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Classificação dos transtornos

mentais e o cuidado integral


Caroline Moraes Soares Motta de Carvalho

Descrição

O olhar para além da psicopatologia na avaliação psíquica, as principais psicopatologias, o uso de psicofármacos e o cuidado integral na saúde
mental.

Propósito

A compreensão dos diferentes transtornos mentais ao realizar o exame psíquico é fundamental para o acompanhamento do usuário, permitindo que
o profissional de saúde mental seja capaz de reconhecer e ofertar uma escuta qualificada, terapêutica e pautada no cuidado integral.

Objetivos

Módulo 1

O exame psíquico
Aplicar o exame psíquico, seguindo as técnicas da entrevista em saúde mental e da semiologia psiquiátrica.

Módulo 2

O cuidado aos pacientes com transtornos de ansiedade e transtorno de humor

Identificar os sinais, os sintomas e os psicofármacos envolvidos no cuidado aos pacientes com transtornos de ansiedade e transtorno de humor.
Módulo 3

O cuidado aos pacientes com transtornos psicóticos e de personalidade


Reconhecer sinais e sintomas e os principais psicofármacos envolvidos no cuidado aos pacientes com transtornos psicóticos e de
personalidade.

Módulo 4

O cuidado aos pacientes com transtornos dismórficos corporais (TDC)


Avaliar sinais e sintomas e os principais psicofármacos envolvidos no cuidado aos pacientes com transtornos dismórficos corporais (TDC).

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Introdução
Segundo os dados de 2017 da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking mundial dos transtornos mentais no que se refere à
prevalência de transtornos de ansiedade. Diante disso, é importante refletir sobre os motivos que colocam o Brasil nessa posição. Pesquisadores
relacionam que esses índices podem estar ligados ao modo de funcionamento da sociedade atual e ao investimento em novas técnicas que
auxiliam no diagnóstico e no tratamento dos mais variados transtornos mentais

Neste conteúdo, identificaremos as principais alterações psíquicas a serem observadas durante a realização do exame do estado mental atual,
reconheceremos os principais sinais e sintomas dos transtornos de ansiedade, de humor, de personalidade, dos transtornos psicóticos e suas
respectivas abordagens farmacológicas. Na atuação do profissional de saúde, é fundamental compreender as características atuais do paciente,
sua trajetória e biografia, e não só conhecer os sinais e sintomas dos transtornos mentais. Dessa forma, o diagnóstico não se baseará apenas na
presença ou na ausência de um determinado sintoma, mas sim no entendimento de como o sintoma surgiu, em qual contexto e com que
intensidade e constância.
1 - O exame psíquico
Ao final deste módulo, você será capaz de aplicar o exame psíquico, seguindo as técnicas da entrevista em saúde mental e da
semiologia psiquiátrica.

Avaliação do estado mental

Quando nos deparamos com pessoas em sofrimento psíquico, experimentamos uma diversidade de emoções e sentimentos, que podem provocar
em nós curiosidade, indiferença ou afastamento. Para que seja possível oferecer uma assistência em saúde mental de qualidade, é fundamental
saber realizar a avaliação do estado mental, pois assim poderemos utilizar os instrumentos adequados para auxiliar a assistência às pessoas em
sofrimento psíquico e/ou com transtornos mentais.

Antes de abordar as etapas do exame psíquico, é importante ressaltar que cada interação é única, pois os determinantes relacionais e socioculturais
irão exigir do profissional uma abordagem apropriada para cada paciente, tornando esse momento único, dinâmico e com relações recíprocas.
Outro ponto fundamental que antecede a realização do exame psíquico é a comunicação estabelecida durante o processo de acolhimento.

Durante esta fase, já se estabelece uma comunicação terapêutica, que é a base dos cuidados em saúde mental.

Quando a avaliação do estado mental é iniciada, para elaboração de um planejamento assistencial, algumas condições de normalidade e
anormalidade precisam ser levadas em consideração.
Para Marcolan e Castro (2013), o conceito de normalidade em psicopatologia é controverso, pois existem diferentes perspectivas que se
complementam, tais como a normalidade como ausência de doenças, a normalidade estática, a normalidade funcional, a normalidade como ideal,
entre outras. Mas nessa compreensão sobre normalidade, é fundamental que o profissional se atente à complexidade desse conceito para não cair
em reducionismos e preconceitos.

O propósito da avaliação do estado mental é oferecer subsídios necessários para o cuidado em saúde mental e para a construção do Projeto
Terapêutico Singular (PTS), que deve ser construído por toda a equipe multiprofissional; portanto, ao interagir com a pessoa com transtorno mental
durante o acolhimento nos serviços de saúde, o objetivo é coletar dados para garantir uma boa assistência e um direcionamento em saúde
adequado. A partir dos dados coletados é possível:

Identificar os sinais e os sintomas.


Descartar as alterações orgânicas.
Compreender como a pessoa em sofrimento psíquico se percebe e se sente nessa condição.

Orientações para o início e desenvolvimento da entrevista

O sofrimento psíquico ocorre em condições clínicas e extraclínicas; com isso, é importante adotar um roteiro para auxiliar o profissional na
abordagem ao paciente, garantindo um olhar interdisciplinar na construção do projeto terapêutico.

Ao iniciar a entrevista em saúde mental, é recomendado que o exame do estado mental seja cercado de cuidados como:
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Apresentar-se, demostrando- Falar menos, utilizando Abordar o paciente pelo nome Ficar atento às expressões
se acolhedor e profissional expressões simples, e ouvir e respeitar sua privacidade. verbais e não verbais durante
(falar seu cargo e profissão). mais, pois escutar o paciente o processo comunicativo.
é a prioridade na entrevista.

O profissional deve evitar algumas atitudes e posturas inadequadas e improdutivas como posturas rígidas e estereotipadas, atitude excessivamente
neutra ou fria, reações exageradamente emotivas, comentários valorativos, reações emocionais intensas de pena ou compaixão, respostas hostis
ou agressivas.

Entrevistas excessivamente prolixas e a realização de muitas anotações durante a entrevista podem atrapalhar o processo de avaliação e
comunicação.

Etapas do exame psíquico


No ato do exame propriamente dito, o profissional deve estar atento a diversos aspectos e funções mentais. A seguir, serão abordadas as etapas e
os componentes do exame psíquico:

Aparência geral
Nesta etapa, são observados a higiene, a vestimenta e as condições físicas, a expressão facial , a postura corporal e o comportamento social.
Durante a interação, o profissional pode observar comportamento bizarro, isolado, preocupado, constrangido, desconfiado ou desinibido. Nesse
momento, o profissional deve descrever de forma clara no prontuário o que reparou, para que outras pessoas que não conhecem o paciente
consigam ter a ideia clara da aparência dele. Observe o exemplo a seguir:

Mulher baixa emagrecida, com a higiene corporal preservada, porém despenteada, com vestimentas inapropriadas para a temperatura, olhar
distante, com semblante triste, aparentando ter muito mais idade do que 40 anos.

A partir dessa descrição, é possível realizar o levantamento de hipóteses e cuidados iniciais que permitam uma atenção especial para o caso. É
importante, no entanto, não confundir as primeiras hipóteses com uma visão já determinista e direcionada para um diagnóstico, pois devemos estar
sempre abertos para novas informações que podem mudar completamente as primeiras impressões.
Consciência

Nessa etapa, deve ser analisado se o paciente está ciente de si mesmo e do ambiente, se está acordado, vígil e desperto. Pacientes com alteração
do nível de consciência podem apresentar alterações qualitativas e/ou quantitativas como estado confusional agudo, obnubilação da consciência,
estupor e, nos casos mais graves, coma.

A semiotécnica aplicada para a análise das alterações qualitativas e sindrômicas é realizada nas perguntas sobre o que sujeito sabe de si, do
tempo, do espaço e dos objetos ao seu redor.

Fazer perguntas sobre o nome completo do paciente, o número do seu celular, o ano em que estamos, o nome do presidente e pedir para
movimentar uma parte específica do corpo são muito úteis para compreender o arranjo do campo da consciência.

bnubilação da consciência
Trata-se de uma alteração da consciência, caracteriza-se pela diminuição da sensopercepção, lentidão da compreensão e da elaboração das
impressões sensoriais.

emiotécnica
Procedimento utilizado para identificar os sinais de uma doença durante um exame clínico.

A expressão fisionômica do avaliando também contribui de forma significativa na avaliação da consciência. A partir dela é possível perceber se há
sonolência, fadiga ou rebaixamento da consciência. É na expressão fisionômica que também é possível encontrar traços de perplexidade,
desinteresse, dificuldade de compreensão e de julgamento da realidade.

Orientação
Trata-se de um complexo de funções psíquicas, a partir do qual temos consciência de cada etapa de nossa situação real e de vida. Ao realizar a
avaliação desse item, assim como ao avaliar a consciência, o profissional deve fazer perguntas sobre o tempo, o espaço e sobre aspectos da
identidade pessoal do próprio paciente.

As alterações podem ser:

schedule
Desorientação temporal
Dificuldade em localizar-se no tempo.

map
Desorientação espacial
Dificuldade em localizar-se no espaço, ou seja, o lugar em que está.

psychology
Desorientação autopsíquica
Alteração na capacidade de fornecer informações sobre si mesmo como nome, idade, ocupação, entre outras.

Para investigar a orientação do paciente, inicie com perguntas simples e, depois, faça perguntas mais complexas. São perguntas simples:

Qual é o seu nome completo?


Onde fica a sua casa?
Onde estamos?
Em que mês estamos?
Qual é a data do seu aniversário?

As perguntas mais complexas podem ser sobre o número de celular de alguém, ou sobre a forma como o paciente chegou ao atendimento.

De modo geral, a semiotécnica da orientação deve apresentar perguntas relacionadas à orientação temporal, à orientação espacial e, por fim, à
orientação autopsíquica. Note que isso observa a lógica do comprometimento da orientação mental de modo que indica a profundidade da
desorientação do paciente.

Orientação temporal
As perguntas de orientação temporal são em torno do dia de hoje, da semana, do mês, do ano em que estamos, da hora aproximada, do período do
dia e das refeições realizadas.

Orientação espacial
As perguntas de orientação espacial são aquelas que indicam o lugar onde se está, a cidade e o bairro onde mora, o tempo gasto para chegar onde
está e a localização de alguns objetos de sua casa ou do lugar em que se encontra.

Orientação autopsíquica
As perguntas de orientação autopsíquica são sobre o nome, o estado civil, a profissão e a idade real do paciente.

Observa-se, nesse caso, a habilidade de focar na atividade mental em um determinado ponto. Quando alterada, o paciente pode estar com
hipervigilância ou hipovigilância.

ipervigilância
Aumento da atenção aos estímulos ambientais e dificuldade de concentração.

ipovigilância
Diminuição da atenção aos estímulos do ambiente.
No caso da avaliação dessa função, pela sua complexidade, seria necessário avaliar a capacidade do sujeito em selecionar, organizar, filtrar, inibir,
alternar e sustentar uma nitidez consciente de um objeto/estímulo. Portanto, nenhuma avaliação de atenção que se proponha para um
levantamento válido e fidedigno desses elementos pode ser considerada eficiente e exata. De qualquer forma, em um primeiro momento e como
forma de triagem, o profissional pode avaliar de forma superficial e, caso suspeite de algum problema nessa função especificamente, utilizar testes
psicológicos específicos posteriormente.

Memória
Quanto a esse quesito, observa-se a capacidade de registrar, fixar, manter, relembrar e reconhecer situações, pessoas, objetos e fatos ocorridos, que
também são acompanhados de emoções. O profissional deverá analisar três planos da memória:

Memória imediata
Registro e reprodução de informações em poucos segundos.

Memória de curto prazo


Fatos recentes vividos.

Memória de longo prazo


Lembranças de fatos remotos.

As principais alterações da memória são:

Amnésia Incapacidade de evocar experiências passadas.

Aumento da capacidade de evocar com riqueza de


Hipermnésia
detalhes.

Intensa capacidade de fixação como forma de


Hipertrofia da memória
compensar o déficit intelectual.

Não reconhecimento das situações vivenciadas, as


Criptomnésia
quais são encaradas como algo novo.

Lacunas de memórias que são preenchidas com


Confabulações
fantasias.
Afetividade
Neste item, são analisadas modalidades da vivência afetiva das pessoas, como emoções, humor e sentimentos. Por se tratar de uma abordagem
genérica, são muitas as alterações no afeto, como euforia, embotamento afetivo, labilidade afetiva, apatia, anedonia, ambivalência afetiva,
depressão, ansiedade, fobias e pânico. Em geral, durante o exame psíquico, avalia-se a resposta afetiva do paciente aos eventos e informações
abordadas durante a entrevista e as respostas que ele ou outros próximos a ele relatam. Buscamos saber se tais respostas são coerentes e
proporcionais com a situação desencadeante.

Em alguns casos, podemos considerar nervosismo e desconfortos que podem ser até esperados, dependendo da situação em que o sujeito se
encontre.

Existem respostas, no entanto, que passam a ser motivo de atenção por parte do clínico, como o riso intenso fora de contexto, seguido por um
choro angustiante. Esses tipos de expressão podem ser indicadores de surtos psicóticos, depressões e outros transtornos mentais.

Psicomotricidade
Este aspecto é entendido como a vontade e disposição para agir, já que pensamos e agimos de maneira automática, sem refletir. Assim, ao falar de
psicomotricidade estamos nos referindo a atos voluntários e involuntários. Nesse caso, destacam-se como principais alterações:

Hipobulia Dificuldade de realizar ações.

Negativismos Resistência automática às solicitações.

Excitação psicomotora Agitação motora.

Inibição psicomotora Diminuição motora.

Acatisia Incapacidade de permanecer sentado.

Tiques Movimentos irregulares.

Maneirismos e estereotipias Repetições mecânicas e automáticas de um ato motor complexo.

Agressividade Pode ser heteroagressivo.

Rituais que a pessoa reconhece como indesejáveis, porém, ela


Compulsão
não consegue evitar.

Catatonia Permanecer com comportamento inexpressivo que pode ser


rompido com rompantes de agressividade.

Analisar o nível de agitação desde o começo da avaliação é essencial para a proteção do paciente e dos que estão à sua volta. Para isso, é
importante saber se aproximar, demonstrando empatia e respeito, dando o espaço necessário, pois em algumas ocasiões essa agitação pode ser
em resposta ao desconforto que o paciente está vivenciando no momento pela forma como está sendo enquadrado.

Sensopercepção
Neste item, são analisadas a sensação e a percepção. A sensação é um fenômeno psíquico decorrente da ação da luz, dos sons, do calor e de
outros elementos sobre os órgãos do sentido (olfato, paladar, tato, visão e audição). Já a percepção é a maneira como tomamos conhecimento de
um estímulo sensorial. Quanto a esses aspectos, as principais alterações são:

Ilusão

Percepção deformada da realidade. Por exemplo, um cinto é percebido como uma cobra.
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Alucinação

Percepção real de algo que não produziu um estímulo sensorial – pode ser auditiva, olfativa, gustativa, visual e tátil.

Pensamento
Este item é analisado a partir da fala e do comportamento do paciente. Nessa análise, serão observados o curso do pensamento (observar a
velocidade do pensamento), a forma do pensamento (observar se há coerência no pensamento) e o conteúdo de pensamento (observar as ideias
em si, a substância do pensamento). Deve-se ter atenção especial aos delírios, que são ideias falsas acreditadas pela pessoa como reais. Os mais
comuns são:

delírios de perseguição ou persecutório;


delírios de referência;
delírios de influência;
delírios de ciúmes;
delírios de grandeza;
delírios místicos;
delírios de culpa e autoacusação.

Linguagem
Pode ser verbal ou não verbal e representa o meio de comunicação entre as pessoas. É a forma por meio da qual expressamos nosso pensamento.
As principais alterações são:

Logorreia Bradilalia Mutismo Ecolalia

Aumento do fluxo e do Diminuição do ritmo e do Negativismo verbal. Repetição das últimas


volume da linguagem. fluxo da linguagem, com palavras ou sílabas da
expressão vagarosa e lenta. pergunta.

Juízo crítico
É a capacidade de autopercepção, algumas literaturas também irão chamar de consciência do eu. Trata-se do julgamento a respeito de si mesmo e
de sua condição psíquica.

Diz respeito à capacidade de adequação da realidade externa e à capacidade de separar os aspectos pessoais subjetivos do mundo externo, ou
seja, é a consciência do próprio corpo.

Inteligência

Nesta etapa da avaliação, o profissional deve avaliar o nível ou a capacidade de aprendizagem formal, levando em consideração os aspectos
culturais e sociais. O sujeito deve ser capaz de resolver problemas novos, reconhecer de maneira correta as situações vivenciadas e encontrar
soluções. Durante essa etapa da avaliação, o entrevistador deve identificar se há sinais de retardo mental leve, moderado ou grave.

Atenção!
É a etapa do exame psíquico que requer diálogo e troca com outros profissionais da equipe. O profissional pode solicitar a resolução de operações
matemáticas simples sem uso de papel ou de calculadora.

Uma vez compreendidas todas as etapas do exame psíquico, é importante entender que esse exame é um instrumento metodológico para
assistência em saúde mental, pois identificar e avaliar as alterações que podem estar caracterizando o quadro clínico do paciente são
indispensáveis para uma condução adequada do projeto terapêutico a ser implementado.

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Como realizar o exame psíquico e qual a sua importância
A especialista Julia Teixeira fala sobre as diversas etapas e componentes do exame psíquico e a forma de avaliar cada um deles.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O exame psíquico, ou exame do estado mental atual, requer a observação sistemática do comportamento do paciente, sendo um desafio para
os profissionais a execução dessa etapa fundamental. São etapas obrigatórias que devem ser avaliadas:

1. Aparência    2. Pensamento    3. Humor e afeto    4. Felicidade e amizade

De acordo com o exposto, assinale a alternativa correta.


A Somente constam no exame de estado mental: processos de pensamento, humor e felicidade e amizade.

B Somente constam no exame de estado mental: aparência, pensamento, humor e afeto e felicidade e amizade.

C Somente constam no exame de estado mental: aparência, humor e afeto e felicidade e amizade.

D Somente constam no exame de estado mental: aparência, pensamento, humor e afeto.

E Somente constam no exame de estado mental: aparência, pensamento e felicidade e amizade.

Parabéns! A alternativa D está correta.

O exame psíquico tem diversas etapas que devem ser rigorosamente analisadas. Assim, a aparência e apresentação do paciente, os processos
de pensamento e os aspectos afetivos e do humor são partes do exame do estado mental atual do paciente.

Questão 2

Uma jovem de 23 anos é levada à UPA de sua cidade por sua mãe. Ao ser entrevistada pelo profissional de plantão, informou que tem ouvido
vozes que dizem que ela é a herdeira de uma grande fortuna e que pertence a uma família de reis e rainhas de um país que somente ela e sua
família conhecem. Ela afirma que em breve será a pessoa mais importante do mundo, basta apenas que o sol e a lua acendam ao mesmo
tempo. Diante dessa fala, o profissional que atendeu à jovem pode considerar que a paciente possui alterações em quais etapas do exame
psíquico?

A Linguagem e pensamento.

B Pensamento e sensopercepção.

C Afeto e sensopercepção.

D Linguagem e afeto.

E Afeto e pensamento.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Fazem parte da avaliação do estado mental os itens pensamento e sensopercepção. O relato sobre ouvir vozes indica uma alteração na
sensopercepção, conhecida como alucinação auditiva, enquanto a fantasia de pertencer a uma família poderosa e herdeira de uma grande
fortuna demonstra uma alteração no conteúdo do pensamento, caracterizando assim um pensamento delirante.
2 - O cuidado aos pacientes com transtornos de ansiedade e transtorno de
humor
Ao final deste módulo, você será capaz de Identificar os sinais, os sintomas e os psicofármacos envolvidos no cuidado aos
pacientes com transtornos de ansiedade e transtorno de humor.

Transtornos de humor ou transtornos afetivos


O termo “humor” significa “ânimo de uma pessoa em relação a alguma coisa ou em alguma situação”. Antes de iniciar os estudos sobre os
diferentes tipos de transtornos de humor que existem, é importante lembrar que tristeza e alegria fazem parte do cotidiano de todos nós, sendo:

Tristeza

Resposta natural à perda, ao luto, à derrota, à desilusão ou aos traumas.


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Alegria

Resposta natural às situações agradáveis, aos ganhos, às vitórias e aos nascimentos.

No estudo sobre os transtornos de humor, a depressão e a mania são consideradas alterações patológicas do humor, pois nesses casos a alegria e
a tristeza possuem um caráter excessivo e são acompanhadas de diversos outros sintomas psíquicos e/ou físicos. Esses estados, portanto, são
caracterizados por sua natureza desproporcional.

Os transtornos depressivos são alterações emocionalmente graves, que persistem e que podem variar de
intensidade leve ou grave, provocando dificuldades na vida trabalhista, social e familiar, além de alterações de
ordem cognitiva, neurovegetativa e na psicomotricidade.
Nos últimos anos, estudos sobre as abordagens teóricas, os fármacos e os diversos tipos de intervenções terapêuticas têm facilitado o acesso às
informações e desmistificado o estigma sobre essa psicopatologia. Em contrapartida, o aumento dessas informações tem provocado uma
superficialidade na aproximação desse comportamento humano. As pessoas costumam resistir em procurar um especialista e tentam se
autodiagnosticar, usando a internet como fonte de conhecimento.

Atualmente, trabalha-se com três possíveis causas para o desenvolvimento do transtorno de humor depressivo. Sendo elas:

Causa biológica ou genética


Causa psicológica
Eventos estressores da vida

A causa biológica ou genética está ligada às influências ambientais e químicas no cérebro da pessoa. Os neurotransmissores, como a serotonina e
a noradrenalina, são responsáveis pela regulação do humor e estão entrelaçados ao sistema humano de resposta ao estresse.

A causa psicológica possui, pelo menos, três abordagens distintas para explicar a origem do rebaixamento do humor. Sendo elas:

Psicodinâmica
A experiencia de vida e o desenvolvimento da personalidade serão determinantes para o desenvolvimento da depressão.

Cognitivo-comportamental
Os pensamentos, as imagens e o sistema de crenças internas afetariam o comportamento da pessoa.

Existencial
O sujeito apresenta dificuldades na busca de significado para a sua vida.

Por último, os eventos estressores da vida, os quais estão diretamente ligados a perdas pessoais, maus-tratos físicos e/ou sexuais, são fatores que
aumentam a probabilidade de depressão.

Curiosidade
A organização Mundial da Saúde (OMS) estima ser difícil estabelecer uma prevalência para a depressão, devido ao fato de ser um transtorno muito
comum. Investigações em diferentes países do mundo afirmam que a depressão acomete aproximadamente de 3 a 11% da população. Quando
analisado o aspecto do sexo, é percebido que mulheres possuem de duas a três vezes mais chances de desenvolver depressão. Acredita-se que
essa prevalência de depressão em mulheres esteja ligada à influência das pressões sociais, do estresse crônico e do baixo nível de satisfação com
o “papel” do ser feminino (MARCOLAN; CASTRO, 2013).

Segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-11, 2018.), os principais sintomas que
uma pessoa com depressão irá apresentar são:

perda do prazer e do interesse;


humor deprimido; energia reduzida;
cansaço acentuado depois de esforço leve;
sono perturbado;
culpa ou diminuição da autoconfiança;
fadiga;
diminuição da libido;
diminuição, agitação ou lentificação da fala;
alteração do apetite;
dificuldade de concentração;
pensamentos ou atos suicidas.
Os transtornos depressivos apresentam três níveis: leve, moderado e grave. Todos eles implicam alterações nas esferas do funcionamento
cognitivo, comportamental, fisiológico e afetivo. Nesses três níveis, podemos observar que as consequências na qualidade de vida e na capacidade
do indivíduo de se adaptar também se apresentam de forma gradual, sendo piores nos casos de depressão grave. Veja a seguir:

Depressão leve expand_more

Os sintomas são identificados como os típicos do pesar normal, e as alterações cognitivas são a preocupação com a perda, ambivalência e
tendência a culpar os outros. As alterações comportamentais são marcadas pelas crises de choro, regressão, agitação e inquietação. As
alterações de ordem fisiológicas são o da anorexia ou aumento da ingestão de alimentos, dor torácica, insônia ou hipersonia e cefaleia. Por
último, a alteração afetiva pode apresentar sentimento de raiva, negação, culpa, ansiedade, desânimo, tristeza e desesperança.

Depressão moderada expand_more

Os sintomas associados na esfera cognitiva são retardo do pensamento, dificuldade de concentrar-se, e pensamentos obsessivos e
repetitivos. Na alteração comportamental, os movimentos físicos ficam mais lentos, a postura fica largada, a fala mais lenta e o isolamento
social é marcante, além de o paciente apresentar condições precárias de higiene. No aspecto fisiológico, as alterações são de anorexia ou
aumento do consumo de alimentos, dores abdominais, fadiga, amenorreia, insônia ou hipersonia e diminuição da libido. Na alteração afetiva,
os sentimentos de tristeza, desânimo, desesperança, desespero, baixa autoestima e dificuldade de sentir prazer são os principais sintomas
aparentes.

Depressão grave expand_more

Os principais sintomas de ordem afetiva são de total sentimento de desespero, impotência e menos-valia, sentimentos de vazio, apatia,
solidão, tristeza e total incapacidade de sentir prazer. Na esfera fisiológica, os sintomas são de lentificação geral de todo o corpo,
constipação intestinal, retenção urinária, amenorreia, perda significativa de peso e diminuição da libido. Nesse tipo de transtorno ainda
podem ocorrer sintomas psicóticos, como delírios e alucinações.

Os estudos psicopatológicos ainda incluem mais dois outros tipos de transtorno depressivo. São eles:

Transtorno depressivo recorrente

É caracterizado por episódios repetidos de depressão com períodos de recaída e remissão, sendo considerado um tipo de depressão
crônica.

Distimia

Condição mais comum na infância ou na adolescência, sendo vista como parte integrante do processo de desenvolvimento da
personalidade. Para ser considerada um transtorno crônico, seus sintomas devem estar presentes de forma ininterrupta por no
mínimo dois anos.
Uso de Psicofármacos nos transtornos do humor

Embora a prescrição de psicofármacos seja uma prática exclusiva do médico, é fundamental que outros profissionais conheçam a ação dos
psicofármacos usados no tratamento da depressão e de outros transtornos mentais, as possíveis interações medicamentosas e os possíveis
efeitos colaterais, pois tal conhecimento é essencial para a realização de um acompanhamento mais integral do caso.

Os pacientes que recebem tratamento medicamentoso com antidepressivos apresentam melhora dos sintomas de até 50%, e essa redução pode
chegar a 85% quando o uso de medicamento é associado à terapia.

Os principais psicofármacos envolvidos no cuidado às pessoas com transtornos depressivos pertencem aos grupos dos:

Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) expand_more

Inibição seletiva e potente da recaptação de serotonina, também conhecida como inibição do transportador de serotonina (SERT). Essa
inibição promove primeiramente um aumento da concentração da serotonina na região somatodendrítica do neurônio, e não na terminação
axônica (responsável pela neurotransmissão). Nesse caso, os principais fármacos utilizados são: Fluoxetina, Sertralina, Paroxetina,
Citalopram, Escitalopram e Fluvoxamina.

Inibidores da recaptação de serotonina-noradrenalina (IRSN) expand_more

Promovem a inibição da serotonina, assim como a inibição do transportador de noradrenalina em menor grau. São os principais fármacos
utilizados: Venlafaxina, Desvenlafaxina, Duloxetina.

Inibidores da recaptação de noradrenalina e dopamina (IRND) expand_more

Inibem a recaptação da noradrenalina e da dopamina pelo transportador de dopamina. O principal fármaco utilizado é a Bupropiona.

Antidepressivos tricíclicos (ADT) expand_more

Bloqueiam as bombas de recaptação de noradrenalina ou simultaneamente de noradrenalina e serotonina. Alguns são mais seletivos para a
noradrenalina, e outros, para a serotonina. A maioria, no entanto, inibe em certo grau tanto a recaptação de serotonina quanto a de
noradrenalina. Além disso, promovem inibição de receptores colinérgicos, histamínicos, α-adrenérgicos e dos canais de sódio sensíveis à
voltagem. Os principais fármacos utilizados são: Clomipramina, Imipramina, Amitriptilina, Nortriptilina.

Inibidores da monoamina oxidase (MAO) expand_more

Essas enzimas são responsáveis pela degradação das principais monoaminas relacionadas à depressão (serotonina, noradrenalina e
dopamina). Sua inibição promove o aumento dos níveis desses neurotransmissores no cérebro. Os principais fármacos utilizados são:
Selegilina, Fenelzina, Tranilcipromina.

Transtorno bipolar
De forma equivocada, muitas pessoas acreditam que o transtorno bipolar se trata da alternância entre um estado de alegria e de irritação em um
curto período. O transtorno bipolar, no entanto, é caracterizado por alternância de episódios de depressão e mania (euforia/expansividade); dessa
forma, não se trata de ficar alegre e triste, calmo e irritado em poucos minutos. No estudo sobre as psicopatologias do transtorno bipolar, são
classificados como:

Transtorno bipolar tipo I


Há ocorrência de episódios maníacos com ou sem episódio depressivo maior.

Transtorno bipolar tipo II


Há pelo menos um episódio depressivo, com episódio de hipomania (não necessariamente mania).

Geralmente manifestando-se no início da vida adulta como um transtorno recorrente, grave, que cursa com elevadas taxas de morbimortalidade, o
transtorno bipolar traz prejuízos e custos significativos para o seu portador e para a sociedade.

São sintomas maníacos humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável, autoestima inflada ou mania de grandeza, necessidade
de sono reduzida, necessidade excessiva de falar, fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados, envolvimento
excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas. Nesses casos, a perturbação do humor é suficientemente grave a
ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional.

Recomendação
O tratamento medicamentoso preferencial é feito com o estabilizador do humor conhecido como Carbonato de lítio, um íon que possui como
mecanismo de ação locais de transdução de sinais e receptores de neurotransmissores. Apesar de proporcionar uma ótima resposta terapêutica,
esse psicofármaco apresenta uma janela terapêutica apertada, sendo necessário o acompanhamento rotineiro da dosagem séria no organismo do
usuário, pois uma dosagem alta pode provocar efeitos tóxicos graves. Outros fármacos que são utilizados no tratamento do transtorno bipolar são:
ácido valproico, carbamazepina e lamotrigina.

anela terapêutica
Intervalo na dosagem que permite administrar o medicamento com equilíbrio entre eficácia e toxicidade de forma oportuna no organismo.
Transtornos de ansiedade

“Ansiedade” é um termo de origem grega que significa “oprimir, sufocar”, mas também pode caracterizar-se como algo que nos prepara para
enfrentar ou fugir de um perigo real ou imaginário, não sendo necessariamente algo ruim ou que traga prejuízos para a vida das pessoas. Sendo
assim, a ansiedade pode ser considerada normal, pois se trata de um estado emocional com componentes psicológicos e fisiológicos adaptativos.
Por outro lado, se sua intensidade é extrema e gera sofrimento intenso e por períodos muito extensos, a ansiedade pode ser considerada patológica.

Os transtornos de ansiedade de ordem patológica provocam sofrimento intenso, afetando o pensamento e o aprendizado, além de distorções da
percepção, na memória e nas relações interpessoais, chegando a promover algum tipo de incapacidade, mesmo que de forma temporária. Muitos
dos transtornos de ansiedade se desenvolvem na infância e tendem a persistir se não forem tratados, sendo as mulheres mais acometidas,
chegando a 30,5% contra 19,2% dos homens (MARCOLAN; CASTRO, 2013).

Há diversos tipos de transtornos de ansiedade, os quais são classificados de acordo com a sintomatologia específica. São eles:

fobia específica;
fobia social (ansiedade social);
transtorno do pânico;
agorafobia (ansiedade em situações como estar em ambiente fechado, ambiente aberto, multidões, em transporte público etc.)
transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
transtorno de estresse pós-traumático;
transtorno obsessivo compulsivo (TOC).

Vamos ver agora um pouco mais sobre cada um desses transtornos de ansiedade:

Fobia específica

Caracteriza-se pelo temor acentuado e persistente, excessivo ou irracional, ativado pela presença ou pela previsão de um objetivo um
específico (como andar de avião, alturas, animais, tomar uma injeção ou ver sangue).
Fobia social

Trata-se de um temor acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho, especialmente quando o indivíduo é exposto a
pessoas desconhecidas ou ao possível exame por outras pessoas. O indivíduo teme agir de modo que lhe seja humilhante ou
embaraçoso (ou mostrar sintomas de ansiedade). A exposição à situação temida quase que invariavelmente provoca forte ansiedade.
O indivíduo reconhece que o temor é excessivo, e o sofrimento ou esquiva interferem na rotina normal do indivíduo.

Transtorno do pânico

É composto de episódios descontínuos de ataques de pânico, ou seja, 15 a 30 minutos de uma ansiedade rápida, intensa, progressiva,
em que a pessoa experimenta medo acentuado, assim como sintomas fisiológicos. Durante o ataque de pânico, sente-se uma
ansiedade intensa e opressiva e apresentam-se quatro ou mais dos seguintes sintomas: palpitações, taquicardia, sudorese, tremores,
sensação de falta de ar ou de sufocamento, sensação de engasgo, calafrios ou ondas de calor, dor ou desconforto torácico, náuseas
ou desconforto abdominal, sensação de tontura, vertigem ou desmaio, desrealização ou despersonalização, medo de perder o
controle ou ficar louco, medo de morrer e parestesias.

Agorafobia

Sabe-se que agorafobia é um transtorno de ansiedade que, muitas vezes, desenvolve-se após um ou mais crises de pânico. Os
sintomas podem incluir medo e evitação a lugares e situações que possam causar sensação de pânico, aprisionamento ou
impotência. Os sintomas manifestam-se pelo medo, pela ansiedade severa ou depressão. Os tratamentos incluem psicoterapia e
medicamentos.

Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

Caracteriza-se pela preocupação em excesso e pelo sentimento de excessiva ansiedade durante pelo menos 50% do tempo, por seis
meses ou mais. Incapaz de controlar esse foco na preocupação, a pessoa com esse transtorno apresenta três ou mais dos sintomas
a seguir: desassossego, irritabilidade, tensão muscular, fadiga, dificuldade de pensar, alterações do sono, dificuldade de
concentração. Esse transtorno submete o indivíduo a preocupações com as circunstâncias e as atividades diárias, deixando “os
nervos à flor da pele” na maior parte do tempo e gerando incapacidade de moderada a grave.

Transtorno de estresse pós-traumático

É um distúrbio que se manifesta em decorrência de o indivíduo ser exposto a um evento traumático, gerando no psiquismo efeitos
que normalmente podem surgir dentro dos três primeiros meses após o trauma, com manifestações que envolvem dois dos seguintes
quesitos: o indivíduo viveu, testemunhou ou foi confrontado com um evento que envolveu morte ou ferimento sério, real ou ameaça,
ou uma ameaça à integridade física própria ou de outros; a resposta do indivíduo envolveu medo intenso, impotência ou horror; o
evento traumático é revivido; e existe uma esquiva dos estímulos associados com o trauma e um entorpecimento da capacidade geral
de resposta.

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)


A b õ ã t i i l d t i t t i t i i d j d i t
As obsessões são pensamentos, imagens ou impulsos decorrentes, persistentes, intrusivos e indesejados, que causam intensa
ansiedade e interferem no funcionamento interpessoal, social e profissional. A pessoa sabe que os pensamentos são excessivos e
irracionais, mas acredita não ter controle sobre eles. Já as compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que a
pessoa se sente compelida a executar para diminuir ou eliminar a ansiedade ou o desconforto associado às obsessões. Quando não
é tratado, o TOC normalmente tem um curso crônico. Para algumas pessoas, o curso é episódico e para poucos pode apresentar um
curso de deterioração.

esrealização
Sensação de irrealidade.

espersonalização
Sentir-se distanciado de si mesmo.

O tratamento farmacológico para os diferentes tipos de transtornos de ansiedade inclui os antidepressivos, já abordados anteriormente, e os
benzodiazepínicos, que são medicamentos que resultam em ações sobre o Sistema Nervoso Central (SNC). Seus efeitos são: sedação, hipnose,
redução da ansiedade, relaxamento muscular, amnésia e atividade anticonvulsivante. Um dos principais problemas desses fármacos está
relacionado à sua alta capacidade de produzir dependência e abstinência em quem faz uso contínuo e prolongado, por isso a utilização no longo
prazo deve ser acompanhada de psicoterapia.

Comentário

Tomando como base tudo o que foi abordado até aqui, é importante lembrar que o cotidiano, a incerteza com o futuro, as perspectivas com a
velhice, estão entre as principais causas dos transtornos de humor e dos transtornos de ansiedade. Assim, é preciso refletir sobre o estilo de vida,
pois isso tem nos tornando mais ansiosos, mais depressivos, com uma sensação de vazio e uma profunda inquietação.

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Os transtornos de ansiedade e o uso de psicofármacos
A especialista Julia Teixeira fala sobre os diversos tipos de transtornos de ansiedade e especifica os psicofármacos usados no tratamento.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Até há pouco tempo, o transtorno afetivo bipolar era denominado de psicose maníaco-depressiva. Esse nome foi abandonado porque esse
transtorno não apresenta necessariamente sintomas psicóticos. O início desse transtorno se dá por volta dos 20 a 30 anos de idade, mas pode
começar mesmo após os 70 anos. Sobre o transtorno bipolar, marque a alternativa correta:

A O início sempre será pela fase depressiva da doença.

B Pacientes portadores de esquizofrenia apresentam maior possibilidade de desenvolver a doença.

C O carbonato de lítio é a medicação de primeira escolha para o tratamento dessa patologia.

D O portador de TBH apresenta como sintomas fuga da realidade, confusão mental, delírios e alucinações.

E É uma doença incurável que, mesmo sendo tratada, impossibilita o portador de exercer suas habilidades sociais.
Parabéns! A alternativa C está correta.

Mesmo possuindo uma janela terapêutica muito estreita, o carbonato de lítio é o principal estabilizador de humor utilizado nos casos de
transtornos bipolar.

Questão 2

Um paciente apresenta pensamentos/ideias que lhe impõem rituais repetitivos como forma de exorcizar as ideias. De acordo com as Diretrizes
Diagnósticas da CID-11 (Classificação Internacional das Doenças), essa é uma característica clínica do transtorno

A de somatização.

B obsessivo compulsivo.

C doloroso somatomorfo persistente.

D hipocondríaco.

E dissociativo.

Parabéns! A alternativa B está correta.

O paciente apresenta pensamentos obsessivos e alterações comportamentais por meio de rituais, que tendem a diminuir ou eliminar a
ansiedade ou o desconforto associado às obsessões. Esses aspectos caracterizam o transtorno compulsivo.

3 - O cuidado aos pacientes com transtornos psicóticos e de personalidade


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer sinais e sintomas e os principais psicofármacos envolvidos no cuidado
aos pacientes com transtornos psicóticos e de personalidade.

Transtornos psicóticos
Os transtornos psicóticos são um tema amplamente discutido, mas de difícil conceituação e explicação. Pensando nisso, primeiramente é
necessário entender o que é psicose.

A psicose implica a perda do contato com a realidade. Esse estado pode ser entendido como uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) que
está associada a uma série de transtornos psiquiátricos diferentes. No mínimo, psicose significa delírios e alucinações, mas em geral envolve
também sintomas como discurso e comportamento desorganizados e distorções graves da realidade.

A psicose pode ser considerada um conjunto de sintomas nos quais a capacidade mental, a resposta afetiva e a
capacidade do indivíduo de reconhecer a realidade, de se comunicar e de se relacionar com outras pessoas estão
comprometidas.

Um dos principais erros comumente cometidos pelas pessoas em relação a esse transtorno é acreditar que a psicose e a esquizofrenia são
sinônimas. A esquizofrenia apresenta sintomas psicóticos, porém vale destacar que a psicose não está limitada apenas à esquizofrenia. Nesse
sentido, a psicose pode ser dividida em:

Psicose orgânica

Pode ser induzida por uso de drogas, alterações clínicas e delírio.


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Psicose não orgânica

Está associada aos transtornos de humor e à esquizofrenia.

Esquizofrenia – prevalência e fatores causais


A esquizofrenia é um transtorno que se caracteriza por alucinações, discurso desordenado, comportamento desorganizado ou catatônico ou
sintomas negativos que perduram por cerca de seis meses ou mais, com pelo menos um mês de delírios. É um transtorno crônico, com curso que
abrange três fases:

Fase prodrômica
Fase ativa
Fase residual

Os dados epidemiológicos da esquizofrenia mostram que em todo o mundo, 2 milhões de novos casos surgem a cada ano, sendo a prevalência
similar entre homens e mulheres. Em geral, o início ocorre antes nos homens, sendo a faixa etária de pico do início dos 15 aos 35 anos de idade.
Entre 25 e 50% dos pacientes esquizofrênicos tentam suicídio, e 10% conseguem concretizar a tentativa, contribuindo para uma taxa de mortalidade
oito vezes maior do que a população geral. A expectativa de vida de um paciente esquizofrênico pode ser de 20 a 30 anos mais curta que a da
população em geral, não apenas devido ao suicídio, mas devido à doença cardiovascular prematura (em decorrência do estilo de vida e dos efeitos
colaterais de medicação).

De causa multifatorial, o transtorno esquizofrênico é dividido em três grupos de fatores:

Ambientais estressantes expand_more

Relação pai-filho caracterizada por ansiedade intensa, comunicação com duplo vínculo, sistema familiar fechado, limites pouco claros,
interação familiar deficiente, disfunção familiar grave (família desestruturada e ou patológica, com um ou mais de seus membros com
doença mental).

Genéticos expand_more

A probabilidade de filhos esquizofrênicos é maior se um dos pais for esquizofrênico.

Bioquímicos expand_more

Os sintomas da esquizofrenia resultam de desequilíbrios de substâncias neuroquímicas no cérebro, como a dopamina, serotonina e
noradrenalina.

Cabe ressaltar que essa divisão não deve ser realizada na prática, pois todos esses fatores, juntos e associados, estão relacionados à esquizofrenia.

Sintomas e tipos de esquizofrenia

A esquizofrenia está associada a diversos tipos de sintomas. Os positivos, que são caracterizados por delírios, alucinações, discurso
desorganizado, comportamento desorganizado e agitação. Os negativos, que são o embotamento afetivo, alogia, pobreza do discurso, retraimento
social apático, anedonia (redução da capacidade de sentir prazer) e avolição (redução da vontade, da motivação, do desejo); e os sintomas
cognitivos, que consistem em prejuízos da atenção e do processamento de informações. Esses sintomas se manifestam como:

Comprometimento da fluência verbal Capacidade de produção de fala espontânea.

Problemas com a aprendizagem sequencial De uma lista de itens ou de uma série de eventos.

Dificuldades para manter e focar a atenção e a concentração,


Vigilância prejudicada das funções executivas dificuldades para estabelecer prioridades e dificuldades na
modulação do comportamento com base em pistas sociais.

No aspecto do prognóstico da esquizofrenia, dentro das diversas formas do transtorno em cada paciente, observamos casos de prognóstico mais
favorável e casos de prognóstico muito complicado.

Sendo assim, os fatores que influenciam o transtorno esquizofrênico são:


Fatores que melhoram o prognóstico expand_more

Início tardio e de forma aguda;


Predomínio dos sintomas positivos sobre os negativos especialmente durante a fase aguda; e

Bom sistema de apoio familiar e social.

Fatores que pioram o prognóstico expand_more

Início precoce e insidioso;

Isolamento social;

Autismo;

Sintomas negativos (déficits de comportamento);

História familiar de esquizofrenia; e

Episódios de reagudização sintomatológica.

Agora que já conhecemos os aspectos gerais da esquizofrenia, é preciso conhecer seus diferentes tipos:

Esquizofrenia simples

Surge de forma insidiosa e progressiva com excentricidade do comportamento, incapacidade de responder às exigências sociais e
queda no desempenho global. Os sintomas negativos mais marcantes são o embotamento afetivo e a volição.

Esquizofrenia paranoide

Tipo mais comum e que melhor responde ao tratamento. Em geral, manifesta-se de forma tardia no portador, aparecendo por volta
dos 25 ou 30 anos de idade. É considerada menos deteriorante, possibilitando melhor manutenção de medicamentos e controle dos
sintomas. Nesse tipo de esquizofrenia, observa-se a predominância de delírios (perseguição, de grandeza, missão especial, mudanças
corporais e ciúme), alucinações auditivas bem estruturadas (vozes alucinatórias ameaçadoras ou que lhe dão ordens), alucinações
auditivas sem conteúdo verbal (assobios, zunidos, risos) e alucinações olfativas ou gustativas, de sensações sexuais ou corporais.

Esquizofrenia hebefrênica

Caracteriza-se pelo início precoce (antes dos 20 anos) e por alterações em nível de concentração, pouca coerência de pensamento
(pensamento desorganizado, discurso incoerente), pobreza de raciocínio, discurso infantil e cheio de divagações (afeto pueril). Os
portadores desse transtorno costumam fazer comentários fora do contexto ou se desviam totalmente do tema da conversa e
apresentam alterações afetivas dominantes, risos imotivados, caretas, maneirismo, queixas hipocondríacas ou somáticas.

Esquizofrenia catatônica

É ti f t C t i t t i t difi lt i d l ã i é
É o tipo menos frequente. Caracteriza-se por transtornos psicomotores que dificultam ou impedem a locomoção; com isso, é comum
que os portadores passem horas sentados na mesma posição. A falta de fala também é frequente nesse grupo. Os portadores desse
transtorno podem alternar com atividade motora excessiva e agressiva. Além disso, apresentam estupor, com perda de toda atividade
espontânea, atingindo mímica, fala, gestual e marcha. Apresentam também excitação, posturas, inadequadas, negativismo, mutismo,
estereotipias e fala e comportamento desorganizados.

Esquizofrenia indiferenciada

Caracteriza-se por transtornos psicóticos que preenchem os critérios do diagnóstico de esquizofrenia, porém, não apresentam
características marcantes para se enquadrar em algum grupo.

Esquizofrenia residual

Estágio crônico no desenvolvimento de um transtorno esquizofrênico, no qual houve uma progressão clara de um estágio inicial para
um estágio mais tardio, caracterizado por sintomas negativos de longa duração (embora não necessariamente irreversíveis), ou seja,
várias sequelas. As sequelas podem se manifestar no autocuidado, na autonomia, no autocontrole, no relacionamento interpessoal,
no funcionamento cognitivo e no funcionamento laboral.

Uso de psicofármacos no tratamento de psicoses


Por ser a psicose um transtorno complexo, as abordagens de tratamento devem ser multifacetadas e multiprofissionais. Nesse contexto, os
antipsicóticos são o grupo farmacológico utilizado no tratamento de indivíduos que apresentem sintomatologia psicótica.

Sua ação é paliativa e não curativa, diminuindo ou cessando os sintomas psicóticos, o impulso agressivo e de agitação psicomotora, assim como
contribuindo com a diminuição ou o desaparecimento gradual dos quadros de alucinação e delírio. Em mulheres, os antipsicóticos apresentam
melhor resposta a menores doses, devido à possível interferência hormonal.

Atualmente, utilizam-se dois tipos de antipsicóticos:

Antipsicóticos típicos expand_more


Os antipsicóticos típicos possuem a capacidade de bloquear os receptores de dopamina em todo o cérebro. Essa ação demonstrou ser
responsável não apenas pela sua eficácia, mas também pela maioria dos efeitos colaterais indesejáveis. As ações terapêuticas dos
antipsicóticos convencionais devem-se ao bloqueio de dopamina especificamente na via mesolímbica, envolvida nos sintomas positivos da
esquizofrenia. São exemplos de antipsicóticos típicos: haloperidol; flufenazina; clorpromazina, levomepromazina, tioridazina, sulpirida,
zuclopentixol, pipotiazina.

Antipsicóticos atípicos expand_more

Já os antipsicóticos atípicos atuam ao estabilizar a neurotransmissão dopaminérgica em um estado entre o antagonismo silencioso e a
estimulação completa (ação agonista), atuando como agonistas parciais dos receptores de dopamina. São exemplos de antipsicóticos
atípicos: clozapina, olanzapina, risperidona, ziprazidona, aripiprazol, quetiapina.

Transtornos de personalidade
A personalidade pode se expressar como uma estrutura que caracteriza a forma como o sujeito encara a realidade psicofísica e interage com o
meio, manifestando-se por meio do comportamento, cujas características são peculiares em cada pessoa (MARCOLAN; CASTRO, 2013).

Já os transtornos de personalidade são distúrbios graves do comportamento, envolvendo todas as áreas de atuação da pessoa e resultando em
considerável ruptura pessoal e social. O transtorno se caracteriza por resposta de má-adaptação social crônica e por um estilo pessoal de vida mal-
adaptado, inflexível e prejudicial a si próprio e/ou aos conviventes. Assim, é possível entender os transtornos de personalidade como uma
acentuada modificação nos traços emocionais e comportamentais dos indivíduos. Em outras palavras, os transtornos de personalidade se
manifestam quando esses traços se tornam inflexíveis e mal-adaptados.

As principais características do transtorno de personalidade são:

atitudes e condutas marcadamente desarmônicas, envolvendo todas as áreas de funcionamento (trabalho, família e sociedade);
padrão anormal de comportamento (constante e de longa duração); comportamento inflexível;
baixa tolerância ao estresse;
negação dos comportamentos desajustados; com isso, raramente o portador busca tratamento apesar de os problemas sociais ou ocupacionais
e as manifestações aparecem na infância ou adolescência e permanecerem na vida adulta.

Não há uma causa específica descrita sobre os transtornos de personalidade. O que tem se adotado é a atribuição de um conjunto de fatores
associados, como constitucionais e evolutivos, biológicos, ambientais e socioculturais. Outra possível causa pode estar relacionada com as
vivências na infância e na adolescência.

Fatores de desenvolvimento

No que se refere aos fatores de desenvolvimento, observa-se a incapacidade de desenvolvimento da autonomia, com uma figura
materna percebida de forma ambivalente (ora carinhosa, ora punitiva e cheia de ódio), um ambiente doméstico caótico, pais
inconstantes e impulsivos e, por fim, um sistema familiar instável.

Fatores biológicos ou genéticos


Já t f t bi ló i éti i i d t d t tã d di i ã f ili
Já quanto aos fatores biológicos ou genéticos, a maioria dos estudos aponta a questão da predisposição familiar.

Fatores socioculturais

Por último, tem-se a etiologia dos fatores socioculturais, na qual o isolamento social pode resultar da adoção de normas,
comportamentos e sistemas de valores que diferem da cultura da maioria.

Na classificação dos transtornos de personalidade, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM-5) existem três
grandes grupos:

Grupo A
Comportamentos descritos com estranhos ou excêntricos.

Grupo B
Comportamentos descritos como dramáticos, impulsivos, emocionais ou erráticos.

Grupo C
Comportamentos descritos como ansiosos ou medrosos.

No grupo A temos os seguintes tipos de transtornos de personalidade:

Transtornos de personalidade esquizoide

Caracteriza-se pelo afastamento dos contatos sociais e afetivos, pela indiferença a elogios, críticas, emoções e aos sentimentos dos outros, pelo
padrão de distanciamento das relações sociais, pela ausência de sentimentos carinhosos e intensos pelos outros, pela timidez, pelas
excentricidades, pela incapacidade de expressar hostilidade e agressividade. O portador desse transtorno mostra-se introvertido, solitário,
ensimesmado, reservado, retraído, isolado, emocionalmente frio e socialmente distante, caracterizando-se pelo retraimento social, pelo afeto
brando e constrito, pela frieza emocional, falta de amigos íntimos, falta de interesse em ter relações sexuais, preferência por passatempos
solitários.
Transtorno de personalidade esquizotípico

Tem como característica várias excentricidades no pensamento, na percepção, na fala e no comportamento, pensamento mágico (convicção de
que pensar equivale a fazer; ausência de relação realista entre causa e efeito), ideação paranoide, ilusões, despersonalização (sensação de ter
perdido a própria identidade, de ser diferente), peculiaridade na escolha de palavras, isolamento social e afeto inadequado isolado, com
pensamentos, percepções e comunicação excêntricas. As hipóteses sobre causas são: fator hereditário (mais comum quando há parentes
esquizofrênicos), dinâmicas familiares caracterizadas por indiferença ou formalidade, o que provoca desconforto em relação à afeição e à
intimidade pessoal, social e emocional.

Transtorno de personalidade paranoide

Possui como característica a sensibilidade excessiva a rejeições; recusa a perdoar insultos; tendência a culpar e atribuir intenções maldosas a
outros; suspeita injustificada, hipervigilância; inveja patológica; interpretação dos motivos das outras pessoas como uma ameaça a si próprio;
afeto restrito, evidenciado pela falta de carinho e pelo senso de humor deficiente; desejo intenso de vingança que pode levar à violência, mas as
explosões são breves e logo o controle externo é recuperado. Há uma possível ligação hereditária, pois observa-se maior incidência desse
transtorno quando o indivíduo possui parentes com esquizofrenia e perda de afeição e de aprovação na infância. Estima-se que cerca de 0,5% a
2,5% da população tenha esse transtorno e não saiba.

No grupo B, temos os seguintes tipos de transtornos de personalidade:

Transtorno de personalidade antissocial

São mais comuns em homens (cerca de 3%), e em 1% das mulheres. Geralmente, são resultado de frequente história de abuso ou negligência por
figuras parentais, ambiente familiar caótico, maus-tratos físicos, pais impulsivos e inconsistentes, privação parental nos primeiros cinco anos de
vida. Os portadores desse transtorno apresentam padrão de violação e desrespeito aos direitos e sentimentos das outras pessoas, ausência de
culpa ou de aprendizado com a experiência, incapacidade de manter relacionamentos interpessoais próximos, baixa tolerância à frustração, além
disso, demonstram agressividade, são egoístas, rudes, irresponsáveis e desleais. Observa-se também a incapacidade de se conformar às normas
sociais, de experimentar culpa e de aprender com a experiência. Gostam do exercício do poder e da destrutividade sobre os outros. Caracterizam-
se por história de comportamento antissocial persistente, com distúrbio de conduta evidente antes dos 15 anos e fraco desempenho na escola ou
no trabalho.

Transtorno de personalidade borderline (limítrofe)

Aproximadamente 1 a 2% da população tem esse tipo de transtorno. Caracteriza-se pelo limite entre neurose e psicose, pela mistura de sintomas
neuróticos e psicóticos, e pela instabilidade nas emoções e no comportamento interpessoal. É marcada por relacionamentos intensos e instáveis,
com autoimagem perturbada, sentimentos crônicos de vazio, ideias de suicídio, comportamento impulsivo e imprevisível, relações objetais e
autoimagem extraordinariamente instáveis. É também chamado de transtorno da personalidade emocionalmente instável. Os portadores desse
transtorno apresentam atos destrutivos repetidos, relacionamentos interpessoais tumultuados, alterações profundas e impróprias no humor e no
afeto, dúvidas a respeito de si mesmo, de sua identidade como pessoa, de seu comportamento sexual, de sua carreira profissional, e parecem
estar sempre em crise. Esse transtorno pode ser resultado de um comportamento de dependência em relação à figura parental, como também de
um relacionamento familiar hostil e conflituoso.

Transtorno de personalidade histriônica

Caracteriza-se por um padrão de querer chamar a atenção, ser o centro das atenções. O portador apresenta comportamento sexual sedutor,
inadequado e provocativo, com expressão superficial das emoções. Além disso, ele preocupa-se com a aparência física e adota um discurso
excessivamente impressionista, com teatralidade, expressão exagerada de emoções. É sugestionável e no relacionamento com os outros tende a
assumir uma postura mais íntima do que realmente é do que é.

Transtorno de personalidade narcisista

O portador desse transtorno caracteriza-se pela crença de ser extremamente importante, exagerando conquistas e talentos. Costuma fantasiar
poder e sucesso, acredita ser especial e único, buscando se relacionar apenas com pessoas consideradas importantes. O indivíduo com esse tipo
de transtorno espera ser sempre reconhecido e admirado como grandioso, acreditando ter direitos especiais. Geralmente, busca explorar os
outros, pois os considera inferiores, não sente empatia, é invejoso, arrogante e insolente.

No grupo C, temos os seguintes tipos de transtornos de personalidade:

Transtorno de personalidade dependente

Os portadores desse transtorno subordinam suas próprias necessidades às de outrem, não possuem autoconfiança, apresentando insegurança,
passividade, falta de perseverança, dificuldade de tomar decisões no dia a dia. É comum que outras pessoas assumam a responsabilidade pelas
principais áreas de sua vida. Apresentam comportamento submisso, passivo e inseguro, bem como preocupação e medo de abandono. Esse
transtorno é mais comum em mulheres e filhos de pais superprotetores que desencorajam comportamentos independentes.

Transtorno de personalidade evitativa

As principais características desse transtorno são evitação de atividades que envolvam contato interpessoal por temor de ser alvo de crítica,
desaprovação ou rejeição. O portador desse transtorno evita se relacionar, a não ser que tenha certeza de que será bem recebido. É reservado,
pois teme passar por algum tipo de constrangimento. Apresenta sentimento de inadequação, autopercebendo-se socialmente incapaz.

Transtorno de personalidade anancástico

Caracteriza-se por sentimentos de dúvida, perfeccionismo, meticulosidade em excesso, verificação e preocupação com detalhes, teimosia e
rigidez. Podem ocorrer pensamentos ou impulsos persistentes, mas que não são tão graves como o transtorno obsessivo compulsivo. Costuma
suscitar sentimento de cautela e preocupação com detalhes, ordem e listas. Nesse caso, o perfeccionismo atrapalha a conclusão de tarefas. Os
portadores desse transtorno tendem ao pedantismo e às convenções sociais. Além disso, insistem de forma exagerada que outras pessoas se
submetam exatamente à sua maneira de realizar as coisas.
No aspecto farmacológico, os transtornos de personalidade são tratados com psicoterapia além de neurolépticos, antidepressivos, antimaníacos e
ansiolíticos. É importante destacar que são tratamentos bastantes difíceis e igualmente demorados, pois, em se tratando de mudanças de caráter, o
indivíduo terá de mudar o seu próprio "jeito de ser" para que o tratamento seja efetivo.

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Os diferentes transtornos de personalidade
A especialista Julia Teixeira fala sobre os diversos grupos e tipos de personalidade.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A esquizofrenia que se caracteriza pela presença de atitudes bizarras, afeto pueril, com início ainda na adolescência, é a

A hebefrênica.

B paranoide.

C catatônica.

D residual.

E simples.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A esquizofrenia hebefrênica caracteriza-se por comportamentos bizarros, além de desorganização de pensamento, afeto infantilizado (pueril),
com início precoce, ainda na adolescência.

Questão 2

É um distúrbio grave do comportamento, envolvendo todas as áreas de atuação da pessoa, resultando em considerável ruptura pessoal e
social. O transtorno de personalidade, que tem como característica a desconfiança generalizada e imotivada, manifestada por ciúme, inveja,
irritabilidade e hostilidade, é conhecido como

A transtorno esquizoide.

B transtorno antissocial.

C transtorno esquizotípico.
D transtorno limítrofe.

E transtorno paranoide.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O transtorno de personalidade paranoide tem início próximo à idade adulta e se caracteriza por desconfiança generalizada e imotivada, em que
o paciente tem comportamentos manifestados por ciúme, inveja, irritabilidade e hostilidade.

4 - O cuidado aos pacientes com transtornos dismórficos corporais (TDC)


Ao final deste módulo, você será capaz de avaliar sinais e sintomas e os principais psicofármacos envolvidos no cuidado aos
pacientes com transtornos dismórficos corporais (TDC).

Fatores socioculturais e epidemiologia dos transtornos dismórficos


corporais
O advento das redes sociais tem levado jovens e adolescentes a buscarem um ideal de corpo e imagem que nem sempre é possível, o que tem
gerado uma grande preocupação nos especialistas. Em geral, indivíduos que não sofrem de TDC são capazes de reconhecer o seu defeito como
mínimo ou inexistente.

Os portadores de TDC apresentam um comportamento perceptivo “distorcido” em relação à imagem corporal e uma preocupação com uma
“anomalia imaginária” na aparência ou exagerada em relação a uma imperfeição corporal identificada.

Tais comportamentos acarretam importantes prejuízos no funcionamento pessoal, familiar, social e profissional. Essas pessoas se atêm a questões
corporais, envolvendo uma ou mais preocupações. O nível de distorção da autopercepção pode variar de baixo, quando a pessoa se reconhece
como “não atrativa” ou “inadequada”, podendo aparecer níveis mais extremos, nos quais a pessoa se autopercebe como “um monstro”, gerando
enorme prejuízo e sofrimento.

Segundo Brito et.al. (2010), indivíduos com TDC podem sentir-se atraentes, entretanto, não o suficiente. Por isso, esses pacientes, apesar de
perceberem melhora após uma intervenção cirúrgica, não ficam suficientemente satisfeitos. A crença de que "sempre poderão melhorar" pode
provocar nesses indivíduos um comportamento aditivo, em uma busca incansável por procedimentos estéticos e cirúrgicos.

Dados epidemiológicos apontam que as pessoas com transtorno dismórfico corporal buscam procedimentos estéticos e cirurgias plásticas para
corrigir um defeito percebido, chegando a uma prevalência de 24%. Muitos pacientes buscam os consultórios de cirurgia plástica, em vez de
procurar tratamento com psiquiatras ou psicólogos, pois acreditam estar lidando com um defeito corporal, e não como um transtorno mental.

Características do TDC
O transtorno pode se manifestar, incialmente, na infância e na adolescência, pois é o momento em que se está mais suscetível às mudanças na
aparência. No caso, homens, quando diagnosticados com TDC, tendem a ter sintomas mais graves, apresentando uma preocupação maior com o
órgão genital, a constituição corporal e a perda de cabelo, enquanto as mulheres preocupam-se mais com a aparência da pele, o peso, o quadril e as
pernas.

Atenção!

É possível que alguns pacientes com TDC tenham sintomas obsessivos-compulsivos que não revelam, pois se sentem envergonhados, o que não
ocorre com a forma com a qual lidam com suas preocupações estéticas. Além das alterações de pensamento, grande parte das pessoas com TDC
apresentam alterações da sensopercepção, como sensações táteis, que podem colaborar para o aumento dos sintomas.

O TDC passou a constar no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III) em 1980, como um transtorno somatoforme atípico
chamado dismorfobia (FANG et al., 2014). Atualmente, o TDC não é mais classificado como uma das manifestações dos transtornos somatoformes,
mas sim como manifestação do chamado espectro do transtorno obsessivo compulsivo, devido aos pensamentos e comportamentos compulsivos
presentes no TDC (FANG et al., 2014).

Uma pessoa com esse transtorno tende a ser muito angustiada por seus defeitos imaginários ou por alguma pequena anomalia física. O DSM-5
estabelece quatro critérios de diagnósticos para que o TDC seja caracterizado:

O indivíduo preocupa-se com um defeito na aparência física (que não são observáveis ou aparentam ser mínimos para os outros) e,
se uma anomalia mínima é identificada, tem preocupação marcadamente excessiva com ela.
Durante o curso da doença, o indivíduo realiza comportamentos repetitivos (por exemplo, verificações no espelho, escoriação
neurótica e pedido de opinião de amigos e familiares sobre o defeito) ou atos mentais (por exemplo, comparando a sua aparência
com a dos outros) em resposta aos problemas de aparência.

A preocupação deve causar estresse significativo ou prejuízo na vida social, ocupacional ou outras áreas do funcionamento.

As queixas não podem ser caracterizadas como outro transtorno mental, tais como a anorexia nervosa.

Os principais sinais e sintomas desse tipo de transtorno são:

preocupação excessiva com determinadas partes do corpo;


dificuldade para se concentrar em outras coisas do dia a dia;
baixa autoestima;
constante averiguação de si mesmo no espelho ou fuga do espelho; e
tendência a evitar a vida social ou atividades em que a parte considerada com defeito possa ficar exposta.

Especificações no TDC e psicofarmacologia


A dismorfia muscular é uma variação do TDC e se caracteriza pela preocupação em relação à estrutura corporal, a qual é considerada como muito
inferior ou insuficiente. Na maioria das vezes, a pessoa apresenta mais de uma preocupação sobre a sua imagem corporal, e quando uma delas se
refere à sua estrutura muscular, é importante que seja feita a especificação por parte do profissional. A dismorfia muscular acontece quase que
exclusivamente em homens, ainda que eles apresentem uma aparência normal.

Outras especificações importantes no diagnóstico são relativas ao nível de insight. Em outras palavras, é importante destacar o quão ciente a
pessoa se encontra sobre a não veracidade das crenças que tem sobre a sua imagem corporal. Esse nível de insight pode variar entre bom ou
razoável, passando por pobre, até chegar a ausente ou com crenças delirantes, nível no qual o paciente está convencido de que suas crenças são
totalmente verdadeiras e se considera uma pessoa hedionda.

Muitos pacientes com TDC acreditam serem julgados pelos outros, apresentando delírios de referência. Esse transtorno está fortemente associado
a altos níveis de ansiedade, ansiedade social, humor deprimido e baixa autoestima. Em casos extremos, a pessoa chega a realizar em si mesmo
procedimentos cirúrgicos. Na maioria dos casos, todos os procedimentos de correção que a pessoa tenta realizar não resolvem o problema, o qual
pode se manifestar na mesma região do corpo ou em um novo local.
É importante salientar que os transtornos dismórficos podem apresentar relação com os transtornos alimentares, principalmente a anorexia
nervosa, em que a pessoa possui também dificuldade para se relacionar com outras pessoas. Os sintomas em ambos os transtornos são
semelhantes, no entanto, é importante fazer a distinção e o acompanhamento no longo prazo por uma equipe multiprofissional, já que há grande
probabilidade de abandono do tratamento nos primeiros meses.

A anorexia nervosa é caracterizada por declínio da ingestão de alimentos, manutenção da perda de peso e
alterações nas funções vitais, como: hipotensão bradicardia, taquicardia, baixa temperatura corporal, alterações
nos exames laboratoriais, além de um alto risco de suicídio.

Apesar de todo o avanço nos estudos das psicopatologias, a causa do transtorno dismórfico corporal ainda é desconhecida, acredita-se estar
relacionado com a deficiência de serotonina, ser influenciado por fatores genéticos e pela educação da criança, em um meio em que há uma
preocupação excessiva com a imagem.

Recomendação

No que diz respeito ao tratamento, na abordagem psicofarmacológica ao transtorno dismórfico corporal, é indicado o uso de inibidores seletivos da
recaptação da serotonina (ISRS), a partir de seu diagnóstico, tendo como critérios os manuais como o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças (CID).

Como foi possível perceber, o transtorno dismórfico corporal ainda recebe pouca atenção na rede de atenção psicossocial e na literatura, sendo
necessário ampliar o debate e as pesquisas, para que uma melhor assistência possa ser ofertada.

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Diferenças entre os TDC e os transtornos alimentares
A especialista Julia Teixeira fala sobre as diferenças entre os TDC e os transtornos alimentares e o adequado acompanhamento psicoterápico e
farmacológico em cada caso.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Transtorno que é caracterizado por um comportamento perceptivo distorcido em relação à imagem corporal é o

A transtorno de pensamento.

B transtorno de personalidade.

C transtorno dismórfico corporal.

D transtorno de humor.
E transtorno de ansiedade.

Parabéns! A alternativa C está correta.

O transtorno dismórfico corporal é caracterizado por um comportamento perceptivo distorcido em relação à imagem corporal e uma
preocupação com um defeito imaginário na aparência ou inquietação exagerada em relação a imperfeições corporais identificadas.

Questão 2

Transtorno mental de ordem alimentar que comumente é confundido com o transtorno dismórfico corporal é chamado de

A bulimia nervosa.

B anorexia nervosa.

C obesidade.

D melancolia.

E depressão

Parabéns! A alternativa B está correta.

O transtorno dismórfico corporal e a anorexia nervosa possuem sintomas semelhantes: em ambos os casos a pessoa possui dificuldade para
se relacionar com outras pessoas.

Considerações finais
Como vimos, conhecer e aplicar o exame psíquico e identificar os diversos tipos de transtornos mentais e os principais psicofármacos são etapas
fundamentais para assegurar uma assistência em saúde mental de qualidade. A identificação e a correta intervenção nos fatores que levam ao
adoecimento psíquico tornarão os serviços de saúde, e consequentemente a assistência, mais eficientes e eficazes.

O caminho a ser percorrido para a qualificação e consolidação de uma assistência em saúde mental requer do profissional de saúde um bom
conhecimento técnico, a construção do vínculo terapêutico e a comunicação adequada.

Faz-se necessário, assim, que a formação seja pautada em aspectos éticos, no fortalecimento das políticas públicas de saúde e no conhecimento
técnico. Desse modo, será possível mudar a realidade e construir um ciclo de renovação focado na qualidade de vida e na saúde mental da
população.
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Podcast
Agora, a especialista Julia Teixeira encerra o tema falando sobre as responsabilidades técnica e ética do profissional de saúde em aplicar o exame
psíquico. Além disso, identificará os diversos tipos de transtornos mentais e os principais psicofármacos usados no tratamento.

Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Diagnostic and statistical manual of mental disorders 5th: DMS-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BONFIM, G, W. et al. Transtorno Dismórfico Corporal: revisão da literatura. Contextos Clínicos, v. 9, n. 2, jul.-dez. 2016.

CONRADO, L. A. Transtorno dismórfico corporal em dermatologia: diagnóstico, epidemiologia e aspectos clínicos. Anais Brasileiros de
Dermatologia, v. 84, n. 6, p.569-581, 2009.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

BRITO, M. J. de et al. Abdominoplasty and its effect on body image, self-esteem, and mental health. Ann Plast Surg, v. 65, n. 1, p. 5-10, 2010.

FANG, A.; MATHENY, N.L.; WILHELM, S. Body dysmorphic disorder. Psychiatric Clinics of North America, v. 37, n. 3, p.287-300, 2014.

LAURENCE, L. B. et al. Goodman e Gilman: as bases farmacológicas da terapêutica. Revisão e conteúdo Almir Lourenço da Fonseca. Rio de Janeiro:
McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2006.

MARCOLAN, J. F.; CASTRO, R. C. B. R. Enfermagem em saúde mental e psiquiátrica: desafios e possibilidades do novo contexto do cuidar. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2013.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. CID 11. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados a saúde. 2018.
Consultado na internet em: 13 dez. 2021.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Depression and Other Common Mental Disorders Global Health Estimates. Geneva, Switzerland: WHO, 2017.

Explore +
Assista:

Ao material Avaliação do estado mental, produzido pelo Telessaúde do Mato Grosso, que faz parte do Telessaúde Brasil Redes.

Ao programa Ligado em Saúde, do Canal Saúde da Fiocruz, com tema Borderline, para tratar o tema do Transtorno Borderline.

Leia:

O texto Transtorno Dismórfico Corporal: revisão da literatura, publicado na Revista Contextos Clínicos, v. 9, n. 2, p. 240-252, jul.-dez. 2016.
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