom grado que a tiremos do meio.
o Distância das Cadeiras: Por norma, há dois assentos iguais, que dão uma noção de
simetria perante aquelas pessoas. Pode existir uma poltrona individual e um sofá, por
exemplo com 3 lugares. E até podemos ver em que lugar é que a pessoa se senta e deduzir
isto ou aquilo (se a pessoa se senta mais perto de nós ou mais longe); O frente a frente,
pode fazer com que o entrevistado se sinta intimidado pelo psi. É suposto que o
entrevistado possa olhar o desviar o olhar para o psicólogo sem que haja problema. Por
isso, é melhor estarem não frente a frente, e estarem ligeiramente na diagonal; Às vezes
a distância das cadeiras é tão grande que faz impressão ao professor, mas quando há
demasiada proximidade, também pode trazer problemas. Tem de haver uma
proximidade suficiente para por exemplo, traçar e destraçar a perna, sem que haja
contacto com o outro. O tocar no paciente com a perna é demasiada intimidade. Mas
também não estarmos muito mais longe que isso.

→ TEMPO
Outro aspeto importante, e mais Uma vez, facilitador da relação. É outra variável. Depende
se é a primeira ou não. E o tempo da primeira entrevista é para ouvir a queixa, mas também para
pensar e fazer alguma ligação. Por isso temos duas necessidades, a do paciente falar mais e a
nossa de ouvir mais. Por isso, a primeira entrevista é mais longa que as outras (pelo menos uma

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hora, mas pode ir até uma hora e um quatro, ou até mesmo uma hora e meio). Contudo as
entrevistas não devem ser demasiado longas, porque há um tempo. O tempo que é possível para
manter a atenção é limitado. Quando as entrevistas passam esse tempo, pode perder-se o que se
ganhou até esse momento. A dinâmica da entrevista vai crescendo e depois diminuído, e há um
momento em que tem de parar para não ser quebrar a dinâmica. Para evitar a sensação de ressaca
da entrevista. Também é bom os pacientes ficarem curiosos e com vontade para voltar para a
próxima sessão, ao invés de uma sessão de esgotamento.
Depois, é conveniente, quer em instituição, quer no privado, quando aparece um paciente e
termos uma fase inicial de 3 ou 4 entrevistas para decidir o que se passar a seguir, que pode ser,
por exemplo, uma psicoterapia. Como o tempo de uma psicoterapia é fixo, a partir da segunda
entrevista devemos já estabelecer um tempo fixo, para construirmos um padrão. E quando
tempo acaba, temos mesmo e finalizar, mesmo que seja difícil.
O tempo é organizador. As pessoas que nos vieram procurar “já sabem para o que vêm”.
Não é aconselhável que se prolongue, mas se às vezes acontecer, e se se prolongar 10 minutos
já é imenso.
É ainda importante salientar que, o tempo de duração de uma entrevista clínica é variável
pois depende de diversos fatores como o contexto, e o facto de ser ou não a primeira
entrevista. Em contextos institucionais, as entrevistas tendem a ser mais breves do que em
clínica privada.
o Duração da Entrevista: O tempo médio é de 45/50 minutos pois permite aos
interlocutores a conservação de bons níveis de atenção e concentração. O tempo
inferior a 30 minutos não é de todo recomendado porque, em 30 minutos, é difícil fazer
uma boa entrevista, sendo esta insatisfatória, pois não dá tempo do sujeito se instalar,
se livrar das defesas, chegar ao tema central, fechar esse tema, etc. Já tempo superior a
90 minutos, torna-se demasiado longo e cansativo, tanto para o terapeuta como para o
paciente. Em contextos de serviço público e serviço ambulatório (internamento em
hospitais, enfermarias, sujeitos acamados, entre outros), as entrevistas não deverão
ultrapassar os 15/20 minutos, pois a relação fica saturada.
o Tempo da Entrevista Inicial: Mesmo que a entrevista inicial dure mais que 50
minutos, o terapeuta deverá informar o cliente da duração aproximada das seguintes
entrevistas, bem como, da marcação atempada do dia/hora das mesmas. Este aspeto é
importante porque muitas entrevistas acabam por se transformar em psicoterapias de
apoio, pelo que, estes aspetos deverão estar definidos, para a entrevista ter sucesso. É
importante mencionar que, o tempo da entrevista terá de ser algo fixo, para que possa

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ser organizador para o cliente e para que este valorize a entrevista. A entrevista inicial
não deverá nem ser muito curta, pois não dá tempo nem espaço para chegar ao sujeito;
nem muito prolongada, pois poderá ser excessivo podendo, até mesmo, provocar uma
sensação de “ressaca” da conversa. O tempo deverá ser respeitado, mesmo que o
paciente esteja a divagar e não haja desenvolvimento nem material, nunca propondo
ao sujeito que a sessão acabe mais cedo.
o Periocidade: qual o tempo ideal entre a 1ª e a 2ª entrevista? Depende do modelo! No
Modelo sistémico, por norma, são 15 dias. Quais as vantagens do tempo ser menor ou
maior de uma semana? Quando o tempo de intervalo entre sessões é menor, o sujeito
poderá não conseguir refletir acerca das temáticas. O tempo de intervalo, ao ser menor,
poderá também criar uma intensidade demasiado grande e desorganizar mais os
sujeitos, criando uma dependência imediata, podendo provocar um afastamento;
quanto ao tempo de intervalo entre sessões ser maior, as temáticas poderão
desvanecer-se e poderão surgir defesas pois o sujeito terá tempo de as organizar. Por
norma, as sessões são semanais, contudo, em contextos de serviço público e ambientes
institucionais (hospitais, enfermarias, sujeitos acamados, entre outros), a entrevista
poderá será diária em virtude dos objetivos, circunstâncias ou tempo que o cliente vai
permanecer no serviço/instituição. É importante salientar que, o que não é dito na
entrevista, perspetiva os encontros posteriores, fazendo com que o sujeito também se
sinta motivado e com vontade de ir às sessões seguintes.

*Nota: Abstinência → não interferimos de forma concreta na vida da pessoa, e ao


desempenharmos o papel que a pessoa nos quer impor.

→ PEDIDO
Uma entrevista surge sempre de um pedido – sem um pedido não trabalhamos.
A maioria das opiniões defende que o pedido de entrevista deve ser feito pelo próprio pois,
estabelecer uma relação de confiança com um terapeuta só é possível, à partida, com o desejo
ou o acordo expresso do cliente.
o Quem faz o pedido: Mãe, pai, namorado(a), tribunal, escola, amigo(s), próprio, etc.
Infelizmente, apenas numa pequena parte das entrevistas são pedidas pelo próprio e,
nestes casos, será uma instituição que faz o pedido, restringindo assim a entrevista em
si. Em clínica privada, o pedido é frequentemente feito pela família, por indicação da
escola, de outro técnico, ou de um amigo que sugere a ida a um Psicólogo. Deverá

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aceitar-se um pedido de consulta que não feito pelo próprio. Primeiro é necessário
perguntar a idade do sujeito; se for um sujeito maior de idade, deveremos informar que
o próprio é que deverá contactar o terapeuta, mostrando-nos sempre disponíveis. Quando
o pedido vem por parte de outro, deverá fazer-se uma transformação do pedido na
primeira entrevista, pois, no caso de um adolescente, por exemplo, o mesmo será
remetido pelos pais, pelo que é necessário que o mesmo chegue ao motivo do pedido,
por forma a sentir-se motivado a ir às sessões, então, a entrevista deverá funcionar no
sentido de organizar um pedido
o Marcação da Primeira Entrevista: normalmente, mesmo os consultórios privados, é
alguém que atende o telefone, que não é o psi. Esta pessoa deve recolher alguma coisa
informação importante, mas tem de se instruir a pessoa (que atende o telefone) a ter uma
certa postura (e.g. quando atender o telefone não vai perguntar às pessoas como é que
estão). Em relação à recolha de dados, deve-se pedir: o nome; o contacto (para atrasos,
para acidentes, etc.); a idade (importante e imprescindível por várias razões. A partir de
certa altura da vida, os psicólogos trabalham com faixas etárias especificas. Por isso, se
for uma pessoa fora da nossa área de trabalho, fornecemos outro contacto mais
competente. De qualquer das formas é importante preparar o espaço de acordo com a
idade da pessoa, por exemplo uma criança vs um adulto; a profissão (para ficar com a
ideia do grupo sociocultural, que não é assim muito importante); quem é que enviou
(muito importante: para saber alguma informação sobre essa pessoa, por exemplo para
não haver confusões entre conflitos de interesse e termos uma ideia do que é que vem
dali); estado civil (mas isto não é assim tao importante, porque parece pelo meio da
entrevista), etc. O professor resume-se muito ao nome, à idade e ao pedido.

→ Nota sobre a Forma de Vestir: não é necessário prescindir da nossa identidade, mas há
aspetos que devemos preservar devido aos standards, ao mediatismo, à estigma e aos
estereótipos. Exemplo: se o terapeuta for gótico, poderá dificultar a relação e fazer com que o
cliente fique reticente e com receio. Não é necessário estar de fato, contudo, o terapeuta terá que
ter consciência. Exemplo: o terapeuta não deve ir de unhas demasiado bicudas e demasiado
compridas, pois este aspeto terá influência na relação, tal como, não deve ir trabalhar para a
comunidade com roupas de marca que demonstrem o seu elevado poder económico. O grande
problema surge quando o terapeuta possui uma imagem que repugne o cliente, e com o qual
o mesmo não se identifica e, por vezes, diversos terapeutas não possuem consciência disso.

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O espaço da entrevista, quando o pedido não é feito pelo próprio, serve para criar a
relação para que o cliente ganhe consciência do pedido. Depois, o pedido pode ser transformado
ao longo da terapia, mas tem de estar lá num momento inicial.
É muito difícil trabalhar com crianças e adolescentes que vêm porque os pais lhes
impuseram. E se nós não conseguirmos criar com esta criança/jovem uma relação, uma
alternativa é não aceitar “continuar com ele”, e depois temos de explicar aos pais que vamos
terminar a terapia com ele.
É sempre necessário o pedido. Sem pedido não dá.

Temos ainda aspetos que tem haver com a nossa atitude e os nossos comportamentos –
como nos relacionamos com a pessoa na própria entrevista. Por exemplo, tenho ali a pessoa à
porta, o que é que e faço? Fica para a próxima aula!

*APONTAMENTOS EXTRA*

ESPAÇO FÍSICO E PRESENÇA CORPORAL (completa muito bem com o


seguimento do que demos em aula)
O espaço físico é um enorme facilitador ou dificultador da relação terapêutica, aspeto
transversal a todas as abordagens, ainda que no caso de uma visão mais psicodinâmica o espaço
onde decorre as entrevistas e a psicoterapia vai sendo assumido também como um espaço
interno de pensamento, i.e., de alguma forma aquele espaço é integrado e passa a ser um
espaço interno que promove o pensamento. No fundo, dentro da cabeça dos pacientes eles vão
ao consultório para pensar connosco aquilo que estão a ter de lidar no dia a dia, mas aquilo que
procuram na verdade é a representação que têm de um espaço físico e a relação em si. Não é só
um simples espaço, é necessário que promova a ligação/relação e o pensamento.
A questão da terapia online é muito diferente e à variáveis que não estão presentes na
tridimensionalidade de um ecrã, comparativamente à tridimensionalidade de uma relação
presencial. O corpo à distância e o corpo presente são coisas muito distintas, porque uma coisa
é estarmos a ver um rosto e uns ombros e outra, completamente diferente, é falar com alguém
que comunica com todo o corpo.
Ultimamente este é um tema que tem sido altamente debatido entre psicoterapeutas, devido
à alteração brutal no setting por consequência da pandemia Covid-19. O professor conta
que muitos dos temas que surgiram em psicoterapia ao início eram ligados à ausência física,
mas que lhe parecia terem eles também a ver com a presença física na relação próxima

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psicoterapêutica. No entanto, após essa primeira fase, houve por parte dos pacientes uma certa
valorização/gratidão de ser possível manter a relação à distância e a sensação estranha e o medo
“baixaram armas”. Contudo, à medida que os tempos vão passando a queixa dessa ausência
retorna. É por isso que as pessoas fazem constante referência específica ao espaço do
consultório. Não é só o espaço físico, estamos também a colocar na equação aspetos importantes
como o tempo de viagem de ida até lá e de volta de lá, pois aquele espaço representa algo maior
como a contenção e organização. Com a terapia online perde-se a capacidade de captar
nuances corporais como o brilho do olhar ou uma pele mais corada ou mais pálida, ainda que
se tivermos em presença talvez nem damos conta de tudo isso, mas é comunicação subliminar
que tem uma importância enorme. Também este pensamento funciona para terapia de grupos,
ainda que aí a dificuldade aumente (e.g. não é possível dirigir o olhar a uma pessoa num
momento específico).
Há quem alegue que ao menos “as pessoas sentem-se em casa” e isso traz uma espécie de
conforto, contudo a verdade é que não é cómodo nem favorável à psicoterapia, uma vez que se
a mesma em tempos comuns é feita num espaço específico é porque este está preparado para
acolher a pessoa e isso por si só tem uma dimensão terapêutica. Além disto, muitos dos insights
que o paciente tem só surgem após a saída do consultório e não no próprio setting.
Num consultório de um psicólogo ou num gabinete de um psicólogo numa instituição as
coisas não devem ser deixadas ao acaso. Óbvio que se é um gabinete partilhado com um
médico estará longe de ter as condições ideais, mas mesmo assim podemos dar uns toques para
que se torne um pouco melhor para aquilo que o nosso trabalho exige.
Desde logo a posições das cadeiras é um aspeto importante a sublinhar, dado que à
posições em que nos sentamos em relação ao nosso paciente mais adequadas do que outras. Se
colocarmos as cadeiras frente a frente tornamos o clima muito confrontativo e não é isso que se
pretende numa entrevista clínica (e.g. a não ser que se esteja numa entrevista de seleção para
uma discoteca e o objetivo seja perceber como é que a pessoa reage numa situação mais
confrontativa), além de que não damos alternativa ao paciente senão forçá-lo a olhar para nós
ou fazer um movimento artificial que é claramente um corte com o olhar, fazendo-o sentir-se
antipático e, de certa forma, que nos está a agredir. Assim sendo, a posição correta será de frente
e ligeiramente inclinadas a 3/4, permitindo que o paciente nos olhe naturalmente e desvie o
olhar (ter um ponto de fuga) também naturalmente, facilitando a comunicação de aspetos para
ele mais difíceis de exprimir e igualmente permite que nós olhemos para as pessoas quando é
importante (a maior parte do tempo estamos a olhá-lo) e desviar o olhar se acharmos que isso

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irá dar espaço à pessoa e facilitar o que ela tem a dizer. No entanto, e por incrível que pareça,
nem sempre encontramos as cadeiras a 3/4 como é suposto.
A maior parte das vezes em gabinetes dos centros de saúde o que nos é facultado é uma
secretária e duas cadeiras, uma de cada lado da mesa, sendo que esta disposição cria uma
barreira e limites para a ligação entre psicólogo-paciente. No caso da aplicação de provas é
esperado e até útil haver uma peça de mobiliário que nos auxilie, mas será sempre melhor uma
mesa do que uma secretária. Há sempre uma solução do ponto de vista arquitetónico, basta que
utilizemos a secretária como mesa de apoio e agarremos nas cadeiras para as colocar na posição
adequada (de frente a 3/4 de inclinação). O professor considera que tanto a mesa como as provas
são barreiras na relação, ainda que seja um processo que se verifique útil para a nossa avaliação
e, consequentemente, para o paciente. Enquanto jovens psicólogos a secretária é protetora e
dá a sensação de segurança, e.g. estamos com um paciente de 50 anos e colocamo-nos de um
lado da secretária, sentimos logo a sensação de crescer uns 10 anos com isso e a diferença fica
menor. Esta relação de poder implícita em quem está do lado de trás de uma secretária, se
refletirmos, é igual para o juiz, para a senhora num guichê de uma repartição pública ou para o
segurança numa cabine à porta de um hospital a quem nos dirigimos para pedir informações.
Como tal, acreditamos em não ser adequada para a nossa profissão uma situação de poder assim.
Ainda sobre as cadeiras: devem ser iguais ou diferentes? Não se crê uma boa razão para
serem diferentes, a simetria das cadeiras parece ser o mais adequado. E se as cadeiras fossem
diferentes, não permitiria que houvesse uma distinção entre e.g. a vermelha do paciente e a
castanha do terapeuta? Não, muito pelo contrário, teria sempre de se informar o paciente qual
seria a cor da cadeira própria de cada um, por isso essa não é uma razão. No fundo, tal como a
secretária impõe uma relação de poder, também as cadeiras diferentes o fazem, pois poderão
levar a pensamentos de uma ser mais confortável que outra, por exemplo.
No caso particular do professor este refere que inicialmente dizia para a pessoa se sentar
onde quisesse, mas acabou por se habituar a trabalhar numa determinada posição, por isso o que
faz é um gesto a indicar o assento do paciente, até para prevenir o desconforto da pessoa não
saber onde se deve sentar. Assim, relativamente ao movimento de sentar na cadeira, o
paciente demonstra que não tem o limite do espaço do outro muito equilibrado dentre dele se
ao entrar pela primeira vez no espaço se senta sem pedir autorização ou sem ficar na expetativa
que lhe seja indicado o seu lugar, e isto é significativo. Contudo, estamos a falar ao nível da
primeira consulta, por outro lado se passados meses de terapia a pessoa continuar à espera de
que o terapeuta se sente para se sentar somos levamos a refletir acerca do que isto poderá querer
dizer do ponto de vista relacional. O professor conta que se numa terapia familiar entram e

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alguém se senta na sua cadeira (não é diferentes das demais, apenas está posicionada
estrategicamente) isso pode fazê-lo tirar algumas conclusões. Não é que seja algo confrontativo
para com ele, mas poderá ser alguém sem limites do espaço do outro. Não devemos chamar à
atenção da pessoa que se sentou no nosso lugar, pode levar a um recuo, devemos sim
habituarmos-mos e trabalhar assim nas sessões seguintes.
Num primeiro momento, i.e. primeira, consulta, será benéfico mostrar logo a matriz da
relação que naquele espaço se vai estabelecer e se essa aproximação das cadeiras de frente
trouxer algum desconforto teremos depois 1h para gerir isso com o paciente (e.g. não
conseguimos observar tão bem a atitude fóbica do paciente se este não se encosta na cadeira e
se senta na pontinha da mesma, caso estejamos atrás de uma secretária).
O corpo é um instrumento de comunicação muito importante desde o início da vida:
nascemos e temos um contato corporal íntimo com os nossos pais e depois, se tudo correr bem,
afastamo-nos para começar a ter contato íntimo com o corpo de outras pessoas. Há muitas
questões de lidar com o corpo que têm a ver com desejos interditos e a capacidade de lidar com
desejos interditos faz parte da natureza do adulto. Assim, o corpo exposto do paciente ao olhar
do terapeuta e o corpo do terapeuta exposto ao olhar do paciente também cria uma certa tensão
(não que seja consciente, mas é uma dinâmica importante) e a secretária resguarda tudo o que
são as partes do corpo mais ligadas à sexualidade, ficando somente a cara e as mãos à vista. Não
é que nós não estejamos ali só a tratar de coisas sexuais, mas isso também está implícito, e é
interessante que a realidade sexuada do terapeuta e do paciente possam estar em jogo de uma
forma mais clara. Sermos do mesmo género, sermos de géneros diferentes, que implicações
tem?
Para além da posição das cadeiras a organização e decoração do espaço também é
importante, devendo ser confortável e investido, mas não exageradamente luxuoso e
exibicionista (às vezes nem é o valor das coisas, mas aquilo que parecem valer), porque pode
ser confrangedor e inibidor, fazendo com que tenhamos pacientes que se se sintam diminuídos.
Até no mobiliário existem nuances, móveis mais modernos ou mais antigos, mais em conta ou
que inspirem a sensação de ser excessivamente caros. Por exemplo, o professor relembra ter
tido supervisão num consultório de um colega que tinhas as mesmas cadeiras de 1950, com as
mesmas molas e o mesmo estofo. O psicólogo em questão era bastante conceituado e cobrava
bastante pelas sessões, mas um paciente ao ali entrar sentia o espaço desinvestido e bizarro. A
menos que trabalhemos com um nicho de mercado muito específico, vamos sempre receber
pessoas com experiências e histórias de vida diferentes, bem como com capacidades económicas

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distintas. Na decoração não deve constar nada que nos identifique demasiado como: fotografias
de família, clubes de futebol, grupo social, político ou ideológico.
As cores com que o espaço é pintado também são relevantes e têm, por isso, algumas
limitações, as menos adequadas são cores muito escuras (e.g. preto) ou cores muito vivas e
demasiado estimulantes (e.g. vermelho), dado que tanto cores como imagens/quadros fortes e
carregados ao invés de estimularem a projeção a condicionam.
A iluminação em demasia (e.g. como é nos hospitais e nos centros de saúde, o que não
ajuda o processo, mas não podemos dar a volta a isso) não provoca a sensação de acolhimento
pretendida. Por outro lado, carência de luz poderá levar a uma situação de regressão ou um
ambiente de intimidante/superficialidade. Posto isto, a luz mais adequada é a luz amarela.
Enquanto isso a luz solar/natural é a melhor, mas é preciso ter cuidado e idealmente controlá-
la, porque como a luz influencia o humor (mais luz pessoas mais bem-humoradas, menos luz
pessoas menos bem-humoradas) a sua intensidade deve ser, tanto quanto possível, a mesma no
nosso consultório ao longo dos menos (é quase impossível, mas podemos fazer um esforço),
devido à constância do espaço. Assim, devemos jogar com a luz natural e a luz artificial.
Para evitar o ruído, principalmente em sítios onde ele é abundante como em Lisboa, as
janelas devem permanecer fechadas salvo exceção.
As estações do ano têm nuances no humor: muitas pessoas referem na primavera uma
melhoria de ânimo, mas muitas com funcionamentos mais cíclicos desorganizam-se, tendo
alterações de humor.

7ª Aula Prática (28/04/2021)

ROLE-PLAY
O professor sugere que seja uma entrevista clínica com um objetivo psicoterapêutico (uma
primeira entrevista).
A aula irá dividir-se em 2 momentos:
o a compreensão do caso: o que se passa com aquela pessoa;
o a própria condução da entrevista: o que o observamos.

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Dados da Entrevista:
o Pedido: o marido achou melhor a mulher ia o psicólogo, porque ela não é a mesma
pessoa, o que faz com o casamento fique arruinado;
o Psicóloga pergunta se a mulher concorda;
o Mulher diz que já estão juntos há muito tempo.

→ Não estamos perante uma paciente fácil.

DISCUSSÃO DA ENTREVISTA:
2 potenciais dificuldades:
o Temos de ter um modelo teórico, mas ao mesmo tempo, quando estamos com as
pessoas, não é para ter o modelo teórico na cabeça. Não podemos estar a falar com
as pessoas à procura daquilo que encaixa no modelo teórico (o que acontece na
sessão). Depois torna-se numa coisa artificial ao invés de uma relação humana. O
professor começa a criar um cenário interno daquela pessoa, e nas primeiras
sessões está a recolher material para recolher o tal cenário, e a pôr personagens (e.g.
familiares da paciente) para tentar perceber um pouco o que é vida daquela pessoa,
e depois é tudo mais orgânico;
o Timings: nós estamos com a sensação de que no momento, tudo aquilo faz sentido,
mas depois em 3 segundos pode deixar de fazer. E às vezes é um erro estarmos a
insistir num aspeto quando o paciente já não está naquele momento.

Às vezes dá vontade de dizer coisas às pessoas (aconselhar, por exemplo) e para isto há
diferentes abordagens. Na abordagem do professor, é difícil fazer o que seria natural
(aconselhar, dar conforto), e não puder fazer isto, é muito difícil: Neste caso, face ao, dizer à
fantasia de dizer à senhora para se divorciar, o professor acha que ela não o quer, por isso, isto
não iria de acordo com a paciente → O psicólogo tem de fazer a diferença.
Em futuras sessões, pegamos em que informação? Neste caso, pensamos nisto porque a
senhora disse muita coisa. Quando estamos a falar com um paciente, estamos a ouvir e a
observar, mas no momento onde nós paramos e começamos a pensar, no momento seguinte
começamos a ver outro cenário (que parece que faz mais sentido). Depois, pode decidir-se: ter
uma atitude mais diretiva, ou então pode-se ver para onde é que o paciente está a ir (também
dependendo do quadro do psicólogo). Neste caso, como a senhora tem tendência a embalar o

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psicólogo na conversa (anestesia um pouco), cria o sentimento contrário de provocar a
espontaneidade.
Situações onde o psicólogo pode ter curiosidade. Por exemplo, o psicólogo é fã da Madona,
e um dos filhos da mesma vai parar o seu consultório. Se calhar era complicado para o psicólogo
estar lá a ouvir. Quando se está com o filho de uma mãe qualquer, vai fazer-se perguntas sobre
a mesma, mas agora se a Madona for a mãe, algumas dessas perguntas podem surgir da
curiosidade própria do psicólogo e não acrescentam nada ao caso (por isso, não faz sentido fazê-
las.
Este tipo de entrevista foi: Entrevista Clínica de Avaliação → o primeiro momento de
qualquer processo terapêutico. Vamos desde o princípio adotar um padrão, que é o
psicoterapêutico, onde vamos estar sempre a funcionar em função da aliança terapia, que por
sua vez vai sustentar o processo.

→ Nota: Se tivemos num quadro cognitivo-comportamental e estivermos numa instituição,


a entrevista era muito mais dirigida. Havia um conjunto de aspetos que seriam abordados
de uma forma estruturada (dados objetivos: nome, idade, profissão, história pessoal,
história profissional). Mas de qualquer das formas, não nos podemos libertar da necessidade
de precisar de informação especifica, mas pode ser de uma forma menos “dirigida”.

No início não faz sentido estar a explicar bem o que é isto da psicoterapia, etc. Na primeira
sessão é importante devolvermos qualquer coisa do que percebemos à pessoa, se não ela pode
sair dali com o “sentimento de vazio”. Para a pessoa sentir que foi entendida temos de explicar
um pouco aquilo que vai acontecer. Se vamos explicar como vai ser o processo, sim, mas talvez
na altura do contrato terapêutico se possa explicar melhor, nesta primeira fase talvez seja
mostrar a pessoa que a estamos a ouvir e que vamos ter umas 2 ou 3 sessões, e na altura do
contrato, explica-se melhor o que é processo. → Mostrar que captamos algo central do seu
sofrimento.

Dados (concretos) da paciente deste Role Play:


Ao contrário do que a senhora diz sobre si própria – ser aventureira – a nós parece-nos
muito conformista (é contabilista e está numa relação há 14 anos – desde os 20 anos; faz tudo
o que o chefe manda, etc.). Também se nota um distanciamento afetivo – não há uma grande
emoção. Percebe-se que há sentimento, mas não é sentido.

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Há algo por trás que ela esconde a si própria. Não dá para saber se ela tem noção do que é
suposto sentir quando se ama. E ela logo a seguir depois de dizer que o ama (ao (ex)marido),
fala logo do medo de ficar sozinha (dependência).
Também se realça, a relação familiar: o irmão vai para Londres (libertou-se) e ele é que
ficou cá, com uma certa posição de filha (vai todos os fins de semana a casa dos pais).
Há um aspeto importante nesta paciente: não sabemos onde esta a agressividade dela. Ela
em vários momentos diz que se chateia muito, que grita muito. Que na relação com os sogros
há qualquer coisa que não é clara, e na relação com o marido, tem ali latente qualquer coisa de
agressividade. Pode haver uma relação com o sentimento de dependência que tem com este
homem, e com a agressividade vinda desta dependência (porque ele não satisfaz em vários
campos).
Depois temos várias coisas da história dela: o que é que ela fez na sua psicoterapia
anterior? Não sabemos nada da vida dela, mas temos de entrar por aí (na vida real é normal que
às vezes também não o façamos, mas é importante). Quem é, de onde vem, como foi a infância,
a adolescência (esta passagem – descoberta do outro, as relações com os outros, como descobriu
os rapazes, etc.).
Oura coisa que não foi tomada em consideração, mas devia, foi a questão de ela vir obrigada
pelo marido. O professor explora sempre estas questões nas primeiras entrevistas.

7ª Aula Teórica (30/04/2021)

FACILITADORES DA RELAÇÃO (continuação)


Controlar os atrasos, as marcações, etc. – variáveis externas. Se conseguirmos retirar
variáveis possivelmente parasitas da relação, as coisas podem correr melhor. Que podem fazer
diferença se as coisas correm bem ou não.

ATITUDES E COMPORTAMENTOS DO PSICÓLOGO


Neutralidade e abstinência: Por neutralidade entende-se a não emissão de juízos de valor,
por parte do terapeuta; por abstinência entende-se a atitude que decorre da neutralidade e que
implica que o terapeuta se recuse a satisfazer os pedidos do paciente e a desempenhar
efetivamente os papéis que este tende a impor-lhe. Dependendo das técnicas utilizadas, seria
difícil conciliar uma expressão de encorajamento e simpatia com a “neutralidade benevolente”
dos Psicanalistas.

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→ APARÊNCIA
Como nos apresentamos, o nosso aspeto. É preciso ter algum cuidado em termos de
neutralidade. Existem formas de como as pessoas se vestem que são altamente conotadas (talvez
em algumas alturas da vida especificas, poer exemplo, estereótipos de grupo). Esta neutralidade
é de facto desejável. E como vamos trabalhar com grupos diferentes, também temos de ter isto
em conta (para nos integrarmos). Se formos para um bairro social, não convém irmos vestidos
de forma luxuosa. Se temos uma imagem que noa é neutra, temos de perceber que isto vai
impactar a relação, ou até mesmo coisas que identifiquem (t-shirts com coisas escritas, como
por exemplo o clube de futebol).
Devemos ser coerentes, não fazer de conta e vestirmos roupa contrária à nossa natureza só
porque deve ser assim, senão não conseguimos estar de uma forma honesta e genuína, sermos
nós. Contudo, existem limites (até porque aquilo que estamos a mencionar são aspetos que
dificultam ou facilitam a relação com os pacientes). Por exemplo, uma psicóloga ir trabalhar
para um bairro social carregada de joias não parece o mais adequado. Assim sendo, saber o que
vestir requer bom senso de uma certa neutralidade.
Se trabalhamos com uma população heterogénea o nosso aspeto evidentemente que tem
importância, que tanto deve ser neutro para uma pessoa que está num determinado espetro
sociocultural como para pessoas que estão num outro. Não é perder a identidade, mas ter
alguma capacidade de adaptação.
Atendendo à nossa profissão estamos estereotipados, se assumirmos esse estereótipo
ficamos com algumas limitações, por isso temos sempre de ir para além daquilo que é a nossa
bolha. É claro que todos temos uma história, um meio e uma origem a que pertencemos e, por
isso, não podemos ir com os tiques e preconceitos do nosso meio social para falarmos e
entendermos as pessoas, temos de nos ultrapassar ao nível de clichês estéticos e sociais, não
devendo exprimi-los, por exemplo, através das roupas que escolhemos
Tudo é interpretável e tem um significado e, em função disso, se um paciente se recusa
a estar com um terapeuta por alguma coisa (e.g. porque se veste de determinada forma ou tem
filhos) isso já nos diz bastante. Desse modo, se não quisermos assumir uma aparência
relativamente neutra (e temos esse direito), devemos pelo menos ter noção que essa aparência
tem uma influência grande nos nossos pacientes, porque o nosso trabalho é uma relação e essas
variáveis contam. Por exemplo, uma estagiária com determinada aparência física (e.g. piercings,
cabelo preto, azul e rapado, etc.) que não tinha noção disso, tanto que um paciente seu de 6 anos
em sessão menciona uma bruxa e ela claramente não compreendeu que se estava a referir a ela.

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Uma das funções do psicólogo também é muito pensar sobre si próprio, portanto temos de
saber muito bem o que é que se passa connosco para quando somos confrontados com uma
pergunta. Por exemplo no caso das tatuagens, temos de estar de facto preparados para lidar
com perguntas (quanto mais se tivermos tatuagens em sítios visíveis), para podermos dar uma
resposta que seja adequada, que não nos desorganize a nós nem ao paciente e que responda
efetivamente ao que ele quer saber. Se para o outro é um elemento impeditivo temos de, num
primeiro momento, tentar perceber com a pessoa o porquê – Acha que as pessoas com tatuagens
são diferentes das pessoas sem tatuagens? Acha que por ter uma tatuagem não consigo
compreendê-la? –, sabendo à partida que não é possível agradar a todos e que em alguns grupos
sociais é aceitável e em outros não.

→ FALAR
A forma de falar é importante. O jargão do psi é completamente excluído. Temos de falar
com as pessoas de forma simples. A tentativa de falar de forma “rica”, só vai dificultar a
relação.

→ TRATAMENTO
Deve ser formal, pois a relação também o é. O ser formal dentro daquilo que a relação
terapêutica pretende – é uma formalidade especifica. Há um conjunto de elementos que estão
associados ao contrato formal que não estão aliados à relação terapêutica. Os títulos não são
utlizados (e.g. senhor e senhora). As pessoas têm um nome e temos de perceber se estamos a
falar com João ou com a Teresa. É uma pessoa que está ali, por isso tratamo-la pelo nome →
Se as pessoas não conseguirem tratar o psi pelo nome, a pessoa trata-nos pelo que quiser, porque
o objetivo é facilitar a relação. Não devemos impor nada ao paciente – se ele não quiser ser
tratado pelo nome, não é obrigatório que façamos. Se a pessoa quiser ser tratada pelo título, está
a demonstrar qualquer coisa haver com o poder. Mas nestas situações, também têm de nos tratar
pelo título.
O professor faz questão que as pessoas também o tratem pelo nome, porque estão ali duas
pessoas, não 2 doutores, 2 engenheiros, etc. O ideal é perdermos o medo e avançarmos para esta
opção – A relação não é pessoal, mas sim formal. Pode ser estranho quando o cliente trata o
terapeuta pelo nome logo na primeira abordagem, principalmente se se tratar de um adolescente.
Existe uma tendência para os pacientes tratarem por Dr./Dr.ª, sendo esse é um termo associado
ao Modelo Médico. Se a criança tratar o Psicólogo por “tu” não é muito estranho e não tem
grande significado, contudo, se for um adolescente é estranho e tem significado. Se for um

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adulto a tratar o terapeuta por “tu”, poderá significar que há uma espécie de tentativa de anular
a assimetria e querer transformar a relação em algo que não é, ou seja, familiarizar a
relação. Apesar de a criança poder tratar o terapeuta por “tu”, pois trata os restantes assim, no
caso do adolescente, o mesmo não deverá tomar esta atitude porque apesar de poder tratar outros
(pais, avós, tios) por “tu”, terá de entender que, quanto ao terapeuta, não o deverá fazer. O
desconforto em tratar o adolescente por “você” desaparece quando a relação passa a ficar
estabelecida, mas mudar não deve ser uma estratégia (!), por isso, o terapeuta não deve começar
a tratar o adolescente por “tu” e depois alterar para “você”. Contudo, há exceções.
A forma como o terapeuta trata os seus clientes é independente da forma como comunica
com a família. O desconforto inicial de tratar o adolescente por “você” desvanece ao longo da
relação. Mudar de abordagem de tratamento não é uma boa estratégia.
É comum tratar uma criança tratada por tu, e isto é pacífico se ela for tratada normalmente,
por exemplo no seu sio familiar. Se não for tratada por tu na família, podemos tratá-la por você.
Os adolescentes já têm nuances diferentes. Aqui há uma situação de fronteira. O professor
acha melhor não os tratar por tu.

→ CUMPRIMENTO
Tendencialmente nas instituições têm menos cuidados com isto. O psi é que marca o
padrão da relação, então ao dirigir-se à pessoa, deve dizer quem é (Olá, eu sou o Jorge). Quem
toma a iniciativa de cumprimentar o outro, é sempre a pessoa mais velha (ou mais dominante)
que toma a iniciativa a vida social e no contexto do trabalho. O professor diz que beijinhos não
é adequado (por haver uma intimidade muito decisiva). O aperto de mão é cordial (tanto ao
abrir a sessão como fechar a sessão – entrada e saída da realidade). Mas também se pode
simplesmente abanar com a cabeça, ou até mesmo, com a mão, indicar a cadeira.
Em relação ao aperto de mão no início da sessão: há de alguma forma uma proximidade,
mas ao mesmo tempo uma formalidade. E há medida que o tempo vai passando, o aperto de
mão pode ou não ir caindo (é substituído por um “até para a semana”) dependendo do paciente.
Há uns que continuam com o gesto, há outros que descartam. Também temos de ter cuidado e
avaliar bem as situações. Por exemplo, se um paciente nos dá um beijinho, e nós não
introduzimos esse padrão, temos de perceber o que se está a passar por trás.

→ NIVÉIS DE PERMISSIVIDADE
Também há diferentes níveis de permissividade na relação que dependem da nossa técnica:
atender o telefona/responder a mensagens é aceitável? Levar um copo da Starbucks e beber na

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sessão é aceitável? Deixa-se fumar, não se deixa? (e.g. o professor tinha um paciente que, há
muitos anos atras, quando se fumava nas sessões, quando estava a fumar numa sessão, disse:
Sabe porque é que e fumo? Porque assim é mais fácil, há aqui uma nuvem entre nós.”. Temos
de ser nós a perceber o que é que é aceitável ou não para nós, o que é que faz parte do setting
ou não.
Não há uma norma fixa (!), contudo, o terapeuta tem de ter certas regras que se deverão
manter para depois poder haver ausência de limite. A regra a usar é a de se ser permissivo até
ao ponto do próprio conforto do Psicólogo. Em termos da agressividade, tendo em conta o
Modelo Psicodinâmico, o sujeito quer confirmar e repetir a ideia sobre os seus objetos passados,
quer provocar o Psicólogo de forma que este o rejeite tal como foi rejeitado no passado. O bom
senso aconselha a que a permissividade não seja muito diferente da usada pelo próprio
Psicólogo. As regras da casa são do anfitrião, não do convidado! Os terapeutas são os anfitriões.
As regras devem ser cumpridas para haver a ausência de limite no que é transmitido e no que
podemos conversar. Exemplo: se diz ao outro que não se deve comer, o Psicólogo não se deve
colocar a comer à sua frente.
O facto de o sujeito levar comida ou bebida para consultório depende da permissividade do
terapeuta, bem como o modelo, contudo, este aspeto poderá torna-se um elemento disctrator
durante a entrevista, bem como, fumar ou atender o telemóvel. Como o terapeuta deverá então
proceder face a isto? Face ao telemóvel, os analisandos poderão/deverão, ao início da sessão,
avisar que estão à espera de uma chamada, caso esta seja importante e haja impedido de esperar
pelo fim da sessão. No caso de um analisando que não avisa que irá receber chamada e que o
telemóvel está sempre a tocar (mesmo que em vibração), o terapeuta deverá chamar à atenção.

*NÃO DADO EM AULA*

DISPONIBILIDADE PERMANENTE
Não é raro o paciente trazer algo escrito e demonstrar o seu interesse em que o psicólogo o
leia e aqui temos duas circunstâncias: o paciente levar algo que ele mesmo escreveu ou levar
um texto de outrem (às vezes é mais fácil exprimir o que sentimos com as palavras dos outros,
por ser mais doloroso encontrarmos as nossas próprias palavras, mas um texto de outra pessoa
não deixa de ter um lugar secundário na relação psicoterapêutica).
Até que ponto devemos ser permissivos com algo que sai fora do padrão de funcionamento
e objetivos que estabelecemos para nos relacionarmos com o paciente? Temos de saber gerir
isto de alguma forma, i.e. manter as coisas dentro dos limites estabelecidos, pela razão única de

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ser a maneira ideal de conseguirmos trabalhar de forma consistente, através de uma relação
padronizada. Se, eventualmente, rejeitamos, não sabemos muito bem que consequências isso
poderá ter para a relação (e nós trabalhamos para construir uma relação dentro de modos
adequados).
A questão do “Porquê?” é fundamental (Porque é que a pessoa trouxe isto?), apesar de ser
onde queremos e devemos chegar seguramente, não deve ser o início da nossa abordagem.
Como ponto de partida parece adequado, mas o paciente pode fazê-lo de forma a evitar
qualquer coisa na psicoterapia ou para ter um espaço privilegiado na vida pessoal do
psicoterapeuta. Por exemplo, o paciente traz um poema para lermos sobre um tema irrelevante
que nada tem a ver, isso pode significar que a pessoa quer evitar falar de um assunto ou que está
a tentar ocupar o nosso espaço mental fora das sessões. Não é necessariamente nada perverso
um paciente querer imaginar que estamos em casa ao serão a ler o seu poema, corresponde a
uma carência, de qualquer forma é uma dificuldade em respeitar o limite e lidar com a exclusão,
em aceitar que há momentos na vida do outro aos quais não pertencemos. De forma literal e
metafórica é como quando percebemos que não somos o centro do universo da vida do nosso
pai e da nossa mãe e que eles têm um quarto onde fecham a porta e nós ficamos de fora. No
início estamos lá, ficamos lá uns meses e depois vamos para outro sítio e aquela porta que antes
estava aberta agora está fechada e eles fazem coisas juntos, às quais não pertencemos.
No entanto, temos de pôr em hipótese aquele poema ser, de facto, sobre algo profundamente
ligado à matéria da psicoterapia, direta ou indiretamente. Diretamente será quando o paciente
reflete sobre um conteúdo e nos traz um texto sobre isso, indiretamente é quando um paciente
na sessão fala de coisas irrelevantes e através da escrita nos comunica um qualquer conflito que
não está a conseguir lidar, o que expressa a dificuldade em abordar um conteúdo.
As pessoas têm as suas razões e inibições, respeitáveis claro, mas parece não haver nenhuma
boa razão para um paciente evitar falar sobre um tema se aquele espaço é criado para ser possível
falar de tudo. Por isso, devemos acolher com alguma bonomia e transmitir à pessoa, sem que
ela se sinta rejeitada, que é errada a ideia de que o escritor se expressa muito melhor que ela.
Na nossa vida social é que os escritores se expressam melhor que nós, mas no consultório não
funciona assim. Alimentar um ato sem lhe dar o significado não faz muito sentido, mas quando
damos o significado ao ato ele esvazia-se e a pessoa deixa de precisar de levar o texto para falar
por si. Posto isto, para ajudar o paciente a ultrapassar essa dificuldade, vamos convidá-lo a falar
em vez de ler o que trouxe (seja escrito por ele ou não) ou, se ele não aceitar (“Não consigo
exprimir-me de uma forma tão clara, aí está mais estruturado.”), convidá-lo a ser ele a ler.
Contudo, se a pessoa continuar sem querer e sentir aquilo como uma grande rejeição então,

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excecionalmente, lemos. Normalmente as pessoas cedem, só invulgarmente é que não e aí é
preciso avaliar no momento o porquê, que talvez se prenda com a resistência por detrás da
escrita e de um papel que se interpõe.
Será que é mais terapêutico disponibilizarmo-nos para receber correspondência, seja de que
forma for, entre sessões ou será mais terapêutico a pessoa durante um momento reconhecer que
há indisponibilidade e até senti-la como uma rejeição, mas ao longo do tempo aprender a lidar
com a separação e a ausência? Evidentemente que ambas têm um efeito terapêutico, mas
podemos imaginar que na primeira circunstância o paciente começa por sentir que o psicólogo
tem espaço e disponibilidade além da hora marcada e, por isso, será mais difícil atingir que este
tenha uma vida além daquela relação, enquanto no segundo caso após a rejeição sentida vai
reconhecer que o psicólogo seguramente se lembra dele, sem que tenha sido preciso um ato que
o demonstre. A vida é feita de separações e ausências, desde bebés que a mãe não está lá sempre
a dar de mamar, e esses momentos em que aprendemos a nos organizar na ausência são por si
só estruturantes e ajudam-nos a viver de forma mais madura. Evidentemente que a escolha entre
uma ou outra circunstância aqui descrita não incorre num erro técnico, está sim ancorada numa
determinada perspetiva com correntes de pensamento diferentes. Neste sentido, imaginemos
uma pessoa que nos informa que terá de se ausentar de férias por 15 dias, será benéfico
disponibilizar imediatamente um serviço online? Até que ponto não será isso uma forma de
iludir a questão da separação, não deixando o paciente viver a “dor” da separação connosco e
reproduzir cenários passados de separações? Posto isto, eventualmente, poderá ser mais
produtivo interrompermos a terapia durante esse espaço de tempo do que ignorar a realidade
com um artificio.

TELEFONEMAS E MENSAGENS ENTRE SESSÕES


Qual o significado de quando um paciente nos telefona e nos envia mensagens entre
sessões? Não devemos desligar o telemóvel ou não dar uma resposta a um paciente quando isto
acontece, sendo por isso o mais correto da nossa parte atender/responder. Como esse não é um
espaço para grandes trocas devemos remeter para a sessão, justamente porque a procura
permanente do outro (psicólogo) revela uma grande falta de autonomia, dependência,
dificuldade de lidar com a separação, etc. Posto isto, é importante depois em a sessão dar um
significado/elaborar, até porque o setting nos protege a nós e ao paciente.
Hoje em dia mais facilmente um paciente adquire os nossos contactos, além deste conseguir
saber quando abrimos ou recebemos uma mensagem que nos enviou. Assim, tornase primordial
estabelecer no contrato terapêutico quando é que não nos encontramos contactáveis, por

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exemplo dizer que não estamos disponíveis aos fins de semana e durante a semana a partir das
18h30 até às 8h do dia seguinte. No entanto, isto é uma questão de disciplina da nossa parte, por
exemplo se há um dia que são 20h e por alguma razão nos dá jeito responder a uma mensagem
de um paciente para não a deixar para o dia seguinte, devemos evitar fazê-lo (“Porque é que não
respondeu uma vez e respondeu da outra?”), mas claro que há todas as exceções à regra. As
regras são, por isso, também importantes para nós, pois não é benéfico começarmos a fomentar
relações de dependência aos pacientes, nem eles para connosco, porque não estamos ali para
servir de substituto ao que não têm na vida, servimos para os ajudar a conseguir aquilo que não
têm. Eventualmente isto também mexe com as fragilidades dos psicólogos, há psicólogos que
podem ter uma grande necessidade de sentirem que têm uma grande importância na vida das
pessoas, mas temos de aprender a relativizar a nossa importância. Não somos assim tão
importantes, podia lá estar outro no nosso lugar, não fazia grande diferença. Posto isto, o excesso
de disponibilidade não ajuda ninguém.
Obviamente que a questão que estamos aqui a expor não é uma constante em todos os casos
(é até espantoso verificar como é que alguns pacientes não nos contactam e depois nos
descrevem o tamanho sofrimento ao longo da semana), depende muito de paciente para
paciente, pois cada um tem a sua história e as suas problemáticas, sendo que alguns se
comportam desta forma porque se trata de um modo de funcionamento que faz parte da
patologia e alimentar isto é, por sua vez, alimentar a patologia. O professor fala de uma paciente
que imaginava que ele estava sempre no consultório, não tinha vida além daquele espaço, apenas
saía para dizer adeus aos carros (havia um homem há muitos anos que estava sempre na Avenida
Fontes Pereira de Melo a dizer adeus aos carros que passavam e ela imaginava que ele seria esse
homem). Houve então uma fase em que descobriu o seu email e o invadiu numa tentativa voraz
de tomar posse, mas claro, isto são casos limite. No entanto, pode acontece com pacientes que
não são casos limite e são até muitíssimo mais organizados.
É inevitável e evidente que o nosso trabalho invada sempre um pouco da nossa vida pessoal,
não conseguimos pôr fronteiras definidas, mas há um tipo de pensamento definido que nos ajuda
a elaborar e que é bom que esteja separado da nossa vida pessoal.

PRESENTES DO PACIENTE
Não podemos aceitar presentes dos pacientes, mas é evidentes que depois há exceções:
ofertas que não têm um valor material, têm um valor simbólico e, por isso, devem ser integradas
e não recusadas. Por exemplo o professor fala do livro “O Elogio da mulher madura” de Stephen
Vizinczey, um romance que reflete a adolescência de uma mulher e a iniciação da sua vida

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sexual com um rapaz, oferecido por um paciente seu de 40 anos por altura do Natal. Devemos
perceber o porquê daquele presente (“Porque é altura do Natal e este trabalho que faço consigo
é muito importante.”) para lhe dar um significado (não é só um livro, é mais do que isso, então
“Porquê este livro e não outro?”) e explicar o contexto (“Agradeço imenso, mas não precisa de
me trazer presentes. Todas as semanas me traz coisas suas e isso que trocamos aqui é que são
importantes, até porque eu não posso corresponder ao seu presente.”). Claro que há sempre a
fantasia presente (“Agora vai para casa ler o livro e pensar em mim”), mas há também esta face
da moeda que se prende com o significado que pode abrir a porta para discutir aspetos a essência
da pessoa (e, no caso, da sua vida amorosa). Alguns pacientes podem também fazêlo como um
legado, uma forma de se sentirem lembrados (como agora o professor se lembrou deste
paciente), mas aquilo que os pacientes não sabem é que não precisam de presente nenhum para
ficarem na nossa cabeça, mesmo que se passem muito anos. Naturalmente uns lembramo-nos
mais que outros, pela intensidade da relação, não necessariamente por serem mais ou menos
parecidos connosco.
No entanto, quando se trata de ofertas de valor material sem simbolismo, como um frasco
de compota ou peças de artesanato, há que reforçar o contexto em que nos inserimos. Dentro de
ofertas deste teor podem ser oferecidos presentes objetivamente valiosos e aí não interessa a
estrutura da pessoa ou se se vai sentir rejeitada, porque terá sempre um significado monetário
que vai para além do gesto (como se tivesse a comprar o terapeuta e aí não importa sequer se
oferece um presente de 150€ e tem milhões de euros para gastar).
No fundo, quando isto acontece, temos de perceber o que representa para a pessoa, que
pessoa é, qual a sua estrutura, porque todos estes aspetos pesam para o aceitarmos ou não. Em
certos momentos vamos ter de aceitar para que isso não volte a acontecer, daí a importância de
explicar o contexto.
Exceções também se abrem quando no fim de uma psicoterapia a pessoa oferece um
presente como forma de agradecimento, como um ramo de flores ou um postal. O professor
conta que uma paciente que lhe ofereceu um texto que escreveu no início da terapia sobre como
imaginava ser o fim da terapia, e conta ainda quando recebeu o livro “A peregrinação do rapaz
sem cor” de Haruki Murakami que descrevia, para o paciente, um pouco aquilo que tinha
acontecido no seu processo terapêutico.

TIRAR APONTAMENTOS
Não se devem tirar apontamentos durante uma sessão (nem gravar uma sessão), porque a
pessoa está a falar connosco e não vamos desviar o olhar para escrever. Além do mais os

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pacientes irão sentir-se avaliados, o próprio fluxo de pensamento irá alterar (e.g. pacientes que
começam a ditar para o que dizem poder ser escrito), como também há o risco de fantasias
associadas (O que está a escrever? Porque está a escrever? O que vai acontecer ao que ali está
a ser escrito? Quem é que vai ler?) e não é preciso ser muito paranóide para se ter essas dúvidas
e ficar intrigado. Posto isto, os apontamentos da sessão deverão ser tirados no momento
imediatamente a seguir a esta terminar ou quando o psicólogo achar indicado ter um tempo
necessário que possa dedicar a tal. Com exceção de modelos mais Cognitivo-Comportamentais,
sobretudo nos mais comportamentalistas, e em instituições em particular, muitas vezes retirase
apontamentos. Portanto, podemos considerar que esta é uma variável importante.
Nas primeiras sessões os psicólogos têm sempre a fantasia que depois não se vão lembrar,
mas a memória que utilizamos com os pacientes é um tipo de memória muito particular que
acabamos por treinar e desenvolver (e podemos até ser desmiolados e nunca nos lembrarmos de
onde colocamos as chaves do carro).

8ª Aula Prática (05/05/2021)

ROLE PLAY
o Senhora de 35 anos;
o Senhora que vai à consulta por queixas de se sentir sozinha;
o É casada e tem 3 filhos. Desde o último (8 meses) que as coisas estão diferentes;
o Sente-se desconectada consigo mesma. Não tem tempo para si (e para a vida em si);
o Arrepende-se um pouco de ter tido este último filho. Que pode ter sido algo de
maléfico para as outras crianças;
o Gosta de ter filhos (sente que tem uma relação prazerosa). Sente que é uma coisa
muito boa, mas depois quando vai dormir, sente-se muito sozinha;
o Sente que o marido está ausente;
o Acha que não tem direito a estar triste e a ter as suas razões para tal;
o Acha importante estar na consulta para falar como se sente, como se estivesse a tirar
um peso das costas;
o Não trabalha desde o nascimento da sua primeira filha (4 anos);

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Discussão do Role Play:
Deixar de trabalhar, aqui em Portugal, tem uma importância que, por exemplo, nos EUA não
tem tanta influência. Por isso, temos de dar a devida importância a este ponto.
Deviam-se ter explorado várias coisas:
o O arrependimento que ela refere, é um movimento que pode gerar imensa culpa. É
muito complicado depois olhar para o filho e pensar se o queria ter ou não. Este
movimento é sentido como uma coisa agressiva perante o seu filho, o que está ligado
com o seu movimento depressivo;
o Quando descreve os filhos, descreve o mais velho como agitado e difícil, sobretudo com
a irmã, mas ao mesmo tempo, vai desvalorizar este filho, dizendo que ele é uma criança
perfeita. Do filho mais novo, não apareceu nada de especial (como se o mencionasse
apenas. Não havendo quase investimento);
o História dela, a fratria, se tem irmãos ou não, etc. E ver esta relação diferenciada entre
os filhos;
o Ver o que é que podia ser diferente, como por exemplo objetivos da paciente. Devíamos
estimular a paciente um pouco neste sentido → perguntar o que é que a pessoa gostava
de fazer;
o “pode falar-me um pouco mais sobre isso” → essas perguntas podem ser um pouco
difíceis para quem não esta habituado a falar com psis. Principalmente quando são
colocadas 10 min depois do início. Devem ser substituídas por coisas mais concretas,
como por exemplo: “sente-se desconectada?”;
o Há mais do que a falta de tempo nesta paciente. Que tem mais a ver com ela, com a sua
crise existencial (ela não está bem). Há muita coisa que em haver com a relação
conjugal (o marido é cirurgião plástico);
o A questão da idealização (ela apesar de ter este discurso compreensivo, mas parece estar
frustrada);
o Há medida que a entrevista se foi desenrolando parece que mais perto estávamos da
paciente;
o A melhor intervenção foi a síntese (generalização) da terapeuta perante o que a paciente
sentia perante o marido, os filhos e o trabalho;
o O que o professor fazia/perguntava: “o que é a que a fazia mais feliz?” “O que é que
gostava de estar a fazer agora?”. A devolução da visão do terapeuta sobre o paciente,
e depois de ter ouvido a paciente sobre as questões da paciente e o que ela traz é
importante saber a história por trás (conjugal, por exemplo). O professor precisava de

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uma segunda entrevista porque não faz sentido estar a falar de assuntos que não vão
sendo trazidos pelo paciente, mas que estão na nossa cabeça a serem formulados. Ou
seja, não se vai quebrar o ritmo e o flow desta primeira entrevista;
o Esta paciente era relativamente fácil, é muito colaborativa. Como se percebesse que o
psicólogo estava atrapalhado e quase que o ajudava esse aspeto (isto pode acontecer na
vida real, principalmente em trabalhos de grupo).

É importante recolher o pedido e depois pensar no pedido com o paciente. Muitas


vezes as pessoas fazem/aparecem com um pedido, mas depois saem com outro, porque
(nós) devolvemos a leitura do que está a ser pedido. Depois faz sentido ou não, e se fizer,
as pessoas depois voltam.

8ª Aula Teórica (07/05/2021)

GRAVAÇÃO DE SESSÕES E TIRAR APONTAMENTOS


Pode-se gravar sessões? Mesmo tomando todos os cuidados éticos (ninguém ouvir a
gravação, que seja destruída depois do psi a ter trabalho, etc.), o professor acha que é sempre
uma coisa estranha, que introduz outra presença qualquer. A gravação podia ser utilizada como
alternativa de registo, não existindo o distanciamento da escrita, mas a verdade é que advém
quase sempre desconforto de se saber que se está a ser gravado enquanto se fala abertamente,
constituindo, assim, um obstáculo à exposição de algumas temáticas delicadas para o sujeito;
mais uma vez, a única exceção a esta situação é a entrevista de investigação. Pode-se ainda
recorrer à gravação com imagem e som, mas o aparato é ainda maior.
Em relação a tirar apontamentos, estes são muito intrusivos, e não inócuo, pois o psicólogo
está a escrever umas coisas e não outras. A pessoa depois pode pensar, o psi está a escrever isto
e não aquilo, etc. Em situação de entrevista, a regra é não tirar qualquer tipo de apontamentos;
as únicas exceções podem ser em situações de avaliação para fins de relatório ou parecer. O
escrever durante as entrevistas implica, necessariamente um distanciamento, porque o terapeuta
não desvia a sua atenção do papel. Devem é ser feitos apontamentos posteriores à entrevista que
servem para registos pessoais do Psicólogo (como idade, estado civil, profissão, etc.) ou para

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discussão do caso em reunião clínica ou de supervisão onde apenas se deve apontar o geral e
mais importante da entrevista, não sendo necessário escrever todas as palavras.

PSICOTERAPIA DE APOIO
Baseia-se num conjunto de entrevistas clínicas. A dado momento são organizadas por um
contrato terapêutico. Passe-se de uma entrevista para uma psicoterapia de apoio.
Há uma parte avaliativa que o psi já não está preocupado, mas em termos de técnica é quase
a mesma coisa, a atitude do psi é a mesma.
Ocorre de forma completamente orgânica da entrevista clínica. O psicólogo recebe uma
pessoa e tem uma conversa peculiar, a que chamamos entrevista clínica e que ao seu serviço
tem um conjunto de técnicas para as quais teremos de ter conhecimento aprofundado e integrar.
Assim, beneficiaremos de role play de forma a ter a oportunidade de mergulhar neste
instrumento chave. Neste sentido, podemos começar pelo exercício quotidiano de conversar
com as pessoas e refletir acerca das intervenções que fazemos, porque como sabemos não
categorizamos o que dizemos e, por isso, tanto quanto saber ouvir o outro é importante saber
ouvir-nos a nós mesmos para aquilo que dizemos se acomodar e começar a fazer parte de nós.
Quando é que usa? Adapta-se a todos os lugares, desde que haja 2 cadeiras. É muito
flexível. Usa-se quando não há um modelo de setting, se o paciente não precisar. Porque se
precisar, será encaminhado para tal (psicanalise, sistémica, etc.). Quando não se usa uma
psicoterapia de setting, o que se usa é uma psicoterapia de apoio. Esta psicoterapia pode ser
uma decisão que decorre da necessidade do paciente, e nós, sendo psicólogos de base, podemos
fazer psicoterapia de apoio (ou seja, com o mestrado feito).
Onde é que faz sentido? (É a única forma terapêutica adequada?) Nas instituições. Aqui
não temos o tempo necessário para estar com os pacientes, não os podemos ver com
regularidade, etc. – então aplicam-se as psicoterapias de apoio. Quando há uma psicopatologia
muito severa também se aplica esta psicoterapia. Nas instituições não temos condições de
setting para receber os pacientes a não ser nesta modalidade de apoio.
Nos dias que correm a consulta psicológica vai mais além daquilo que são os modelos
psicopatológicos, não querendo com isto dizer que não haja psicopatologia, mas esta não está
presente em todos os casos: psicoterapia não envolve sempre um indivíduo que tenham
psicopatologia. Neste sentido, a psicoterapia de apoio surge como intervenção tanto para
modos de funcionamento de patologia mais pesada, como a psicose, como para modos de
funcionamento menos arcaicos – existem muitas psicoterapias para pessoas neurotizadas, mas

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poucas para pessoas psicotizadas ou para o sendo comum, isto é, pessoas que atravessam
situações de crise, descompensam, demonstrando não ter recursos e mecanismos para lidar
com determinadas circunstâncias naquela altura das suas vidas. Assim sendo, disseminando
estas situações notamos que podem afetar qualquer um de nós, em qualquer momento das nossas
vidas, sendo perfeitamente normal que não nos encontremos preparados de alguma forma para
uma realidade desorganizante que nos violenta e nos fragiliza de tão difícil que é – por exemplo:
Como não descompensar se perdemos toda a nossa família num acidente do qual somos os
únicos sobreviventes? Os acontecimentos da vida, até mesmo os normativos, ao longo de uma
vida (que tende a ser cada vez mais longa) têm potencial de crise, pela carência de recursos. Em
suma: a psicoterapia de apoio é tanto pensada para casos gravíssimos do ponto de vista mental,
como também (e sobretudo) para a esmagadora maioria da consulta psicológica que é feita com
situações deste género, sendo pensada ao ajustamento às situações que acontecem.
Esta psicoterapia não está vinculada a um só modelo teoria. Tem técnicas de todas as
orientações teóricas, que são usadas de acordo com as necessidades e personalidade do
paciente. Nós podemos ter um quadro teórico e usar uma técnica que não seja desse mesmo
quadro teórico.
Acabando o mestrado e o estágio profissional, isto permite-nos fazer vários tipos de
intervenção – a intervenção psicoterapêutica e a psicoterapia de apoio. Não somos
psicoterapeutas. Esta psicoterapia é a mais usada. O grosso do mercado pede este tipo de
psicoterapia, é mais frequente e menos elaborada e decorrem de um modelo adaptado a todos
os contextos, i.e. supra teórico – não depende de uma teoria, pelo que a teoria cada psicólogo
tem a sua e o que estes fazem não tem de espelhar necessariamente do ponto de vista técnico a
sua. Esta tipicidade de psicoterapia pode ser usada isoladamente, i.e. constituir um tratamento
fundamental para um paciente ou ser o único que é praticável, mas também pode ser o ponto de
partida para psicoterapias mais profundas (como vamos ver a seguir). A psicoterapia de apoio
é adequada enquanto genérica para todas as situações que não tenham indicação específica
para uma dada psicoterapia, no entanto se recebemos uma pessoa e consideramos que esta tem
características específicas para uma psicoterapia muito específica (e caso tenha condições de
realidade), então o apropriado é direcioná-la.
Pode ser o único tratamento, mas também pode ser o ponto de partida para uma psicoterapia
de setting. Se virmos, nas abordagens mais viradas para o insight, existe uma capacidade de
estrutura, que às vezes as pessoas não têm e não estão capazes de aderir a uma psicoterapia
psicanalítica, por exemplo. Então começa-se com uma psicoterapia de apoio para estruturar o
paciente e depois encaminhá-lo então para um psicoterapeuta de setting.

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Durante muitos anos (e não é preciso muito, basta recuar 20 anos) a psicoterapia de apoio
não era vista como uma objeto científico, ao invés das psicoterapias de setting, sendo que havia
muitos poucos estudos sistematizados e investigações e só alguma coisa escrita, era muito mais
um procedimento que podia ser aprendido, até porque não haviam grandes indicações (não se
percebia muito bem como é que se selecionava uma ou outra técnica) nem comparação de
resultados, apenas algumas tentativas de ser uma prática corrente.
Simplesmente fazia-se e depois despertou o interesse em algumas pessoas, e essas
começaram a fazer a sua investigação. Talvez porque, como era uma coisa que se fazia de forma
pontual, de forma curta, tenha existindo então uma resistência sobre a mesma.
No fundo, a psicoterapia de apoio era uma técnica sem teoria que se aplicava a pessoas que
estavam demasiado angustiadas para sair, por si só, de situações de impasse em que se
encontravam, enfim, algumas pessoas conseguiam ultrapassar essas situações sozinhas, outras
precisavam de intervenção. A razão pela qual era utilizada era por ser pragmática: resulta, às
vezes é a única possível e, portanto, tem uma função indispensável – tinha muito a ver com a
prática, e não com a teoria (não era muito conceptual).
O psicólogo clínico que trabalha com uma psicoterapia de apoio lida com situações que são
complexas de mais para serem solucionadas espontaneamente, mas que não são tão complexas
que precisem de um cuidado mais diferenciado como as psicoterapias de setting. Não é
necessário ser psicoterapeuta para se fazer uma psicoterapia de apoio (promovida por
psicólogos, psicoterapeutas ou não), pois é um instrumento de intervenção disponível a um
psicólogo com intervenção em psicologia clínica e isso amplia o âmbito da psicoterapia de
apoio, quer pelo número de pacientes que abrange, quer pelo número de técnicos que a podem
praticar. As formações que os psicólogos fazem são tão específicas que albergam uma pequena
parte (ou nenhuma) das intervenções com as quais os psicólogos têm acesso, isto é, eu posso
fazer uma formação sobre comportamentos aditivos e pouco ter contacto com pessoas com essa
problemática no local onde trabalho. No entanto, isto é algo que é conhecimento nosso,
profissional, porque na maior parte das vezes a pessoa não tem conhecimento e para ela é tudo
igual, sendo que apenas sabe que tem um problema e que não está a saber lidar com isso.

88
Extras de outros Apontamentos
→ INVESTIGAÇÃO
A investigação indica que os resultados (positivos) das psicoterapias não estão associados
a modelos teóricos, à duração da psicoterapia, a técnicas específicas (Stiles, 2013), nem às
experiências dos terapeutas. Isto quer dizer que ainda que tenhamos de ter para connosco uma
teoria que nos ajude a pensar a realidade (senão era só senso comum), na relação com o paciente
nada do suprarreferido tem impacto.

o Fatores comuns
No seguimento, a investigação mostra que aquilo que tem impacto em resultados positivos
nas psicoterapias são os fatores comuns – aquilo que é comum a todas as psicoterapias (e os
fatores específicos são então os específicos de cada uma das psicoterapias). Assim, os fatores
específicos não explicam nada enquanto, em contrapartida, os fatores comuns ajudam a explicar
a eficácia terapêutica:
1. Estabelecimento de uma relação de confiança e segurança entre terapeuta e paciente
num setting de caráter curador no qual a terapia toma lugar;
2. Obter e experienciar novas informações a nível cognitivo, emocional, sensorial e
comportamental;
3. Alterar níveis de ativação emocional com períodos de segurança e harmonia; Se
uma pessoa está muito apática inserir estímulos e se uma pessoas está em grande êxtase
saber trazer a calma, no fundo é saber manter o equilíbrio emocional;
4. Providenciar uma explicação psicológica ao paciente de forma a aliviar a sua aflição
emocional;
5. Integrar conhecimento conceptual com experiências emocionais e corpóreas
através do desenvolvimento de narrativas coerentes; Saber olhar o paciente, as suas
emoções e a forma como estas se expressam através do seu corpo. Ter um discurso
coerente e procurar que o paciente também caminhe para um discurso mais agradável e
organizador, tendo em conta que este vai muitas vezes ser confuso, reformular e mentir.
Ler cap. do Miguel Gonçalves no livro Psicoterapias por ser interessante notar o valor
terapêutico do método narrativo. Outro autor neste tema é Óscar Gonçalves;
6. Dar uma explicação adaptativa, ou seja, opções viáveis e credíveis para ultrapassar
dificuldades específicas que sejam aceites pelo paciente;

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7. Fomentar métodos de processar e organizar novas experiências fora da terapia,
através de um conjunto de procedimento ou rituais que tenham efeito positivo ou
adaptativo.

→ CONTEXTO DE EMERGÊNCIA
Em meados do século passado os contextos hospitalares punham a tónica na psicopatologia
e na doença mental, em vez do agora conhecido conceito de saúde mental no qual nos focamos.
De grosso modo, aquilo que acontecia era que os psicólogos (e não psicólogos) que trabalhavam
neste contexto institucional procuravam as suas próprias formações, não tão sistematizadas
como são hoje, e maioritariamente comportamentalistas ou psicanalistas, pois só com o avançar
do século é que apareceram com força outras teorias como as sistémicas ou existenciais (em
Portugal chegaram mais tarde).
No entanto, o problema das instituições era de que aquilo que os psicólogos sabem às vezes
não se articular com as necessidades das pessoas que têm diante deles, o que é útil que tenhamos
em conta dado que vamos encontrar estas situações, nomeadamente no início do nosso percurso.
Por exemplo, um estagiário de psicologia num centro de dia com idosos, cujos mais novos têm
80 anos, e que dominantemente se considera psicanalítico: o que é que ele aproveita da
psicanálise para a intervenção psicológica que é suposto ter junto destes? O mesmo pode ser
pensado para qualquer quadro teórico, uma vez que quando damos as teorias não estamos a
pensar em populações específicas. Ainda que sejam úteis para nos guiarmos há que ter
consciência que não nos dão as respostas.
Assim, aquilo que tem vindo a acontecer de uma forma sistemática do ponto de vista da
pragmática é que os psicólogos procuram formações que lhes agradam e que são importantes
para si, de maneira a se sentirem mais seguros na situação profissional. No entanto, esta
formação torna-se muitas vezes incompatível com os seus contextos de trabalho, seja pelas
diferentes indicações para as populações, seja pelo protocolo de intervenção do serviço, isto é,
não nos podemos esquecer do facto dos profissionais terem de responder perante uma instituição
que lhes traça regras e caminho.
A maior parte dos modelos que estão em funcionamento são cognitivo-comportamentais
quando são programas terapêuticos e, genericamente, é isto que os psicólogos fazem:
psicoterapia de apoio.

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o Contextos Institucionais
Em contexto institucional o pedido de intervenção não é feito ao psicólogo, mas ao sistema
ou ao serviço, no sentido em que não é a pessoa que se dirige ao psicólogo, são outros que
indicam a pessoa para se dirigir ao psicólogo, daí as populações serem específicas.
A avaliação e/ou intervenção nestes casos é breve, focal e, por isso, limitada, uma vez que
é mediada pela instituição. Por exemplo, se nos dizem que só podemos ver o paciente em oito
sessões mesmo que não achemos suficiente, é o que teremos de fazer, da mesma forma que se
tivermos uma intervenção junto de um casal com um filho prematuro e cremos que era benéfico
ver apenas o pai da criança em separado, e se a instituição não permitir, não podemos. Assim,
os seus limites são estabelecidos pelos objetivos de missão da instituição.
Toda esta problemática é algo para o qual não estamos despertos, no sentido em que muitos
dos docentes com os quais temos tido contacto trabalham no contexto oposto, isto é, clínica
privada, no entanto é provável que esta seja também a nossa realidade profissional.
Antigamente os médicos viviam muito bem por trabalhar simultaneamente em contexto
privado e público, mas hoje em dia já não é permitido nem se tem a facilidade em fazer desvios
do público para o privado, seja por questões económicas – se tenho uma consulta a 10€ no
público não vou gastar 150€ desnecessários no privado para um mesmo serviço. No entanto, se
pensarmos na formação de profissionais de saúde que recebem 16€ a perder de vista por cada
consulta (no caso da psicologia pela ADSE) e equipararmos com a formação de uma manicure
que leva o mesmo preço (ou até mais), veremos que talvez estejamos a sair prejudicados e mal
pagos pelo serviço que estamos a prestar.
A clínica privada acarreta também para nós, profissionais, uma série de encargos, não só
por questões de isolamento e privação de partilha com outros colegas, como porque pagar renda
num sítio bom e acessível ser nos dias de hoje um luxo, além de que o acesso a clientes é um
estrave e juntam-se custos seja de limpeza, seja por termos de ter uma secretária. Assim, as
mudanças no sistema de saúde levam a querer que seja mais rentável trabalhar em instituições.
A verdade é que os psicólogos se sentem muitas vezes incompetentes por saber que a pessoa
iria beneficiar de um serviço mais e melhor do que aquele que está a ser oferecido pela
instituição. Ainda assim, ao fim de um certo tempo aprendemos os truques, sabendo como e
com quem nos podemos articular para contornar estas questões.

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→ OBJETIVOS
Variam de acordo com os autores, mas genericamente há um consenso: Podem ser mais ou
menos ambiciosos, mas sobretudo é repor o equilíbrio mental dos sujeitos. Retomar a função
homeostática (a pessoa volta a funcionar como funcionava antes). Melhorar a adaptação ao
meio.
Nós vamos, no fundo, restabelecer o equilíbrio psicológico, diminuindo sintomas (aspeto
fundamental). É muito focada na diminuição sintomática. Isto implica fortalecer defesas.
Vamos então privilegiar as defesas habituais do sujeito (as que ele já usava antes, mesmo que
não sejam as mais sofisticas do mundo). Por exemplo, se temos um sujeito que usa 3 ou 4
defesas e uma delas é a clivagem, vamos fortificar as outras e não tanto a clivagem.
Tem metas concretas (e não abstratas), porque muitas vezes, estas pessoas são capazes de
mudanças limitadas, ou seja, não tem capacidade para uma grande transformação. O objetivo é
a mudança de sintomas, e não a estrutura da personalidade. E procuramos alterar sintomas
externos perante uma rutura, como por exemplo, sintomas que aparecem depois de uma
separação, de um acidente de carro, etc.
Se não for possível remover o sintoma vamos adaptá-lo à realidade. Há situações que um
sintoma está a proteger o paciente de uma rutura mais grave (podemos decidir que o sintoma é
para manter e não vamos desorganizar mais a pessoa).
Às vezes é preciso reduzir as ambições terapêuticas. Coisas como, “eu quero conhecer-me
melhor”, não existem nesta psicoterapia, porque para uma pessoa fazer esta psicoterapia tem de
haver uma crise, ou uma situação de desadaptação. Temos de adaptar situações irreais.
Há uma tentativa de arranjar soluções para a pessoa. Podemos ter um papel muito ativo
na reabilitação do paciente, ou até mesmo noutras estruturas que podem ajudar a pessoa (por
exemplo, fazer contactos com outros, como o serviço social). Por exemplo: o professor contou
que tinha uma paciente com um défice cognitivo (que mal se notava), e que a rapariga queria
muito ser educadora de infância. O professor, mais a família da rapariga, arranjaram uma
solução: a rapariga começou a trabalhar como auxiliar de infância (que na cabaça dela era quase,
se não a mesma coisa, que ser educadora).
Estes objetivos (os 3 de lá de cima) vão também direcionar a relação psicólogo-paciente.
Desde o início que vamos tentar promover uma certa atitude de autonomia no paciente. Desde
o princípio, ao contrário de outras psicoterapias, que o objetivo aqui é reconstrutivo: diminuição
do desconforto, do sofrimento, etc. Em psicoterapias de setting, muitas vezes é o contrário –
precisamos de “trazer sofrimento” à pessoa primeiro (destruturar), para dar continuidade ao
processo terapêutico.

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Deve também, ter sempre objetivos claros. Que são clarificados com o paciente, mesmo
que se tenha subjacente um objetivo mais ambicioso: fortalecer autonomia, aumentar a
realidade, etc.

Extras de outros Apontamentos (Objetivos)


Em algum momento da vida todos vamos, por meio de circunstâncias internas ou externas,
“cair” na nossa linha de base de funcionamento psicológico e, por isso, o trabalho do psicólogo
será ajustar as circunstâncias responsáveis pelo desequilíbrio e para fazer o paciente voltar à
linha de base. Isto é muito relevante porque quando se trabalha em contextos institucionais,
cheios de limitações e constrangimentos, o objetivo é assumir que deve ser feito algo de
significativo e relevante pelas pessoas, estando conscientes das nossas competências e
possibilidades, e não entrar numa atitude de “despachar” para outros terapeutas, porque em rigor
a maior parte das vezes não há para quem os reencaminhar.
Na maior parte do país não há psicoterapeutas e, mesmo se houvesse, a esmagadora maioria
não está no sistema público, porque o sistema público não contrata psicoterapeutas, contrata
psicólogos. Pode haver psicólogos que são psicoterapeutas, é um fato, sendo psicoterapeutas
que disponibilizam esse seu conhecimento específico pelo serviço em que trabalham, se fizer
sentido e der jeito, porque às vezes também não é possível.
Aquilo que acaba por acontecer é que trabalhando no sistema público, e mesmo nos
privados (por exemplo hospitais privados) porque são feitos à imagem semelhante dos públicos,
os recursos dependem do local onde nos inserimos, isto é, se tivermos em grandes cidades como
Lisboa e Porto existem recursos, mas se formos para sítios mais pequenos os serviços de
psicoterapia têm menos aderência por questões de tempo, motivação, económicas ou objetivas.
Portanto, temos de ser de fato a primeira linha de promoção da saúde mental no país inteiro: os
psicólogos estão para os médicos de clínica geral como os psicoterapeutas estão para os médicos
de especialidades.
A esmagadora maioria das pessoas, a professora diria 95%, faz uma intervenção com os
psicólogos e temos de estar treinados e disponíveis para que seja possível dar o melhor para
aquela pessoa reatar o equilíbrio psicológico. Muitas vezes olhamos uma pessoa e acreditamos
que fazia sentido uma terapia específica, mas a psicoterapia de apoio é o nosso único caminho,
portanto se depois de se restabelecer o equilíbrio psicológico, em psicoterapia de apoio, a pessoa
se quiser fazer uma terapia específica fará, reencaminhada para um privado.
Os objetivos da psicoterapia de apoio são diferentes de acordo com autores ou praticantes
diferentes, podendo ser mais ou menos ambiciosos, mas há mais ou menos um consenso naquilo

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que se pretende com uma psicoterapia de apoio. Um dos objetivos da psicoterapia de apoio é
então a diminuição dos sintomas, o tentar reestabelecer o equilíbrio psicológico, i.e. repor o
funcionamento normal do paciente, repor a sua função homeostática que é a função de
manutenção do estados das coisas. Também vamos procurar fortalecer as defesas do sujeito,
não só privilegiar as defesas que são mais adaptativas/funcionais que ele já tem no seu reportório
defensivo, como, eventualmente, criar novos mecanismos de defesa mais eficazes que não
possuía, mas que por via da psicoterapia pode vir a desenvolver.
Por outro lado, vamos tentar melhorar a adaptação do individuo ao meio externo. Se não
for possível a mudança então a psicoterapia vai trabalhar na adaptação do paciente e, inclusive,
isso pode incluir não remover alguns sintomas para não desencadear um processo de rutura.
Então, podemos até deixar alguns sintomas permanecer e tentar enquadrar bem a questão
sintomatológica, porque de fato os sintomas muitas vezes servem para tapar níveis de
desorganização mais graves. Tal pode ser evidente em certos funcionamentos obsessivos em
que as defesas obsessivas muito intensas estão exatamente a prevenir que o sujeito tenha uma
descompensação psicótica (não quer dizer todos os que são obsessivos tenham por detrás uma
estrutura psicótica prestes a descompensar). No entanto, apesar de tudo, quando trabalhamos
com um doente psicótico há uma parte da sintomatologia que queremos baixar, não retirando.
Posto isto, um grande obsessivo tem mecanismos de controlo muito rígidos por alguma razão
e, portanto, ao avaliarmos um paciente se percebemos que a obsessividade dele é protetora de
lago mais grave não vamos retirar os sintomas obsessivos, porque não temos instrumentos para
depois lidar com as consequências da remoção desses sintomas, na psicoterapia de apoio, para
isso teríamos de estar noutro setting que não o setting de apoio. Imaginando um paciente de 25
anos que aparece em consultório com uma disfunção erétil. À partida pode parecer óbvio que é
para remover o sintoma, e até há técnicas comportamentais muito concretas que tornam
relativamente simples a remoção desse sintoma. No entanto, é preciso perceber se isso está ou
não a tapar qualquer coisa mais grave, por exemplo: tem uma disfunção erétil que o impede de
ter uma relação de intimidade com uma mulher e percebemos que as relações de intimidade são
altamente ameaçadoras e que em todas ele rapidamente caiu em relações fusionais. Então, é
melhor lá estar uma disfunção erétil (manter o sintoma) do que entrar numa espiral
psicopatológica. Por isso é que a avaliação é um processo individual e tão importante, feito nas
entrevistas preliminares. Ainda que não seja a generalidade dos casos, muitas vezes é possível
isto nos acontecer. Portanto, nós não estamos à procura de uma mudança na estrutura de
personalidade, nem de uma resolução dos conflitos centrais do sujeito, mas sim: alivio dos

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sintomas, mudança de comportamentos e não a mudança de personalidade ou do conflito
inconsciente.
A psicoterapia de apoio vai reforçar aspetos saudáveis que ajudam o paciente a lidar melhor
com os externos, também promove a autonomia do paciente até onde isso é possível, sendo que
de fato existem pessoas com limitações nesse sentido, então nós podemos aumentar a
autonomia, mas talvez não de uma forma absoluta. Além disto, também permite a redução do
desconforto do paciente que é causado por um comportamento disfuncional e pelas limitações
que esse comportamento disfuncional implica.
Não obstante, podemos (e devemos) ser um pouco mais ambiciosos do que isto. Quando
recebemos uma pessoa devemos sempre olhar para ela da forma mais otimista possível, mesmo
tendo em conta que podemos não atingir objetivos extraordinários há que pensar que talvez
possamos ir um bocadinho além, i.e. não apenas voltar a pôr a pessoa onde e como ela estava
antes da crise, mas, por exemplo, promover o desenvolvimento emocional, aumentar a
autonomia, reforçar identidade, aumentar o sentido de realidade em mais do que ele tinha antes
de descompensar, etc. Enfim, isto é dos aspetos mais bonitos da nossa profissão: receber alguém
que é “pobre” do ponto de vista emocional, da diferenciação, da capacidade de insight ou da
inteligência emocional, uma pessoa muito limitada, e de repente ao longo do processo de
psicoterapia e vemos que a pessoa se torna mais viva, mais inteligente, mais capaz. Aparecem
ali coisas que, eventualmente, nem o paciente nem mesmo nós estávamos à espera. Um tipo de
paciente clássico é aquele que não tem grandes hipóteses por ter baixa escolaridade, baixa
inteligência e idade já avançada, mas que depois nos dá uma lição do que é possível transformar
sem contarmos com isso. Ao contrário, às vezes temos um paciente com todas as características
para ter um grande desenvolvimento e acaba por não se desenvolver assim tanto.

o Ajustamento ou Mudança?
A psicoterapia de apoio tem como um dos seus objetivos – específico por diferir da maior
parte das psicoterapias – o ajustamento à mudança. Quando falamos em psicoterapias vemos
implícita a palavra mudança e isso não é verdade, embora já tenha sido – os modelos clássicos
da psicologia de setting interviam junto de pessoas que pretendiam mudar algo específico – hoje
em dia a dimensão terapêutica alastrou enormemente e a maior parte das vezes as pessoas não
vão fazer psicoterapia para mudar, vão fazer psicoterapia porque houve uma grande mudança
disruptiva à qual se querem ajustar. Assim, a psicoterapia de apoio pretende fazer com que o
paciente retorne à linha de base onde se encontrava antes de descompensar e não pretende menos
ou mais que isso.

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Assim, a psicoterapia não se aplica nos casos em que não existe nenhuma crise, em que não
existe nenhuma queixa. Uma pessoa que esteja mais ou menos adaptada, mas que começa a
perceber que gostava de aprofundar o autoconhecimento, perceber melhor a forma como reage
às coisas, descobrir porque é que, tendo tanto sucesso na vida, não se sente satisfeito, perceber
porque é que as suas relações amorosas são insatisfatórias, etc., são questões de uma natureza
não elegível para uma psicoterapia de apoio, porque torna a intervenção muito difícil: não há
nada concreto com o qual o psicólogo possa trabalhar. Há modelos de psicoterapia em que o
trabalho pode ser realizado sem existir um objetivo concreto (desde modelos humanistas,
existenciais, psicanalistas, etc.), mas na psicoterapia de apoio tem de existir.

→ MODALIDADES PRÁTICAS
Há várias. O contexto e o paciente são o que determinam a modalidade prática.
Em rigor, quando estamos a falar de psicoterapia de apoio, remetemos para um serviço de
acompanhamento que se pode desdobrar em modalidades práticas distintas, uma vez que os
nossos clientes podem ser, de facto, muito diferentes.
A psicoterapia de apoio é a única que tem eficácia nas doenças crónicas, nomeadamente
nas psicoses, dado que genericamente as centenas de modelos que têm sido criados trabalham
com o espetro do modelo psicodinâmico do neurótico. Assim, a doença crónica beneficia do
acompanhamento por psicoterapia de apoio, uma vez que é uma doença física com impacto
mental que dura toda a vida e, também por isso, são muitas vezes reencaminhados estes
pacientes para psicólogos mais novos que os possam acompanhar numa psicoterapia de apoio
de longa duração.

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Há imensas doenças, como as autoimunes ou genéticas, por exemplo a diabetes que duram
toda uma vida e as pessoas têm de aprender a viver com elas. Por esse motivo, é fundamental o
psicólogo ser sempre o mesmo para que haja uma relação de confiança estabelecida. Ainda
que haja fases do desenvolvimento normal humano que façam um paciente ter maior ou menor
adesão ao acompanhamento (por exemplo a menor frequência de um adolescente), é importante
estar estabelecido um apoio conhecido a quem possa recorrer sempre que necessário.
As teorias psicológicas, principalmente a nível psicanalítico desenvolveram-se a partir do
século XX, e a investigação nas doenças mentais desenvolveu-se muito mais tarde,
nomeadamente no final do século XX. Então, no fundo, acabamos por ter vários conceitos, mas
temos de lembrar que as teorias são mapas para ler o território, não são território. Temos a ideia
de que a psicose tem a sua base na relação, o que não é de todo verdade, porque a base da
psicose é fisiológica (predisposição genética), ainda que haja fatores que a desencadeiem. Por
esse motivo é que se fecharam os hospitais psiquiátricos, pois foi percebido que uma psicose
era regulada por antipsicóticos e isso por si só eliminava a esmagadora maioria das situações de
risco associadas. Assim, não há tratamento psicológico para a psicose porque tem uma base
física, mas a diferença de uma psicoterapia inserida na vida destes pacientes está na qualidade
de vida que é abissalmente diferente. Um dos fatores onde se nota a diferença de qualidade de
vida é na autonomização, por exemplo um indivíduo com esquizofrenia que vive com a mãe de
80 anos, nunca casou e com 50 anos pede à mãe para lhe atar os atacadores.
No fundo, as modalidades práticas têm a ver com a duração. Temos de curta, de média e
de longa duração.

o Psicoterapia de Apoio de Curta Duração (Intervenção na Crise)


Vão funcionar durante um período bastante curto e são as chamadas as intervenções na
crise. Os pacientes que são alvo desta modalidade são normalmente pessoas que são adaptadas,
mas que deixaram de o ser, porque por exemplo, passaram por uma doença, um nascimento,
um divórcio, etc. Mas também podem ser pessoas que podem ser surpreendidas por um processo
que não é natural (ex. acidente). É muito importante uma avaliação muito rápida para ver
quais são os recursos disponíveis, as ações a tomar e os objetivos do aqui e do agora (modalidade
de intervenção em crise). Nestas intervenções, nós aparecemos nós hospitais. Se for num cenário
de catástrofe, nós vamos para esse cenário (montam-se tendas) e temos de perceber quais os
mecanismos que existem, as estratégias, avaliar os recursos da comunidade, e depois conseguir
estruturar a pessoa minimamente, e quando o cenário de catástrofe “acabar” encaminhá-la para
uma psicoterapia de setting se necessário).

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É uma intervenção de semanas que, no fundo, serve para “dar um empurrão”, traçando,
através de uma ação bastante intensiva focada no “aqui e agora” (intervenção de estilo ativo
e flexível), ou seja, com foco nas horas e dias subsequentes ao acontecimento, daí a importância
da de uma avaliação inicial rápida para desde logo oferecer uma ajuda (por exemplo: psicólogo
do IMEN) e rapidamente traçar objetivos muito claros. O objetivo genérico é a avaliação dos
recursos (in)disponíveis quer numa lógica mais comportamental, de redução de problemas, ou
numa lógica mais dinâmica de elaboração de sentimentos latentes.
São exemplo destas psicoterapias os contextos de catástrofe, choque ou crise (existem
muitos modelos cognitivo-comportamentais hoje em dia para trabalhar na crise), como a
adaptação à atual pandemia covid-19, os incêndios de há dois anos no nosso país ou a ponte que
caiu entre duas aldeias com autocarros cheios de pessoas, há uns anos atrás. No fundo, o
trabalho feito será exatamente no local onde as coisas estão a acontecer – estamos com as
pessoas no momento em que ocorre a crise e, eventualmente, mais algumas vezes durante um
período de alguns dias – sendo por isso intervenções muito pragmáticas e focadas nos
recursos disponíveis, através das quais reorganizamos a pessoa. Alguns casos depois serão
reencaminhados para outra modalidade terapêutica onde continuam a ser acompanhados,
consoante as suas necessidades, como vimos anteriormente.
Trocado por miúdos, como é que é na prática? Depende evidentemente do contexto, porque
pode ser uma consulta normal de hospital, no INEM, serviço de emergência hospitalar ou outro,
mas são utilizadas estratégias de resolução de problemas e/ou reelaboração de sentimentos ou
emoções latentes, para tentar o equilibro e normalização. Face a uma situação que é difícil de
elaborar, temos de perceber se a pessoa tem disponibilidade para lidar com a situação, se tem
vontade, se tem recursos, se tem suporte social, etc., informação à qual conseguimos aceder
através da criação de um clima de confiança, facilitando a expressão emocional.
Imaginando que trabalhamos num hospital e somos chamados a intervir junto de um rapaz
de 16 anos que teve um acidente e ficou paraplégico, com o objetivo de o reorganizar enquanto
permanece no hospital. Neste caso é óbvio que precisará de ser seguido numa psicoterapia de
média duração. Já no exemplo da psicóloga que faz psicoterapia de apoio de curta duração junto
de pacientes que vão passar por uma cirurgia ortopédica (2 ou 3 sessões) o objetivo é muito
focalizado/concreto – preparar a pessoa para a intervenção cirúrgica, para possíveis
consequências e ajudá-la a arranjar estratégias na fase pós-cirúrgica (Quem a vai ajudar? Que
recursos tem? Como é que vai lidar com a incapacidade que vai surgir a seguir à operação?).

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Os modelos de intervenção na crise muitas vezes procedem a apenas uma só sessão ou
então um conjunto de sessões, dependendo dos modelos. Se não houver recursos neste espaço
e período de tempo, o encaminhamento será opção.

o Psicoterapia de Apoio de Longa Duração


Normalmente são psicoterapias que começam com uma periocidade mais regular, muitas
vezes começamos apenas uma vez por semana com as pessoas e depois gradualmente vão sendo
menos sessões. Prologam-se por muito tempo, e podem ser semanais, quinzenais, etc. São
psicoterapias habitualmente praticadas com pacientes graves: doentes mentais crónicos
(nomeadamente psicoses), perturbações de personalidade, psicóticos, para indivíduos com
egos muito frágeis e imaturos, e até mesmo em casos de deficiência, pois pessoas com
debilidade mental precisam de uma espécie de apoio de longa duração. Em períodos críticos,
seja a nível desenvolvimental (adolescente com diabetes) seja por meio da doença crónica
(psicose mais “ativa”), eventualmente é preciso que as pessoas tenham uma intervenção mais
frequente, mas tirando isso nada obstem ser um acompanhamento mais espaçado dentro das
necessidades de cada um.
A relação terapêutica vai criar um ambiente que promove a adaptação à realidade, e vai
criar um espaço que de uma forma controlado os sentimentos patológicos podem ser
expressos. Onde o lado mais doente das pessoas se pode manifestar e é de alguma forma contido
e trabalhado. O terapeuta nestas situações vai estimular a expressão do material conflitual,
mas também o vai estacar a partir do momento em que sabemos que vai ser muito
desorganizador. Dá espaço à expressão do pensamento perturbado, mas não explora o conteúdo
latente. Exprimir conteúdos ansiogénicos perante alguém que os ouve de forma tranquila é
muito terapêutico para o paciente. Estes acompanhamentos tendem a ser espaçados. Por
exemplo, uma pessoa que teve um surto psicótico, é normal que no início seja acompanhada
uma vez por semana, mas que depois aos poucos vamos vendo menos.
Aquilo que se pretende numa modalidade prática do apoio de longa duração é o
estancamento de material psíquico inconsciente/proximidade ao real. Por exemplo o caso de
um senhor internado compulsivamente por episódios psicóticos graves que incluem delírios e
alucinações. Pertencia a um grupo de amigos que tinha muita consideração por ele – jovem
inteligente, muito culto e com estudos –, mas apaixonou-se por uma rapariga que mais tarde
começou um namoro com um elemento do grupo que não ele. O paciente continuou a impor a
sua presença, mesmo que os avisos de desconforto do casal fossem cada vez mais claros, pois
na sua ideia ela não o queria por perto porque ele sabia coisas privadas da sua vida passada que

99
não queria que ele revelasse (aqui começa a figurar o paranóide). A dada altura a rapariga corta
relações, pela pressão e faltas de respeito, mas o paciente não desiste e começa a persegui-la
para onde quer que ela vá. O paciente, psicótico paranóide, sentiu-se perseguido porque não o
queriam e estavam contra ele, então ao seguir-se perseguido torna-se o perseguidor. Assim do
ponto de vista prático, devemos proceder da seguinte forma:

Neste sentido, um diálogo com um paciente psicótico será um diálogo contra corrente em
que temos como objetivo puxar para a realidade, para o fatual, enquanto o paciente está a
puxar material inconsciente que lhe pesa e provoca angústia. Explicando isso da forma mais
básica e caricata, podendo o nível de conversa ser tão estúpido quanto isto:
- Estou melhor, mas hoje pensei na Maria.
- E tomou o pequeno-almoço?
- Sim.
- E pensou nisso antes ou depois do pequeno-almoço?
- Antes.
- Então depois a tomar o pequeno-almoço distraiu-se um bocadinho? E era o quê?
- Café e pão com manteiga.
Etc.

100
Não vale a pena ficarmos irritados e tentar resolver a situação, não há nada a resolver, no
fundo é apenas ter paciência para esperar sentido de oportunidade e entrar num diálogo deste
género. É, portanto, um trabalho de “renda” onde pegamos em coisas que o paciente possa
valorizar e não optamos por o contrariar nunca (“É um disparate” ou “Não faz sentido”), porque
isso seria desqualificar e, consequentemente, a pessoa vai fugir. Um núcleo psicótico pode ser
comparado a uma pessoa apaixonada: por mais que digamos a ambas a realidade elas não veem,
não conseguem nem querem (inconscientemente) ver.

o Psicoterapia de Apoio de Média Duração


Têm um leque de pacientes mais amplo. São pacientes estruturados, mas que entram em
crise e ficam em psicoterapia uns meses, ou até um ano.
A psicoterapia de apoio propriamente dita ou de média duração é a levada a cabo em
hospitais, prisões, centros de saúde, entre outros. As sessões seguem o setting clássico da
psicoterapia: semanais ou quinzenais (dependendo das disponibilidades), aproximadamente 50
minutos e frente a frente.
É indicada para pacientes que no momento da psicoterapia estão adaptados, mas que têm
sofrimento ou mal-estar e, portanto, o foco é muito menos concreto na psicoterapia de média
duração. São intervenções, eventualmente, para situações reativas um pouco mais complexas,
como por exemplo, situações de luto, de perda, ou mesmo nas situações de doença crónica em
que dois meses não são suficientes para a pessoa se voltar a adaptar. Os objetivos também
podem ser muito concretos, sendo que aqui temos novamente pessoas que estão em crise
acidental ou numa crise de desenvolvimento, podendo ser, por exemplo, alguém que entrou
recentemente numa fase de envelhecimento e não está a saber lidar bem com isso, alguém numa
pré-reforma, alguém que mudou de emprego, etc.
Portanto, temos todos estes cenários, de curta, média e longa duração, e podemos intervir
junto de indivíduos normo-neuróticos que estão numa situação reativa, até indivíduos que têm
uma estrutura mais frágil, borderline ou psicótica, ou até em algumas situações de debilidades
que não são totalmente incapacitantes. Nestes últimos casos, a PA pode ajudar as pessoas a
terem uma vida mais autónoma e independente, pois apesar de existir uma espécie de uma
dependência, trata-se de uma dependência circunscrita a um profissional, que favorece a
autonomia e a independência das figuras da realidade do paciente.

101
Extras de outros Apontamentos

CONSEQUÊNCIAS PARA A INTERVENÇÃO


o Por parte de Psicólogo:
A necessidade de adaptações de teorias, modelos e setting:
Por um lado, saber quais são as condições ótimas e lutar por elas, por outro lado não
desistir daquilo que nos é posto à disposição. Por exemplo, uma intervenção na unidade de
queimados será com o psicólogo com um fardamento especial e de máscara, a falar o mais baixo
que conseguir sentado à beira de uma cama para não se ouvir ao redor e, por esse motivo,
procurar isolar o espaço o máximo que lhe for possível. Ou seja, temos de nos ajustar.
A fragilidade dos clássicos modelos psicopatológicos para a compreensão de uma
extensa gama de situações:
Quando há o encontro do psicólogo institucional com o paciente é porque normalmente
já aconteceu o dito comportamento disruptivo. Por exemplo, a pessoa se está na prisão é por
algum motivo e se a pessoa está num hospital é porque algo o justificou. Assim, o facto disso
acontecer faz com que haja um conjunto de mecanismos, que são correlativos ao ajustamento a
situações, a ter em consideração para não termos diagnósticos erróneos – p.e. não vamos dizer
que uma pessoa com cancro tem depressão.
o Por parte do Utente:
➔ A emergência adaptativa de quadros sintomáticos (ansiedade-depressão-stress-
abaixamento de autoestima);
➔ A emergência adaptativa de estratégias de coping/mecanismos de defesa, que só
podem ser entendidos no contexto;
➔ A atualização de problemáticas emocionais distrativas das angústias principais;
➔ A adesão a procedimentos sem real consentimento informado. Há pessoas que nos
vem parar e nós não sabemos porquê (nem elas);
➔ A eventual regressão solicitando que os processos de decisão não sejam partilhados,
mas antes da iniciativa e responsabilidade dos técnicos~;
➔ O surgimento e manutenção de expectativas irrealistas. Normalmente quando se é
muito jovem profissional existe a tendência em que o entusiasmo seja exuberante,
prometendo e propondo coisas fora da caixa. Por exemplo, prometer a um paciente
que em oito sessões se resolver o seu problema antigo de alcoolismo ou até mesmo
ser ele a propor e nós a reforçar essa expetativa (irrealista);
➔ A manipulação de informação de diversas proveniências.

102
*Nota: A diferença entre uma psicoterapia de apoio onde se tem de usar técnicas mais
próximas das terapias cognitivas versus uma psicoterapia comportamental, está no modo de
aplicar qualquer coisa mais concreta, o prof raramente propõe alguma coisa concreta ao
paciente.

9ª Aula Prática (12/05/2021)

ROLE PLAY
Neste role play houve perguntas muito abstratas (e.g. fale me um pouco de si). Isto para um
adulto é esquisito, mas para um adolescente ainda é mais esquisito. São perguntas um pouco
difíceis.
Maior parte das vezes se perguntarmos se a vida das pessoas foi normal, elas vão todas dizer
que sim. Por isso é que é uma coisa que não funciona na vida real.

Discussão do Role Play:


A adolescente apresenta esta coisa idealizada (o curso mais difícil e a NASA) – isto é tudo
um pouco infantilizado (a adolescente tem 18 anos). E depois não tem nenhuma teoria nem
nenhuma compreensão do que se esta a passar com ela. Porque é que as notas baixaram? Estuda
e não tem resultados. E não há nem angústia nem preocupação. Há uma indiferença e não há
nenhum plano para resolver o problema (e isto é relativamente preocupante).
Não há nenhum grau de subjetividade quando fala da sua história.
É inconsciente – quando ela fala dos tempos livres ou é com o pai ou com a mãe. Também
não fala de rapazes (a psicóloga também não perguntou). O professor ficou a pensar neste
tópico. Durante a entrevista talvez não tenha havido um momento que se tenha
confrontado/criado uma circunstância tal em que esta rapariga conseguisse pensar o que se esta
a passar com ela. Foi mais no sentido de recolher infirmação. E por isto é que a rapariga sentiu
que não queria voltar à consulta.
No caso de adolescentes que não conseguem pensar, não é atrativo dizer: “talvez devesse
voltar para pensarmos um pouco mais sobre isto” (esta intervenção é melhor para pessoas que
realmente gostam de pensar). Tem de haver um plano. Tem de se devolver alguma coisa. Talvez
dizer: “Mas então o que se passa com as notas? Diz-me que estuda tanto…” → devemos ter

103
uma atitude mais concreta e mais ativa (desviamos um pouco da não diretividade). Se isto não
nos desse material, pelo menos temos este plano (porque é que ela não tem os resultados que
não são esperados).
Ela está deprimida, e há aspetos importantes que tem haver com a relação com os pais e o
lugar que tem na família que faz com a mãe. E ao mesmo tempo uma ausência de lugar de filha
que tem no lugar do pai. E é esquisito ela falar de bebés de 6 anos e depois ter de mudar fraldas.

Condução da entrevista: Para além da questão da religião (que surgiu “do nada”), algumas
perguntas foram muito abstratas (fala-me um pouco de si, dos seus pais, etc.) e quanto a miúda
fala da NASA e do pedido dos pais, a psicóloga diz: “compreendo a preocupação da sua mãe”
→ isto pode ser mal interpretado. Pode dar a sensação de que a psicóloga está a olha para ela
através dos olhos da mãe. Mais vale dizer: “está a dizer-me que a sua mãe esta preocupada”.
Sobretudo num adolescente que não está em aliança connosco.

Em relação aos adolescentes: É preciso ter algum jogo de cintura face ao material concreto.
Não há forma de dizer isto sem ser concreto. Muitas vezes são muito defensivos. Precisam de
nos ver como um adulto, mas não um adulto como os outros (para puderem falar de coisas de
adultos, não com “os adultos propriamente ditos”, mas connosco). Isto tudo depende também
das idades. Na nossa idade, no início o mais difícil vai ser criar uma distância, mas depois vai
sendo o contrário.
O adolescente vai fazer uma transferência, onde vê a psicológica como conotada aos pais,
no sentido em que a mesma pessoa não compreende nada. Mas estabelecida a relação
terapêutica, não há grande preocupações.
Temos de ter paciência porque o seu material tem muita concretude (se estamos ali a
falar da prancha, é da prancha, e da prancha de surf). E estamos ali à volta daquilo durante muito
tempo, e é importante nós conseguirmos suportar isso. É muito comum os adolescentes
manterem-se neste regime. Depois pode haver um momento da conversa em que se passa para
a competição (o outro que fez uma onda maior que eu, no surf). Aparece qualquer coisa e há
possibilidade para se caminhar para algo com um conteúdo mais consciente. Também “há
outra solução”, que seria reconhecer o que o adolescente nos estava a dizer (continuando com
o pensamento do surf: “já percebi que isto é mesmo importante para si”, “quando é que começou
este interesse”, etc.)

104
Em relação aos pacientes mais velhos, quando os mesmos acham que somos muitos novos
para saber o que estamos a fazer, isto depois depende muito da nossa atitude e do papel que
desempenhamos. Depois as pessoas já não nos vêm bem “como nós somos”, mas sim como
terapeutas.

9ª Aula Teórica (14/05/2021)

PSICOTERAPIA DE APOIO (2)


→ ATITUDE DO TERAPEUTA
Aqui não há um quadro teórico específico. Esta psicoterapia apoia-se sobretudo em técnicas
que são transversais e tem uma perspetiva assim mais concreta: as técnicas que vão ser usadas
dependem um pouco da formação do terapeuta, e esse sim tem uma orientação, e depende
também das circunstâncias especificas em que a terapia vai ser aplicada.
O setting é muito variado. Não se aplica exclusivamente a um consultório convencional
com duas pessoas sentadas a falarem uma com a outra (em poltronas), mas pode decorrer numa
instituição pública, numa enfermaria ou num gabinete privado do psicólogo. Em relação à
enfermaria, vemos as pessoas onde estão, onde o doente está na cama e nós puxamos uma
cadeira (ou ficamos em pé, dependendo das condições) e fazemos o nosso trabalho naquelas
circunstâncias. Quando as condições são pouco adequadas temos de as adequar ao máximo. Se
tivermos numa enfermeira convém fechar as cortinas para criar um ambiente mais propício à
comunicação com o doente. Portanto, a psicoterapia de apoio não depende de um quadro teórico
específico, depende do quadro do terapeuta e das características do paciente.
Contudo há um conjunto de atitudes e técnicas que são mais ou menos universais.
Uma das questões fundamentais é que há uma grande influência que o psicólogo exerce
sobre paciente. É mais possível isto (influenciar numa psicoterapia de apoio) do que num outro
modelo psicoterapêutico. Há muita margem para influenciar a atitude do outro, por isso a
atitude ética do psicólogo tem de ser muito rigorosa (o que estamos a sentir, porque é que
estamos a fazer aquilo, etc.), porque senão, é muito fácil cairmos numa espécie de manipulação
que nada tem haver com o interesse do paciente, mas que seja de projeções nossas e de coisas
que “pomos ali”.
Aqui, o psicólogo tem mais influência no sentido em que ele sugere, ele aconselha, etc.,
talvez porque não existe uma formação especifica. Temos de ter em atenção ao que são os
nossos quadros de valores. Não nos podemos orientar através dos valores que são comummente

105
aceites pela sociedade. Tem de haver margem para o paciente ser ele próprio. Não podemos
impor o nosso quadro de valor quando estamos a dar uma solução.
→ Exemplo: o professor teve uma supervisanda que trabalhava nos serviços de
aconselhamento de pré-interrupção da gravidez – existindo um espaço onde as pessoas pensam
se querem ir para a frente ou não com o aborto. E essa tal senhora tinha uma influência clara
para as mulheres não interromperem a gravidez, pois os seus valores eram pró-vida.
Temos de estar treinados para não emitir juízos de valor e não transparecer os nossos
ideais, numa atitude de aceitação da diferença e respeito pelo outro, sem racionalizações
próprias. Se temos convicções muito fortes e as passamos aos pacientes estamos desde logo a
deixar claro a nossa posição relativamente a um assunto e isso será pôr a relação em risco.
A atitude do psicólogo é um aspeto importante para qualquer modelo psicoterapêutico,
quer seja um modelo de setting, quer seja um modelo de psicoterapia de apoio, e remonta à
forma genérica de estar e de conduzir as sessões, bem como o ambiente, e.g. através de uma
atitude cria-se um determinado tipo de ambiente na relação terapêutica.
A atitude será fortemente determinada pelo quadro teórico de referência de cada um de nós,
no entanto, independentemente do quadro teórico, há que saber ter uma atitude genérica de
neutralidade e abstinência. O psicólogo tem sempre um quadro teórico: não conseguimos
pensar sobre os pacientes sem um quadro teórico, a escuta só faz sentido assim, pelo que este
não é dispensável. Assim, ao contrário dos outros modelos de psicoterapia de setting que são
enformados num quadro teórico, quer na compreensão, quer nas técnicas de intervenção, na
psicoterapia de apoio, a compreensão do paciente depende do quadro teórico do entrevistador,
mas as técnicas vão para fora do âmbito das técnicas habituais daquele psicoterapeuta. Não
existe bem uma psicoterapia psicanalítica, nem comportamental, etc., há a uma psicoterapia de
apoio, ponto. A leitura depende da leitura que o técnico faz, em que as intervenções são
preferencialmente de acordo com o seu quadro teórico, mas as técnicas que utiliza às vezes são
muto diferentes – e por vezes opostas – àquelas que aplica no modelo de setting em que está
formado. Assim sendo, o psicólogo parte de uma aceitação incondicional do cliente, bem
como da sua independência (particularmente importante na psicoterapia de apoio), o que se vê
transversal a qualquer modelo psicoterapêutico. No fundo, vamos promover uma ligação entre
nós, o cliente e o mundo, de forma a ajudá-lo a aceitar as mudanças que possam vir a fazer parte
da sua vida, tanto em si como no ambiente.
A atitude técnica do psicólogo numa psicoterapia de apoio não é só definida pelo quadro
teórico como também difere consoante o paciente (e.g. haverá uma grande adaptação da atitude
do psicólogo ao paciente), através de uma atitude mais ativa por parte do psicólogo. Se, por

106
exemplo, temos um psicólogo que funcione num modelo mais psicanalítico, que como
conhecemos não tem uma postura muito ativa no sentido literal da expressão, no modelo de
apoio ele terá de se apresentar sempre muito mais ativo independentemente disso.
Por um lado, há uma certa Diretividade, que tem a ver com a necessidade de conter a
nossa intervenção dentro da realidade e dentro dos recursos reais do paciente. Em certos
casos da prática, sobretudo quando estamos a trabalhar com doentes muito frágeis, crianças ou
idosos, pode justificar-se uma mediação entre o paciente e outros. Por exemplo com crianças
ou com idosos pode justificar-se que tenhamos uma interação entre os nossos pacientes e os
familiares/instituições. Na clínica infantil naturalmente fazemos uma mediação entre o paciente
e a família, como também podemos fazer com a escola, no caso dos idosos poderemos ter
interação tanto com o lar como com as suas famílias. Assim, na psicoterapia de apoio é possível
haver essas intervenções um pouco mais fora do setting.
Também é importante uma atitude de Securização (desdramatização). A psicoterapia de
apoio não é um exemplo de psicoterapia que cause ansiedade ou que desorganize, enfim, não é
muito desafiante (como há outras noutros moldes que o são). Portanto, aposta mais numa atitude
de securização mais ligada ao rolling (papel) do psicólogo, dando mais apoio e suporte,
transmitindo mais segurança.
Uma outra característica da atitude do psicólogo numa psicoterapia de apoio é a Sugestão,
a qual tem um duplo sentido: sugerir (direto) e sugestionar (indireto). Sugerir é mais no sentido
de sugerir algo diretamente – “Porque é que você não experimenta fazer isso desta forma?”,
enquanto sugestionar é no sentido em que numa psicoterapia de apoio, e fazendo uso da
assimetria que existe entre psicólogo e paciente, será influenciar o paciente, induzindo- o a uma
ação. Se pensarmos nisto em termos psicodinâmicos seria fazer o uso do movimento
transferencial do paciente. No fundo, como as pessoas nos olham como modelos nós temos
uma grande influência e, assim, sob influência, podemos mudar um pouco a forma como as
pessoas veem o mundo.
Depois também há uma Atitude Persuasiva, complementar à sugestão, onde o paciente é
conduzido num determinado caminho, a uma dada decisão (digamos que será mais na lógica de
convencer). Como tal, isto obriga o terapeuta a ponderar muito bem e a avaliar muito
objetivamente a situação que o paciente traz. Por exemplo podemos ter que ter atitudes
persuasivas em relação aos pacientes no que diz respeito ao aderir a uma medicação, ao
interromper um consumo de uma substância, a interromper uma automedicação, a mudar o estilo
de vida, etc. Esta atitude está muito mais presente nestes moldes do que em modelos menos
diretivos de psicoterapia, sejam eles humanistas ou psicodinâmicos.

107
→ ASPETOS DA TÉCNICA
Compreensão da técnica à luz da teoria psicodinâmica.
Ainda que na psicoterapia de apoio se façam coisas muito diferentes, estamos sempre a ser
influenciados pelo nosso quadro teórico de referência. Se o quadro teórico for psicodinâmico
vamos permitir que o paciente mantenha o recalcamento, ou seja, nós só vamos trabalhar aquilo
que é consciente ou pré-consciente, porque neste contexto se vamos mais longe do que trabalhar
apenas isto, iremos aumentar a ansiedade e a sintomatologia, uma vez que a estrutura do modelo
terapêutico não tem condições para aprofundar. Portanto, ainda que o psicólogo descubra que o
que está a perturbar o paciente seja um conflito inconsciente, não o vai trazer à tona, mas sim
ajudar na manutenção das defesas e resistências, percebendo quais são as mais eficazes e
reforçá-las, mantendo a homeostase do sistema psíquico, reduzindo a ansiedade e
sintomatologia. No fundo o contrário do que faríamos numa psicoterapia analítica ou numa
análise: evitar que o conflito emerja à consciência, sobretudo se ele está inconsciente (se
estiver a um nível pré-consciente, e.g. o recalcamento já não está a funcionar, talvez possa
ser útil trazê-lo a um nível mais consciente).
No caso de termos pacientes com falhas muito grandes nos mecanismos de defesa
(psicóticos ou não, e.g. borderline ou obsessivos), damos espaço para a expressão do
pensamento perturbado, mas não exploramos o sentido latente do material. Então, se temos um
paciente muito desorganizado, com material muito desorganizado, devemos dar espaço para ele
exprimir isso sem nos pormos a explorar muito o que é que aquilo significa. Por exemplo um
paciente que primeiramente nos diz “Estive com um amigo, ele estava acompanhado de outro
amigo que olhou para mim de forma estranha, pensei se aquilo era normal ou se o tipo era gay.”
e depois nos conta que sonhou que estava com esse tal amigo e que ele lhe espetou uma faca
nas costas. Compreendendo isto à luz do contexto, será provavelmente uma fantasia
homossexual em que o amigo o penetra detrás, mas como isso seria altamente desorganizador
não o vamos dizer. Se estas coisas são ditas juntamente o paciente estará num registo mais
consciente, se diz separadas sem qualquer ligação então encontra-se a milhas de uma associação,
está num registo inconsciente.
Assim, a expressão desses afetos será por si só terapêutica e, portanto, quando o paciente
releva os conteúdos demasiado ansiogénicos, sobretudo em casos de pacientes muito frágeis,
vamos a seguir puxar para a realidade (através de mecanismos de racionalização), securizar e
tranquilizar, ao invés de explorar mais e mais. Por exemplo, no caso de um paciente exprimir o
receio que tem de ir ao consultório porque crê que exista um microfone escondido ou que o

108
telemóvel do psicólogo possa estar a gravar, este pode ser puxado para a realidade sendo
questionado “Como é que poderiam estar microfones escondidos no meu consultório se eu
próprio fechei a porta na véspera e fui a primeira pessoa a entrar aqui de manhã?” ou “Onde é
que os microfones poderiam estar?”, “Porque é que haveriam de aqui estar?” ou ainda, no limite,
pegar no telemóvel que ele tem medo que esteja a gravar a conversa e desligá-lo. Num paciente
neurótico, e numa psicoterapia mais consistente, pode haver espaço para interpretar isto, num
paciente muito frágil não será bom fazê-lo.
Posto isto, o significado dado ao material será muito mais suave e diferente do seu
verdadeiro sentido (e.g. “O João sente que está desprotegido por ter medo que as pessoas lhe
façam mal.”). No entanto, em pacientes obsessivos a racionalização por poder contribuir mais
para o aumento do sintoma, uma vez que já usam essa técnica em demasia, não vamos sublinhar
mais a sua utilização indiscriminada, mas sim tornar a utilização da racionalização algo mais
funcional, desconstruindo. Por exemplo um paciente obsessivo que está a descrever um
conjunto de pensamentos que tem para se sentir mais tranquilo e que inclui uma série de
verificações, para as quais usa uma explicação racional, como forma de fazer entender a si e a
nós que aquilo faz sentido. Na verdade, esse paciente está a fazer uma má utilização do
pensamento racional e lógico, por isso cabe-nos a nós confrontá-lo com a eficácia – “Então,
mas faz tudo isto e ainda assim chega a esta conclusão, o que é que está errado neste processo?”
– e podemos revisitar esse processo e, através do pensamento racional, perceber que existem
certos riscos que ele não corre. Ainda assim, podemos não achar útil utilizar a racionalização
com estes pacientes.
Aquilo que é pretendido é a redução do conflito consciente, em que tudo se passa ao nível
da realidade e, muitas vezes, temos de funcionar como egos auxiliares, no sentido de ajudar a
pessoa a tomar uma decisão mantendo um relacionamento positivo com o paciente e, de alguma
forma, favorecendo a identificação de um paciente em relação a nós, e.g. a identificação na
psicoterapia de apoio é algo positivo em que, mesmo os pacientes não sabendo muito a cerca de
nós, irão identificar-se com uma imagem que têm daquilo que somos e o psicólogo pode de
alguma forma aceitar/favorecer (não no sentido de fomentar). Como tal, não é um erro técnico
revelar alguns aspetos da nossa personalidade (a técnica de autorrevelação), até porque como
ele acha que somos pessoas tão espetaculares vai sentir-se forte e bem se pensar como se
fossemos nós, o que se pode revelar organizador para ele. Em termos analíticos seria reforçar
as funções do ego. No entanto, e como a psicoterapia de apoio é um instrumento tão delicado
e difícil, é preciso imenso cuidado com psicólogos narcísicos que se assumem como mentores.

109
Outra coisa que o terapeuta faz ativamente é flexibilizar um superego demasiado rígido
ou, por outro lado, funcionar como um superego auxiliar, uma figura superegoica benévola,
quando o superego do paciente é muito frágil, ajudando a impor alguns limites que o outro não
tem. Ainda, funcionar como uma figura de autoridade quando necessário, o que se revela
também um risco para psicólogos que rapidamente sob a desculpa de técnicas se transformam
numa espécie de polícia para os seus pacientes.
Também é possível reforçar as conquistas e as boas adaptações, numa atitude que não
comporta um erro numa psicoterapia de apoio, enquanto numa análise é um erro se for muito
repetida. Por exemplo seria dizer “Ótimo, já viu que conseguiu?”. Assim, esta atitude surge
com maior facilidade e frequência nestes moldes que numa psicoterapia psicodinâmica ou numa
psicanálise (não querendo com isto dizer que numa análise não se transmita reforço).
Numa psicoterapia de apoio mantemos a relação terapêutica num registo positivo e
harmonioso, uma vez que toda a relação terapêutica é puxada para a realidade consciente de
maneira que os aspetos de transferência negativa sejam diminuídos, mantendo uma
transferência positiva. O caso de uma paciente que trabalha com crianças deficientes muito
agressivas e desafiantes, que conta um episódio em que um dos cunhados entra em grande
conflito/agressão com a sogra (enfim, figura de autoridade). No sentido latente do material o
que estava presente seria uma transferência negativa, mas devido à fragilidade da paciente não
era indicado tecnicamente dizer “O que é que faria se fosse agredida por uma das suas crianças?”
ou “É curioso, está a falar de como os seus pacientes a agridem e de como tem de reagir e conter
a sua agressividade em relação às crianças, também podia estar a penar sobre a sua possibilidade
de me agredir a mim, como será que eu ia agir consigo?”. Assim, a psicóloga responsável por
esta paciente manteve o discurso ao nível da realidade – como o ser difícil trabalhar com
crianças deficientes ou que estratégias utilizar para se defender de tais agressões – enfim, não
foi ao material latente.
Os aspetos positivos se for necessário devemos sublinhar e os negativos não, sobretudo se
forem aspetos negativos e destrutivos que tenham a ver com aspetos negativos da relação
terapêutica evita-se fazer, porque nós procuramos ter a relação sempre num registo favorável e
positivo. No entanto há exceções porque as psicoterapias, mesmo as psicoterapias de apoio,
podem entrar em situações de impasse em que a transferência passa a ser uma resistência grande
ao processo e o paciente fica “encalhado” e é mesmo preciso desbloquear, interpretando a
transferências.
A relação terapêutica é muito específica na psicoterapia de apoio e devido ao nosso ritmo
de atividade temos uma enorme influência sobre o paciente, por isso há que ter em atenção o

110
cultivo de uma atitude ética rigorosa do psicólogo e um escrutínio permanente da contra atitude
(para não cairmos numa posição de doutrinação ou de manipulação do paciente).

→ TÉCNICAS
Ferramentas da técnica de psicoterapia de apoio, apoiadas nas técnicas de entrevista.
Todas as técnicas de entrevista são elas próprias técnicas da psicoterapia, contudo algumas
técnicas que aparecem na psicoterapia de apoio não aparecem tanto na entrevista clínica.
o DIRETIVIDADE
Uma atitude muito comum. Não é não diretiva onde deixamos o paciente avance há medida
do que vai acontecendo dentro dele. Tem um objetivo concreto e vamos intervir em coisas
concretas. Por isso todo o processo é mobilizado em orientar os recursos do paciente nesse
sentido.
o SECURIZAÇÃO
O terapeuta tem quase uma atitude de securização, que tem haver com uma atitude de
tranquilização do paciente. Vamos tranquilizar o paciente e vamos reforçar a sua confiança em
si próprio, a sua autoestima, e isto faz-se muito através da expressão da concordância (com uma
ideia do paciente, por exemplo), com intervenções que podem reforçar o elogio, o reforço do
que o paciente está a fazer, etc.
Transmitir segurança. O terapeuta tranquiliza o paciente e reforça (positivamente) a
autoestima. Por exemplo mostrando concordância explícita: a pessoa está com uma dúvida e
mostramos a nossa concordância em relação a um ponto de vista. No entanto, ter cuidado com
o reforçar, concordar e elogiar para não banalizarmos. Se banalizamos ou forçarmos uma
técnica, seja ela qual for, ela perde o efeito e caímos num erro técnico
Quando falamos em reforçar a autoestima ou até mesmo elogiar, estamos a um milímetro
de cairmos numa coisa sedutora (não no sentido lato), por exemplo, e artificial e falsa. Por
isso temos de gerir isto tudo. Podemos elogiar, mas não vamos mentir. Por ser tudo mais
próximo de uma relação não clínica, precisamos de ter muito mais cuidado. Se há um paciente
que aparece com um ar sempre deprimido e mal-arranjado, não podemos dizer que ele está com
um ótimo ar, porque não vamos mentir, e o efeito terapêutico vai ser muito inconsistente.
A fase inicial de todas as psicoterapias é uma fase crucial – estabelecimento da relação e
construção da aliança terapêutica – e nos primeiros temos é nisso que estamos focados. E
estamos muito na observação do paciente, que depois nos vai ajudar a desenhar o processo. Por
isso é que temos as 2/3 entrevistas primeiros, porque nos vão ajudar em como nos relacionarmos

111
com o paciente. A atitude do psicólogo tem de ser sempre na expectativa do que temos ali à
frente. E por isso é que temos esta atitude de diretividade e de uma certa Securização.
o CATARSE
Alívio que vem através de algo que a pessoa pode não saber que precisa de exprimir. Há
um material emocional complexo doloroso, e na catarse há uma libertação desse material
emocional, que se faz de uma forma intensa, porque há sempre em conflito associado ao material
(de qualquer natureza) e há essa libertação. Há uma espécie de libertação de “energia” e uma
sensação de alívio.
Está presente em qualquer psicoterapia e é fundamental, justamente por causa do alívio que
traz ao paciente. É como se qualquer coisa tóxica fosse libertada. O problema desta é a sua
banalização. É muito importante quando se provoca, mas se se banaliza a psicoterapia fica
transformada numa espécie de caixote do lixo, onde não há elaboração nenhuma (do material)
(por causa do seu abuso). Não há interesse que as pessoas vão para lá chorar à toa, porque assim
não há transformação. É preciso que haja espaço para a catarse, mas que ao mesmo tempo
também haja espaço para a transformação. Por isso o terapeuta tem de fazer um esforço para
elaborar o material catártico, tem de pensar um pouco sobre o que aconteceu.
Por exemplo um paciente a exprimir-se relativamente a um assunto e de repente entra numa
área conflitual seguida de momentos muito intensos que podem ser acompanhados por choro
ou gritos (ainda que haja quem tenha momento catárticos quase em silêncio). É como se fosse
uma panela de pressão em que repente se tira a válvula de segurança, depois faz aquele ruído
enorme em que a pressão está a sair e subitamente aquilo acaba, e.g. a pessoa livra-se do
conteúdo. Os momentos de catarse são emocionalmente muito intensos e, por isso, importantes
nesta e em outras psicoterapias, no entanto não podemos estar sempre a provocar catarses. Os
riscos prendem-se mais uma vez com o exagero, uma vez que se incitarmos a catarse muitas
vezes transformamos a psicoterapia numa espécie de latrina, onde a pessoa vai despejar os
conteúdos maus (vómito e fezes simbólicas). Se a psicoterapia for apenas feita de catarses as
pessoas até podem sair de lá muito aliviadas, mas não há elaboração de material, apenas
libertação do mesmo. Assim, a catarse deve servir para criarmos um espaço a partir do qual
podemos aprofundar a terapia e elaborar o material que emerge a partir desses momentos
catárticos.
Relembrar que para o seu uso devemos ter em conta o timing da sessão, e.g. se estamos no
final da sessão não devemos provocar uma catarse se depois não a podemos elaborar. Além
disso também a estrutura de personalidade interessa, pois se temos um paciente psicótico ou um
paciente muito frágil não lhe iremos promover um momento que não tem capacidade para

112
aguentar (dar um espaço controlado para a manifestação dos conteúdos ansiogénicos e de
sofrimento, mas não mais que um tanto).
No fundo, estas técnicas (ou dizendo melhor: ferramentas) da psicoterapia de apoio não
são concretas, e.g. para serem operacionalizadas teremos de nos fazer valer das técnicas de
entrevistas. Por exemplo temos perante nós um paciente que sofreu muito ao longo da vida, mas
que nunca houve espaço para falar sobre isso porque na família se cultiva o tabu sobre as coisas
difíceis. Através das técnicas de entrevista podemos dizer, por exemplo “A dor que sentiu parece
ter sido insuportável” (clarificação) e isso pode levar a um momento catártico em que a pessoa
começa a abordar um tema. Até pode hesitar e ficar na fronteira entre a libertação de energia
psíquica acumulada (momento catártico) e o recuar, mas se quisermos mesmo provocar catarse
iremos fazer uso de outras técnicas para proporcionar esse momento.
o SUGESTÃO
Tem haver com induzir uma ideia ou modificar a vontade do paciente. Temos dois
aspetos, que são sugerir (que é concreto. Damos uma alternativa concreta. Propormos qualquer
coisa) e sugestionar (tem mais a ver com uma influência sobre, que não é óbvia. Pode
sugestionar um paciente a partir da posição de assimetria que há, o que coloca o terapeuta numa
posição para sugestionar – forma indireta condicionar a ação do paciente sem ser explícito, sem
dizer “faça isto o aquilo”. É uma forma de influenciar muito abstrata do que uma sugestão
concreta). Sugestionar tem então, mais a ver com, quando sugerimos apontamos uma coisa
direta para o paciente decidir → conduzir o paciente a escolher a opção (quase como uma coisa
mais de manipulação). Onde temos um sítio onde queremos que o paciente chegue e vamos
fazê-lo chegar lá aos poucos, fazemos um percurso onde vamos conduzir o paciente a tomar
uma decisão, mas que é uma decisão que nós já tomámos previamente. Fazemos meia dúzia de
perguntas que vão conduzindo a pessoa aquele resultado.
Quando é que usamos a sugestão? Quando os pacientes não vislumbraram alternativas
para o que está a acontecer, e aqui nós avaliamos o real, a realidade, e propormos alternativas.
É sempre sensato ao invés de apresentar uma solução concreta, tentar debater com a pessoa
quais serão as possibilidades. Ao invés de transmitir as coisas diretamente, tentar pensar com
ele (o que é que poderia fazer, e as vantagens disto e daquilo), e ao invés de fazer uma simples
sugestão que a pessoa cumpre. desta maneira, é o paciente que está a escolher.
Quais os perigos de a usamos em demasia? Pode fomentar a dependência, porque naquele
espaço com aquela pessoa, dali vai ser com uma solução que vai executar. Também temos outros
ricos, onde a sugestão pode ser confundida com uma instrução – e.g. a pessoa coibir-se de fazer
algo com o pretexto de que foi uma instrução do psicólogo – e fomentar a passividade do

113
paciente – às vezes uma sugestão desbloqueia, mas se for uma técnica banalizada o paciente
pode ficar cada vez mais passivo à espera das nossas sugestões e há muitas situações para as
quais não temos qualquer sugestão.

Nota de dúvidas: O psicólogo é pressionado por muitos fatores da realidade, o que faz com
ele haja de forma mais concreta. Este ponto exato, entre o distanciamento necessário (perante o
paciente) e o envolvimento na ação é que é muito crucial.
Responder a questões pode abrir portas parta transformar a relação numa outra coisa.

o ACONSELHAMENTO
Uma coisa muito próxima das sugestões que é mais abstrata. Tem haver com sugestões e
recomendações do psicólogo, que vão acontecendo, e que são dirigidas a aspetos saudáveis,
a reforçar os mesmos. São recursos que o paciente tem (que eventualmente não os está a
utilizar) e que podem ser usados pelo paciente e que o psicólogo vai, no fundo, recomendado,
de alguma forma, que ele os explore.
→ exemplo: se temos um miúdo indeciso com o curso para onde quer ir, em vez de dizer
vá para Direito, pode-se falar um pouco em que que é que o paciente é bom, o que é que gosta
de fazer, etc. – vamos pegar nos recursos que o paciente tem para ele depois chegar por ele.
o CONTROLO ATIVO
Acontece quando nós nos assumimos como uma espécie de (ego) auxiliar. Aqui é levado
ao extremo o que o prof disse antes. Aqui podemos decidir executar coisas, coisas que o paciente
não consegue fazer – falar com técnicos, falar com pessoas da família, decidir um
internamento, etc. Aqui estamos no limite dos limites. O psicólogo tem de mobilizar ações (ex.
quando um paciente sente que tem de ser internado, mas não tem a certeza. Nós aqui intervimos.
Este tipo de ação tem de ser excecional.
o TÉCNICAS DE EDUCAÇÃO
Tem haver com uma atitude mais informativa. Ter uma ação pedagógica, por exemplo,
ensinar uma técnica de relaxamento, que se pode fazer nesta psicoterapia. Podemos dar
informação sobre planeamento familiar, desde que, atenção, não exceda o nosso grau de
especialidade, ou seja, vamos fornecer informações mais genéricas. Podemos dar informação
sobre a evolução previsível de uma doença, dentro daquilo que nos sabemos e é suposto
sabermos.

114
Por exemplo se temos um paciente diabético vamos ter para com ele uma atitude
pedagógica para lhe explicar o que é a doença, como se controla, o que é importante que fala,
quais são os limites, quais os sinais a que deve estar atenta, etc. Neste tópico também cabem as
técnicas de relaxamento ensinadas a um paciente ansioso.
o CLARIFICAÇÃO
É muito importante, pois permite ao paciente perceber melhor a sua posição, os seus
comportamentos, os seus afetos, a sua realidade que o rodeia, e vai aumentar a capacidade
cognitiva do mesmo, etc. – o paciente aumenta a sua compreensão cognitiva e controla mais a
realidade e a ansiedade.
o CONFRONTAÇÃO
(provocação) é uma técnica que aparece na psicoterapia de apoio às vezes, mas que é uma
técnica que na sequência da técnica do humor pode roçar a ironia, portanto o potencial agressivo
da provocação aumenta. No fundo, a provocação é um incitamento ao paciente para ele
enfrentar uma questão a que ele resiste a pensar.
o RACIONALIZAÇÃO
É uma técnica importante e dá um sentido coerente e racional a um
pensamento/comportamento. Podemos, quando há muito material desorganizado, recorrer
provisoriamente à racionalização para transformar as coisas, isto é, organizar.
o INFORMAÇÃO À MEDIDA OU ESCLARECIMENTO
É também uma possibilidade da psicoterapia de apoio, onde damos informação útil ao
paciente. Não é o mesmo que dar lições, não é o mesmo que a técnica da intelectualização, nem
é uma abstração que neutraliza as emoções, é apenas dar informação pertinente. Por exemplo
no caso de um adolescente, sabemos que é normal ele estar dececionado com os pais, porque
eles não são aquilo que ele imaginava que eles eram, mas não vamos dar uma aula sobre a
necessidade do paciente se destacar dos pais e desidealizar a figura paterna para se identificar
com o grupo de pares e ir partir montras, porque isso é desafiar a autoridade que é representada
pelo pai. Assim, podemos é dizer-lhe “É normal que agora esteja a crescer e fique muito zangado
com os seus pais porque acha que já não é pequeno” e aí estamos a dar informação, não
estamos a intelectualizar a coisa: é o adolescente, o pai dele e a montra que ele partiu, não são
os adolescentes que se têm de rebelar contra as figuras tutoriais para criar uma identidade
própria.

115
→ INDICAÇÕES
o Patologia psiquiátrica grave;
o Pessoas bem-adaptadas, mas em crise;
o Pessoas frágeis que não suportam outro tipo de intervenção;
o Pessoa muito imaturas, com incapacidade para fazer uma coisa mais complexa.

→ CONTRAINDICAÇÕES (LIMITES)
o Às vezes os border graves tentam alunar a diferença entre o paciente e o terapeuta,
e ao anular esta diferença nós não entendemos que isto aconteceu. Deixamos de ser
capazes de ser terapeutas dessas pessoas (o que nos leva para o ponto seguinte);
o Pessoa são incapazes de estabelecer a aliança terapêutica ou as que não
conseguem ter uma relação honesta connosco.;
o Pessoas que não têm motivação para psicoterapia e temos de compreender que
não podemos tratar toda a gente e, mesmo numa psicoterapia de apoio, é preciso
estar motivado. No entanto, não queremos com isto dizer que não apareçam
desmotivadas e tenhamos de trabalhar sobre isso nas primeiras entrevistas, só que
se isso não surgir nada se pode fazer.
o Grupo de pacientes muito difíceis, que aderem superficialmente a um processo
terapêutico, mas depois não estão ali a fazer nada → que são os pacientes que tem
ganhos secundários com a doença (podem ganhar exteriormente, ou então só
internamente. Estão em sofrimento, mas ao mesmo tempo estão a ganhar. Por
exemplo: uma pessoa que toda a vida foi vítima. Esta sensação dá-lhe um estatuto
de herói (a mãe e a tia: “i coitado do homem, como é que ele conseguiu passar por
isto, ainda por cima os filhos não lhe ligam nenhuma, etc.). São pessoas difíceis do
ponto de vista da contratransferência. Parece que estamos a fazer um percurso com
esta pessoa, mas depois volta tudo atrás, pois elas conseguem ir puxar o que se
passou, ao de cima; até podemos falar com elas, mas não vale a pena ter muita
esperança em relação à mudança; o que estas pessoas fazem é pré-consciente,
porque há a negação, ou seja, não é uma manipulação e não é totalmente
inconsciente.
o Finalmente, pessoas que têm indicação para a psicoterapia de setting não têm
indicação para psicoterapia de apoio.

116
10ª Aula Prática (26/05/2021)

ROLE PLAY
o Margarida – 45 anos que veio à consulta porque as amigas dela disseram que era
uma boa ideia ela ir;
o Separou-se há cerca de 1 ano e meio, mas só há uns meses atras é que o ex marido
saiu de casa;
o Ele é que queria separar-se. Ele é que tomou a decisão, mas depois continuou como
se nada fosse (a viver lá em casa). Toda a gente continuou como se eles
continuassem juntos;
o Conheceu o marido no secundário. Vivem numa aldeia pequena onde toda a gente
se conhece. Têm 2 filhos – uma menina com 14 e um menino com 18. Aos fins de
semana é lhe estranho porque eles vão ter com o pai. Ele sente-se vazia;
o Quando eles estão em casa ela sente-se melhor. Está “mais ocupada”;
o Tem um irmão mais velho, com quem fala bastante. Pais trabalhadores, sem
dificuldades. Adora cozinhar para eles e fazer almoços;
o Também era muito amiga dos sogros, que acham que isto tudo tinha sido um erro, e
ela dizia que os sogros achavam que eles ainda iam ficar juntos, porque era um erro;
o Lida com ele todos os dias – têm um negócio juntos;
o O ambiente de trabalho não é nada bom, porque ele é muito infantil e irresponsável
– têm uma loja de fotografias. Ele é fotografo e ela é administrativa;
o Nos dias de trabalho, ele entra e sai quando lhe apetece, etc.
o Têm lá uma empregada;
o Ela vê o marido como se fosse o 3º filho. E mesmo separados, ele continua a sê-lo;
o Foi um alívio ele ter saído de casa, porque ninguém sabia qual era o estado das
coisas. A própria cliente não sabia bem o que ele queria;
o Ele tinha uma namorada, de 20 e alguns anos, com quem tinha tido um caso, mas
esta rapariga também tinha marido, e ela não o quis deixar quando o senhor em
questão deixou a Margarida. Então ele ficou lá em casa, a viver num quarto diferente
como se as coisas fossem normais (sendo que a Margarida refere “onde é que isso
já se viu. Isto não é normal”);
o Foi ela que suspeitou da traição e depois o ex. marido contou-lhe;

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Discussão do Role Play:
o Ideia de um aluno: Pôr a pessoa a falar como se fosse o seu marido. O prof. acha que é
um pouco infantil. Mas sugere: imaginar o que o outro sente é mais que aceitável.
Relativamente a esta questão (“fale como se fosse o seu marido”) é diferente fazer isto
com crianças/adolescente, onde temos uma margem para dramatizar, com a adultos é
um pouco mais less is more;
o A Margarida (paciente) não estava a reagir a questões diretas. Há muitas questões por
responder e uma falta de entusiamos na relação com o terapeuta. O prof. tem dúvidas
que ela seja mais expressiva;
o Onde estão os afetos desta senhora? Não se percebe se ela gostava ou não do marido.
E de facto ela dizer que não está triste, mas chateada é algo que demostra esta falta de
afetos;
o O prof. sentiu que era tudo muito vago, que era impossível chegar a algum lado. Que
teve muito dificuldade em perceber o que se passa;
o A senhora diz que o marido é imaturo, mas ela também não é muito madura. À uma
diferença no que o que ela diz versus o que ela sente;
o O professor disse para ter em conta o facto de ela ter feito uma tatuagem aos 45 anos,
mas temos de ter sempre em conta o perfil de cada individuo particular;
o Depois dos 40, à uma noção de que a juventude se perde, e que se entra noutra fase da
vida. Não é um período fácil da vida, porque há a sensação de que as coisas começam
a fechar;
o O sentimento do vazio. Há qualquer coisa muito profunda e estrutural nesta pessoa.
Há um vazio, uma ausência. As coisas que ela vai dizendo e fazendo, parece que não
assentam em nada. Faz-nos pensar na rede dela, a quem ela está ligada. E com esta
pessoa é muito complicado fazer ligações. Não é uma paciente nada fácil;
o Parece que está desamparada, até mesmo de si própria;
o Ela não é o eixo de si mesma. Parece que os outros é que são agentes da vida dela.
Parece que não tem responsabilidade nem possibilidade de escolher e de se afirmar.
o Não se vê uma verdadeira ligação dela com alguém. Por exemplo, os filhos, não se
vêm. O que remete para um lugar de solidão e de desamparo. Ele fala dos filhos e de
outras coisas que lhe estão a preencher. São coisas que ela cuida. E depois no fim de
semana quando eles não estão, ele sente o tal vazio. Aqui parece de facto que não há
nada para ela (para além do sentimento normal de quem está longe dos filhos);
o Não parece haver um projeto alternativo;

118
o Quando ela diz que se foi desleixando, faz pensar que, mais uma vez, ela não é o eixo
da sua vida. Até parece haver um desinvestimento. Não há desejo, troca, suporto, etc.;
o Parece que ela também não quer nada de específico da psicóloga. E depois parece que
há uma desesperança que se instala na psicóloga, porque não há nada para pegar;
o Não é fácil ligar as coisas deste caso. “Mas afinal qual é a queixa desta mulher?”
pergunta o professor;
o No fim é muito curioso porque ela diz que se alivou um pouco, o que é comum. E
depois diz que pretende que a psicóloga a ponha um pouco mais para cima – mas isto
é muito subtil. Aqui era importante o psicólogo clarificar que a pode ajudar a encontrar
formas de a pôr mais para cima.

Em relação à psicóloga: Houve duas perguntas muito cedo: num primeiro momento da
sessão devemos dar mais espaço a pessoa para falar da queixa, em vez de falar logo da relação;
e depois foi a pergunta de “como é que era em criança” – dependendo do paciente até se pode
levantar isto na segunda sessão.

10ª Aula Teórica (28/05/2021)

DESENVOLVIMENTO TERAPÊUTICO DA PSIC. DE APOIO


→ ESTABELECIMETO DA RELAÇÃO (e a determinação da tarefa terapêutica)
Vimos muitos aspetos importantes do início da psicoterapia de apoio nos roles plays.
A primeira sessão é fundamental. E depois temos aquela fase das 2, 3 primeiras sessões em
que a relação se estabelece ou não. A maior parte desistência das psicoterapias acontece nesta
fase. E de seguida vem o contrato terapêutico.
É muito importante, nesta altura, o estabelecimento da relação. A pessoa que vai ao nosso
encontro tem que se deparar com alguém que a consegue escutar. Perceber que às vezes temos
de transformar o pedido que o paciente faz e encontrar com ele um objetivo terapêutico. Isto
tem de ser uma coisa precoce, se não acontecer, a relação pode nem sequer acontecer.
É importante, também, termos noção de que há técnicas que podem não ser boas para certas
pessoas, que podem ser sentidas com julgamentos. E há pessoas não reagem bem a isto no início.
Por isso, temos de clarificar muito bem o pedido e a tarefa terapêutica, tendo noção de que
não podemos usar certas técnicas com certas pessoas (já na primeira sessão, temos de perceber

119
um pouco sobre o funcionamento do paciente, para adequarmos as técnicas à sua personalidade
e à sua forma de pensar). Temos de mostrar uma capacidade de escuta que vai para além do
ouvir o paciente.
Na avaliação dos objetivos terapêuticos, temos de avaliar as expectativas do paciente,
que por vezes podem ser irrealistas, então temos de fazer uma minimização destas e criar um
foco terapêutico. Após esta fase inicial, há um outro momento fundamental, que é o
estabelecimento do contrato terapêutico.
No início do processo terapêutico temos de estabelecer a relação onde tudo acontece e
trabalhar os objetivos da terapia – uma psicoterapia de apoio tem de ter objetivos, não há
maneira de se fazer a intervenção sem objetivos. Obviamente que tem de haver uma enorme
disponibilidade nossa, não só em aspetos externos como o tempo, um espaço definido, a
ausência de interferência, mas também uma disponibilidade interna, onde se insere a tal
neutralidade, capacidade de escuta, disponibilidade para ouvir e para esclarecer dúvidas, para
entender, que é que são os aspetos fulcrais do paciente e que nesta fase inicial são fundamentais.
Para atingir um objetivo numa psicoterapia o básico é estabelecer uma aliança terapêutica
com a parte saudável do paciente para lutar contra a parte dos aspetos doentios do paciente.
Quando estabelecemos os objetivos temos de perceber, mais uma vez, que as expetativas dos
pacientes muitas vezes são expetativas irrealistas. Por exemplo, uma paciente hipocondríaca
que chegava com o pedido “Eu quero ser feliz”, não com o pedido “Eu quero deixar de ser
hipocondríaca”, o que para a vida pode ser um objetivo, mas para uma psicoterapia não é um
objetivo. Assim, será necessária uma cocriação do pedido, uma vez que um pedido que não é
exatamente o que o paciente traz, mas aquele que é reconstruído connosco, exequível e realista,
sendo esse o pedido de foco terapêutico, que pode ser um sintoma.
Um foco (terapêutico) concreto, seria por exemplo (aprofundando o exemplo anterior):
uma paciente diz que está muito infeliz, e que já está assim há uns meses, querendo voltar a
reaver essa felicidade. Isto não é um foco nada específico. Mas, se trabalharem os dois
(psicólogo e paciente), a senhora a certa altura pode dizer que no trabalho fica frustrada com
um chefe, etc. e inclusive tem “ataques de fúria”, realçando que quer trabalhar a sua facilidade
em ficar frustrada. Passeou-se de um objetivo nada concreto, para um muito mais focado
(tristeza → trabalhar a sua facilidade em ficar frustrada).
Estabelecida a relação e os objetivos terapêuticos, uma PA, em regra, começa quando se
faz um contrato terapêutico (depois da avaliação). Este momento estabelece, de uma forma
muito clara, um conjunto de regras, que vão estabelecer a relação daí para a afrente: quanto

120
tempo deram as sessões, se as mesmas têm uma periocidade fixa ou se vão sendo marcadas,
como é o regime de faltas, quantos dias tem de avisar para não puderem pagar uma sessão, etc.
Há quem defenda que o contrato não deve incluir muitos detalhes. O prof. acha o contrário,
que devem ter o máximo possíveis. São todos muitos importantes. Dão uma espécie de
moldura, um pouco como o setting.

→ TRANSFERÊNCIA
Ao longo do processo terapêutico (PT), o terapeuta vai adotar uma maneira de
comunicar, que deve ser coerente (que de um quadro teórico que nos guia). Ao longo do tempo
vamos adaptando a nossa atitude de acordo com a necessidade do paciente. O PT sobretudo
durante a fase inicial da carreira de um psicólogo, este é supervisionado. É uma forma de
garantir a qualidade do nosso trabalho e a progressão da capacidade técnica e pessoal do próprio
psicoterapeuta. Apesar da psicoterapia de apoio (PA) não ter um quadro teórico de referência,
nós vamos falar dos aspetos transferências, pois tem haver com resistências ao PT.
O processo de resistência, é um processo mais ou menos universal. Todos os pacientes
de alguma forma, resistem à psicoterapia. As pessoas querem mudar, mas há sempre qualquer
coisa nelas que dificultar esta processo. Os sintomas são a melhor solução para lidar com
qualquer área conflitual, e portanto, não vão deixar esta forma de lidar com os problemas
facilmente. Tanto que, aquilo que o psicólogo oferece é difícil, que é pensar. E a leitura que o
psi faz, é uma leitura que põe em causa o paciente, logo este vai resistir.
As resistências referem tudo o que no contexto terapêutico dificulta ou impede o seu
estabelecimento ou desenvolvimento. Assim, teremos de ter em atenção as resistências que
aparecem nas psicoterapias, podendo aparecer de diferentes formas, desde rejeição sistemática
das nossas intervenções das nossas intervenções e propostas, até mudanças bruscas na
direção de uma sessão (o paciente está a falar de um tema que o está a levar a qualquer sítio e
de repente desvia, o que pode ou não ser sinal de uma resistência. Depois também os atrasos
sistemáticos: o paciente que chegue sempre atrasado está num processo de resistência, na
mesma linha quem falta também o está. Da mesma forma aquele paciente que a 10/15 minutos
da sessão terminar é que nos começa a falar de algo realmente interessante e profundo, também
está num processo de resistência.
O processo transferencial acontece com todos os pacientes.
A resistência numa sessão e ao longo de um processo (terapêutico) mostra-se de muitas
maneiras: por reações diretas e mais explicitas do paciente (sobretudo se for mais border: “não

121
estou a perceber o que está a dizer”; “isso não faz sentido nenhum”, etc.; as outras manifestam
isto através de silêncios, faltas, atrasos, etc. (tem sempre um significado),
Sempre que há uma resistência, esta deve ser assinalada. Se acontecem e não se configuram
como uma resistência, mais vale deixar passar, ao contrário de uma psicanálise, por exemplo.
O mesmo se passa com a transferência. Como em todas as relações, nas PA vão manifestar-
se transferências. Nós devemos evitar que se instalem. Na PA não se interpreta, sobretudo a
transferências, a não ser que esta se instale e se transforme numa resistência ao processo. Se
instala e a terapia não progride é preciso interpretar a transferência (em casos “extremos”).
O trazer uma transferência à consciência, põe a relação muito quente, e a coisa fica um
pouco esquisita. A intimidade já é grande, mas se o paciente sente que são duas entidades
separadas, a relação em si (que é mais ou menos um território neutro), se de repente nós
mostramos que aquele território não é nada neutro, e que tem haver connosco e com a nossa
relação, aquilo torna-se assustador. Estas pessoas vêm ter connosco para resolver os problemas
delas e não os repetir,
Para muitos pacientes de PA, a vontade e a capacidade para suportar esta alta temperatura
emocional, pode ser diminuta. E isto depois pode escalar para uma coisa fora de controlo. Por
exemplo: Assinalar uma transferência erótica, pode transformarmo-nos numa pessoa que esta a
fazer um assédio.
As transferências – se nós acreditamos que há transferência – na psicoterapia de apoio
devem ser transferências positivas, evitando desenvolver uma transferência negativa. Quando
a transferência se transforma numa resistência aí é imprescindível falar sobre ela e há algumas
situações clichê da transferência ser uma resistência.
É de salientar que, há alguns tipos de transferência mais habituais que podem transformar-
se em resistências e talvez devemos estar mais atentos a estes:
o PSICÓLOGO VISTO COMO UMA FIGURA DE AUTORIDADE
É fácil que esta ideia de autoridade aconteça. E isto pode surgir em situações em que as
pessoas colocam perguntas sobre o que é que tem de fazer. E põe isto em cima de nós é como
se o paciente nos estivesse a dar um papel que não é o nosso.
A dado momento o paciente pode nos colocar na posição em que somos os donos da
verdade: nós é que sabemos o que deve fazer, está constantemente a pedir conselhos e opiniões,
enfim, não descola desta posição, fazendo surgir uma transferência em que olha o psicólogo
como figura de autoridade, à qual está infantilizada e presa. Se esta é uma resistência ao
processo talvez devamos falar sobre isto e interpretar esta transferência.

122
o PSICÓLOGO VISTO COMO MODELO
Alguém que se imita e que se quer copiar. Que se quer ser igual a essa pessoa. Às vezes
aparecem elogios – “é tão calmo, tem sempre resposta para todo, etc.”. Isto na PA não é mau.
Quando a pessoa nos vê como modelos e nos imita, isto pode ser visto como o nível 1 de
mudança. Mais uma vez, a questão é quando isto se transforma num entrave e o paciente não
avança. Nestes casos é que temos de interpretar. Porque é que não interpretamos sempre? Um
paciente que não tem indicação para uma psicoterapia de aprofundar mais o insight, pode
interpretar as coisas “mal”, ou seja, não tem a capacidade para ouvir as interpretações.
É de notar que os elogios feitos ao psi, podem demonstrar um evitamento a qualquer coisa,
e por isso, é necessário interpretar.
o PSICÓLOGO VISTO COMO UMA FIGURA AFETIVA
Também pode ser acontecer o psicólogo ser investido na transferência como uma figura
afetiva. A idealização daqui, é da relação e da qualidade afetiva que temos (não de nós
próprios) – com se o que tivéssemos aqui fossem muitas idealizações, que colmatassem todas
as necessidades do paciente. A psicoterapia é uma relação, mas não é uma relação que ocupe
o lugar das (outras) relações do paciente. Quando percebemos que estamos a ser idealizados
desta forma (“você e o único que me percebe”), isto acaba por ser uma prisão para o paciente
(em vez de o ajudarmos a viver a vida dele, estamos a prendê-lo). Por isso temos de explicar ao
paciente o que esta a acontecer (“estamos aqui, procuramos ver sempre o seu ponto de vista,
não faltamos, há exclusividade, etc. E que, se não nos tivéssemos conhecido nestas
circunstâncias, a relação provavelmente não era a mesma”), e devemos fazer isto sem pôr em
causa a relação terapêutica.

* Nota: a transferência → quando Freud, descobriu a mesma, esta era vista como uma
resistência. A quê? À rememoração (naquele tempo). Então inicialmente, a transferência, era
vista desta forma – as pessoas não se lembram então transferem. Desde a sua génese, está ligada
a uma resistência. Mas depois, começou a ser vista como uma ferramenta fundamental da
intervenção na psicanálise.
Se somos analistas, mas estamos a fazer uma PA, sabemos que isto tudo existe, mas também
sabemos que o dispositivo de uma terapia de apoio não é a transferência. O motor da terapia é
outro. Então, como queremos manter a transferência a nível positivo e neutro, vamos estar
atentos: Se ele se instala e tem um determinado grau, tudo okay (a pessoa toma-me como
modelo, tudo bem, deixa de consumir álcool, drogas, começar a dedicar-se um pouco mais ao
trabalho), enquanto for útil, está tudo bem. Mas a partir do momento em que o paciente bloqueia

123
e não passa daquilo (quem me dera ser assim, não tenho as suas características, etc.) isto já é
um problema. Se for um paciente em análise, se calhar este tema (do psicólogo ser um modelo),
aí se calhar é preciso fazer um trabalho interpretativo.

o PSICÓLOGO VISTO COMO UM RIVAL


Isto acontece muito quando de alguma forma as pessoas começam a competir connosco.
Mas fazemos uma intervenção qualquer, nem que seja uma clarificação, e pessoa depois diz:
“não é nada disso”. E diz depois uma coisa mais interessante. Se constantemente o que dizemos
é asneira, e nós temos um QI normal, provavelmente estamos perante este pensamento de
sermos um rival. Se isto se instala, o psicólogo deve de alguma forma confrontar (com carinho)
o paciente para que esta transferência deixe de funcionar como uma resistência.
o PSICÓLOGO VISTO COMO UM ADVERSÁRIO
O psicólogo é visto como estando sempre contra o paciente. Isto pode acontecer em
situações, por exemplo, num paciente que tem muitos conflitos conjugais. Há uma coisa que
fazemos, que é identificarmo-nos com o paciente (para sentir o que ele sente), mas também
temos de nos identificar com as figuras da vida dele, senão ele tem sempre razão. Isto pode
despoletar coisas como: “mas está do lado do outro (e.g. da mulher do paciente)? Estão todos
contra mim.” Se isto aparecer de forma ténue, não vale a pena aprofundar, pois pode criar um
problema entre psi e paciente, e no momento em que isto fica claro, temos de resolver isto.
É nos convenientes ou não? Se for repetitivo sim.

11ª Aula Prática (02/06/2021)

ROLE PLAY
o Homem de tem 60 anos;
o Veio a pedido do sobrinho (Jorge), que é médico;
o Era militar. E agora é político;
o Estava no exército e depois foi para a política;
o Tem cancro no estômago – foi diagnosticado há duas semanas atrás. O médico disse
para não ter esperança (não se lembrar dos detalhes). Foi diagnosticado em frança;
o “Ele não pode dar parte fraca”, neste caso face às mortes todas que viu durante a sua
vida.

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Discussão do Role Play:
A língua é uma barreira. Para um terapeuta que não está a trabalhar na própria língua, ele
tem de ter a noção se está a entender ou não o que é dito pelo paciente (não no sentido lato, mas
no sentido psi). Isto já acontece quando falamos a nossa língua materna, por isso, face a uma
sessão que não falamos a nossa língua materna, temos este acrescento.
Relação de desconfiança: o paciente não fala a mesma língua que nós. Então quando
falamos com ela, e mostramos que não estendemos alguma coisa, o paciente tanto pode achar
que não entendemos por causa da língua, mas também “porque não somos bons”, então isto vai
desencadear uma possível relação de desconfiança.
É muito difícil recebermos uma pessoa que sabe que vai morrer – não têm um horizonte
de vida. Ou seja, o facto deste paciente ter cancro é logo um impacto brutal – pode desmotivar-
nos, aumentar-nos a angústia, etc.
Não há um pedido específico de ajuda. Intuímos que este senhor é muito frágil, mas há
uma defesa tão grande que levanta a seguinte questão: como é que vamos desmontar isto e qual
é o ganho? (temos de avaliar o custo-benefício).
O professor tinha tentado perceber um pouco mais sobre a doença (prognóstico, o nível
onde estava, o que os médicos disseram, etc.) e sobre o que fazer – fazer uma terapia como se
fosse uma terapia normal? Não é bem.
Quando as pessoas estão no fim de vida, a terapia é para dar oportunidade às pessoas para
fechar assuntos (e.g. que existe há 20 anos com um irmão, por exemplo), mas temos de perceber
qual é a rede destas pessoas. Porque muitas vezes, nós somos muito ativos e facilitamos muitas
ações, junto da rede dessas pessoas.
Temos de perceber porque é que ele vem para cá (para Portugal). Alguém que está a morrer
e tem esta ligação à pátria. Ele vem para cá porquê?
Nem todos os psicólogos tem perfil para trabalhar com estas situações (cuidados
paliativos). A grande dificuldade é como se desmonta isto. Vamos confrontar uma pessoa, mas
também temos de ter cuidado para não a confrontar (pois vai morrer).
Pressentia-se um menino frágil por detrás “deste grande homem”. Podemos ver isto, por
exemplo, com a sua disponibilidade no fim da terapia, com a sua vontade de falar, etc.
Na maioria das pessoas que estão a morrer, há lá sempre qualquer coisa – desejo de
compreensão e de se conhecer um pouco a si próprio.

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11ª Aula Teórica (04/06/2021)

SUPERVISÃO
A supervisão continua a ser um fator muito negligenciado. Quando vamos fazer uma
formação em psicoterapia, a supervisão faz parte do pacote.
Muitas pessoas consideram a formação acabada depois de fazerem os estágios profissionais,
o que é uma pena, porque a supervisão é um espaço de crescimento. E durante um tempo
considerável é extremamente necessária. Porque para além das competências técnicas do
psicólogo demorarem tempo a desenvolver, mesmo um psicólogo já formado depara-se com
coisas que não vê nas relações com os seus pacientes, e que só são vistas por um terceiro olho.
Nós vamos estar com o nosso superior a integrar um terceiro olhar. A experiência passa por
isto, repetida, é fundamental.
Quando se faz uma formação psicoterapêutica, temos de ter os supervisores acreditados
pelas sociedades científicas, ou seja, não somos nós que os escolhemos.
Com os psicólogos clínicos, isto no existe. Os psicólogos podem escolher quem quiserem.

PSICOTERAPIA VIRTUAL
Será que é possível criar o ambiente contentor, como nas psicoterapias presenciais? Este
ambiente é criado pelo que? Pelo ambiente, pela voz do terapeuta, pelas variáveis físicas? Será
que o psicólogo, ouve, escuta da mesma forma como quando o paciente está à distância? E onde
é que ficam os sinais verbais? Desaparecem? Trabalham-se?
Portanto, as terapias virtuais, levantam imensas questões técnicas e éticas. As éticas não
podem ser dinamizadas quando substituímos o setting físico pelo virtual. Um tema importante
é a confidencialidade e depois a presença dos corpos que moldam a comunicação. E temos ainda
facto do setting fixo “moldar”, de certa forma, o espaço físico (que também é contentor e
depósito de fantasias). As variáveis do espaço interferem e têm uma representação no paciente
(e.g. o prof. falou da cortina que tem no consultório, grossa, à frente da porta, para camuflar
melhor o som. Contou que tinha uma cliente que, comentou que aquela cortina a fazia sentir
presa. Isto numa terapia virtal “não era possível acontecer”). O setting virtual é um espaço não
partilhado (e.g. aqui ao termos aulas por zoom, todos temos experiências sensoriais diferentes
– está calor, frio? Estamos deitados ou sentados?) e estamos todos muito sujeitos às
contingências da tecnologia.

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Por exemplo: Numa consulta virtual, um paciente está a dizer uma coisa, e depois por 3
segundos a internet vai abaixo e não se ouve o mesmo. O psicólogo tem de ter cuidado para
não se descentrar e não ficar a pensar se o que o paciente disse era muito importante o não.
O setting é uma variável técnica da psicoterapia, é estruturante do processo terapêutico,
apesar de muitos autores considerarem que se pode considerar os mesmo termos na psicoterapia
virtal e na não virtual (se mantivermos as teorias e os modelos teóricos).
O prof. acrescenta ainda, que acha que há diferenças quando se fala de terapia familiar, com
crianças, com adolescentes, etc. Nas terapias virtuais versus nas terapias presenciais. As
crianças muitas vezes dependem do auxílio dos pais para poderem utilizar a tecnologia. Há uma
facilidade de invasão do setting relativamente maior. Por exemplo, num setting virtual, é muito
mais provável que uma mãe de uma criança entre no quarto (ou outro sítio qualquer) onde o
seu(a) filho(a) está a ter a consulta. Num setting presencial isto não acontece. Em casos “mais
graves” encontramos os pais colados às portas do consultório. Adicionalmente, mudando um
pouco de população alvo, se tivermos perante uma terapia de casal, podemos pensar se é ok
termos as duas partes do casal em divisões diferentes (um no quarto e um no escritório, por
exemplo). Será que isto é correto?
E será diferente fazer terapia no quarto, na sala, no carro, com o gato e o cão a passarem,
com o paciente de pijama, com as pernas cruzadas e computador em cima, etc.? Na verdade,
estes detalhes têm mais importância do que nós achamos. E há aqui uma questão relacional
que pode parecer mais exibicionista (voyeurista) – como mostrar o gato, a própria sala, etc.
Onde se vêm grandes perspetivas das casas (o que é que isto significará?).
E o que é que o terapeuta mostra ou não mostra? Há também uma coisa exibicionista – o
psicólogo não se livra destes pensamentos. O prof. acha que é melhor termos um setting
estruturado, porque o mesmo organiza o nosso pensamento. É muito mais existente/exigente
em termos de espaço interno para acolhermos um paciente.
A investigação tem sistematicamente mostrado que não há diferenças entre psicoterapias
virtuais e psicoterapias presenciais. Mas não é a primeira vez que as investigações mostram
resultados “que nos convêm”. Quando chegamos à clínica a investigação pode-nos dizer sem
sombra de dúvida que isto é assim e assim, mas depois só quando estivermos frente a frente
com um paciente é que podemos achar se é mesmo isso ou não.
Mas também há vantagens da terapia online:
o Permite o acesso a cuidados de saúde mental pessoas que se calhar não tinham
este acesso antes, porque, por exemplo estão demasiado distantes (fisicamente).

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Parecendo que não, há muita gente que vive em zonas remotas. Ou seja, é possível
chegar a pessoas que tem pouco acesso aos cuidados de saúde;
o É vantajoso para casos de mobilidade reduzidas;
o Pessoas que que tem profissões com muito mobilidade, então não têm tempo porque
estão sempre de um lado para o outro;
o Pessoas que tem relutância em ir a um consultório físico (por medo de se exporem,
por terem vergonha, por serem fobicas, etc.

EXAME:
o Perguntas teóricas – diretas sobre a matéria, podem aparecer exercícios parecidos
com os das aulas práticas (as primeiras);
o Situações clínicas para comentarmos – eles descrevem uma situação de uma sessão
e perguntam: o que pensam sobre aquilo? O que diriam à pessoa?;
o Há muita coisa que falamos em aula;
o Temos de ter (e demonstrar sensibilidade clínica);
o Ter em conta o modelo da psicoterapia de apoio (e entrevista clínica);

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