André Luiz foi o nome adotado na espiritualidade pela entidade que, em sua existência
material, exerceu a medicina no fim do século passado. Para preservar a privacidade de
seus descendentes familiares, ele não revela o nome que foi utilizado durante sua última
reencarnação.
Para Ney da Silva Pinheiro, "André Luiz impõe-se cada vez mais ao conceito de parcela
significativa do mundo moderno, desencadeando verdadeira revolução no pensamento
do século, onde um mundo novo e arrebatador de idéias desafiou a cultura da época. No
contexto da Doutrina Espírita, interpretamos a obra de André Luiz como autêntica
revelação dentro da Revelação, tais as perspectivas que descerra no cenário dos novos
tempos, para quem tem 'olhos de ver e coração de sentir', dilatando panoramas
surpreendentes à ciência, à filosofia e à religião, asfixiadas no reduto estreito de uma
ortodoxia pragmática e impenitente, cristalizadas na vulnerabilidade de um dogmatismo
intransigente e decadente, e obliteradas por um cientificismo mecanicista rígido e
traumatizante, em sua maneira de encarar os fenômenos transcendentais da Vida".
Pinheiro transcreve uma fala de Hernâni Guimarães Andrade, que é um dos mais
brilhantes e conceituados pesquisadores do Brasil e estudioso do Espiritismo científico,
na qual refere-se às obras de André Luiz, da seguinte forma: "Como simpatizante da
linha científica do Espiritismo, considero a maior contribuição deste século, obtida por
via mediúnica, para a solução do problema na natureza do homem, hoje tão focalizada
pela Parapsicologia. Fica aqui consignada, a título de registro e endossada por mim, a
seguinte previsão: As obras de André Luiz, psicografadas por Francisco Cândido Xavier,
serão, futuramente, objeto de estudo sério e efetivo nas maiores universidades do
mundo e consideradas como a mais perfeita informação acerca da natureza do homem e
da sua vida após a morte".
Projeto Reencarnatório
Segundo o Novo Dicionário Aurélio, "projeto" é uma idéia que se forma para executar ou
realizar algo no futuro; "plano, intento, desígnio". "Projeto" contrapõe-se a "acaso", que
é o "conjunto de pequenas causas independentes entre si, que se prendem a leis
ignoradas ou mal conhecidas, e que determinam um acontecimento qualquer".
Citamos mais um exemplo da obra de André Luiz, no qual o conceito de destino está
associado ao de projeto: "O Espírito assinala todos os passos da jornada que lhe é
própria, arqui¬vando em si mesmo todos os lances da vida, para formar com eles o
mapa do destino, de acordo com os princípios de causa e efeito que nos governam a
estrada".
A reencarnação como projeto é abordada em várias obras de André Luiz, bem como de
outros autores espíritas. Para os espíritas, somente como projeto, é possível
compreender a reencarnação como a doutrina da pluralidade e da unidade das
existências corpóreas, visando à evolução. A personalidade mantém a sua integridade,
partindo dos estágios mais primitivos em direção a instâncias de maior evolução, até
chegar à perfeição relativa de que somos capazes. Encontramos, ainda, as palavras
plano de serviço, programas, programa de tarefas em textos que nos mostram que o
conceito implicitamente é tratado é o de destino.
André Luiz esclarece que "todo plano traçado na Esfera Superior tem por objetivos
fundamentais o bem e a ascensão, e toda alma que reencarna no círculo da crosta, ainda
aquela que se encontre em condições aparentemente desesperadoras, tem recursos
para melhorar sempre".
Para André Luiz, "qualquer dia é dia de criar destino ou reconstituir destino, de vez que
todos somos consciências responsáveis".
Personalidade Reencarnante
Levantamento de Possibilidades
Somos alertados diversas vezes de que nos encontramos no início da nossa evolução e,
portanto, nossas necessidades de aprendizado e correção são muitas. No entanto,
apesar dessas grandes necessidades, é importante que a entidade reencarnante,
juntamente com os Espíritos Orientadores, faça uma seleção de metas evolutivas não
muito diversificadas. Caso contrário, seria necessária uma reencarnação cujo tempo
estaria fora das possibilidades de duração do corpo físico do presente. Outra questão a
ser levada em conta é que não é possível realizarmos um aprendizado muito amplo de
uma só vez. É necessária a conscientização verdadeira dos passos que compõem a
escala evolutiva.
No entanto, é possível também que, dada a faixa vibratória negativa na qual a pessoa
esteja mergulhada, terá o convívio a ela compatível. No caso de Adelino, o relato em
Missionários da Luz é de que os benfeitores estão tentando uma aproximação entre ele e
Segismundo e, embora este último já tenha modificado as suas disposições interiores, o
que Adelino sente é a chegada do seu antigo algoz. Daí, o seu desespero e o que ele
classifica de pesadelos. Pressentindo o que ocorre, inconscientemente, "o pensamento
envenenado de Adelino destruía a substância da hereditariedade, intoxicando a
cromatina dentro da própria bolsa seminal. Ele poderia atender aos apelos da Natureza,
entregando-se à união sexual, mas não atingiria os objetivos sagrados da Criação,
porque, pelas disposições lamentáveis de sua vida íntima, estava aniquilando as células
criadoras ao nascerem e, quando não as aniquilasse por completo, intoxicava os genes
do caráter", dificultando a ação dos Espíritos envolvidos no processo de reencarnação
de Segismundo.
Interessante notar que a Ciência ainda não detectou o gene do caráter de que nos fala
André Luiz, em 1945, embora para Leopold Szondi, conforme foi apresentado na Parte I
deste trabalho, as bases do caráter encontram-se na hereditariedade.
Para Segismundo, portanto, a sua reencarnação é viável no que tange às suas
possibilidades de reajuste no grupo de pessoas com as quais tem acertos morais, éticos
e afetivos a reequilibrar.
Grupos de Relação
Sociedade
Família
Profissão
Para André Luiz, a profissão é um elemento relevante no destino das pessoas. "Todos
os homens em suas atividades, profissões e associações são instrumentos das forças a
que se devotam. Produzem de conformidade com os ideais superiores ou inferiores em
que se inspiram, atraindo os elementos invisíveis que os rodeiam, conforme a natureza
dos sentimentos e idéias de que se nutrem."
Como o aprendizado não é teórico, necessita ser provado nas relações; o exercício da
profissão é oportunidade para aprender e servir. Muitas emoções, conflitos e diversas
características de personalidade se expressam em situações de poder, traduzindo
orgulho, autoritarismo ou, ao contrário, uma liderança amena, propiciando oportunidade
de crescimento para si próprio e para os outros. Também no servir podem-se encontrar
grandes condições de auto-conhecimento e mudança interior, pois servir sem revolta,
sem lamentos também reflete o mérito do dever cumprido.
André Luiz comenta que "o compromisso de trabalho inclui o dever de associar-se a
criatura ao esforço de equipe na obra a realizar".
Dessa maneira, a questão do trabalho surge como oportunidade bendita, trazendo uma
nova reflexão sobre a primeira referência ao trabalho na condição de punição, conforme
consta na Bíblia. Nossas características mais pessoais, que surgem sob forma de
vocação, estão apontando caminhos previamente estabelecidos de correção e serviço.
Ainda André Luiz alerta: "Em tudo aquilo que você faça, na atividade que o Senhor lhe
haja concedido, você está colocando o seu retrato espiritual".
Hereditariedade Fisiológica
Para André Luiz, a "lei da hereditariedade fisiológica funciona com inalienável domínio
sobre todos os seres em evolução, mas sofre, naturalmente, a influência de todos
aqueles que alcançaram qualidades superiores ao ambiente geral". Quando o espírito
desejoso ou necessitado de nova reencarnação "é merecedor de serviços
intercessórios, as forças mais elevadas podem imprimir certas modificações à matéria,
desde as atividades embriológicas, determinando alterações favoráveis ao trabalho de
redenção".
André Luiz diz que "cada entidade reencarnante apresenta particularidades essenciais
na recorporificação a que se entrega na esfera física. Os espíritos categoricamente
superiores, quase sempre em ligação sutil com a mente materna que lhes oferta guarida,
podem plasmar por si mesmos e, não raro, com a colaboração de instrutores da Vida
Maior, o corpo em que continuarão as futuras experiências, interferindo nas essências
cromossômicas, com vistas às tarefas que lhes cabem desempenhar".
Temos ainda a seguinte orientação de Emmanuel: "É desta maneira que comumente
renascemos na Terra, segundo as nossas dívidas ou conforme as nossas necessidades,
assimilando para esse fim a essência genética daqueles que se nos afinam com o modo
de proceder e de ser. Os problemas da hereditariedade, em razão disso, descendem, de
forma geral, dos reflexos mentais que nos sejam próprios".
Células e Destino
André Luiz relata que Adelino, após ter sido tranquilizado quanto à mudança interior de
Segismundo, bem como da sua necessidade de perdoar e orientar o ex-assassino,
voltou a ficar sereno, permitindo que as entidades espirituais prosseguissem no seu
trabalho de auxílio reencarnatório que, como estamos vendo, não beneficiaria
unicamente uma pessoa, mas um grupo ligado por emoções desequilibradas
inconscientes, todos necessitando seguir a trilha evolutiva, sem pendências de
nenhuma ordem.
Na sequência das atividades, temos, então, um grupo que André Luiz chama de Espíritos
Construtores que iriam cooperar na formação fetal de Segismundo e que passaram a
examinar os mapas cromossômicos: "Estou examinando a geografia dos genes nas
estrias cromossômicas a fim de certificar-me até que ponto poderemos colaborar em
favor de nosso amigo Segismundo, com recursos magnéticos, para a organização das
propriedades hereditárias".
Desta forma, uma das questões de destino, como projeto oculto que estrurura a
existência do Homem em uma determinada reencarnação, é a hereditariedade. A
genética, portanto, é patrimônio que refletirá a administração que lhe for aplicada. André
Luiz acredita que "o homem do futuro compreenderá que as suas células não
representam apenas segmentos de carne, mas companheiras de evolução, credoras de
seu reconhecimento e auxílio efetivo".
André Luiz comenta que o gosto pela arte, o êxtase religioso e os transes mediúnicos
são "acalentados nos circuitos celulares por fermentações sutis, aí nascidas através de
impulsos determinantes da mente, por ela convertidos, nos órgãos, em substâncias
magnetoeletroquímicas arremessadas de um tecido a outro, guardando a faculdade de
interferir bruscamente nas propriedades moleculares ou de catalisar as reações desse
ou daquele tipo, destinadas a garantir a ordem e a segurança, na urdidura das ações
biológicas".
Em outra obra de sua autoria, No Mundo Maior, André Luiz aborda a questão das
tendências da seguinte forma: "Em verdade, não há total esquecimento na crosta
terrestre, nem restauração imediata da memória nas províncias da existência que se
seguem, naturais, ao campo da atividade física. Todos os homens conservam tendências
e faculdades que equivalem à efetiva lembrança do passado".
Estudando a obra de André Luiz, entende-se que os princípios espirituais é que dirigem
a hereditariedade. "Se os filhos encontram os pais de que precisam, os pais recebem de
volta os filhos que procuram". Depreende-se, portanto, dos ensinamentos desse
representante da Doutrina Espírita, que a hereditariedade, de fato, é decorrente de
afinidades e necessidades espirituais; as causas espirituais, portanto, antecedem as
consequências materiais, ou seja, a genética. No entanto, o que se herda, de fato, não
são os instintos, mas um potencial, uma natureza da qual eles fazem parte e que será
utilizada, ou não, pelo espírito em interações com o meio ambiente.
Certamente, a Doutrina Espírita não acredita em uma ditadura genética, até porque todas
as nossas tendências, que se expressam pelo caminho da hereditariedade, fazem parte
das nossas escolhas realizadas durante o período que antecede a elaboração do que
chamamos projeto reencarnatório.
Hereditariedade Psíquica
Para a maior parte dos pesquisadores, não é possível falar de herança psíquica. No
entanto, a história de Segismundo e o relato de André Luiz sobre os "genes do caráter",
na obra Missionários da Luz, dão margem para a ampliação do conceito de
hereditariedade. "Caráter" vem do grego charaktér, que é definido como a "qualidade
inerente a uma pessoa, animal ou coisa; conjunto dos traços particulares, o modo de ser
de um indivíduo ou de um grupo; índole, natureza, temperamento; conjunto das
qualidades boas ou más de um indivíduo e que lhe determinam a conduta e a concepção
moral".
Por meio do material genético de Adelino, Segismundo também deveria herdar algo
fundamental que seriam os genes do seu caráter, tão suscetíveis, que o pensamento
envenenado do doador, embora inconsciente, era suficiente para aniquilados, destruí-
los, exterminá-los, invibializando a concepção.
Por outro lado, parece claro que algo precisava ser modificado no íntimo de Adelino, não
só para que funcionasse como doador, mas como doador espontâneo que transmitisse a
Segismundo, mesmo inconscientemente, o seu perdão.
Inconsciente
André Luiz ensina que durante a intermissão, que é o período de tempo entre uma
reencarnação e outra, o espírito pode frequentar escolas beneméritas, recolhendo as
mais altas noções da vida e, até mesmo, fazendo psicoterapia. Pode melhorar muito. No
entanto, a lembrança de seus erros, mesmo sem a sensação de culpa, estará sinalizando
as necessidades de reajustes. Essas lembranças entranhadas na mente ele chama de
"sementes de destino", diante das quais o Espírito busca novas oportunidades
reencarnatórias, merecendo dos benfeitores espirituais auxílio na elaboração de projetos
reencarnatórios específicos para harmonização dessas questões.
Animismo
Animismo (do latim: anima alma; ismo doutrina) "é o sistema fisiológico que considera a
alma como causa primária de todos os fatos intelectuais e vitais".
Para André Luiz, animismo "é o conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a
cooperação consciente ou inconsciente do médium em ação e pode ocorrer sem que
este identifique o conteúdo supostamente mediúnico como lhe sendo próprio, ou por
indução externa, seja de agentes encarnados ou desencarnados, fixando-se-lhe a
memória em momentos do pretérito".
André Luiz ainda se refere ao animismo, como uma imersão no passado, buscando em
existências passadas as imagens utilizadas durante a expressão tida como mediúnica,
relatando situações e emoções, como em um processo de catarse no qual o reencarnado
não consegue reconhecer-se. conforme Hernâni Guimarães Andrade, "o espírito contém
em seu corpo mental, o arquivo completo de toda a sua evolução histórica; esta
evolução, por sua vez, foi realizada por seu próprio esforço. Em outras palavras, o
espírito é causa e eleito de si mesmo (...) armazenando em sua estrutura
tetradimensional a totalidade de suas experiências pregressas e delas se valendo para
evoluir progressivamente".
Assim sendo, consideramos necessário que os espíritas não desqualifiquem esse tipo
de manifestação por não ser mediúnica, mas que estudem cada vez mais para
reconhecer tais formas de expressão, visto que constituem vasto e rico material de
autoconhecimento, que sendo trabalhado adequadamente, poderá servir de fonte de
crescimento pessoal e colaboração a outros.
A hereditariedade psíquica parece ser o caminho pelo qual o animismo se expressa, uma
vez que Ary Lex alerta no sentido de que não se confunda animismo com fraude. O
animismo é autêntico e, quase sempre, independente da vontade do sensitivo.
Obsessão
Segundo Kardec,"obsessão é o domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre
certas pessoas". São entidades consideradas inferiores por ainda serem desprovidas da
condição de reconhecimento da própria responsabilidade diante dos fatos que se lhe
acometem, estabelecendo um processo de perseguição e vingança àqueles a quem
julgam como culpado pelo seu sofrimento. Também há os que, sofrendo, procuram fazer
com que outros sofram, independente de um vínculo com a vítima.
A justificativa para que tais situações aconteçam é que essa relação que ficou mal
resolvida gerou uma condição vibratória na qual vítima e agressor mantém um canal de
comunicação, o qual possibilita o encontro entre ambos, tendo por objetivo a resolução
da antiga pendência. Essa frequência de desequilíbrio gera uma faixa de sintonia, em
que outras entidades com padrão semelhante poderão se aproximar. E como diz André
Luiz, em seu livro Libertação "entre emissão e recepção prevalece o imperativo de
sintonia".
A pessoa reencarnada não se lembra do fato que pode ter originado o processo
obsessivo, mas se não houver se transformado interiormente, estará suscetível a
assédios. Caso a pessoa ofendida não tenha ficado presa ao sentimento de raiva e não
tenha desejo de vingança por ter desenvolvido a compreensão de que o perdão é o
melhor remédio para a sua própria libertação, seguirá em frente na construção do seu
crescimento espiritual.
No entanto, a parte agressora, que ofendeu e não se modificou, poderá ser assediada
por entidades desequilibradas e na mesma faixa de sintonia que, se identificando com o
fato ocorrido no passado, poderão projetar no encarnado a sua própria vivência,
frustração além de raiva e persegui-la. A consciência, ao funcionar em uma faixa de
amor ou de ódio, constitui campo informacional com frequência específica.
No entanto, a literatura espírita refere-se a locais no Plano Espiritual onde entidades com
maior resistência a receber ajuda e esclarecimento se agrupam e se isolam do contato
com o Bem, quase sempre liderados por uma mente de maior poder de persuasão e
subjugação. Essas regiões, chamadas de Umbral ou Trevas, são habitadas pelas
entidades citadas e por líderes do mal, que por medo do esquecimento momentâneo que
ocorre durante uma reencarnação e da perda do poder que se atribuem, não aceitam a
volta à matéria, que, segundo os espíritas, também teria a finalidade de recompor os
campos atômicos do perispírito, estrutura que abordaremos mais adiante.
Segundo André Luiz, ainda na obra Libertação, "quase todas as almas humanas,
situadas nestas furnas, sugam as energias dos encarnados e lhes vampirizam a vida,
qual se fossem lampreias insaciáveis no oceano do oxigênio terrestre". (Continuando,
afirma que "as bases econômicas de toda essa frente residem, ainda, na esfera dos
homens comuns e, por isto, preservam apaixonadamente o sistema de furto psíquico
dentro do qual se sustentam junto às comunidades da Terra". A Doutrina Espírita
ressalta a importância do equilíbrio mental, de forma a não se colocar em sintonia com
essas forças do mal e também visando não alimentar a manutenção das trevas por meio
do fornecimento desse alimento psíquico, a que se refere André Luiz.
As obras de André Luiz abordam diversas vezes a questão da saúde mental e orgânica,
associando ambas a aspectos espirituais. Como exemplo, temos a seguinte passagem:
"Com exceção de raríssimos casos, todas as anomalias de ordem mental se derivam dos
desequilíbrios da alma. Se os psiquiatras modernos penetrassem o segredo de
semelhantes fatos, iniciariam a aplicação de nova terapêutica à base de sentimentos
cristãos, antes de qualquer recurso".
Esta é uma das muitas referências que André Luiz faz à necessidade de religiosidade e
fé como forma de conscientização e de mudança de atitude perante a vida. Como se vê
no trecho anterior, a ênfase é no sentido de entendermos que os problemas mentais,
aprofundados de maneira específica, decorrem da forma que o Homem vivência as suas
emoções e sensações. O orgulho, o egoísmo, a avareza, a luxúria, a maledicência e
outros tantos quadros de desarmonia emocional e afetiva, ainda no seu processo de
humanização, refletem a falta de entendimento do significado da sua existência.
Para André Luiz, "faltam, pois, às teorias de Freud e seus continuadores, a noção dos
princípios reencarnacionistas o conhecimento da verdadeira localização dos distúrbios
nervosos, cujo início muito raramente se verifica no campo biológico vulgar, mas quase
que invariavelmente no corpo perispiritual preexistente, portador de sérias perturbações
congênitas, em virtude das deficiências de natureza moral, uiltivadas com desvairado
apego pelo reencarnante nas existências transcorridas".
Para que as tendências inatas, a que se refere André Luiz, pudessem se manifestar em
uma determinada reencarnação, seria necessário que os moldes de uma sexualidade em
desequilíbrio caminhassem pela estrutura genético-hereditária de membros
consanguíneos de uma família, levando adiante o leque de possibilidades de destino,
para que as escolhas, em algum momento, surgissem diante do indivíduo. Seria diante
dessas condições que o indivíduo, longe de uma imposição genética, mas fortemente
sinalizado por ela, expressaria seu passado, pedindo reparação a partir de tendências
que em um processo de conscientização deveriam ser transformadas em qualidades.
Em várias obras, essa é a tese que André Luiz levanta e argumenta. Portanto, as
tendências inatas são o ponto de partida para que o indivíduo faça escolhas conscientes
e realize o livre--arbítrio, meta máxima da evolução. Ressalta que Freud foi um grande
missionário da Ciência, mas que, como todos, teve ele as suas limitações e, apesar de
ter feito muito, não chegou a mais profundas indagações na área psíquica.
André Luiz comenta que, nos traumas cerebrais da cólera e do colapso nervoso, da
epilepsia e da esquizofrenia, como em tantas outras condições anômalas da
personalidade, vamos encontrar fermentações no campo das células, em caráter de
energias degeneradas, que correspondem às turvaçóes mentais que as provocam. Faz
uma analogia com esse processo celular, porém de forma positiva, dando como exemplo
a religiosidade nascida na intimidade das células a partir de impulsos determinantes da
mente.
A grande ênfase de André Luiz, com relação à saúde humana, decorre da convicção
espírita de que o corpo é patrimônio divino. Seu alerta é para que os profissionais
tenham cuidado e responsabilidade na utilização de seus títulos e que o padrão de
tratamento a ser praticado tome por base o modelo de Jesus: socorro ao corpo e fé para
a alma.
Pelo que vimos até o presente, na Doutrina Espírita o conceito de destino está
intimamente associado ao objetivo da reencarnação e é fruto de uma relação de causa e
efeito, ou seja, em função das atitudes do passado, positivas ou negativas, é que serão
selecionados os pontos básicos de aprendizado. O sofrimento surge, muitas vezes,
como forma máxima de sensibilização do espírito reencarnante.
Nas obras de André Luiz que pesquisamos, não surge em momento algum o conceito de
punição, mas de reparação.
"O destino é a soma de nossos próprios atos, com resultados certos. Devemos sempre a
nós mesmos as situações em que se nos enquadra a existência, porquanto recolhemos
da vida exatamente o que lhe damos de nós."
Livre-arbítrio
Essas escolhas surgirão na existência do Homem, seja como prova, expiação ou missão,
sob forma de tendências. Vai depender de sua vontade ceder ou não a essas tendências.
Esse é o conceito de fatalidade para a Doutrina Espírita: "acontecimentos que se
apresentam ao Homem como consequência de existência feita pelo Espírito".
Uma analogia interessante: como a planta que está contida no embrião, assim o destino
está guardado na mente a cada nova existência. Na planta, porém, o princípio inteligente
faz uma caminhada lenta, enquanto a alma humana, por ter uma consciência aflorada,
tem condições de influir na genética de acordo com as suas escolhas e disposições
mentais. A mente contém os acontecimentos passados e futuros e a consciência do
Homem, expressando vontade, discernimento, conhecimento, razão, juntamente com a
responsabilidade, pode realizar escolhas, atuando sobre as forças do destino. De acordo
com suas escolhas, poderá acentuar ou abreviar a sua condição espiritual.
Para André Luiz, existe uma hereditariedade compulsória, mas relativa, em condições de
sinalizar às mentes mais atentas um roteiro de aprendizado e evolução. Para os
espíritas, a criatura de Deus está constantemente assistida e orientada, devendo, no
entanto, a partir de algum momento, participar ativamente do seu processo de
crescimento espiritual.
Tempo
André Luiz descreve modelos ou maquetes de formas orgânicas específicas para cada
Espírito reencarnante e, em Missionários da Luz, nos deparamos com uma entidade
perguntando aos orientadores sobre qual seria a média de tempo conferida à sua futura
forma física.
Para Kardec, "o perispírito, ou corpo fluídico é um dos mais importantes produtos do
fluido cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco de inteligência ou
alma".
Descrevendo o perispírito, que ele chama de corpo espiritual, André Luiz assim se
expressa: "É preciso considerar antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico,
porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo
espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação. Do ponto de vista da
constituição e função em que se caracteriza na esfera imediata ao trabalho do Homem,
após a sua morte, é o corpo espiritual o veículo físico por excelência, com sua estrutura
eletromagnética, algo modificado no que tange aos fenômenos genésicos e nutritivos,
de acordo, porém, com as aquisições da mente que o maneja".
André Luiz ressalta que "os cromossomos permanecem Imorredouros, através dos
centros genésicos de todos os seres, encarnados e desencarnados, plasmando
alicerces preciosos dos estudos filogenéticos do futuro". No corpo espiritual estão
localizados os vários centros de força, funcionando como Instrumentos de adequação
energética entre duas dimensões vizinhas, sendo responsáveis por órgãos de uma
determinada região do corpo físico. O centro genésico é um desses centros, situado no
perispírito, atuando sobre os órgãos genitais do corpo físico. O citoplasma é o ponto de
encontro entre as forças físicas e espirituais do Espírito encarnado. Ressaltamos a
importância que os Espíritos Superiores atribuem ao citoplasma. Para André Luiz, as
mitocôndrias localizadas no litoplasma são locais onde se acumulam energias
espirituais e, através deles, a mente transmite ao corpo físico, durante o período da
reencarnação, os seus estados felizes ou infelizes. Dessa maneira, a mente poderá
ajudar ou perturbar o equilíbrio biológico-orgânico.
"O perispírito não é um corpo de vaga neblina, e sim organização viva a que se amoldam
as células materiais."
André Luiz sugere que esse processo de diferenciação, como vimos, ainda não
explicado completamente pela ciência, é de fato comandado pelo próprio Espírito que,
por sua mente, interfere nas relações vibratórias de energia entre os átomos, moléculas
etc., determinando as características do corpo que deverá expressar as suas
necessidades evolutivas.
André Luiz apresenta ainda mais detalhes, afirmando que, após a união física dos
cônjuges, enquanto os gametas masculinos correm para fecundar o óvulo, o processo
de miniaturização do perispírito da entidade reencarnante é intensificado e, pelo auxílio
de um benfeitor especializado, o espermatozoide mais apto é identificado e auxiliado
magneticamente não só para atingir o óvulo, mas até que alcance o núcleo da célula
feminina, em uma operação de quatro minutos, mantendo-se, inclusive, no serviço de
divisão da cromatina. A partir daí, aquele microscópico globo de luz, impregnado de
vida, começa a movimentar-se. Está feita a ligação. A seguir, esclarece que "o
organismo material fornecerá todo o alimento para a organização básica do aparelho
físico, enquanto a forma reduzida de Segismundo, como vigoroso modelo, atuará como
ímã entre limalhas de ferro, dando forma consistente à sua futura manifestação no
cenário da crosta".
Para entender o que André Luiz descreve, vamos recorrer a Hernâni Guimarães Andrade,
que é considerado o maior pesquisador do Espiritismo científico, e cuja obra Espírito,
perispírito e alma é reconhecida como um clássico desse segmento doutrinário. Para
ele, nos homens há uma função paranormal que se manifesta de duas formas: uma é a
percepção extrassensorial, comumente designada Extrasensory Perception (ESP), que é
uma função do corpo espiritual ou perispírito por intermédio do qual o Homem
"responde a qualquer estímulo externo sem o uso dos sentidos". A outra função é a
psicocinesia, ou seja, o homem, ao desejar um efeito, provoca a sua ocorrência. A
matéria obedece ao comando da mente.
Como exemplo, temos o caso relatado no livro No Mundo Maior, de um rapaz encarnado,
com diagnóstico de epilepsia, ainda com convulsões durante o sono, fazendo tratamento
espiritual por passes, descrito da seguinte forma: "Perseveram ainda as recordações, os
remanescentes dos dramas vividos no passado, aflorando sob forma de fenômenos
epileptoides, as ações reflexas da alma que emergem de vasto e intrincado túnel de
sombras e que tornam, em definitivo, ao império da luz". As causas apontadas são
excesso de paixões e de autoridade em existência anterior, desequilibrando centros
perispiríticos que trouxeram consequências para a existência em curso.
A importância da Fé
Para ele, "a atividade religiosa nasceu por instituto mundial de higiene da alma, traçando
ao homem diretrizes à nutrição psíquica .
Seria necessária uma formação religiosa desde os primeiros anos de vida, no sentido de
conscientizar o indivíduo da sua natureza espiritual, independente da abordagem
religiosa adotada.
Outro aspecto levantado por André Luiz é que a ciência está se estruturando como uma
grande árvore, se ramificando em teorias e raciocínios, frutos de inteligências
encarnadas. Enquanto isso, a Religião, com inúmeras subdivisões, refletindo as
divergências entre os vários setores religiosos, de certa forma definha, não chega a
cumprir a sua missão. Para a ciência, o mais importante é o valor intelectual, enquanto o
problema religioso encontra maiores obstáculos, porque pressupõe reforma íntima,
persistência e vocação para a renuncia.
Conforme vimos anteriormente, André Luiz enfatiza a importância de uma terapêutica
que tenha por base os ensinamentos cristãos.
Com relação à fé, mais especificamente, esta surge como a solução maior. Diante de um
caso de epilepsia, André Luiz sugere que "o remédio mais eficaz consiste na fé positiva,
na autoconfiança, no trabalho digno, em pensamentos enobrecedores". Quando aborda
esse caso, mostra o caminho de conquista que significa ter fé, ou seja, confiança
absoluta em Deus e aceitação dos acontecimentos, não na condição de punição, mas de
aprendizado constante. Em várias citações, encontramos que a maior conquista é o
Homem descobrir que é filho de um Pai amoroso e presente que lhe criou um mundo de
conforto e progresso. No entanto, caminhar é aprendizado que cada um deve realizar;
mais que isso, não existe caminhada solitária e ser solidário é o maior desafio de
irmandade que o Homem pode encontrar.
Um grande alerta de André Luiz é em relação aos "títulos de fé" (ou seja, pessoas que
são tidas como representantes ou exemplos de uma religião), dos quais não podemos
fugir sem sérias consequências que sinalizam deveres de melhoria e não meras
palavras, utilizadas para encobrir os nossos defeitos e as nossas fraquezas. Certamente,
não podemos fugir do compromisso que o título significa. Quando se adota uma
determinada posição, ela passa a representar responsabilidade com relação a uma
tarefa.
Poucas pessoas entendem que a fé é uma bênção, que pode ser aumentada
indefinidamente, e fogem das oportunidades de trabalho que poderiam ser instrumentos
de conservação, de consolidação e de crescimento desse dom.
André Luiz acredita que "a ciência avançará, desvendando segredos do Universo,
resolvendo problemas e suscitando desafios novos à sua capacidade de investigação;
no entanto, a fé sustentará o homem nas realizações e provas que é chamado a
atravessar".
Pelo que podemos entender, a fé surge não só como bálsamo momentâneo diante de
situação de dor, mas como fator de motivação na busca de níveis mais espiritualizados.
Essa motivação não é fruto de uma fé cega, mas daquela que o uso de atributos de
conquista, os quais refletem a própria evolução, ou seja, a fé raciocinada tão apregoada
pelos espíritas.
Oração
Orar pressupõe entrar em contato com uma Mente Superior, em uma relação de
proximidade e de confiança. Até o presente momento, os autores citados enfatizam a
importância dos estados mentais de equilíbrio ou de desequilíbrio. Certamente, como diz
Emmanuel, "orar é identificar-se com a maior fonte de poder de todo o Universo,
absorvendo-lhe as reservas e retratando as leis da renovação permanente que governam
os fundamentos da vida. Dispomos na oração do mais alto sistema de intercâmbio entre
a Terra e o Céu".
"O trabalho da prece é mais importante do que se pode imaginar no círculo dos
encarnados. Não há prece sem resposta. E a oração, filha do amor, não é apenas súplica.
E' comunhão entre o Criador e a criatura, constituindo, assim, o mais poderoso influxo
magnético que conhecemos."
Para a Doutrina Espírita, a oração mais frequente é o Pai--Nosso, sendo também
utilizadas as orações espontâneas. Todas as reuniões espíritas começam e terminam
com um momento de oração, o qual, preferentemente, é espontâneo.
Avaliação da Reencarnação
Ao voltar para o Plano Espiritual, após a morte do corpo físico, o Espírito é levado a
fazer uma avaliação do período em que esteve reencarnado. Dificilmente consegue-se
realizar o projeto reencarnatório de maneira totalmente satisfatória, carregando a
entidade culpas conscientes e inconscientes, que se transformam em imagens mentais
que serão projetadas, se não foram bem elaboradas no período de intermissão, ou seja,
entre uma reencarnação e outra, não só influenciando a futura forma física, como
transformando-se em animismo, ou seja, herança de si mesmo.
Ercilia Zilli