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NEUROCIÊNCIA

FERNANDA MÁRIO BRENTEGANI

CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA NO TRATAMENTO DA


OBESIDADE

NAVEGANTES -SC
2020
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA NO TRATAMENTO DA OBESIDADE

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja
parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e
corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de
investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação
aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO- Este artigo almeja elucidar a importância do conhecimento em neurociência no


tratamento da obesidade, bem como apresentar a análise da metodologia desenvolvida pela autora
Fernanda Mário Brentegani no livro “Guia prático de emagrecimento para terapeutas” que tem como
objetivo, ativar áreas cerebrais para que o emagrecimento aconteça de maneira saudável e
duradoura. Trata-se de uma pesquisa de campo, de análise documental e de natureza qualitativa.
Foram utilizados prontuários de 20 clientes de ambos os gêneros e com idades entre 25 a 40 anos.
Ao verificar como o indivíduo vivencia seu dia a dia, é importante considerar, que não tem como
garantir um emagrecimento definitivo e duradouro, sem tratar a raiz do problema que se encontra na
mente. Para que o emagrecimento ocorra como aprendizagem de um novo hábito congruente de uma
pessoa magra, o terapeuta precisa trabalhar 4 engrenagens cerebrais sendo elas, pensamento,
sentimento, comportamento e um novo discurso padrão. Das sessões aplicadas, pode-se observar
que houve uma respectiva melhora a nível físico, mental e social do paciente, ou seja, a metodologia
atuou na mudança de hábitos, estilo e qualidade de vida, melhora da compulsão alimentar,
autopercepção e autoconfiança, sendo o emagrecimento apenas a consequência de toda a
transformação adquirida no decorrer das sessões.

PALAVRAS-CHAVE: Neurociência. Emagrecimento. Reprogramação da mente. Aprendizagem.


Mente magra.
INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença que acomete grande parte da população mundial,


sendo responsável por causar inúmeros problemas de saúde, como por exemplo,
diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, placa de ateroma, câncer,
esteatose hepática, problemas respiratórios, entre outros, podendo levar inclusive o
indivíduo a morte.
Além das questões de saúde, a obesidade pode ter como consequências,
desequilíbrios emocionais como baixa aceitação, sentimento de frustração,
insegurança, problemas de relacionamento, conflitos, isolamento social, stress e até
depressão. Outra questão que merece destaque, é que são várias as dores que um
sujeito passa por se encontrar acima do peso, como situações de preconceito,
constrangimento no seu dia a dia que afetam suas relações sociais, no trabalho,
intimidade, lazer, ao experimentar uma roupa, se olhar no espelho, ao se ver
limitado em suas atividades, entre outros.
Além do entendimento das suas complicações, para tratar obesidade é
importante conhecer a fundo os múltiplos fatores as quais ela é gerada (genética,
problemas endócrinos, metabólicos, emocionais e comportamentais) para que o
profissional consiga identificar sua causa e tratar a raiz do problema.
Dentro deste contexto, a neurociência só tem a agregar no tratamento da
obesidade, principalmente para tratar fatores emocionais, comportamentais e
mudanças de hábitos, pois entende-se que o pilar do emagrecimento duradouro tem
seu inicio na transformação da mente, e na mudança de atitudes, sendo o
emagrecimento apenas uma consequência desta transformação.
O grande fracasso das pessoas que procuram emagrecimento ocorre por
acreditar que dietas da moda, métodos rápidos e “milagrosos”, procedimentos
estéticos e cirurgias irão resolver sem tratar raiz do problema.
Outra questão que merece ser levada em consideração, é a falta de adesão
ao tratamento, nesse sentido, é comum uma pessoa iniciar uma dieta, se matricular
na academia e desistir no meio do caminho. Isso ocorre porque elas se sabotam,
desanimam, pois, o indivíduo obeso tem enraizado em sua mente pensamentos,
crenças, sentimentos e comportamentos que os levam a engordar, e por mais que
ele se encontre mais magro e realizando pontualmente ações para emagrecer, se
não aprende a pensar com uma mente magra, ele engorda.
É válido lembrar que, muitas pessoas que estão acima do peso sofrem de
compulsão alimentar (TCAP) ou descontam na comida as suas emoções em
desequilíbrios, faltas, traumas, e buscam alimentos de forma compulsiva, impulsiva
e exagerada como forma de alívio ou prazer imediato.
Destarte, a pessoa só tem sucesso no emagrecimento definitivo quando a
compulsão, emoções, pensamentos e comportamentos são ressignificados, e um
novo padrão de aprendizagem, pensamento e comportamentos estabelecidos.
Assim, é preciso estimular novas conexões neurais para o sujeito parar de agir
dominado pelo seu sistema límbico, e ativar áreas cerebrais como o córtex pré-
frontal (área racional e do pensamento analítico).
Para trabalhar estas áreas cerebrais e ativar novas conexões neurais do
cliente de emagrecimento, foi criado uma metodologia a qual será explicitada e
validada neste trabalho.
Este artigo tem como objetivo geral elucidar a importância do conhecimento
em neurociência no tratamento da obesidade, bem como apresentar a análise da
metodologia desenvolvida pela autora Fernanda Mário Brentegani no livro “Guia
prático de emagrecimento para terapeutas”, cujo objetivo é ativar áreas cerebrais
para que o emagrecimento aconteça de maneira saudável e duradoura. Nesse
sentido, quem lê este artigo, poderá lançar mão deste estudo para aprimorar os
procedimentos já utilizados e gerar mais resultados e adesão do cliente ao
tratamento.
O tema deste trabalho é relevante na medida em que, com tantos os
problemas gerados pela obesidade, ela não deve ser vista meramente sob o âmbito
da estética. Nesse sentido, o conhecimento da neurociência e de como esses
processos se desenvolvem na mente do indivíduo, irá trazer a luz como eles podem
ser transformados e enraizados através da neuroplasticidade e da formação de
novas conexões neurais.
Todo este processo se torna fundamental e imprescindível para que o
emagrecimento seja alcançado de maneira saudável, definitiva e interiorizado, sem
que o sujeito necessite apelar por remédios, cirurgias e procedimentos estéticos,
que sempre vem acompanhado de riscos e efeitos colaterais na saúde.
Trata-se de uma pesquisa de campo, de análise documental e de natureza
qualitativa. A análise qualitativa procura estabelecer uma compreensão dos dados
coletados, confirmando ou não os pressupostos da pesquisa, ampliar o
conhecimento sobre o assunto e encontrar uma categoria que abranja elementos ou
aspectos que se relacionam entre si, estabelecendo classificações (MINAYO, 2001).
Para a análise de dados foram utilizados 20 prontuários de pacientes que se
apresentavam em graus diferentes de obesidade, e que se submeteram a 10
sessões de emagrecimento. Para cada sessão foi utilizado um questionário
específico elaborados pela autora e publicados no livro “Guia prático de
emagrecimento para terapeutas”, que foram pensados através das técnicas de
Programação Neurolinguística (PNL), técnica que usa a linguagem para ajudar
indivíduos a mudar seus pontos de vista e crenças (ROMILLA & Kate, 2014) e
Terapia Cognitivo-Comportamental, abordagem considerada diretiva, breve focada
no problema atual do paciente (Beck e Judith, 2013), com o objetivo de modificar
estruturas neuronais para que o cliente ao longo do trabalho apresentasse um novo
padrão mental e comportamental congruente de uma pessoa magra e a
aprendizagem de hábitos mais saudáveis.

1 DESENVOLVIMENTO

Define-se neurociência a ciência que estuda o sistema nervoso, sua estrutura,


desenvolvimento, evolução, relação com o comportamento, com a mente e suas
relações (Guerra,2011; Bear,2002).
Dentro da neurociência existe um conceito chamado “neuroplasticidade” que
nada mais é do que a capacidade que o cérebro tem de se recuperar e estabelecer
novas conexões neurais (Lent,2002). Sendo assim, se um indivíduo muda a sua
forma de pensar, agir e sentir ele pode transformar a sua realidade, ou seja, se uma
pessoa que se encontra acima do peso aprendeu a ter uma mente gorda e um
comportamento que a mantém neste padrão, ela pode muito bem reprogramar a sua
mente para pensar e se comportar diferente, condizente com uma pessoa magra.
Veja bem: quando algum comportamento se repete, o cérebro cria vias
sinápticas mais rápidas, de maneira que uma ação aciona a seguinte de forma
quase automática. As conexões sinápticas nada mais são do que as comunicações
realizadas entre os neurônios (Brust,2000). Dentro deste contexto, o cérebro deve
ser estimulado para o paciente emagrecer, ou seja, para que o processo seja
satisfatório e duradouro, o indivíduo precisa mudar de dentro para fora, aprendendo
novos pensamentos, sentimentos e comportamentos referentes a sua alimentação,
prática de atividade física, hábitos e estilo de vida.
Para entender melhor, imagine um indivíduo que passou por um processo de
emagrecimento que se encontra 30 quilos mais magro. De repente, ele se vê com
um corpo magro, mas com a cabeça de uma pessoa obesa e com os hábitos
antigos, consequentemente, tempos depois ela volta a engordar progressivamente
até voltar a forma antiga, ou engordar ainda mais.
Se este paciente for programado para ter uma mentalidade magra e hábitos
mais saudáveis, irá conseguir emagrecer e se manter em forma (Brentegani,2020).
Para que isso aconteça, é preciso a criação de outra estrada neurológica que se
forma através de um novo pensamento, comportamento e um discurso padrão
diferente. Tudo isso, é realizado através de novas conexões neurais que são pontes
feitas entre as células nervosas para a transformação de sinais elétricos ou
químicos.
O nosso cérebro tem cerca de 86 bilhões de neurônios que estão transmitindo
sinais elétricos através de nossos pensamentos a todo o instante, moldando assim a
realidade, personalidade e crenças de um indivíduo. Por exemplo, quando uma
pessoa pensa que não vai dar certo, que não é possível emagrecer, que o
emagrecimento não é para ela, no seu cérebro, isso irá se tornar uma verdade,
porque é o que ela percebe da sua realidade, e com isso, acabará criando uma
conexão neural, que se formará com a informação recebida do meio e, seu
comportamento diário irá corresponder ao pensamento que está tendo de si
(Brentegani,2020).
Quando uma pessoa está passando por um processo de emagrecimento, é
fundamental para o sucesso de seu tratamento que sua mente seja trabalhada para
que seja possível emagrecer definitivamente. O indivíduo necessita ter consciência
de que através do seu pensamento e intenção, ele cria sua própria realidade.
Para que você entenda melhor tudo que está sendo descrito, existe uma área
de estudos da biologia chamada Epigenética onde explica que nossa saúde,
características e predisposições não se encontram apenas em nossos genes.
Através da Epigenética é possível entender que podemos inclusive mudar o nosso
DNA através de variações não genéticas adquiridas durante a vida, como por
exemplo, influência ambientais e hábitos cotidianos.
Segundo essa ciência, é possível alterar o comportamento dos genes, sem
modificar o código genético, e isso tem uma influência muito grande no tratamento
da obesidade (Francis, 2015).
Dentro deste contexto, baseado em todos os princípios da neurociência, a
pessoa passa a “ser” e se “comportar” de acordo com que ela pensa e acredita, e
para que um indivíduo pense com uma mente magra, ela precisa aprender novos
hábitos. Segundo o psicólogo Maxuel Malt (1972), toda pessoa é capaz de aprender
um novo hábito, para isso, ela precisa repetir esta nova atitude/comportamento
todos os dias entre 21 a 60 dias seguidos para que se torne um hábito automático
em sua vida.
Todos os indivíduos são dotados de neuroplasticidade, ou seja, todas as
pessoas tem um grande potencial de transformação, basta estimular os neurônios a
formar novas conexões neurais através da um novo pensamento, sentimentos e
ações para se moldar e co-criar uma nova realidade. Assim, o sujeito passa a ter
uma nova visão de si mesmo e sobre o emagrecimento que tanto procura, além de
conquistar mais saúde, hábitos mais saudáveis e melhor qualidade de vida.

Para realizar este processo, através da neuroplasticidade, existem quatro


chaves (caminho neural) utilizadas para mudar o cérebro do obeso, são
eles: primeiro estimular um novo pensamento, segundo um novo
sentimento, terceiro um novo comportamento e por último, um novo discurso
padrão (BRENTEGANI,2020, p.27).

Para compreender como tudo isso ocorre, é preciso ter em mente que o
cérebro não é formado apenas por neurônios, por isso é importante conhecer
algumas áreas cerebrais, para trazer a luz como elas influenciam no
comportamento.
No cérebro existem duas áreas chamadas córtex pré-frontal e sistema límbico
que estão intimamente ligadas com o comportamento, emoções e aprendizagem do
indivíduo. O sistema límbico é a área das emoções e sentimentos ligados aos
desejos e prazeres. Ele é impulsivo e são emoções que controlam o comportamento
do indivíduo quando este sistema atua. Já o córtex pré-frontal é movido pela razão,
responsável pelo indivíduo pensar que gostaria de se comportar de tal maneira, e no
momento que ele pensa, se comporta. É um sistema consciente, que consegue
planejar o futuro, ou seja, de recompensa tardia. Ele é totalmente racional e analítico
(Brentegani,2020).
Compreender estes dois sistemas é fundamental para ajudar o cliente a
transformar o comportamento e mente “obesa”, em um comportamento e
mentalidade compatível de uma pessoa magra. Sendo assim, a proposta de trabalho
com base na neurociência é que o profissional tenha condições de trabalhar
interagindo sistema límbico e córtex pré-frontal na formação de novos hábitos no
indivíduo e na quebra dos antigos hábitos, para que posteriormente ele deixe de
comer agindo pelo sistema límbico e passando a agir mais pelo córtex pré-frontal.
Através do sistema límbico e do pré-frontal, somos capazes de criar
estratégias de processamento de informação e ajustar nossos conhecimentos para
entrar em ação.
O córtex pré-frontal do indivíduo que sofre de compulsão alimentar se
encontra totalmente desequilibrado, podendo muitas vezes estar inativo diante do
sistema límbico, por isso, a pessoa exagera com a comida e a tem como vício. Tanto
o sistema límbico como o córtex pré-frontal devem sempre estar em equilíbrio para
que a pessoa consiga se manter no peso. Agora, para a pessoa emagrecer é
preciso que o pré-frontal esteja dominante em torno de pelo menos 70% a 80% em
relação ao sistema límbico (Brentegani,2020).
É importante também entender, que nenhuma pessoa consegue agir 100%
através do seu pré-frontal, ela poderá ter deslizes ao longo do tratamento e, para
evitar que os deslizes aconteçam e não se tornem hábitos, é preciso ativar o córtex
pré-frontal do sujeito, antes que ele caia em compulsão pela comida proibida. Por
isso, é fundamental ensinar o cliente a pensar na “recompensa tardia” e não no
prazer imediato e questões como estas serão acionadas: o que ele irá ganhar se
não deslizar? O que ele vai perder se cair em compulsão? Que dor ele vai sentir se
não resistir? Essas são perguntas que ativam o córtex pré-frontal do cliente de
emagrecimento.
O indivíduo ao aprender a pensar antes de agir, será capaz de criar um hábito
mais positivo, e após, ele deverá apenas persistir nesta nova atitude para que seja
possível formar uma conexão neural firme e profunda no cérebro, ou seja, a criação
de um novo estilo de vida.
Mas como fazer o cliente agir através do córtex pré-frontal? Como ajudar uma
pessoa a emagrecer mesmo quando se trata de um problema metabólico e
hereditário?
As ferramentas/sessões de emagrecimento propostas no livro “Guia Prático
de emagrecimento para terapeutas”, foram criadas para realizar esta conversa entre
sistema líbico e córtex pré-frontal, equilibrando-os.
As sessões irão ensinar que emagrecer exige planejamento, consciência do
que está sendo realizado, e que deve ser feito por etapas, bem como, irá ajudar na
criação de insights e conexões que reforcem a mudança e transformação. O cliente
só precisa enxergar o próximo peso e não a estrada inteira, e isso traz um conforto
muito grande, assim, o emagrecimento não se torna um fardo e, a ansiedade e a
compulsão também não são estimuladas.
Se o cérebro de uma pessoa ficar somente na razão (córtex pré-frontal), ela
fica chata. Como já foi dito, de vez em quando tem que ter o deslize como, por
exemplo, tomar um refrigerante ou comer um doce. Por isso, a pessoa tem que viver
um dia de cada vez, sem ansiedade. Desta maneira, se o cliente sustentar a não
ingestão de hoje, significa que amanhã ele também poderá conseguir.
Quando se pensa a longo prazo, de que um comportamento é para sempre, o
sistema límbico entra em ação lembrando isso o tempo todo, e o sujeito com certeza
irá cair em compulsão. Isso ocorre porque ninguém consegue ser o tempo todo
racional. Por isso, que dietas tão restritivas fazem mal, porque de repente a pessoa
não aguenta e coloca tudo a perder, aumenta a sua ansiedade, compulsão e não
aprende a pensar e ter hábitos congruentes com sua meta (Brentegani,2020).
Durante o processo, a mente do indivíduo deverá ser blindada para enfrentar
todas as tentações, porque certamente elas irão acontecer. A pessoa tem que
compreender que todo resultado almejado, dependerá da forma como ela pensa e
se comporta. Ou seja, seu resultado será congruente com seus hábitos,
pensamentos e comportamentos então, se ela age com atitudes de uma pessoa
gorda ele vai engordar, caso se comporte como uma pessoa magra e reprograma a
mente a pensar magro, emagrece.
É preciso entender que, ao deixar o indivíduo agir mais pelo sistema límbico o
resultado não será possível, pois ele vai desistir do tratamento, irá voltar a engordar,
e ainda reprovar o trabalho dos profissionais envolvidos. Pior, poderá procurar
outros meios como remédios e uma bariátrica, por exemplo. Sendo assim, é
fundamental acordar o cliente e traze-lo sempre de volta a realidade e a focar nos
seus objetivos.
Toda pessoa que sofre de compulsão seja ela por drogas, álcool, comida ou
compras, estão realizando escolhas através do seu sistema emocional (límbico). Em
suas mentes, elas podem desistir de qualquer coisa, menos do vício e mal
conseguem notar como isso afeta a sua vida. O vício é sua válvula de escape e ele
não entende que o efeito é momentâneo, depois tudo piora (Brentegani,2020).
Entenda o que acontece quando o sistema límbico controla a vida do sujeito:
o córtex pré-frontal irá ligar o sistema dopaminérgico ao sistema do comportamento.
Caso não existisse o sistema pré-frontal atuando como filtro, o sistema
dopaminérgico (emoção, sentimento imediato, desejo) influenciará diretamente o
sistema comportamental todas às vezes. Sendo assim, o profissional tem que
trabalhar para que o cliente utilize este filtro para conseguir controlar seus
pensamentos e ações.
O problema é que, o “propósito de comer” da pessoa obesa com o objetivo de
sentir prazer já está enraizado no seu inconsciente, em seu sistema líbico e assim,
eles começam a se confrontar com o sistema comportamental.
Por isso que durante todo o programa de emagrecimento é enfatizado que,
não adianta o cliente ter ações no momento em que o alimento se encontrar na sua
frente, ele tem que estar preparado e programado para enfrentar estas situações. Se
ele tiver um sistema racional atuando, vai conseguir sair de uma situação de
compulsão da melhor maneira.
Para isso acontecer, existem duas técnicas infalíveis que devem ser
ensinadas: primeiro, ensinar o cliente a dialogar com seus vícios através de
perguntas; e segundo, visualizar os problemas presentes e futuros se continuar
engordando, ou seja é primordial trabalhar na sua dor para que nunca se esqueça
de todos os problemas vivenciados e riscos por estar acima do peso.
Normalmente o córtex pré-frontal é usado para direcionar o indivíduo a se
comportar rumo a um propósito específico, mas como isso surge? Tudo é
desencadeado através dos pensamentos que é a primeira engrenagem cerebral da
mudança de hábitos.
Ao considerar que o sujeito busca na comida uma forma de alívio e prazer, é
preciso entender como esse mecanismo ocorre em sua mente para tratar. Quando
uma pessoa sente prazer, seu cérebro libera um neurotransmissor chamado
serotonina, mas o sujeito também pode ter um aumento de dopamina num primeiro
momento (impulso antes de atacar a comida, ou apenas ao imaginá-lo), mas no
final, após o deslize não irá sentir satisfação, e sim sofrimento por não ter
conseguido se controlar. Essa é a maior frustração do obeso, é a dieta com dor, por
isso não dura muito tempo.
Mas como fazer para que os clientes realizem uma dieta sem dor? Como
ensiná-los a usar o córtex pré-frontal?
Quando uma pessoa começa a fazer dietas e atividades físicas, em um
primeiro momento ela vai sofrer. Sente dor de não poder comer uma coisa ou outra
a qual estava habituada, pode se sentir injustiçada por ter que submeter a uma dieta
e ter que ir para academia, porque ela não gosta. Tudo isso acontece porque é ruim
liberar dopamina para uma coisa que você não pode ou não quer, então é desafiante
no início quebrar seus hábitos, principalmente para aqueles que estão com seus
vícios enraizados há muito tempo. Por isso, no começo, todos irão sofrer um pouco
e cabe ao profissional explicar isso ao cliente, para que ele entenda e entre no jogo
consciente do que ele vai passar, e que é necessário superar para que ele se
transforme.
E como diminuir esta dor a ponto conquistar um novo comportamento?
Fazendo o cliente repetir várias vezes uma ação mais positiva, ou seja,
ensina-lo a ter uma conversa diária entre seu sistema líbico e seu córtex pré-frontal.
Para isso, é preciso intervir na primeira engrenagem cerebral da mudança de
hábitos que é a transformação do pensamento (raiz do problema), e isso, será
realizado através das sessões de emagrecimento ou agindo na terceira engrenagem
cerebral que é o comportamento do cliente (Brentegani,2020).
Para formar um novo comportamento no momento em que o sujeito estiver
com alimentos em sua frente, é preciso instigá-lo a realizar perguntas que o
desperte e que sejam diferentes das que ele tinha o hábito de fazer anteriormente,
para que, partindo dessas questões ele consiga mudar seus comportamentos.
É aquela velha história: se continuar a fazer as mesmas coisas, terá sempre
os mesmos resultados (Lewis Carroll, no filme Alice no país das maravilhas,2010).
Portanto, se o cliente continuar a fazer as mesmas perguntas o qual tinha o hábito
de realizar antes de comer, terá os mesmos comportamentos antigos e vai continuar
a engordar.
O segredo de tudo é treino, prática e repetição. É estar treinado e preparado
antes do ato acontecer. É fundamental motivar o cliente, sem deixa-lo esquecer as
conquistas e vitórias que ele terá ao longo do processo de emagrecimento. Assim, o
profissional também estará ativando o seu córtex pré-frontal, pois estará trazendo a
consciência do sujeito todo o pesadelo e que ele não quer mais viver, e lembrando
tudo que ele gostaria de ter no lugar dessa dor.

1.1 Explicações metodológicas sobre os questionários aplicados

A partir de agora será apresentado o roteiro das sessões utilizadas bem como
seus objetivos:

1° Sessão – “Entrevista de 1º sessão”


A primeira sessão teve como objetivo conhecer o cliente, explicar o método
de trabalho, tirar dúvidas e, despertá-lo para se comprometer e responsabilizar pelo
processo de emagrecimento.

2º Sessão – “Planejamento e raio X”


A segunda sessão foi trabalhada o planejamento, pois considera-se este um
dos grandes pilares para o sucesso do emagrecimento e um direcionador para o
profissional e o cliente nunca falhar. É preciso entender que o cliente de
emagrecimento tem um pensamento padrão, hábitos e estilo de vida de uma pessoa
que se encontra acima do peso, por isso desde o início, é preciso conduzi-lo para
que ele consiga se organizar e criar uma rotina de acordo com seu objetivo. A
organização é outro fator importante, porque ela será uma baliza de tudo que
precisa ser realizado para alcançar a sua meta.

3º Sessão – “Trabalhando a compulsão”


Na terceira sessão, o objetivo foi descobrir o grau de compulsão do cliente de
emagrecimento e trabalhá-las. Como avaliação da compulsão, foi utilizado a “Escala
de compulsão alimentar periódica” dos autores de Gormally J, Black S, Daston S,
Rardin D. (1982) e após a aplicação do teste, como intervenção, foi aplicado a
ferramenta “trabalhando a compulsão” descrita no Guia Prático para terapeutas da
autora.
4º Sessão – “Descobrindo os meus sabotadores”
Através da quarta sessão, foi realizado um trabalho para identificar os
sabotadores do emagrecimento e verificar quais estão mais atuantes na mente do
paciente para validá-los.

5º Sessão – “Transformação de um comportamento alimentar”


Esta sessão serviu para trabalhar um comportamento negativo persistente,
como por exemplo, pensamentos sabotadores, crenças limitantes e dificuldades em
quebrar hábitos alimentares.

6º Sessão – “Ressignificando crenças limitantes”


Esta sessão foi preparada para ressignificar os pensamentos sabotadores,
crenças limitantes ou ideias destrutivas que ainda se encontravam presentes.

7º Sessão – Criar uma nova realidade


Na sétima sessão, o objetivo foi de fortalecer no cliente a criação de uma
nova realidade, um novo hábito, ou seja, uma transformação de mentalidade.

8º Sessão – Características de uma mente magra


Nesta sessão, foi reforçado no cliente a necessidade de se pensar magro, e
ajustado os pensamentos e comportamentos que ainda precisavam ser trabalhados.

9º Sessão – SWOT pessoal voltada ao emagrecimento


Na nona sessão, foi realizado uma análise sobre as forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças sobre o contexto em que o cliente estava inserido,
podendo visualizar sistemicamente melhorias para o alcance do seu objetivo de
emagrecer. Para o sujeito adquirir uma nova identidade, condizente de uma pessoa
magra, o terapeuta tem a função de analisar o que está apoiando e dificultando seu
processo de emagrecimento. Portanto, para que esta análise seja profunda, é
importante validar e questionar especificamente cada ponto que o cliente citar.

10º Sessão – “Fechamento do ciclo”


A última sessão de fechamento do ciclo, teve como objetivo clarear a
trajetória do cliente para que ele pudesse observar o quanto evoluiu, mensurar suas
conquistas e faze-lo entender que este é um propósito que sempre deve se manter
vivo. É preciso empoderá-lo a caminhar sozinho após o programa, a seguir com
seus objetivos e, estimular a autoanálise para ajustar habilidades/comportamentos/
pensamentos/ ações que ainda precisam ser melhorados.

2 RESULTADOS

Baseado na análise de 20 prontuários, foi possível observar que as pessoas


que aderiram o projeto, conseguiram efetivamente a mudar seus hábitos, a melhorar
problemas de saúde como o alto colesterol (LDL), diabetes mellitus, ansiedade e
depressão, bem como melhorar a autopercepção, autoestima e autoconfiança
perante as suas relações de trabalho, sociais, amorosas e familiares. A nível de
emagrecimento, foi observado que cada paciente apresentou um tempo e resultados
específicos, porém, ao aprenderem a ter um maior autocontrole sobre a comida, a
pensar congruente com uma pessoa magra e a realizar mudanças de hábitos, o
emagrecimento foi apenas uma consequência de todas as suas transformações.
As sessões contribuíram muito a ressignificar várias questões que estavam
impedindo os clientes a emagrecer, bem como ajudou a controlar a fome emocional
e compulsão pela comida.
Dos 20 pacientes observados, apenas dois desistiram no meio dos
atendimentos não apresentando grandes resultados. Veja a tabela a seguir:

Tabela 1 Observações
Número total de sessões 10 Realizadas uma vez por
semana.
Número total de pacientes 20 1 homem e 19 mulheres
participantes
Emagreceram pouco de 2 Desistiram do tratamento antes
(2 a 6 quilos) da 6º sessão.
Emagreceram significativamente 8 Realizaram o tratamento até o
entre (7 a 15 quilos) final.
Apresentaram melhoria na 5 Todos os que apresentaram
saúde problemas de saúde
relacionados a obesidade
obteram resultados.
Apresentaram mudanças de 18 Em relação a prática de
hábitos exercícios, alimentação e
relação com a comida.
Apresentaram uma 18 Passaram a pensar congruente
transformação de mentalidade com uma mente magra,
melhorou a compulsão,
ansiedade, autoestima, convívio
social, autoconfiança e a
percepção sobre si.
Desistiram no meio do caminho 2 Não se comprometeram com o
tratamento e por isso foram
dispensados ou decidiram não
seguir em frente.

3 CONCLUSÃO

O método proposto irá se tratar de uma técnica muito eficaz que promove
emagrecimento e faz com que o cliente consiga manter o novo peso adquirido.
Através dos questionários e sessões realizadas, foi possível observar que é possível
emagrecer uma pessoa através dos princípios da neurociência, incentivando na
mudança das suas 4 engrenagens cerebrais.
Dos 20 pacientes que participaram destas sessões, todos apresentaram um
emagrecimento e mudança de mentalidade e hábitos de vida, embora estas
transformações se aparentaram em níveis diferentes a cada paciente. Portanto,
conclui-se que, esta metodologia não é indicada apenas a pessoa que está em
busca de emagrecimento, ela ajuda também aqueles que estão precisando realizar
uma manutenção da sua saúde, melhorar a qualidade de vida, emoções, hábitos e
não estão conseguindo fazer isso sozinhos.
As ferramentas e sessões tratam o indivíduo de uma forma integral
respeitando todos os fatores necessários para um emagrecimento definitivo e
duradouro, mas o terapeuta deve sempre estar atento em trabalhar a motivação e a
adesão do cliente ao tratamento, bem como, ao perceber a falta de adesão por parte
do cliente, é preciso conscientizá-lo que para seguir adiante, é preciso estar
presente, ativo e comprometido. Caso contrário, o terapeuta não deverá dar
sequência ao tratamento, pois estará perdendo o seu tempo e o do cliente, se
frustrando com os resultados, e comprometendo a sua atuação profissional, pois o
paciente quando não apresentar resultados, irá responsabilizar o profissional, e não
a si próprio pelo fracasso. Esta é uma questão que dever ser considerada e
ponderada em qualquer trabalho de emagrecimento.
Finalizando, quanto mais conhecimento científico o profissional que trabalha
com emagrecimento adquirir, mais consistência e resultados ele irá apresentar,
nesse sentido, a neurociência, epigenética, os conceitos de neuroplasticidade são a
chave para desvendar e tratar a obesidade.
REFERÊNCIAS

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Walt Disney, 2010. 1DVD.

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BRENTEGANI, F. Guia prático de emagrecimento para terapeutas.


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BRUST, J.C.M. A prática da neurociência: das sinapses aos sintomas.


Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, 2000.

FRANCIS, R. Epigenética: como a ciência está revolucionando o que


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